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36 Unidade II Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 Unidade II 3 O PENSAMENTO ESTRATÉGICO O pensamento estratégico raramente ocorre de maneira espontânea. O planejamento formal fornece a disciplina para parar de vez em quando para pensar em questões estratégicas. (PORTER, 2007) Como se pode observar, os pensadores, executivos e consultores defenderam pontos convergentes, divergentes, antagônicos ou complementares sobre estratégia e sua formulação. A diversidade sobre o próprio conceito de estratégia, bem como a imensa literatura discorrendo sobre ela, nos traz dificuldade em interpretar o certo ou o errado, o que seguir. O próprio Michael Porter publicou um artigo na Harvard Business Review questionando “O que é estratégia?”13. Dois estudos voltados para a análise das diversas abordagens sobre a estratégia merecem destaque. O primeiro, de Richard Whittington, em seu livro O que é estratégia?, as agrupa em quatro focos cuja base são quatro conceitos básicos: o racional, o fatalista, o pragmático e o relativista, os quais demonstram diferenças radicais quanto à “realizar” a estratégia. O segundo, de Henry Mintzberg, Bruce Ahlstrand e Joseph Lampel, em Safári de estratégia, as agrupa em dez escolas, divididas em três grupos: prescritivas, preditivas e de transformação. 3.1 As escolas identificadas por Richard Whittington14 Partindo da diversidade de conceitos sobre estratégia, Whittington identificou quatro abordagens genéricas de estratégia: a clássica, a evolucionária, a processual e a sistêmica, apresentadas na Figura 5. 13 Michael Porter. “What Is Strategy?”. Harvard Business Review, nov.‑dez. 1996. 14 Texto adaptado do livro de Richard Whittington, O que é estratégia, São Paulo: Pioneira Thomson, 2002. 37 Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA Perspectivas genéricas sobre estratégia RESULTADOS Maximização dos lucros Clássica Evolucionária Sistêmica Processual PROCESSOS deliberados Emergentes Plural Figura 5 – Perspectivas genéricas sobre estratégia. Fonte: Whittington, Richard. O que é estratégia. • Abordagem clássica: — É a mais antiga e ainda a mais influente, contando com os métodos de planejamento racional predominantes nos livros. • Abordagem evolucionária: — Apoia‑se na metáfora fatalista da evolução biológica, mas substitui a disciplina do mercado pela lei da selva. • Abordagem processual: — Dá ênfase à natureza imperfeita da vida humana e acomoda pragmaticamente a estratégia ao processo falível tanto das organizações quanto dos mercados. • Abordagem sistêmica: — É relativista, considerando os fins e os meios da estratégia como ligados, sem escapatória, às culturas e aos poderes dos sistemas sociais dos locais onde ela se desenvolve. 1 O que remete a outra das escolas do pensamento estratégico, a Escola do Design, definida por Mintzberg, Ahlstrand e Lampel em Safári de estratégia, Porto Alegre: Bookman, 2000. 2 Se necessitar, reveja seu material de Evolução do pensamento administrativo. 38 Unidade II Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 Basicamente, as quatro abordagens se diferenciam em duas dimensões: os resultados da estratégia e os processos pelos quais ela é desenvolvida e implementada. Essas diferenças podem ser demonstradas de acordo com a intersecção dos eixos na Figura 5. • O eixo vertical mede o grau em que a estratégia produz resultados de maximização de lucros ou deles se desvia para permitir outras possibilidades. • O eixo horizontal mede o grau em que a estratégica considera os processos, refletindo sobre em que medida a estratégia é produto de cálculos deliberados ou emerge por acidente, confusão ou inércia. • Resumindo: os dois eixos refletem respostas diferentes para duas questões fundamentais: PARA QUE SERVE a estratégia; e como ela é DESENVOLVIDA. A figura permite, também, a identificação da interpretação das suposições básicas das quatro abordagens: • Em relação aos resultados: — Abordagens clássica e evolucionária: veem a maximização do lucro como o resultado natural do desenvolvimento da estratégia. — Abordagens sistêmica e processual: são mais pluralistas, pressentindo outros resultados possíveis além do lucro. Observação Há algumas curiosidades a respeito da utilização de estratégias nas empresas modernas. Aqui estão algumas delas: Um grande número de organizações utiliza como objetivo estratégico nº 1 a maximização dos lucros. De fato, é um objetivo legítimo, em qualquer tipo de organização ou setor. O termo “maximização dos lucros” pode ser (e tem sido) “traduzido” para as organizações públicas e do terceiro setor como autossustentabilidade ou autossuficiência (de fato, ninguém quer pagar os prejuízos por sua ineficiência: respectivamente, nem contribuintes nem filantropos). Na administração moderna, cada vez mais temos disseminado que a “maximização dos lucros” é DECORRENTE dos demais resultados. • Embora essas questões ainda sejam pouco discutidas, pode‑se dizer que há, atualmente, uma convergência entre essas abordagens. 39 Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA • Em relação aos processos: trocam‑se as “alianças entre as abordagens”. Observe: — Abordagens evolucionária e processual: enxergam a estratégia como algo que emerge dos processos governados por acasos, confusão e conservadorismo. — Abordagens clássica e sistêmica: concordam que a estratégia pode ser algo deliberado. As quatro abordagens contêm uma variedade de perspectivas mais específicas sobre a estratégia, cada uma posicionada diferentemente nos eixos. Às vezes, perspectivas específicas se sobrepõem de um quadrante a outro. Aqui, trataremos sobre o direcionamento de cada uma das abordagens e indicaremos, em cada caso, alguns dos principais autores a elas relacionados.15 Cada abordagem traz uma resposta para as duas perguntas: “O que é estratégia?” e “ Ela realmente importa?”. 3.1.1 Abordagem clássica • Está associada a autores como Igor Ansoff (autor de Corporate Strategy, de 1965; e de Implanting Strategic Management, de 1991) e Michael Porter (Competitive Advantage: Creating and Sustaining Superior Performance, de 1985; e de Competition in Global Industries, de 1987). • Nesta abordagem, “a estratégia é o processo racional de cálculos e análises deliberadas16 com o objetivo de maximizar a vantagem em longo prazo”. • Na essência, isso significa que, “se houver um esforço em reunir informações e aplicar às técnicas apropriadas, tanto o mundo exterior quanto a empresa tornam‑se previsíveis e plásticos, moldados de acordo com os planos cuidadosos da gerência executiva”. • Para os clássicos, dominar os ambientes internos e externos exige um bom planejamento. • A estratégia é importante nessa análise racional e as decisões objetivas fazem a diferença entre o sucesso prolongado e o fracasso. — Em síntese, os clássicos veem a estratégia como um processo racional de planejamento a longo prazo, vital para garantir o futuro. 