1 ENDOCRINOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Síndrome Metabólica INTRODUÇÃO • Características gerais: o A síndrome metabólica (SM) é um conjunto de fatores de risco cardiovascular → Hipertensão, aumento de glicose e dislipidemia o Geralmente está relacionada com a síndrome de resistência à insulina e com a obesidade abdominal o A resistência insulínica, na maioria das vezes, é uma condição adquirida, raramente doenças genéticas cursam com quadro de resistência insulínica ▪ Condição em que ocorre menor utilização de glicose pelos tecidos, causando elevação compensatória da secreção de insulina pelas células beta-pancreáticas, desencadeando uma série de alterações e disfunções endócrino-metabólicas ▪ A grande maioria dos casos de obesidade possuem quadro de resistência insulínica (chegando a 90%) • Epidemiologia: o A SM acomete 27% da população adulta mundial ▪ Esses pacientes têm 3x mais risco de sofrer IAM ou AVC comparados às pessoas que não têm a síndrome ▪ Esses pacientes têm risco 5x maior de ficarem diabéticos (DM2) o A grande maioria dos pacientes diabéticos vai morrer por doença cardiovascular (até 80% dos 380 milhões) o 43% da população brasileira tem sobrepeso ou obesidade • Conceito x Definição: o O conceito de SM é mundialmente aceito o A definição de SM não é aceita universalmente, depende da sociedade de especialidade ▪ Utilizaremos nesta aula a sociedade de diabetes e de cardiologia o A importância de ter um critério diagnóstico é para identificar esses pacientes com alto risco para doença cardiovascular (DCV) e DM2 • Diagnóstico: o Critérios baseados na sociedade brasileira de diabetes ▪ CA (Circunferência abdominal) ≥ 90 cm em homens e ≥ 80 cm em mulheres ▪ Triglicerídeos ≥ 150 mg/dL ▪ HDL-c < 40 em homens e < 50 em mulheres ▪ PAS ≥ 130 mmHg e/ou PAD ≥ 85 mmHg ▪ Glicemia de jejum ≥ 100 mg/dL ou tratamento medicamentoso para hiperglicemia o Fecharemos o diagnóstico de SM na presença de 3 ou mais desses critérios PROF. ADILSON LAMOUNIER 2 ENDOCRINOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 TECIDO ADIPOSO • Conceitos: o O conceito clássico/antigo de tecido adiposo é de depósito inerte de energia o O conceito endocrinológico atual é de que o tecido adiposo um órgão endócrino, a maior glândula do corpo humano, produzindo hormônios e regulando o consumo e o gasto de energia através de sinalização a nível hipotalâmico e a nível periférico na sensibilidade à insulina • Tipos de tecido adiposo: o Há 2 tipos principais de tecido adiposo (visceral e periférico) ▪ O visceral é o metabólico ▪ O periférico é o energético (que efetivamente armazena energia) → Nos braços, pernas, quadril etc. o Apesar de serem a mesma célula, vir do mesmo precursor, possuem funções completamente diferentes o Obesidade abdominal é considerado um fator de risco independente para doença cardiovascular o Tecido periférico (armazena energia) é feito de células pequenas, que têm capacidade de encher de gordura, crescerem e acumular gordura dentro das células ▪ Tem uma sensibilidade boa à insulina → Então, quando aumenta a produção de insulina ele tira a energia e bota para dentro dele o Tecido abdominal/visceral geralmente é feito de células grandes e com capacidade pequena de armazenar mais gordura, então tem pouca capacidade de retirar gordura da circulação sanguínea e estocar como energia ▪ Não tem uma sensibilidade boa à insulina → Então, não consegue reconhecer a sinalização da insulina e em vez de retirar energia da periferia e estocar dentro da célula, ele faz o contrário, começa a liberar gordura na circulação sanguínea ▪ Tem uma lipólise aumentada → Com isso, aumenta dislipidemia do paciente • Efeitos metabólicos dos produtos dos adipócitos: o Fatores inflamatórios 3 ENDOCRINOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Fatores diretamente relacionados à placa de