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Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 1 de 16 Apelação Cível e Reexame Necessário nº 1303085-2, da Região Metropolitana de Londrina – Foro Central de Londrina, 2ª Vara da Fazenda Pública. Apelantes: Estado do Paraná e Município de Londrina. Apelado: Ministério Público do Estado do Paraná. Relator: Des. Luiz Mateus de Lima. Revisor: Des. Adalberto Jorge Xisto Pereira. APELAÇÕES CÍVEIS E REEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PACIENTES PORTADORES DE MOLÉSTIAS QUE NECESSITAM DE TRANFERÊNCIA PARA UNIDADE DE TRATAMENTO INTENSIVO. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA DO MUNICÍPIO DE LONDRINA AFASTADA. INTERESSE PROCESSUAL CONFIGURADO. INOCORRÊNCIA DE PRECLUSÃO PRO- JUDICATO. ARGUIÇÃO DE CUMPRIMENTO DE PARÂMETROS EXIGIDOS PELO MINISTÉRIO DA SAÚDE. ARGUMENTO QUE NÃO AFASTA O DIREITO CONSTITUCIONAL À SAÚDE E À VIDA. AUSÊNCIA DE PREVISÃO ORÇAMENTÁRIA. FATO QUE NÃO JUSTIFICA A RECUSA A TRANFERÊNCIA DOS SUBSTITUÍDOS PARA A UTI. DEVER DO ESTADO DO PARANÁ E DO MUNICÍPIO DE LONDRINA CONFIGURADO. PREVALÊNCIA DO DIREITO À SAÚDE E À VIDA. RECURSOS DE APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDOS E Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 2 de 16 Autos n.º 1303085-2 DESPROVIDOS. SENTENÇA MANTIDA EM GRAU DE REEXAME NECESSÁRIO. Tendo em vista que o Sistema Único de Saúde (S.U.S.), é financiado por recursos do orçamento da Seguridade Social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, cada um destes entes, como unidades federativas, tem o dever de prestar assistência à saúde de forma integral. Não há de se falar em falta de interesse de agir, na hipótese dos autos, pois a transferência só se deu após o ingresso com a demanda em juízo, bem como por ter se tornado indispensável o prosseguimento do feito para, diante dos elementos de prova, reforçar a imprescindibilidade do procedimento recomendado aos pacientes. Em decorrência da desistência do pedido coletivo por parte do autor, ora recorrido, não há que falar em incompetência do juízo, nem mesmo em preclusão pro- judicato uma vez que o juiz a quo não se declarou incompetente, abrindo oportunidade para que a inicial fosse emendada pela parte autora. Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 3 de 16 Autos n.º 1303085-2 Ainda que o Município de Londrina tenha leitos hospitalares cadastrados dentro dos parâmetros exigidos pelo Ministério da Saúde, tais parâmetros trazidos pela Portaria Ministerial GM nº 1.101/02 estipulam o mínimo a ser seguido, não podendo servir de argumento apto a restringir o direito que todo cidadão tem ao tratamento adequado a sua moléstia. No tocante à alegação de violação ao Princípio da Reserva do Possível, esta também não merece ser acolhida, vez que não se deve discutir matéria orçamentária (dispêndio dos recursos públicos – Princípio da Reserva do Possível) quando a própria Constituição Federal prevê o orçamento de seguridade social, com recursos originários das três fontes que integram o sistema unificado de saúde. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível e Reexame Necessário nº 1302777-1, da Região Metropolitana de Londrina, Foro Central de Londrina – 2ª Vara da Fazenda Pública em que são apelantes Estado do Paraná e Município de Londrina e apelado Ministério Público do Estado do Paraná. Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 4 de 16 Autos n.º 1303085-2 Trata-se de apelações cíveis promovidas em face de decisão oriunda de ação civil pública (autos n° 0079429-02.2013.8.16.0014), interposta pelo Ministério Público do Estado do Paraná que julgou procedente o pedido formulado na inicial condenando os réus “a realizar a transferência dos pacientes Márcia do Carmo Monteiro, Sebastião Garcia Domingues e Cristiano Doria Pereira para leitos de UTI a fim de que lhe seja garantido o tratamento de que necessitam, inclusive junto a hospitais privados, se necessário”.