Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Maria Eduarda Zen Biz – ATM 2025.1 6° fase Medicina Fisiopatologia UCXVIII Sistema de recompensa cerebral relacionado ao álcool e cocaína O sistema de recompensa do cérebro é o circuito que processa a informação relacionada à sensação de prazer ou de satisfação. Este sistema pode ser ativado naturalmente por meio de estímulos ambientais agradáveis, interação social, sexo, alimentos, música. O sistema de recompensa é formado por circuitos neuronais responsáveis pelas ações reforçadas positiva e negativamente As principais áreas do sistema de recompensa cerebral são: 1. Córtex cerebral pré-frontal, relacionado à atenção e tomada de decisão. 2. O núcleo accumbens, que faz parte dos gânglios basais 3. A área tegmentar ventral, relacionada à produção de dopamina Vias neurais As principais vias neurais envolvidas no Sistema de Recompensa são as vias dopaminérgicas: mesolímbica e mesocortical. Vias dopaminérgicas: Via nigro-estriatal: (substância negra → estriado) a dopamina estabiliza os movimentos. O Mal de Parkinson está relacionado a escassez dopaminérgica nessa via Via mesolímbica: (área tegmental → núcleo accumbens) sabe-se que a dopamina está relacionada ao pensamento. Esquizofrenia envolve aumento da atividade dopaminérgica no mesolímbico. Via mesocortical: (área tegmental → córtex pré-frontal) a Dopamina atua no controle do apetite. Via túbero-Infundibular: (hipotálamo→ neurohipófise) dopamina na hipófise inibe a prolactina. Na Depressão pós-parto ocorre diminuição da dopamina. A dopamina é o principal neurotransmissor presente no Sistema de recompensa, porém, não o único. Neurotransmissores como a serotonina, noradrenalina, glutamato e o ácido gama-aminobutíribo (GABA) são responsáveis pela modulação do SNC e também estão presentes no sistema de recompensa. Via mesolímbica A Via mesolímbica (ou Sistema mesolimbico), considerada como um dos principais circuitos dopaminérgicos cerebrais, é composta pela área tegmentar ventral (VTA) do mesencéfalo e o núcleo accumbens. Fibras dopaminérgicas se projetam da área tegmentar ventral para o núcleo accumbens, estimulando receptores tipo D2. A área tegmentar ventral, onde se localizam os corpos neuronais dopaminérgicos, é responsável pelas projeções desses neurônios para as demais estruturas do sistema de recompensa. O núcleo accumbens é responsável pelo aprendizado e pela motivação, bem como pela valorização de cada estímulo A via mesolímbica se conecta com outras estruturas, como a amígdala, hipocampo e a o córtex pré-frontal A amígdala e a estrutura responsável pelo processamento do conteúdo emocional de estímulos ambientais. O hipocampo está associado com aprendizagem e memória espaciais Como funciona o sistema de recompensa: A área tegmentar ventral, que é onde se localizam os corpos neuronais dopaminérgicos, é responsável pelas projeções desses neurônios para as demais estruturas do sistema de recompensa (regiões corticais e límbicas). A liberação de dopamina, gerada por estímulos positivos, e a ligação da dopamina em receptores pós-sinápticos promovem a sensação de prazer. A via mesolímbica está relacionada ao mecanismo de condicionamento ao uso de uma substância de abuso, bem como à fissura, à memória e às emoções ligadas ao uso da mesma Via mesocortical A via mesocortical (ou sistema mesocortical) conecta a área tegmental ventral ao córtex cerebral, em particular aos lobos frontais. O córtex pré-frontal é responsável pelas funções cognitivas superiores e pelo controle do sequenciamento de ações As alterações que ocorrem na via mesocortical em decorrência do consumo de substâncias psicoativas estão Maria Eduarda Zen Biz – ATM 2025.1 6° fase Medicina relacionadas com a compulsão e a perda do controle para o consumo de drogas. Drogas de abuso Cada droga de abuso tem o seu mecanismo de ação particular, mas todas elas atuam, direta ou indiretamente, ativando uma mesma região do cérebro: o sistema de recompensa cerebral. Normalmente existe um aumento de dopamina com estímulos prazerosos, causados muitas vezes por alguns alimentos, pela atividade sexual e por estímulos ambientais agradáveis. O aumento de dopamina no núcleo accumbens, região central do sistema de recompensa é importante