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Guerra do Paraguai

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HISTÓRIA DO 
BRASIL IMPÉRIO
Krisley Aparecida de Oliveira
A questão platina e 
a Guerra do Paraguai
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Descrever a situação política do Paraguai e a Questão do Prata.
 � Explicar a formação da Tríplice Aliança e os fatores que desencadearam 
a Guerra do Paraguai.
 � Identificar a atuação do governo brasileiro na Guerra do Paraguai.
Introdução
Pensar a história é sempre pensar o movimento e as mudanças, já que 
nada é estático ou definitivo: a partir disso, diversas interpretações e 
maneiras de fazer e pesquisar são reinventadas ao longo dos anos, pos-
sibilitando ao(à) historiador(a)/professor(a) de história se (re)orientar no 
tempo e atualizar seus conhecimentos sobre sua profissão. 
A Questão Platina e a Guerra do Paraguai são temas extremamente 
ricos e que já passaram por essas ressignificações históricas, uma vez 
que compreendem temas norteadores para o entendimento de querelas 
relacionadas a questões geopolíticas, sociais e econômicas que perpas-
sam e devem ser considerados para entender a formação dos projetos 
de nação dos países envolvidos nesse processo.
Neste capítulo, você compreenderá a importância de analisar essas 
mudanças sociais, políticas e regionais que ocorreram na região da Bacia 
do Prata, envolvendo o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai, desde 
os seus processos de independência e relações diplomáticas, sendo 
fatores fundamentais para os acontecimentos marcantes que viriam 
nos anos seguintes, deixando marcas na América do Sul que suscitam 
acalorados debates até hoje. 
1 Conflitos na Bacia do Prata e 
o desenvolvimento paraguaio
Inicialmente, precisamos contextualizar o momento que estudamos, porque 
ele está marcado por diversos fatores determinantes para a construção do tema 
central: os países ainda estavam sendo formados, suas independências eram 
muito recentes, as relações diplomáticas estavam em processo de constituição 
e o Brasil permanecia um império quando todos os outros países já eram re-
públicas. Naquele período, conhecido como Segundo Reinado, D. Pedro II era 
o regente do Brasil, o que se deu entre 23 de julho de 1840 e 15 de novembro 
de 1889, quando da Proclamação da República. 
Nesse contexto, ocorreram conflitos e disputas territoriais entre Brasil, 
Argentina, Uruguai e Paraguai — que formavam o Cone Sul — pelo controle 
da Bacia do Rio do Prata, composta pelos rios Uruguai, Paraná e Paraguai 
(Figura 1), essencial por sua extensão hidrográfica. De acordo com Malerba 
(1999, p. 82): “Essa situação fez da região um verdadeiro barril de pólvora, 
durante todo o século XIX”.
Figura 1. Encontro dos rios Paraguai, Uruguai e Paraná.
Fonte: Bacia... (2018, documento on-line).
A questão platina e a Guerra do Paraguai2
Conflitos que precederam a Guerra do Paraguai: 
Guerra contra Oribe e Rosas (1851–1852) e 
Intervenção no Uruguai (1864)
Para ter uma noção do quanto as relações entre esses países eram complicadas 
e instáveis naquele período, podemos citar como exemplo a Guerra contra 
Oribe e Rosas (1851–1852), que fez do Brasil e do Paraguai aliados naquele 
momento, embora ambos, como veremos à frente, tenham se enfrentado na 
Guerra no Paraguai.
O conflito ocorreu em razão de uma aliança feita entre o presidente da 
Argentina, Juan Manoel Rosas, e o ditador uruguaio, Manuel Oribe, que que-
riam formar um país chamado Vice-reinado da Prata, para o qual desejavam 
anexar o Paraguai e parte do Sul do Brasil. Dessa maneira, o Brasil fez uma 
aliança com o Paraguai e com outras duas províncias argentinas, Entre Rios 
e Corrientes, que eram contrárias ao presidente Rosas e seus planos.
