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O pão é um dos principais alimentos consumido diariamente em todas as partes do mundo. A fermentação natural, embora seja uma prática realizada há milênios, vem aumentando nos últimos anos. E o pão de fermentação natural (Sourdough) se diferencia no mundo dos pães de fermentação tradicional, principalmente pelos benefícios nutricionais e funcionais que ele oferece ao organismo. As dietas da moda geralmente ditam regras do que se pode ou não comer, porém vale ressaltar que a dieta deve ser individual e elaborada por profissional capacitado (nutricionista) para atender as necessidades de cada indivíduo. Quem nunca ouviu falar que comer alimentos com glúten faz mal à saúde? Será que uma dieta com restrição de glúten é para todos? Por que produtos de panificação, principalmente o pão, geralmente são associados a desconfortos abdominais? Será que o pão pode oferecer algum benefício a saúde? Muitos até adotam dieta sem glúten em busca da perda de peso, mas será mesmo que o grande vilão para o ganho de peso em produtos de panificação é o glúten? Bom, para sanar tais dúvidas, vamos conhecer um pouco sobre as propriedades do pão. E entender como podemos melhorar as propriedades nutricionais deste alimento e, principalmente, para que ele não seja um grande vilão na nossa alimentação diária e sim que possa favorecer nutricionalmente a nossa saúde. Introdução Começaremos pelo grão, que é mais utilizado na produção de produtos de panificação, o trigo. Grão O trigo é um alimento básico, nutritivo, com propriedades tecnológicas e longa vida útil. Possui substrato fermentável que traz benefícios para a saúde das pessoas. Pode ser usado principalmente como farinha na produção de panificação, como por exemplo, o pão. O grão do trigo é composto por 3 partes: gérmen, casca (farelo) e endosperma. ·GÉRMEN - é onde contém o embrião do trigo. É rico em proteínas e lipídeos, além de vitaminas e minerais. Apesar de ser a parte com maior valor nutricional, geralmente é destinada para alimentação animal e pouco encontrada nas farinhas integrais comerciais. ·FARELO / CASCA - além de ter a função de proteger o grão do ataque de insetos, roedores e microrganismos, é também rica em fibras, minerais e vitaminas. Desta parte que é produzido um subproduto chamado de farelo. ·ENDOSPERMA – a maior parte de sua composição é o amido (de onde é constituída a farinha), a proteína (como por exemplo o glúten), em menor proporção os lipídios, as vitaminas, alguns minerais (como os fitatos - que é um antinutriente presente nos vegetais que pode dificultar ou impedir a absorção de alguns nutrientes) e possui também a presença de enzimas. Suas propriedades e características são inerentes as suas partes, então, é isto que diferencia os produtos derivados do trigo, ou seja, cada parte do grão de trigo confere um tipo de produto, como exemplo na farinha de trigo, os teores de vitaminas e minerais são bem menores do que no farelo de trigo. Vitaminas – niacina, tiamina, riboflavina, piridoxina e ácido pantotênico, além de tocoferol - precursor de vitamina E, com ação antioxidante. Minerais – fósforo, potássio, cálcio, magnésio, ferro, cobre, manganês, zinco e sódio. A farinha é obtida através do processo de moagem do grão de trigo comum (Triticum aestivum L.) e outras espécies de trigo do gênero Triticum. ·FARINHA BRANCA - para obtenção desta farinha é desprezada a casca e o gérmem durante a moagem, somente o endosperma do grão de trigo é moído. Como há uma perda de nutrientes, as farinhas são enriquecidas com a adição ácido fólico e ferro, conforme a resolução RDC N° 150, DE 13 DE ABRIL DE 2017. Esta farinha tem maior quantidade de glúten, proporcionando um pão mais macio. ·FARINHA INTEGRAL - para obtenção desta farinha a moagem é feita com um grão de trigo inteiro, ou seja, inclui o farelo, endosperma e pode conter ou não o gérmen. Embora a alta concentração de fibra enfraqueça a rede proteica da massa do pão, conferindo um pão mais denso, proporciona um pão mais nutritivo, pois além da presença das fibras, há também maior presença de vitaminas e minerais. Classificação da farinha de trigo no Brasil O regulamento técnico de identidade e qualidade da farinha de trigo (INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 8, DE 2 DE JUNHO DE 2005), pelo Ministério da Agricultura, classifica em 3 tipos, conforme