Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS GRADUAÇÃO EM DIREITO ALUNA: Chade Cattarine Fernandes MATRÍCULA: 20210088305 DISCIPLINA: Filosofia Geral e Jurídica TURNO: Noturno Resenha crítica: Educação, Filosofia e Cidadania. A filosofia é a propedêutica de todas as áreas do conhecimento, por ser a responsável por impor as questões fundamentais que constroem toda uma linha de pensamento. Em sua essência, sendo construída apenas a partir da ampla liberdade, pois ela é o motor básico do pensamento filosófico, e partindo desse ponto que é possível se buscar uma visão de mundo aprofundada no diálogo e na reflexão, tendo à disposição um pathos e um ethos do questionamento que naturaliza a pré compreensão das questões e a expressão crítica externa sem qualquer tipo de tolhimento. A partir disso, a filosofia, em uma de suas diversas facetas, se consolida como afirmado pelo professor Dr. Newton de Oliveira Lima como: " o cordão pedagógico inicial da educação" , educação essa que guia os valores e identidade nacional que constroem a cidadania. Nessa perspectiva, o caminho percorrido pela filosofia na história do Brasil reflete de forma clara a carência de um valor coeso de cidadania no país. Isso ocorre, pois sua construção aconteceu de forma tardia e interrompida. Nesse panorama, Durante o século XVII, através do iluminismo, que a filosofia finalmente chega ao brasil de forma eclética através do tomismo, que apesar de resgatar a filosofia aristotélica se prendia muito as doutrinas do cristianismo, abordando temáticas mais focadas em Deus e na moral cristã. Diante disso, no século XIX, com o choque entre a monarquia e o catolicismo, a filosofia tomista cai e abre espaço para a ascensão de um pensamento dominante positivista na elite brasileira, que inclusive foi o responsável por marcar a bandeira da república do país com a frase "Ordem e Progresso", palavras características do positivismo. Nessa realidade, um dos pólos que mais absorveu esse pensamento foi Recife, tendo sua faculdade de direito como um dos centros dessa ideologia. No entanto, apesar de muito difundida e ter sido um avanço por já começar a buscar a separação entre o pensamento e a religião, a filosofia positivista possuía uma concepção do seu próprio eixo e do direito muito centrada na experiência e na prática, anulando ou deixando em segundo plano a reflexão e o aprofundamento da matriz do pensamento, o que de certo modo impede a formulação de um olhar crítico. A posteriori, quando essa ideologia começa a desenvolver contornos acadêmicos, o elitismo só se reforça e junto a isso reforça a falta de uma olhar crítico sobre a sociedade, focando em um culto da boa palavra, já que a filosofia na época emanava apenas de uma camada socialmente privilegiada. Além disso, apesar do desenvolvimento trazido pelo positivismo e o início de um certo processo de ampliação da filosofia para fora dos centros elitizados, o golpe militar de 1964, realizado pelas Forças Armadas do Brasil que instaurou a Ditadura militar que viria a perdurar por 21 anos, tolheu o já lento processo de desenvolvimento da filosofia no Brasil. Tendo em vista, a necessidade da liberdade de expressão e de diálogo para sua desenvoltura, o cenário criado pelos militares da época não era propício para isso, na realidade era inclusive perigoso usar do viés filosófico, de questionamento constante, por causa da extrema censura implicada pelo regime. Nesse viés, desenvolver uma filosofia como base para o pensamento jurídico, político e sociológico brasileiro se tornou inexequível, causando assim não só um retrocesso histórico mas filosófico e indiretamente afetando todas as outras áreas. Entretanto, é a partir dessa configuração anti-democrática que a filosofia vai transitar como uma posição política, capaz de desenvolver uma forma de resistência contra o regime, criando finalmente um lado crítico. Posteriormente, com o fim da ditadura militar e o renascimento lento da democracia, a filosofia ressurge ao lado da liberdade de pensamento proporcionada por esse novo momento, pois como trazido pelo professor Dr. Newton de Oliveira Lima, que baseando-se em Emmanuel Kant, afirma que a própria ideia de um espírito da república é a liberdade de expressão". Nessa acepção, com a ascensão da república e da democracia, é importante frisar que aquele antigo pensamento elitista da burguesia conservadora em torno da formação filosófica, ainda se mantém presente na construção do ethos educacional do país e na mentalidade desenvolvida, sendo o reacionarismo ainda muito presente no Brasil. No entanto, essa concepção não pode impedir a fluidez do pensamento da sociedade na pauta das mudanças progressistas e na fundamentação dos princípios das ciências de modo crítico, de uma maneira que a reflexão não se mantenha engessada em um modo de pensamento e sim alicerçada nas diversas alianças com o social, o pedagógico, o jurídico e a política pluralista, de modo a sustentar a ideia do diálogo e da