aterosclerose o Fatores marcadores de risco para infarto do miocárdio o Fatores que pioram a resistência à insulina o Fatores que aumentam a aterogenicidade da dislipidemia o Fatores relacionados à hipertensão arterial • Liberação de gordura pelo tecido adiposo: o Precisamos entender o efeito da liberação de gordura pelo tecido adiposo visceral em 3 órgãos principais ▪ Fígado → O tecido adiposo visceral libera gordura na circulação intra-hepática, aumentando a quantidade de gordura no fígado, aumentando a resistência à insulina (entende que não precisa mais de energia) ❖ O fígado, então, para de pegar a glicose para transformar em glicogênio e começa a quebrar glicogênio para liberar glicose na circulação ❖ Além disso, no fígado, o excesso de ácido graxo vai aumentar a produção e partículas pequenas de LDL (que são as partículas mais aterogênicas) ▪ Músculo → Acontece a mesma coisa do fígado, é sinalizado que tem energia suficiente, então o músculo para de captar glicose e, com isso, vai ter mais glicose na circulação ▪ Pâncreas → Aumento de gordura chegando no pâncreas leva a uma interpretação de que o paciente comeu e precisa de um tiro de insulina para a glicose que deve estar vindo junto (situação normal) ❖ Por isso, numa situação normal, quando comemos gordura também produzimos insulina, não só quando comemos glicose ❖ Porém, quando essa gordura fica acumulada dentro do pâncreas, a célula beta começa a perder essa percepção do sujeito estar se alimentando ou não e começa a diminuir a secreção de insulina (menor capacidade de produção de insulina) o Resumindo → Fígado jogando glicose na circulação, músculo não captando glicose e pâncreas não produzindo insulina (fisiopatologia do DM2 relacionado com a síndrome metabólica) 4 ENDOCRINOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o A obesidade intra-abdominal também está diretamente relacionada com o aumento de triglicerídeos e com a diminuição de HDL, que também são 2 fatores par diagnóstico de síndrome metabólica ▪ Triglicerídeos > 150 ▪ HDL < 40 (homens) e HDL < 50 (mulheres) • Fator central da SM: o Basicamente temos a obesidade central relacionada diretamente com a resistência à insulina como fatores centrais da síndrome metabólica ▪ Isso vai aumentar hipertensão arterial, hiperglicemia, risco de doença macrovascular, dislipidemia, disfunção endotelial, obesidade e intolerância à glicose, além de diminuir fibrinólise DIAGNÓSTICO O diagnóstico de síndrome metabólica é baseado na história clínica e no exame físico. • História clínica: o Importante observarmos basicamente os fatores de risco para doença cardiovascular → Idade, tabagismo, antecedente de HAS, diabetes, doença coronariana, AVC, história familiar, uso de medicamentos hiperglicemiantes, inventário alimentar e atividade física • Exame físico: o 3 dados principais → IMC, circunferência abdominal (CA) e pressão arterial o IMC é o peso dividido pela altura ao quadrado ▪ IMC > 30 → Obesidade ▪ IMC > 35 → Obesidade moderada ▪ IMC > 40 → Obesidade grave ▪ O problema é que o IMC não distingue massa gorda de massa magra ▪ Considerar o biotipo do paciente para análise do IMC 5 ENDOCRINOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o A circunferência abdominal é medida no ponto médio entre a crista ilíaca e o rebordo costal ▪ Um erro comum é medir a CA no nível da cicatriz umbilical → Pode coincidir com o local certo para medir, mas, às vezes, o paciente obeso tem o abdome em pêndulo, então o umbigo dele está bem para baixo ▪ A CA está diretamente relacionada com risco cardiovascular e metabólico ❖ Consideramos para diagnóstico de síndrome metabólica → ≥ 90 cm (homens) e ≥ 80 cm (mulheres) ❖ Consideramos como fator de risco cardiovascular → ≥ 102 cm (homens) e ≥ 88 cm (mulheres) o A pressão arterial também deve ser aferida ▪ Nosso limite é uma PA de 130/85 mmHg • Laboratório: