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Trotta, Wellington - Filosofia

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Filosofia
 
Rio de Janeiro
UVA
2017
Wellington Trotta
Filosofia
 
Rio de Janeiro
UVA
2017
Copyright © UVA 2017
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer 
meio sem a prévia autorização desta instituição.
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico 
da Língua Portuguesa.
ISBN: 978-85-69287-50-6
Autoria do Conteúdo
Wellington Trotta
Projeto Gráfico
UVA
Diagramação
Cristina Lima
Revisão
Janaína Senna
Isis Batista
Clarissa Penna
Lydianna Lima
Ficha Catalográfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da UVA.
Biblioteca Maria Anunciação Almeida de Carvalho.
T858 Trotta, Wellington. Filosofia [livro eletrônico] / Wellington 
 Trotta. – Rio de Janeiro : UVA, 2017. 
 
 1,3 MB. 
 
 ISBN 978-85-69287-50-6
 Disponível também impresso. 
 
 1. Filosofia. I. Universidade Veiga de Almeida. II. Título. 
 
CDD – 100
“Receio, porém, que, quando uma pessoa se dedica à filosofia 
no sentido correto do termo, os demais ignoram que sua única 
ocupação consiste em preparar-se para morrer e em estar morto! 
Se isso é verdadeiro, bem estranho seria que, assim pensando, 
durante toda sua vida, que não tendo presente ao espírito senão 
aquela preocupação, quando a morte vem, venha a irritar-se com 
a presença daquilo que até então tivera presente no pensamento 
e de que fizera sua ocupação!” (PLATÃO, Fédon, 64a)
“E também é justo chamar a filosofia de ciência da verdade, por-
que o fim da ciência teorética é a verdade, enquanto o fim da prá-
tica é a ação. (Com efeito, os que visam à ação, mesmo que obser-
vem como estão as coisas, não tendem ao conhecimento do que 
é eterno, mas só do que é relativo à determinada circunstância 
e num determinado momento). Ora, não conhecemos a verdade 
sem conhecer a causa.” (ARISTÓTELES, Metafísica, 883b)
“Uma opinião é uma representação subjetiva, um pensamento 
qualquer, uma fantasia que eu posso ter dum modo e outros de 
outro modo; uma opinião é coisa minha, nunca é uma ideia uni-
versal que exista em si para si. Mas a filosofia não contém nenhu-
ma opinião, porque não existem opiniões filosóficas [...] A filoso-
fia é a ciência objetiva da verdade, é a ciência da sua necessidade: 
é o conceito por conceitos, não é opinar nem deduzir uma opinião 
de outra.” (HEGEL, Introdução à história da filosofia, 1974, p. 51)
“Quem quiser seriamente tornar-se filósofo deve uma vez na vida 
retirar-se para dentro de si mesmo e em si tentar o derrube de 
todas as ciências existentes e a sua reconstrução. A filosofia é 
um assunto inteiramente pessoal de quem filosofa. Trata-se [...] 
de seu saber em busca do universal — mas de um saber cientifico 
genuíno, pelo qual ele desde o início e em cada passo se responsa-
biliza absolutamente em virtude das suas razões absolutamente 
evidentes. Só posso tornar-me verdadeiro filósofo pela minha li-
vre decisão de querer viver para este objetivo.” (HUSSERL, Confe­
rências de Paris, 1990, p. 10)
SUMÁRIO
Prefácio.................................................................................................................11
Apresentação..............................................................................................................13
Sobre o autor...............................................................................................................19
Capítulo 1 - Algumas noções elementares..................21
Noções preliminares...................................................................................22
Origem da filosofia......................................................................................24
Relevância do estudo da filosofia.........................................................27
Áreas de reflexão filosófica.........................................................................28
Metafísica....................................................................................28
Gnosiologia..................................................................................29
Lógica.............................................................................................29
Estética...........................................................................................30
Ética.................................................................................................30
Filosofia política.................................................................................31
Epistemologia...............................................................................32
Referências......................................................................................................33
Capítulo 2 - Condição humana.......................................35
Natureza e cultura: conceitos.................................................................36
Sentido de trabalho.......................................................................40
Ideia de linguagem........................................................................45
Relações entre técnica e sociedade....................................................49
Conceito de técnica........................................................................49
Noção de sociedade.....................................................................52
Socialização................................................................................56
O mito do progresso técnico..................................................60
O homem: uma perspectiva filosófica.................................................64
Referências......................................................................................................70
Capítulo 3 - A propedêutica filosófica.............................73
Distinção entre as formas de leituras da realidade............................74
Distinção entre conhecimento e pensamento...................................91
Introdução à lógica como iniciação filosófica.....................................96
Princípios que regem o pensamento, segundo a lógica 
formal....................................................................................................99
Elementos que constituem a preocupação da lógica 
formal.................................................................................................100
Noções sobre a questão do método..........................................106
Algumas palavras sobre Aristóteles.........................................112
Referências....................................................................................................114
Capítulo 4 - Elaboração do pensamento filosófico.......117
Filosofia e realidade....................................................................................118
Tales, Anaximandro e Anaxímenes: primeiro princípio da 
realidade............................................................................................120
Os grandes sistemas filosóficos: Platão e Aristóteles.........122 
Estoicismo e seu sistema a partir da física.............................129
A questão do método e os fundamentos da razão.........................137
Francis Bacon: a teoria dos ídolos e o pensamento 
científico............................................................................................140
René Descartes e a dúvida metódica......................................149
Immanuel Kant e a crítica da razão...........................................156
Hegel: dialética como linguagem da realidade...................164
A complexidade do pensamento contemporâneo........................175Positivismo, marxismo e fenomenologia: últimas totalidades 
contemporâneas............................................................................177
Augusto Comte: formulador do positivismo.........................180
Karl Marx: a ideologia como oposição à ciência.................190
Acerca da fenomenologia como última totalidade em 
filosofia...............................................................................................202
Friedrich Nietzsche e as três críticas fundamentais............218
Relação entre conceito e conhecimento, segundo Deleuze 
e Guattari...........................................................................................222
Referências....................................................................................................230
Capítulo 5 - Epistemologia, conceito de ética e suas 
demarcações e globalização..........................................239
Problemas epistemológicos....................................................................240
Conceito de ética e suas demarcações................................................258
Aristóteles e a felicidade como supremo bem.................................260
Kant e imperativo categórico como devem em si...............266
Hegel e a filosofia do direito como ideia ético-política.......277
Marx e a crítica ao individualismo como valor.....................289
Demarcação da ética husserliana: relação entre o lógico e o 
ético.....................................................................................................310
Habermas e a teoria do agir comunicativo............................322
Algumas considerações sobre o problema “felicidade”.....325
Globalização, neoliberalismo e a ética utilitarista...........................330
Globalização e suas origens....................................................................330
Globalização e neoliberalismo...............................................................334
Globalização e utilitarismo...........................................................338
Referências....................................................................................................342
Considerações finais ......................................................350
10
11
PREFÁCIO
A falta que faz
Faz sentido estudar filosofia atualmente? Caro leitor, se a sua resposta 
for positiva, você estará reconhecendo a importância dessa área do co-
nhecimento. Por quê? Porque vivemos um novo tempo do mundo, com 
inquietações, esgotamentos e renascimentos. Vivemos uma época em 
que a informação e o conhecimento circulam com grande velocidade e 
violência, dando-nos a oportunidade de ler e refletir sobre tudo e to-
dos. Porém, será que estamos realmente refletindo ou apenas reprodu-
zindo opiniões? Inquietações devem conferir sentido às nossas leituras 
e, nesse horizonte, precisamos buscar de forma discreta e persistente o 
sentido de todas as coisas que existem, assim como fizeram os gregos 
e os filósofos posteriores. 
O que o autor nos propõe é um pensar à maneira filosófica, para que 
se desenvolva uma postura investigativa típica da trajetória acadêmica 
para enfrentarmos os grandes desafios da vida com a consciência de 
nossa história, de nosso lugar. Aqui podemos dar os primeiros passos 
em filosofia.
A filosofia, em si mesma, já é uma ideia sedutora. Assim, vale adiantar 
que, neste livro, você mergulhará no universo da problematização fi-
losófica sobre a condição humana na dimensão da temporalidade, da 
cultura; sobre os diferentes tipos de conhecimento, o entendimento do 
senso comum, o conhecimento científico e o saber filosófico; sobre a 
realidade e sua relação com o real e a verdade; sobre concepções éticas e 
a instigante discussão sobre o fenômeno da globalização, entre outros. 
Como nos alertou certa vez José Saramago, na sociedade atual falta a 
filosofia como espaço, lugar, método de reflexão — falta-nos reflexão.
