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DOENÇAS NEUROMUSCULARES As doenças neuromusculares são caracterizadas por alterações no neurônio motor, no receptor de acetilcolina (AchR) ou na musculatura esquelética. - Pré-juncionais: ELA, esclerose múltipla, Síndrome de Guillain-Barré. - Juncionais: Miastenia Gravis, Síndrome de Eaton-Lambert. - Pós-juncionais: distrofias de Duchenne e Becker (hereditárias). TEORIA UP E DOWN-REGULATION Mudanças qualitativas e quantitativas em receptores de acetilcolina (AchR), na JNM ou fora dela. Up-regulation: exposição a antagonistas causa aumento do número de receptores. Denervação: leva a formação de AchRs imaturos, localizados além da área juncional, mais instáveis e maior tempo de abertura. São resistentes aos bloqueadores adespolarizantes, mas são responsáveis por hipercalemia com risco de morte após o uso de bloqueador despolarizante. Geralmente, o aumento do número de receptores causa sensibilidade aos agonistas e resistência aos antagonistas. Down-regulation: estimulação crônica de receptores por agonista, com redução da síntese, internalização ou aumento da destruição dos mesmos. Resistência aos agonistas e sensibilidade aos antagonistas. DISTROFIA MUSCULAR DE BECKER - Sexo masculino, 7-10 anos. Indivíduos do sexo feminino são normalmente assintomáticos mas uma pequena percentagem das portadoras manifestam formas leves da doença (forma sintomática da distrofia muscular de Duchenne e Becker em mulheres portadoras). Quadro clínico: doença genética causada por uma falha na produção da proteína específica do músculo, distrofina, assim como na DMD. No entanto, como a deficiência desta proteína neste tipo de distrofia é parcial, o quadro clínico se manifesta mais suavemente. A DMB manifesta-se geralmente entre os sete e dez anos de idade, aproximadamente, com a presença de fraqueza e atrofia musculares simétricas e progressivas, inicialmente na cintura pélvica. Há também a pseudo hipertrofia do músculo da panturrilha. A perda da capacidade de deambular ocorre, em geral, após os 16 anos e permite sobrevida variável, inclusive com reprodução. Em mais da metade dos portadores de DMB pode haver comprometimento cardíaco associado (cardiomiopatia) limitando muito a capacidade e a qualidade de vida destes. Diagnóstico: confirmado por biópsia muscular (que mostra características distróficas e diminuição da distrofina na coloração) e/ou teste genético para alterações do gene DMD. Se o diagnóstico for confirmado por teste genético nas portadoras, então é possível o diagnóstico pré-natal. É recomendado aconselhamento genético, todas as filhas de um pai afetado serão portadoras. As portadoras terão um risco de 50% que os fetos do sexo masculino estejam afectados. Tratamento: cuidados multidisciplinares com fisioterapia para reduzir as contraturas articulares e prolongar a marcha autónoma. As órteses tornozelo-pé noturnas são prescritas às crianças para reduzir as contraturas do tendão de Aquiles. É importante a vigilância cardíaca e da função respiratória. É rec omendado tratamento precoce de cardiomiopatia com inibidores da ECA e é apropriado o encaminhamento para transplante cardíaco em casos graves. Os doentes com insuficiência respiratória devem vacinar-se contra pneumococo e contra a gripe. A insuficiência respiratória responde bem ao BIPAP noturno, que corrige hipoventilação nocturna e pode prolongar a sobrevida. A BMD é lentamente progressiva com grande variabilidade fenotípica. MIASTENIA GRAVIS - Sexo feminino, 20-40 anos (homens: 50-60 anos). É uma doença autoimune que causa dano crônico e progressivo da junção neuromuscular. O sistema imune inapropriadamente produz anticorpos que se ligam a alguns receptores de ACh, bloqueando-os, o que diminui a quantidade de receptores de ACh funcionais nas placas motoras dos músculos esqueléticos. Uma vez que 75% dos pacientes com miastenia gravis apresentam hiperplasia ou tumores do timo, acredita-se que anormalidades tímicas causam o distúrbio. Com a progressão da doença, mais receptores de ACh são perdidos. Assim, os músculos ficam cada vez mais fracos, fadigam com mais facilidade e podem, por fim, parar de funcionar. Os músculos da face e do pescoço são os afetados com mais frequência. Os sinais/sintomas iniciais incluem fraqueza dos músculos dos olhos, podendo produzir diplopia, ptose palpebral e fraqueza dos músculos da garganta, o que pode ocasionar dificuldades de deglutição. Depois disso, a pessoa apresenta dificuldades da mastigação e da fala. Por fim, os músculos dos membros podem ser envolvidos. A morte pode ocorrer em virtude da paralisia dos músculos respiratórios, porém, muitas vezes, o distúrbio não progride até esse estágio. Tratamento: piridostigmina e neostigmina, considerados a primeira linha de tratamento, atuam como inibidores da acetilcolinesterase, a enzima que degrada a ACh. Os inibidores elevam o nível de ACh disponível para ligação com os receptores ainda funcionais. Mais recentemente, esteroides como prednisona têm sido usados com sucesso para reduzir os níveis de anticorpos. Outro tratamento é a plasmaférese, um procedimento que remove os anticorpos do sangue. Muitas vezes, a remoção cirúrgica do timo (timectomia) é útil. Característica clínica: ptose palpebral. DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE - Herança recessiva cromossomo X: sexo feminino é assintomático. - Infância: 3 anos. Doença hereditária progressiva que possui herança recessiva ligada ao cromossomo X. Afeta aproximadamente 1 em 3.500 meninos nascidos vivos. O gene anormal localiza-se no braço curto do cromossomo X, lócus Xp21, sub banda Xp 212. O gene em condições normais é o responsável pela produção de uma proteína chamada distrofina, localizada no sarcolema das fibras musculares. Quadro clínico: alterações funcionais iniciam-se com o enfraquecimento muscular, que ocorre gradualmente e de forma ascendente, simétrica e bilateral, com início na cintura pélvica e membros inferiores, progredindo para musculatura de tronco e para a musculatura responsável pela sustentação da postura bípede, cintura escapular, membros superiores, pescoço e músculos respiratórios. A fraqueza muscular torna-se evidente por volta dos cinco anos de idade, quando as crianças apresentam sintomas iniciais, tais como dificuldade de deambular, pular e correr, além de quedas frequentes. A força muscular tanto extensora do joelho quanto do quadril não são suficientes para permitir a extensão voluntária do tronco quando o paciente levanta-se do solo, desencadeando o sinal de Gowers. À medida que a doença evolui a fraqueza dos músculos glúteo médio e mínimo resultam em inclinação da