3.1.2 Abordagem evolucionária • Evolucionistas como Hannan e Freeman (Organizational Ecology, 1988) ou Oliver Williamson (The Nature of the Firm: Origins, Evolution, and Development, 1991) afirmam que a estratégia, no sentido clássico de planejamento racional orientado para o futuro, é frequentemente 15 Para aprofundar o assunto, recomenda‑se a leitura do livro de Richard Whittington, op. cit. 16 Ou seja, refletidas, discutidas, para se tomar uma decisão. 40 Unidade II Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 irrelevante. O ambiente é muito implacável e imprevisível para que se façam previsões eficazes. • Os evolucionistas oferecem aos estrategistas um paradoxo cruel: a natureza dinâmica, hostil e competitiva dos mercados não apenasimplica que a sobrevivência não pode ser planejada, mas também assegura que somente empresas que, de algum modo, descobrem estratégias de maximização dos lucros sobreviverão. • Para eles, as empresas são como as espécies da evolução biológica: os processos competitivos cruelmente selecionam as mais aptas a sobreviver; as outras não têm força para ajustar‑se rapidamente e para evitar a extinção. Portanto, do ponto de vista evolucionário, é o mercado, e não os gestores, que faz as escolhas mais importantes. • As estratégias bem‑sucedidas apenas emergem quando o processo de seleção natural apresenta seu julgamento. Tudo o que os gerentes podem fazer é garantir que suas empresas se ajustem o mais eficazmente possível às exigências do ambiente onde atuam. — Em síntese, os evolucionistas consideram o futuro algo muito volátil e imprevisível para ser planejado e aconselham que a melhor estratégia é concentrar‑se na maximização das chances de sobrevivência hoje. 3.1.3 Abordagem processual • Os processualistas concordam que o planejamento de longo prazo é fútil, mas são menos pessimistas sobre o destino das organizações que não otimizam o ajuste ao ambiente. • Para eles, os processos das organizações e dos mercados raramente são suficientemente perfeitos tanto para o planejamento estratégico defendido pela abordagem clássica, quanto para o princípio da sobrevivência da abordagem evolucionária. • Para Cyert e March (A Behavioral Theory of the Firm, 1963), as pessoas são muito diferentes em seus interesses, limitadas em sua compreensão, dispersas em sua atenção e descuidadas em suas ações para se unirem e levarem a termo um planejamento perfeitamente calculado. O planejamento será esquecido quando as circunstâncias mudarem. • De acordo com eles, na prática, a estratégia emerge mais de um processo pragmático de aprendizado e comprometimento, do que de uma série racional de grandes saltos para frente (Mintzberg, The Rise and Fall of Strategic Planning: Reconceiving the Roles for Planning, Plans, Planners, 1994). Não faz muita diferença se a estratégia emergente não é completamente ótima. • Os processos de seleção do mercado são, na verdade, relativamente negligentes: ninguém conseguiria manter‑se preso a ela por muito tempo. O fracasso em criar e implementar o planejamento estratégico perfeito dificilmente levaria a qualquer desvantagem competitiva fatal. 41 Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA — Em síntese, os processualistas também questionam o valor do planejamento racional a longo prazo, enxergando a estratégia como um processo emergente de aprendizado e adaptação. 3.1.4 Abordagem sistêmica • Do ponto de vista desta abordagem, a estratégia é importante, mas não do mesmo modo como é vista pelos clássicos. • Os teóricos sistêmicos são menos pessimistas que os processualistas quanto à capacidade das pessoas em conceber e implementar planejamentos racionais de ação; e bem mais otimistas que os partidários da abordagem evolucionária no que diz respeito à habilidade das pessoas em definir as estratégias ante as forças de mercado. • Seguindo a ênfase de Granovetter (“Economic Action and Social Structure: The Problem of Embeddedness”, 1985) no “encaixe” social da atividade econômica, a abordagem sistêmica propõe que os objetivos e as práticas da estratégia dependem do sistema social específico no qual o processo de desenvolvimento de estratégia está inserido. • Os estrategistas com frequência desviam‑se da norma de maximização do lucro deliberadamente. Seu ambiente social pode despertá‑los para outros interesses além do lucro – orgulho profissional, poder de gerenciamento ou patriotismo, por exemplo. • A busca por esses diferentes objetivos, ainda que sacrificando a maximização dos lucros é, portanto, perfeitamente racional, embora a razão seja frequentemente escondida. • De forma alternativa, os estrategistas podem desviar‑se das regras de cálculo racional apresentadas nos livros; não porque elas sejam idiotas, mas porque, dentro da cultura em que eles trabalham, essas regras fazem pouco sentido. Essas estratégias de desvio são importantes porque podem ser implementadas com eficácia. As pressões da competição não garantem que os maximizadores de lucro da abordagem evolucionária serão os únicos a sobreviver: os mercados podem ser manipulados ou iludidos, e as sociedades têm outros critérios, além do desempenho financeiro, para dar apoio às organizações. • Consequentemente, a abordagem sistêmica acredita que a estratégia reflete os sistemas sociais específicos dos quais ela participa, definindo os interesses segundo os quais ela age e as regras de sobrevivência. A classe social e o país fazem a diferença no que toca à estratégia. — Em síntese, sistêmicos assumem posição relativista, argumentando que formas e metas do desenvolvimento de estratégias dependem particularmente do contexto social, e que, portanto, a estratégia deve ser empreendida com sensibilidade sociológica. 42 Unidade II Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 4 AS ESCOLAS DO PENSAMENTO ESTRATÉGICO17 Uma extensiva literatura sobre o pensamento estratégico já foi ordenada de diversas formas ao longo dos anos. Dentre todas, destaca‑se o trabalho realizado por Henry Mintzberg, Bruce Ahlstrand e Joseph Lampel: eles estudaram toda a literatura disponível e a categorizou por escolas do pensamento. Esta categorização é decorrente de seu entendimento de que é virtualmente impossível entender de forma completa o fenômeno da formulação estratégica. Por isso, o pensamento estratégico pode ser analisado por partes mas sua compreensão resultará, diferente da soma das partes analisadas individualmente. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel propõem que, ao se analisar a literatura existente, observam‑se 10 pontos de vista distintos, a maioria dos quais aplicados na prática gerencial das organizações. Quadro 4 – Duas características das escolas do pensamento estratégico. Características das escolas do pensamento estratégico • Cada ponto de vista, chamado de escola de pensamento estratégico, tem uma perspectiva única e destaca um aspecto importante do processo de formulação estratégica. • Cada ponto de vista é, simultaneamente, estreito e exagerado, porém interessante e criterioso. As escolas estão divididas em três grupos18: • O primeiro grupo é o das escolas de natureza prescritiva, que estão mais preocupadas a respeito de como as estratégias devem ser formuladas do que como são efetivamente formuladas. O grupo de escolas de natureza prescritiva é formado pelas escolas de Design, Planejamento e Posicionamento. • O segundo grupo é composto por seis escolas de natureza descritiva. Elas consideram aspectos específicos do processo de formulação de estratégias e preocupam‑se menos com a prescrição do comportamento estratégico ideal e mais com a descrição de como as estratégias são de fato e como se desdobram. • O terceiro e último grupo é composto por uma única escola — a de configuração — e reúne duas facetas fundamentais do fenômeno organizacional: uma descreve estados da organização e dos contextos que a cercam; a segunda descreve o processo de geração de estratégias. A primeira é chamada de configuração, a segunda de transformação. Essas duas facetas são dois lados da mesma moeda. Portanto, se uma empresa adere a um dos dois “estados de ser”, a geração de estratégia aperta o gatilho para que esta empresa salte de um estado a outro. 17 Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, op. cit. 18 Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, op. cit. 43 Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA As escolas identificadas estão relacionadas, com a identificação dos grupos pelas cores, na tabela a seguir, juntamente com o adjetivo que, segundo Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, melhor parececaptar a visão que cada uma tem do processo de estratégia. Quadro 5 – Escolas do Pensamento Estratégico agrupadas. Escola Pensamento estratégico Pressupostos Escola do Design Formulação das estratégias como um processo informal reunindo teorias que enfatizam o caráter conceitual da estratégia empresarial. O processo de formação de estratégia é conceitual e informal, avaliando forças e fraquezas, oportunidades e ameaças. Escola do Planejamento Formulação das estratégias como um processo formal enfatizando os aspectos formais, estruturados e numéricos do processo de formação de estratégia. O processo de formação de estratégia dispõe de instrumentos formais e numéricos, seguindo um modelo de planejamento. Escola do Posicionamento Formulação das estratégias como um processo analítico que vê a estratégia como a escolha deliberada de posicionamentos competitivos por meio de processos analíticos de decisão. O processo de formação de estratégia é um processo analítico, que privilegia a análise da estrutura do setor na qual a empresa está. Escola Empreendedora Formulação das estratégias como um processo visionário focalizando o papel dos líderes carismáticos e dos empreendedores visionários. A estratégia da empresa é informal e baseia‑se no seu líder e em sua visão. Escola Cognitiva Formulação das estratégias como um processo mental que trata a estratégia do ponto de vista dos processos mentais envolvidos na sua elaboração e implementação. A empresa elabora novas estratégias, com novos conceitos e inovações radicais. Escola de Aprendizado Formulação das estratégias como um processo emergente apresenta a estratégia como um processo exploratório com base em tentativa e erro. A estratégia da empresa evolui em um processo interativo de tentativa e erro. Escola de Poder Formulação das estratégias como um processo mental desvenda os interesses e as negociações por trás da elaboração das estratégias das empresas. A estratégia da empresa é abertamente influenciada por relações de poder. Escola Cultural Formulação das estratégias como um processo coletivo que mostra a inserção humana e social das organizações e das suas formas de estratégia. A cultura da empresa influencia a sua forma de ver o mundo e definir suas estratégias. Escola Ambiental Formulação das estratégias como um processo reativo enfatiza o papel determinante do ambiente nas estratégias das empresas. O ambiente é determinante para a estratégia da empresa por meio de comportamentos isomórficos (pressões institucionais). Escola de Configuração Formulação das estratégias como um processo de transformação que faz uma síntese das nove escolas anteriores, enfatizando o caráter transitório e contextual das estratégiaas. . Escolas prescritivas Escolas descritivas Escola de Configuração Fonte: Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, Safári de estratégia, 2000. A administração estratégica trilhou um longo caminho desde o início dos anos 1960. A literatura disponível sobre o assunto cresceu inicialmente devagar, depois mais depressa, decolando e 9 Decolagem. 10 Adiante, nos tópicos 5 e 8, aprofundaremos a análise desses métodos. 44 Unidade II Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 diversificando‑se nos anos 1990. Atualmente, é um campo dinâmico, apesar de não homogêneo. A literatura das primeiras escolas, inicialmente fáceis de identificar, deu origem à literatura de escolas mais complexas e com diversas nuances entre si. A Figura 6 esquematiza este desenvolvimento, apresenta a estimativa do volume publicado sobre cada uma das dez escolas, representando, subjetivamente, a atenção que cada escola recebeu tanto de autores quanto de praticantes. Pode‑se observar que o gráfico ilustra o domínio inicial de três escolas prescritivas: a do Design, nos anos 1960; a do Posicionamento, nos anos 1970; e a do Posicionamento, nas décadas de 1970 e 1980. Evolução das 10 escolas a. Escolas prescritivas b. Escolas descritivas Escola de planejamento Escola do design Escola de posicionamento At iv id ad e (v ol um e de pu bl ic aç õe s e a te nç ão d en tr o da a dm in ist ra çã o es tr at ég ic a) At iv id ad e (v ol um e de pu bl ic aç õe s e a te nç ão d en tr o da a dm in ist ra çã o es tr at ég ic a) 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 Ano 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 Ano Empreendedora Cognitiva Aprendizado Poder Cultural Ambiental Configuração Figura 6 – As escolas do pensamento estratégico: natureza e origem. Fonte: Mintzberg, Ahlstrand e Lampel. Safári de estratégia, 2000. 4.1 Características das escolas de pensamento19 4.1.1 Escola do Design Essa escola de pensamento preocupa‑se em prescrever um caminho ideal para a formulação da estratégia, que se dá pela adequação das capacidades internas da organização às possibilidades de seu contexto externo. 19 Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, op. cit. 45 Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA Os fatores considerados para a formulação de estratégia são os ambientes interno e externo à organização, os valores, crenças e preferências de seus administradores e – é interessante notar – a responsabilidade da empresa perante a sociedade. A Escola do DesignAvaliação externa Ameaças e oportunidades do ambiente Fatores‑chave de sucesso Competências distintivas Avaliação interna Forças e fraquezas da organização Criação de estratégia Responsabilidade social Valores gerenciaisAvaliação e escolha da estratégia Implementação da estratégia Figura 7 – Modelo da Escola do Design. Fonte: Mintzberg, Ahlstrand e Lampel. Safári de estratégia, 2000. O processo de decisão estratégica é centralizado na cúpula da organização, o que relega outros agentes internos ou externos a um papel sem muita relevância no processo, ficando a consideração da responsabilidade social nas estratégias dependente dos valores e interesses do executivo principal, apesar de os autores dessa escola darem relevância ao assunto.20 A base da escola está nos elementos da chamada Matriz SWOT [do inglês s = strengthness (força), w = weakness (fraqueza), o = opportunity (oportunidade) e t = threat (ameaça)]. Os registros que existem sobre a origem desse tipo de análise não são precisos. De acordo com Hlindle e Lawrence, os professores Kenneth Andrews e Roland Christensen, da Harvard Business School criaram a análise SWOT. Porém, Tarapanoff indica que, há mais de três mil anos, a ideia que originaria a análise SWOT já teria sido usada em uma epígrafe contendo um conselho de Sun Tzu: “Concentre‑se nos pontos fortes, reconheça as fraquezas, agarre as oportunidades e proteja‑se contra as ameaças.” Embora seja bastante divulgada e citada por diversos autores, não é tarefa fácil encontrar literatura que aborde o tema da análise SWOT diretamente. O caminho mais indicado para entender o conceito da análise SWOT é buscar diretamente sua fonte: The Concept of Corporate Strategy, do próprio Kenneth Andrews21. Nessa matriz são plotados e avaliados 20 Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, op. cit. 21 Kenneth Andrews, “O conceito de estratégia empresarial”. In: Mintzberg & Quinn, O processo da estratégia, 3ª ed., Porto Alegre: Bookman, 2001. 46 Unidade II Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 os pontos fortes e fracos (ambiente interno da organização) e as oportunidades e ameaças (ambiente externo da organização). No ambiente externo são avaliadas: as mudanças na sociedade, mudanças governamentais, mudanças econômicas, mudanças na competição, mudanças nos fornecedores e mudanças no mercado. No ambiente interno, são analisadas as capacidades da organização, quanto aos seus processos (produção, relacionamento com o cliente, gestão de pessoas etc.), bem como suas competências, que Selznick (1960)denominou de competências distintivas. A Análise SWOT é uma ferramenta utilizada para fazer análise de ambiente, o que permite a posterior avaliação dos cenários, sendo usada como base para o planejamento estratégico de uma organização, em especial as empresariais. A Escola do Design Strenghts–Weakness–Oportunities–Threats Forças e fraquezas Ameaças e oportunidades Avaliação interna Avaliação externaEscolha da estratégia Figura 8 – Elementos da análise SWOT. Sete premissas são associadas à Escola do Design: a) O processo de formação da estratégia deve ser deliberado, assim como o pensamento deve ser consciente. Consequentemente, a ação será gerada a partir da razão, de um processo de pensamento humano controlado de forma rígida. b) O principal executivo da organização deve ser o responsável pela formação das estratégias, a partir de um processo deliberado de pensamento. O principal executivo é, também, o principal estrategista. c) O modelo de formação da estratégia deve primar pela simplicidade e pela informalidade. d) As estratégias devem ser únicas, sendo as melhores resultantes de um processo de design individual, de um ato criativo. e) Um processo só será considerado completo quando as estratégias parecerem plenamente formuladas enquanto perspectivas. 47 Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA f) As estratégias precisam ser explícitas, precisam ser simples. g) Somente após a existência de um conjunto de estratégias únicas, simples, explícitas e totalmente formuladas é que elas devem ser postas em prática.22 4.1.2 Escola do Planejamento A Escola de Planejamento cresceu em paralelo à Escola do Design e predominou a partir de meados da década de 1970, perdendo força na década de 1980. A principal mensagem desta escola é formalizar e a mensagem atingida é programar, em vez de formular. A Escola do Planejamento se assemelha muito à do Design. Sua principal diferença é a formalidade com que a questão estratégica é tratada. O modelo básico de planejamento estratégico se inicia com a fixação dos objetivos organizacionais. Então, estudam‑se os ambientes interno e externo, para que sejam elaboradas e avaliadas, por meio de um processo extremamente complexo, diversas estratégias alternativas para que uma seja escolhida. O modelo pode ser observado na Figura 1 – O modelo de Steiner de Planejamento Estratégico (apresentada em Evolução histórica e principais autores). A mais influente das publicações dessa escola é Corporate Strategy (Estratégia empresarial), datada de 1965, de Igor Ansoff. No terceiro capítulo desse livro, “Objetivos empresariais”, Ansoff refuta a ideia de que o lucro ou a sobrevivência a longo prazo sejam os únicos objetivos maiores de uma empresa e fala em responsabilidade da organização para com a sociedade em geral e equilíbrio entre os interesses de diversos grupos envolvidos, não apenas dos proprietários da empresa e de seus dirigentes. Entretanto, no quarto capítulo, “Um sistema prático de objetivos”, Ansoff trata responsabilidades sociais da empresa como restrições, limites dentro dos quais ela pode atuar, diferenciando de objetivos: Restrições e responsabilidades limitam severamente a liberdade de ação estratégica. (...) uma responsabilidade filantrópica substancial assumida por uma empresa, por exemplo, para apoiar uma fundação sem finalidades lucrativas, pode restringir os recursos disponíveis para crescimento e expansão. O livro de Ansoff reflete a maior parte