12
Considerando isso, o autor nos sugere uma trajetória em pontos impor-
tantes da filosofia, em um diálogo proveitoso que tempera o rigor con-
ceitual com exemplos cotidianos da nossa cultura. E é nesse contexto, 
nesse diálogo, que fortaleceremos as condições de possibilidade para a 
construção de um pensamento realmente reflexivo. Boa leitura!
Prof.ª Clara Brum.
(Advogada, graduada em Comunicação Social, Direito e Filosofia, 
pós-graduada em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de 
Janeiro – Uerj, pós-graduada em Mediação Pedagógica em EAD 
pela Pontifícia Universidade Católica – PUC-RJ e mestre em Filo-
sofia pela Uerj. Leciona Filosofia na UVA, bem como o módulo de 
humanística em cursos preparatórios para concurso público na 
forma da Res. nº 75/2009 do Conselho Nacional de Justiça – CNJ).
13
APRESENTAÇÃO
O presente livro tem a finalidade de auxiliar o leitor no estudo de 
Filosofia. Nesse caso, este trabalho está dividido em cinco capítulos e 
seus respectivos tópicos, introdução e conclusão. A saber: o Capítulo 
1, Algumas noções elementares, bem pequeno, tem como objetivo si-
tuar o leitor no universo filosófico com algumas notas esclarecedoras 
quanto aos conteúdos da filosofia, sem esquecer aspectos como sua 
origem, relevância, áreas de reflexão etc.
No Capítulo 2, Condição humana, não se partirá da pergunta por que 
somente o homem é o único ser vivo racional, uma vez que essa con-
dição está dada pela natureza, e pesquisar sobre a origem desse dado 
foge ao intento deste livro. Contudo, refletir sobre essa especificidade 
humana é fundamental para compreender as relações existentes entre 
natureza, cultura, linguagem, trabalho, técnicas etc., além da compre-
ensão sobre o homem sob um olhar filosófico. Esse núcleo de pro-
blemas é fundamental por tratar-se da reflexão acerca da condição 
humana e no que consiste o ser humano e, por outra, sua humanidade. 
Isso é o bastante para direcionar reflexões válidas e propositivas, se 
não definitivas, ou, pelo menos, razoáveis.
 
O Capítulo 3, intitulado A propedêutica filosófica, faz uma análise 
sobre a urgência de compreendermos os fundamentos do pensamento 
filosófico, visto que tentaremos convencer o leitor de que só existem 
dois tipos de conhecimentos, a saber: os da experiência sensível ime-
diata, denominados de senso comum, e os demonstráveis, chamados 
de científicos e filosóficos, derivados da demonstração pelos métodos 
indutivo e dedutivo. Outrossim, desejamos marcar as diferenças das 
leituras que são feitas sobre a realidade a partir do senso comum, da 
religião, da arte, da ciência e da filosofia, além de estudar os aspectos 
elementares da lógica como um saber filosófico que faculta o entendi-
14
mento de que a filosofia não é o reino da opinião, mas um instrumento 
de pura racionalidade com o qual se obtém uma interpretação rigorosa 
da realidade, primando pela demonstração argumentativa. 
No Capítulo 4, Elaboração do pensamento filosófico, ressaltamos a 
importância do pensamento filosófico enquanto leitura necessária à 
compreensão do que chamamos de realidade pelo esforço de separar 
as conquistas da filosofia dos embustes ideológicos, apresentando as 
principais correntes filosóficas do pensamento antigo, especificamen-
te a cosmologia, o platonismo, o aristotelismo e o estoicismo. Outros 
objetos de reflexão desse capítulo são a questão do método e os fun-
damentos da razão. À primeira vista pode parecer um tema repetiti-
vo. Contudo, compreendemos que, nesse capítulo, desenvolveremos 
o tema com algumas peculiaridades ignoradas ou mal resolvidas até 
agora, por isso cremos ser preciso aprofundar a reflexão sobre esse 
objeto. Por fim, embora ingrato quanto à dificuldade da problemática, 
esperamos ter sucesso ao estudar o último tópico, A complexidade 
do pensamento contemporâneo; primeiro porque nele estamos mer-
gulhados, segundo pelas desconexões entre as escolas filosóficas que 
fazem parte do mundo contemporâneo, tornando-se um desafiopara 
aqueles que o estudam.
Por fim, no Capítulo 5, Epistemologia, conceitos de ética e suas de-
marcações e globalização, discutiremos problemas concernentes ao 
universo da epistemologia e, para tanto, iremos nos valer de autores 
importantes, como Bachelard, Popper, Husserl, Bergson, entre outros, 
sempre em uma perspectiva dialética em que as refutações mútuas 
são necessárias para se extrair uma ideia central da ciência enquanto 
problema. No segundo tópico, refletiremos sobre o conceito de ética 
enquanto área da filosofia cujo propósito é refletir sobre os atos do 
mundo moral; a esse respeito, iremos nos apoiar sobre autores fun-
damentais como Aristóteles, Kant, Hegel, Marx e outros. É importante 
15
ponderar que, na investigação sobre o universo ético, também toma-
mos como problema ligado a esse ramo da filosofia os referenciais 
gnosio lógicos, que tratam do conhecimento, e o leitor se deparará com 
nossa abordagem um tanto ousada ao relacionarmos o plano lógico 
com a esfera ética. Por último, investigaremos a natureza, os benefí-
cios e malefícios da glo balização e o movimento mundial dos merca-
dos nacionais em que pese à luta por hegemonias e autopreservação; 
para isso, dividimos o último tópico em três partes, a saber: as origens 
da globalização, liberalismo e globalização e utilitarismo e globaliza-
ção.
Os capítulos vão tomando densidade à medida que nossas investiga-
ções vão se ampliando, por isso os capítulos 4 e 5 são mais longos que 
os outros, por conta da quantidade de elementos complexos que os 
envolvem, somente isso. 
Quanto ao emprego do método deste trabalho1, podemos perguntar: 
qual a finalidade do método no campo da reflexão filosófica? Elaborar 
1 Segundo Gödel (1906-1978), “se o conjunto axiomático de uma teoria é consistente, 
então nela existem teoremas que não podem ser demonstrados ou negados, e nesse caso 
não existe procedimento construtivo que demonstre que determinada teoria é consis-
tente”. Bem, diante desse paradoxo, somos obrigados a acreditar que não há saída para 
a demonstração de qualquer verdade teórica, ou mesmo a menor possibilidade de dis-
cussão, pois, se o matemático austríaco estiver correto, o pensamento pode ser enges-
sado. Todavia, o processo lógico-matemático não pode ser tomado como expressão de 
demonstração da verdade de algo como essencial pura e simplesmente. Entendemos que 
o seu valor está em ajudar na explicação do que o método dialético intuiu e conseguiu 
pela descomplicação do conceito, visibilizando o que estava oculto. Esse oculto que não 
é um ponto específico, mas um conjunto de impressões que se assemelha a um entulho 
que precisa ser removido para que o ente se apresente como ele é (HEIDEGGER, 2008, p. 
26-30), e, ao se apresentar como é, nossas concepções são desinvertidas e passamos a 
considerar o que outrora ignorávamos, perdidamente. Pois bem, o teorema de Gödel é 
essa inflexão fantástica que ainda clama por solução, que não pode ser dada pela ma-
temática sozinha, sob pena de ser considerada como instrumento puramente formal, 
16
meios, técnicas, critérios, princípios, procedimentos etc., que assegu-
rem a validade dos resultados obtidos nesses campos dos saberes, 
com isso criando, também, formas expositivas desses mesmos resulta-
dos construídos ou descobertos. Assim, sendo a metodologia um cam-
po da lógica que investiga os métodos de pesquisa, o método aplicado 
neste livro pode ser chamado de método etimológico-crítico-histórico. 
Contudo, em que consiste esse método? Primeiro, em investigar os 
conceitos nucleares dos problemas do ponto de vista da relação etimo-
lógico-semântica, o que compreende o estudo da origem do conceito e 
como ele é pensado hoje; segundo, em analisar determinado conceito 
cujos elementos constitutivos se pretende desnudar por meio da crí-
tica; terceiro, em não esquecer que os conceitos são historicamente 
criados no campo das relações sociais. Logo, a clareza desse método 
já se encontra na exposição das linhas que se seguem. 