os critérios de tolerância, sendo um deles os teores mínimos de proteínas: ·TIPO 1 – 7,5% ·TIPO 2 – 8,0% ·Integral – 8,0% Mas cuidado quando for analisar o percentual de proteína da farinha de trigo pelo rótulo das embalagens, pois o % de proteína que consta na tabela nutricional, na coluna %VD, NÃO representa este teor de proteína que estamos falando, este valor está relacionado com o cálculo diário da dieta do indivíduo. Tipos de farinha de trigo O cálculo pode ser feito pela regra de três, considerando a quantidade de proteína em gramas para a porção determinada, onde geralmente está expressa em: porção 50g de farinha de trigo. Ex: Porção de 50g de farinha de trigo está para 100%, quanto representa 6,72g de proteína? 50 g __________ 100% 6,72 g ___________ X Cálculo: 50.x = 100.6,72 » x = 672 / 50 » x = 13,44% de proteína Logo, esta farinha contém 13% de proteína (Alguns rótulos, como este do exemplo, já mostram ao lado da quantidade de proteínas o percentual). Este teor de proteína não determina a qualidade da farinha e sim a quantidade total de proteínas que contêm. Geralmente, quanto maior for o percentual de proteína maior deverá ser a força e mais hidratação a farinha suporta, não sendo o único item a ser analisado para determinar a qualidade da farinha para produção de pães. Curiosidade: O grão de trigo contém 8% a 15% de proteína, dos quais 10% a 15% é albumina / globulina e 85% a 90% é glúten. Vamos conhecer um pouco mais do famoso e tão falado GLÚTEN? Conforme exemplo abaixo: O que é glúten? O glúten é uma proteína insolúvel extraída de cereais, como o trigo, centeio e cevada, encontrada no endosperma. O trigo é o único cereal que contém quantidade de glúten necessária para produção de pão. Funções do glúten: ·ABSORÇÃO DE ÁGUA; ·EXTENSIBILIDADE; ·COESIVIDADE; ·VISCOSIDADE; ·ELASTICIDADE DA MASSA. Confere a capacidade de retenção do gás carbônico que são eliminados pelas bactérias ácido láticas, formando assim o miolo e retendo o volume após o assamento. Formação do glúten: O glúten do trigo é constituído por uma mistura complexa de centenas de proteínas relacionadas, mas distintas, formando filamentos de proteínas, as principais são: ·GLIADINA - responsável pela extensibilidade da massa do pão; ·GLUTENINA - responsável pela elasticidade e coesividade da massa. GLIADINA + GLUTENINA = GLÚTEN GLIADINA - Possui alta concentração de glutamina e prolinas, conhecidos como PROLAMINAS, que representam a fração tóxica no organismo. São mais encontradas no endosperma do trigo, embora não sejam melhores nutricionalmente, elas são importan- Glúten tes e insubstituíveis para conferir as características funcionais únicas na massa do pão, quando feita com a farinha de trigo. É através da formação do glúten confere a característica de elasticidade. As prolaminas, a parte tóxica do glúten, se diferem em cada tipo de cereal, sendo: ·TRIGO – GLIADINA ·CENTEIO – SECALINA ·CEVADA – HORDEINA ·AVEIA – AVENINA Processo de formação do Glúten É através da mistura de água com a farinha de trigo e trabalho mecânico, fornecendo energia, que as proteínas interagem entre si formando uma cadeia, uma rede de glúten, de acordo com as suas solubilidades. Oferecendo uma rede com características viscoelásticas, ou seja, capacidade de se deformar parcialmente sem se romper, que contribui na retenção do gás gerado durante o processo de fermentação, ocorrendo a expansão da massa e obtendo um pão mais aerado e leve. Processo de formação do Glúten As proteínas do glúten são extremamente difíceis de serem digeridas no organismo humano. As que não são digeridas pelo trato gastrointestinal, em alguns indivíduos que possuempré- disposição a intolerância ou sensibilidade a esta proteína, podem induzir ou desencadear uma resposta inadequada do sistema imunológico, atingindo a mucosa do intestino delgado, que é um órgão muito importante na absorção de nutrientes e causando um processo inflamatório. Para entendermos como o glúten pode afetar a saúde intestinal de alguns indivíduos que não o toleram, vamos abordar resumidamente alguns assuntos: Primeiro vamos falar sobre o intestino. Intestino O intestino é dividido em: ·INTESTINO DELGADO - é responsável pela absorção da maioria dos nutrientes; ·INTESTINO GROSSO - é responsável pela absorção da maior parte da água. Jejuno Duodeno Íleo O Intestino Delgado é subdividido em duodeno, jejuno e íleo, tem a função de completar a digestão, realizar a absorção dos nutrientes e estimular secreção. No duodeno é onde ocorrem vários processos para que as substâncias ingeridas possam ser absorvidas. Parte interna do intestino (ilustração) No exemplo do intestino saudável podemos perceber as vilosidades intestinais em forma de luvas, ou seja, pequenas saliências, revestindo o intestino formando uma camada chamada de mucosa intestinal, que confere maior área de absorção dos nutrientes e de proteção para toda a extensão do intestino. O contorno em vermelho mais intenso, indica esta superfície de absorção de nutrientes e de proteção, que contorna toda a extensão da vilosidade, portanto aumenta a área de absorção. Traçando um comparativo com o exemplo do intestino de pessoas acometidas pela doença celíaca, nesta imagem, as vilosidades estão danificadas, ou seja, estão achatadas, devido ao processo inflamatório provocado pelo glúten, diminuindo assim a área de absorção, como também a proteção do intestino. Este é um dos Intestino saudável Doença Celíaca problemas que a doença celíaca provoca nos indivíduos. Pode apresentar vários sintomas severos, como diarreia crônica ou até mesmo a constipação, vômito, distensão abdominal, má-absorção intestinal, falta de apetite, entre outros, podendo levar até mesmo a desnutrição. Dentro do intestino também tem a microbiota intestinal. Também conhecida como flora intestinal, dentre toda população microbiana, existem milhões de bactérias intestinais que habitam o intestino, sendo elas benéficas e não benéficas que afetam significativamente a saúde dos indivíduos. A microbiota intestinal tem a função de manter a integridade da mucosa intestinal e controlar a proliferação de bactérias patogênicas. Um dos fatores que influencia na microbiota intestinal é o hábito alimentar. As bactérias benéficas promovem a digestão e absorção dos alimentos. Também sintetizam ácidos graxos de cadeia curta, mais conhecido como butirato, quando fermentam os carboidratos não digeríveis, como fibra alimentar e amidos resistentes. https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81cido_graxo O butirato tem como uma das funções: ·FORTALECER O SISTEMA IMUNOLÓGICO; ·PROTEGER A MUCOSA INTESTINAL; ·EQUILIBRAR A COMUNIDADE MICROBIANA. Estudos demonstram que a fermentação do pão de massa fermentada (tipo Sourdough) levou a um aumento significativo nas concentrações de butirato, favorecendo a absorção de alguns minerais, como o cálcio, que contribui para saúde óssea. Curiosidade: As bactérias benéficas também favorecem a síntese de vitaminas do complexo B e vitamina k. Agora como já temos uma ideia de como é o intestino, qual é sua função e do que é composto, vamos falar resumidamente sobre algumas doenças intestinais que são manifestadas por distúrbios relacionados ao glúten. Existem pessoas que são intolerantes ou sensíveis ao glúten, ou seja, quando esta proteína entra em contato com o intestino desencadeia alguma manifestação gastrointestinal, que pode levar o indivíduo a algum desconforto abdominal ou até consequências mais graves. Elas podem ser diagnosticadas pelo médico com algum tipo de doença intestinal, como: Doença Celíaca É uma doença autoimune e caracterizada pela intolerância permanente ao glúten em indivíduos que possuem uma predisposição genética. Estima-se que 1% da população mundial possuem a condição celíaca. A doença celíaca provoca uma lesão significativa na mucosa intestinal, desencadeada por uma resposta imune anormal, que compromete a absorção da grande maioria de nutrientes, além do aumento da permeabilidade https://pt.wikipedia.org/wiki/Vitamina_K intestinal, ou seja, favore a passagem de partículas indesejáveis. Os sintomas são variados conforme as manifestações clínicas que podem ser gastrointestinais como dor abdominal, distensão abdominal, constipação, diarreia, náuseas, refluxo e vômitos. E sintomas extra intestinais como alopecia, fadiga, dor de cabeça, anemia, estomatite, mialgia, distúrbios psiquiátricos, erupções cutâneas, convulsões, osteoporose, infertilidade, dentre outras. O tratamento é feito com a retrição dietética de glúten. Alergia ao Trigo Conhecido como Sensibilidade ao glúten ou Intolerância ao glúten - é um distúrbio relacionado ao glúten, mas há outros componentes presentes no trigo e em outros cereais que contêm glúten, que implicam nesta sensibilidade, como os