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CURSO INTENSIVO PARA RESIDÊNCIAS N U T R I ÇÃO NUTRIÇÃO MATERNO INFANTIL PROFESSORA Mariane dos Santos Gonçalves Gabriela Perez PROFESSORA E ORGANIZADORA Mestranda em Ciência de Alimentos, pela Faculdade de Farmácia da Universidade Fede- ral da Bahia. Graduada em Nutrição pela Universidade Federal da Bahia. Possui experiên- cia em Nutrição Clínica e Doenças Metabólicas. Supervisora dos cursos preparatórios de Nutrição da Sanar. Nutricionista graduada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestre e Doutora em Alimentos, Nutrição e Saúde pela UFBA com período sanduíche na University of Nottingham, Inglaterra. Es- pecialista em Nutrição Clínica e Nutrição e Saúde Pública. Pesquisadora nos Grupos de Nutrição, Sistema Nervoso e Imunológico; Bases Experimentais e Clínicas da Nutrição na UFBA. Possui experiência atuando como Servidora Pública, Nutricionista Clínica, Nu- tricionista de home care e docência para cursos de graduação e pós graduação na área da Nutrição Clínica. Mentora, autora e professora de diversas disciplinas para Concursos e Residências em Nutrição. 2020 © Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos à Editora Sanar Ltda. pela Lei nº 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume ou qualquer parte deste livro, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, gravação, fotocópia ou outros), essas proibições aplicam-se também à editoração da obra, bem como às suas características gráficas, sem permissão expressa da Editora. Intensivo para residências em nutrição: Nutrição Materno Infantil Karen Nina Nolasco Microart Design Editorial Fabrício Sawczen Microart Design Editorial Caio Vinicius Menezes Nunes Paulo Costa Lima Sandra de Quadros Uzêda Silvio José Albergaria da Silva Título | Editor | Diagramação| Projeto gráfico e Capa | Revisor Ortográfico | Conselho Editorial | Editora Sanar S.A R. Alceu Amoroso Lima, 172 – Salvador Office & Pool, 3ro Andar – Caminho das Árvores CEP 41820-770, Salvador – BA Tel.: 0800 337 6262 atendimento@sanar.com www.sanarsaude.com Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Tuxped Serviços Editoriais (São Paulo-SP) Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Pedro Anizio Gomes CRB-8 8846 ÍNDICE PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO 1. Nutrição. 2. Nutrição. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA PEREZ, Gabriela. Intensivo para residências em Nutrição: Nutrição Materno Infantil. 1. ed. Salvador, BA: Editora Sanar, 2020. EBook (PDF). ISBN 978-65-86246-96-4. P438IM PEREZ, Gabriela. Intensivo para residências em Nutrição: Nutrição Materno Infantil / Gabriela Perez. – 1. ed. – Salvador, BA : Editora Sanar, 2020. 81 p.; il.. E-Book: PDF. Inclui bibliografia. ISBN 978-65-86246-96-4 1. Infantil. 2. Materno. 3. Medicina. 4. Nutrição. 5. Residências. I. Título. II. Assunto. III. Perez, Gabriela. CDD 613 CDU 612.3 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Estimativa das necessidades energéticas diárias da gestante Figura 2 – Recomendação de micronutrientes na gestação Figura 3 – Fatores de risco para diabetes gestacional Figura 4 – Síndromes Hipertensivas na gestação Figura 5 – Fatores de risco para doença hipertensiva específica da gravidez Figura 6 – Orientações Nutricionais para Pirose e RGE Figura 7 – Fisiologia da Lactação Figura 8 – Contra indicações no Aleitamento Materno Figura 9 – Especificações gerais da fórmula infantil Figura 10 – Classificação do recém-nascido com base na maturidade e no cresci- mento intrauterino LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Adaptações fisiológicas que acontecem na gestação Quadro 2 – Principais hormônios envolvidos nas alterações fisiológicas da gravidez Quadro 3 – Ganho de peso gestacional de acordo com o IMC pré-gravídico Quadro 4 – Adicional energético gestacional recomendado por trimestre Quadro 5 – Recomendação de micronutrientes na gestação Quadro 6 – Administração da suplementação profilática de sulfato ferroso e ácido fólico Quadro 7 – Principais contribuições dos micronutrientes durante a gestação Quadro 8 – Complicações do diabetes gestacional Quadro 9 – Perda de Peso recomendada no pós parto Quadro 10 – Adicional energético para o primeiro e segundo semestre da lactante. Principais referências nutricionais Quadro 11 – Recomendação de proteína para nutrizes Quadro 12 – Recomendação nutricional dos principais micronutrientes para nutri- zes baseado nas recomendações das DRI's Quadro 13 – Composição do colostro e do leite maduro por 100 mL Quadro 14 – Tempo de suspensão do aleitamento materno x drogas utilizadas Quadro 15 – Composição do leite Materno e do Leite de Vaca Quadro 16 – Reconstituição e diluição do leite de vaca para crianças de até quatro meses Quadro 17 – Fórmulas para crianças em situações especiais Quadro 18 – Recomendação energética Parenteral e Enteral para RN pré termo Quadro 19 – 12 passos para alimentação saudável em menores de 2 anos Quadro 20 – Esquema alimentar para crianças amamentadas Quadro 21 – Esquema alimentar para crianças não amamentadas em uso de fórmu- la infantil Quadro 22 – Esquema alimentar para crianças não amamentadas em uso de leite de vaca Quadro 23 – Exemplos de alimentos de cada grupo alimentar SUMÁRIO Apresentação .................................................................................... 7 1. Gestação ......................................................................................... 8 1.1 Alterações Fisiometabólicas ................................................ 8 1.2 Necessidades e Recomendações Nutricionais ................. 10 1.3 Recomendação Energética e de Macronutrientes............ 11 1.4 Intercorrências clínicas e obstétricas mais frequentes . 18 1.5 Orientações para Situações Especiais .............................. 22 2. Lactação ......................................................................................... 30 2.1 Fisiologia da Lactação .......................................................... 30 2.2 Necessidades Nutricionais – Lactação .............................. 31 2.4 Aleitamento Materno e Composição Nutricional do LM 37 3. Alimentação na Primeira Infância .............................................. 48 3.1 Alimentação Natural e Artificial do Lactente ................... 48 3.2 Alergia à Proteína do Leite de Vaca ................................... 53 3.3 Prematuros ............................................................................ 55 3.4 Alimentação Complementar .............................................. 62 3.5 Alimentação de crianças vegetarianas ............................. 69 3.6 Erros Inatos do Metabolismo ............................................ 70 Gabarito ............................................................................................. 78 Referências ....................................................................................... 79 Olá futuro(a) residente! Seja bem-vindo(a) à aula sobre Nutrição Materno Infantil. Esta aula abran- ge o entendimento sobre as alterações fisiometabólicas, recomendações nutricionais para gestantes, lactantes e criança com até dois anos de ida- de, focando nos assuntos mais vistos nas provas para Residência em Nutrição. Aqui você poderá reforçar o conhecimento sobre os pontos mais impor- tantes de Materno Infantil, a partir de uma leitura fácil e com dicas para você gabaritar sua prova! No decorrer do texto, poderá testar seu apren- dizado com questões de provas anteriores, e assistir a pocket aulas com aquele conteúdo que você não pode deixar de saber para realizar com ex- celência as provas da sua tão sonhada residência! Não esqueça de que ao final do curso você poderá revisar todo o conteúdo dessa disciplina com uma videoaula, além de aulas com questões comen- tadas das provas anteriores, e simulados para você colocar em prática tudo o que aprendeu. Vamos lá? APRESENTAÇÃO Clique no ícone para assistir a apresentação gravada. http://sanar.link/2pYzl 8Curso Intensivo paraResidências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil 1. GESTAÇÃO 1.1 ALTERAÇÕES FISIOMETABÓLICAS A gestação é uma das etapas da vida da mulher caracterizada pelo inten- so anabolismo (formação de novos tecidos) determinando expressivo au- mento das necessidades nutricionais. Para criar um ambiente propício ao crescimento e desenvolvimento do embrião, diversas alterações fisio- metabólicas acontecem, sendo muito importante se atentar a algumas informações. Lembre-se de que aqui iremos abordar o que as provas cos- tumam trazer com maior frequência. Essas adaptações fisiológicas envolvem modificações sistêmicas, hor- monais e metabólicas (Quadro 1). Quadro 1 – Adaptações fisiológicas que acontecem na gestação SISTEMA CIRCULATÓRIO Aumento do rendimento cardíaco (30 a 40% por volta da 10ª a 12ª SG) Aumento do volume sanguíneo ( a partir da 6ª SG) Menores taxas de hematócrito e hemoglobina associados à elevação do volume plasmático (anemia fisiológica) Fluxo sanguíneo renal aumentado no 1º trimestre e diminuído no último mês SISTEMA DIGESTÓRIO Ptialismo ou sialorreia Náuseas enjoos e vômitos Redução da motilidade gastrointestinal – provocando constipação in- testinal e hemorroidas Hipotonia do intestino delgado (maior absorção de nutrientes e água) EQUILÍBRIO HIDROELETRO- LÍTICO Acréscimo de 7,5 L de água (sem edema) Ativação do sistema renina-angiotesina-aldosterona para manter a homeostase materna. SISTEMA URINÁRIO Aumento da taxa de filtração glomerular e do fluxo renal Aumento de filtração de glicose (glicosúria fisiológica, mesmo sem ele- vação da glicemia) Fonte: Adaptado de Accioly, 2009. 9Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil Os hormônios são os principais responsáveis pelas alterações no corpo ma- terno. Nas provas de residência é comum encontrarmos questões que rela- cionam o hormônio com a sua respectiva função. Logo a seguir, temos um quadro resumo desses hormônios e suas principais funções destacadas. É muito importante que entendam e memorizem as informações do Quadro 2. Quadro 2 – Principais hormônios envolvidos nas alterações fisiológicas da gravidez Hormônios Principais ações Gonadotrofina Co- riônica Humana • Impede a rejeição imunológica do embrião • Estimula a produção de: - Relaxina, progesterona e estrogênio; -Testosterona no testículo do feto masculino até o nascimento. Lactogênio Placentá- rio Humano • Estimula a glicogenólise (aumentando a glicemia materna); • Estimula a lipólise e aumento de AGL no sangue (favorecendo a capta- ção de glicose e aminoácidos pelo feto). Progesterona • Reduz a motilidade do trato gastrointestinal; • Favorece a deposição materna de gordura; • Aumenta a excreção renal de sódio (efeito natriurético); • Interfere no metabolismo do ácido fólico; • Estimula o apetite materno na primeira metade da gestação. Estrogênio • Reduz as proteínas séricas; • Aumenta as propriedades hidroscópicas dos tecidos (favorecendo o crescimento uterino); • Interfere a função da tireoide; • Influencia no metabolismo do ácido fólico; • Causa hiperpigmentação cutânea; • Atua nas modificações no metabolismo glicídico. Hormônio do Cresci- mento • Eleva a glicemia; • Estimula o crescimento dos ossos longos; • Promove a retenção de nitrogênio. Aldosterona • Atua na retenção de sódio e excreção de potássio. Calcitocina • Inibe a reabsorção óssea de cálcio. Fonte: Adaptado de Accioly, Saunders e Lacerda, 2009. 10Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil ACERTE O ALVO! Atenção: o hormônio Lactogênio Placentário Humano (também conhecido como somatomatrofina coriônica humana) não está envolvido na produção láctea. 1.2 NECESSIDADES E RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS Como dito anteriormente, a gestante passa por diversas modificações metabólicas para receber o embrião. E para que tudo ocorra bem, é neces- sário que a nutriz ganhe peso de forma satisfatória e consuma a quantida- de adequada de energia e nutrientes. No Quadro 3, temos a recomenda- ção de ganho de peso da gestante de acordo com o IMC pré-gestacional. É válido destacar a importância da memorização dessas recomendações, pois é muito comum encontrarmos questões que abordam esse tópico. Quadro 3 – Ganho de peso gestacional de acordo com o IMC pré-gravídico Estado Nutri- cional Inicial IMC (kg/ m²) Ganho de peso sema- nal no 2º e 3º trimes- tre (kg)* Ganho de peso total da gestação Baixo Peso < 18,5 0,5 (0,44 – 0,58) 12,5 – 18 Adequado 18,5 – 24,9 0,4 (0,35 – 0,50) 11 – 16 Sobrepeso 25 – 29,9 0,3 (0,23 – 0,33) 7 – 11,5 Obesidade >30 0,2 (0,17 – 0,27) 5 – 9 *Os cálculos assumem um ganho de peso de 0,5 a 2 kg no primeiro trimestre. Fonte: IOM, 2009. Observe que a recomendação de ganho de peso total é inversamente pro- porcional ao IMC pré-gravídico. Quanto maior o IMC, menor será a faixa recomendada de ganho de peso. 11Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil 1.3 RECOMENDAÇÃO ENERGÉTICA E DE MACRONUTRIENTES O cálculo das recomendações energéticas da gestante acontece em ba- sicamente três etapas. Na primeira etapa são realizadas a avaliação do estado nutricional inicial e a verificação do ganho de peso total recomen- dado para a gestante. Na segunda etapa é feito o cálculo do gasto energé- tico, considerando a taxa metabólica basal e o nível de atividade física. Na terceira etapa é calculado o gasto energético total, considerando o gasto energético previamente calculado e o adicional energético da gravidez (Figura 1). Figura 1 – Estimativa das necessidades energéticas diárias da gestante Taxa Metabólica Basal Gasto Energético Adicional Energético Gasto Energético Total Nível de Atividade Física x = + = Fonte: Autoria Própria, 2020. O valor do adicional energético muda conforme o trimestre da gestação. No 2º e 3º trimestres a demanda energética é maior e, por consequência, o adicional energético também será maior. Nota-se que esses valores também mudam conforme a referência. No quadro a seguir listamos os valores do adicional energético por trimestre. 12Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil Quadro 4 – Adicional energético gestacional recomendado por trimestre Adicional energético 1º trimestre 2º trimestre 3º trimestre FAO, 2004 85 kcal/dia 285 kcal/dia 475 kcal/dia DRI, 2002 - 340 a 360 kcal/dia +112kcal/dia 452 a 372 kcal/dia Fonte: Autoria Própria, 2020. A demanda proteica de gestantes no primeiro trimestre gestacional é si- milar à de uma mulher não grávida. Já no segundo e terceiro trimestres, a demanda por proteína aumenta devido ao aumento dos tecidos fetais e placentários. Segundo a FAO/OMS (2007) é recomendado um adicional proteico de 0,7g no primeiro trimestre, 9,6 g/dia no 2º trimestre e 31,2 g/ dia no 3º trimestre. Em relação aos carboidratos, a necessidade média estimada (EAR) é de 135g/dia e a ingestão adequada é de 175g/dia. A recomendação de fibras durante a gestação é de 28g/dia (DRI, Krause) ou 25 g/dia (Accioly). Quan- to aos lipídios, estes não devem ultrapassar 30% das calorias diárias. MICRONUTRIENTES NA GESTAÇÃO No Quadro 5, trouxemos a recomendação diária dos micronutrientes mais importantes da gestação. Para alguns deles, é necessária uma atenção mais especial. São micronutrientes que não têm uma demanda fixa duran- te a gestação, ou que, em casos especiais, é preciso suplementar. 13Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil Quadro 5 – Recomendação de micronutrientes na gestação Gestantes Vit A (µg/d) Vit C (mg/d) Tiamina (mg/d) Niacina (mg/d) B6 (mg/d) Folato (µg/d) B12 (µg/d) B5 (mg/d) Colina (mg/d) 14 a 18 anos 750 80 1.4 18 1.9 600 2.6 6 450 19 a 30 anos 770 85 1.4 18 1.9 600 2.6 6 450 31 a 50 anos 770 85 1.4 18 1.9 600 2.6 6 450 Gestantes Ca (mg/d) Cr (ug/d) Cobre (ug/d) Fe (mg/d) Se (ug/d) Zn (mg/d) Na (g/d) P (mg/d) K (g/d) 14 a 18anos 1300 44 1000 27 60 12 1.5 1250 4.7 19 a 30 anos 1000 45 1000 27 60 11 1.5 700 4.7 31 a 50 anos 1000 45 1000 27 60 11 1.5 700 4.7 Fonte: IOM, 2004. Figura 2 – Recomendação de micronutrientes na gestação Para as Vitaminas: Sem Alteração Vitamina D;; Vitamina E; Vitamina Ka; Biotina. Aumento das demandas Vitamina A; Vitamina C; B1, B2, B3, B5, B6, B9, B12; Colina Fonte: Autoria Própria, 2020. ; . 14Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil Continuação Figura 2 – Recomendação de micronutrientes na gestação Para os Minerais: Aumento das demandas Fe, Zn, Se, Mg; Cobre, Iodo, Mn, Mb, K Sem Alteração Cálcio; Fósforo; Sódio, flúor e cloro. Fonte: Autoria Própria, 2020. A suplementação de ferro e ácido fólico durante a gestação é uma medi- da profilática para evitar anemia e reduzir o risco de baixo peso da criança ao nascer e defeitos no tubo neural. Segundo o Manual de Condutas Gerais do Programa Nacional de Suple- mentação de Ferro (2013), a suplementação em gestantes deve ser inicia- da no pré-natal independentemente da idade gestacional e se estender até o final da gravidez. O Quadro 6 mostra como deve ser o esquema de suplementação tanto para gestantes quanto para crianças e mulheres pós-parto e pós-aborto. Quadro 6 – Administração da suplementação profilática de sulfato ferroso e ácido fólico Público Conduta Periodicidade Crianças de seis a 24 meses 1 mg de ferro elementar/kg Diariamente até completar 24 meses Gestantes 40 mg de ferro elementar e 400 µg de ácido fólico Diariamente até o final da gestação Mulheres no pós-parto e pós- -aborto 40 mg de ferro elementar Diariamente até o terceiro mês pós-parto e até o tercei- ro mês pós-aborto Fonte: Brasil, 2013. . 15Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil Além disso, por ser considerado grupo de risco, gestantes precisam man- ter níveis séricos de vitamina D entre 30 e 60 ng/mL. Caso apresentem níveis séricos abaixo do recomendado, deverão receber suplementação de vitamina D durante toda a gestação, pois a deficiência de vitamina D pode estar associada ao menor peso ao nascer, maior risco de diabetes gestacional e pré-eclâmpsia, e, ainda, infecções virais. Isso demonstra que os micronutrientes executam papel fundamental na gestação. No Quadro 7 trouxemos as principais contribuições dos micro- nutrientes que mais influenciam no período da gestação. Quadro 7 – Principais contribuições dos micronutrientes durante a gestação Micronutriente Contribuições na gestação Vitamina A Diferenciação Celular; Crescimento e desenvolvimento fetal (coração, olhos e ouvido) Sistema imunológico. Deficiência: defeitos congênitos cerebrais, oculares, auditivos, do aparelho gênito-urinário e cardiovascular do embrião. Vitamina D Essencial para o equilíbrio de cálcio e fósforo; Envolvido no crescimento ósseo e desenvolvimento cerebral. Deficiência: hipocalcemia neonatal, alteração no crescimento fetal, hipo- plasia de esmalte na dentição da criança, maior risco de diabetes gestacio- nal e pré-eclâmpsia. Vitamina E Antioxidante. Deficiência: anemia hemolítica em prematuros, anormalidades neuromus- culares e falhas na reprodução. Vitamina K Indispensável para a síntese de protombina e fatores de coagulação; Recém-nascidos são suscetíveis à deficiência de vitamina K devido à baixa transferência placentária; Recomendação de dose profilática de vitamina K ao RN logo após o parto (1-2 mg). Tiamina (B1) Participa no metabolismo de carboidratos, proteínas, ácidos nucleicos e gorduras. Deficiência: prejudica o desenvolvimento cerebral. Fonte: Adaptado de Accioly, Saunders e Lacerda, 2009. 16Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil Continuação Quadro 7 – Principais contribuições dos micronutrientes durante a gestação Micronutriente Contribuições na gestação Riboflavina (B2) Catalizadora de reação de oxirredução; Atua na formação de células vermelhas no sangue, na regulação de enzi- mas tireoidianas e na neoglicogênese. Deficiência grave: baixo peso ao nascer, defeitos congênitos e morte fetal. Niacina (B3) Participação em processos metabólicos (glicólise, metabolismo de AG e respiração tecidual). Piridoxina (B6) Envolvida no metabolismo proteico; Atua na conversão do AG linoleico em AG araquidônico; Possui papel importante no desenvolvimento do sistema nervoso central; Suplementação na hiperêmese gravídica pode ser indicada. Ácido Fólico (B9) Formação do tubo neural; Interfere no alargamento do útero, no crescimento da placenta e do feto. Deficiência: associado aborto espontâneo, pré-eclâmpsia, restrito cresci- mento intrauterino, hemorragia (gestante); defeitos do tubo neural e espi- nha bífida (embrião). Cobalamina (B12) Atua na conversão da homocisteína em metionina, e na transformação da forma ativa do ácido fólico. Deficiência: Lesão hematológica, anemia megaloblástica, distúrbios neuro- lógicos. Cálcio Formação de ossos e dentes, contração e vasodilatação vascular, trans- missão nervosa. Deficiência: prejuízo no crescimento e desenvolvimento fetal, aumenta pressão sanguínea, estimula contrações uterinas e, consequentemente, parto prematuro. Fósforo Possui funções metabólicas nas células e no fluido extracelular; Desequilíbrio na relação cálcio e fósforo está relacionado com o apareci- mento de cãibras. Ferro Necessário para repor as perdas basais e para expansão da massa eritro- citária; Suprimento das necessidades para crescimento do feto e da placenta; Necessário para a reposição de perdas sanguíneas durante o parto. Deficiência: aumento de mortalidade perinatal, prematuridade, alterações no sistema imune, prejuízo no crescimento e desenvolvimento fetal. Magnésio Participa do metabolismo lipídico, proteico e de carboidratos; Atua na conversa da forma ativa da vitamina D. Deficiência: malformação fetal. Fonte: Adaptado de Accioly, Saunders e Lacerda, 2009. 17Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil Atenção para o consumo de cafeína e álcool durante a gravidez! CAFEÍNA A restrição da ingestão de cafeína só é recomendada em contextos es- pecíficos. Em mulheres que tenham uma ingestão superior a 300 mg por dia é recomendado uma diminuição da ingestão diária durante a gravidez (OMS, 2016). Essa recomendação evita o baixo peso ao nascer em RN e diminui o risco de aborto espontâneo. É válido ressaltar que a cafeína não está presente apenas no café puro, outras bebidas (como chá, refrigeran- tes à base de cola, bebidas energéticas com cafeína, chocolate, barras de cafeína) devem ser consideradas no cálculo de ingestão diária de cafeína. Além disso, a cafeína afeta a biodisponibilidade de cálcio e ferro (micro- nutrientes essenciais na gestação), então, deve-se evitar o consumo de- les nutrientes numa mesma refeição. ÁLCOOL O consumo de álcool durante a gestação deve ser evitado devido ao risco de desenvolver síndrome alcoólica fetal, descolamento prematuro da pla- centa e aborto. A síndrome alcoólica fetal engloba características como: microcefalia, anormalidades no crescimento e desenvolvimento, altera- ções oculares e esqueléticas (Accioly, Saunders e Lacerda, 2009). Assista agora a Pocket Aula sobre Gestação – Parte I clicando no ícone ao lado http://sanar.link/jenwU 18Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil 1.4 INTERCORRÊNCIAS CLÍNICAS E OBSTÉTRICAS MAIS FREQUENTES DIABETES GESTACIONAL A diabetes mellitus gestacional é caracterizada pela alteração no metabo- lismo dos carboidratos, causando elevação da glicemia no sangue, sendo iniciada na gravidez. Essa hiperglicemia pode persistir ou não após o parto (SBD, 2018). Na figura 3 listamos fatores de risco para diabetes gestacional. Figura 3 – Fatores de risco para diabetes gestacional Idade igual ou superior a 35 anos Ganho de peso excessivo durante a gestação Excesso de gordura na região central Síndromede ovários policísticos História familiar de DM em parentes de 1º grau Baixa estatura (≤1,50m) Crescimento fetal excessivo Hipertensão ou pré- eclâmpsia na gravidez atual Fonte: Adaptado do Manual Atenção ao prénatal. de baixo risco, 2013. Quando não tratada, a diabetes gestacional pode trazer consequências tanto para a gestante quanto para o feto. No Quadro 8, detalhamos as principais complicações decorrentes da diabetes gestacional. 19Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil Quadro 8 – Complicações do diabetes gestacional Complicações Gestante Feto Bebê Aumento da incidência de pré- -eclâmpsia na gravidez atual. Maior possibilidade de desen- volver DM e tolerância diminuí- da a carboidratos no futuro. Macrossomia e morte. Hipoglicemia; Icterícia; Sofrimento respiratório; Policitemia; Hipocalcemia. Fonte: Brasil, 2013. Na Diretriz Brasileira de Diabetes (2019-2020) e na Diretriz da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (2006) são citadas algumas orientações quanto à prescrição nutricional para gestantes que apresen- tam diabetes gestacional. Listamos as principais recomendações logo a seguir: • Dieta individualizada, considerando o ganho de peso adequado para a gestante; • Não são recomendadas dietas com menos de 1220 kcal/dia, devido ao risco de desenvolver cetose; • A recomendação energética é de acordo com o estado nutricional da gestante. Excesso de peso (25Kcal/kg), peso adequado (30 Kcal/kg) e baixo peso (35 kcal/kg); • Oferecer: de 40 a 55% de carboidratos (no mínimo 175 g/dia- 10 a 15% no café da manhã, 30% no almoço e jantar e o restante nos lanches); de 15 a 20% de proteínas (no mínimo 1,1 g/kg/dia); de 30 a 40% de gorduras; • Os adoçantes artificiais devem ser consumidos com moderação e ape- nas se houver necessidade. O consumo diário deve obedecer os limites 20Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como listado a seguir: Sacarina: 2,5 mg/kg de peso corporal; Aspartame: 40 mg/kg de peso; Acessulfame-K: 15 mg/kg de peso. DOENÇAS HIPERTENSIVAS ESPECÍFICAS DA GESTAÇÃO As Doenças Hipertensivas Específicas da Gestação são caracterizadas pelo aumento dos níveis pressóricos durante a gestação (PA sistólica > 140 mmHg e/ou diastólica de > 90mmHg). Mesmo sem apresentar HAS previamente, a gravidez pode induzir ao aumento dos níveis pressóricos na gestante (BRASIL, 2013). A HAS na gestação está subdividida em cinco classes principais: Hiper- tensão crônica, Hipertensão gestacional, Pré-eclâmpsia, Eclâmpsia, Pré- -eclâmpsia superposta à HAS crônica (Figura 4). Logo a seguir, segue a definição de cada uma delas. Figura 4 – Síndromes Hipertensivas na gestação Síndromes Hipertensivas na Gestação Hipertensão crônica Hipertensão gestacional Pré-eclâmpsia Eclâmpsia Pré-eclâmpsia superposta à HAS crônica Síndrome de Hellp Hemólise Aumento de enzimas hepáticas Plaquetopenia Fonte: Adaptado do Manual Atenção ao pré-natal de baixo risco, 2013. 21Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil • Hipertensão crônica – Estado hipertensivo antes da 20ª semana ges- tacional ou 12 semanas após o parto. Ausência de edema e proteinúria; • Hipertensão gestacional – Estado hipertensivo que ocorre após a 20ª semana gestacional. Ausência de proteinúria. Geralmente ocorre nor- malização da pressão arterial até a 12ª semana após o parto; • Pré-eclâmpsia – Hipertensão e proteinúria (300 mg ou mais de proteína na urina de 24h), após 20 semanas de gestação. O edema, embora fre- quente, não faz parte dos critérios de diagnóstico; • Eclâmpsia – É a pré-eclâmpsia complicada por convulsões; • Pré-eclâmpsia superposta à HAS crônica – É caracterizada pela ele- vação da pressão arterial associada à proteinúria, trombocitopenia ou anormalidades da função hepática em gestantes com HAS crônica após 20 semanas de gestação. Figura 5 – Fatores de risco para doença hipertensiva específica da gravidez Idade igual ou superior a 35 anos Ganho de peso excessivo Diabetes mellitus Primiparidade Gestação gemelar ou molar Hidropsia fetal (não imune) Aborto prévio História familiar de pré- eclampsia, eclampsia ou hipertensão arterial crônica Fonte: Adaptado do Manual Atenção ao pré-natal de baixo risco, 2013. Idade igual ou superior a 35 anos Ganho de peso excessivo Diabetes mellitus Primiparidade Gestação gemelar ou molar Hidropsia fetal (não imune) Aborto prévio História familiar de pré- eclampsia, eclampsia ou hipertensão arterial crônica 22Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil Nos Manuais Técnicos do Ministério da Saúde (2013) e Diretriz Brasileira de Hipertensão (2016) são citadas algumas orientações nutricionais para gestantes com síndromes hipertensivas. Listamos as principais recomen- dações logo a seguir. • Adoção de plano alimentar individualizado para ganho de peso adequa- do durante a gestação; • Dieta normossódica (até 6g/dia), hiperproteica, adequada em vitami- nas (principalmente A, C, E); • A suplementação de cálcio não é indicada para mulheres que tenham uma ingestão adequada desse mineral. É indicado apenas para mulhe- res com baixa ingestão ou que tenham risco moderado ou aumentado para pré-eclâmpsia. 