dos pressupostos da Escola do Design, exceto em um ponto: o de que o processo não é apenas cerebral, mas formal, passivo de decomposição em etapas distintas, delineados por listas e sustentados por técnicas. Isto significa que o ator principal da formulação da estratégia deixa de ser o executivo principal, o CEO, passando a ser uma unidade de apoio específica, formada por planejadores. O executivo principal é o responsável por esse processo, mas na prática, a execução e a responsabilidade ficam com os planejadores. Desse processo, surge a estratégia pronta, que deve ser implementada 22 Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, op. cit. 48 Unidade II Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 por meio de atenção detalhada a objetivos, orçamentos, programas e planos operacionais de tipos variados. Esse processo ainda é por demais centrado em uma cúpula para afirmarmos que uma preocupação com responsabilidade social possa ser fruto de maior proximidade com os diversos grupos de interesse (partes interessadas) e não dos valores dos membros da equipe de planejamento.23 4.1.3 Escola de Posicionamento Esta escola refere‑se à Formação da Estratégia como um Processo Analítico, cuja ênfase está no processo de auditoria externa – análise competitiva do setor e da concorrência. Os autores dividem a Escola de Posicionamento em três ondas: • As origens nas máximas militares, sob influência da milenar obra de Sun Tzu, A arte da guerra e de Clausewitz, com a obra On War. • A busca por imperativos de consultoria, sendo a principal influência do Boston Consulting Group, por meio da Matriz de Crescimento‑Participação e a Curva de Experiência. • O desenvolvimento de posições empíricas, capitaneadas pela “Estratégia Competitiva” e “Vantagem Competitiva”, ambas de Michael Porter. Michael Porter, principal autor dessa escola, prega, em sua obra Competitive Strategy (estratégia competitiva), datada de 1980, que a atratividade (lucratividade a longo prazo) de um depende de 5 forças competitivas básicas: poder de barganha de compradores, poder de barganha de fornecedores, ameaça de novos entrantes, ameaça de sucedâneos e rivalidade entre concorrentes. Tecnicamente, o “modelo das cinco forças competitivas” é utilizado para a elaboração da Análise Estrutural da Indústria24, ou seja, a análise do setor ao qual a organização pertence, ou análise setorial. Porter afirma que algumas ações de uma empresa podem causar, isoladamente, uma redução da atratividade da indústria como um todo, como quando resolve praticar preços desleais para eliminar concorrentes ou novos entrantes. Pode‑se considerar esse tipo de atitude uma falta de responsabilidade social por parte da empresa, por eliminar concorrentes que não têm condições de competir e os empregos que geram, reduzir as opções do consumidor e dar condições à empresa que praticou preços desleais de praticar preços mais altos posteriormente. Por outro lado, a fixação de preços por oligopólios para evitar a redução de sua lucratividade também pode ser considerada imoral.25 23 Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, op. cit. 24 Esse termo possui tradução literal em muitos livros, mas o método é aplicado tanto à manufatura quanto a serviços. Seu significado mais adequado é “setor”. 25 Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, op. cit. 49 Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA As cinco forças competitivas Entrantes potenciais Fornecedores Clientes Concorrentes na indústria Rivalidade entre as empresas existentes Produtos substitutos Figura 9 – As Cinco Forças Competitivas de Porter. Fonte: Michael Porter, Estratégia competitiva, 2003. Em 1989, Porter introduz o conceito de estratégia genérica: A estratégia genérica especifica o método fundamental para a vantagem competitiva que uma empresa está buscando e fornece o contexto para a tomada de ações em cada área funcional. Competir com a mesma estratégia genérica em muitas unidades empresariais é uma forma como a empresa diversificada pode agregar valor a estas unidades. Porter vê três abordagens de estratégicas genéricas para conseguir vantagem competitiva em relação aos concorrentes: liderança de custo total, diferenciação e enfoque. A liderança de custo possibilita à empresa retornos superiores à média de mercado. A diferenciação consiste em agregar algo aseu produto ou serviço que faça com que ele seja diferenciado dos concorrentes. A estratégia de enfoque consiste em atender da melhor forma possível um alvo determinado. Três estratégias genéricas Vantagem estratégica Unicidade observada pelo cliente Posição do baixo custo Al vo e st ra té gi co N o âm bi to d e to da a in dú st ria Diferenciação Liderança em custo Ap en as u m se gm en to Foco Figura 10 – As estratégias genéricas de Porter. Fonte: Michael Porter, Estratégia competitiva, 2003. 11 Hernan E. Contreras Alday, “O planejamento estratégico dentro do conceito de administração estratégica”. Revista FAE, Curitiba, maio‑ago. 2000, p. 9‑12. 50 Unidade II Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 Na introdução de seu livro Estratégia competitiva, Porter faz uma revisão da literatura clássica de estratégia (escolas do Planejamento e do Design), identificando a resposta social como parte dos objetivos empresariais e percebendo a importância dos valores pessoais dos principais implementadores da estratégia e expectativas mais amplas da sociedade na análise do contexto em que a estratégia é formulada. Porém, no decorrer dos demais capítulos do livro, não é dada nenhuma atenção especial à responsabilidade social. Ainda assim, fica evidente que a responsabilidade social pode agregar valor a qualquer uma das três estratégias genéricas. Para uma estratégia de liderança de custo, cita‑se, por exemplo, reduções de multas ambientais, indenizações a clientes que se sintam lesados e espaço na mídia. Em uma estratégia de diferenciação ou de enfoque, a responsabilidade social pode agregar valor à imagem da empresa e, com isso, aumentar sua vantagem competitiva, ou servir como um meio para se atingir o público que considera atitudes socialmente responsáveis como um pré‑requisito ou diferencial para a escolha de uma marca. Ao criticar esta escola, os autores reapresentam críticas às outras escolas preditivas, como o distanciamento do pensamento e da ação, a extrapolação da situação futura para a formulação da estratégia, utilizando dados fatuais e excesso de formalismo, e, por fim, o fato da análise poder produzir síntese. Analisa e critica ainda a preocupação com alguns pontos, sob a ótica desta escola: preocupação a respeito do foco, do contexto, dos processos e de estratégias, além de criticar o conceito de estratégia preconizado por Porter. Como contribuição, enaltece as características de análise e cálculo, o que propiciou um maior direcionamento de suas estratégias em direção à condução de análises estratégicas, em vez de simplesmente ter o papel de formuladora. Além disso, foi de grande valia no fomento de pesquisas. 