inibidores de amilase- tripsina (ATIs), aglutinina de gérmem de trigo (WGA) e os frutanos (presentes nos FODMAPs). – Oligossacarídeos, Dissacarídeos, Monossacarídeos e Polióis Fermentáveis). O diagnóstico é baseado pela exclusão do diagnóstico de doença celíaca e alergia ao trigo. Os sintomas são semelhantes aos da Síndrome do Intestino Irritável (SII), como dor e distensão abdominal, alternância de constipação e de diarreia e sintomas extra-intestinais, como confusão mental, cefaleia, cansaço, dores musculares e nas articulações, dermatite, depressão e anemia, ocorrem tipicamente após a ingestão do glúten e desaparecem com a exclusão do glúten da dieta. É quando ocorre uma reação adversa, mediada pelo sistema imunológico a diferentes tipos de proteínas do trigo, desencadeia sintomas extra intestinais como rinite, asma, urticária ou até mesmo em alguns casos, sintomas mais graves como anafilaxia. Conhecida popularmente como “Asma do Padeiro”. Sensibilidade ao glúten não celíaca Como vimos, há vários componentes do trigo que contribuem para sensibilidade ao glúten não celíaca além do glúten, como: FODMAPs Pertencem às proteínas não glúten do trigo (albumina), que levam a uma resposta imune inata intestinal. ATIs e glúten são mal digeridos por enzimas do trato gastrointestinal e são mais resistentes ao calor, mas existem estudos que comprovam a redução do efeito adversos dos ATIs na massa fermentada, composta por leveduras e bactérias do ácido láctico, sendo responsáveis pelos efeitos promotores da saúde. É um grupo de carboidratos fermentáveis que são mal absorvidos pelo organismo. São classificados como oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis, que podem ser mal digeridos pelas enzimas digestivas no intestino delgado de algumas pessoas e acabam sofrendo fermentação pelas bactérias da microbiota no intestino grosso, produzindo gases, que causa desconforto abdominal (distensão e dor). Este grupo de carboidratos inclui lactose, frutose em excesso de glicose, frutanos e frutooligossacarídeos (FOS), galacto-oligossacarídeos (GOS) e polióis de açúcar (sorbitol e manitol). São encontrados em uma ampla variedade de alimentos. FRUTANOS - são os principais FODMAPs encontrados em produtos à base de trigo. ATIs (Inibidores de alfa-amilase-tripsina) WGA (Aglutininas de gérmem de trigo) É uma proteína não glúten, inflamatória e não digerível pelo trato gastrointestinal. Ela tem ação de desregular o sistema imunológico, perturbando a barreira imune natural do intestino. A massa fermentada pode oferecer benefícios para a desnaturação desta proteína, sendo assim, diminui a concentração de WGA no pão. Mas na realidade os FODMAPs são prejudiciais ou são benéficos a saúde? A ingestão de FODMAP pode ser prejudicial à saúde, como relatado anteriormente, com o aparecimento de sintomas em algumas pessoas pré-dispostas.Mas por outro lado, alguns FODMAPs são comprovadamente prebióticos, contêm nutrientes não digeríveis que servem de alimentos para as bactérias benéficas do intestino, ou seja, tem uma ação prebiótica, contribuindo para a manutenção saudável da microbiota intestinal e favorecendo para absorção de micronutrientes, logo também oferece benefícios a saúde. EX: a inulina, encontrada também no trigo, é uma fibra solúvel não digerível, pertencente à classe dos frutanos. Ela contribui para o trânsito intestinal e modula a absorção de glicose e gordura no intestino. Então a dieta com baixo teor de FODMAP pode ser indicada para pessoas que sofrem com complicações gastrointestinais, como por exemplo com diagnóstico da síndrome do intestino irritável e sensibilidade ao glúten não celíaca, mas que sejam acompanhadas por um nutricionista capacitado. Estudos científicos são realizados para avaliar a eficácia da dieta baixa em FODMAP, embora apresente evidências que favoreça a melhora dos sintomas gastrointestinais, o comitê de diretrizes para tratamento de SII sugere estudos mais estruturados, com técnica de aplicabilidade na restrição e reintrodução gradativas desses alimentos, pois a restrição de certos grupos de alimentos, classificados como FODMAPs, pode proporcionar deficiências nutricionais no indivíduo. Então percebam que os FODMAPs podem ser prejudiciais para as pessoas que apresentam complicações gastrointestinais, mas a sua restrição dever ser orientada e acompanhada por especialista, já que sua restrição pode oferecer