pelve quando a criança se mantém em bipedestação; visto que, com a progressão da doença essa inclinação fica ainda mais perturbada, assumido um aspecto típico devido ao excesso de movimento em cintura pélvica, a denominada marcha miopática ou anserina. O paciente vai perdendo a capacidade de deambular, ficando então confinado a cadeira de rodas, aproximadamente a partir dos 10 aos 13 anos de idade. Durante a progressão da doença, surge insuficiência respiratória com dificuldade na ventilação, falta de força para tossir, ocasionando infecções respiratórias de repetição, que na maioria dos casos, levam o paciente ao óbito. O músculo cardíaco também é afetado em praticamente todos os pacientes que sobrevivem por maior tempo. O óbito ocorre por volta dos 18 aos 25 anos por comprometimento cardíaco ou insuficiência respiratória. Diagnóstico: exame clínico, através de história familiar e achados clínicos; dosagem da CK no soro; análise de DNA; e biópsia muscular. Tratamento: a terapia gênica ainda não está disponível, então não há tratamento definitivo para a doença. Incentiva-se o exercício ativo, a fisioterapia e o alongamento. Órteses podem ser utilizadas para prevenir contraturas. Cirurgias podem ser realizadas para aumentar o conforto dos pacientes, sobretudo para a correção de escolioses. A insuficiência respiratória pode ser manejada com suporte ventilatório não invasivo ou com traqueostomia eletiva. A insuficiência cardíacapode ser adiada com o uso de betabloqueadores ou inibidores da ECA. Deflazacorte ou Prednisona, pelos seus efeitos anti-inflamatórios, são considerados para pacientes maiores de 5 anos, e apresentam boa desaceleração da doença, apesar de estarem relacionados a efeitos colaterais como o ganho de peso, a perda de tecido ósseo e o surgimento de cataratas. PLACA MOTORA E O MECANISMO DE CONTRAÇÃO MUSCULAR Na contração das fibras musculares esqueléticas, ocorre o encurtamento dos sarcômeros: os filamentos de actina “deslizam” sobre os de miosina, graças a certos pontos de união que se formam entre esses dois filamentos, levando à formação da actomiosina. Para esse deslizamento acontecer, há a participação de grande quantidade de dois elementos importantes: íons Ca ++ e ATP. Nesse caso cabe à molécula de miosina o papel de “quebrar” (hidrolisar) o ATP, liberando a energia necessária para a ocorrência de contração. Cada ponto de junção entre uma terminação nervosa e a membrana plasmática da célula muscular corresponde a uma sinapse. Essa junção é conhecida pelo nome de placa motora. O impulso nervoso propaga-se pelo neurônio e atinge a placa motora. A membrana da célula muscular recebe estímulo. Gera-se uma corrente elétrica que se propaga por essa membrana, atinge o citoplasma e desencadeia o mecanismo de contração muscular. Os potenciais de ação cursam pelo nervo motor até suas terminações nas fibras musculares. Em cada terminação, o nervo secreta quantidades de acetilcolina (substância neurotransmissora). A acetilcolina age em área da membrana da fibra muscular para abrir canais de cátion por meio de proteínas de membrana. A abertura de canais permite a difusão de grande quantidade de íons sódio para dentro da membrana das fibras. Essa ação leva a despolarização local levando a abertura de canais de sódio, dependentes de voltagem, que desencadeia o potencial de ação da membrana. O potencial de ação se propaga por toda a membrana da fibra muscular, do mesmo modo que se propaga pela membrana das fibras nervosas. O potencial de ação despolariza a membrana muscular, e grande parte da eletricidade do potencial flui pelo centro da fibra muscular. Isso faz com que o retículo sarcoplasmático libere íons cálcio armazenados nesse retículo. Os íons cálcio ativam forças atrativas entre os filamentos de actina e miosina, promovendo o processo contrátil. Após fração de segundo, os íons Ca2+ são bombeados de volta para o retículo sarcoplasmático pela bomba de cálcio da membrana, onde permanecem armazenados até que o novo potencial de ação se inicie.A remoção dos íons cálcio das miofibrilas faz com que a contração cesse. - Tem uma terminação nervosa para cada fibra muscular. MORFOLOGIA DO MÚSCULO ESQUELÉTICO O tecido conjuntivo circunda e protege o tecido muscular. A tela subcutânea, ou hipoderme, que separa o músculo da pele, é composta por tecido conjuntivo areolar e tecido adiposo; consiste em uma via para a entrada e saída de nervos, vasos sanguíneos e vasos linfáticos dos músculos. O tecido adiposo da tela subcutânea armazena a maioria dos triglicerídios do corpo, serve de camada de isolamento que reduz a perda de calor e protege os músculos do trauma físico. A fáscia é uma lâmina densa ou faixa larga de tecido conjuntivo denso não modelado que reveste a parede corporal e os membros, além de sustentar e envolver músculos e outros órgãos do corpo. A fáscia une músculos com funções similares, possibilita o movimento livre dos músculos, aloja nervos, vasos sanguíneos e vasos linfáticos e preenche os espaços entre os músculos. Três camadas de tecido conjuntivo se estendem a partir da fáscia para proteger e reforçar o músculo esquelético: - O epimísio é a camada externa que envolve todo o músculo. Consiste em tecido conjuntivo denso não modelado - O perimísio também é uma camada de tecido conjuntivo denso não modelado, porém circunda grupos de 10 a 100, ou mais, fibras musculares, separando-as em feixes chamados de fascículos. Muitos fascículos são grandes o suficiente para serem vistos a olho nu. Conferem aos cortes de “carne” sua aparência granulosa; ao rasgar um pedaço de carne, ela se rompe ao longo dos fascículos - O endomísio penetra no interior de cada fascículo e separa as fibras musculares individualmente. O endomísio consiste principalmente de fibras reticulares. O epimísio, o perimísio e o endomísio são contínuos com o tecido conjuntivo que fixa os músculos esqueléticos a outras estruturas como ossos e outros músculos. Por exemplo, todas as três camadas de tecido conjuntivo podem se estender além das fibras musculares para formar um tendão que conecta um músculo ao periósteo de um osso. Quando os elementos de tecido conjuntivo se estendem como uma lâmina larga e plana, observamos o que chamamos de aponeurose. A aponeurose epicrânica no topo do crânio entre os ventres frontal e occipital do músculo occipitofrontal é um exemplo. OSSIFICAÇÃO INTRAMEMBRANOSA A ossificação intramembranosa é o mais simples dos dois métodos de formação óssea. Os ossos planos do crânio, a maioria dos ossos faciais, a mandíbula e a parte medial da clavícula são formados dessa maneira. Além disso, os fontículos (moleiras) que ajudam o crânio fetal a passar pelo canal vaginal endurecem posteriormente à medida que vão sofrendo ossificação intramembranosa. 