O embate teve início em 1951, quando as tropas do Uruguai atacaram o Sul 
do Brasil. D. Pedro II, por sua vez, preparou as tropas brasileiras e as dividiu 
em duas partes, uma para fazer a defesa do Brasil e outra enviada para inva-
dir o Uruguai. Assim que este país foi invadido, Oribe se rendeu e as tropas 
brasileiras e aliadas foram mandadas à Argentina, no início de 1852. Nesse 
mesmo ano, ocorreu a Batalha de Monte Caseros, a principal desse conflito, 
e meses depois as tropas do Brasil e seus aliados venceram a Argentina e 
depuseram o presidente Rosas, dando fim ao conflito.
Naquele contexto, o Uruguai estava passando por anos de guerra civil — 
no poder, estavam os partidos blanco, aliado do Paraguai (representado pelos 
fazendeiros que residiam na fronteira entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai), 
e colorado (que tinha como representantes os comerciantes estabelecidos nos 
centros citadinos urbanos de Montevidéu), mais alinhado com o Brasil.
Com a chegada ao poder do Partido Blanco no Uruguai, o Brasil se uniu ao 
Partido Colorado, ajudando a tirar os blancos do poder, dando fim à guerra civil, 
mas originando, entre outros, o estopim para a Guerra do Paraguai. Isso se deu 
pelo fato de que o ditador Solano López, já comandando o Paraguai, havia dito 
que não queria que o Brasil se envolvesse nas políticas internas do Uruguai, 
porque acreditava que uma guerra civil não deveria sofrer interferência de outros 
países. Como o Brasil não respeitou esse pedido, o Paraguai atacou o Brasil 
em retaliação, dando início à Guerra do Paraguai, embora evidentemente esta 
não tenha sido sua única motivação: foram inúmeros os conflitos territoriais e 
diplomáticos ao longo desse período na Bacia do Prata, além das políticas que 
resultaram, para que eclodisse a maior guerra da América do Sul.
3A questão platina e a Guerra do Paraguai
Situação do Paraguai
Naquele período, o Paraguai havia criado um modelo autônomo de desenvol-
vimento, voltando-se para o mercado interno, que se concretizou a partir de 
uma série de reformas iniciadas desde a primeira metade do século. Segundo 
Malerba (1999), o Estado foi o responsável pelas transformações que resultaram 
no confisco de terras da Igreja e propriedades em situação irregular. Essas 
terras eram distribuídas aos camponeses, que também eram ajudados com o 
fornecimento de insumos, ferramentas e sementes. Nesse período, também se 
monopolizou o comércio. E, apesar de se indispor com a Inglaterra e a Igreja, 
as duas maiores potências da época, o Paraguai conseguiu emplacar um grande 
pico de desenvolvimento. Para Malerba (1999, p. 83):
Entre 1840 e 1862, o ditador Carlos Antonio Lopez promoveu uma renovação 
técnica, enviando centenas de jovens para todos os países da Europa, de onde 
voltavam com conhecimentos técnicos especializados. Incentivou também 
a imigração de europeus. Quando assumiu a presidência Francisco Solano 
Lopez, em 1862, o maior obstáculo ao progresso paraguaio era a falta de 
acesso ao mar. Ao mesmo tempo, o modesto desenvolvimento alcançado 
sem ingerência externa incomodava não apenas ao imperialismo inglês, 
mas também aos interesses do Brasil, Uruguai e Argentina. O desfecho foi a 
guerra, declarada em 1864.
Desde a sua independência em 1811, além de procurar se manter longe de 
conflitos regionais, o Paraguai era um país agrário, e foi apenas após a entrada 
de Solano López, que se autointitulava presidente interino, assumindo o cargo 
com a morte de seu pai, que o país passou a desenvolver sua indústria bélica, 
em virtude dos planos de expansão de Solano, que continuou com a economia 
nacionalista de seus antecessores, apoiando grupos que coincidiam com seus 
interesses, como era o caso do apoio ao Partido Blanco do Uruguai.
A questão platina e a Guerra do Paraguai4
2 Três países e um oponente em comum: 
a formação da Tríplice Aliança
Como vimos anteriormente, a Bacia Platina, onde convergem os rios Paraguai, 
Paraná e Uruguai, foi palco de intensas disputas pelos países que banhava. 