4.1.4 Escola Empreendedora A Escola Empreendedora, que tem como mote “a formação de estratégia como um processo visionário”, nasceu dos princípios da economia. O termo entrepreneur foi adotado, no início do século XIX, pelo economista francês Jean‑Batiste Say, para identificar o indivíduo que transfere recursos econômicos de um setor de produtividade mais baixa para um setor de produtividade mais elevada e de maior rendimento.26 Essa escola de pensamento estuda como as estratégias são formuladas pelo empreendedor, cuja figura é vista como a força motriz da organização que criou ou transformou.27 Segundo Peter Drucker, “o empreendedor sempre está buscando a mudança, reage a ela e a explora como sendo uma ‘oportunidade’. Ele cria algo novo, algo diferente, ele muda ou transforma valores, não restringindo sua ação a instituições exclusivamente econômicas”. O processo empreendedor se inicia com uma imagem do negócio, das necessidades a serem satisfeitas, do público que se pretende atingir e, principalmente, da forma como se atenderá esse público e de qual será o caminho para o futuro.28 26 Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, op. cit. 27 Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, op. cit. 28 Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, op. cit. 51 Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA A geração da estratégia na empresa empreendedora é caracterizada por grandes saltos para frente, face à incerteza. A estratégia move‑se para diante na organização empreendedora pela tomada de grandes decisões que podem ser denominadas como golpes ousados.29 A escola destaca a centralização da formação estratégica em cima de seu líder, tornando‑a mais flexível e apta às mudanças. Afinal, sua estratégia tinha base na visão de seu líder. A visão é uma representação mental da estratégia que foi criada ou, ao menos, expressa na cabeça do líder. Porém, com isso, a organização fica vulnerável às possíveis falhas de seu líder, devido a uma sobrecarga ou a uma falta de atenção para operações rotineiras. Em contraste, essa visão do líder é fundamental para a organização. A falta de uma visão dos negócios é profundamente prejudicial, pois desorienta a organização e os seus membros quanto às suas prioridades em um ambiente altamente mutável e fortemente competitivo.30 Em síntese, as estratégias concebidas pelos empreendedores têm, em grande parte, base em sua intuição, julgamento pessoal, experiência, sabedoria e valores. Por isso, a estratégia empreendedora pode tanto levar em consideração princípios éticos e responsabilidade da empresa perante a sociedade, quanto ser moralmente vazia, orientada apenas para o lucro em si. Isso depende muito do que se passa na mente do empreendedor, que é o estrategista, e da razão de ser que este vê para o empreendimento – se é apenas um investimento com vistas a retorno financeiro ou se tem uma missão maior.31 Outro ponto que merece destaque são as premissas da Escola Empreendedora, que podemos ver a seguir, resumidamente: • A estratégia está na mente do líder como sendo uma perspectiva, ou seja, um senso de direção a longo prazo, que faz com que o líder dirija a organização de acordo com esses “trilhos”. • Na melhor das hipóteses, o processo de formação da estratégia é semiconsciente, com base na experiência e intuição do líder, que tanto pode ter concebido a estratégia como tê‑la adotado de outros líderes, interiorizando‑a em seu comportamento. • Para manter o controle sobre a implementação da estratégia, incluindo a formulação de aspectos específicos, caso haja necesidade, o líder deve agir de forma decidida e até mesmo obsessiva.32 Segundo Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, os defensores da Escola Empreendedora viam a liderança personalizada, baseada na “visão estratégica”, como a chave para o sucesso organizacional. Eles notaram isto em especial nas empresas, mas também em outros setores, 29 Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, op. cit. 30 Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, op. cit. 31 Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, op. cit. 32 Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, op. cit. 52 Unidade II Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 e não somente no início de formação de novas organizações, mas também na reformulação de organizações com problemas. Embora o “espírito empreendedor” fosse originalmente associado com os criadores de seus próprios negócios, a palavra foi gradualmente ampliada para descrever várias formas de liderança personalizada, pró‑ativa e determinada em organizações. Por fim, resta enfatizar que a inovação é uma atividade comum aos empreendedores, tanto àqueles que começam um novo negócio, como aqueles que estão trabalhando em organizações já estabelecidas. 4.1.5 Escola Cognitiva A Escola Cognitiva funciona como ponte entre as escolas objetivas e subjetivas. Tem como mote “a formação da estratégia como um processo mental”, e é inspirada em Herbert Simon (Teoria Comportamentalista). Ao se estudar os processos mentais pelos quais os estrategistas concebem a estratégia, formou‑se esta escola. A base da formulação de estratégia é a mente do estrategista, que dá forma àquilo que é feito, por meio de seu julgamento,intuição, criatividade, experiência adquirida, percepção da realidade e modelos mentais. As pessoas têm uma percepção tacanha e distorcida da realidade, mas têm a capacidade de, ao juntar essa percepção limitada à realidade futura pretendida em sua mente, criar uma visão, um conceito que, por meio da implementação da estratégia, buscam torná‑la a própria realidade. A responsabilidade social pode vir à tona nas estratégias concebidas justamente devido aos processos mentais dos estrategistas, que podem criar uma estratégia muito valiosa e consistente, com base em visão e valores. Isso não quer dizer, de forma alguma, que a responsabilidade social deva ser adotada com base somente em opiniões particulares e que sejam só os valores interiores do administrador que contem para sua adoção. Deve‑se levar em consideração que a empresa tem também outros tipos de objetivos que não devem ser desprezados.33 A Escola Cognitiva é dotada de dualidade: a ala positivista enxerga o processamento e a estruturação do conhecimento como um esforço para produzir algum tipo de filme objetivo do mundo; no entanto, para a ala subjetiva, a estratégia é uma espécie de interpretação do mundo. São premissas desta escola: • A formação de estratégia é um processo cognitivo que ocorre, primeiramente, na mente do estrategista. 