1.5 ORIENTAÇÕES PARA SITUAÇÕES ESPECIAIS Existem situações excepcionais da gestação que precisam de orienta- ções específicas para o caso. A seguir listamos algumas dessas situações com suas respectivas orientações especiais. GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA Adolescentes grávidas estão incluídas no grupo de risco nutricional. Isso porque adolescentes estão em fase de crescimento, então a demanda de energia e de nutrientes para essa faixa etária já é aumentada (Azevedo, 2015). Então, há uma dupla preocupação quanto à oferta de energia e nu- trientes para esse grupo: a demanda da própria faixa etária e a demanda da gravidez. Pensando nisso, listamos algumas recomendações específicas para esse grupo (ADA, 1994): 23Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil • Energia (principal demanda) – Necessidade calórica de 38 a 50 kcal/kg/ dia. No primeiro trimestre não é necessário adicional calórico. No 2º e 3º trimestres é necessário um adicional calórico de 500 Kcal à taxa re- comendada da idade; • É necessária suplementação de vitamina do complexo B (exceto B12); • É necessária suplementação de cálcio para adolescente com baixa in- gestão desse mineral (proteção da mineralização óssea e prevenção da hipertensão e pré-eclâmpsia). A avaliação do estado nutricional pré-gravídico deve ser realizada pelas curvas da OMS, de acordo com a sua faixa etária. GRAVIDEZ E VEGETARIANISMO Acreditava-se que a dieta vegetariana era insuficiente para a oferta de nutrientes para gestante. No entanto, uma dieta vegetariana, quando bem balanceada, oferece a quantidade de energia e nutrientes suficientes para manter a gestação. Então, não é preciso fazer com que a gestante deixe de seguir a sua dieta vegetariana (ovolactovegetariana ou lactovegetaria- na). Só é necessário verificar se essa dieta é balanceada, e atentar-se a alguns micronutrientes, que são mais difíceis de atingir a meta diária. As necessidades nutricionais e energéticas de mulheres vegetarianas grávi- das e amamentando não diferem das de mulheres não vegetarianas (ADA, 2009). A seguir, destacamos as principais orientações para esse grupo: • Verificar a adequação de ingestão de ferro, cálcio, vitamina D, vitamina E, colina e vitamina B12. Suplementar conforme necessidade; • Sugerir o uso de alimentos veganos fortificados (podem ser fortifica- dos em cálcio, ferro, zinco, vitamina B12, vitamina D ou riboflavina). 24Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil PIROSE (AZIA) A pirose é caracterizada como uma sensação de queimação no esôfago, as principais causassão ação da progesterona, hipotonia do Esfíncter Esofágico Inferior (EEI), Refluxo Gastroesofágico (RGE) além de alimen- tos que levem a um maior tempo de esvaziamento gástrico. A conduta adequada em situações de pirose é o fracionamento da dieta, elevação da cabeceira da cama e evitar deitar-se após refeições, evitar café, chá, álcool, doces, frituras, alimentos ricos em gorduras, excluir alimentos que causem desconforto, não usar o leite como solução para o problema por conta do tamponamento e evitar o consumo de líquido durante as refei- ções. Figura 6 – Orientações Nutricionais para Pirose e RGE Fracionamento da dieta Evitar: •Café; •Álcool; •Chá; •Doces; •Frituras; •Pimenta. Elevação da cabeceira da cama Evitar o consumo de leite = tamponamento Evitar o consumo de líquidos durante as refeições Fonte: Adaptado de Accioly, 2009. 25Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil SIALORREIA (PTIALISMO) A sialorreia, também chamada ptialismo, é caracterizada pela salivação excessiva. Está associada com a ingestão excessiva de amido, hipertonia vagal ou causas psicológicas. As principais orientações são o fraciona- mento da dieta, aumento da ingestão hídrica e o estímulo ao consumo de frutas ricas em água. CONSTIPAÇÃO INTESTINAL E FLATULÊNCIAS Alguns problemas intestinais também podem ocorrer como a constipação intestinal e flatulências. As principais causas são a ação da progestero- na, que interfere na motilidade intestinal (reduzindo) e erros alimentares como a baixa ingestão de fibras e baixa ingestão hídrica, além do seden- tarismo. A conduta nutricional nesses casos é a indicação do aumento da ingestão hídrica, aumento do consumo de fibras solúveis e insolúveis, uso de farelo de trigo ou aveia (1 a 2 colheres sopa/dia), evitar alimentos fla- tulentos, como: alho, batata-doce, brócolis, cebola, couve, couve-flor, er- vilha, feijão, milho, ovo e repolho, estímulo à mastigação em quantidade suficiente e estímulo à atividade física regular moderada e orientada. PICAMALÁCIA Outra complicação recorrente durante a gestação é a picamalácia, que é o apetite incontrolável por substâncias não alimentares, como tijolo, terra, sabonete entre outros. Pode estar associada à anemia, constipação, pro- blemas dentários, síndromes hipertensivas na gravidez e a interferências na absorção de nutrientes. A depender do que ingerir, pode trazer compli- cações graves para a gestante e o feto. As orientações para a picamalácia vão além das condutas nutricionais, pois é necessário indicar à gestante um profissional que auxilie no controle de aspectos psicossociais (proble- mas emocionais ou familiares) e explicar as consequências do consumo de itens não alimentares. 26Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil Assista agora a Pocket Aula sobre Gestação – Parte II clicando no ícone ao lado 01. Diabetes mellitus gestacional é o problema metabólico mais comum na gestação e tem prevalência entre 3 e 25% das gestações, dependendo do grupo étnico, da população e do critério diagnóstico utilizado. Sua incidência está aumentando em paralelo com o au- mento do Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) e da obesidade feminina. Considerando os fatores de risco para diabetes gestacional, analise as opções e identifique com V as verdadeiras e com F as falsas. ( ) Idade materna precoce. ( ) Estatura maior ou igual a 1,8 m. ( ) Síndrome de ovários policísticos. ( ) Deposição central excessiva de gordura corporal. ( ) Sobrepeso, obesidade ou ganho excessivo de peso na gravidez atual. A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é: 🅐 V, V, F, V, V. 🅑 V, F, F, F, F. 🅒 F, F, V, V, V. 🅓 F, V, F, V, F. 🅔 F, V, V, F, V. Clique aqui para ver o gabarito da questão. http://sanar.link/MTYqS 27Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil 02. A gravidez na adolescência pode acarretar problemas psicosso- ciais, econômicos e complicações obstétricas, que comprometem a saúde materna e do neonato. Além da demanda de nutrientes da gestação ainda em desenvolvimento, tem-se todo o requerimento nutricional aumentado pelo crescimento e desenvolvimento fetal. A principal alteração de demanda nutricional em grávidas adoles- centes é a necessidade _______________________________________________. A alternativa que preenche, corretamente, a lacuna do trecho acima é: 🅐 calórica: 38 a 50 Kcal/dia + 500 Kcal/dia no segundo e terceiro trimestres. 🅑 proteica: duas vezes a recomendação para gestantes mais velhas. 🅒 de vitaminas, em especial as vitaminas A, E e do complexo B. 🅓 hídrica: 50 mL/Kg/dia durante toda a gestação. 🅔 de minerais, principalmente cálcio e ferro. Clique aqui para ver o gabarito da questão. 28Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil 03. A avaliação do estado nutricional e do ganho de peso gesta- cional na Atenção Básica consiste na aferição de peso e da altura e no cálculo da semana gestacional, o que permite a classificação do índice de massa corporal (IMC) por semana gestacional. Com base no IMC pré-gestacional, é possível conhecer o estado nutri- cional atual e acompanhar o ganho de peso até o final da gestação. Assinale a alternativa correta sobre a recomendação de ganho de peso durante a gestação: 🅐 Gestantes de baixo peso deverão ganhar entre 11,5 e 16 kg du- rante toda a gestação. 🅑 Gestantes com IMC adequado devem ganhar, até o fim da ges- tação, 18 kg durante toda a gestação. 🅒 Gestantes com sobrepeso devem ganhar entre 7 e 11,5 kg, e as obesas devem apresentar ganho entre 5 e 9,0 kg. 🅓 Gestantes de baixo peso deverão ganhar 20 kg durante toda a gestação. 🅔 Gestantes com sobrepeso deverão ganhar, aproximadamente, 15 kg, e as obesas devem apresentar ganho em torno de 10 kg. Clique aqui para ver o gabarito da questão. 29 ANOTAÇÕES 30Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil 2. LACTAÇÃO 2.1 FISIOLOGIA DA LACTAÇÃO A lactação é de extrema importância, tanto para a mulher quanto para lac- tente. Existe uma relação positiva entre amamentar e apresentar menos doenças como câncer de mama, cânceres ovarianos, câncer de endomé- trio, osteoporose e fraturas. Para além disso, é imprescindível para o re- torno ao peso pré-gestacional bem como para a involução uterina mais rápida por conta da maior produção de ocitocina. Esse período é dividido entre três fases, lactogênese I, II e III (também conhecida como galacto- poiese). • Lactogênese I: acontece a partir da 20ª Semana Gestacional, é marca- da pela produção de leite (pré-colostro) através de um controle endó- crino, onde a progesterona placentária inibe a prolactina, o que acaba por diminuir a produção. Logo após da saída da placenta, a produção dos hormônios placentários cai, e ocorre o aumento da prolactina. • Lactogênese II: ocorre de 2 a 3 dias após o parto indo até a produção do leite maduro. Com o nascimento da criança, há liberação de prolacti- na, iniciando-se a lactogênese fase II e a secreção do leite. A ocitocina (hormônio produzido pelo hipotálamo para estimular a descida do leite no decorrer da amamentação), em resposta à sucção da criança, leva à contração das células que envolvem os alvéolos, expulsando o leite neles contido. A produção de leite logo após o nascimento da criança é controlada principalmente por hormônios e a apojadura (“descida do leite”) costuma ocorrer até o 3º ou 4º dia pós-parto, mesmo se a criança não sugar o seio. 31Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil • Lactogênese III ou galactopoiese: perdura durante toda amamenta- ção, possui controle neuroendócrino. Essa fase depende principalmen- te da sucção do bebê e do esvaziamento da mama. Figura 7 – Fisiologia da Lactação Sucção Sucção Hipóse anterior Hipóse posterior Prolactina Ocitocina Produção de leite Saida/Ejeção doleite Fonte: Adaptado de Accioly, Saunders e Lacerda, 2009. 