O Império brasileiro, por exemplo, envolveu-se em disputas com a Argentina 
e o Uruguai, tendo alimentando a antipatia popular e, também, dos políticos 
desses países. Mas foi o Paraguai, país que enfrentou obstáculos para se 
desenvolver, que desafiou as regiões com as quais faziafronteira. Conforme 
aponta Malerba (1999, p. 89):
Ao herdar de seu pai a presidência, em 1842, o ditador Francisco Solano Lopes 
traçou um plano ambicioso. Armou um forte exército de aproximadamente 
oitenta mil homens para impor-se à política platina e ainda reivindicar supos-
tos territórios que teriam sido subtraídos ao Paraguai por seus vizinhos. Sua 
estratégia era avançar rapidamente por três áreas — invadir o Mato Grosso, 
a província argentina de Corrientes e, de Uruguaiana, tomar o Rio Grande 
do Sul e o Uruguai. Contava com que as fortes oposições internas dos países 
invadidos lhe apoiariam na derrubada dos governos vigentes.
O pretexto para deflagrar a guerra foi a intervenção do Brasil na Banda 
Oriental (Uruguai), para proteger súditos brasileiros que estavam sendo per-
seguidos na região pelo Partido Blanco de Atanásio Aguirre. Levando em 
consideração que o Brasil não respeitou o ultimato de López de não inter-
vir nos assuntos internos uruguaios, Solano iniciou as operações militares. 
Em novembro do ano de 1864, suas forças capturaram o navio brasileiro 
Marquês de Olinda e aprisionaram o presidente da província de Mato Grosso, 
o coronel Carneiro de Campos, tendo cortado relações com o Brasil.
Depois, avançou-se rumo às províncias do Mato Grosso e de Corrientes. 
Para contê-lo, Brasil, Argentina e Uruguai assinaram, em 1º de maio de 1865, 
o Tratado da Tríplice Aliança (Figura 2). Todavia, apesar do poder que represen-
tavam três países unidos no início das operações, era evidente a inferioridade 
dos 27 mil soldados da aliança contra os 80 mil de López.
5A questão platina e a Guerra do Paraguai
Figura 2. Fotografia de um documento datada de 21 de ou-
tubro de 1866, no qual o marquês de Caxias, que comandava 
as tropas brasileiras, leva ao ministro da Guerra João Lustosa 
de Paranaguá questões referentes às estratégias de guerras e 
políticas da Tríplice Aliança.
Fonte: Cardia (2017, documento on-line).
Durante muitos anos, ao menos ao longo das décadas de 1970 e 1980, 
sustentou-se a ideia de que a causa que deu origem à Guerra do Paraguai teria 
sido o imperialismo britânico, visto que o Paraguai, sob o comando de López 
estaria crescendo e despontando para se tornar a maior potência da América do 
Sul, o que prejudicaria os interesses da Inglaterra na região, levando-a a atuar 
nos bastidores e movimentando as peças para que o conflito ocorresse. Autores 
como Eduardo Galeano (As veias abertas da América Latina), León Pomer 
(A Guerra do Paraguai: a grande tragédia rio-platense e Paraguai: nossa 
A questão platina e a Guerra do Paraguai6
guerra contra esse soldado) e Julio José Chiavenatto (Genocídio americano: 
a Guerra do Paraguai) sustentam em suas teses a ideia de que os motivos 
da guerras devem ser procurados fora do contexto regional. Já autores mais 
recentes, como Fernando Doratioto (A guerra do Paraguai e as relações entre 
o Império do Brasil e a República do Paraguai, 1822-1889) e Moniz Bandeira 
(O expansionismo brasileiro: o papel do Brasil na bacia do Prata, da colo-
nização ao Império), quando pesquisaram as documentações diplomáticas 
britânicas, não encontraram provas que apontassem o envolvimento da In-
glaterra como fomentadora do conflito.
Menezes (1998) endossa essa perspectiva e faz uma análise interessante da 
tensa e problemática relação política entre os países envolvidos no conflito, 
partindo da verificação das motivações regionais relacionadas à Bacia Platina. 