1. Desenvolvimento do centro de ossificação. No local em que o osso vai se desenvolver, mensagens químicas específicas fazem com que as células do mesênquima se agrupam e se diferenciam, primeiramente em células osteogênicas e, depois, em osteoblastos. O local dessa aglomeração é chamado centro de ossificação. Os osteoblastos secretam a matriz extracelular orgânica do osso até ficarem circundados por ela. 2. Calcificação. Em seguida, a secreção de matriz extracelular cessa e as células, agora chamadas osteócitos, encontram-se nas lacunas e estendem seus processos citoplasmáticos estreitos pelos canalículos que irradiam para todas as direções. Em poucos dias, cálcio e outros sais minerais são depositados e a matriz extracelular endurece ou calcifica (calcificação). 3. Formação das trabéculas. Conforme a matriz extracelular óssea vai se formando, ela se desenvolve em trabéculas que se fundem umas com as outras para formar osso esponjoso ao redor da rede de vasos sanguíneos no tecido. O tecido conjuntivo associado aos vasos sanguíneos nas trabéculas se diferencia em medula óssea vermelha. 4. Desenvolvimento do periósteo. Junto com a formação das trabéculas, o mesênquima se condensa na periferia do osso e se transforma em periósteo. Por fim, uma fina camada de osso compacto substitui as camadas superficiais do osso esponjoso, porém o osso esponjoso permanece no centro. Muito do osso recém-formado é remodelado (destruído e reformado) pelas transformações que o osso sofre para chegar a seu tamanho e forma adultos. OSSIFICAÇÃO ENDOCONDRAL A substituição da cartilagem por osso é chamada de ossificação endocondral. Embora a maioria dos ossos do corpo seja formada dessa maneira, o processo é observado melhor no osso longo. 1. Desenvolvimento do modelo de cartilagem. No local onde o osso será formado, mensagens químicas específicas fazem com que células no mesênquima se aglomerem no formato do futuro osso e, em seguida, se desenvolvam em condroblastos. Os condroblastos secretam matriz extracelular cartilaginosa, produzindo um modelo de cartilagem que consiste em cartilagem hialina. Uma cobertura chamada pericôndrio se desenvolve em torno do modelo de cartilagem. 2. Crescimento do modelo de cartilagem. Quando os condroblastos se encontram profundamente imersos na matriz extracelular cartilaginosa, eles passam a ser chamados condrócitos. O comprimento do modelo de cartilagem cresce pela divisão celular contínua dos condrócitos, acompanhada por mais secreção de matriz extracelular cartilaginosa. Este tipo de crescimento cartilaginoso, chamado crescimento intersticial (endógeno) (crescimento a partir de dentro), resulta em crescimento em comprimento. Em contraste, o crescimentoda cartilagem em espessura decorre principalmente pelo depósito de material de matriz extracelular na superfície cartilaginosa do modelo por novos condroblastos que se desenvolvem a partir do pericôndrio. Esse processo é chamado crescimento por aposição (exógeno), o que quer dizer crescimento na superfície externa. Com o crescimento do modelo de cartilagem, os condrócitos na sua região média hipertrofiam (aumentam de tamanho) e a matriz extracelular cartilaginosa circundante começa a calcificar. Os outros condrócitos dentro da cartilagem em calcificação morrem porque os nutrientes não podem mais ser difundidos com rapidez suficiente pela matriz extracelular. Os espaços deixados pelos condrócitos mortos formam pequenas cavidades chamadas lacunas. 3. Desenvolvimento do centro de ossificação primário. A ossificação primária ocorre para dentro, a partir da superfície externa do osso. Uma artéria nutrícia penetra no pericôndrio e no modelo de cartilagem em calcificação por um forame nutrício na região média do modelo cartilaginoso, estimulando as células osteoprogenitoras no pericôndrio a se diferenciarem em osteoblastos. Uma vez que o pericôndrio começa a formar osso, passa a ser chamado periósteo. Próximo ao meio do modelo, capilares periosteais crescem pela cartilagem calcificada em desintegração, induzindo o crescimento do centro de ossificação primário, que consiste em uma região onde tecido ósseo vai substituir a maioria da cartilagem. Em seguida, os osteoblastos começam a depositar matriz extracelular óssea sobre os remanescentes da cartilagem calcificada, formando trabéculas de osso esponjoso. A ossificação primária se espalha a partir dessa localização central em direção às duas extremidades do modelo cartilaginoso. OSTEOGÊNESE IMPERFEITA Grupo de doenças hereditárias, bem de fi ni das, que apresentam fragilidade óssea excessiva. As con se quên cias são fraturas de repetição, que evoluem para de formidades progressivas do esqueleto. Essas de formidades somam-se às manifestações extra-ósseas, que en volvem os dentes e outros órgãos devido ao comprometimento do tecido conjuntivo. ETIOLOGIA Os exames histológicos e bioquímicos realizados em portado res de osteogênese imper fei ta demonstraram que o defeito do colágeno é o respon sá vel básico pela expressividade da síndrome. O colágeno é composto por cadeias moleculares de pro teínas, sendo a glicina uma das principais moléculas de in terligação das espirais de polipeptídeos. A principal forma de colágeno do tecido ósseo é o tipo I, que representa cerca de 90% do colágeno corporal, sendo também o maior componente da pele. Sua estrutura é composta por duas cadeias 1(I), codificadas pelo gene COL1A1, lo calizado no cromossomo 17, e uma cadeia a2(I), codificada pelo gene COL1A2, localizado no cromossomo 7. Uma falha genética, causando a substituição de um ami noá cido por outro dentro das cadeias dos polipeptídeos (glicina pela arginina ou cisteína), modifica toda a orga ni zação do esqueleto proteico. O resultado pode ser a produ ção de colágeno defeituoso ou em quantidade diminuída, causando o espectro de alterações. CLASSIFICAÇÃO Classificação de Sillence Tipo I. Herança autossômica dominante; escleras azuis, forma leve, início das fraturas após o nascimento, maioria na idade pré-escolar. Tipo II. Herança autossômica recessiva; escleras azuis, forma letal no período perinatal. Tipo III. Herança autossômica recessiva; escleras normais, forma grave, fraturas ao nascimento, deformidade pro gressiva, audição normal. Tipo IV. Herança autossômica dominante; escleras normais, forma com gravidade moderada, fragilidade óssea, au dição normal. Subtipo A. Sem dentinogênese imperfeita. Subtipo B. Com dentinogênese imperfeita. Foram de fi nidos mais de 20 genes desencadeadores de 30 variedades de alterações moleculares causadoras de fragilidade óssea. Re centemente, foram descritos três novos tipos de osteogênese imperfeita (V, VI e VII), com manifestações fenotípicas similares às de ou tras formas, mas sem envolvimento do colágeno tipo I. QUADRO CLÍNICO E RADIOGRÁFICO As manifestações clínicas da osteogênese imperfeita dividem-se em dois grupos: 1) relacionadas diretamente com o enfraquecimento do esqueleto; e 2) decorrentes de distúrbio do te cido co lágeno nos outros órgãos, como dentinogênese im per feita, esclera azul e surdez. MANIFESTAÇÕES ESQUELÉTICAS A fragilidade óssea caracteriza o estigma básico da osteogênese imperfeita, resultando em fraturas múltiplas por traumas mínimos. O processo estende-se a todo o esqueleto, tanto axial como pe riférico. Na forma mais grave ou doença de Vrolik (tipo II), as fra turas ocorrem intraútero, resultando em encurtamento acen tuado dos membros. O quadro simula um tipo de na nis mo micromélico ao nascimento. As imagens radiográficas mos tram formas aberrantes nos ossos longos e no crânio. As diá fi ses apresentam-se sinuosas e achatadas, com múltiplos pontos de fraturas e neoformação óssea. O alargamento do diâ metro anteroposterior configura o tórax em quilha, com múl tiplos nódulos nas costelas e na junção condrocostal. O com primento do tronco está diminuído pela platispondilia in tensa. O crânio irregular e aumentado contrasta com a face afi la da, resultando no formato triangular denominado “rosto de duende”. Nas imagens radiográficas da abóbada craniana, podem ser identificadas ilhas de ossificação com áreas radiotransparentes, lembrando placas de iceberg. A maioria das crianças afetadas morre no primeiro ano de vida, por hemorragias intracranianas, torácicas ou compli ca ções res piratórias decorrentes do colabamento dos arcos costais. Nos tipos I, III e VI, as alterações estruturais ósseas demonstram grande variação na expressividade, resultando em nuanças radiográficas de difícil padronização. MANIFESTAÇÕES EXTRAESQUELÉTICAS Surdez: compressão do nervo vestibulococlear, causada pelo colabamento do meato acústico. Outras causas são a anquilose da cadeia de ossículos ou a otosclerose coclear. Atinge cerca de 50% dos adultos, em geral iniciando na primeira década de vida. Defeito dentário: dentinogênese imperfeita é resultado da fragilidade da ca mada de dentina, predispondo a infecções gengivais crôni cas. Distinção entre os tipos A e B. Apesar do fator des trutivo inicial, assegurando ao dente aspecto cinza-azu la do e serrilhado, a dentinogênese imperfeita compromete mais os dentes decíduos do que os permanentes. Defeitos do tecido conjuntivo: presença ou ausência da esclera azul define os tipos III e IV da classificação de Sillence. Resulta do adelgaçamento das camadas da es cle ra, deixando transparecer a cor azulada do plexo coróide. A presença ou ausência desse sinal não interfere na gravida de do quadro ósseo. Outras manifestações extraósseas da osteogênese imperfeita são hérnias inguinais e abdominais. TRATAMENTO Tratamento medicamentoso Nas formas leves e moderadas da doença, sabe-se que, quan do as crianças atingem a puberdade e a adolescência, ocorre diminuição acentuada da frequência de fraturas. Esse fenômeno deve-se ao efeito dos hormônios sexuais sobre os os teoblastos, que apresentam receptores androgênicos e es tro gênicos. Tal premissa originou pesquisas que empregaram hor mô nios gonadais no tratamento, com o intuito de aumentar a resistência óssea dos portadores de osteogênese imperfeita. Entretanto, os re sul ta dos foram duvidosos e, na maioria das vezes, com efeitos co laterais indesejáveis, como puberdade precoce, inversão dos caracteres sexuais secundários e fechamento prema tu ro da fise de crescimento. As vitaminas A e D, o fluoreto de sódio, a calcitonina e o óxi do de magnésio foram administrados em indivíduos com osteogênese imperfeita, mas nenhum demonstrou ser de valor definitivo quanto à melhora da doença ou à diminuição da incidência de fratu ras. O pamidronato, substância da classe dos bifosfonatos, de monstrou ser eficaz em crianças e adolescentes com a doença. Seu uso foi associado à melhora da massa óssea mensurada na densitometria, diminuiçãodo número de fraturas e melhora da mo bilidade dos pacientes. Esses efeitos benéficos são obser va dos nos primeiros dois a quatro anos de uso do fármaco. Ainda não há evidências clínicas definitivas para a recomendação de seu uso após tal período. Novas modalidades terapêuticas estão surgindo, como o uso de células-tronco mesenquimais. Todavia, encontram-se em estudo experimental. PREVENÇÃO DE FRATURAS E DEFORMIDADES Órteses mais leves e imobilizações pneumá ti cas vêm sendo desenvolvidas para melhorar a qualidade de vida desses indivíduos, procurando permitir o ortostatismo nos casos mais graves. Com frequência, os longos períodos de imobilização po dem associar-se a osteopenia por desuso. A melhora da mas sa muscular torna-se um fator importante pa ra combater tal in tercorrência. As crianças devem ser esti mu ladas à prática de natação e exercícios regulares de baixo impacto. TRATAMENTO DAS FRATURAS O tempo de consolidação da fratura no paciente com osteogênese imperfeita é o mesmo do de indivíduos normais. Portanto, o tempo de imo bi li za ção deve englobar os mesmos parâmetros. Devido ao qua dro repetitivo de fraturas, os desvios angulares costumam ser mais tolerados, pois se torna difícil a manutenção e a con tenção do alinhamento. A intervenção cirúrgica está in di cada quando os desvios angulares dos ossos longos atingem níveis incompatíveis com a necessidade funcional do pacien te. DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL Recentemente, tornou-se importante a necessidade do diag nós tico pré-natal de doenças congênitas agressivas, como os tipos II e III da osteogênese imperfeita, para o planejamento familiar. A ultrasso nografia, em geral, identifica a osteogênese tipo II na 14ª ou 16ª semanas de gestação, e a osteogênese tipo III da 16ª a 18ª. As formas mais le ves são detectadas apenas no final da gravidez ou no perío do pós-natal. LESÕES TRAUMÁTICAS EM PARTES MOLES Contusão muscular: Trauma direto. Quadro Clínico: edema, equimose e hematoma. Mas também pode não ter nenhuma dessas alterações. Exames complementares: radiografias na emergência para descartar fraturas ou luxações. Conduta Inicial: protocolo PRICE e encaminhar para o ambulatório. PRICE: - Proteção - Repouso - Ice: gelo. - Compressão - Elevação Entorse: Lesão por estiramento ou ruptura dos ligamentos de uma articulação, sem que haja a perda da congruência entre ossos e a articulação. Quadro Clínico: edema, equimose e hematoma, dificuldade na mobilização. Exames complementares: O Rx será importante para descartar fraturas e luxações. A ressonância magnética ou USG serão úteis no estadiamento da lesão e na condução ambulatorial. Conduta Inicial: protocolo PRICE e encaminhar para o ambulatório. 