para os efeitos das drogas de abuso. Relação com sistema de recompensa: drogas de abuso agem no neurônio dopaminérgico, induzindo um aumento brusco e exacerbado de dopamina no núcleo accumbens, mecanismo comum para praticamente todas as drogas de abuso. Esse sinal é reforçador, associado a sensações de prazer, fazendo com que a busca pela droga se torne cada vez mais provável. Reforço positivo e negativo O sistema de recompensa é formado por circuitos neuronais responsáveis pelas ações reforçadas positiva e negativamente. Reforço refere-se a um estímulo que fará com que um determinado comportamento ou resposta se repita, devido: Ao prazer que causa (reforço positivo) Ao “desprazer” que alivia (reforço negativo) Reforço positivo: as drogas de abuso aumentam a liberação de dopamina no núcleo accumbens → sensação prazerosa. As pessoas podem usar drogas porque querem ter uma sensação de bem-estar, de alegria. Reforço negativo: pessoas podem usar drogas porque estão tristes, deprimidas ou ansiosas e querem aliviar essas sensações ruins – nesse caso, procuram a droga por seu poder reforçador negativo. Tolerância às drogas Quando uma droga é administrada repetidamente e não provoca mais o mesmo efeito, ou é preciso aumentar a dose para ter a mesma sensação, diz-se que a pessoa está “tolerante” àquele efeito da droga. Esse fenômeno, a tolerância, é comumente encontrado nas pessoas que se tornaram dependentes das drogas. Isso é relativamente comum com drogas depressoras, como benzodiazepínicos, barbitúricos e altas doses de álcool. Perda de tolerância: após período de abstinência, a tolerância pode ser perdida, levando a overdoses acidentais. Reaquisição da tolerância: após o período de perda de tolerância, a reaquisição ocorre de maneira mais rápida que a aquisição inicial. Sensibilização Algumas substâncias podem desencadear um efeito inverso ao da tolerância: ao invés de uma redução do efeito ocorre um aumento do efeito após repetidas administrações. Esse processo é chamado de sensibilização e ocorre com drogas estimulantes, como anfetamina e cocaína, ou com doses baixas de álcool. Sabe-se que a tolerância e a sensibilização estão relacionadas, pelo menos em parte, com a forma de uso da droga (intervalo entre as doses e via de uso). Dependência A propriedade reforçadora da droga, causando prazer ou aliviando sensações ruins (por exemplo, a síndrome de abstinência na ausência da droga), aumenta a chance da reutilização da droga. O uso repetido de drogas de abuso produz alterações no SNC que podem levar às alterações comportamentais (tolerância e/ou sensibilização). Essas alterações comportamentais contribuem para aumentar o incentivo e o desejo de consumir mais drogas. Síndrome de abstinência ao álcool (SAA) Pessoas que bebem de forma excessiva, quando diminuem o consumo ou se abstêm completamente, podem apresentar um conjunto de sintomas e sinais, denominados Síndrome de Abstinência do Álcool (SAA). Uma série de fatores influenciam o aparecimento e a evolução dessa síndrome, entre eles: a vulnerabilidade genética, o gênero, o padrão de consumo de álcool, as características individuais biológicas e psicológicas e os fatores socioculturais. Os sintomas e sinais variam também quanto à intensidade e à gravidade, podendo aparecer após uma redução parcial ou total da dose usualmente utilizada, voluntária ou não. Beber cronicamente leva o SNC a neuroadaptação com potencialização dos efeitos inibitórios do GABA. Quando a ingestão de álcool é interrompida durante um período de tempo, leva a um aumento da regulaçãodos receptores N- meAl-D-aspartato (receptores glutamatérgicos) e uma diminuição dos receptores GABA como parte da resposta homeostática do corpo humano. → isto leva aos sintomas de hiperexcitabilidade neuronal. Os benzodiazepínicos atuam realçando o efeito do neurotransmissor GABA no receptor GABAA O quadro se inicia após 6 horas da diminuição ou da interrupção do uso do álcool, quando aparecem os primeiros sinais e sintomas, que são: Ansiedade, Alterações de humor (irritabilidade, Disforia) 12-18h sem álcool: ansiedade, irritabilidade, cefaleia, fraqueza, náusea, vômito, tremores 24-72h sem álcool: ↑ atividade autonômica: ↑PA, ↑ FC, ↑ T°C, sudorese, agitação psicomotora, Maria Eduarda Zen