Na década de 1990, Carlos Guilherme Mota, ao se propor reavaliar a questão 
da guerra, afirmou: 
Com efeito, uma reavaliação merece lugar passados 130 anos do início da 
Guerra Grande. […] Revisitá-la sobretudo neste contexto em que novas For-
mas de integração e identidade — termos ambíguos e batidos — desta região 
das Américas parecem querer emergir. Dentre elas, o Mercosul, para cuja 
implantação não se pode dispensar o conhecimento das historicidades dos 
quadros mentais e dos padrões civilizatórios dominantes na região. Mas para 
dobrar esta página da História, torna-se necessário conhecê-la. Revisitá-la 
(MOTA, 1995, p. 244).
Portanto, é preciso se atentar às políticas internas dessas nações à época 
para extrapolar as fronteiras nacionais, compreendendo o envolvimento dos 
aspectos regionais e seus respectivos interesses específicos e princípios em 
determinados contextos políticos, por exemplo, as relações entre federalistas 
blancos e unitários e colorados, que colocavam paralelamente duas concepções 
de pensamento que desempenhariam papel importante na trajetória política 
de toda a região.
De acordo com Menezes (1998), a Argentina, principalmente após a dé-
cada de 1850, aparece no cenário político paraguaio como um problemático 
atrito sob a perspectiva internacional. Disputas antigas, como a idealização 
da reconstrução do Vice-reinado do Prata com a Argentina no comando e o 
exílio diplomático para inúmeros paraguaios que atacavam abertamente o 
regime ditatorial de Solano, publicando categóricas críticas em jornais por-
tenhos, demonstram a existência de atritos entre os países. Ainda de acordo 
7A questão platina e a Guerra do Paraguai
com Menezes (1998), as interferências da Argentina na política interna do 
Uruguai, principalmente durante o governo do presidente Mitre, irritavam 
Solano López e ajudavam em grande medida a aumentar a sua desconfiança 
em relação às intenções da Argentina na região. 
Conforme vimos quanto à Intervenção no Uruguai em 1864, o Brasil teve 
sua participação nos rumos e nas reações de causalidade que levaram à decisão 
belicosa de Solano López. Demarcando a importância do Uruguai no quadro 
regional, Menezes (1998) destaca essa interferência do Brasil favorecendo 
os colorados e atendendo aos pedidos da Província do Rio Grande do Sul 
como uma entrada em rota de colisão direta com os interesses definidos por 
Solano López para as políticas paraguaias, em virtude da aliança entre ele e os 
blancos, que previa uma proximidade maior entre os dois países, envolvendo 
um tratado ofensivo e defensivo entre ambos, além da promoção comercial. 
Assim, quando López decide atacar o Brasil como retaliação e partir para a 
guerra, havia levado em conta esse tratado com o Uruguai. 
Estudos mais detalhados e recentes, que promovem novas perguntas 
e apresentam novos métodos e documentos, dos quais pesquisadores das 
décadas anteriores ainda não dispunham, chegam a um consenso de que 
as causas da guerra estão ligadas aos próprios fatores históricos regionais, 
embora algumas interpretações se concentrem mais nas relações geopolíti-
cas e outras nas econômicas. Contudo, vale ressaltar que essas tensões não 
estão dadas, mas são extremamente complexas e merecem muito cuidado 
quando de sua análise. 
Entre no site do Senado e procure no acervo “A guerra da triplice aliança (Imperio 
do Brazil, Republica Argentina e Republica Oriental do Uruguay) contra o governo 
da Republica do Paraguay (1864-1870) com cartas e planos”, obra clássica e rara, de 
documentação e testemunho pessoal sobre as motivações da Tríplice Aliança, que 
conta com mapas, plantas topográficas e hidrográficas, organização das tropas e 
cartas de combate.
A questão platina e a Guerra do Paraguai8
3 Brasil na maior guerra da América do Sul
Muitos historiadores concordam quanto à participação do Brasil na Guerra 
do Paraguai e às decisões tomadas por D. Pedro II: o ponto fixado é de que a 
Guerra poderia ter sido menos devastadora ou, no mínimo, ter poupado mais 
vidas, inclusive da população civil paraguaia, caso D. Pedro II não tivesse 
insistido em encontrar e matar Solano López. Ao tomar as principais bases 
militares do Paraguai, era incontestável que o Paraguai havia perdido a guerra.
