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Aula 01 Conceitos e aproximações: Tecnologias Educacionais e Neuroeducação Franciane Heiden Rios Neuroeducação e Tecnologias Educacionais Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Diretora Editorial ANDRÉA CÉSAR PEDROSA Projeto Gráfico MANUELA CÉSAR ARRUDA Autor FRANCIANE HEIDEN RIOS Desenvolvedor CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS Autor FRANCIANE HEIDEN RIOS Olá. Meu nome é Franciane Heiden Rios. Sou formada em Pedagogia, especialista em Tecnologias Educacionais e Educação Especial e Inclusiva, com Mestrado em Educação. Estou na Educação desde o início da minha vida profissional, cursei Magistério e daí já iniciei com estágios em escolar e nunca mais sai. Esse espaço rico de aprendizagens humanas me oportunizou pensar sobre diferentes questões e perceber as pessoas em suas diferentes necessidades. Durante dez anos fui servidora concursada, educadora e professora dos Municípios de São José dos Pinhais, Curitiba e Araucária. Atuei como supervisora do curso de Pedagogia da UNIVESP, Universidade Federal do Paraná e lecionei em diversas instituições de ensino superior, sempre no curso de Pedagogia e em disciplinas correlatas à Educação. Atualmente sou diretora pedagógica da CuriosaIdade, instituição que atua em parceria com redes de ensino para desenvolvimento de boas práticas educativas tendo como subsídio a perspectiva do Desenho Universal para a Aprendizagem. Acredito no princípio básico da inclusão e no respeito pela diversidade, portanto, escrever, palestrar, capacitar ou qualquer outra ação ou prática profissional relacionada ao tema são hoje meu foco de atuação. E, nesse cenário, as tecnologias são essenciais, afinal, elas são ferramentas que permitem superar barreiras e ampliar possibilidades no processo ensino- aprendizagem. Porém, como todo processo relacional, é fundamental compreender que a tecnologia por ela só não significa transformação, é a ação do educador, do professor, do ser humano por trás dessa ferramenta que significa a condição humana. INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimen- to de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser prioriza- das para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofun- damento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma ativi- dade de autoapren- dizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; Iconográficos Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo projeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: SUMÁRIO Definição de tecnologias educacionais .................................... 12 Compreendendo o conceito de tecnologia ..........................................12 Tecnologias, Informação e Comunicação: conceitos e aproximações com a Educação ...................................................................... 15 Afinal, o que são Tecnologias Educacionais? -Ampliando e discutindo perspectivas ......................................................................................... 19 Tecnologias educacionais e as relações no processo de ensino-aprendizagem ....................................................................... 23 TDIC, conectividade e ensino-aprendizagem ....................................23 Interatividade e os caminhos possíveis para a autonomia ..... 26 Modelo de ensino a partir das competências digitais ................. 31 Racionalidade instrumental e determinismo tecnológico ...34 Nativos e imigrantes digitais ...............................................................................34 Modelo geracional: reflexões necessárias .............................................37 Desafios contemporâneos relacionados às tecnologias educacionais ......................................................................................... 41 Letramentos computacional, informacional e em mídias: ponderações necessárias ..................................................................................... 41 Alfabetização e Letramento digital...............................................................43 Fluência digital ................................................................................................................44 Bibliografia ............................................................................................. 47 Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 9 UNIDADE CONCEITOS E APROXIMAÇÕES: TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS E NEUROEDUCAÇÃO 01 Neuroeducação e Tecnologias Educacionais10 “Gente, com esse tamanho ele já sabe mexer no celular?” É possível que você já tenha ouvido essa frase. Ainda, é cada vez mais comum nos depararmos com crianças entretidas com seus tablets, celulares e demais aparatos tecnológicos em diversos espaços, tais como restaurantes, consultórios médicos, entre outros. Não somente as crianças, os jovens, adultos e idosos se ocupam cada vez mais, cada um a seu modo e convergentes às suas necessidades, das tecnologias e de suas possibilidades. Nesse cenário, a Educação não é e nem deve ficar isenta, isolada ou à parte nessa relação tecnologia e comportamento humano. Mais que se apropriar das ferramentas, cabe à Educação pensar sobre, com e a partir da tecnologia e suas facetas o ensino, a aprendizagem e, sobretudo, a concepção de sociedade que emerge dessas interações. Assim, no campo da neuroeducação é fundamental compreender os conceitos inerentes à tecnologia, desmistificando os sentidos de termos corriqueiros, porém, que mal concebidos repercutem em práticas educativas questionáveis. Com os termos esclarecidos, seguiremos nosso percurso de aprendizagem questionando e identificando as implicações das tecnologias educacionais nos objetivos de ensino e nas expectativas de aprendizagem. Abordaremos as competências digitais esperadas diante das TDIC e os conhecimentos, habilidades e atitudes objetivados nesse cenário. Os desafios para essas competências serão discutidos na terceira competência, na qual identificaremos as interferências sócioeconômicas e culturais influenciam nessa perspectiva, implicam na apropriação tecnológica e, consequentemente, no processo de ensino- aprendizagem mediado por elas. Tema que será expandido na última competência, encerrando a proposta dessa unidade. Mesmo aqui nesse início de conversa, é possível afirmar que, como todo tema relacionado à Educação, a relação neuroeducação e tecnologia não é diferente: apresenta desafios que precisam ser pensados e repensados intermitentemente, assim, finalizaremos essa primeira unidade identificando esses desafios no mundo contemporâneo. É da constante reflexão que se avança na construção do conhecimento e nos fazemos melhores profissionais, assim, a partir dessa premissa convido a você, estudante, trilhar esse percurso rico de aprendizagens, dando sentido e vida às reflexões e discussões propostas nesse material. Vamos juntos? INTRODUÇÃO Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 11 Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 01 – Conceitos e aproximações: Tecnologias Educacionais e Neuroeducação. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos:• Compreender o conceito de Tecnologias Educacionais • Analisar as implicações das tecnologias educacionais nos objetivos de ensino e expectativas de aprendizagem. • Refletir sobre as condições sócioeconômicas e culturais que implicam no processo de apropriação tecnológica no processo ensino- aprendizagem. • Identificar os desafios contemporâneos relacionados à apropriação tecnológica no processo ensino-aprendizagem e sua relação com a neuroeducação. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Juntos, um passo por vez, trilharemos esse caminho de aprendizagem! Ao trabalho! OBJETIVOS Neuroeducação e Tecnologias Educacionais12 Definição de Tecnologias Educacionais Ao término deste capítulo você será capaz de conceituar tecnologia, reconhecer as particularidades das tecnologias quando relacionadas à informação e comunicação – TIC e TDIC e compreender a relação entre essas tecnologias e a educação, evidenciando o termo “tecnologias educacionais”. Esses conhecimentos são fundamentais para o exercício de sua profissão, afinal, a tecnologia permeia as relações humanas, portanto, é ativa nos processos de ensino-aprendizagem e, aqueles profissionais que não se atualizarem acerca dessa temática terão cada vez mais dificuldade de engajar seus alunos e, com isso, problemas variados na escola ou em outros espaços de aprendizagem serão cada vez mais acentuados. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Compreendendo o conceito de tecnologia Iniciaremos fazendo um questionamento para podermos definir o conceito de tecnologia. Vamos lá! Qual “imagem mental” que você associa à tecnologia? Seria um notebook? Seria uma ferramenta de pedra talhada? A partir das questões anteriores é que nos propomos a “desconstruir” o conceito de tecnologia, avançando para além das “máquinas”. Nos exemplos anteriores temos representadas tecnologias fundamentais à humanidade em determinado tempo. Quando falamos de tecnologia não nos referimos apenas à computadores, celulares e Internet, remetemo-nos, principalmente, às três palavras: evolução, progresso e comodidade. Com a necessidade humana, o homem moldou a pedra para caçar, um grande progresso à sua condição de vida e, consequentemente, um fator de comodidade, afinal, tem-se uma arma afiada para a disputa com os animais, essa que era travada com “mãos vazias” ou com Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 13 instrumentos menos eficientes. Tem-se aqui uma tecnologia rudimentar que representa uma evolução para a humanidade. A situação anterior nos permite avançar e sistematizar o conceito de tecnologia: DEFINIÇÃO: Para Kenski (2002) tecnologia é a totalidade das coisas resultantes da engenhosidade do cérebro humano. Está presente em todas as épocas, em diferentes formas de uso e para diferentes aplicações. Na história da humanidade vários são os exemplos de tecnologias rudimentares desenvolvidas para garantir a sobrevivência. Essas tecnologias rudimentares, a princípio em forma de instrumentos, permitiam a melhor realização das tarefas essenciais do dia a dia. Entretanto, conforme o homem foi evoluindo passando da condição nômade para sedentário, novas demandas surgiram em decorrência da necessidade de adaptação ao meio. Assim, outras ferramentas foram criadas, essas que operam no campo simbólico, tais como a linguagem e os números. Afinal, há a formação de organizações sociais tais como povoados e cidades com suas demandas que, com suas etapas de consolidação, contribuíram para o desenvolvimento social e cultural dos povos. O que é fundamental sabermos é que da pedra lascada para a caça, à linguagem, à máquina a vapor, ao computador, à Internet, todas essas tecnologias foram decisivas para a evolução da humanidade em determinado período histórico, transformando o homem e sua cultura, influenciando diretamente em seu modo de vida das pessoas. Nesse momento é possível que a reflexão que abriu nossa conversa, se feita novamente, já tivesse respostas e novas perspectivas, não é mesmo? Afinal, ampliamos o conceito de tecnologia identificando a ele a totalidade daquilo que o homem constrói a partir dos diversos Neuroeducação e Tecnologias Educacionais14 recursos naturais e de sua capacidade intelectual, resultando em ferramentas instrumentais ou simbólicas que são essenciais para a transposição das barreiras naturais e a vida em sociedade. Ainda, é possível afirmar que: “[...] conhecimentos e princípios científicos que se aplicam ao planejamento, à construção e à utilização de um equipamento em um determinado tipo de atividade, chamamos de “tecnologia”. Para construir qualquer equipamento - uma caneta esferográfica ou um computador -, os homens precisam pesquisar, planejar e criar o produto, o serviço, o processo. Ao conjunto de tudo isso, chamamos de tecnologias” (KENSKI, 2002, p. 24). Portanto, ao assumirmos a tecnologia sob essa perspectiva, é evidente a relação de dependência tecnológica e o quão fundamental ela é no processo social, atuando efetivamente nos processos de mediação das ações. Vygotsky, um dos teóricos de referência da Psicologia Histórico-Cultural e no campo da Educação, afirma que a relação sujeito-ambiente não se dava diretamente, era sempre mediada por um elo intermediário que se interpunha entre ele (sujeito) e o mundo, seja um objeto, seja a linguagem, portanto, aproximando das nossas reflexões, para ele sem a tecnologia não haveria a mediação inicial, o que torna fundamental discutir e pensar acerca não só dos processos de mediação, mas também, desses diante das tecnologias que surgem no mundo contemporâneo, com suas especificidades e que operam significativas mudanças no modo de vida em sociedade. Essas são, a princípio, as TIC – Tecnologias da Informação e Comunicação, que no contexto histórico da humanidade se relacionam com a informação e os processos de comunicação e que, em tempos de Internet e virtualização, avançam para outras denominações, como TDIC – Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 15 Tecnologias, Informação e Comunicação: conceitos e aproximações com a Educação O desafio que temos aqui, ao buscar conceituar TIC e TDIC, não é em apresentarmos a relação de instrumentos, ferramentas ou objetos que podem ser “aceitos” nessa categoria, afinal, essa lógica é simplista e reduz o próprio objetivo desse termo. A Professora Drª Luciana Massi com o excerto a seguir nos permite algumas reflexões fundamentais para avançarmos nosso caminho de aprendizagem: REFLITA: “[...] O simples conceito de Tecnologias da Informação e da Comunicação, as famosas TIC, parece apontar para mudanças mais efetivas, já que a tecnologia passa a ser usada como fonte e meio de produção de informações e como nova forma de comunicação. [...] Nos parece claro, então, que a tecnologia é uma nova forma de linguagem e sua inserção e ampliação constante tornam quase impossível a tarefa de elencar todos os exemplos que a ilustrariam: desde a internet, com sua linguagem html, redes sociais, blogs, wikis, passando por visualizações de abstrações existentes apenas no mundo virtual dos jogos e simulações; até novas formas de educação proporcionadas pelos ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), para cursos de educação a distância (EAD) ou “blended learning”, que unem EAD e educação presencial. [...]” (MASSI, 2015, p.1). Seriam, então, as TIC instrumentos, ferramentas, objetos, equipamentos, as “máquinas” ou as possibilidades de comunicação que elas possibilitam? O próprio termo Tecnologias da Informação e Comunicação já nos aponta a “saída” desse conceito: diz respeito às tecnologias que permitem socializar informações e que possibilitam que a comunicação seja possível. Embora não possamos pensar em Neuroeducação e Tecnologias Educacionais16uma linearidade histórica efetiva para um fenômeno tão complexo, podemos perceber o desenvolvimento das TIC, a predominância das tecnologias e transformações associadas para Lévy (1990) a partir do desenvolvimento da oralidade, da escrita e da informática. Da escrita temos o desenvolvimento das tecnologias impressas e, da informática, as digitais. Ampliando essa concepção, podemos perceber duas outras culturas que permeiam as tecnologias impressas e as digitais: Figura 1 – Cultura de massas e Cultura das mídias Fonte: Adaptado de Santaella (2003). Cultura de massas Cultura de mídias • Jornal • Telégrafo • Fotografia • Cinema • Televisão • Fotocopiadoras • Videocassetes • Videogames • Revistas • Programas de rádio especializados • TV a cabo IMPORTANTE: Mais que a tecnologia em si, essa classificação ocorre em decorrência do modo de produção, distribuição e consumo do conteúdo disponibilizado: a cultura de massa, em associação ao próprio nome, tende a ser mais massiva e passiva. Já a cultura das mídias, mais diversificadas e individualizadas. Entretanto, em tempos atuais, diante da intensa e rápida produção e disseminação tecnológica há a incorporação das tecnologias digitais, essas que operam mudanças nessas perspectivas de organização de Lévy (1990) e culturais de Santaella (2003) e marcam um novo período de desenvolvimento. As TDIC repercutem significativamente nos diversos Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 17 âmbitos das atividades humanas e com elas podemos falar de uma nova cultura: a Cultura Digital. DEFINIÇÃO: Para Santaella (2003, p.60) “a cultura digital se dá em decorrência do avanço das telecomunicações, principalmente com