2.2 NECESSIDADES NUTRICIONAIS – LACTAÇÃO A lactação é o período com maior necessidade de nutrientes dentro do ciclo reprodutivo, maior inclusive que a demanda requerida para a gesta- ção. Para a produção de leite materno nos quatro primeiros meses após o parto, exige-se uma quantidade de energia aproximadamente equiva- lente ao custo energético total da gravidez. E é nesse período, quatro a seis primeiros meses, que o lactente duplica o peso acumulado durante os nove meses de gestação (Silva, 2011). 32Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil As recomendações de nutrientes para o período de lactação baseiam-se nos conhecimentos sobre: • A quantidade de leite produzida; • O conteúdo energético e nutricional do leite; • As quantidades de energia e reservas nutricionais maternas. Se a mulher amamentar exclusivamente direto da mama e dispuser de uma distribuição calórica específica, poderá ter uma perda ponderal men- sal, tendo potencial para restituir ao peso pré-gestacional: Quadro 9 – Perda de Peso recomendada no pós parto Diagnóstico IMC Meta Perda de peso recomen-dada Magreza Ganho de peso - Eutrofia Manutenção do peso 0,8kg/mês Sobrepeso Perda de peso 0,5 a 1kg/mês Obesidade Perda de peso 0,5 a 2kg/mês Fonte: Adaptado de Accioly, 2009. ENERGIA • Nível de energia necessária para uma adequada produção de leite; • As necessidades energéticas serão influenciadas pela duração e inten- sidade da lactação e estado nutricional da nutriz; • Reserva de gordura acumulada durante a gestação irá cobrir as neces- sidades durante os primeiros meses de lactação; • Para a produção do leite, é necessária ingestão adequada de calorias e de líquidos. Segundo o Institute of Medicine, as nutrizes que tiveram bom ganho de peso durante a gestação precisam de um adicional de 500kcal/dia para 33Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil satisfazer as necessidades de energia para a produção de leite durante o primeiro semestre e de 400kcal nos seis meses seguintes. Já de acordo com Accioly (2009) baseado nas recomendações da OMS, o requerimento energético da nutriz tem que fornecer calorias suficientes para a produção láctea e para a perda ponderal (caso necessite). Assim, a fórmula recomendada de uso seria: No fim das contas, após a redução supraindicada (em caso de lactante que precisa realizar a perda ponderal), os valores de adicional energético diá- rio ficam: • 1º Semestre: 675kcal por dia (em caso de perda de peso precisa reduzir 170kcal = 505kcal) • 2º Semestre: 460kcal por dia (o volume ingerido por dia de leite é muito variado, não possuindo um valor fixo para desconto calórico). Existe ainda a recomendação de Krause (2018) baseada nas Dris (2005): A DRI para a energia durante o aleitamento é 330 kcal maior durante os primeiros seis meses de aleitamento e 400 kcal maior durante o segundo semestre de aleitamento do que para uma mulher não gestante. Quadro 10 – Adicional energético para o primeiro e segundo semestre da lactante. Principais referências nutricionais IOM (2004) Krause (2018)/ DRIs (2005) Accioly (2009)/ WHO (2007) 1º semestre 500kcal/dia 330kcal > que RDA de mulheres não grá- vidas 675kcal/dia (- 170kcal = 505kcal) 2º semestre 400kcal/dia 400kcal maior 460kcal/dia Fonte: IOM, 2004; Krause, 2018; DRIs, 2005; Accioly, 2009; WHO, 2007. 34Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil Devido aos diferentes valores e complexidade nos cálculos, poucas (pra- ticamente nenhuma recente) questões cobram cálculos robustos para lactantes. Importante compreender que: Em caso de lactantes com sobrepeso e obesidade: indica-se calcular os requerimentos energéticos SEM o adicional, para que possa promover perda ponderal. Em alguns cálculos é importante saber o gasto energético necessário para 100ml de leite que seria: 85kcal (Krause, 2018). PROTEÍNA O leite materno humano tem grande importância para o lactente com cerca de (70%) de proteína do soro que são perfeitamente adaptadas ao metabolismo da criança apresentando efeitos benéficos, como fatores anti-infecciosos, imunoglobulinas, lisozimas e lactoferrina. A importância dessas proteínas facilmente absorvidas tem uma grande qualidade nu- tricional para o lactente, que vai atuar de várias maneiras. Constituintes representativos: • Alfa-lactalbumina; • Lactoferrina; • Lisozima; • Caseína; • Imunoglobulinas. Em relação às necessidades médias de proteínas das mulheres não ges- tantes nutriz, recomenda-se um acréscimo de 25g/dia para a produção de leite, estimado a partir dos dados da composição do leite e do volume mé- dio produzido por dia. O conteúdo de proteína do leite materno tende a 35Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil diminuir com a evolução da lactação, mas não é afetado pela desnutrição materna (Krause, 2018). Há ainda a recomendação de Accioly, baseada nos dados da OMS, que traz valores diferentes (Quadro 11). Quadro 11 – Recomendação de proteína para nutrizes Krause (2018)/ DRIs (2005) Accioly (2009)/ WHO (2007) 1º semestre 25g/dia 19g/dia 2º semestre 25g/dia 12,5g/dia IOM, 2004; Krause, 2018; DRIs, 2005; Accioly, 2009; WHO, 2007. CARBOIDRATOS A RDA para carboidratos é projetada para fornecer energia suficiente na dieta para os volumes adequados de leite e manter um teor adequado de energia durante o aleitamento. Isso pode ter de ser ajustado em função da atividade da mãe e da quantidade de amamentação. A mulher com o ganho de massa corporal gestacional pobre pode exigir mais carboidra- tos. O principal carboidrato no leite humano é a lactose. No entanto, não há evidência de que a ingestão materna de carboidratos afete o teor de lactose no seu leite. A EAR e 160g/dia e a Al é 210g/dia. Elas fornecem calorias suficientes para um volume adequado de leite, para prevenir a cetonemia e para manter os níveis apropriados de glicose durante a lactação. LIPÍDIOS Não há DRI para o total de lipídeos durante o aleitamento, porque isso de- pende da quantidade de energia requerida pela mãe para manter a pro- dução de leite. As quantidades recomendadas específicas de PUFA ôme- ga-6 e ômega-3 durante o aleitamento variam pouco da gestação; elas 36Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil são cruciais para o desenvolvimento do cérebro fetal e infantil. Uma a duas porções de peixe por semana atendem a essa necessidade (arenque, atum em lata, salmão). As mães devem evitar comer peixes predadores para prevenir teores excessivos de mercúrio na dieta (pique, marlin, cava- la e espadarte). A ingestão de gorduras trans deve ser mantida a um míni- mo pela mãe que está amamentando, para que o seu potencial de apareci- mento no leite materno seja reduzido. A Al para ácidos graxos pooli-insaturados ômega 6 (linoleico – ácido ara- quidônico) é de 13g/dia e para o ômega 3 (linolênico – ácido docosaexae- nóico DHA) é de 1,3g/dia na dieta. MICRONUTRIENTES Os nutrientes mais críticos para as lactentes incluem vitamina A, tiamina, riboflavina, vitaminas B6 e B12, iodo e selênio, pois a baixa ingestão e/ou os estoques orgânicos maternos insuficientes afetam mais adversamen- te a criança. Quadro 12 – Recomendação nutricional dos principais micronutrientes para nutrizes baseado nas recomendações das DRI's Lactantes Vit A (µg/d) Vit C (mg/d) Vit D (µg/d) Vit E (mg/d) B1 (mg/d) Niacina (mg/d) B6 (mg/d) Folato (µg/d) B12 (µg/d) B5 (mg/d) Colina (mg/d) 14 a 18 anos 1200 115 15 19 1.4 17 2.0 500 2.8 7 550 19 a 30 anos 1300 120 15 19 1.4 17 2.0 500 2.8 7 550 31 a 50 anos 1300 120 15 19 1.4 17 2.0 500 2.8 7 550 Minerais Ca (mg/d) Cr (ug/d) Cobre (ug/d) Fe (mg/d) Mg (ug/d) Se (ug/d) Zn (mg/d) K (mg/d) Na (g/d) P (mg/d) 14 a 18 anos 1300 44 1300 10 360 1500 13 2500 1500 1250 19 a 30 anos 1000 45 1300 9 310 1500 12 28001500 700 31 a 50 anos 1000 45 1300 9 320 1500 12 2800 1500 700 Fonte: Autoria Própria, 2011. 37Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil Quando comparado ao período da gestação, há um aumento nas deman- das de vitamina A, C, E, B2, B12 e nos minerais cromo, cobre e zinco. Já a niacina, folato, ferro, magnésio e potássio apresentam redução na reco- mendação diária de ingestão. VITAMINA B12 E A MÃE VEGANA Para as mães lactantes que seguem uma dieta vegetariana estrita, sem quaisquer produtos de origem animal, um suplemento de vitamina B12 é altamente recomendável. O leite de uma mãe vegana pode ser gravemen- te deficiente em vitamina B12, levando a uma deficiência em seu bebê que, se não for tratada, pode levar à deficiência de crescimento e danos per- manentes ao sistema nervoso. As mães lactantes que seguem uma dieta vegetariana estrita devem ter as concentrações de vitamina B12 do seu bebê monitoradas (Krause, 2018). 2.4 ALEITAMENTO MATERNO E COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DO LM O leite humano é ideal para criança nos primeiros meses de vida. Indepen- dentemente de ter nascido a termo ou pré-termo, o leite materno é adap- tado e atende as necessidades nutricionais específicas daquela criança (Brasil, 2019). A composição do leite materno varia conforme o período de lactação e durante o período do dia. Em relação às variações do período da lactação, temos principais três classificações: colostro, leite de transição e leite maduro (Accioly, Saunders e Lacerda, 2009). O colostro é o leite produzido nos primeiros dias de vida do recém-nas- cido. É considerado de grande importância para o bebê, devido aos seus 38Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil principais componentes. Resumindo, o colostro possui grande quantida- de de proteínas, IgA, lactoferrina, minerais e vitaminas (principalmente A e E) (Accioly, Saunders e Lacerda, 2009). O leite de transição tem sua fase de produção entre o colostro e o leite maduro. Geralmente é produzido entre o 5º e o 15º, e sua composição vai mudando até adquirir o conteúdo do leite maduro (Accioly, Saunders e La- cerda, 2009). Após o período de adaptação, o leite maduro começa a ser produzido. Este leite apresenta mais proteínas, lactose e vitamina E. Os detalhes da sua composição em comparação com o colostro é mostrado no quadro 13. Quadro 13 – Composição do colostro e do leite maduro por 100 mL Composição Colostro Leite Maduro Calorias (Kcal) 58 70 Lactose (g) 5,3 7,3 Caseína (%) 10 40 Proteína do soro (%) 90 60 α-lactoalbumina 218 161 Gordura total (g) 2,9 4,2 Vitamina A (µg) 89 47 Vitamina E (µg) 1,28 3 Vitamina B12 (µg) 20,0 2,6 Cálcio (mg) 23 28 Ferro (µg) 0,45 0,4 Fonte: Adaptado de Accioly, Saunders e Lacerda, 2009. 39Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil Em relação às variações da composição do leite ao longo do dia, temos duas principais classificações: o leite anterior e o leite posterior. No início da mamada é ejetado o leite anterior. Este leite tem cor mais clara (similar à água de coco), pois tem uma maior quantidade de água, e, além disso, é rico em anticorpos. No decorrer da mamada, o aspecto do leite vai mudan- do, vai ficando mais esbranquiçado (devido ao aumento de caseína) e ama- relada (por causa do aumento de gordura). Sendo assim, o leite posterior é mais rico em gorduras e calorias quando comparado ao anterior e trará mais saciedade à criança (por isso é importante o esvaziamento da mama antes de trocá-la) (Accioly, Saunders e Lacerda, 2009; Brasil, 2019). De forma geral, o leite materno possui inúmeras vantagens, não só nutri- cionais, mas também imunológicas. Entre os componentes protetores do leite materno, podemos citar: anticorpos IgM e IgG, macrófagos, neutrófi- los, linfócitos B e T, lactoferrina, lisozima e fator bífido (Accioly, Saunders e Lacerda, 2009; Brasil, 2019). Fator bífido: é um carboidrato nitrogenado que favorece o crescimento do Lactobacilus bifidus, uma bactéria não patogênica que acidifica as fezes, dificultando a instalação de bactérias que causam diarreia. TIPOS DE ALEITAMENTO Segundo a Organização Mundial de Saúde, há cinco definições referente aos tipos de aleitamento materno que são destacados logo a seguir: • Aleitamento materno: quando a criança recebe leite materno (direto da mama ou ordenhado), independentemente de receber ou não outros alimentos. 40Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil • Aleitamento materno exclusivo: a criança recebe somente leite mater- no (direto da mama ou ordenhado) ou leite humano de outra fonte, sem outros líquidos ou sólidos, com exceção de gotas ou xaropes contendo vitaminas, sais de reidratação oral, suplementos minerais ou medica- mentos. • Aleitamento materno predominante: além do leite materno é ofertado à criança água ou bebidas à base de água (chás, infusões) e sucos de frutas. • Aleitamento materno complementado: além do leite materno, a criança recebe qualquer alimento sólido ou semissólido com o intuito de com- plementá-lo, e não de substituí-lo. • Aleitamento materno misto ou parcial: quando a criança recebe leite materno e outros tipos de leite. INTERCORRÊNCIAS MAMÁRIAS Durante o período de amamentação, a nutriz pode passar por problemas que a impeçam de desempenhar o aleitamento materno de forma eficaz. Logo a seguir, listamos alguns problemas com suas respectivas formas de intervenção (Accioly, Saunders e Lacerda, 2009; Brasil, 2019). • Ingurgitamento mamário ou “leite empedrado”: Acontece quando o lei- te fica retido na glândula mamária. A mama fica endurecida, bastante dolorida e podem surgir alguns caroços. Em casos mais graves pode provocar febre. Conduta indicada: amamentação em livre demanda; massagens em movimentos circulares nas mamas; realizar ordenha do leite (manualmente ou com bomba). • Fissura Mamilar: Geralmente ocorre devido à pega ou posicionamento inadequados do bebê no momento da amamentação. Conduta indicada: evitar posições desconfortáveis e que machucam o mamilo; realizar a pega de forma correta; interromper a mamada sem esticar o mamilo 41Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil (pode ser utilizado o dedo da mãe no canto da boca da criança para aju- dar a retirar o mamilo). Não há comprovação científica sobre a utiliza- ção do próprio leite materno ou outros produtos (cremes, óleos, antis- sépticos, casca de frutas) na melhora de mamilos machucados. • Mastite: é a inflamação mamária causada pelo acúmulo de leite na mama, acompanhada de dores no corpo, febre e mal-estar. Pode evo- luir para infecção devido à entrada de bactérias na mama pelas fissuras do mamilo. Conduta indicada: identificação e tratamento da causa que provocou a estagnação do leite; Esvaziamento adequado da mamada mastite; quando os sintomas forem graves deve ser realizado antibio- ticoterapia. ORIENTAÇÕES SOBRE ARMAZENAMENTO DO LEITE MATERNO Em algumas situações é necessário realizar a coleta do leite materno. Pode ser devido ao ingurgitamento mamário ou porque a mãe precisa se separar do bebê por algumas horas. Nesse último caso, em que a nutriz não poderá oferecer o leite materno diretamente da mama, será necessá- rio coletá-lo e armazená-lo para depois ser oferecido à criança. Destaca- mos alguns aspectos importantes da coleta e armazenamento e listamos a seguir (Brasil, 2019): • O frasco em que será armazenado o leite deve ser de vidro e com tampa plástica. Deve ser lavado com água e sabão e fervido por 15 minutos; • O leite deve ser retirado quando as mamas estiverem muito cheias ou depois que a criança mamar, respeitando todas as normas de higiene; • O leite retirado pode ser armazenado por até 15 dias no freezer ou por até 12 horas na geladeira (não deve ser colocado na porta da geladeira); • O descongelamento do leite deve ser realizado no próprio frasco em banho-maria (com fogo apagado). Nuncadeve ser fervido ou aquecido no microondas; 42Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil • Caso ainda sobre leite do frasco descongelado, este pode ser armaze- nado em geladeira e utilizado em até 12 horas (não pode ser congelado novamente). CONTRAINDICAÇÃO DO ALEITAMENTO MATERNO Existem situações em que, mesmo que a nutriz produza leite suficiente para a criança, a amamentação é contraindicada. Isso acontece em situa- ções excepcionais nas quais os malefícios trazidos pelo aleitamento são maiores que seus benefícios. Listamos algumas dessas situações a se- guir: Figura 8 – Contra indicações no Aleitamento Materno Proibida a amamentação HTLV1 E 2 HIV Uso de Medicamentos* Neoplásicos e radiofármacos Galactosemia (lactente) Herpes 1 e 2 Citomegalovirus Hepatite C Hanseníase Varicela Doença de Chagas Renativamente contraindicado Fonte: Brasil, 2019. 43Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil É proibida a amamentação caso a mãe tenha HTLV 1 e 2 e HIV. A presen- ça da galactosemia em recém-nascidos também suspende o aleitamento materno, já que o lactente não possui a capacidade de converter a galac- tose em glicose. Além disso, o uso de medicamentos antineoplásicos e radiofármacos também exige suspensão do aleitamento materno. O aleitamento é relativamente contraindicado em casos de infecção pelo Herpes Simples 1 e 2 quando as vesículas estiverem próximas ao mamilo. Caso as feridas estejam em outro local, proteger com máscara ou cobrir as feridas e amamentar normalmente. Também é contraindicado em mu- lheres que possuem o citomegalovírus, mas somente quando a criança nascer de parto prematuro menor de 32 semanas. A amamentação é contraindicada na hanseníase virchowiana ou com menos de 3 meses de tratamento. Em caso de tratamento materno ade- quado, o aleitamento é liberado. Infecção materna pelo vírus da hepatite C, apenas quando a mãe tem car- ga viral elevada ou lesões mamilares sangrantes. Na varicela, apenas se a mãe apresentar vesículas na pele cinco dias antes do parto ou até dois dias após o parto. Isolamento materno até que as lesões adquiram a for- ma de crosta. É indicado nas mulheres com doença de Chagas crônica, ex- ceto se houver sangramento mamilar evidente. Está contraindicado nas mulheres com doença de Chagas aguda. Existem algumas doenças que podem ocorrer no lactente que o aleitamen- to materno pode ser prejudicial. A galactosemia, um distúrbio transmiti- do por herança genética, é provocado pela incapacidade do organismo em metabolizar a galactose. O acúmulo de galactose no sangue causa lesões no SNC, tubular renal, catarata e cirrose hepática. A criança com galacto- semia não poderá ingerir leite humano e nem de vaca, devendo priorizar o 44Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil leite de soja. A fenilcetonúria é distúrbio genético provocado pela falta ou deficiência da enzima fenilalanina hidroxilase. Não há contraindicação ao aleitamento materno, entretanto é necessário um controle da inges- tão a depender do grau da doença no bebê. O uso de determinados medicamentos e drogas também pode exigir uma suspensão temporária do aleitamento materno: Quadro 14 – Tempo de suspensão do aleitamento materno x drogas utilizadas Droga Período recomendado de interrupção da amamentação Anfetamina, ecstasy 24-36h Barbitúricos 48h Cocaína, crack 24h Etanol 1 hora por dose ou até estar sóbria Heroína, morfina 24 horas LSD 48 horas Maconha 24 horas Fenciclidina 1–2 semanas Fonte: Brasil, 2015. FALSAS CONTRAINDICAÇÕES Importante não confundir! Muitas questões podem te induzir ao erro uma vez que, diante dos malefícios já conhecidos causados pelo tabagismo e alcoolismo, você pode acreditar que há contraindicação do aleitamento materno nessas condições. O Ministério da Saúde adverte que deve ser evitado, mas os benefícios promovidos pelo leite materno superam pos- síveis malefícios. Assim: 45Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil • Tabagismo: Os benefícios do LM para a criança superam os possíveis malefícios da exposição à nicotina via LM. Não é uma contraindicação. • Álcool: Consumo moderado (0,3g de álcool por quilo de peso da mãe por dia) compatível com o aleitamento materno. 