Todavia, quando foi feito o Tratado da Tríplice Aliança, uma das exigências 
do imperador era de que a guerra só chegaria com a morte de Solano López, 
condição que, àquela altura, já não era mais importante para o Uruguai e a 
Argentina, mas, por imposição do Brasil, que tinhainteresse em consolidar sua 
hegemonia na Bacia do Prata, levou a Tríplice Aliança a continuar avançando 
Paraguai adentro, dizimando as tropas, já muito pequenas, paraguaias até 
tomarem Asunción e matar Solano. 
Houve consequências gravíssimas avindas desse evento, como a quantidade 
exorbitante de mortes, o recrutamento compulsório de soldados de ambos 
os lados da disputa, os problemas econômicos na recuperação dos países e a 
formação de suas identidades como nação. 
Participação dos negros/escravizados na 
Guerra do Paraguai
De acordo com Toral (1995), não há novidade no fato de que o exército brasi-
leiro era formado, em sua maioria, por escravos durante o período da guerra. 
Segundo o autor, redatores de jornais paraguaios da época menosprezavam o 
exército brasileiro por isso, argumentando que, em virtude de sua formação 
majoritariamente negra, teria uma qualidade menor. Ainda, havia debates de 
que esses negros escravos eram recrutados de modo compulsório.
Toral (1995) também afirma que, em 1850, 14 anos antes da guerra, 
a população brasileira era composta por cerca de 10 milhões de pessoas, 
das quais um quarto era constituído por pessoas escravizadas. Insuficiente, 
o exército brasileiro passou a ser reforçado para atuar na guerra pela polícia 
e pela Guarda Nacional das províncias do império. 
9A questão platina e a Guerra do Paraguai
Em 1865, foram criados no Rio de Janeiro, por D. Pedro II, sob o Decreto 
nº. 3.371, os Corpos de Voluntários da Pátria (Figura 3), com o intuito de 
mobilizar o movimento patriótico, fazendo, em um primeiro momento, muitas 
pessoas se alistarem para lutar contra a intrusão paraguaia do Rio Grande 
do Sul e de Mato Grosso. Todavia, com o anúncio da guerra, o entusiasmo 
popular se arrefeceu. De acordo com Shulz (1994), ainda em 1865, teve início 
o recrutamento forçado para formação dos Corpos de Voluntários da Pátria, 
quando o termo “voluntários” acabou se tornando uma piada.
Figura 3. Distintivo dos Voluntários da Pátria, em uma chapa de metal amarelo, para que 
os soldados colocassem no braço esquerdo.
Fonte: Raro distintivo... (2008, documento on-line).
A questão platina e a Guerra do Paraguai10
Os cidadãos do império tinham várias formas de se esquivar dessas con-
vocações compulsórias. Aqueles com maiores condições financeiras faziam 
doações de recursos, empregados, equipamentos e escravos para a Guarda 
Nacional e os Corpos de Voluntários para que lutassem em seu lugar. Àqueles 
que não dispunham de bens, só restava fugir para o mato para se livrar do 
alistamento. De acordo com Toral (1995, p. 292):
A compra de substitutos, ou seja, a compra de escravos para lutarem em nome 
de seus proprietários, tornou-se prática corrente. Sociedades patrióticas, con-
ventos e o governo encarregavam-se, além disso, da compra de escravos para 
lutarem na guerra. O império prometia alforria para os que se apresentassem 
para a guerra, fazendo vista grossa para os fugidos.
Trecho corroborado em seguida:
Os mais aquinhoados têm mais condições de escaparem; os mais pobres 
recorrem ao exílio dos matos. O que menos dispõe de meios de resistência é 
exatamente o escravo, que troca a enxada pelo mosquetão, deixa de obedecer 
ao capataz e entrega sua vida ao senhor oficial (TORAL, 1995, p. 293).
