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Abuso de Autoridade e Crime de Tortura

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LEIS PENAIS ESPECIAIS 
Professora: Cristina Lourenço 
 
 
CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE 
Lei 4898/65 
 
 
1 – Condição para a aplicação da Lei: Os abusos praticados pelas autoridades devem ser 
realizados no exercício de suas funções (por isso o aposentado ou o demitido não podem praticar 
abuso de autoridade) 
 
2 – Conceito de Autoridade: art. 5º da Lei 
 
Art. 5º Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, quem exerce cargo, 
emprego ou função pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente 
e sem remuneração 
 
3 – Finalidade da Lei: Regular o exercício da autoridade pública, dentro dos parâmetros legais. 
 
4 – Competência 
 
 * Agente federal: Justiça Federal – Art. 109, IV, CF/88. 
 * Agente Estadual: Justiça Estadual 
 * Policial Militar: Justiça Comum – Art. 124, CF/88 e Súmula 172 dp STJ. 
 
5 – Concurso de Pessoas: Comunicabilidade do art. 30, CP. 
 
6 – Ação Penal: Pública Incondicionada 
 
7 – Elemento subjetivo: Dolo: consciência de que está cometendo uma ilegalidade 
 
8 – Sanções Legais 
 
Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa civil e 
penal. § 1º A sanção administrativa será aplicada de acordo com a gravidade do 
abuso cometido e consistirá em: a) advertência; b) repreensão; c) suspensão do 
cargo, função ou posto por prazo de cinco a cento e oitenta dias, com perda de 
vencimentos e vantagens; d) destituição de função; e) demissão; f) demissão, a 
bem do serviço público. § 2º A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do 
dano, consistirá no pagamento de uma indenização de quinhentos a dez mil 
cruzeiros.§ 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 
a 56 do Código Penal e consistirá em: a) multa de cem a cinco mil cruzeiros; b) 
detenção por dez dias a seis meses; c) perda do cargo e a inabilitação para o 
exercício de qualquer outra função pública por prazo até três anos. § 4º As penas 
previstas no parágrafo anterior poderão ser aplicadas autônoma ou 
cumulativamente. § 5º Quando o abuso for cometido por agente de autoridade 
policial, civil ou militar, de qualquer categoria, poderá ser cominada a pena 
autônoma ou acessória, de não poder o acusado exercer funções de natureza 
policial ou militar no município da culpa, por prazo de um a cinco anos. 
 
LEIS PENAIS ESPECIAIS 
Professora: Cristina Lourenço 
 
 
8.1. Sanção Administrativa 
* Havendo condenação penal não se pode arquivar ou absolver por insuficiência de provas. 
* Se absolvido no penal por inexistência do fato ou estrito cumprimento: arquivamento no 
administrativo. 
* Se absolvido no penal por atipicidade: sem arquivamento no administrativo. 
8.2. Sanção Civil: reparação do dano. 
8.3. Sanção Penal 
- multa, aplicada pelo sistema de dias-multa(dias- 10 a 360, multa- 1/30 a 5 vezes o valor do 
salário mínimo levando em consideração a situação econômica do réu) – Art. 49, CP. 
- detenção de 10 dias a 6 meses - Súmula 171, STJ. 
- perda do cargo ou inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por prazo de 
até 3 anos. 
 
9 - Crimes em Espécie 
ART. 3º - NÃO ADMITEM A TENTATIVA 
I. Atentado à Liberdade de Locomoção 
* Em razão do art. 5º, XV e LXI, a liberdade de locomoção compreende a possibilidade de 
ingressar, sair, permanecer e deslocar-se no território nacional. 
* Possibilidades de restrição da liberdade de locomoção: 
 - Prisão em Flagrante – Art. 301, CPP. 
 - Prisão Preventiva 
 - Prisão Temporária 
 - Prisão por sentença transitada em julgado 
 - Prisão Administrativa Militar 
 - Prisão civil: devedor de alimentos 
 - Detenção provisória de pessoa embriagada que promove desordem e viola a paz social. 
 - Estado de Sítio – Art. 139, CF/88 
 
II. Atentado à Inviolabilidade de Domicílio 
* Art. 5º, XI, CF/88 e art. 150, CP. 
* Possibilidades de não praticar o crime: 
 - Consentimento do morador 
 - Flagrante delito 
 - Desastre 
 - Prestação de Socorro 
 - Por determinação judicial: somente no período entre 6h e 18hs – Art. 245, CPP. 
 