o advento da Internet e tem como característica a convergência das mídias escrita, audiovisual, telecomunicações e a informática permitindo com que seu conteúdo seja [...] traduzido, manipulado, armazenado, reproduzido e distribuído digitalmente.” Essa cultura prevê a maior capacidade, facilidade e agilidade em se obter, produzir e compartilhar informações, possibilitando uma forma de comunicação nominada por Lévy (1997) do tipo “todos-todos”. Uma nova sociedade se desenha e, sobre ela, Kenski (2012, p. 22) aponta: “[...] o surgimento de um novo tipo de sociedade tecnológica é determinado principalmente pelos avanços das tecnologias digitais de comunicação e informação e pela microeletrônica”, afinal, é com a circulação mais eficaz da informação que vários campos da sociedade avançam, desde a economia, a medicina, à engenharia, até a educação, havendo uma infinidade de avanços positivos nessa evolução tecnológica possibilitada pelas TDIC. Entretanto, novamente a complexidade vem a luz das nossas reflexões: não apenas de pontos positivos o avanço das TDIC se manifesta, há muito ainda que precisamos pensar, avançar e corrigir, principalmente quando relacionado à condição humano de acesso e discernimento ao uso do que está ali disponível. A diversidade de conteúdos e funções dos novos aparelhos eletrônicos, em sua maioria conectados à Internet, resultam em ampla velocidade e interatividade, características, entre outras, marcantes dessas tecnologias, que possibilitam a quem as usam desenvolver competências e habilidades Neuroeducação e Tecnologias Educacionais18 cognitivas para a operacionalidade técnica, mas, e as questões éticas? Essas questões ainda são essenciais e precisamos discuti-las, observem: EXPLICANDO MELHOR: A Revista Galileu publicou em 24 de fevereiro de 2015, em sua versão online, a matéria intitulada “Quem são os trolls – e por que ninguém está livre deles”. Em seu texto são apresentados dados resultados de uma pesquisa sobre o “comportamento troll” e quatro transtornos de personalidade obtidos pela Universidade de Manitoba, no Canadá. Sabendo que o troll a que nos referimos aqui pode ser definido com usuários online que se utilizam das redes sociais para ofender, ameaçar e perseguir pessoas que pareçam vulneráveis, o que esses dados, de fato, podem contribuir para responder à pergunta anterior? Primeiramente, esse estudo define esse comportamento como: “a prática de se comportar de forma enganosa, desordenada ou destrutiva num local social da internet por um único motivo: prazer próprio”. Ainda, após entrevistas, observaram que: “Os trolls sentem um júbilo sádico com o sofrimento dos outros. Os sádicos só querem se divertir, e a internet é o seu playground”. Como segundo elemento trazem os seguintes dados: “73% dos usuários adultos de internet testemunharam um assédio on- line, e 40% deles viveram isso na pele”. Assim, a frase “o mundo virtual é terra de ninguém” nunca fez tanto sentido. Apesar dos avanços em termos de leis e punições, ainda é preciso educar para, com e a partir das TDIC, afinal, operamos em um campo em que as aprendizagens operacionais são necessárias, porém, é fundamental e imperativo que avancemos para o que de fato “perturba” nesse cenário tecnológico: o ser humano em desenvolvimento e a sociedade em construção. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 19 Afinal, o que são Tecnologias Educacionais? -Ampliando e discutindo perspectivas Com as definições traçadas até aqui, é possível compreender e definir tecnologias educacionais como o uso dos recursos tecnológicos em prol do processo ensino-aprendizagem. Assim, novamente, não é possível limitar ou restringir à computadores, tabletes, ou projetores o conceito de tecnologias educacionais. Uma caneta e o quadro-negro são tecnologias utilizadas no processo educacional que de longa data ainda persistem nas relações desse processo. Dessa visão, mais que discutir “o que são” importa discutir “o porquê são” educativas e, dessa lógica, podemos afirmar que tecnologias educacionais são aquelas utilizadas em prol da educação, promovendo maior e mais qualificação do processo e do desenvolvimento social e educativo diante da disponibilização, acesso e socialização das informações. DEFINIÇÃO: Para Niskier (1993, p.80) a tecnologia educacional é concebida da “[...] mediação do encontro entre Ciência, Técnicas e Pedagogia”, entendida como “[...] um exercício crítico com utilização de instrumentos a serviço de um projeto pedagógico”. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais20 Figura 2 - Tecnologias Educacionais. Fonte: Freepik As tecnologias educacionais, portanto, não se limitam às TDIC e como apontado por Brito e Purificação (2011) sua criação também se dá mediante a necessidade do ser humano. Um exemplo dessa necessidade é o ábaco. Uma tecnologia primitiva que auxiliava os povos primitivos na contagem e pode ser considerado como um primeiro “computador”. A discussão do “porquê” são está diretamente relacionada à inovação educacional. É fato que a escola já avançou muito em sua apropriação de diversas tecnologias, desde o uso de materiais concretos e ferramentas tidas como tradicionais e, em tempos de Internet e TDIC voltamos ao “gancho” que encerrou nosso subtítulo anterior: o conhecimento operacional e o conhecimento ético necessário para a incorporação das tecnologias digitais, ligadas em rede, no processo educacional. Um fato é fundamental e certo: não podemos mais excluir da escola e dos espaços educacionais essas tecnologias, suas linguagens e suas características. Assim, o uso do computados e da Internet já Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 21 acontece – com desafios e barreiras a serem transpostas – já é um grande passo. Para tanto, cabe pensarmos no que é preciso para que essas tecnologias contribuam para a mais reflexiva do ser humano e de um mundo melhor. Não há receitas, mas, já sabemos que caminhos não seguir. O trabalho com as tecnologias no campo educacional não pode e não deve apenas substituir o “antigo” pelo “novo”, mas sim, deve potencializar a tecnologia em recurso eficaz na quebra de paradigmas da cultura demassa, promovendo a diversidade cultural que resulte na desmistificação de estigmas históricos, o respeito mútuo, a solidariedade, firmando, de fato, a “aldeia global” que tanto é propagado quando se faz referência às relações em rede. Afinal, a educação é um processo que não se encerra em si, dela se espera intervenções, significações, contextualizações, transformações, espera-se ações e reflexões! Com a incorporação das tecnologias digitais em rede na educação é possível fazer o que há tempos clamamos para a escola: romper com didáticas tradicionais que privilegiam a transmissão de informações, o que se torna obsoleto quando se tem a “um toque” vários resultados em sites de busca, passando a privilegiar a construção de aprendizagens significativas que permitam refletir, filtrar, questionar, selecionar, organizar e tantas outras ações necessárias esse fluxo extraordinário de informação acessível. Assim, definir tecnologias educacionais é mais que pensar em ferramentas é pensar em uma postura perante do que essa ferramenta/ recurso permite e seu uso na educação deve ser sempre compreendido como um processo dinâmico, rápido e que se modifica diante do cenário que opera. Para nós, que tenhamos sempre em mente a afirmação de Lévy (1990, p.118) nesse processo formativo e em nossas práticas profissionais "[...] é mais difícil, mas também mais útil apreender o real que está nascendo, torná-lo autoconsciente, acompanhar e guiar seu movimento de forma que venham à tona suas potencialidades mais positivas". Neuroeducação e Tecnologias Educacionais22 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que tecnologia não se restringe à computadores, celulares e Internet, esse termo diz respeito à totalidade das coisas resultantes da engenhosidade do cérebro humano. Está presente em todas as épocas, em diferentes formas de uso e para diferentes aplicações e se relaciona diretamente à três palavras: evolução, progresso e comodidade. Ainda, que o pensamento que organiza o conhecimento e o processo de construção de alguma ferramenta também é tecnologia. Avançamos para o conceito de TIC e TDIC, respectivamente, Tecnologias