33 Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, op. cit. 53 Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA • As estratégias emergem como perspectivas que dão forma à maneira pela qual as pessoas lidam com as informações vindas do ambiente. • As informações: — fluem através de todos os tipos de filtros deturpadores antes de serem decodificadas por mapas cognitivos (ala objetivo); ou — são meramente interpretações de um mundo que existe apenas em termos de como é percebido, isto é, o mundo visto pode ser modelado, emoldurado e construído.34 • Como conceito, as estratégias são difíceis de realizar. Quando há a realização, normalmente ficam abaixo do ponto ótimo idealizado e, por consequência, há uma dificuldade para mudar, quando essas estratégias não são viáveis.35 4.1.6 Escola de Aprendizado A Escola de Aprendizado, que tem como mote “a formação da estratégia como um processo emergente”, é fundamentada no fato de que os estrategistas aprendem ao longo do tempo. O que explica o fenômeno do surgimento das estratégias, segundo esta escola, é a capacidade de as pessoas aprenderem a respeito de uma situação, tanto quanto a capacidade de uma organização lidar com ela.36 Segundo os autores de Safári de estratégia, a publicação instigante do artigo de Charles Lindblom (1959), “A ciência de alcançar o objetivo de qualquer maneira” que, em certo sentido, iniciou esta escola. Lindblom sugeriu que a formulação de política (no governo) não é um processo claro, ordenado e controlado, mas confuso, no qual os responsáveis pela política tentam lidar com um mundo que sabem ser demasiado complicado para eles. As noções de Lindblom podem ter violado praticamente todas as premissas da administração “racional”. Mas acertaram por descreverem um comportamento com o qual todos estavam familiarizados, e nas empresas não menos que no governo. Mas foi o livro de Brian Quinn, Strategies for Change: Logical Incrementalism (Estratégias para a mudança: incrementalismo lógico, em tradução livre), lançado em 1980, que impulsionou esta escola e vasta literatura, que traz os seguintes questionamentos: 34 Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, op. cit. 35 Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, op. cit. 36 Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, op. cit. 54 Unidade II Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 • Quem é realmente o arquiteto da estratégia e onde na organização ocorre de fato a formação de estratégia? • Até que ponto o processo pode ser deliberado e consciente? • A separação entre formulação e implementação é de fato sagrada? De acordo com Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, “no limite, a escola de aprendizado sugere que a imagem tradicional de formulação de estratégia foi uma fantasia que pode ter sido atraente para certos executivos, mas não correspondeu àquilo que realmente acontece nas organizações”. Um artigo de Walter Kiechel para a revista Fortune, publicado em 1984, aborda um estudo sugerindo que somente 10% das estratégias formuladas chegam a ser implementadas. Um número que Tom Peters considerou “altamente inflacionado” (isso leva a maior questionamento sobre as escolas prescritivas). De fato, diante do fracasso de uma estratégia, é comum os pensadores culparem os executantes. Mas... seriam os pensadores capazes de formular estratégias factíveis de se colocar em prática? Para esta escola, a formação de estratégia é vista como um processo incremental lógico e emergente, com a participação de diversos agentes envolvidos. À medida que as pessoas e as organizações vão vivenciando uma situação ou oportunidade, elas aprendem e novas estratégias vão emergindo. Esse processo pode estar tanto centrado na cúpula quanto disperso hierarquia abaixo na organização. Por isso, os interesses de diversos stakeholders37 podem ser considerados e abre‑se mais espaço para o surgimento da responsabilidade social nas estratégias.38 Há extensa literatura sobre as organizações como sistemas que aprendem, destacando‑se A Behavioral Theory of the Firm (Uma teoria comportamental da organização, em tradução livre), de Cyert e March (1963), Richard Normann (1977), Chris Argyris (1976), Donald Schön (1983) e The Fifth Discipline (A quinta disciplina) de Peter Senge (1980), livro que impulsionou o interesse pelas “organizações que aprendem”. Saiba mais Para concluir os estudos sobre a Escola do Aprendizado, leia o quadro “Rumo à organização que aprende”, nas páginas 160‑161 do livro Safári de estratégia, de autoria de Henry Mintzberg, Bruce Ahlstrand e Joseph Lampel. 4.1.7 Escola de Poder Essa escola de pensamento estratégico foi responsável por trazer explicitamente poder e política para o desenvolvimento de estratégias. Para ela, a o modelo de formulação das estratégias é poder e 37 Partes interessadas. Também denominada por alguns autores como grupos de interesse. Ver “Principais Conceitos”. 38 Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, op. cit. 55 Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA política, seja como processo internalizado da organização ou como postura da organização em relação ao ambiente externo. A essas duas abordagens, os autores denominam, respectivamente, de “poder micro” e “poder macro”: O poder micro vê a formação de estratégia como a interação, por meio da persuasão, barganha e, às vezes, confronto direto, na forma de jogos políticos entre interesses estreitos e coalizões inconstantes, em que nenhum predomina por um período significativo. O poder macro vê a organização como promovendo seu próprio bem‑estar por controle ou cooperação com outras organizações, por meio do uso de manobras estratégicas, bem como de estratégias coletivas em várias espécies de redes e alianças. (MINTZBERG, AHLSTRAND & LAMPEL, 2000, p. 191). Isso significa respectivamente que: • Internamente, uma corporação é composta de diferentes pessoas, com uma vasta gama de concepções e interesses divergentes. As estratégias surgem de um processo extremamente político de negociação, concessões e manobras entre as diversas partes envolvidas. Se, por um lado, isso reflete certa democratização, devido à consideração e atuação de diversos membros no processo; por outro, faz com que as estratégias levem em consideração muito mais os interesses individuais daqueles que detêm maior poder, formal ou não, dentro da organização. • Sob o aspecto externo, uma organização estabelece com o seu ambiente uma relação de interdependência, estando sujeita a diversos grupos de interesse, sendo assim uma organização política,podendo tanto sofrer pressões do contexto mais amplo em que está inserida quanto interferir nele. O questionamento que se pode levantar aqui é se, para esta escola, a responsabilidade social seria realmente uma preocupação da empresa ou somente uma forma de satisfazer os stakeholders para fazer uso dos mesmos em prol de si, sendo uma mera ferramenta de publicidade com vistas ao ganho de imagem, cooperação ou aceitação dos mesmos, e não um comprometimento com interesses que transcendam as fronteiras da empresa.39 Esta escola trouxe para o campo da administração uma contribuição que não pode deixar de ser citada: a de que a dimensão política pode ter um papel positivo nas organizações, principalmente no que diz respeito à promoção de mudanças necessárias que comumente são bloqueadas em organizações mais estabelecidas e legítimas de influência. 