(fl. 426/431). Ao final, condenou os réus ao pagamento das custas processuais. O Estado do Paraná alega em suas razões recursais que: a) antes da comunicação oficial da concessão da liminar, dois dos três pacientes já haviam sido transferidos para UTI, assim sendo, ausente o interesse de agir para a propositura da ação; b) houve preclusão pro- judicato uma vez que o juiz a quo entendeu primeiramente que a pretensão abrangia diversas comarcas devendo ser reconhecida a competência para o julgamento do pedido ao foro da capital do Estado do Paraná, entretanto, posteriormente, entendeu ser competente para o julgamento do feito; c) impossibilidade do Estado ser condenado ao pagamento de custas. Requer seja conhecido e provido o presente recurso de apelação cível (fls.441/445). O município de Londrina, em apelação cível, alegou em síntese que: a) há ilegitimidade passiva uma vez que sua personalidade jurídica do recorrente não se confunde com a Autarquia Municipal de Saúde; b) Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 5 de 16 Autos n.º 1303085-2 necessidade de inclusão da União no polo passivo; c) os pedidos de transferência não foram negados tendo sido adotado pelo recorrente todos os procedimentos necessários; d) respeita os parâmetros do Ministério da Saúde quanto aos leitos hospitalares em UTI disponíveis não havendo nexo causal entre a conduta do agente e o evento danoso; e) deve ser respeitado o Princípio da Reserva do Possível; f) devem ser observados “a matéria em tela no âmbito do Sistema Único de Saúde é disciplinada pela Portaria Ministerial GM nº 1.101 de 12/06/02 que estabelece os parâmetros de cobertura assistencial no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS (...)possui a Fazenda Pública Municipal a prerrogativa de fazer adequações locais de acordo com sua realidade, estando, nada obstante, dentro dos parâmetros do Ministério da Saúde quanto ao oferecimento de leitos de UTIs”. Requer seja conhecido e provido o presente recurso de apelação cível. Foram apresentadas contrarrazões às fls. 478/485. É o relatório. II – VOTO E FUNDAMENTAÇÃO. Presentes os pressupostos recursais de admissibilidade, conheço dos recursos de apelação cível e lhes nego provimento, mantendo-se a sentença em reexame necessário. Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001,Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 6 de 16 Autos n.º 1303085-2 A hipótese dos autos versa sobre a transferência dos pacientes Márcia do Carmo Monteiro, Sebastião Garcia Domingues e Cristiano Doria Pereira para leitos de UTI, a fim de que lhes seja garantido tratamento, inclusive junto a hospitais privados, se necessário. Passarei a análise dos apelos e do reexame necessário de forma conjunta, vez que as matérias deles constantes se confundem. Da Preliminar Da ilegitimidade passiva do Município de Londrina – litisconsórcio passivo da União – Incompetência do Juízo. Não merece prosperar a alegação de ilegitimidade do Município de Londrina para figurar no polo passivo da presente lide, bem como a alegação de litisconsórcio passivo da União. Sabe-se que a saúde é um direito público subjetivo fundamental, ligado à dignidade da pessoa humana, constitucionalmente garantido, cabendo ao Estado implementar políticas públicas que atendam aos hipossuficientes, assegurando- lhes, na prática, a consecução de seus direitos, conforme consagra o artigo 196 da Constituição Federal, verbis: Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 7 de 16 Autos n.º 1303085-2 Art. 196 - "A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação". [Grifos nossos]. Assim, utilizando-se como fundamento o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, nenhum cidadão poderá sofrer qualquer ato que atente contra a sua saúde, sendo que tal garantia abrange o direito do cidadão ao tratamento adequado, inclusive de forma gratuita, desde que prescritos por profissional médico à pessoa portadora de doença e desprovida de recursos financeiros para custear os mesmos. Ademais, o Sistema Único de Saúde (S.U.S.), configura rede regionalizada e hierarquizada de ações e serviços, através da qual o Poder Público implementará o seu dever constitucional, sendo que caberá à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, em razão do Princípio da Descentralização, executar serviços visando ao atendimento à saúde da população. Neste sentido dispõe o artigo 198, parágrafo 1º, da Constituição Federal, abaixo transcrito: "Art. 198 - As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:(...) Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 8 de 16 Autos n.º 1303085-2 § 1º - O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito federal e dos Municípios, além de outras fontes." Portanto, tendo em vista que o Sistema Único de Saúde (S.U.S.), é financiado por recursos do orçamento da Seguridade Social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, cada um destes entes, como unidades federativas, tem o dever de prestar assistência à saúde de forma integral. Dessa forma, qualquer dessas entidades tem legitimidade para figurar no polo passivo da demanda, ainda que isoladamente. Razão pela qual, o ente público municipal é parte legítima para compor a lide no polo passivo da demanda. Neste sentido é a orientação jurisprudencial: " AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. INTERNAÇÃO. UTI. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS ENTES FEDERADOS. 1. Pleito antecipatório de tutela para fins de transferência de paciente, que conta com 70 anos de idade e foi vítima de AVC Isquêmico, para Unidade de Tratamento Intensivo. Verossimilhança da alegação e possibilidade de dano irreparável. Suficiente demonstração nos autos, como exigido pelo art. 273 do CPC. Decisão extra petita não configurada. 2. Responsabilidade solidária entre os entes federados pelo fornecimento de medicamentos e demais ações de saúde. Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 9 de 16 Autos n.º 1303085-2 Entendimento predominante junto ao Egrégio 2º Grupo Cível, a que pertence esta Colenda 4ª Câmara Cível. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70055512206, Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Eduardo Uhlein, Julgado em 28/08/2013) (TJ-RS - AI: 70055512206 RS , Relator: Eduardo Uhlein, Data de Julgamento: 28/08/2013, Quarta Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 09/09/2013) APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. REMOÇÃO PARA UTI. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS ENTES PÚBLICOS. DIREITO À SAÚDE. A responsabilidade dos entes públicos (União, Estados-Membros e Municípios) é solidária, podendo a parte demandante optar por exigir o cumprimento da obrigação de um ou de todos, uma vez que são solidariamente responsáveis, cabendo àquele que satisfizer a obrigação exigir o ressarcimento dos demais, na hipótese de o procedimento requerido ser diverso dos especificamente previstos em lei para si. Cabe ao Estado (lato sensu) o dever de garantir o direito constitucional à saúde, devendo adotar medidas que assegurem o acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para sua promoção, proteção e recuperação, conforme disposto no art. 196 da Constituição Federal. No mesmo sentido, o art. 214 da Carta Magna determina que a saúde é direito de todos e dever do Estado e do Município, através de sua promoção, proteção e recuperação. Caso concreto em que tanto a urgência quanto a impossibilidade do paciente arcar com as despesas do tratamento restaram comprovadas. NEGADO SEGUIMENTO À APELAÇÃO. (Apelação Cível Nº 70060509437, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 10 de 16 Autos n.