da Informação e Comunicação e Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação, conceituando-as, em termos gerais, como como aquelas que permitem socializar informações e que possibilitam que a comunicação seja possível. Vimos que na relação com as TIC Santaella (2003) relaciona duas culturas: a de massa e de mídias; e à TDIC à cultura digital. Cultura essa, que se dá em decorrência do avanço das telecomunicações, principalmente com o advento da Internet e tem como característica a convergência das mídias escrita, audiovisual, telecomunicações e a informática. No que se refere às tecnologias educacionais, vimos que elas podem ser entendidas como o encontro entre Ciência, Técnica e Pedagogia, de forma crítica, em prol de um projeto pedagógico. Ainda, que não se restringem às TDIC mas, que são as tecnologias digitais e em rede que recuperam a discussão sobre a necessidade eminente de se quebrar paradigmas e superar práticas tradicionais, privilegiando a construção de aprendizagens significativas que permitam refletir, filtrar, questionar, selecionar, organizar e tantas outras ações necessárias esse fluxo extraordinário de informação acessível. Para tanto, finalizamos reforçando a necessidade de se pensar além da ferramenta, sendo necessário se pensar a postura perante ela quando na interface com a educação. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 23 Tecnologias Educacionais e as relações no processo de ensino-aprendizagem Ao término deste capítulo você será capaz de perceber, identificar e analisar as primeiras relações das TDIC - tecnologias digitais conectadas à Internet, no campo da educação. Conhecer os principais objetivos relacionados à formação como e a partir dessas tecnologias é essencial para incorporá-las às práticas docentes, seja na escola, seja em acompanhamentos individuais, seja em outros espaços educacionais, permitindo planejar e atuar de forma assertiva e coerente na relação objetivos de ensino e expectativa de aprendizagem. Desconhecer as especificidades dessas tecnologias compromete sua utilização, afinal, assim como toda ferramenta utilizada em prol de um objetivo educacional, a insegurança do profissional mediante o recurso, ou a má escolha, ou a má gestão da ferramenta é operante para o fracasso. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! TDIC, conectividade e ensino-aprendizagem Você já parou para pensar sobre seu comportamento de leitor quando está na Internet? Já reparou nas conexões que realiza para além do texto inicial que acessou? Já percebeu a relação entre as diferentes linguagens que as TDIC disponibilizam para além das palavras escritas? Já analisou a interferência de se ter um banner de “promoções” ao lado de uma reportagem, ou um vídeo com um tutorial daquela receita que está ali apresentada? Quando nos propomos a discutir a interferência das TDIC no processo de aprendizagem é necessário analisar sua estrutura para além do espaço da escola ou de educação a que se propõe. Afinal, estamos imersos nessa relação e as informações que estão disponíveis, apesar da possibilidade de alguns filtros de moderação projetados, assumem uma conexão de conectividade que, por vezes, nos faz perguntar “como Neuroeducação e Tecnologias Educacionais24 cheguei nessa página?”, “como cheguei nesse conteúdo?”, se a ideia e o objetivo inicial eram divergentes do resultado final. Quem nunca acabou em um site de compra analisando o mais novo modelo de celular, ou um produto de destaque, ou qualquer outro serviço a venda, sem que essa tenha sido a ideia inicial? Ou ainda, quem ao “navegar” pela rede nunca acabou em um site com notícias de celebridades, seja sobre as roupas do tapete vermelho, seja sobre os relacionamentos de celebridades? Essas questões nos apresentam as principais características das TDIC conectadas, por sua natureza são multilinguagens, conectivas e hipertextuais, sendo que o processo de interação, leitura e associação se configuram como multitarefas, não lineares, autodidáticos, exploratórios e colaborativos. É fato que na interface da educação essas características não são inéditas ou exclusivas dos ambientes conectados e virtuais, tampouco, as habilidades que essas características demandam também não são distantes dos objetivos de ensino e expectativas de aprendizagem que se espera nos espaços de escolarização, entretanto, com o advento das TDIC, tais características passam a ser encaradas como tendências contemporâneas que, para Lévy (1990), são ao mesmo tempo produtoras e produtos de uma ecologia cognitiva. Figura 3 – Conectividade. Fonte: Freepik Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 25 Nesse sentido, da interação com as TDIC e suas características há a demanda de habilidades relacionadas à participação ativa, criativa, lúdica e engajada por parte dos sujeitos, resultado em um novo estilo de ensino-aprendizagem. Afinal, dessa interação tecnológica há o favorecimento de novos modos de comunicação, de pensar, de lidar com a informação e de produzir conhecimentos e de agregar e rastrear informações que precisam ser consideradas, acolhidas e potencializadas. Figura 4 - Novos modos de aprender. Fonte: Adaptado de Venturi (2011) Comunicar Pensar Lidar e produzir Agregar e rastrear de forma rápida e cifrada com o encurtamento de palavras e utilização de ícones para tornar mais eficaz a compreensão da mensagem através de poucos clicks é possível lidar com as informações e produzir conhecimentos para produzir conhecimento através da mediação do computadorcom acesso à internet simultaneamente e/com acesso a várias “janelas” Trazemos como imperativo, pois, conforme aponta Morin (2004) é necessário mobilizar recursos cognitivos, investimentos individuais e tenacidade para que esses novos modos de aprender se efetivem, afinal, as competências que as TDIC demandam no processo ensino- aprendizagem são inatas ao sujeito, são identificadas de maneira espontânea apenas em pequena porção, cabendo à escola e aos profissionais a responsabilidade de promover possibilidades para “[...] uma crescente autonomia dos/as estudantes, visando seu desenvolvimento pessoal e provendo-os com ferramentas para pensar e agir de modo Neuroeducação e Tecnologias Educacionais26 informado e responsável num mundo cada vez mais permeado pela ciência e tecnologia” (CASTELI et al., s.d.). Interatividade e os caminhos possíveis para a autonomia Lévy (1996, p. 97) define “inteligência” como o “conjunto canônico das aptidões cognitivas, a saber, as capacidades de perceber, de lembrar, de aprender, de imaginar e de raciocinar”. Com as TDIC essas aptidões passam a ser potencializadas, ao menos no exercício do usuário da ferramenta, quando do acesso às informações. E aqui temos o elemento que inicia nossa discussão sobre os caminhos para a autonomia necessária para a aprendizagem nesse cenário tecnológico conectado, a interatividade. Esse conceito está diretamente relacionado à participação e intervenção ativa, ou seja, quando falamos em interatividade nos remetemos à possibilidade do sujeito em atuar, contribuir, modificar, questionar, enfim, agir com, a partir e no conteúdo/informação a ser aprendido. Com as TDIC se ampliou a possibilidade do “estudante- autor”, aquele que constrói e produz, significa e altera, complementa e adequa o que está ali disponível para sua aprendizagem, possibilidades oferecidas diante do caráter tecnológico inovador das TDIC. No campo das TDIC, a interatividade se configura em ideal de comunicação entre humanos, direta ou indiretamente mediada pela máquina. A isso, preconiza-se a ruptura de modelos comunicacionais, pregando-se a transição do modo de comunicação “massivo” para o “interativo” (LÉVY, 1999 apud ALONSO et al 2014). ]] É uma nova realidade que se projeta nas ações educativas “[...] superando as antigas hierarquias, estabeleceria uma relação totalmente outra, porque capaz de se dar de todos para todos” (LÉVY, 1999, p. 79). É Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 27 a possibilidade que o estudante tem de acessar tutoriais em vídeos, por exemplo, buscando novos caminhos para construir sua aprendizagem. E é aí que o desafio se estabelece. Figura 5- Tecnologias e cotidiano Fonte: Freepik Afinal, como categorizado por Coll e Monereo (2010), com o advento da informatização