liberdade. Assim, guiando a sociedade em direção a emancipação sociopolítica. Tendo em vista todo esse contexto histórico, é visível o contraste do desenvolvimento e retrocesso brasileiro no movimento de construção do pensamento filosófico, pois ele apenas criou uma base valorativa e pedagógica carente, em que onde é necessário uma aliança profícua e compreensiva das funções tanto da liberdade quanto da coletividade e da sociabilidade para formular a cidadania, na realidade brasileira, não foi concebida, não tendo assim um ideal de coletividade ou uma identidade nacional, ocasionando com que as diferenças se exaltem e sejam exaltadas pelos indivíduos, em um lugar onde o pluralismo deveria ser uma vantagem se torna um empecilho. Nesse caso, isso ocorre, pois o regionalismo implantado estrategicamente pelo capitalismo nacional, como abordado por Pierre Bourdieu, vem para distanciar as problemáticas de cada região, que acabam focando na sua individualidade, quando na verdade o país em sua completude passa por questões similares e as lutas regionais em sua singularidade não são auto excludentes nem hetero excludentes como é posto. Ademais, outro empecilho para a desenvoltura da cidadania brasileira é a falta da pré compreensão política, pois é necessário que qualquer sujeito individual possa entrar num campo de diálogos como sujeito crítico, independente da sua posição na escala social, algo que foge da realidade do país. Assim, sendo necessário além da liberdade de pensamento proporcionada pela democracia, condições estruturais advindas da instituição e a mudança de um movimento de tutela para um de maior participação do indivíduo, criando novos arranjos institucionais, como abordado por John Hawls, em torno da Cidadania. Por outra perspectiva, em contraposição ao Brasil, pode-se observar a Alemanha, do século XX, e suas escolas de pensamento filosófico, como a de Bader, que busca fazer uma análise ética calcada na crítica da razão prática e focada na reconstrução da ética com a finalidade de atingir um bem coletivo. No entanto, o neokantismo de Bader é influenciado pela fenomenologia e pelo culturalismo e a partir disso a ideologia dessa escola deixa de ser compreendida através da ideia formal da ética kantiana e sim como vinculada ao objeto formal, a certos bens culturais. Nesse ínterim, é a partir do olhar da cultura e da conquista de bens que serão idealizados os valores, conhecidos como valores culturais. Diante disso, como afirmado pelo professor Dr. Newton de Oliveira Lima: " você projeta uma rede de significações teleológicas e utiliza portanto a estrutura esquemática da ética kantiana para cobrir com um manto a cultura, para daí se extrair certas idealizações de valores para atingir o bem comum, a paz, a finalidade e a justiça". Dessa forma, ao invés da busca pela experiência material ou histórica, a mediação entre o conhecimento da ideia e essa ideia paraa cultura se torna o balanço ideal. Sendo assim, a cultura é indagada por um tribunal de razão kantiana. Nessa acepção, ao disseminar para o mundo cultural esse esquema ético kantiano, se cria a questão dos valores jurídicos que ficam à mercê da construção argumentativa da problemática por parte do jurista, tudo isso visando a fomentação da cidadania. Contudo, com a instalação do nazismo no país e o consequente encerramento da atividade do neokantismo, a decadência do projeto de construção de um estado racional na Alemanha foi inevitável, considerando a falta de liberdade plena para estruturar os pensamentos críticos construtivos. Desse modo, apenas após o fim do regime que a problemática volta a surgir, junto a necessidade de reconstrução do Estado de direito, em um cenário em que a sociedade alemã estava destituída de quase tudo (economia, estado e identidade). Tendo assim, que reconstruir sua tradição cultural e cidadania com uma forte consciência de povo, identidade e de cidadania, retomando os preceitos neokantianos, inclusive da escola de Bader. Em síntese, o contraste da construção do pensamento filosófico brasileiro e alemão é claro e isso se torna mais visível ainda no corpo social atual que caracteriza cada país e a forma como é definida seus valores e identidades nacionais. Nessa visão, a resposta institucional brasileira e a cidadania em si ainda são muito carentes, há a necessidade da participação de todas as camadas da sociedade na compreensão do movimento de liberdade dos sujeitos e da narrativa que envolve essa liberdade, para isso é substancial que existam condições estruturais que partam das instituições democráticas. Assim, se fomenta a relação educação, filosofia e cidadania, em uma realidade interligada e coesa em que através da educação se materializa a reflexão filosófica de princípios como: o estado de direito, a liberdade política, a função das instituições, a constituição e a relação entre cidadania e lei, que cooperam na construção da cidadania junto com os valores comuns do país e a identidade nacional.
Compartilhar