Pedimos perdão caso o texto pareça enfadonho, mas é fundamental 
como forma de estudar os problemas elencados, porquanto é um de-
safio às imposições temáticas da disciplina de Filosofia da UVA. Igual-
mente é preciso destacar que esse método visa a um rigor que facilite 
sua compreensão quanto aos temas filosóficos. Talvez esse método 
seja imperfeito em virtude de sua natureza experimental, mas nos ex-
ao passo que, graças ao seu advento, o mundo se tornou bem melhor. No entanto, não 
é isso que está entre parênteses. O que está suspenso no ar é isolar a epistemologia de 
suas implicações políticas, que, por sua vez, redundam em problemas de natureza ética 
e, portanto, políticas. Nesse particular, somos obrigados, provisoriamente, a concordar 
com Thomas Kuhn (1922-1996), que afirma que há um momento em que o pensamento 
fornecido pela ciência normal é insuficiente para dar conta de problemas que necessitam 
de novas construções explicativas, por isso a ciência revolucionária tem que ser pensada 
sob a ótica de quebra de sistema, ou melhor, a caminho de nova estrutura (KUHN, 2006, 
p. 23-32). Essa nova estrutura epistemológica pode se inspirar no modelo platônico-aris-
totélico de não separar as instâncias ontológica da gnosiológica, até porque os problemas 
não se constituem como eventos isolados, mas como sistemas complexos necessitantes 
de conceitos também complexos. 
17
perimentos é que surgem os grandes progressos no cam-
po dos saberes. Por fim, outra preocupação metodológica 
é aliar o rigor da investigação conceitual à exposição clara 
e elegante. Oxalá possamos atingir nosso intento.
Sempre que publicamos um texto, temos o sentimento de 
imensa incompletude que ele carrega, sobretudo quando 
se trata de filosofia e, especificamente, de um apanhado 
histórico e conceitual dela mesma; confessamos que esta-
mos apreensivos quanto aos resultados do esforço empre-
gado ao longo das próximas páginas.
O conjunto do presente livro tem textos originais e outros 
já publicados sob a forma de artigos destinados a jornais 
e revistas, além de algumas passagens dos nossos livros. 
Os textos já publicados que ora utilizamos foram todos 
muito alterados porque não conseguimos manter o mes-
mo texto quando os tomamos como referências, pois mu-
damos tanto até que o editor nos imprense contra parede, 
exigindo o trabalho. Aprendemos que nada é definitivo ou 
igual — o grande Heráclito já assinalou que ninguém se 
banha duas vezes na mesma água de um rio, em razão de 
tudo ser um fluxo contínuo, e contínuo é o pensamento 
no ato de refletir.
Lemos os textos muitas vezes com o propósito de ofere-
cer, ao conjunto, uma ideia de unidade, coerência, conti-
nuidade e o mais importante: conteúdo conceitual expres-
so em uma cultura filosófica não enciclopédica, porque 
isso é um atributo de gigantes como Hegel e Aristóteles, 
mas com o mínimo de saberes necessários ao universo fi-
losófico. Portanto, quanto a esse detalhe, agradecemos às 
18
leituras críticas feitas pelos amigos Prof.ª Clara Brum, Prof. João André 
Fernandes, Prof. Grassia Pastore e o artista plástico e poeta Marcanto-
nio Costa.
Esperamos ter atendido às expectativas da UVA por meio do seu corpo 
editorial, a quem agradecemos pelo convite, que muito nos honrou.
Aproveitamos para dedicar este livro ao querido leitor e, em especial, 
aos meus pais — in memorian —, além de Lea Trotta Galante, Nathalia 
Andrião Trotta e Alcinéa Andrião Trotta.
19
SOBRE O AUTOR
Wellington Trotta é carioca, tem 54 anos e cursou, orgulhosamente, 
no ensino médio, a Escola Normal da Mabe para formação de profes-
sores de 1ª à 4ª série do antigo primário. Possui graduação em Direito 
pela Universidade Gama Filho – UGF e em Filosofia pelo Instituto de 
Filosofia e Ciências Humanas da Universidade do Estado do Rio de Ja-
neiro – IFCH-Uerj, mestrado em Ciência Política pelo Instituto deFilo-
sofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro – IF-
CS-UFRJ, nas áreas de política e epistemologia, doutorado em Filosofia 
pelo – IFCS-UFRJ, na área de filosofia prática (ética, filosofia política e 
filosofia do direito), e pós-doutorado pela mesma instituição, na área 
de filosofia prática, com a pesquisa referente ao Conceito de ética 
no pensamento de Edmund Husserl, sob a supervisão do Prof. Dr. 
Aquiles C. Guimarães. Atualmente, cursa o doutorado em Direito pelo 
Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Estácio de Sá 
– Unesa, na linha de pesquisa Direitos fundamentais: novos direitos, 
sob a orientação do Prof. Dr. Rafael Mario Iorio Filho. No momento, 
leciona Filosofia na UVA e Unesa.
20
21
CAPÍTULO 1 
ALGUMAS NOÇÕES 
ELEMENTARES
Este capítulo tem por objetivo, prezado leitor, situar você 
no universo filosófico, com algumas notas esclarecedoras 
quanto aos conteúdos da filosofia, sem esquecer aspectos 
como sua origem, ramos, relevância, significado etc.
Algumas noções elementares 22
......................................................................................................................................................................................................................
NOÇÕES PRELIMINARES
Desejo começar nosso diálogo que se dará ao longo das 
páginas deste livro com uma instigante e terrível pergunta 
sobre a existência da filosofia: no que consiste a importân-
cia da filosofia, para nós, ocidentais do século XXI, uma 
vez que possuímos a ciência como saber que corresponde 
às necessidades da vida material, além de desvelar as rea-
lidades naturais e sociais, e a religião judaico-cristã como 
expressão da vida espiritual voltada à transcendência? 
Do ponto de vista de uma retrospectiva histórica, a ciência 
construiu um cortejo de conhecimentos técnico-objetivos 
e metodologias de investigações rigorosas que garantem 
seu sucesso na busca da verdade que se propõe conhecer, 
ao lado do progresso da vida material, deixando ao cris-
tianismo a religiosidade transcendente que, por conta dos 
valores profundos do amor e da fé, inspiram o coração 
humano às melhores práticas nas relações sociais. Nesse 
sentido, à primeira vista, a filosofia tornou-se anacrôni-
ca porque, como um saber que nasceu na Grécia Antiga, 
buscava responder de forma racional às perguntas sobre 
a realidade em face da qual os mitos titubeavam, assim 
como, ao contrário da sabedoria mítica, procurava um sa-
ber moral capaz de convencer racionalmente os cérebros 
da necessidade de um padrão virtuoso de condutas nas 
relações humanas. É bom frisar que a filosofia nasce sob 
o signo da razão, e seu projeto é racionalizar a vida em 
todas as suas possibilidades. 
23Noções preliminares
......................................................................................................................................................................................................................
Todavia, esse suposto anacronismo é apenas aparente, e, 
em virtude da evidência dos fatos, a filosofia ainda per-
manece válida por conta de sua relevante reflexão críti-
co-analítica, da importante capacidade de argumentação 
lógico-dedutiva e da liberdade reflexiva que ela represen-
ta. Logo, esses aspectos justificam o lugar da filosofia no 
mundo contemporâneo.
O lugar da filosofia é evidente porque pensa e elabora 
perguntas inteligentes com o propósito de obter respos-
tas racionais e razoáveis, isto é, respectivamente, obser-
vações puramente lógicas ao lado de proposições logica-
mente plausíveis. Por outro lado, o pensar do ponto de 
vista filosófico é o único capaz de ir além de si e ainda 
fundamentar outras leituras da realidade, como ciência, 
religião e arte, ao mesmo tempo em que diz um não ao 
senso comum. Por essas e outras razões, a filosofia nunca 
será superada, pois suas especificidades partem de ope-
rações como abstração, reflexão, crítica, argumentação, 
conceituação e formulação de princípios que expressam a 
realidade, muito embora seja patente, dentro da esfera fi-
losófica, que as respostas postas como conceitos possam 
e devam ser aperfeiçoadas no processo histórico entre as 
correntes teóricas por meio da discussão de ideias. 
Por fim, a filosofia tem sua sorte na existência humana, 
pois, ao lado da ciência, arte e religião, pergunta e responde, 
ao mesmo tempo, quanto aos fundamentos desses saberes, 
tornando-se, respectivamente, filosofia da ciência, filosofia 
da arte e filosofia da religião. A filosofia está atrelada à 
existência humana, por isso sua longevidade é garantida. 
......................................................................................................................................................................................................................
Algumas noções elementares 24
......................................................................................................................................................................................................................
ORIGEM DA FILOSOFIA
Segundo os resultados das investigações históricas acerca 
da origem da filosofia, sem medo de errar, pode-se dizer 
que o local do seu surgimento foi a Grécia Antiga, espe-
cialmente nas colônias gregas espalhadas pelo Mar Egeu, 
isso por conta do desenvolvimento econômico e condição 
geográfica dessas cidades, o que favoreceu o contato com 
muitos outros povos, possibilitando acumular conheci-
mentos e rearranjá-los de maneira lógica, pondo-os à pro-
va pela reflexão, auxiliada pelo método dedutivo, uma vez 
que os gregos elevaram a matemática e outros saberes ao 
mais alto grau de abstração.
Embora os aspectos acima expostos sejam consideráveis, 
não se pode esquecer a importância das críticas que os 
filósofos gregos fizeram ao conjunto dos mitos que or-
ganizavam os valores, o cotidiano das pessoas e as for-
mas de pensar e apreender a realidade. Nesse sentido, a 
filosofia nasce sob a égide da cosmologia em detrimento 
da teogonia2, ou seja, os primeiros filósofos, sendo mate-
máticos, geógrafos e astrônomos, procuraram pesquisar a 
natureza a partir dela mesma e, com isso, rechaçaram as 
interpretações existentes nas teogonias dos poetas, mes-
2 Narrativa própria das religiões politeístas acerca do nascimento dos deuses 
e suas genealogias, bem como a organização religiosa de um povo po-
liteísta, sem ignorar o fato de os deuses interferirem diretamente nas vi-
das dos indivíduos. Ressaltamos, porém, que hoje os mitos são estudados 
e muito valorados do ponto de vista do estudo da psiquê humana, basta 
lermos os importantes trabalhos de Carl Jung (1875-1961).
25Origem da filosofia
............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................
tres das verdades divinas, que cederam lugar aos filóso-
fos, mestres das verdades descobertas.
Nessa encruzilhada cultural decisiva para a civilização 
grega e a própria humanidade, nasce com a filosofia o ter-
mo logos — λόγος — que tem múltiplos significados, como 
“discurso compreensível”, “explicação coerente sobre 
algo” etc. É comumente conhecido por razão, um discurso 
calculado, pensado, racional, em oposição ao mito — my-
thus/μύθος —, palavra que expressava um universo muito 
rico de significados, mas que, grosso modo, é tomado por 
um discurso poético repleto de metáforas que tinha por 
fim dizer a realidade a partir do elemento divino, em últi-
ma instância, uma narrativa em que o poeta — aedo/ἀοιδός 
—, acompanhado de sua cítara, cantao nascimento, os fei-
tos e o ordenamento da realidade por parte dos deuses. 
O aedo é o poeta andante que, pela magia da palavra ao 
narrar a epopeia dos deuses, educa os homens a partir dos 
sentimentos e valores divinos. Em oposição a esse con-
junto de elementos, o logos terá três funções muito im-
portantes no destino da filosofia como forma racional de 
explicar a realidade, a saber: 1. combater os mitos; 2. re-
futar a opinião vista enquanto senso comum — doxa/δόξα 
—; 3. livrar o homem da paixão — pathos/πάθος —, por 
ela representar excesso ou desmedida. Mais complexo do 
que se costuma pensar, a filosofia não surge apenas como 
novo saber, mas como um sistema explicativo que deveria 
pôr fim ao universo mítico em razão deste não explicar a 
realidade, mas representá-la fora da dimensão humana. 
Então: crítica às teogonias e refutação ao senso comum; 
comércio pujante e desenvolvimento econômico; condi-
ção geográfica enquanto rota de navegações; espírito de 
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Algumas noções elementares 26
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curiosidade; culto à proporção; cultivo da abstração por 
meio da reflexão; amor ao debate e sede de conhecer, tudo 
isso fez dos gregos um povo amante da sabedoria; aliás, o 
termo filosofia — Φιλοσοφία — significa “amigo do saber”: 
filo/Φιλο, “amizade”; sofia/σοφία, “sabedoria”.
Uma observação importante: o fato de a filosofia ter nas-
cido ou sido criada, surgida ou inventada pelos gregos não 
significa que os povos anteriores aos helenos3 não tenham 
refletido sobre a vida, natureza, morte, conhecimento etc. 
A originalidade dos filósofos gregos repousa, sobretudo, 
na forma pela qual eles realizaram esse fenômeno cultu-
ral de pensar, visto que a diferença consiste no fato de os 
filósofos gregos pensarem o pensamento, genuinamente, 
e por elaborarem meios à demonstração de suas proposi-
ções. Por isso, é correto afirmar que a filosofia, além de 
ser constituída por áreas de reflexão, objetos de reflexão, 
também possui toda uma técnica de exploração conceitual 
e de exposição de enunciados; assim, a filosofia é o reino 
do conceito, e não da mera opinião. 
Resta destacar que a filosofia nasce com o propósito de 
conhecer o elemento primário que daria causa à vida, à 
natureza etc. Originalmente grega, ela desponta como um 
saber que perguntava pela matéria natural ou substância 
sobre o que é isso que cerca o ser humano e suas peculia-
ridades intrínsecas ou próprias, diferenciando-se das con-
tribuições dos povos que antecederam aos gregos. Apenas 
uma provocação: a filosofia já nasce dividida em si mesma 
e aquilo que se chamará de ciência, isto é, da reflexão à 
investigação experimental. 
3 Relativo aos antigos helenos, pequena tribo que viveu na região do Epiro 
(noroeste da Grécia) e que deu origem ao povo grego, ou indivíduo dessa 
tribo, Hélade (Grécia). O termo grego tem sua origem no latim.
27Relevância do estudo da filosofia
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RELEVÂNCIA DO ESTUDO DA FILOSOFIA
A relevância da filosofia já está dada por ela mesma quan-
do é tomada como fundamento último das outras formas 
de compreender a realidade, mas, além disso, a importân-
cia de se estudar filosofia tem uma natureza específica, 
que é pensar descortinando o universo majestoso de múl-
tiplos elementos cognitivos, ao mesmo tempo em que de-
senvolve o espírito crítico, a capacidade reflexiva, a radica-
lidade pela abstração, o rigor crítico, a clareza expositiva 
e a sistemática demonstração de um postulado. Dessa for-
ma, o filosofar é um ato complexo que exige habilidades 
específicas e um gosto salutar por querer compreender o 
funcionamento das coisas, visto que, para Aristóteles, o 
sábio procura compreender a ordem e as causas dos fenô-
menos, bem como pôr ordem nas coisas. 
A relevância de se estudar filosofia nos aproxima do diálo-
go privilegiado e permanente com estudiosos importantes 
do cenário filosófico, que são os filósofos, mestres que 
construíram e constroem esse saber necessário às forma-
ções intelectual e moral capazes de nos distinguir de um 
saber opinativo e vulgar, que não está preocupado com 
fundamentos e pouco afeito ao rigor sobre a pesquisa de 
um fenômeno e à exposição de uma ideia.
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Algumas noções elementares 
ÁREAS DE REFLEXÃO FILOSÓFICA
Sendo a filosofia um universo vasto de objetos e preocu-
pações, desde o seu nascimento os filósofos procuraram 
delimitar as áreas da reflexão filosófica com o propósi-
to de marcar o problema a ser estudado, além de obter, 
seguramente, os resultados do esforço intelectual, muito 
embora essa divisão tenha ficado mais clara a partir do 
período moderno da filosofia, que começa, simbolicamen-
te, com René Descartes (1596-1650). 
Levando em conta o caráter propedêutico4 deste trabalho, 
consideramos importante apresentar, em linhas gerais, 
os principais ramos da filosofia, são eles: a) metafísica; 
b) teoria do conhecimento; c) lógica; d) estética; e) ética; 
f) filosofia política; g) epistemologia. Isso para destacar 
as áreas mais diretamente importantes aos nossos cursos.
A – Metafísica
A palavra metafísica vem do grego τα μετά Φυσικά (“depois 
da física”) e foi cunhada pelo filósofo Andrônico de Rodes, 
que, por volta do séc. I a.C., organizou a obra de Aris-
tóteles (384-322 a.C.). Esse termo, empregado no livro de 
4 “Corpo de ensinamentos introdutórios ou básicos de uma disciplina; 
ciência preliminar, introdução. Conjunto de estudos nas áreas humana e 
científica que precedem, como fase preparatória e indispensável, os cur-
sos superiores de especialização profissional ou intelectual.” (HOUAISS, 
2001). As disciplinas propedêuticas são essenciais a uma boa formação 
intelectual.
Áreas de reflexão filosófica
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Aristóteles chamado Filosofia primeira, deveu-se ao fato 
de ele estar posto depois de outro, denominado Filosofia 
natural ou Física. Por isso, a metafísica pode ser pensada 
como filosofia primeira, por estudar a natureza dos primei-
ros princípios, além de fornecer os fundamentos últimos 
de todas as ciências particulares, bem como ser tomada 
enquanto reflexão dos princípios que precedem às expe-
riências, porquanto a metafísica enaltece a reflexão como 
natureza essencial do homem. Ressaltamos que a metafí-
sica pergunta pelos significadose diversos modos do ser. 