1º Grau é causada pelo estiramento das fibras ligamentares, resultando em lesões mínimas. Manifesta‐se por edema leve, dor à palpação local, e dor provocada pelo movimento da articulação. 2º Grau envolve ruptura parcial do ligamento. Resulta em edema aumentado, dor à palpação, dor aos movimentos, instabilidade articular e perda parcial da função normal da articulação. 3º Grau ocorre quando um ligamento é completamente lacerado ou rompido. A entorse de terceiro grau também pode causar uma avulsão óssea. Os sintomas incluem dor intensa, dor à palpação, edema aumentado e movimento articular anormal. Estiramento ou distensão muscular: Alongamento além dos limites da fibra muscular. Podendo ocorrer a ruptura de fibras musculares do músculo acometido. Quadro Clínico: edema, equimose e hematoma, incapacidade funcional, dificuldades na marcha. Exames complementares: radiografias na emergência para descartar fraturas ou luxações. Se houver USG na emergência, poderá ser pedido. Caso contrário, a RM será exame ELETIVO, podendo ser solicitado na emergência nos casos de suspeita de ruptura que necessite de abordagem cirúrgica de urgência, como, por exemplo, a ruptura do tendão de aquiles. Conduta Inicial: protocolo PRICE e encaminhar para o ambulatório. Luxação: Perda de congruência articular, ou seja, ocorre o deslocamento do osso, saindo da sua função original e com isso perdendo a sua função na articulação. Quadro Clínico: edema, equimose e hematoma, deformidades, perda da função do membro. Exames complementares: RX será suficiente para o diagnóstico. Conduta Inicial: emergência ortopédica! Realizar a REDUÇÃO FECHADA DA LUXAÇÃO, feita idealmente no centro cirúrgico sob sedação, seguida por imobilização e analgesia. Após a redução e estabilização, o paciente poderá ser encaminhado para o ambulatório. FRATURA A fratura é caracterizada pela descontinuidade do tecido ósseo, observada por um traço que atravessa uma ou mais corticais em duas incidências radiográficas diferentes (há fraturas de padrões diferentes, como a fratura em tórus – impacção; em galho verde – incompleta com deformidade plástica contralateral; e as patológicas). As fraturas também são classificadas de acordo com seu traço, e quanto a serem fechadas ou expostas. Nas fraturas fechadas não existe ruptura da pele, ou se existir não há contato desta com o hematoma de fratura, embora vasos sanguíneos e nervos também possam ser rompidos. Quadro clínico: dor imediata após trauma, que se acentua à movimentação ou compressão da região afetada, desvio, crepitação, edema, hematoma e impotência funcional. Abordagem inicial - Realizar o ATLS e excluir outras lesões, que devem ser tratadas de acordo quando presentes; - Identificar o segmento afetado e o provável osso fraturado; - Iniciar a analgesia; - Imobilizar o membro; - Encaminhar ao serviço de emergência ortopédica (nível terciário). É sempre de extrema relevância realizar uma avaliação neurovascular adequada do segmento afetado para que seja prontamente tratado quando houver indicação. Síndrome compartimental aguda deve ser sempre excluída, especialmente em fraturas de tíbia e rádio distal. É caracterizada pelos cinco P: pain (dor); pallor (palidez); pulse (pulsos diminuídos); paresthesia (parestesia); paralisis (paralisia). Nesses casos, é indicada fasciotomia de urgência. Tratamento Fraturas fechadas apresentam critérios indicativos de tratamento cirúrgico ou conservador que serão avaliados pelo ortopedista habilitado. Quando cirúrgico, o tratamento poderá ser de urgência ou eletivo. Fraturas expostas, porém, têm indicação de intervenção imediata, com limpeza, debridamento e fixação da fratura. Fratura de Colles: normalmente gerado por queda sobre o punho em flexão dorsal e pronação do antebraço quando o indivíduo tenta aparar a queda com a mão. Consiste em fratura extra-articular, no terço distal do rádio com desvio dorsal, similar a um garfo. Fratura de Smith: deformidade inversa a Colles, ou seja, o indivíduo cai com a mão em flexão palmar. Nesse caso, o traço é transverso/oblíquo. Fratura em crianças: - Em compressão (Torus) - Galho verde - Fisária Remodelamento é altamente eficiente nas crianças onde o osso pode corrigir grandes desvios e recuperar totalmente a forma original, a ponto de, anos depois, não exibir indício algum de fratura prévia. Fratura articular em criança: prejuízo no crescimento (fise). Criança: mais em membro superior Fraturas → remodelação mais eficiente e rápida: adulto “cola torto” e criança “cola certo” (devido ao periósteo mais grosso → calo ósseo exuberante e depois remodela certo) Fratura em articulação: onde tem fise de crescimento → complicação no crescimento posterior (ex: joelho e cotovelo) Clássica: Torus → região metafisária (fratura em compressão → osso fraca não quebra e sim “esmaga”) Galho verde: quebra mas não tem ‘’rompimento completo’’ Fratura de colles → cair com mão “espalmada”: rádio distal faz angulação dorsal – músculo braquiorradial. FRATURA EXPOSTA Uma fratura é denominada exposta ou aberta quando o hematoma da fratura entra em contato com o meio externo, de modo que o osso não necessariamente precisa perfurar a pele, e o corte pode estar em local diferente da fratura. Dessa forma, basta o contato do hematoma com o meio externo para que ocorra o risco de contaminação do osso. Classificaçãode Gustillo e Anderson: Tipo I Lesão de pele ≤ 1cm, mínima lesão de partes moles e aparentemente limpa Tipo II Laceração 1-10cm, moderada lesão de partes moles, média contaminação Tipo III Lesão extensa de partes moles > 10 cm e esmagamento (alta energia), grande contaminação. - Armas de fogo - Ambiente rural - Fratura multifragmentada Tipo III A Possível cobrir tecidos nobres Tipo III B Não é possível cobrir tecidos nobres Tipo III C Lesão vascular que necessite reparo A classificação de Gustillo e Anderson permite direcionar o tratamento e caracteriza-se por ser dinâmica, podendo ser modificada após a intervenção cirúrgica. Conduta do médico generalista: Estabilizar o paciente, iniciar a analgesia e a antibioticoterapia, imobilizar conforme orientado e encaminhar o paciente para tratamento cirúrgico em hospital de nível terciário ou quaternário. Posteriormente a essas etapas, deve-se realizar um exame de radiografia para descartar outras lesões no membro (seguindo a regra: radiografar uma articulação acima e uma abaixo em caso de fratura de ossos longos; e ossos longos acima e abaixo no caso