39 Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, op. cit. 56 Unidade II Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 4.1.8 Escola Cultural A cultura pode ser entendida como um conjunto de crenças e de maneiras de perceber o ambiente e responder a este em comum, dentro de determinado grupo, que o distingue dos demais. Os impactos da cultura no comportamento da organização são claramente visíveis, estando intrinsecamente ligados à formação de estratégia. Quanto à adoção de práticas socialmente responsáveis por parte de uma organização, analisando‑se a cultura da mesma, é possível inferir se há realmente um comprometimento com o tema ou se há apenas oportunismo. Há empresas que realmente têm uma cultura socialmente responsável, ao passo que outras possuem uma cultura de práticas antiéticas e pouco comprometimento com os interesses da sociedade como um todo. Claro que as empresas não se situam nem em um extremo nem em outro, estando em um meio‑termo. Porém, é complicado falar em ser socialmente responsável quando não há alinhamento de seus funcionários em relação ao assunto, por estarem acostumados a uma cultura que não valoriza isto. Este contexto conduziria a uma postura que não se sustentaria ao longo do tempo. 4.1.9 Escola Ambiental Para a Escola Ambiental, o agente central da formação estratégica é o ambiente, ou seja, as atitudes estratégicas de uma organização são respostas adaptativas a imposições ambientais, por meio de um processo reativo. Sendo assim, a consideração da responsabilidade social na formação de estratégias pode ser fruto de uma resposta a uma maior pressão do ambiente no sentido de cobrar da empresa o papel de fomentar o desenvolvimento e o bem‑estar da sociedade na qual está inserida. 4.1.10 Escola de Configuração A Escola de Configuração trata da relação entre o ambiente e a estratégia em um contexto mais amplo, em que as características de um ambiente, em dado período de tempo, refletem‑se na configuração das características das empresas inseridas nesse ambiente e, consequentemente, em suas estratégias. Com o crescimento da exigência de posturas empresariais socialmente responsáveis, algumas organizações tradicionalmente pouco preocupadas com o assunto podem perder mercado e, com isso, serem forçadas a mudar radicalmente sua maneira de pensar e agir, causando uma reestruturação profunda e abrangente em suas características, pois a organização deve ser socialmente responsável como um todo, não apenas uma parte dela. E é nessa reestruturação que podem surgir diversas estratégias para a responsabilidade social ou que esta passe a ser considerada na formulação de estratégias.40 40 Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, op. cit. 57 Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA Exercícios Questão 1. Considerando as abordagens clássica, evolucionária, processual e sistêmica enquanto abordagens genéricas de estratégia, assinale a alternativa incorreta: A) A abordagem clássica compreende a estratégia como um processo racional de cálculos e análises deliberadas com o objetivo de maximizar a vantagem em longo prazo. B) Para os evolucionistas, o futuro é algo volátil e imprevisível para ser planejado. C) Os processualistas são tão pessimistas quanto os evolucionistas no que tange ao planejamento de longo prazo. D) Para os sistêmicos, a estratégia deve ser empreendida com sensibilidade sociológica. E) A abordagem sistêmica é relativista. Resposta incorreta: alternativa C. Análise das alternativas A) Alternativa correta. Justificativa: a abordagem clássica, a mais antiga e ainda influente, conta com os métodos de planejamento racional para que seja permitido dominar os ambientes internos e externos à organização. B) Alternativa correta. Justificativa: os evolucionistas apoiam‑se na metáfora fatalista da evolução biológica, mas substituem a disciplina do mercado pela lei da selva. Afirmam que a estratégia, no sentido clássico de planejamento racional orientado para o futuro, é frequentemente irrelevante. O ambiente é muito implacável e imprevisível para que se façam previsões eficazes. Tudo o que os gestores podem fazer é garantir que suas empresas se ajustem o mais eficazmente possível às exigências do ambiente em que atuam, pois os processos competitivos selecionam as empresas mais aptas a sobreviver. C) Alternativa incorreta. Justificativa: os processualistas concordam que o planejamento de longo prazo seja fútil, mas são menos pessimistas sobre o destino das organizações que não otimizam o ajuste ao ambiente. Para eles, os processos das organizações e dos mercados raramente são suficientemente perfeitos tanto para o planejamento estratégico defendido pelos clássicos quanto para o princípio da sobrevivência da abordagem evolucionária. 58 Unidade II Re vi sã o: A le ss an dr o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 01 /0 7/ 20 11 D) Alternativa correta. Justificativa: a abordagem sistêmica acredita que a estratégia reflete os sistemas sociais específicos dos quais ela participa, definindo os interesses segundo os quais ela age e as regras de sobrevivência. E) Alternativa correta. Justificativa: a abordagem sistêmica é relativista, considerando os fins e os meios da estratégia como ligados, sem escapatória, às culturas e aos poderes dos sistemas sociais dos locais onde ela se desenvolve. Questão 2. (IFMG 2012) A Escola do Pensamento Estratégico que incorpora ao planejamento a intuição, o julgamento, a experiência, os critérios e o lado visionário do líder é a: A) Escola cognitiva. B) Escola empreendedora. C) Escola cultural. D) Escola do aprendizado. E) Escola do design. Resolução desta questão na plataforma.
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