Biz – ATM 2025.1 6° fase Medicina alucinações visuais/táteis, convulsão, delirium tremens (DT) caracterizado por alucinações, alteração do nível da consciência e desorientação. A mortalidade nos pacientes com DT varia de 5 a 25%. Delirium tremens Delirium tremens (DT) é um estado confusional breve, mas ocasionalmente com risco de vida, que se acompanha de perturbações somáticas. É usualmente consequência de uma abstinência absoluta ou relativa de álcool em usuários gravemente dependentes, com uma longa história de uso. Os sintomas prodrômicos tipicamente incluem: insônia, tremores e medo. O início pode também ser precedido de convulsões por abstinência. Há flutuação do nível de consciência (frequentemente com piora noturna – sundowning) A clássica tríade de sintomas incluem obnubilação de consciência, confusão, alucinações e ilusões vívidas, afetando qualquer modalidade sensorial e com tremores marcantes. Delírios, agitação, insônia ou inversão do ciclo do sono e hiperatividade autonômica estão também usualmente presentes. Curso do delirium tremens: Instalação: 1 a 3 dias. Duração: 1 semana a dois meses (maioria entre 10 e 12 dias). Idosos: curso mais prolongado; maior risco de mortalidade; maior número de complicações; mais frequentemente a recuperação não é total. Bases biológicas da síndrome de abstinência alcoólica Os sintomas e sinais da SAA estão relacionados à alteração nos níveis de liberação de noradrenalina e dopamina. A hiperestimulação adrenérgica, que pode ser intensa na SAA, deve-se a uma redução da atividade de adrenoreceptores inibitórios pré-sinápticos subtipo a2. Alguns trabalhos demonstram que a liberação de dopamina, durante a SAA, apresenta queda a níveis inferiores aos observados no período anterior à exposição crônica ao álcool, por cessação do disparo dopaminérgico na área tegmental ventral. Nos estados de abstinência das drogas de abuso, em geral, a pessoa apresenta sintomas opostos aos observados quando ela está sob o efeito agudo das drogas. Nesses casos, observa-se uma “depleção” dos níveis de dopamina (isto é, uma redução importante devida ao excesso de liberação que ocorreu durante o uso da droga), principalmente no núcleo acumens. Provavelmente isso desencadeie um forte desejo (fissura) de usar a droga novamente. A alteração nos níveis de liberação de noradrenalina e dopamina são responsáveis por um grande número de reações fisiológicas, tais como: taquicardia por ativação de receptores beta-adrenérgicos, hipertensão por ativação de vias alfa-adrenérgicas, aumento da força de contração do músculo cardíaco por ação adrenérgica inotrópica positiva, náuseas e vômitos devido à redução do esvaziamento gástrico, piloereção, midríase, tremores pela facilitação da neurotransmissão muscular; aumento do consumo de oxigênio e aumento da temperatura corporal em até 2°C. SAA e aminoácidos neurotransmissores: na SAA há uma hipoatividade GABAérgica (Os receptores GABAA têm uma atividade inibitória). SAA e canais de cálcio: com a exposição crônica ao etanol, há uma alteração nos canais de cálcio do Apo L, um dos vários canais de cálcio mais conhecidos. A ação do cálcio nos terminais nervosos é fundamental para a liberação dos neurotransmissores na fenda sináptica. Diversos estudos têm demonstrado que a administração crônica de etanol leva a uma redução na atividade dos canais de cálcio do Apo L, reduzindo a atividade elétrica dentro do neurônio e, assim, reduzindo a ação de neurotransmissores Hipoatividade dopaminérgica: reforço negativo, disforia Hiperatividade noradrenérgica: efeitos CV, midríase, ↑T°C Hipoativiade GABAérgica: Ansiedade, convulsões Hiperatividade glutamatérgica: Confusão mental, alucinações, convulsões Aumento da densidade de canais de Ca: aumento da atividade elétrica generalizada Tratamento 1. Diazepam ocupa o receptor GABA, então trata a falta do álcool → Quadro leve 20 – 40mg/d e quadro grave 10 – 20mg/h até sedação leve a. Lorazepam se paciente apresenta hepatopatia 2. Tiamina precisa ser reposta 300-500mg/d a. Síndrome de Wernicke-Korsakoff – devido a carência de vit B1 apresentando ataxia, confusão. 