de fratura articular) e para analisar a real situação do trauma, verificando o ângulo de interrupção óssea, que poderá ser uma lesão transversa, oblíqua, espiralada (helicoidal) ou cominutiva. Tudo isso permitirá também a decisão sobre a conduta terapêutica com maior confiança e menor chance de imprevistos cirúrgicos. Tratamento O tratamento de uma fratura exposta deve seguir uma conduta rígida e estruturada: - Avaliação do paciente, com exposição da lesão e registro fotográfico para evitar a necessidade de abrir o curativo posteriormente. - Alinhamento do membro sem a redução da fratura. O osso deve permanecer exposto para não levar agentes contaminantes para o interior do membro. - Retirada de contaminantes grosseiros. - Curativo com compressas estéreis. - Condução ao centro cirúrgico. - Analgesia, antibioticoterapia e profilaxia para tétano podem ser realizadas em qualquer momento dessa intervenção, de modo geral o mais precocemente possível e de maneira concomitante com as outras condutas. Nunca se deve reduzir a fratura, pois isso levará à contaminação de tecidos profundos. A fratura só é reduzida uma vez que todas as partes ósseas estejam limpas. Antibioticoterapia: Gustillo I Cefalosporina de primeira geração (Cefazolina) Gustillo > II Aminoglicosídeo (Gentamicina) ou cefalosporina de terceira geração (Ceftriaxona) para cobertura de Gram-negativos e anaeróbios de Gram-positivos (Clindamicina) FRATURA PATOLÓGICA Define-se como fratura patológica aquela ocorrida sem trauma de intensidade adequada para gerar tal evento, sendo possibilitada por doença óssea preexistente. - Reabsorção de massa óssea (osteoporose); - Neoplasias; - Redução da qualidade óssea (osteomalácia, osteonecrose); - Fratura de fadiga (“estresse”). O enfraquecimento ósseo predispõe a fratura durante atividade normal ou trauma mínimo; nesses casos, deve-se suspeitar de uma doença de base. Diagnóstico: A anamnese é um instrumento fundamental no diagnóstico de fratura patológica e na elucidação da causa-base, sendo muitas vezes suficiente para esclarecer seu diagnóstico. Os pacientes devem ser indagados a respeito das seguintes questões: A natureza do evento: procurando esclarecer se foi um trauma de energia muito baixa, insuficiente para gerar fratura em um osso de qualidade normal. Diagnóstico de osteoporose (pessoal e familiar). Sinais de síndrome consumptiva: episódios de febre, perda de peso involuntária e sudorese noturna. Eles falam a favor de doença maligna (neoplasias). Diagnóstico de câncer (pessoal e familiar): procurando saber se a pessoa já teve ou tem câncer, esclarecendo a possibilidade de ser uma metástase de um câncer preexistente e o risco familiar. Metástases ósseas são a neoplasia maligna mais comum em pacientes com mais de 40 anos de idade. Exames para diagnóstico precoce: é importante saber se o paciente tem feito mamografia periodicamente, pois a doença metastática óssea é causada por câncer de mama em 49% das vezes. Outros sítios de tumores malignos que costumam gerar metástase óssea incluem pulmões, próstata, rins e tireoide. Fatores de risco: exposição a radiação, hábitos, vícios e exposição a toxinas. Na hipótese de câncer, é necessário buscar o tumor primário, que pode ou não ser ósseo. Em casos de metástase, os principais locais são vértebras, arcos costais, pelve e fêmur. De modo geral, o esqueleto axial corresponde a 80% dos sítios atingidos. É importante destacar que, em suspeita de câncer (por meio de achados do exame clínico e exame de imagem), o paciente deve ser encaminhado a um centro de referência o mais rápido possível para diagnóstico, estadiamento e início precoce do tratamento. Encaminhá-lo para a atenção secundária pode levar meses em alguns locais, e isso pode diminuir a sobrevida do paciente. Sessenta por cento das lesões vertebrais com acometimento neurológico constituem uma urgência oncológica. O exame físico deve incluir, além da avaliação completa da região afetada, para verificar se há massas palpáveis e deformidades, a palpação de todas as extremidades e da coluna vertebral, procurando por lesões adicionais e linfadenopatia, e um exame neurológico completo, já que metástases, mieloma múltiplo, linfoma e osteoporose não raro afetam várias partes ao mesmo tempo. Além disso, é indicado o exame físico cuidadoso das mamas, próstata, pulmão e tireoide, visando encontrar sítios primários de tumor, e pesquisa de sangue oculto nas fezes. Osso mais comum de metástase: fêmur. Osteoclastos (ligação indireta com a via do paratormônio): ativado por osteócito e osteoblasto → Via paratormônio → retira cálcio REPARAÇÃO ÓSSEA A consolidação óssea é um processo biológico complexo, que leva a uma regeneração completa do tecido de suporte (osso), em vez de formar tecido cicatricial, como ocorre em muitos órgãos. Essa consolidação requer tecidos vivos com vascularização adequada e envolve uma coordenação sequencial de um grande número de tipos celulares e sinais biológicos. Fatores que retardam a consolidação: idade avançada, doença clínica como diabetes melito, desnutrição, má oxigenação, tabagismo, uso de corticosteroides por longos períodos e deficiência de vitamina D, vitamina C, ácido retinoico, hormônio do crescimento, hormônio tireoidiano e esteroides anabolizantes. O reparo das fraturas pode ser dividido em 4 estágios histológicos: inflamação, calo fibroso, calo ósseo e remodelação. INFLAMAÇÃO - 24h até 7 dias. 5 sinais da inflamação (virchow – tríade os 3 primeiros): dor, calor, rubor, edema, perda de função. Começa logo após a lesão e se caracteriza por dor, calor, sensibilidade local, instabilidade e ocasionalmente febre. O sangramento oriundo do osso fraturado e a lesão associada dos tecidos moles resultam em um hematoma de fratura, liberação de citocinas, formação de coágulo e migração de células inflamatórias agudas para o sítio de lesão. O coágulo da fratura é uma estrutura firme e serve de suporte para a penetração do que é fundamental para a consolidação, que são os brotos vasculares neoformados, que se originam de regiões não lesadas pelo trauma (tanto partes moles, como periósteo) Os brotos vasculares trazem células histiocitárias pluripotentes que se diferenciam em fibroblastos, células osteoprogenitoras, condroblastos e osteoblastos. A proliferação celular na região do coágulo forma um manguito que envolve a fratura, e progressivamente vai diminuindo a mobilidade dos fragmentos. As células histiocitárias passam a se diferenciar em fibrócitos, condrócitos e osteócitos, determinados por fatores mecânicos (estabilização adequada) e humorais locais. O baixo pO2 no sítio da fratura promove angiogênese. CALO FIBROSO/MOLE - 2-3 