B – Gnosiologia 
Conhecida pela expressão teoria do conhecimento, o vo-
cábulo gnosiologia foi cunhado em 1653 por Johann Mi-
craelius (1597-1658), no seu livro Léxico de termos filo­
sóficos e de filosofias ordinárias (Lexicon philosophicum 
terminorum philosophie usitatorum). Precisamente, a gno-
siologia tem como preocupação refletir acerca das condi-
ções de possibilidades do conhecimento, investigando a 
complexa relação entre sujeito e objeto, ou seja, analisa 
a natureza, a origem e os limites do ato de conhecer pelo 
sujeito cognoscente e o objeto a ser conhecido.
C – Lógica
Lógica é um campo da filosofia que investiga as formas de 
pensar de um modo geral como indução, dedução, hipóte-
se, inferência etc., tendo por fim separar o falso do verda-
deiro no que concerne às operações mentais, ou, segundo 
Aristóteles (384-322 a.C.), “ciência da demonstração e do 
saber demonstrativo” (1987, I, 24). Atribui-se a Aristóteles 
a paternidade da lógica em virtude de o conjunto dos seus 
escritos analíticos estarem organizados em seis livros, cuja 
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Algumas noções elementares 
obra é denominada de Órganon, muito embora outros fi-
lósofos, como Platão (428-348 a.C.), por exemplo, já tives-
sem pensado, estudado e discutido os problemas quanto 
ao pensamento e sua expressividade.
D – Estética
É uma área da filosofia que está voltada à reflexão so-
bre o significado de beleza do ponto de vista das artes, 
e não especificamente da beleza humana, podendo ser 
também chamada de filosofia da arte. Esse termo aparece 
pela primeira vez em 1750, por meio do teórico alemão 
Alexander Baumgarten (1714-1762), com o seu livro Esté­
tica — aisthētiké (“fenômeno”) αισθητική —, “que defendia 
a tese de que são objetos da arte as representações confu-
sas, mas claras, isto é, sensíveis mas ‘perfeitas’, enquanto 
são objeto do conhecimento racional as representações 
distintas — os conceitos” (ABBAGNANO, 1982, p. 367). O 
problema “beleza humana”, é estudado pela antropologia 
e pela história. 
E – Ética
Ética é um ramo da filosofia cuja preocupação consiste em 
operar uma reflexão sobre a conduta humana do ponto de 
vista dos valores morais, destacando como tais os signifi-
cados de moral, virtude, amizade, justiça, bem, certo, erra-
do etc. O termo ética vem do grego ethos/ήθος, rodeado de 
múltiplos sentidos, mas que, para os fins deste trabalho, 
tanto pode ser “costumes” como “tradição que organiza 
um grupo social da melhor forma possível”, assim como 
“a doutrina do caráter moral”, ou seja, saber que procura 
analisar os problemas morais e extrair princípios de con-
duta. Ressaltamos que Sócrates (471-399 a.C.), Platão e, 
Áreas de reflexão filosófica
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sobretudo, Aristóteles são os grandes iniciadores dessa 
disciplina filosófica. Por outro lado, não se pode esquecer 
que os sofistas, dramaturgos e políticos da velha Grécia, 
já debatiam os problemas do universo ético. Uma obser-
vação importante: muitos estudiosos, no lugar do termo 
ética, empregam a expressão filosofia moral.
F – Filosofia política 
A palavra política tem muitas implicações, em razão dos 
seus múltiplos significados, tendo sua origem no termo 
grego pólis/πολης, isto é, “cidade”, espaço em que os in-
divíduos moravam, trabalhavam, divertiam-se e organiza-
vam-se em um sentido comunitário em contrário à vida 
rural, o que se denomina hoje urbano. Entretanto, o gran-
de significado de pólis relaciona-se a um tipo de cidade 
na qual a administração do espaço comum não está afeta 
ao palácio, uma vez que não existe rei, e muito menos ao 
templo, em virtude de o sacerdote não ter poderes divi-
nos, somente encargos cívicos. Nesse sentido, política tem 
sua origem no termo πολίτικα, que significa “universo dos 
indivíduos associa dos”, podendo também significar politi-
kê/πολιτικής, “ciência dos negócios da pólis” (Estado); por 
outra, política/πολιτική como “conselho”, ou, ainda, como 
politeía/πολιτεία, no sentido de “governo”, de “administrar”. 
Dessa forma, filosofia política é um ramo da filosofia que 
pergunta pelo significado de associação política, qual a 
melhor associação política e no que consiste a ideia de 
um Estado ou governo no âmbito do bem comum, ou mes-
mo na persecução da justiça como fim último da vida em 
sociedade baseada na equidade enquanto forma de pro-
porcionalidade. 
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Algumas noções elementares 
G – Epistemologia
Do ponto de vista etimológico, a palavra epistemologia é 
composta dos termos gregos episteme/ἐπιστήμη (“conheci-
mento científico”, portanto “ciência”) e logos/λόγος (“dis-
curso racional de”). Logo, do ponto de vista semântico, 
epistemologia é uma disciplina filosófica que investiga a 
natureza do conhecimento científico, isto é, sua origem, 
significado, limites, fins, implicações etc. Enquanto a gno-
siologia investiga as condições de possibilidades do co-
nhecimento em geral, a epistemologia, por outro lado, re-
flete não só sobre o conhecimento científico como estuda 
seus possíveis métodos e ferramentas de verificação dos 
objetos das ciências. Do ponto de vista mais profundo, a 
epistemologia estuda o pensamento científico enquanto 
estética distinta dos pensamentos religioso e filosófico. É 
necessário, ainda, dizer que a reflexão no campo episte-
mológico não é neutra como se pensa, porque as ciências 
estão afetas às implicações políticas do significado de neu-
tralidade científica. 
33
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REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. Tradução de Al-
fredo Boasi. São Paulo: Mestre Jou, 1982.
ARISTÓTELES. Analíticos posteriores. Tradução de Pinha-
randa Gomes. Lisboa: Guimarães Editores, 1987.
CHAUÍ. M. Introdução à história da filosofia: dos pré-so-
cráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Le tras, 
2002. v. 1.
HEGEL, G. Introdução à história da filosofia. Tradução de 
Joaquim de Carvalho. Coimbra: Armênio Amado Editor, 
1974.
HEIDEGGER, M. Parmênides. Tradução de Sérgio Mário 
Wrublevski. Petrópolis: Vozes, 2008.
HOUAISS, A. Dicionário eletrônico Houaiss da língua por­
tuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
HUISNMAN, D. Dicionário dos filósofos. Tradução de 
Claudia Berlinder. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
KUHN, T. O caminho desde a estrutura: ensaios fi losóficos 
1970-1993. Tradução de Cezar Mortari. São Paulo: Unesp, 
2006.
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34
......................................................................................................................................................................................................................Algumas noções elementares 
LALANDE, A. Vocabulário técnico e crítico da filo sofia. 
Tradução de Fátima Sá Correia et al. São Paulo: Martins 
Fontes, 1999.
Áreas de reflexão filosófica
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CAPÍTULO 2 
CONDIÇÃO HUMANA
Não iniciaremos indagando por que somente o homem é 
o único ser vivo racional, pois essa condição está dada 
pela natureza, e pesquisar sobre a origem desse dado 
foge ao intento deste livro. Contudo, refletir sobre essa 
especificidade humana é fundamental para compreender 
as relações existentes entre natureza, cultura, linguagem, 
trabalho, técnicas etc., além da compreensão sobre o ho-
mem sob um olhar filosófico. Esse núcleo de problemas é 
fundamental para a reflexão acerca da condição humana 
e no que consistem o ser humano e sua humanidade. Isso 
é o bastante para direcionar reflexões válidas e propositi-
vas, se não definitivas, ou, pelo menos, razoáveis. Portan-
to, este capítulo está dividido em três tópicos, a saber: 1) 
natureza e cultura: conceitos; 2) relações entre técnica e 
sociedade; 3) o homem: uma perspectiva filosófica.
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Condição humana
NATUREZA E CULTURA: CONCEITOS
Não é preciso ser um filósofo para perceber a existência 
dos planos da natureza e da cultura, embora seja urgente-
mente necessária uma boa fundamentação filosófica para 
se compreender no que consistem esses conceitos e qual 
a relação existente entre ambos, além de entender as limi-
tações impostas pela própria realidade. Ainda que não pa-
reça, o ser humano vive, concomitantemente, na natureza 
e na cultura, mesmo que geralmente não se distinga qual 
a dimensão que precede uma à outra. 
Antes de prosseguir na reflexão sobre o ser humano entre 
natureza e cultura, é preciso saber no que consistem esses 
conceitos a partir do método empregado na Introdução, 
ou seja, fazer uma pesquisa etimológica do termo, com-
preender o seu significado semântico e situar crítica e his-
toricamente o problema.