III. Atentado ao Sigilo de Correspondência 
* Art. 5º, XII, CF/88. 
* Possibilidades de interceptações de correspondência – Art. 240, §1º, f, CPP. 
 - Cartas do preso – Art. 41, §U, Lei 7210/84. 
 - Cartas do Falido – Art. 22, III, d, Lei 11.101/05. 
 
IV. Atentado à Liberdade de Consciência e Crença e ao Livre Exercício do Culto Religioso 
* Art. 5ª, VI, CF/88. 
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* Não é um direito absoluto podendo ser restringido quando atentatório à ordem pública. 
 
V. Atentado à Liberdade de Associação 
* Art. 5º, XVII, XVIII e XX, CF/88. 
* Reunião estável e permanente 
* Só pode ser dissolvida por ordem judicial – Art. 5º, XIX, CF/88. 
 
VI. Atentado aos Direitos e Garantias Legais Assegurados ao Exercício do Voto 
* Arts. 14 a 16, CF/88. 
 
VII. Atentado ao Direito de Reunião 
* Art. 5º, XVI da CF. 
* Transitória e pode ser dissolvida por qualquer autoridade que esteja na função. 
* Possibilidade de proibição de reunião: 
 - quando não for pacífica 
 - que possua finalidade bélica 
 - em locais proibidos 
 - realizadas sem prévio aviso à autoridade. 
 - com fins ilícitos 
 - com membros armados 
 
VIII. Atentado à Incolumidade Física do Indivíduo 
* Revogação tcita do art. 322, CP. 
* O crime se consuma mesmo que a vítima não sofra lesão. 
* Se atuando com abuso de autoridade o agente dá origem a lesão corporal (mesmo que leve) ou 
homicídio responderá pelo abuso de autoridade em concurso material com o crime ocorrido. 
* Se ocorrer tortura durante o abuso de autoridade, pelo princípio da especialidade o agente 
deverá responder pelo crime de tortura previsto na Lei 9.455/97. 
* Possibilidades de violação legítima da integridade física 
 - estrito cumprimento do dever legal – Art. 292, CPP. 
 - emprego necessário de algemas 
 
IX. Atentado aos Direitos e Garantias Legais Assegurados ao Exercício Profissional 
* Norma penal em branco que necessita de complemento de lei específica como o Estatuto da 
Advocacia em seu art. 7º que especifica as condições e requisitos necessários para o exercício de 
determinada profissão. 
 
 
ART. 4º 
I. Ordenar ou executar medida privativa de liberdade individual, sem as formalidades 
legais ou com abuso de poder 
* Sem ordem escrita do juiz criminal ou civil, nos casos de prisão civil; 
* Sem as características de prisão processual ou provisória 
* Cessado comportamento inadequado ou perigoso que originou a detenção provisória. 
* Se a vítima for criança ou adolescente, o crime será o do art. 230, ECA. 
 
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II. Submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não 
autorizado em lei 
* Art. 5º, XLIX, CF/88; art. 38, CP e art. 40, LEP. 
* Se a vítima for criança ou adolescente, o crime será o do art. 232 do ECA 
 
III. Deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de 
qualquer pessoa. 
* Art. 5º, LXII, CF/88; Art. 306 e §1º, CPP. 
* A comunicação deve ser feita a qualquer tipo de prisão efetividade pela autoridade policial, e 
não somente a prisão em flagrante. 
* Se não houver a comunicação da apreensão de criança ou adolescente, a aoutoridade 
responderá pelo art. 231 do ECA. 
 
IV. Deixar o juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja 
comunicada 
* Art. 5º, LXV, CF/88 e Art. 310, CP. 
* Quando comunicado ou quando do conhecimento de ofício da prisão, o juiz deverá, ratificar o 
ato, determinar o relaxamento da prisão se considerar ilegal ou deferir a liberdade provisória. 
* Se a vítima for criança ou adolescente o crime será o do art. 234 do ECA. 
 
V. Levar à prisão ou nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida em 
lei 
* Art. 5º, LXVI, CF/88 e Arts 322 e 335, CPP. 
* A autoridade policial cometeeste delito quando não concede fiança nos casos de crimes de 
PPL máxima de 04 anos. 
 
VI. Ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado 
com abuso ou desvio de poder, ou sem competência legal. 
* Se ocorrer também a infração comum o agente deverá responder em concurso com o crime de 
abuso de autoridade 
* Aplicação arbitrária de multas, apreensão ilegal de veículos, despejo violento e humilhante e 
detenção ilícita de documentos pessoais. 
 
VII. Prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, 
deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente, ordem de 
liberdade. 
* Em todas as modalidades de prisão, ressalvado o caso da prisão temporária, exige-se alvará de 
soltura. 
* Prazo: 5 dias prorrogáveis por mais 5 
 30 dias prorrogáveis por mais 30, na hipótese de crimes hediondos e assemelhados. 
* O pedido de prorrogação deve ser feito antes do término de sua duração 
* Se for decretada a prisão preventiva ao encerramento da prisão temporária não há crime de 
abuso de autoridade. 
 
 
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Professora: Cristina Lourenço 
 
 
CRIME DE TORTURA 
Lei nº 9455/97( Art. 5º, III e XLIII da CF) 
 
 
1- Conceito de Tortura 
 
 * Ato de infligir a alguém sofrimento físico ou mental desnecessário. 
 
2 – Crimes em Espécie 
 
I. Tortura-prova, tortura para a prática de crime e tortura racista – art. 1º, I 
 
Art. 1º Constitui crime de tortura: 
 I – constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça 
 Causando-lhe sofrimento físico ou mental: 
 a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou 
 de terceira pessoa; 
 b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; 
 c) em razão de discriminação racial ou religiosa; 
 Pena: reclusão de dois a oito anos. 
 
* Sujeito ativo e passivo: comum, sendo que o passivo deve ser pessoa determinada. 
* Meios de execução: violência que consiste em qualquer desforço físico sobre a vítima, como 
socos, choques elétricos, chicotadas, pauladas; e a grave ameaça que consiste na promessa de 
mal grave, injusto e iminente como ameaça de morte, de estupro, de lesão. 
* Consumação e tentativa: basta a imposição à vítima de sofrimento físico ou mental sem 
necessidade da produção de lesão corporal ou da finalidade descrita no tipo. 
- Se ocorrerem lesões corporais graves ou gravíssimas ou morte, o agente deverá responder em 
concurso formal por esses resultados mais o crime de tortura. 
- A tentativa é admissível. 
* Elemento subjetivo: dolo + fim especial de agir 
 - para obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa: não 
interessa a natureza da informação. (diferença para o art. 146 CP) 
 - para obrigar a vítima a realizar uma ação ou omissão criminosa: o agente responderá em 
concurso pelos dois crimes, a tortura e o realizado pela vítima. (diferença para o art. 146 CP) 
 - por motivo de discriminação racial ou religiosa 
 
II. Tortura-castigo – art. 1º, II 
 
Art. 1º Constitui crime de tortura: 
II – submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de 
violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como 
forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. 
Pena: reclusão de dois a oito anos. 
 
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Professora: Cristina Lourenço 
 
 
* Sujeito ativo e passivo: vínculo de direito ou de fato representado pela guarda, poder ou 
autoridade. 
* Conduta: violência física ou ameaça que cause intenso sofrimento físico e mental, como p.ex., 
privação de alimentos ou de cuidados indispensáveis, castigos imoderados ou excessivos, 
privação da liberdade etc.(ver o art. 133 do CP) 
* Consumação e tentativa: quando a vítima é submetida a intenso sofrimento físico e mental. 
Admite a tentativa quando se tratar de crimes comissivos. 
* Elemento subjetivo: dolo + fim de agir (aplicar castigo pessoal à vítima ou como medida de 
caráter preventivo) – ver art. 136 do CP. 
 
III. Tortura do preso ou de pessoa sujeito a medida de segurança – art. 1º 
 
§1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida 
de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato 
não previsto em lei ou não resultante de medida legal. 
 
* A prisão pode ser temporária ou proveniente de condenação irrecorrível, podendo ser criminal 
ou civil. 
* A custódia é legal, o que é ilegal são os atos praticados. 
* Diferença para o crime de Abuso de Autoridade – art. 4º, b da Lei 4898/65. 
 
Submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento 
não autorizado em lei. 
 
IV. Omissão perante a tortura – art. 1º, 
 
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de 
evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos. 
 
* Duas condutas possíveis: 
 - omissão em face do dever de apurar a conduta: só a título de dolo 
 - omissão em relação ao dever de evitar a conduta: somente responde por esse crime se 
agiu negligentemente para evitar a tortura, porque se quis ou aceitou que se produzisse deverá 
responder pelo crime de tortura do inciso I, a 
* Não inicia necessariamente em regime fechado 
 
3 – Qualificadoras - § 3º 
 
* Quando da tortura resulta lesão corporal grave ou gravíssima ou morte da vítima. 
* A tortura absorve as vias de fato, a ameaça e a lesão corporal leve. 
* Não se admite a tentativa, porque esses resultados ocorrem a título de culpa*. 
* Se há dolo de torturar e dolo de resultado mais grave? 
* Diferença com o homicídio qualificado pela tortura 
* Não se aplicam a figura da omissão do §2º do art. 1º da Lei. 
 
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4 – Causas de Aumento de Pena- § 4º 
 
* Se cometido por agente público: 
 - Não pode ser aplicado no caso de omissão perante a tortura, por causa do princípio do 
non bis in iden 
 - Não se exige que o agente esteja no exercício da função, mas é indispensável que esteja 
a conduta vinculada à função por ele desempenhada. 
* Se praticado contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 
anos 
 - Em relação à vítima grávida, o agente necessita ter consciência da gravidez. 
 - Com a omissão do enfermo, aplica-se a agravante genérica do art. 61, II do CP 
* Se é cometido mediante seqüestro 
 - O crime de tortura absorve o crime de seqüestro ou cárcere privado do art. 148 CP. 
 - Para a aplicação da causa de aumento é necessário que a privação da liberdade se dê por 
tempo prolongado ou quando houver deslocamento da vítima para local distante. 
 - Se houver extorsão mediante seqüestro não ocorre a absorção porque tutela-se bem 
jurídico diverso. 
 
5 – Efeitos da Condenação 
 
* Perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do 
prazo da pena aplicada. 
* Efeitos automáticos (observar o art. 92 do CP). 
 
6 – Aspectos processuais e penais 
 
6.1. Impossibilidade de conceder fiança, anistia, graça e indulto. 
6.2. Possibilidade de conceder liberdade provisória 
6.3. Possibilidade de progressão de regime: 2/5 se primário; e, 3/5 se reincidente. 
6.4. No caso do crime de omissão perante a tortura poderá o agente iniciar em regime aberto, ser-
lhe aplicado o sursis ou uma pena restritiva de direitos do art. 44 do CP 
6.5. Concessão do Livramento Condicional quando cumprido mais de 2/3 da pena e o condenado 
não seja reincidente específico. 
 
7 – Extraterritorialidade 
 
 * Poderá ser aplicada esta Lei ainda que o crime não tenha sido cometido no território 
nacional desde que a vítima seja brasileira ou que o agente se encontre sob a jurisdição brasileira. 
 
8 – Ação Penal: Pública Incondicionada

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