semanas. Período de vascularização elevada, reabsorção das extremidades necróticas do osso e desenvolvimento de um calo fibrocartilaginoso (colar) que circunda a fratura. O calo fibroso se alarga e enrijece de modo progressivo, de modo queno final desse estágio as extremidades do osso não se movem mais livremente. Esse calo de tecido mole pode sustentar as extremidades do osso fraturado em aposição, mas não se apresenta calcificado e não pode suportar o peso. A cartilagem recém-formada atua como um nicho para a ossificação endocondral, recapitulando o processo de formação óssea nas placas epifisárias de crescimento. Isso conecta os córtices e as trabéculas nas áreas de tecido ósseo justapostas. CALO ÓSSEO Calcificação da fibrocartilagem e sua conversão para osso cortical. Durante esse processo, quantidades variáveis de ossificação endocondral (conversão de cartilagem para osso) e formação óssea intermembranosa (deposição direta de osso nas superfícies) são observadas. Isso depende da diferenciação das células osteoprogenitoras em osteoblastos ou condroblastos, dependo da vascularização e da concentração de oxigênio. As proporções de cada um dos processos dependem do grau de desvio da fratura, bem como do tipo de fixação utilizado. Com a ossificação, as extremidades fraturadas são unidas por um calo ósseo. REMODELAÇÃO - Meses a anos. Envolve a conversão do osso cortical, mais fraco, em osso lamelar mais resistente através da atuação sincronizada dos osteoclastos e osteoblastos organizados em “cilindros” que se movem através do osso cortical, reconstituindo o sistema de canais haversianos e osso lamelar. Também responde a forças biomecânicas, de modo que mais osso é depositado nas áreas de maior estresse mecânico (Lei de Wolff) Este processo é altamente eficiente nas crianças onde o osso pode corrigir grandes desvios e recuperar totalmente a forma original, a ponto de, anos depois, não exibir indício algum de fratura prévia. No adulto, o processo já não é tão eficiente e a remodelação é, geralmente, incompleta. A consolidação de pequenos defeitos estáveis no osso pode ocorrer através de formação óssea direta, aposicional (intramembranosa). Do mesmo modo, as linhas de fratura podem ser reduzidas e consideradas estáveis com uma fixação por compressão, ocasião em que pode consolidar sem a formação significativa de calor, através de combinação de formação óssea intramembranosa e remodelação haversiana passando pelos pontos estáveis de contato. A consolidação das fraturas em todos os estágios é sensível ao ambiente mecânico. A quantidade de movimentação ou carga interfragmentar que ocorre tem um efeito significativo na diferenciação dos tecidos dentro da área de fratura, e se a carga excede a tolerância do tipo de tecido presente, o processo de consolidação pode parar. Assim a teoria da “tolerância contra carga” postula que somente tecidos capazes de tolerar carga mecânica ambiente pode se diferenciar na zona de fratura. Conforme o tecido evolui de tecido fibroso frouxo para cartilagem e depois para osso, a tolerância à carga cai, consequentemente, a diferenciação e a progressiva consolidação necessitam progressivamente de menos carga ou movimento interfragmentar. CONSOLIDAÇÃO PRIMÁRIA É o reparo da fratura por uma proliferação óssea direta dos ósteons que, cruzando o espaço entre os fragmentos, unem-se de um lado ao outro da fratura. Para que este tipo de consolidação ocorra é preciso que os fragmentos estejam em contato íntimo e firmemente estabilizados (estabilidade absoluta). Na radiografia pode-se acompanhar este processo pelo desaparecimento progressivo da linha de fratura e, na prática, ocorre nas osteossínteses estáveis ou em algumas fraturas incompletas ou impactadas. CONSOLIDAÇÃO SECUNDÁRIA Ocorre com a formação de calo ósseo em torno dos fragmentos que, vagarosamente, vai unindo-os e estabilizando-os até a consolidação final. É típico das fraturas tratadas conservadoramente, pois nestes casos, há movimentação dos fragmentos que estimula o aparecimento do calo (estabilidade relativa). ANAMNESE E EXAME FÍSICO NA AVALIAÇÃO CLÍNICA DA LOCOMOÇÃO E PREENSÃO Anamnese: sexo, etnia, idade, histórico patológico pregresso, hábitos e vícios, uso de medicamentos (corticoterapia); atividade física e atividade laboral. Exame físico: - Inspeção estática à despido; - Simetria: bilateral e comparativo; - Marcha: ceifante, escarvante, cerebelosa, talonante, passos miúdos, anserina, do sapo, em tesoura, apráxica – normal, sobre o calcanhar, na ponta do pé e fila indiana; - Pele: escoriações, lesões, manchas, equimoses, dermatite ocre, cianose, vermelhidão, edemas; - Atrofia muscular: paralisia espástica, flácida, hipertrofia ou hipotrofia, paralisias; - Cicatrizes; - Tumorações: aumento de volume, edema, nódulos, massas; - Ossos: proeminências, deformidades grosseiras - Visão anterior: desvios, atrofias, edemas, simetria dos quadríceps, deformidades, extensão dos cotovelos; - Visão posterior: desvios, atrofias, edemas, assimetrias na altura das cristas ilíacas, etc; - Visão lateral: lordose cervical, cifose cervical, cifose torácica, lordose lombar, flexão e hiperextensão dos joelhos; Palpação: - Ossos: articulações, acidentes anatômicos e deformidades aparentes; - Músculos: tônus, pontos de dor, tumorações; - Tendões e Ligamentos: origem, inserção e integridade no trajeto. - Temperatura; - Sinal do cacifo em edemas Arco de movimento: flexão e extensão, adução e abdução, rotação interna e externa, pronação e supinação, elevação; Exame neurológico: Arco reflexo (reflexos com martelinho), sensibilidade (dermátomos), força muscular (escala ASIA); Testes especiais à cabeça, coluna vertebral, ombros, cotovelos, punhos e mãos, coxa e quadril, joelhos e tornozelos. EXAMES DE IMAGEM ÚTEIS EM TRAUMA NO APARELHO LOCOMOTOR A radiografia convencional é confiável. Quando uma fratura fortemente suspeita não é identificada através da radiografia convencional, você deve escolher entre a repetição da radiografia convencional em 7 a 10 dias, cintilografia óssea, TC ou RM. - Examinar o paciente e comparar com RX. - RX com 90º entre si (AP e perfil). - Com fratura identificada, olhar o resto da imagem. Mão e punho Várias fraturas aparentemente inócuas na mão exigem fixação cirúrgica em vez de apenas imobilização e, portanto, devem ser reconhecidas como lesões graves. Fratura de Bennett: fratura da base do polegar na articulação carpometacarpal. Devido à inserção dos músculos adutores do polegar nesta região é quase impossível evitar que o metacarpo deslize para fora do seu alinhamento apropriado. Essa lesão quase sempre requer fixação interna. Fratura de Rolando: fratura cominutiva