O termo “natureza” tem sua origem na palavra latina natu-
ra, proveniente do verbo nascere, que significa “nascimen-
to”, passando, mais tarde, a ser entendida como tudo aquilo 
que existe independentemente do homem. O vocábulo natu-
ra, por sua vez, tem sua origem no grego physis/φύσις, cujo 
significado refere-se ao que nasce e cresce espontaneamen-
te, no tocante aos animais e vegetais. Dessa forma, os anti-
gos gregos e romanos entendiam natureza como dimensão 
distinta do espaço humano habitada pelos diversos seres 
vivos, além de mares, rios, ilhas etc., e/ou a ideia de nature-
37Natureza e cultura: conceitos
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za quanto ao sentido próprio de cada objeto, a respeito das 
suas qualidades e suas características definidoras.
Do ponto de vista semântico, natureza tem múltiplos sen-
tidos, dos quais os mais importantes são:
1. o mundo material, espaço aquele em que vive o 
ser humano e existe independentemente das ativi-
dades humanas; 2. conjunto de elementos (mares, 
montanhas, árvores, animais etc.) do mundo natu-
ral; 3. a realidade, em detrimento de quaisquer arti-
fícios ou efeitos artísticos; 4. combinação específica 
das qualidades originais, constitucionais ou nativas 
de um indivíduo, animal ou coisa; caráter inato.5
Contudo, contemporaneamente, entende-se por natureza 
o espaço natural onde vivem todos os seres vivos, incluin-
do o próprio ser humano, destacando que o “universo” 
humano é uma construção de sua inteligência no processo 
histórico, alterando, inclusive, a própria natureza, visto 
que dela ele retira, pela força de trabalho, os elementos 
indispensáveis à existência humana. Nesse caso, nasce o 
que os estudiosos chamam de cultura. 
Em respeito ao método de investigação deste livro, o ter-
mo cultura origina-se do latim cultūra,ae, que se refere ao 
ato de “cultivar”, “tratar”, “lavrar” e, por decorrência, “ve-
nerar”, no sentido físico e moral. No caso semântico, é o: 
[...] conjunto de padrões de comportamento, cren-
ças, conhecimentos, costumes etc. que distinguem 
um grupo social; forma ou etapa evolutiva das tra-
dições e valores intelectuais, morais, espirituais (de 
um lugar ou período específico); complexo de ativi-
5 HOUAISS, 2001. 
38
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Condição humana
dades, instituições, padrões sociais ligados à cria-
ção e difusão das belas-artes, ciências humanas e 
afins.6
Cultura, segundo a primeira definição abrangente na an-
tropologia, é
todo aquele complexo que inclui o conhecimen-
to, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e 
todos os outros hábitos e capacidades adquiridos 
pelo homem como membro da sociedade. (TYLOR, 
1920, p. 01). 
Apesar de esse conceito de cultura desenvolvido por 
Edward Tylor em sua obra Cultura primitiva (Primitive 
culture), de 1871, ser criticado por filiar-se às teorias evo-
lucionistas, cremos que, como pontapé inicial, tem gran-
de importância pelo fato de apresentar a ideia de cultura 
como tudo aquilo criado ou construído pelo homem no 
processo histórico, inclusive transformando a natureza de 
um modo geral e, especialmente, as suas condições natu-
rais, indo de encontro às imposições da natureza sobre o 
ser humano.
Podemos ponderar, sem prejuízo quanto ao conceito de 
cultura conforme novas pesquisas na antropologia, que 
cultura associa-se ao conjunto de valores, costumes, pa-
drão moral, técnicas, invenções, instrumentos, artes, ciên-
cia, filosofia, religião e tudo o que diz respeito ao universo 
humano, enfatizando que o trabalho e a linguagem fazem 
do ser humano um animal cultural (culturae animalia) — 
porque não diferente na natureza?
6 HOUAISS, 2001. 
39Natureza e cultura: conceitos
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Dessa forma, o homem é o único ser vivo que tem duas 
dimensões: aquela em que é um ser natural, fazendo par-
te da natureza ao lado de outras espécies, e a outra que 
o diferencia dos demais seres viventes como um ser que 
pertence ao mundo cultural, construído pelo trabalho ao 
longo dos milênios. Logo, pode-se pensar, sem receio, que 
o ser humano tem dois corpos. O primeiro é o natural, 
aquele constituído pelas moléculas do mundo biológico 
e suas consequentes necessidades, e o segundo, cultural, 
é erigido pela força dos tempos e pelas relações sociais 
determinadas historicamente. Por isso, o homem parece 
ser um animal meio sem jeito, pois, ao mesmo tempo em 
que está aferrado ao império da natureza, esta pode ser 
ou não controlada pelas conquistas culturais; nesse caso, 
o ser humano é o único ser vivo que se supera socialmente 
ao longo da história, o único que altera, destrói e preserva 
a natureza. 
Cultura tem o sentido originário de expressar um conjun-
to de valores que representaria o olhar simbólico desta 
oudaquela formação social; por outro lado, cultura é um 
conjunto de valores que marca uma dada formação social 
e, nesse caso, é a síntese de elementos que constituem a 
tradição e o olhar de um indivíduo dentro do seu grupo 
social para fora dele, que de alguma forma o liga aos ou-
tros membros de sua sociedade. A cultura nos determina e 
dimensiona o nosso papel na sociedade, ao mesmo tempo 
em que nos particulariza ante outras formações sociais. 
Em síntese, a cultura é o elemento de identidade dos indi-
víduos, grupos e classes sociais, porque o processo cultu-
ral se caracteriza como um processo histórico de forma-
ção de identidades, que constrói e ratifica valores que se 
tornam parâmetros para uma vida de interação social. Po-
40
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Condição humana
de-se dizer que o processo cultural é a base psico-histórica 
da interação social, pois sua propriedade básica destina-se 
a garantir um mínimo de sociabilidade. Por isso, somos o 
que somos pelos valores culturais que defendemos e nos 
formamos, porquanto a cultura7 é um processo sociopolí-
tico-econômico que constrói e ratifica comportamentos, é 
a base material da vida social. 
Ao se apropriar da sentença de Aristóteles quanto ao fato 
de o homem ser um animal político, e daí pensá-lo como 
ser cultural, queremos dizer que o ser humano é um ani-
mal8 biocultural, que vem transformando objetos naturais 
em culturais, na medida em que estes fazem parte da con-
dição humana transformada pelo processo de trabalho. 
Nesse caso, fazem-se necessárias duas ou mais palavri-
nhas sobre esse instigante problema.
Sentido de trabalho
Trabalho é um termo cuja origem vem da palavra latina tri-
palǐum, que se referia a um instrumento de colheita de trigo 
que, mais tarde, tornou-se uma máquina de tortura. Dessa 
forma, a ideia de trabalho, desde a antiguidade greco-ro-
mana, passando pelo livro Gênesis do Velho Testamento, 
traz a ideia de sacrifício, de atividade penosa exercida por 
muitos, ao mesmo tempo imposta pela aristocracia, que 
7 Cultura indica o conjunto de comportamentos, crenças, valores espirituais 
e materiais partilhados pelos membros de uma sociedade. A cultura, do 
ponto de vista da antropologia, designa a palavra como um conjunto de 
características que diferenciam as sociedades entre si. A partir dessa ideia, 
cultura é o conjunto de objetos como a língua, hábitos, sentimentos e ati-
tudes. Contudo, as sociedades, por não serem homogêneas, fazem com que 
existam subculturas e suas peculiaridades.
8 Do latim anìmal,-ális, “tudo que tem vida”, “que é animado”; animália; 
como adjetivo, o étimo é o adjetivo latino animális, -e, “que tem vida”.
41Natureza e cultura: conceitos
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vivia no ócio por expressão de sua superioridade de li-
nhagem. Trabalhar, no mundo antigo, era uma atividade 
aviltante desempenhada pelos “homens vis”, “sem alma”, 
“sem talento para uma vida digna e feliz”. 
Todavia, com o advento da Reforma Protestante no século 
XVI, a ideia de trabalho é progressivamente dessataniza-
da, ao ponto de sua plena legitimidade prática ser tradu-
zida positivamente do ponto de vista político no livro do 
filósofo inglês John Locke (1632-1704), Segundo tratado 
sobre o governo civil, publicado em 1690. Nesse livro, 
Locke defende que o trabalho, e não a extensão de uma 
propriedade, é a fonte de toda riqueza e a plena realização 
do homem. Por isso, esse filósofo defende a concepção de 
que a ideia de propriedade passa pelos conceitos de liber-
dade, posses e bem-estar, ou seja, Locke também conclui 
que a liberdade passa pela posse do homem sobre sua 
força de trabalho, seus bens, seu corpo e os resultados de 
sua ação sobre a natureza com propósito de garantir sua 
existência (LOCKE, 1973, p. 42).
A partir desse entendimento e em contrário à maldição 
do trabalho escravo, nasce o conceito de trabalho-ofício 
como prática diária e intrínseca à espécie humana enquan-
to fonte criadora e responsável pela prosperidade como 
recompensa dos seus esforços. Nesse sentido, o calvinis-
mo teve extrema importância, uma vez que ensinava que 
a prosperidade do indivíduo está ligada à dádiva de Deus, 
pois o Senhor recompensa aquele que honestamente vive 
do seu labor e leva uma vida voltada à severidade de hábi-
tos comedidos e gastos parcimoniosos.9 
9 “Se seguirmos fielmente nosso chamamento divino, receberemos o con-
solo de saber que não há trabalho insignificante ou nojento que não seja 
verdadeiramente respeitado e importante ante os olhos de Deus. (Coram 
Deo!) Ver Gen. 1.28; Col. 1.1 e ss.” (CALVINO, 2000, p. 77).
42
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Condição humana
Esses e outros elementos tornam-se características ful-
crais do pensamento incipiente da burguesia sistematiza-
do pelos liberais10 europeus dos séculos XVIII a XIX, que 
imprimem a concepção de que o trabalho é a legitimação 
da propriedade que o homem tem sobre si, sobre seus 
bens e sobre o produto do trabalho. Dessa forma, a nas-
cente burguesia como classe começa a se organizar para 
obter direitos político-econômicos, alia-se ao protestantis-
mo contra a Igreja Católica e promove revoluções signifi-
cativas no seio de muitos países europeus, abrindo cami-
nho para novas etapas político-econômicas até desalojar a 
aristocracia guerreira feudal do poder político do Estado 
moderno. Com a valoração do trabalho até tornar-se eixo 
da produção capitalista, a aristocracia perde poder em 
prol da burguesia necessitante de leis que assegurem o 
comércio, as atividades financeiras e, futuramente, a in-
dustrialização como maciça produção de bens e expansão 
de novas formas de organização produtiva. 
A partir dos trabalhos teóricos de Locke, dos teólogos 
Martin Lutero (1483-1546) e Jean Calvino (1509-1564) na 
apologética do novo homem, dos pensadores econômicos, 
com destaque para Adam Smith (1723-1790), David Ricar-
do (1772-1823) e Karl Marx 1818-1883), entre outros, nas-
10 Liberalismo é uma escola do pensamento jurídico-político europeu que 
surge por volta do final do século XVIII e defende como princípios a liber-
dade, a igualdade jurídica, a desconcentração do poder do Estado em três 
funções (legislativo, executivo e judiciário), a representação parlamentar, 
o Estado de direito em que todos estejam sob a autoridade da lei, a livre 
iniciativa econômica etc. Do ponto de vista da progressão histórica, hoje 
as democracias modernas tentam implementar, por meio de políticas pú-
blicas, o Estado Democrático de Direito.
43Natureza e cultura: conceitos
......................................................................................................................................................................................................................
ce uma nova reflexão sobre o papel do trabalho como 
agente do progresso humano em razão de sua reconcei-
tuação enquanto atividade transformadora da realidade 
natural, individual e social. Não é sem razão que a concep-
ção de trabalho do ponto de vista da física é uma “grande-
za definida como o produto da magnitude de uma força 
e a distância percorrida pelo ponto de aplicação da força 
na direção desta”11. Isso implica ser o trabalho uma força 
transformadora que levou Marx a distinguir trabalho de 
força de trabalho, isso em uma perspectiva de ação sobre 
a natureza enquanto empregofísico-mental na obtenção 
de um determinado resultado. Com base em Aristóteles, 
acertadamente Marx (2013, p. 255) pondera que força de 
trabalho é potência, enquanto trabalho é ato, efetividade.
Nesse sentido, o trabalho é uma ação humana que trans-
forma o seu ambiente à medida que transforma o próprio 
homem, pois, ao mudar a natureza como fonte primária 
de riquezas, os homens mudam suas condições existen-
ciais. Por isso, o trabalho na espécie humana é pensado 
antes de ser executado, ao contrário de outros animais 
gregários, que estão submetidos às férreas condições na-
turais e nunca mudam “suas ações sobre o entorno”. Por 
outro lado, o trabalho humano transformou a natureza e, 
sendo uma atividade criadora, ensejou outra “natureza” 
ao ser humano, isto é, a cultura. Se existe um elemento 
que faz do ser humano um animal superior aos demais, 
esse é a sua capacidade de trabalhar, o que, como ativida-
de criadora, faz do homem contemporâneo um ser dife-
rente do homem antigo.
11 HOUAISS, 2001. 
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Condição humana
Contudo, por mais que muitas correntes teóricas políticas, 
como o socialismo,12 por exemplo, afirmem que o traba-
lho tornou-se um objeto do capital, uma mercadoria igual 
a tantas outras para o capital, sem dúvida alguma o ser 
humano contemporâneo pode ser reconhecido nele, na es-
pecificidade de trabalhador, e o trabalho alça o status de 
exercício da dignidade da pessoa humana. Essa dignidade 
consiste em o homem poder ser livre, e o trabalho liberto 
do reino das necessidades talvez expresse suas potencia-
lidades e, nele, o ser humano alcance sua realização en-
quanto pessoa digna como ser social e moral.
Por fim, sendo o trabalho toda atividade produtiva e cria-
dora exercida pelo homem com determinados fins, muito 
diferente da perspectiva do senso comum, começa, em se 
tratando da sociedade brasileira, a ser percebido como 
fonte da realização pessoal, do prazer e da felicidade em 
virtude do momento em que se executa o trabalho segun-
do as inclinações, expectativas, desejos e recompensas da 
atividade exercida. O trabalho, sendo uma atividade físico-
-mental, meio de explorar racionalmente a natureza para 
satisfações de necessidades humanas vitais, emprego de 
habilidades para os fins da vida econômica, ao lado da lin-
guagem, é a catapulta que nos arremessa à cultura, ao uni-
verso humano propriamente dito, pois, se a cultura pode 
ser resumida como o conjunto das criações humanas, ela 
só pôde existir por força do trabalho, ao mesmo tempo em 
que o trabalho se refaz como elemento da cultura, não sen-
do tão somente uma atividade animal para garantir a vida 
biológica. Não, o trabalho, na dimensão humana, adquire 
12 Socialismo é uma escola do pensamento político europeu que com-
preende serem os homens iguais em direitos, deveres e oportunidades 
econômicas, com isso sendo um movimento político-social em prol do 
trabalhador.
45Natureza e cultura: conceitos
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novas propriedades poderosas, das quais se destacam as 
artes e as ciências, assim como os esportes e o lazer. Se o 
trabalho faz do homem ser capaz de transformar tudo o 
que toca, um Midas13 cultural, a linguagem ratifica a con-
cepção do homem como ser racional, o homo sapiens. 
Ideia de linguagem
Segundo o Dicionário eletrônico Houaiss da língua por­
tuguesa (HOUAISS, 2001), o termo “linguagem” tem sua 
origem no vocábulo provençal lenguatge, que, por sua 
vez, influenciou a língua francesa por meio da palavra 
langage. Contudo, conforme o Dicionário de filosofia, de 
Nicola Abbagnano (1982), existem outras origens a par-
tir dos vocábulos grego logos/λόγος (discurso racional) e 
o latino sermon (“fala”, “conversação”). Entendemos que 
Abbagnano esteja correto porque tanto fala como conver-
sação compreendem ato de entendimento, que, para tal, 
necessita obviamente de comunicação, logo a linguagem 
se faz presente enquanto códigos linguísticos com fins à 
apreensão do que A deseja dizer a B, e a compreensão que 
este obteve do discurso daquele. Nesse sentido, também 
procede quanto ao logos na sua polissemia conceitual.
Ainda conforme Abbagnano, linguagem é: 
[...] em geral, o uso de signos intersubjetivos, que 
são os que possibilitam a comunicação. Por uso 
entende-se: l. possibilidade de escolha (instituição, 
mutação, correção) dos signos; 2. possibilidade de 
combinação de tais signos de maneiras limitadas e 
repetíveis (1982, p. 615). 
13 Midas é um personagem da mitologia grega que transformava em ouro 
tudo aquilo que tocava.
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Condição humana
De outra forma, para o Vocabulário técnico e crítico da 
filosofia, de André Lalande, linguagem é “função de ex-
pressão verbal do pensamento, quer interior ou exterior 
[...] No sentido mais amplo, todo o sistema de signos que 
podem servir de meio de comunicação” (1999, p. 626-627). 
De acordo com os dois dicionaristas do ponto de vista fi-
losófico, linguagem é o conjunto de elementos conven-
cionais (signos) gráficos, sonoros, gestuais etc. que visa 
à comunicação, que buscando a possibilidade de falantes 
e ouvintes se entenderem sobre um determinado objeto, 
fenômeno, conceito, problema etc. Portanto, o ato de co-
municação implica entendimento sobre o que se está con-
versando, discutindo, discursando etc.
Importante destacar que um grande problema do ato de 
comunicação entre os indivíduos parte, geralmente, da fal-
ta de um sistema razoável de elementos intelectivos que 
estabeleçam formas estruturadas de um padrão que per-
mita entendimento, compreensão etc., eliminando, assim, 
ruídos prejudiciais ao diálogo. Contudo, foi por meio da 
comunicação, enquanto invenção humana fabulosa, que o 
ser humano pôde se constituir como humanidade; pôde 
criar a história e dela fazer uso para contar e refletir acer-
ca do seu processo de progressão no que tange aos costu-
mes, aos hábitos, aos sentimentos, à sensibilidade, ao en-
tendimento e a tudo o que faz do homem um ser cultural 
— et culturae: um inventor de realidades, um construtor 
de técnicas que possibilitaram a ele ser o único animal que 
fez uma revolução “por si” e “em si mesmo”, distancian-
do-se dos outros animais à medida que se tornou senhor 
do seu destino e responsável por erigir sistemas comple-
xos de leituras da realidade, como arte, religião, filosofia 
e ciência. 
47Natureza e cultura: conceitos
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Se o trabalho foi aquela máquina inventada pelo homem 
com o propósito de extrair sustento da natureza e como 
sistema de técnicas visando a soluções quanto a esses e 
outros problemas em diversos campos do fazer humano, 
a linguagem, ao seu lado, fez do homem um ser racional. 
Óbvio que a linguagem visa à comunicação, mas às vezes 
não parece; a comunicação só foi e é possível graças à ca-
pacidade mental do ser humano de abstração, de reflexão, 
de crítica, de análise, de investigação e de demonstração. 
A linguagem, sendo um instrumento de falas, pressupõe 
indivíduos racionais e, com isso, assim como a razão de-
senvolveu a linguagem, esta acelerou os processos racio-
nais nos seres humanos, criando sistemasracionais de fa-
las, que são as línguas, e outros sistemas de comunicação. 
Nesse sentido, a partir de Nietzsche (1846-1900), novos 
estudos refizeram a imagem que se tinha dos velhos sofis-
tas da Grécia Antiga, que deixaram de ser pejorativamente 
falastrões cobradores de ensino, passando à condição de 
filósofos-filólogos interessados na gramática grega com o 
escopo de ensinar retórica aos seus alunos para que pu-
dessem falar de forma a serem entendidos. 
No estudo da linguagem, o século XIX edificou a linguística 
como a ciência que fornece estudos importantes sobre os 
sistemas de línguas e processos de comunicação como ato 
de racionalidade, sem esquecer que a filosofia da linguagem 
examina em que medida a linguagem visa à comunicação 
ou, acima de tudo, tem por objetivo desenvolver a ampla ca-
pacidade cognitiva do homem. Assim, destaca-se Ferdinand 
de Saussure (1857-1913), com a publicação póstuma de sua 
grande obra Curso de linguística em geral, de 1916.
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Condição humana
Ao que nos parece, esse ato de racionalidade construiu a 
comunicação, as relações sociais e a própria política como 
centro dialogal especializado capaz de solucionar confli-
tos por meio de técnicas institucionais, ou seja, meios ju-
rídicos que fazem com que os homens socialmente solu-
cionem conflitos a partir de normas jurídicas previamente 
estabelecidas como técnicas capazes de antever proble-
mas e disciplinar determinadas condutas.
Desejamos ponderar que a comunicação, mesmo sendo 
um conjunto de códigos linguísticos, também não deixa 
de ser uma técnica, ou um sistema de técnicas, que faculta 
a compreensão entre falantes e ouvintes, por isso, sem 
entrar em especificidades inoperantes para os fins deste 
trabalho, três podem ser as funções básicas da linguagem, 
a saber: 1. cognitiva, que é representação de fatos, fenô-
menos, realidade etc.; 2. expressividade, sendo a expres-
são e suscitação de sentimentos; 3. comunicativa, que é a 
comunicação de algo, levantamento de objeções etc. As-
sim, concordando com Jürgen Habermas (1929), pode-se 
dizer que a linguagem passa a ser explorada como fonte 
primária da integração social (2010, p. 35), ou, ainda, que: 
[...] atores na qualidade de falantes e ouvintes — 
tentam negociar interpretações comuns da situação 
e harmonizar entre si os seus respectivos planos 
através do processo de entendimento. (HABERMAS, 
2010, p. 35).
Por fim, não podemos deixar de enfatizar que toda comu-
nicação é um ato racional, porque implica jogos de racio-
cínios que são lógicos em si mesmos. 
49Relações entre técnica e sociedade
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RELAÇÕES ENTRE TÉCNICA E SOCIEDADE
No que consiste a sociedade? O que consolida a organiza-
ção social? O que mantém coesa a sociedade? Qual a na-
tureza da ordem? Por que os homens são capazes de co-
operar? Será que a ordem se desenvolveu por intermédio 
dos padrões sociais que estabelecemos? A desigualdade 
na sociedade é inerente à natureza da organização? Cons-
tatamos que o homem é um ser social, por isso as ciências 
sociais14 não estudam o homem a partir do ser individual, 
mas no seu contexto coletivo, dentro de uma estrutura, e 
se preocupa justamente com o homem e suas representa-
ções coletivas. É importante estabelecer, nesse caso, o que 
comumente se entende por sociedade e técnica.
Conceito de técnica
A palavra “técnica” tem sua origem no grego tékhné/τέχνη, 
que significa “arte”,15 “ofício”, “destreza”, “habilidade es-
pecial para tratar com objetos”, que pode implicar ou não 
a criatividade. Assim, do ponto de vista semântico, a téc-
nica é pensada como um:
14 Por ciências sociais se entende um conjunto de ciências que pertence ao 
quadro das ciências humanas cuja especificidade é de estudar o homem 
em uma perspectiva social (sociologia) e política do ponto de vista das 
instituições políticas, sobretudo o Estado (ciência política), e investigar as 
condições bioculturais que fazem com que grupos/sociedades vivam de 
tal maneira e outros vivam de formas diversas (antropologia).
15 Do latim ars, artis, “maneira de ser ou de agir”, “habilidade natural ou 
adquirida”, “arte”, “conhecimento técnico”. Contudo, arte toma historica-
mente uma forma de olhar a realidade e interpretá-la. Para muitos estu-
diosos, ela é a mais sublime das invenções humanas.
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Condição humana
[...] conjunto de procedimentos ligados a uma arte 
ou ciência; maneira de tratar detalhes técnicos 
(como faz um escritor) ou de usar os movimentos 
do corpo (como faz um dançarino); jeito, perícia em 
qualquer ação ou movimento.16
Dessa forma, pelo menos em alguns aspectos, o conceito 
atual de técnica ainda guarda alguns elementos da com-
preensão grega de técnica como arte, apesar de atualmen-
te o entendimento de técnica, de uma maneira geral, estar 
desvinculado do seu sentido originário de criatividade, em 
favor de um fazer irrefletido, repetido e “fabricativo”. 
Todavia, retomamos o conceito de técnica extraído de 
tékhné/τέχνη com o propósito de destacar os muitos sa-
beres que os homens possuem e como eles os aplicam no 
cotidiano, portanto o artesão, ao lado do intelectual, é res-
ponsável pelas inúmeras transformações que os homens 
operaram e operam na natureza e no universo cultural, 
passando pela materialização da sociedade até os nossos 
dias, diante dos nossos muitos desafios.
As técnicas nasceram das necessidades de os homens so-
lucionarem problemas postos pela natureza, assim como 
imposições da vida social. Dessa forma, não se separam 
técnicas da produção e do trabalho; aliás, técnica e traba-
lho são elementos fundamentais da produção, podendo 
ser representados da seguinte forma: produção, distribui-
ção e comercialização de bens importantes à manutenção 
da vida humana, por isso os sistemas produtivos se suce-
dem historicamente, em virtude de os homens aperfeiçoa-
rem esse determinado conjunto de técnicas.
16 HOUAISS, 2001. 
51Relações entre técnica e sociedade
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Segundo esse ponto de vista, o modo de produção capi-
talista tem representado idealmente os grandes esforços 
que lá atrás os europeus realizaram quando fizeram a re-
volução científica a partir do século XVII, impulsionando 
assombrosamente as mais variadas técnicas, não só pro-
dutivas como as imperantes no mundo militar, na esfera 
naval, nos meios de transporte e comunicação, na maximi-
zação da produção até a automatização do trabalho. Não 
sem motivo que Marx e Friedrich Engels (1820-1895), no 
Manifesto comunista, de 1848, elogiam os maravilhosos 
feitos da industrialização como etapa superior do modo 
de produção capitalista, sem olvidar as mazelas que esse 
modelo produtivo trouxe

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