digital, avançamos para o que se atribuiu o nome de “tecnologias ubíquas” que são aquelas tecnologias que, de tão integradas à vida das pessoas, passam a não ser mais percebidas em suas relações e interações cotidianas, o que resulta na diminuição ou ausência de reflexão acerca das influências que elas ocasionam. DEFINIÇÃO: Tecnologia ubíqua “[...] se refere à progressiva interação dos meios informáticos nos diferentes contextos de desenvolvimento dos seres humanos, de maneira que não são percebidos como objetos diferenciados” (COLL; MONEREO, 2010, p. 46). Neuroeducação e Tecnologias Educacionais28 O conceito de tecnologia ubíqua nos é fundamental pois, é ele que nos permite avançar para o conceito de autonomia, para tanto, veja a seguinte situação. Digamos que “navegando” por alguma rede social você se depara com a seguinte notícia: “Extraterrestes invadem o México – há 4 horas ninguém consegue contato com nenhuma autoridade local”. Por curiosidade – ou angústia, não é mesmo? – você clica e lê o texto e sobre o que ele se refere. Por experiência, você não compartilha e divulga a informação sem antes verificar a veracidade da notícia. Depois do acesso e leitura crítica, você identifica que se trata de uma chamada para um novo filme, entretanto, durante o dia você vê em sua timeline diversas postagens de outros usuários da rede social sobre a notícia tendo-a como verdadeira, a ponto do estúdio que produz o filme ter que produzir um comunicado oficial para “acalmar” determinada parcela da população. Desse exemplo podemos estabelecer o conceito de autonomia que encaminha nossas discussões. Definimos autonomia como a competência de poder escolher por si mesmo, de poder agir a partir de sua própria vontade e, principalmente, de dispor de recursos que permitam pensar de maneira crítica e reflexiva sobre essas ações exercidas, ou seja, a premissa do exercício da consciência. Freire (2009) afirma que autonomia: [...] implica na apropriação crescente de sua posição no contexto. Implica na sua inserção, na sua integração, na representação objetiva da realidade. Daí a conscientização ser o desenvolvimento da tomada de consciência. Não será, por isso mesmo, algo apenas resultante das modificações econômicas, por grandes e importantes que sejam. A criticidade, como entendemos, há de resultar de um trabalho pedagógico critico, apoiando em condições históricas propícias (FREIRE, 2009, p.61). ]] Nesse sentido, interação e autonomia são faces da mesma moeda: não se pode produzir conteúdo sem pensar sobre ele, não se pode ser autor sem conhecer as responsabilidades de sua ação. Enquanto profissionais, não podemos ignorar essas demandas e relações no processo ensino-aprendizagem. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 29 REFLITA: Do que vale o estudante saber acessar a Internet ou fazer o download de um jogo se a ele não avançamos no processo de aprendizagens contextualizados, elaborados, significativos e essenciais tais como: responsabilidade no uso da rede não se colocando em perigo, respeito com o outro, entre outros? Essas premissas se consolidam enquanto legislação a partir da homologação da Base Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL, 2017) que propõe dez competências, tanto cognitivas como socioemocionais, como objetivos de aprendizagem e desenvolvimento a serem alcançadas ao longo do ciclo da Educação Básica, inclusive relacionadas às TDIC. Para tanto, os caminhos possíveis para que essas competências sejam fomentadas são permeados pela educação baseada nas competências digitais, na modernização da educação escolar e na criação de oportunidades para que os estudantes sejam estimulados a desenvolver e utilizar seu senso crítico com os mais diversificados conhecimentos e na socialização do que aprenderam. É fundamental lembrar que, apesar das TIDC serem qualitativamente diferentes dos recursos convencionais, apenas sua utilização não produz as mudanças necessárias no processo de desenvolvimento e aprendizagem dos estudantes. Apenas o computador, o celular e/ou o tablet estarem no espaço educativo não significa a apropriação efetiva da tecnologia sob a égide dos princípios da interatividade e autonomia. Afinal, uma aula expositiva, mecânica e de baixa interatividade é possível tanto com o uso de multimídia como no quadro de giz, não é mesmo? Para que as TDIC possam possibilitar a modificação, amplificação e exteriorização de numerosas funções cognitivas como a memória, a percepção, a imaginação, raciocínio é preciso a qualificação da mediação pedagógica. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais30 Novamente lançamos mão de Lévy (2011) teórico-referência nas discussões sobre a cibercultura e que, sobre essa qualificação de mediação pedagógica, indica que as possibilidades são muitas e variadas quando na relação com as funções cognitivas, como por exemplo: • Memória: uso de banco de dados, mapas mentais, conectores textuais, arquivos digitais, entre outros. • Imaginação: simuladores virtuais, instrumentos de criação colaborativos e de representaçãoabstratos, jogos de narrativas, entre outros. • Percepção: sensores, realidade virtual, entre outros. • Raciocínio: principalmente por meio da inteligência artificial e pelo compartilhamento entre os indivíduos, que aumentam o potencial da inteligência coletiva. SAIBA MAIS: Para saber um pouco mais sobre o que é Cibercultura, seus conceitos e seus fundamentos recomendamos a leitura do paper “Cibercultura: um estudo contextualizador e introdutório”, de autoria de Souza et al, disponível para acesso em: http://www.intercom.org.br/papers/ nacionais/2010/resumos/R5-2207-1.pdf Nesse sentido a mediação pedagógica se constituí na relação com a mediação tecnológica, quando, enquanto profissionais, nos apropriamos dos meios e recursos sustentados por estas tecnologias privilegiando e promovendo práticas que ampliam as possibilidades de comunicação que rompem com o modelo unidirecional e passivo anteriormente previsto ao estudante. Assim, é fundamental compreendermos o modelo de ensino a partir das competências digitais. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 31 Modelo de ensino a partir das competências digitais Ensinar na relação com as TDIC deve, a priori, preconizar a promoção de práticas que permitam aos sujeitos: [...] explorar e enfrentar as novas situações tecnológicas de uma maneira flexível, para analisar, selecionar e avaliar criticamente os dados e informação, para aproveitar o potencial tecnológico com o fim de representar e resolver problemas e construir conhecimento compartilhado e colaborativo, enquanto se fomenta a consciência de suas próprias responsabilidades pessoais e o respeito recíproco dos direitos e obrigações. (CALVANI et al, 2008, p. 186). ]] Espera-se, portanto, que do ensino proposto os sujeitos desenvolvam competências necessárias para que os sujeitos estabeleçam relações com as TDIC de forma consciente e reflexiva. Para tanto, três dimensões são inerentes às competências digitais: tecnológica, cognitiva e a ética. Figura 6 - Competências Digitais Fonte: Adaptado de Silva e Behar (2019). TECNOLÓGICA • Explora novas possibilidades tecnológicas com flexibilidade ÉTICA • Interage de forma responsável com as tecnologias COGNITIVA • Acessa, seleciona e avalia de forma crítica as informações Neuroeducação e Tecnologias Educacionais32 Na integração dessas três competências se espera que o estudante compreenda o potencial das TDIC para a construção do conhecimento de forma colaborativa e cooperativa. Em um panorama geral, podemos sistematizar as Competências Digitais em conhecimentos, habilidades e atitudes. Conhecimentos AtitudesHabilidades • Entender o funcionamento das tecnologias, suas potencialidades, seus benefícios e seus riscos relacionados, a veracidade das informações . • Criticidade, reflexão e autonomia. • Gerenciar a informação, distingui o virtual do mundo real, identifica as conexões entre esses dois domínios, utiliza os serviços básicos da internet como suporte à criação e à inovação. Figura 7 - Conhecimentos, habilidades e atitudes relacionadas às Competências Digitais. Fonte: Adaptado de Silva e Behar (2019). Desses dois esquemas representados nas figuras anteriores podemos ampliar o conceito de competência digital para: [...] um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes, estratégias e sensibilização de que se precisa quando se utilizam as TICs e os meios digitais para realizar tarefas, resolver problemas, se comunicar, gestar informação, colaborar, criar e compartilhar conteúdo, construir conhecimento de maneira efetiva, eficiente, adequada de maneira crítica, criativa, autônoma, flexível, ética, reflexiva para o trabalho, o lazer, a participação, a aprendizagem, a socialização, o consumo e o empoderamento (FERRARI, 2012, p. 3-4 apud SILVA e BEHAR, 2019). Entretanto, existem outros elementos sociais, econômicos e culturais que implicam na efetivação das Competências Digitais, esses que serão discutidos na sequência. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 33 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que as TDIC conectadas são por natureza multilinguagens, conectivas e hipertextuais, sendo que o processo de interação, leitura e associação se configuram como multitarefas, não lineares, autodidáticos, exploratórios e colaborativos. Características que não são inéditas no processo de ensino-aprendizagem, mas que com o advento tecnológico passam a ser encaradas como tendências contemporâneas, demandando habilidades relacionadas à participação ativa, criativa, lúdica e engajada por parte dos sujeitos. Vimos dois conceitos fundamentais relacionados ao ensino-aprendizagem na relação com as TDIC: a interatividade e a autonomia. O primeiro está diretamente relacionado ao “estudante-autor”, que constrói e significa as informações disponíveis em prol de sua aprendizagem diante das possibilidades oferecidas diante do caráter tecnológico inovador das TDIC. O segundo, diz respeito à competência de poder escolher por si mesmo, de poder agir a partir de sua própria vontade e, principalmente, de dispor de recursos que permitam pensar de maneira crítica e reflexiva sobre essas ações exercidas, ou seja, a premissa do exercício da consciência. Vimos a necessidade da mediação pedagógica para que as TDIC de fato cumpram com essas intenções e, para isso, a prática deve objetivar, principalmente, o desenvolvimento de competências digitais, essas compreendidas como um um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes, estratégias e sensibilização de que se precisa quando se utilizam as TICs e os meios digitais para realizar tarefas, resolver problemas, se comunicar, gestar informação, colaborar, criar e compartilhar conteúdo, construir conhecimento de maneira efetiva, eficiente, adequada de maneira crítica, criativa, autônoma, flexível, ética, reflexiva para o trabalho, o lazer, a participação, a aprendizagem, a socialização, o consumo e o empoderamento. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais34 Racionalidade instrumental e determinismo tecnológico Ao término deste capítulo você será capaz de perceber as relações entre as condições sócioeconômicas e culturais e o desenvolvimento das competências digitais trabalhadas na competência anterior. Compreender essa relação permite, principalmente, identificar os elementos que permeiam a relação TDIC – ensino – aprendizagem no contexto brasileiro. Isto será fundamental para a qualificação das TDIC em suas práticas pedagógicas, descontruindo ideias pré-concebidas e massivas acerca do conhecimento e competência dos sujeitos diante desses recursos. Sem conhecer essa relação, o trabalho pedagógico pode fracassar sem com que o profissional identifique os motivos reais. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Nativos e imigrantes digitais Como vimos, as tecnologias de forma geral surgem da necessidade humana e, como consequência, transformam o modo de vida das pessoas. Esse processo se dá em um ciclo retroalimentado: necessidade – tecnologia – necessidade – tecnologia. E é assim também na relação com as TDIC. Ao facilitar o acesso à informação na viabilização e expansão da cultura digital, essas tecnologias alteram as relações estabelecidas, seja na vida em geral, seja no contexto educacional, surgindo como objeto de pesquisa/estudo para alguns teóricos que buscam melhor compreender e definir as especificidades, características e outras perspectivas dessas relações na “era digital”. Entre esses teóricos se destacam Palfrey e Gasser (2011) principalmente por serem eles os responsáveis pelos termos: nativos e imigrantes digitais. Para eles, aqueles que nasceram apósos anos 1980, por serem contemporâneos às tecnologias, teriam maiores habilidades Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 35 para usar as TDIC. Seriam, portanto, os nativos digitais e o aspecto etário que definiria a condição do usuário frente a ferramenta e seu conteúdo. Já os imigrantes digitais são aqueles que não se enquadram nesse grupo. A eles caberia conviver e interagir com os nativos digitais e “se familiarizar” com a tecnologia emergente. Nesse cenário ainda haveria um terceiro grupo, os colonizadores digitais, que seriam as pessoas que destoam do primeiro e do segundo grupo e corresponde àqueles que cresceram pré-mundo digital - em mundo analógico -, mas, que são responsáveis ou vem contribuindo para a evolução tecnológica. Diferente dos imigrantes, os colonizadores atuam conectados e fazem o uso sofisticado das tecnologias. Figura 8 - Nativos digitais. Fonte: Freepik Essa classificação geracional, ao ser transposta para o cenário educacional, predispõe relações conflitantes, afinal, grande parte dos professores em atuação poderiam ser categorizados como imigrantes digitais frente a turmas de nativos digitais. Mais que um rótulo, esses termos nos permitem pensar sobre a forma como cada um desses sujeitos aprende, ensina e constrói conhecimento. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais36 É provável, portanto, que o professor aprenda e construa conhecimentos de forma diferente que seus estudantes, consequentemente, sua forma de ensinar difere da forma como os estudantes percebem o conhecimento e sua produção. IMPORTANTE: A perspectiva de nativos e imigrantes digitais contribui principalmente para evidenciar as possíveis barreiras e/ou dificuldades de comunicação que podem existir entre professores e estudantes. Se pensarmos a partir do proposto, considerando alunos e os professores de hoje, respectivamente, nativos e imigrantes digitais, é possível que nessa relação ambos busquem se fazer entender e ser compreendido por meio de “línguas diferentes”. Figura 9 - Dificuldades comunicativas. Fonte: Freepik Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 37 Assim, é possível que nessa relação os estudantes e suas demandas de aprendizagem coloquem em xeque as formas e métodos pelas quais os professores aprenderam e, consequentemente, ensinam. É preciso destacarmos que as análises que fizemos até aqui podem resultar em perspectivas simplistas, pressupondo-se que existam formas prontas e acabadas que são garantia de aprendizagem, afinal, superada a dificuldade de comunicação, não haveria motivo para que o que se ensina não seja aprendido, não é mesmo? Entretanto, sabemos que o processo educacional é complexo e não opera nessa lógica matemática, tampouco, dessa forma linear. Assim, quando pensamos no impacto positivo ou negativo das inovações decorrentes das TDIC na educação, é preciso que consideremos todo o cenário que comungam nesse processo dentro e fora do espaço escolar. Portanto, é fundamental destacar as controvérsias que emergem da perspectiva geracional apresentada. Modelo geracional: reflexões necessárias Ao contrário de Palfrey e Gasser (2011), Monereo e Pozo (2010) afirmam que não devemos considerar a idade como condição determinante na relação com as TDIC. Apontam que não há um “abismo geracional” mas sim, um “abismo sóciocognitivo”, ou seja, a diferença está no modo de pensar e de se relacionar com o mundo das pessoas que não utilizam as tecnologias digitais ou as utilizam de forma esporádicas ou cotidianamente. Revisitando a sua primeira categorização, Prensky (2009) também acaba se considerando essas questões, tanto que sugere um novo conceito: sabedoria digital. Esse conceito se refere tanto à sabedoria decorrente do uso da tecnologia digital, quanto à sabedoria de saber usá-la com ética. Assim, indiferente da faixa etária, todos podemos nos tornar sábios no mundo digital, como