04. Os primeiros anos de vida de uma criança, especialmente os dois primeiros, são caracterizados por crescimento acelerado e enormes aquisições no processo de desenvolvimento, incluindo habilidades para receber, mastigar e digerir outros alimentos além do leite materno, e no autocontrole do processo de inges- tão de alimentos, para atingir o padrão alimentar cultural do adulto. O aleitamento materno, que deve ser a primeira prática alimentar dos indivíduos, é necessário para a garantia da saúde e do desenvolvimento adequado das crianças. O Brasil adota as recomendações internacionais, aconselhando o aleitamento materno exclusivo: 🅐 até o sexto mês e continuado até o primeiro ano de vida. 🅑 até o quarto mês e continuado até o segundo ano de vida. 🅒 até o sexto mês e continuado até o segundo ano de vida ou mais. 🅓 até o quarto mês e continuado até o primeiro ano de vida. 🅔 até o sexto mês e continuado até o terceiro ano de vida. Clique aqui para ver o gabarito da questão. 46Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil 05. O aleitamento pode ser classificado segundo a nomenclatura do Ministério da Saúde (2003), em três tipos: aleitamento materno exclusivo, aleitamento materno predominante e aleitamento ma- terno. No aleitamento materno predominante, o lactente recebe: 🅐 Além do leite materno, água, chá ou suco de fruta. 🅑 Somente leite materno e nenhum outro líquido ou sólido. 🅒 Leite materno, independentemente de estar recebendo qualquer outro alimento ou líquido, incluindo leite não-humano. 🅓 Somente leite não-humano. 🅔 Somente leite materno, com exceção de gotas de vitaminas ou xaropes e outros medicamentos. Clique aqui para ver o gabarito da questão. Caso prefira, clique aqui e acesse ao comentário completo da questão. Assista agora a Pocket Aula sobre Lactação clicando no ícone ao lado http://sanar.link/Wge2x http://sanar.link/HLzbK 47 ANOTAÇÕES 48Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil 3. ALIMENTAÇÃO NA PRIMEIRA INFÂNCIA 3.1 ALIMENTAÇÃO NATURAL E ARTIFICIAL DO LACTENTE A amamentação é importante tanto para a nutriz quanto para o bebê, pois traz diversos benefícios para ambos. Na criança, a amamentação evita diarreia, infecção respiratória, diminui o risco de alergias e melhora o de- senvolvimento da cavidade oral. Crianças que não foram amamentadas correm o risco de ter ruptura do desenvolvimento motor-oral facial. Essa ruptura afeta as funções de mastigação, deglutição, respiração e articu- lação dos sons da fala. Além disso, dentre os benefícios, podemos citar a diminuição do risco de desenvolver doenças metabólicas, como obesida- de, hipertensão, dislipidemia, diabetes (Brasil, 2019). Notam-se as que consequências do desmame precoce englobam pato- logias que perduram até a vida adulta. No entanto, como demonstrado no tópico anterior, existem situações que impossibilitam o aleitamento materno. E na impossibilidade da alimentação natural do lactente, é ne- cessário promover outra forma de alimentação. Existe a possibilidade de alimentação por meio de fórmulas infantis ou através da diluição do leite de vaca. É importante destacar a superioridade nutricional do leite mater- no frente a essas alternativas. O uso de fórmula infantil ou leite de vaca só deve ser utilizado se realmente houver contraindicação ou impossibilida- de de amamentar a criança com leite materno. No quadro seguinte, temos o comparativo do leite materno com o leite de vaca. Observem que o leite de vaca contém mais proteínas do que o leite 49Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantilmaterno, mas, em compensação, as proteínas presentes no leite materno são de mais fácil digestão, diferentemente do leite de vaca que é rico em caseína (proteína de baixa digestibilidade). Além disso, crianças alimen- tadas com leite de vaca nos primeiros meses de vida têm grandes chan- ces de desenvolver alergias. Quadro 15 – Composição do leite Materno e do Leite de Vaca Nutriente Leite Materno Leite de vaca Energia (Kcal) 68 63 Proteína (g) 1,05 3,2 Proteína do soro (lactoalbu- mina) 60% 20% Caseína 40% 80% AA taurina e cistina ↑ ↓ Lipídeos (g) 4,2 3,5 Ácido linoleico 4% da energia 1% da energia Ácido araquidônico e ácido docosahexaenoico (DHA) Presente Ausente Colesterol (mg/dL) 10 a 20 10 a 15 Carboidrato (g) 7,2 4,6 Vitamina A (µg) 50 4,6 Vitamina E (mg) 0,23 0,04 Ferro (mg) 0,03 (Biodisponibilidade de 50%) 0,05 (Biodisponibilidade de 10%) Fonte: Adaptado de Accioly, Saunders e Lacerda, 2009. 50Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil No entanto, apesar da inferioridade nutricional do leite de vaca, este pode ser a única opção da família para alimentar a criança. Então é necessário que o profissional de saúde saiba orientar a família quanto à diluição e oferta do leite de vaca para menores de 6 meses. Para crianças de até 4 meses, o leite de vaca deve ser diluído em 2/3 ou 10%, para evitar a oferta excessiva de proteínas e eletrólitos. Com a dilui- ção, ocorre diminuição de calorias e ácido oleico. Então, para amenizar es- sas perdas, é necessário acrescentar 3% de óleo ao leite de vaca diluído. Lembrando de que após o acréscimo do óleo, não é necessário adicionar açúcar ou farinha à diluição (Brasil, 2015). Quadro 16 – Reconstituição e diluição do leite de vaca para crianças de até quatro meses Reconstituição do leite em pó integral • 1 colher de sobremesa rasa para 100ml de água fervida. • Preparo do leite em pó: primeiro, diluir o leite em pó em um pouco de água tratada, fervida e fil- trada e, em seguida, adicionar a água restante necessária. Diluição do leite integral fluido • 2/3 de leite fluido + 1/3 de água fervida • 70ml de leite + 30ml de água = 100ml Adicionar 3% de óleo ao leite diluído • 1 colher de chá de óleo para cada 100 ml Fonte: Brasil, 2015. A diluição do leite de vaca só é necessária para crianças de até quatro me- ses de idade. Após esse período não é necessário fazer a diluição, pois nesse momento será iniciada a introdução alimentar da criança. Compa- rada ao leite de vaca, a fórmula infantil é a melhor opção para a criança não amamentada. A fórmula infantil é elaborada a partir da modificação do leite de vaca. A quantidade de proteínas, lipídeos, carboidratos e micronu- trientes são alteradas para garantir a oferta adequada desses nutrientes 51Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil para a criança. Existe a fórmula infantil de partida (que deve ser utilizada para crianças de até seis meses), e a fórmula infantil de seguimento (que deve ser utilizada por crianças que tenham mais de seis meses de vida). A fórmula de partida contém os nutrientes necessários para o crescimento e o desenvolvimento da criança, e quando bem preparada não é preciso oferecer água ou outros alimentos. Já a fórmula de seguimento deve ser utilizada no mesmo período de introdução alimentar da criança (Brasil, 2015). As especificações gerais sobre o conteúdo nutricional das fórmulas infantis são especificadas na figura 9. Figura 9 – Especificações gerais da fórmula infantil Densidade calórica •0,56 Kcal/kg Principal carboidrato •Lactose Teor de proteína •Geralmente 1,5x maior que o leite materno Principal proteína •β lactoalbumina Relação proteína:caseína •60:40 Não costuma ter colesterol Fonte: Adaptado de Accioly, Saunders e Lacerda, 2009. É importante ressaltar que essas especificações não são válidas para to- das as fórmulas infantis. Existem situações em que é necessário o uso de uma fórmula específica. Listamos essas fórmulas a seguir. 52Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil Quadro 17 – Fórmulas para crianças em situações especiais Fórmula infantil Especificações Fórmulas para Pre- maturos • Alta densidade energética; • Menor teor de lactose; • Maior teor de proteínas e minerais; • Conteúdo lipídico modificado para esse grupo para facilitar a digestão e absorção de gordura – 50% de TCM; Fórmulas anti-re- gurgitação • Substituição de parte da lactose (25% substituído por amido de milho ou de arroz pré-gelatinizado); • Os substitutos irão gelatinizar no estômago e dificultar o refluxo da bebi- da ingerida. Fórmulas isentas de lactose • Substituição da lactose por maltodextrina como fonte de carboidrato; • Evita os desconforto gastrointestinais causados pela lactose; • A maltodextrina é menos suscetível à fermentação. Fórmulas de proteí- na isolada de soja • Fórmula polimérica; • Produzida a partir da extração da proteína isolada de soja; • Completamente isenta de proteínas de leite de vaca e lactose; • Não são hipoalergênicas (contaminação cruzada). Fórmulas hipoaler- gênicas parcialmen- te hidrolisadas • Constituída de proteínas do soro de leite parcialmente hidrolisada (tripsina); • Fórmula que passou por tratamento térmico (para reduzir a alergenicida- de). Fórmulas extensa- mente hidrolisadas (hidrolisados pro- teicos) • Fórmula semielementar e hipoalergênica; • A proteína é extensamente hidrolisada em pequenos peptídeos e ami- noácidos; • É indicado para pacientes em transição de NPT para NE, ou com síndro- me disabsortiva grave, ou na presença de alergia a proteínas simultâneas (leite de vaca e de soja). Suspensão de ami- noácidos • Fórmula elementar e hipoalergênica; • A proteína está na sua forma mais simples (em aminoácidos); • É indicado para alergias graves (que não foi possível o uso da fórmula altamente hidrolisada) e para a realimentação de pacientes críticos. Atenção! Há recomendações de suplementação com vitaminas e minerais para lactentes a termo. Fonte: Krause, 2018. 53Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil • Vitamina D: suplementação logo após o nascimento de 400 UI/dia para todos os lactentes com aleitamento materno e lactentes que conso- mem menos de 1.000 mL de fórmula fortificada com vitamina D a cada dia; • Vitamina K: suplementação logo após o nascimento para prevenir a doença hemorrágica do recém-nascido; • Ferro: » Lactentes com Aleitamento Materno: aproximadamente 1mg/kg/ dia aos 4 a 6 meses de idade, de preferência de alimentos suple- mentares e apenas fórmulas fortificadas com ferro para desmamar ou suplementar o leite materno; » Lactentes Alimentados com Fórmula: apenas fórmula fortificada com ferro durante o primeiro ano de vida. 3.2 ALERGIA À PROTEÍNA DO LEITE DE VACA A alergia à proteína do leite de vaca é um problema comum em lactentes, usualmente com as primeiras manifestações clínicas nos primeiros seis meses. É uma doença inflamatória secundária à reação imunológica contra uma ou mais proteínas do leite de vaca, especialmente, a β-lacto- globulina, α-lactoalbumina e caseína. Acomete, principalmente, o apare- lho digestório e a pele. Importante evidenciar que a exposição ao leite de vaca nos primeiros dias de vida, fato que ocorre frequentemente nas maternidades, é fator sig- nificativo para posterior desenvolvimento de alergia a essas proteínas. A má-absorção intestinal e/ou dismotilidade pode predispor pacientes à alergia alimentar. • Consequências para o lactente: quando compromete o tubo digestó- rio, pode provocar agravo ao estado nutricional pelos seguintes meca- 54Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil nismos: diminuição da assimilação de energia e nutrientes, em função de vômitos e/ou regurgitação; redução da absorção intestinal nos ca- sos com enterite e má absorção intestinal; perda de nutrientes pela mucosaintestinal inflamada (proteínas nos quadros de colite e ferro nos casos com perda de sangue). Assim, a alergia ao leite de vaca pode provocar basicamente déficit na velocidade de crescimento e/ou des- nutrição e/ou deficiência de ferro isolada. Tratamento Dietoterápico O tratamento de pacientes com alergia alimentar é baseado na exclusão do alimento conhecido ou suspeito de estar causando sintomas. Nos lac- tentes, como a dieta é fundamentalmente láctea, em caso de impossibi- lidade do aleitamento materno, a substituição por fórmula com proteína extensamente hidrolisada ou fórmula de aminoácidos garante o suces- so do tratamento. Em lactentes em aleitamento natural, o aleitamento deve ser mantido, e a mãe deve ser orientada a iniciar dieta de restrição. • Para crianças com alergia ao leite de vaca IgE mediada, com alto risco de reações anafiláticas (história prévia de anafilaxia) é sugerida fórmu- la de aminoácidos; • Para crianças com alergia ao leite de vaca IgE mediada, com baixo risco de reações anafiláticas (nenhuma história prévia de anafilaxia) é suge- rida fórmula com proteína extensamente hidrolisada; • Para crianças com alergia ao leite de vaca IgE mediada é sugerida fór- mula com proteína extensamente hidrolisada, em vez de fórmula de soja (o leite de soja não deve ser usado nos primeiros seis meses de vida devido a risco nutricional); 55Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil • Para crianças com APLV IgE mediada é sugerida fórmula com proteína extensamente hidrolisada, em vez de fórmula extensamente hidrolisa- da de arroz (Projeto Diretriz, 2011). 3.3 PREMATUROS O leite materno para um recém-nascido (RN) prematuro não só é benéfico, mas também absolutamente necessário para garantir a proteção contra infecções e outras doenças. A nutrição adequada do recém-nascido pré- -termo tem por objetivos suprir as necessidades e promover crescimen- to e desenvolvimento adequados, sem causar efeitos indesejáveis, como acidose metabólica, persistência do canal arterial, enterocolite necrosan- te, hipercolesterolemia, hiperuremia e hiperamonemia, entre outros. Algumas definições importantes. Sobre a idade gestacional: • Pós-termo: é aquele lactente nascido após 42 semanas de gestação; • A termo: aquele que nasce entre 37 e 42 semanas de gestação; • Pré termo (prematuro – RNPT): é aquele nasce antes de 37 semanas de gestação. Sobre o peso ao nascer: • Baixo peso ao nascer (BPN): recém-nascido que, ao nascer, pesa menos de 2.500 g; • Muito baixo peso ao nascer (MBPN): recém-nascido que, ao nascer, pesa menos de 1.500 g; • Extremo baixo peso ao nascer (EBPN): recém-nascido que, ao nascer, pesa menos de 1.000 g. O RN pode ainda ser classificado pelo tamanho como: 56Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil • PIG: recém-nascido pequeno para a idade gestacional; • AIG: recém-nascido adequado para a idade gestacional; • GIG: recém-nascido grandes para a idade gestacional. A classificação é feita pelo estado nutricional por meio da avaliação do peso e da IG, de acordo com as curvas de crescimento fetal padronizadas. Figura 10 – Classificação do recém-nascido com base na maturidade e no crescimento intrauterino Pe so a o na sc er e m g ra m as Semanas de gestação PRÉ-TERMO A TERMO PÓS-PERMO 5000 4750 4500 4250 4000 3750 3500 3250 3000 2750 2500 2250 2000 1750 1500 1250 1000 750 500 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 Fonte: Krause, 2018. O recém-nascido prematuro ou com baixo peso ao nascer não teve a opor- tunidade de se desenvolver plenamente no útero e é fisiologicamente diferente do lactente a termo. Em decorrência disso, a criança com BPN apresenta vários problemas clínicos no início do período neonatal, depen- dendo do ambiente intrauterino, do grau de prematuridade, do trauma re- lacionado com o nascimento e do funcionamento dos sistemas de órgãos que são imaturos ou estão sob estresse. As crianças prematuras estão em alto risco de déficit no estado nutricional, em decorrência das baixas 57Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil reservas de nutrientes, imaturidade fisiológica, doença (o que pode inter- ferir no cuidado e nas necessidades nutricionais) e exigências nutricionais para o crescimento. A maior parte das reservas fetais de nutrientes é depositada nos últimos três meses de gestação; portanto, o bebê prematuro começa a vida em um estado nutricional comprometido. Como as reservas metabólicas (ou seja, energia) são limitadas, a terapia nutricional sob a forma de nutrição parenteral (NP), de nutrição enteral (NE), ou de ambas, deve ser iniciada o mais precocemente possível. ENERGIA Em razão da grande necessidade de síntese de novo tecidos, ocorre um grande gasto de energia, assim como para uso de medicamentos, dificul- dade respiratória, sepse, entre outros. As necessidades energéticas do RNPT são de 110 a 150kcal/kg/dia (sendo 25 a 50% de carboidratos, 30 – 40% de lipídeos e 10 a 20% de proteínas), porém encontra-se dificuldade para alcançar 120kcal/kg/dia em razão da inabilidade de se conseguir a ingestão adequada, considerando a restrição de líquidos, intolerância à infusão das soluções de glicose, limitações fre- quentes da ingestão de lipídios, em decorrência de preocupações com a função respiratória, a hiperbilinubinemia e a sepse (Accioly, 2009). Quadro 18 – Recomendação energética Parenteral e Enteral para RN pré termo Parenteral Enteral Manutenção: aumento gradual na ingestão, de modo a aten- der às necessidades energéticas até o final da primeira se- mana de vida. 30 a 50 kcal/kg/ dia 50kcal/kcal/dia Crescimento: Atender às necessidades energéticas assim que a condição da criança estiver estável. 90 a 100 kcal/ kg/dia 105 a 130 kcal/kg/ dia Fonte: Krause, 2018. 58Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil CARBOIDRATOS O quadro de hipoglicemia é observado devido: • À imaturidade dos mecanismos de adaptação ao jejum; • Ao aumento do consumo de glicose pelo cérebro; • À diminuição da gliconeogênese; • À diminuição das reservas de glicogênio hepático e cardíaco; • À desproporção entre o tamanho cérebro/fígado (o consumidor de gli- cose é maior que o produtor) e pela redução da resposta de liberação de catecolaminas. Os cérebros dos RNPT são mais resistentes à hipoglicemia quando com- parados aos adultos, porém os sinais clínicos não são tão evidentes e po- dem ocorrer danos neurológicos. Para evitar a hipoglicemia é recomenda- do (Accioly, 2009): • Recém Nascidos: 3 a 4mg de glicose/kg/min; • Recém Nascido pré-termo: 10 a 12 mg de glicose/kg/min. As melhores fontes glicídicas são maltodextrina e oligossacarídeos. O fornecimento de lactose deve ser em torno de 3 a 12g/100kcal, não ultra- passando 8g/100ml X não ultrapassar de 11g/dl, pois pode ocorrer diar- reia osmótica e distorção na proporção energia-proteína PROTEÍNAS Devem-se considerar a quantidade e a qualidade das proteínas ao deter- minar as necessidades proteicas do recém-nascido pré-termo. Devem-se fornecer aminoácidos a um teor que atenda à demanda sem induzir à toxi- cidade por aminoácidos ou proteínas. A composição dos aminoácidos das proteínas do soro de leite, que difere da composição da caseína, é mais adequada para lactentes pré-termo. O 59Curso Intensivo para Residências | Nutrição | Nutrição Materno Infantil aminoácido essencial cisteína é mais altamente concentrado nas proteí- nas do soro de leite, e o lactente pré-termo não sintetiza bem a cisteína. Além disso, os aminoácidos fenilalanina e tirosina são mais baixos, e o lac- tente pré-termo tem dificuldade para oxidá-los. Ademais, a acidose me- tabólica diminui com o consumo de fórmulas em que predomina o soro do leite. Por causa das vantagens da proteína do soro do leite para o lactente pré-termo, deve-se optar, sempre que possível, pelo leite materno ou por fórmulas