º 1303085-2 RS, Relator: Newton Luís Medeiros Fabrício, Julgado em 04/08/2014) (TJ-RS - AC: 70060509437 RS , Relator: Newton Luís Medeiros Fabrício, Data de Julgamento: 04/08/2014, Primeira Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 15/08/2014) No entanto, embora todos os entes tenham responsabilidade em prestar assistência à saúde da população, é possível o pleito de tratamento adequado perante cadaum deles, não sendo necessário que os demais entes componham o polo passivo da demanda. Desse modo, o Município de Londrina possui legitimidade passiva para a demanda, não havendo que falar em litisconsórcio passivo da União. Da ausência de interesse processual Argui o Estado do Paraná que ausente o interesse de agir para propositura da ação vez que antes da comunicação oficial da concessão da liminar, dois dos três pacientes já haviam sido transferidos para UTI. Não assiste razão ao recorrente Isto porque, o encaminhamento dos pacientes para UTI ocorreu apenas após o ajuizamento da presente ação e em razão da propositura da demanda, conforme de extrai do documento de f. 179 o qual demonstra que os mesmos estavam na fila de espera pelo leito quando do requerimento do Ministério Público. Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 11 de 16 Autos n.º 1303085-2 Apesar de já estar patente o alcance da transferência dos substituídos, em caráter de urgência, para a UTI, é certo que o julgamento do processo, com análise das preliminares e do próprio mérito, deveria, de fato, ocorrer. Possíveis afastamentos do direito rogado em favor dos pacientes conduziriam a atos outros, dessa vez, com o propósito de eventual ressarcimento do Poder Público pelas despesas médico-hospitalares suportadas. Logo, não há de se falar em falta de interesse de agir, na hipótese dos autos, pois a transferência só se deu após o ingresso com a demanda em juízo, bem como por ter se tornado indispensável o prosseguimento do feito para, diante dos elementos de prova, reforçar a imprescindibilidade do procedimento recomendado aos pacientes. Da preclusão pro-judicato Alega o Estado do Paraná a ocorrência de preclusão pro-judicato uma vez que o juiz a quo reconheceu, por meio de despacho, a incompetência absoluta para o julgamento do feito, tendo revisto o posicionamento da sentença rechaçada e julgado o mérito da demanda. Tal arguição não merece acolhida. Conforme se extrai do feito, o Ministério Público do Paraná ingressou com a presente ação civil pública visando o fornecimento de leitos de UTI a todos os Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 12 de 16 Autos n.º 1303085-2 pacientes que necessitar, no âmbito da 17ª Regional, bem como a transferência de pessoas determinadas. Em despacho às fls. 163/175 o juiz a quo facultou ao autor, ora recorrido, a emenda da petição inicial, sob pena de indeferimento, para que optasse pela remessa dos autos ao juízo da capital do Estado do Paraná ou, pela desistência da ação quanto ao pedido coletivo. Vê-se que o Ministério Público às fls. 177/178 emendou a inicial desistindo do pleito de fornecimento de leitos de UTI a todos os pacientes que necessitassem, remanescendo, neste caso, o pedido relativo aos direitos individuais indisponíveis dos pacientes Maria do Carmo Monteiro Macias, Sebastião Garcia Domingues e Cristiano Doria Pereira. Assim sendo, em decorrência da desistência do pedido coletivo por parte do autor, ora recorrido, não há que falar em incompetência do juízo, nem mesmo em preclusão pro-judicato uma vez que o juiz a quo não se declarou incompetente, abrindo oportunidade para que a inicial fosse emendada pela parte autora. Do Mérito Como já mencionado, além de a saúde tratar-se de direito público subjetivo fundamental, ligado à dignidade da pessoa humana, constitucionalmente garantido a todos verifica-se que restou inegavelmente Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 13 de 16 Autos n.º 1303085-2 demonstrada a necessidade dos interessados à transferência para leitos na UTI. Observa-se que no presente caso os substituídos necessitavam de transferência para leitos da UTI em decorrência de moléstias diversas e estavam aguardando disponibilidade dos leitos conforme se denota da f. 179. Assim sendo, primeiramente, não merece guarida a pretensão do Município de Londrina, ora apelante, em se desobrigar da responsabilidade da transferência pleiteada sob o argumento de que disponibiliza número de leitos na UTI dentro dos parâmetros preconizados pelo Ministério da Saúde, uma vez que tal argumento não deve implicar em restrição à transferência, pois tais parâmetros não podem prevalecer em relação ao direito constitucional à saúde e à vida, bem como não exime os apelantes da responsabilidade de prestar assistência a pessoas necessitadas. Assim sendo, ainda que o Município de Londrina tenha cadastrado leitos hospitalares dentro dos parâmetros exigidos pelo Ministério da Saúde, tais parâmetros trazidos pela Portaria Ministerial GM nº 1.101/02 estipulam o mínimo a ser seguido, não podendo servir de argumento apto a restringir o direito que todo cidadão tem ao tratamento adequado a sua moléstia. Ainda, vale mencionar que a Portaria Ministerial GM nº 1101/02 se trata de norma de inferior hierarquia, a qual não prevalece em relação à Constituição Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 14 de 16 Autos n.º 1303085-2 Federal de 1988, sobretudo diante da comprovação da necessidade da transferência dos pacientes à Unidade de Terapia Intensiva, como ocorreu no caso dos autos. Ademais, se conclui que a transferência dos substituídos para o leito da UTI não visa beneficiar um cidadão em detrimento aos demais, mas busca respeitar o direito à saúde e à vida constitucionalmente garantidos a todos. Ainda, é preciso levar em consideração que a recomendação médica de transferência dos mesmos para UTI foi prescrita por profissional da área da saúde devidamente capacitado, com conhecimentos suficientes para saber a ação esperada dos tratamentos. Por fim, no tocante à alegação de violação ao Princípio da Reserva do Possível, esta também não merece ser acolhida, vez que não se deve discutir matéria orçamentária (dispêndio dos recursos públicos – Princípio da Reserva do Possível) quando a própria Constituição Federal prevê o orçamento de seguridade social, com recursos originários das três fontes que integram o sistema unificado de saúde. Ainda, vale dizer que a ausência de previsão orçamentária também não justifica a recusa a transferência dos pacientes para UTI, posto que uma vez que existe o dever do Estado do Paraná e do Município de Londrina, impõe-se a superação deste obstáculo através dos mecanismos próprios disponíveis em nosso ordenamento jurídico. Documento assinado digitalmente, conformeMP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 15 de 16 Autos n.º 1303085-2 Oportuno citar parte do acórdão nº 25436, deste Tribunal, em que foi julgado caso análogo, verbis: "... Frise-se ainda, que, por mais relevantes que sejam as dificuldades orçamentárias dos órgãos públicos, ou por mais necessária que seja a regulamentação dos procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS), não é possível desrespeitar-se a Constituição Federal, sob pena de afronta à ordem jurídica, privilegiando-se meros regulamentos e, mais grave, dando-se poderes ao administrador para, sob os mais variados pretextos, descumprir a Lei Maior ..." (TJPR - AI 317.578-0 - 4ª Câm. Cível - Rel. Des. J. Vidal Coelho - DJ 10/03/2006). Ademais, o impacto financeiro causado pela mencionada transferência, não se presta a afastar a exigência constitucional, pois como já mencionado, o direito à vida/saúde é indispensável, possuindo o Poder Público formas de contornar as restrições orçamentárias havidas. Dessa forma, conheço de ambos os recursos de apelação cível e no mérito lhes nego provimento, mantendo-se a sentença em grau de reexame necessário. Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 16 de 16 Autos n.º 1303085-2 III – DECISÃO. Diante do exposto, ACORDAM os Desembargadores integrantes da Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer dos recursos de apelação e lhes negar provimento, mantendo-se a sentença em grau de reexame necessário, nos termos do voto. Participaram do julgamento os Senhores Desembargadores Nilson Mizuta (presidente, com voto), Luiz Mateus de Lima e Adalberto Jorge Xisto Pereira. Curitiba, 10 de março de 2015. LUIZ MATEUS DE LIMA Desembargador Relator
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