da base do polegar que se estende para dentro da articulação. É um tipo mais grave de fratura de Bennett. Dedo em martelo ou dedo de beisebol: lesão por avulsão na base da falange distal onde se insere o tendão extensor dos dedos. Com o tendão extensor inoperante, a falange distal flexiona sem oposição. Se não for tratado corretamente, isto pode resultar em uma deformidade de flexão e incapacidade de estender a falange distal. Polegar de guarda-caça: avulsão no aspecto ulnar da primeira articulação metacarpofalangiana, que é onde se insere o ligamento colateral ulnar do polegar. Se o ligamento colateral ulnar estiver rompido, a função do polegar pode ser prejudicada Portanto, esta fratura pode ter um resultado grave, se não tratada adequadamente. Muitas vezes requer fixação interna. Luxação capitato/semilunar: queda sobre um braço estendido, ocorre quando os ligamentos entre o capitato e o semilunar são rompidos, permitindo que o capitato se desloque. Isto é mais bem visualizado na visão em perfil do RX. A incapacidade de diagnosticar e tratar esta doença pode resultar em danos permanentes do nervo mediano se ele ficar comprimido pelo semilunar. Luxação do semilunar: embora o semilunar (L) esteja normal em relação ao rádio distal, o capitato (C) e o restante do punho estão dorsalmente deslocados em relação ao semilunar. Fratura do escafóide: lesão potencialmente grave devido ao alto índice de necrose avascular que ocorre nessa lesão. Quando ocorre necrose avascular, geralmente é necessária a intervenção cirúrgica e enxerto ósseo. Este tipo de fraturapode ser difícil de detectar inicialmente; assim, sempre que se suspeitar clinicamente de uma fratura do escafóide (trauma com dor sobre a tabaqueira anatômica do punho), o punho deve ser imobilizado e as radiografias repetidas em uma semana. Muitas vezes, a fratura pode ser visualizada por causa da osteoporose por desuso e a hiperemia em torno do local da fratura. Assim, em casos agudos, uma radiografia negativa não exclui um escafóide fraturado. Em vez de imobilizar o punho e repetir as radiografias em uma semana, os médicos estão obtendo uma RM imediatamente em muitas páginas para determinar se uma fratura está presente. Isto tem se mostrado menos caro do que manter o paciente imobilizado e reexaminado, uma semana depois. Membros superiores Fratura de Colles: fratura do rádio distal e da ulna após uma queda sobre o braço estendido. Isto resulta em angulação dorsal do antebraço distal e do punho. Fratura de Smith: fratura do rádio distal com angulação volar. Ocorrência muito menos comum do que a fratura de Colles. Deformação plástica com arqueamento do antebraço: rádio e a ulna sofrem um insulto traumático, e a força sobre os ossos causa uma flexão em vez de uma fratura franca. Muitas vezes é tratada como a quebra dos ossos (sob anestesia, é claro) e restabelecimento destes. Se não for tratada, a deformidade plástica com arqueamento pode resultar na redução da supinação e pronação. Ocorre apenas em crianças. O antebraço é um sistema de dois ossos que possui algumas propriedades de um anel ósseo. No antebraço, a fratura de um osso deve ser acompanhada da fratura de outro. Se a segunda fratura não estiver presente, normalmente ocorre luxação do osso não fraturado. Fratura de Monteggia: fratura da ulna com uma luxação do rádio proximal. A cabeça do rádio deslocado pode ser perdida clinicamente e progredir para necrose asséptica com disfunção subsequente do cotovelo. Portanto, sempre que a ulna for fraturada, o cotovelo deve ser examinado para excluir uma luxação. Fratura de Galeazzi: fratura de rádio com luxação da ulna distal. É muito menos comum do que a fratura de Monteggia. Luxação anterior do ombro: ocorre quando o braço sofre uma rotação externa forçada e abdução. Radiograficamente, o diagnóstico é facilmente realizado com uma imagem de ombro AP: a cabeça do úmero é visualizada inferiormente e medial à glenoide. Membros Inferiores As fraturas da pelve, e especialmente, aquelas que envolvem o acetábulo, podem ser difíceis de ser avaliadas completamente com radiografias simples isoladamente. Como radiografias simples muitas vezes não mostram fragmentos livres e fraturas sutis, a TC deve ser considerada em quase todas as fraturas do acetábulo. Luxação do quadril: A. Radiografia simples AP do quadril esquerdo mostra luxação da cabeça do fêmur, que fica superior ao acetábulo. B. As fraturas são facilmente identificadas na TC. Uma fratura cortical através da superfície articular do acetábulo posterior, bem como a luxação, é identificada. Fraturas evidentes na extremidade inferior raramente são perdidas em radiografias; entretanto, algumas exceções devem ser observadas. Fratura de quadril: na população idosa podem ser difíceis de detectar, e deve-se manter um alto índice de suspeita. Uma radiografia simples negativa em um paciente idoso com dor no quadril após trauma (mesmo um trauma relativamente leve) não exclui uma fratura do colo do fêmur. Um exame de RM imediato deve ser obtido para excluir uma fratura. Fraturas evidentes no fêmur e na parte inferior da perna não merecem tratamento radiológico especial. As fraturas por estresse, no entanto, precisam ser consideradas em qualquer pessoa com dor no quadril ou na perna. Se uma fratura do fêmur por estresse for uma preocupação clínica e as radiografias simples forem normais, deve ser obtida uma RM. Fratura femoral por estresse: área de esclerose linear (setas) é observada na base do colo femoral em um corredor neófito com dor no quadril. Este achado é diagnóstico de uma fratura do fêmur por estresse. Fratura do colo femoral: linha radiolucente com esclerose circundante é observada no colo femoral. Fratura de tíbia: A. Fraca área esclerótica linear (seta), que é característica de uma fratura por estresse da tíbia proximal. B. Resultado do exercício continuado neste paciente: uma fratura completa da tíbia e da fíbula proximal. Fratura de platô tibial: A. Uma visão AP do joelho não apresenta anormalidades óbvias à primeira vista. B, Uma TC com reconstrução do joelho, no entanto, demonstra uma fratura do platô lateral da tíbia. Observe a esclerose arredondada que em retrospecto pode ser mal apreciada em A. C, Uma RM coronal de T1 mostra uma fratura de platô tibial, que era quase imperceptível em radiografias simples. A RM é uma excelente escolha de imagem para fraturas sutis. Fraturas do platô tibial são provavelmente as fraturas mais comumente perdidas sobre o joelho. Uma fratura grave no pé que pode ser omitida na radiografia quando ocorre pouca ou nenhuma luxação é a chamada fratura de Lisfranc.
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