em qualquer aprendizagem, com maior ou menor habilidade em determinados campos de operação. Para tanto, é necessário perceber em que cenário se estabelecem as relações com as TDIC que possibilitam a sabedoria digital. Conforme Neuroeducação e Tecnologias Educacionais38 dados do CENSO, 41% (quarenta e um por cento) das pessoas que apontaram “falta de habilidade com o computador” são “[...] mais velhas e menos escolarizadas" (BRASIL, p. 51, 2015), a lógica etária parece fazer sentido. Entretanto, dados divulgados pelo CETIC – Centro Regional de Estudos para o desenvolvimento da sociedade da informação, publicados em 2018, apontam que 33% (trinta e três por cento) das residências não tem acesso à Internet, ou seja, reduz a todos, indiferente de sua idade, a possibilidade de avanços no sentido da sabedoria digital. Essa condição – mazela – de exclusão digital decorrente das condições sociais e econômicas pode ser definida como uma “fratura digital”. Para Mattelart (2002) em uma sociedade desigual dois papéis se desenham: os "inforricos" - aqueles com uso proficiente das tecnologias e, os "infopobres" - sujeitos marginalizados no cenário tecnológico. Portanto, essa condição nos alerta para compreender a condição brasileira no trabalho integrado às TDIC: as condições de usuário é um fenômeno que engloba aspectos de ordens econômica e social, nos quais os mais pobres, mais velhos e menos escolarizados, os primeiros e os últimos em diferentes faixas etárias, são marginalizados do cenário tecnológico por sua condição de existência (CASTELLS, 1998). Portanto, é preciso considerar que muitos dos estudantes não estão/não se encontram inseridos na cultura digital. Embora esses mesmos estudantes possam se engajar diante das TDIC em sua aprendizagem, precisamos estar atentos para perceber a condição de usuário desse estudante que será fundamental na relação ensino- aprendizagem, afinal, a inabilidade ou desinteresse ou até mesmo o “fracasso” nesse processo pode estar relacionado diretamente ao fato de não terem acesso às tecnologias cotidianamente em decorrência de sua condição sócioeconômica. Fato que, para Koutropoulos (2011), é o suficiente para questionarmos a existência de uma geração digital e as premissas – quase de mágicas – de como ensinar e trabalhar com os “nativos digitais”, afinal, esse termo carrega em si um estereótipo que precisa ser rompido e, infelizmente, em decorrência das desigualdades sociais, representa minoria da população. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 39 Assim, precisamos considerar como fator essencial para o trabalho com as TDIC a Inclusão Digital entendida como a efetivação – mínima – de três ações: 1º) a disponibilização da tecnologia aos usuários; 2º) a formação técnica desses para o uso e; 3º) a formação intelectual crítica para refletir sobre seu papel de usuário. (BARRETO, 2009; CASTELLS, 1998; MATTELART, 2002). É fato que na escola já avançamos significativamente na disponibilização das tecnologias, ainda é preciso avançar e para tanto, é preciso participarmos ativamente das discussões sobre políticas públicas para que a infraestrutura seja qualificada. A segunda ação podemos encarar como decorrente, afinal, tendo a “ferramenta” disponível, identificaremos a demanda do estudante e, a partir dela podemos intervir e avançar. Já a terceira ação é o que irá, de fato, superar o abismo ocasionado pela “fratura digital”, pois, é o uso proficiente e autônomo das TDIC e é sobre essa ação que avançaremos na próxima competência. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que Palfrey e Gasser (2011) são responsáveis pelos termos nativos, imigrantes e colonizadores digitais. Esses autores relacionaram as habilidades para o uso das TDIC com a faixa etária populacional, assim,aqueles que nasceram após os anos 80, por serem contemporâneos às tecnologias, teriam maiores habilidades e seriam os “nativos digitais”, os imigrantes seriam os que antecedem essa geração e, portanto, precisariam “se familiarizar” com a tecnologia emergente e, os colonizadores digitais, seriam as pessoas que destoam do primeiro e do segundo grupo, correspondendo àquelas pessoas que nasceram em mundo analógico, mas, que são responsáveis ou vem contribuindo para a evolução digital, fazendo. No cenário Neuroeducação e Tecnologias Educacionais40 educacional, essa perspectiva contribui para refletirmos sobre possíveis relações conflitantes em decorrência das diferenças geracionais, permitindo pensar nas diferenças como cada geração constrói conhecimento e, no caso dos professores, acaba por ensinar, o que resultaria em uma barreira comunicacional. Entretanto, vimos que essa relação é mais complexa, afinal, há fatores sociais e econômicos envolvidos que interferem no acesso e proficiência na apropriação das TDIC pelos sujeitos. Vimos que para Monereo e Pozo (2010) não há um “abismo geracional” mas sim, um “abismo sóciocognitivo”, ou seja, a diferença está no modo de pensar e de se relacionar com o mundo das pessoas que não utilizam as tecnologias digitais ou as utilizam de forma esporádicas ou cotidianamente. Premissa que resulta no conceito de sabedoria digital que acolhe a todos na possibilidade de domínio das TDIC. Vimos também que para que a sabedoria digital seja algo possível, é preciso considerar a “fratura digital”, compreendendo que grande parte da sociedade não se encontra inserida na cultura digital por não terem acesso em decorrência de sua condição sócioeconômica. Fato que nos alerta para questionarmos a existência de uma geração digital e as “receitas mágicas” para educa-los. Ainda, vimos que na relação com as TDIC é fundamental que a Inclusão Digital seja efetiva e, para tanto, três ações são essenciais: 1º) a disponibilização da tecnologia aos usuários; 2º) a formação técnica desses para o uso e; 3º) a formação intelectual crítica para refletir sobre seu papel de usuário. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 41 Desafios contemporâneos relacionados às Tecnologias Educacionais Ao término deste capítulo você será capaz de identificar os desafios contemporâneos relacionados à apropriação tecnológica no processo ensino-aprendizagem. Iremos perceber como as competências digitais se desenvolvem da perspectiva do letramento computacional à fluência digital. Isto será fundamental para a promoção de práticas em prol da inclusão digital e, consequentemente, para a superação da “fratura digital” discutida anteriormente. Ainda, no campo da neuroeducação, opera no sentido possibilitar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes na interface com as TDIC. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Letramentos computacional, informacional e em mídias: ponderações necessárias Vimos que para que a Inclusão Digital se efetive, três ações essenciais são necessárias: a disponibilização da tecnologia aos usuários, a formação técnica desses para o uso e, a formação intelectual crítica para refletir sobre seu papel de usuário. Dessa forma, podemos perceber que a inclusão segue um caminho: acesso, uso e emancipação. Produzir informação e conhecimento passa a ser, portanto, a condição para transformar a atual ordem social. Produzir de forma descentralizada e de maneira não-formatada ou preconcebida. Produzir e ocupar espaços, todos os espaços, através das redes. Nesse contexto, a apropriação da cultura digital passa a ser fundamental, uma vez que ela já indica intrinsecamente um processo crescente de reorganização das relações sociais mediadas pelas tecnologias digitais, afetando em maior ou menor escala todos os aspectos da Neuroeducação e Tecnologias Educacionais42 ação humana. Isso inclui reorganizações da língua escrita e falada, as ideias, as crenças, costumes, códigos, instituições, ferramentas, métodos de trabalho, arte, religião, ciência, enfim, todas as esferas da atividade humana. Até mesmo os aspectos mais pessoais, como os rituais de namoro e casamento, entre outras práticas, têm sua regulação alterada, dadas as novas formas de interação vivenciadas na cultura digital (PRETTO, 2008, p. 78). Para tanto, partiremos do pressuposto – que pode e deve ser questionado – que de menor ou maior qualidade, de alguma forma, o acesso as TDIC nas escolas são uma realidade, cumprindo a primeira ação, ao menos no espaço escolar, necessária para a Inclusão Digital. Assim, nosso percurso de aprendizagem segue em busca da compreensão dos caminhos já trilhados e a serem trilhados para a sabedoria digital com vistas às competências digitais. A partir da década de 80 e a “novidade” dos computadores a principal competência priorizada nos processos educacionais era aquela relacionada à informática. O objetivo era, a grosso modo, possibilitar a familiarização e a experiência com o computador. Com o avanço dessas tecnologias, passa-se dessas competências – da informação -, para as competências relacionadas à comunicação, avançando para termos como “letramento informacional”, “Educação em Mídias”, entre outros. IMPORTANTE: Essas perspectivas não se limitam apenas as TDIC, dizem respeito às discussões estabelecidas de forma geral às TIC e as suas influências no consumo e interferência na vida cotidiana das pessoas. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 43 As mudanças dos conceitos estão diretamente relacionadas ao desenvolvimento tecnológico decorrente e a forma com que se possibilitam as relações com as tecnologias, suas funções e conexões no cotidiano. Essa base nos permite afirmar a partir das discussões propostas na segunda competência do nosso material, com base em Silva e Behar (2019), que o conceito de competências digitais foi construído à medida que as TDIC interferiam e modificavam as relações no âmbito da sociedade. Ainda, que a complexidade tecnológica faz com que a cada dia uma nova necessidade “apareça” e uma nova tecnologia seja criada ou, uma anterior seja atualizada, o que não nos garante que “ter” a ferramenta digital seja sinônimo de “ser” digitalmente competente. Se, a partir do conceito de emancipação apresentado na abertura dessa competência em convergência aos termos e suas perspectivas apontados por Silva e Behar (2019), as práticas que efetivamos na interface com as TDIC seriam, de fato, convergentes para uma educação em prol da superação das desigualdades, que possibilita a autonomia e a competência dos estudantes? Alfabetização e Letramento digital A reflexão proposta não pretende ser respondida, ela nos servirá como “guia” nas análises que faremos sobre os termos que aparecem na sistematização apresentada na figura anteriormente e que, por vezes, povoam as práticas pedagógicas. O primeiro diz respeito à Alfabetização e Letramento digital. Aproximando ao conceito utilizado nos processos relacionado à Língua Portuguesa, entendemos alfabetização como o domínio do código escrito, com as habilidades de leitura e escrita, nessa perspectiva, o letramento, opera na compreensão do caráter comunicacional dessa ferramenta simbólica, em sua significação e identidade, ou seja, é o caráter de autonomia e emancipação na utilização da linguagem. Transpondo para as TDIC, alfabetizar e letrar passar a, obrigatoriamente, a agregar as mudanças tecnológicas, afinal, as demandas digitais e suas particularidades são essenciais para que Neuroeducação e Tecnologias Educacionais44 a comunicação se efetive. Coll e Illera (2010) relacionam que, ser alfabetizado e letrado em tempos de tecnologias digitais, é preciso necessariamente ter conhecimentos e domínios das TDIC. Soares (2002) avança para as particularidades da leitura em tela, da hipertextualidade e das característicasque as TDIC agrupam ao código escrito. “[...] o letrado digitalmente interage com as tecnologias, realizando práticas como saber pesquisar, selecionar, avaliar a informação, realizar trocas entre pares, compartilhar, ser autor, sempre utilizando os recursos da Web, e utilizando diferentes ferramentas para isso” (SILVA, 2012, p. 74). Nesse sentido, o processo de alfabetização e letramento – tradicional e digital – são desenvolvidas em conjunto, de modo concreto, mas, acontecem em diferentes momentos. Uma prática que representa essa lógica é a do Laboratório de Informática. Os estudantes em processo de alfabetização desenvolvem determinado conteúdo em sala e, em um período pré-agendado e esporádico, vão a esse espaço para utilizar os recursos e realizar pesquisar, sistematizar produções, entre outras ações. Para Silva (2012) essas práticas podem até garantir o caráter de alfabetização, porém, fracassam no princípio do letramento – tradicional e digital – afinal, descontextualizam as práticas sociais realizadas no ambiente virtual. Fluência digital Dessas considerações, podemos avançar para a perspectiva da fluência digital. Essa condição de “ser fluente” diz respeito ao “algo a mais” para se comunicar diante das peculiaridades das TDIC. Hoje nas redes sociais é comum nos depararmos com “memes” que são imagens com textos ou outros formatos, geralmente com conteúdos engraçados. Para compreender a “graça” que esse recurso Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 45 carrega em si é preciso ser fluente na linguagem que o compõe, afinal, há um contexto que o significa e faz como que ele seja, portanto, engraçado ao comunicar sua mensagem. Na relação entre alfabetização, letramento e fluência digital, podemos sistematizar seus conceitos e perspectivas conforme a Figura 10 a seguir: Figura 10 - Relação entre o processo de alfabetização, letramento e fluência digital. Fonte: Adaptado de Silva e Behar (2019). Alfabetização digital Fluência digitalLetramento digital • Considera a influencia da tecnologia na definição da leitura e da escrita. Com as mudanças tecnológicas é preciso considerar os processos de alfabetização tradicional e digital como complementares. • Compreende a capacidade pessoal de avaliar, selecionar, aprender e usar as novas tecnologias da informação conforme apropriado para suas atividades pessoais e profissionais (Tarouco, 2013). • Evidencia a importância da capacidade de entender e usar a informação em múltiplos formatos. Portanto, a partir do desenvolvimento desses conceitos é fato que ainda é preciso avançarmos significativamente nas práticas desenvolvidas na relação com as TDIC para que possamos o conceito de Competências Digitais almejado seja alcançado. Entretanto, se ainda estivermos em alfabetização, em práticas de letramento ou já avançando para a fluência, o importante é sempre ter em mente que o objetivo maior de todo o trabalho na relação com as TDIC é a formação do sujeito competente, crítico e capaz de se comunicar, objetivos que variam de pessoa para pessoa, pois, são várias as condições que permeiam essa Neuroeducação e Tecnologias Educacionais46 relação tão complexa. Ainda, mesmo no campo das Competências digitais, cabe destacarmos seu caráter dinâmico e a necessidade constante de atualização por parte dos profissionais que se predisporem a esse trabalho desafiante. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a inclusão digital segue um caminho que é acesso, uso e emancipação na relação com as TDIC e, dessa relação algumas perspectivas se evidenciam. Perspectivas e conceitos que sofrem mudanças com desenvolvimento tecnológico e que permitem, na atualidade, compor o conceito de competências digitais. Vimos que alfabetizar e letrar passa a agregar as mudanças tecnológicas considerando essenciais os conhecimentos e domínios das TDIC, como, por exemplo: as particularidades da leitura em tela e da hipertextualidade. Portanto, evidenciou-se que essa perspectiva avança no sentido de discutir o processo de alfabetização e letramento tradicional e digital de forma conjunta, de modo concreto, porém, por separá-los, acabam por fracassar no princípio do letramento tradicional e digital, descontextualizam as práticas sociais realizadas no ambiente virtual. Questão que nos permitiu avançar para o conceito de fluência digital, entendida como o “algo a mais” necessário para se comunicar diante das peculiaridades das TDIC. Desses conceitos foi possível discutir que ainda se tem um extenso caminho para se concretizar as premissas das competências digitais, mas que, ao profissional que se dispõe ao desafio de trabalhar com as TDIC, é fundamental: formação do sujeito competente, crítico e capaz de se comunicar, considerando a diversidade dos sujeitos, diante das condições que permeiam essa relação tão complexa. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 47 BIBLIOGRAFIA COLL, C.; ILLERA, J. R. L. 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