Ainda de acordo com Toral (1995), a Guarda Nacional, apesar de se inspirar 
no modelo liberal francês, terminou sob o serviço de oligarquias, alistando 
compulsoriamente qualquer pessoa desde que fosse pobre ou adversária po-
lítica. E, no caso do escravizado, além da convocação compulsória, ele sofria 
discriminação racial dentro do exército.
Paralelamente a esses episódios de recrutamento forçado, outro aspecto que 
merece destaque, e de suma importância para pensarmos atos que ocorreram 
após o fim do Império brasileiro, refere-se ao aprimoramento do exército 
brasileiro. Como dito anteriormente, no início da guerra, o exército paraguaio 
sob o comando de Solano López era extremamente maior e mais preparado 
que os três países da Tríplice Aliança juntos, aspecto decisivo para que o 
governo brasileiro repensasse a estrutura do exército e investisse em seu 
fortalecimento como instituição nacional, dotado de poder político, porque 
somente dessa maneira haveria a possibilidade de enfrentar o bem treinado 
e forte exército de López. 
11A questão platina e a Guerra do Paraguai
Após a campanha vitoriosa na guerra e a morte de López, o exército bra-
sileiro lançou-se como uma importante força política no fim do Segundo 
Reinado, o que contribuiu de maneira fundamental com os pensamentos e 
posicionamentos republicanos, que culminaram, dessa maneira, no golpe de 
Estado que inaugurou o período da República no Brasil, em 1889. 
A importância e a aclamação do exército brasileiro podem ser notadas não 
apenas no que foi exposto, mas também na maneira como se deu a construção 
de figuras comumente lembradas como heróis nacionais, como Duque de 
Caxias, que recebeu o título de “Patrono do Exército” durante a guerra e teve 
seu nome ligado a questões como a união nacional e a ordem. Outro nome 
importante ligado ao exército desse período, o Marechal Deodoro da Fonseca, 
foi líder do movimento antiescravista do exército e o primeiro presidente do 
país no período republicano. 
Interferências da guerra na política interna brasileira
Em 1864, Solano López já iniciava suas aventuras e provocava tensões polí-
ticas fortes no Brasil. Francisco José Furtado, então ministro, era adepto da 
tentativa de resolver os problemas de modo pacífico, seguindo as orientações 
de Silva Paranhos, que era diplomata e cuidava das negociações políticas na 
região do Prata. Todavia, a simpatia da opinião pública, dos parlamentares e 
do próprio D. Pedro II se voltavam ao Almirante Tamandaré, defensor da luta 
armada para a resolução dos conflitos. 
De acordo com Malerba (1999), a guerra absorveu quase toda a riqueza do 
Brasil, que foi obrigado a fazer muitos empréstimos no exterior, tendo ficado 
extremamente endividado, a partir de uma crise comercial que ocorreu às 
vésperas da invasão do Mato Grosso:
Os custos já astronômicos da atividade bélica eram aumentados devido aos 
abusos e extorsões de funcionários corruptos e intermediários envolvidos 
nos contratos de compra de material. Além de sua própria falência, o Brasil 
era obrigado a financiar seus dois aliados, cuja queda colocaria em risco a 
própria Aliança. Assim, o Erário brasileiro atolou-se em dívidas contraídas 
de credores europeus. Entre 1866 e 1868, a guerra consumiu aproximada-
mente 60% da receita do país, forçando o governo a emitir grande quantia de 
títulos da dívida pública e papel moeda, detonando o processo inflacionário 
(MALERBA, 1999, p. 93).
A questão platina e a Guerra do Paraguai12
Outro aspecto que merece atenção quanto ao modo como a guerra atingiu 
a política interna brasileira foi a questão da administração da opinião pública 
tanto dos inimigos quanto do governo brasileiro, o que acabou se tornando uma 
guerra de representações. Ambos os lados manipulavam dados e informações 
para benefício próprio, como perdas ou ganhos, baixas de tropas. 
Mesmo com o clima de instabilidade das finanças públicas, determinados 
setores da economia, como algumas empresas estrangeiras e associações 
mercantis nacionais, se beneficiaram da baixa do câmbio e conseguiram 
prosperar. No entanto, a situação inflacionária era insustentável, e esses grupos 
econômicos adensaram as fileiras dos descontentes com o governo imperial. 