3. Magnésio é cofator na absorção de tiamina e potássio, logo se não conseguir dosar o magnésio sérico pode ser feita reposição empírica Não fazer: A administração de glicose, indiscriminadamente, por risco de ser precipitada a síndrome de Wernicke. A glicose só deve ser aplicada de forma parenteral após a administração de tiamina. A tiamina participa do metabolismo de carboidratos, gorduras, aminoácidos, glicose e álcool, sendo particularmente importante na função das células neurais centrais e periféricas e no miocárdio. Muitos mecanismos contribuem para a deficiência de tiamina em etilistas, incluindo diminuição da ingestão, utilização e absorção prejudicadas, aumento da demanda e, possivelmente, defeito na apoenzima. A tiamina atua como um cofator nas reações envolvidas na glicólise para formação de ATP. Maria Eduarda Zen Biz – ATM 2025.1 6° fase Medicina A célula converte o piruvato em lactato (ácido láctico) para manter a glicólise no nível mínimo→ se oferecida mais glicose, sem a tiamina para completar a formação de ATP, aumenta a quantidade de ácido láctico → acidose, necrose ou apoptose Não fazer: O uso rotineiro de difenil-hidantoína (fenitoína) parenteral, a chamada "hidantalização", uma vez que o uso desse anticonvulsivante não parece ser eficaz no controle de crises convulsivas da SAA A administração de clorpromazina e outros neurolépticos sedativos de baixa potência para controle de agitação, uma vez que podem induzir convulsões. O haloperidol é a indicação mais adequada; A contenção física inadequada e indiscriminada, que provoque lesões nos pacientes Síndrome de Wernicke-Korsakoff A síndrome de Wernicke-Korsakoff, que combina a encefalopatia de Wernicke e a psicose de Korsakoff, ocorre em etilistas que não consomem alimentos enriquecidos com tiamina. A encefalopatia de Wernicke consiste em alentecimento ou apatia psicomotora, nistagmo, ataxia, osalmoplegia, consciência prejudicada e, se não tratada, coma e morte. Provavelmente resulta de uma deficiência aguda grave sobreposta a uma deficiência crônica. A psicose de Korsakoff consiste em confusão mental, disfonia e confabulação com memória prejudicada dos eventos recentes. Ela provavelmente resulta de deficiência crônica e pode se desenvolver após episódios repetitivos da encefalopatia de Wernicke Mecanismo de ação da cocaína Basicamente o mecanismo de ação da cocaína no SNC é aumentar a liberação e prolongar o tempo de atuação dos neurotransmissores dopamina, noradrenalina e serotonina. Esses neurotransmissores normalmente são recolhidos novamente para as vesículas sinápticas, por transportados. A cocaína inibe esses transportadores. Desta forma, o consumo de cocaína aumenta a concentração e permanência desses transportadores nas fendas sinápticas. A dopamina está relacionada à dependência, visto que é esta a responsável pela sensação de prazer associada ao consumo da droga, bem como a outros comportamentos naturalmente gratificantes(comer, fazer sexo, saciar a sede) A cocaína é também um anestésico, que bloqueia a despolarização de canais de Na dependentes de voltagem e por consequência a propagação do estímulo doloroso. Seus efeitos têm início rápido e duração breve. No entanto, são mais intensos e fugazes quando a via de utilização é a intravenosa ou quando o indivíduo utiliza o crack. No sistema de recompensa: A cocaína é um agonista indireto (potencializa a ação do neurotransmissor) dos sistemas monoaminérgicos (DA, NE, 5HT). Intoxicação aguda por cocaína: Os efeitos de quem aspira ou injeta o pó (Cocaína) já é perceptível nos momentos iniciais ao consumo, agindo instantaneamente no corpo humano. Ela afeta principalmente as atividades cerebrais e influencia na capacidade motora e sensorial do corpo de um motorista. Isso resulta em sintomas como: DOSES INICIAIS: Aumento discreto da frequência cardíaca e um quadro de euforia e sensação de bem- estar DOSES ELEVADAS: Comportamentos estereotipados, bruxismo, irritação, hipervigilância, com ou sem sintomas paranoides, hipertermia, convulsões e nervosismo extremo, Insônia, delírios. EM ALTAS DOSES: Convusões, Depressão neural, Taquicardia, Depressão Vasomotora, Hemorragia intracranianas (pelo aumento da atividade sináptica OVERDOSE: Falência aguda de um mais órgãos secundária ao consumo de cocaína A cocaína também aumenta a frequência cardíaca, elevando a chance de infarto, mesmo em pessoas jovens.
Compartilhar