Como afirma Malerba (1999), o sistema representativo inteiramente viciado, 
aliado a práticas fraudulentas de protecionismo e clientelismo tão comuns 
ao longo da história administrativa do Império, começou a ser publicamente 
criticado. O patronato, que denominava tais práticas, baseava-se no aliciamento 
dos eleitores em troca de cargos e favores públicos. Nesse meio corrupto, 
grandes comissões e benefícios a funcionários de ofício, que planejavam os 
negócios da guerra nas antessalase nos corredores, eram praticamente normais 
para o cotidiano do favoritismo que se espalhava pela administração pública. 
Fazendo um balanço geral, a importância da Guerra do Paraguai para o 
Brasil pode perfeitamente demarcar dois momentos da monarquia: antes da 
guerra, o regime estava no ápice e, com muita força, recebia críticas, mas 
nenhuma delas contestava a legitimidade da Coroa; após a guerra, as con-
tradições que a sociedade apresentava ganharam proporções incontroláveis, 
caminhando-se para o desfecho conhecido de 1889.
Vale a pena conferir o livro Iaiá Garcia, de Machado de Assis, publicado originalmente 
em 1878 e escrito no contexto da Guerra do Paraguai, cuja narrativa traz muitos pontos 
que se cruzam com esse momento histórico. Aliás, o tema da guerra é recorrente em 
toda a obra machadiana! 
13A questão platina e a Guerra do Paraguai
BACIA do Prata: Conheça detalhes de umas das mais importantes regiões do planeta do 
ponto de vista da diversidade biológica. Ecoa, Campo Grande, 16 jul. 2018. Disponível 
em: https://ecoa.org.br/bacia-do-prata/. Acesso em: 29 jul. 2020.
CARDIA, M. L. Guerra do Paraguai ou da Tríplice Aliança. Arquivo Nacional, Rio de Janeiro; 
Brasília, 15 dez. 2017. Disponível em: http://arquivonacional.gov.br/br/difusao/arquivo-
-na-historia/848-guerra-do-paraguai-ou-da-triplice-alianca. Acesso em: 29 jul. 2020.
MALERBA, J. O Brasil imperial, 1808-1889: panorama da história do Brasil no século XIX. 
Maringá: Eduem, 1999. 192 p.
MENEZES, A. M. Guerra do Paraguai: como construímos o conflito. São Paulo: Contexto; 
Cuiabá: UFMT, 1998. 174 p.
MOTA, C. G. História de um silêncio: a guerra contra o Paraguai (1864-1870) 130 anos de-
pois. Estudos Avançados, São Paulo, v. 9, n. 24, p. 243–254, maio/ago. 1995. Disponível em: 
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141995000200012&ln
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RARO Distintivo de “Voluntário da Pátria” – Guerra do Paraguai. MP Militaria, São Paulo, 
2008. SCHULZ, J. O exército na política: origens da intervenção militar, 1850-1894. São 
Paulo, Edusp, 1994. 224 p.
TORAL, A. A. A participação dos negros escravos na guerra do Paraguai. Estudos Avan-
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scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141995000200015&lng=pt&nrm
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Leituras recomendadas
DORATIOTO, F. Maldita guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
PENNA FILHO, P. Guerra do Paraguai: como construímos o conflito. Revista Brasileira 
de Política Internacional, Brasília, v.  41, n. 1, p. 209–211, jul. 1998. Disponível em: http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73291998000100012&lng=p
t&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 29 jul. 2020.
SCHNEIDER, L. A guerra da triplice alliança (Imperio do Brazil, Republica Argentina e Republica 
Oriental do Uruguay) contra o governo da Republica do Paraguay (1864-1870) com cartas e 
planos. Rio de Janeiro: Typographia Americana, 1875–1876. 2 v. Disponível em: https://
www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/242552. Acesso em: 29 jul. 2020.
A questão platina e a Guerra do Paraguai14
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15A questão platina e a Guerra do Paraguai

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