danos à saúde de qualquer indivíduo. Fica a dica, nunca elimine um alimento de sua dieta sem a orientação do seu médico ou nutricionista! Até aqui abordamos alguns assuntos que são relevantes para algumas pessoas que amam o pão, mas que por algum motivo, seja ele patológico ou por preconceitos, eliminaram ou diminuíram o seu consumo. Então a partir de agora vamos entender como o pão de fermentação natural pode proporcionar o prazer de saborear um verdadeiro pão, sem culpa e ainda nutritivo. Vamos lá? Qual é o alimento mais consumido diariamente pela população no mundo? É o pão. Então vamos entender como o pão de longa fermentação pode beneficiar as pessoas que apresentam sensibilidade aos componentes do trigo ou que manifestam alguma doença intestinal, sem incluir a doença celíaca que se trata de uma doença auto-imune, onde o seu tratamento é a exclusão do glúten na sua dieta. O pão de fermentação natural (pão sourdough) melhora as propriedades nutricionais do pão devido à redução de fatores antinutricionais e pela alteração da digestibilidade dos macronutrientes, como o amido (carboidrato) e a proteína. Estudos demonstram que o pão sourdough pode melhorar a tolerância em indivíduos com sensibilidade ao glúten não celíaca, pois pode reduzir, por exemplo, os níveis de FODMAPs do pão de trigo e centeio, variando conforme as condições de fermentação da massa. Vale ressaltar que a sensibilidade ao glúten varia muito de pessoa para pessoa, além disso, cada indivíduo responde a diferentes estimulantes. Entendendo como funciona o processo de fermentação Geralmente durante a fabricação do pão são utilizados agentes fermentadores biológicos para que ocorra o aumento do volume da massa. Antigamente por tradição, era produzido o sourdough que é um ATENÇÃO Não há consumo seguro de produtos que contêm glúten para portadores de Doença Celíaca. pão resultante da fermentação da farinha de cereais com água, onde existe a presença, principalmente, de bactérias do ácido láctico e leveduras. Sendo que a levedura ao longo dos anos passou a ser substituída pelo fermento biológico que contém principalmente a espécie de levedura Saccharomyces cerevisiae. Uma cultura microbiana produzida em nível industrial, utilizada em poucas quantidades no preparo da massa, além de proporcionar tempo reduzido de fermentação, proporciona menos tempo na produção do pão, com isto, reduz também as atividades metabólicas da levedura antes de ser assado. O fermento biológico geralmente é submetido a uma fermentação curta, que provoca uma quebra de nutrientes, como por exemplo, dos carboidratos e proteínas, mas é relativamente limitada. Ao contrário do que acontece no fermento natural (levain), que requer uma fermentação mais longa, as atividades metabólicas das bactérias produtoras de ácido láctico, especialmente em carboidratos e proteínas, são mais intensas. Durante a fermentação da massa, o metabolismo dos carboidratos depende dos substratos disponíveis, da ação das enzimas e das interações entre as populações microbianas e não apenas de uma única espécie de levedura. A fim de conferir um melhor sabor e textura, estender a vida útil, além de melhorar a qualidade nutricional e funcional do pão. São esses benefícios que motivam a aplicação do levain na fabricação de pães. Como funciona na prática? No início da fermentação, as leveduras passam pelo processo de adaptação ao meio, onde elas transformam os carboidratos complexos em açúcares simples, que são rapidamente metabolizados. Nesta fase também ocorre o processo enzimático (tanto nos carboidratos e quanto nas proteínas) que assegura o fornecimento de substrato para as leveduras até o final do processo, afinal de contas elas precisam de muita energia para realizar tanto trabalho. São essas ações que melhoram a digestibilidade do pão em nosso organismo. A fermentação é a etapa de descanso da massa, que tem como objetivo produzir gás (dióxido de carbono - CO2) e etanol, que ocorre através da multiplicação e metabolização das leveduras e bactérias, e são eliminados quando o pão é assado. O objetivo também é completar o desenvolvimento do glúten, que atua na retenção do gás (formando buraquinhos no miolo). E através da ação das bactérias láticas, que produzem o ácido láctico (reduz o pH), conferem o sabor e aroma da massa do pão, devido a redução do pH da massa do pão. Quais são os benefícios da acidificação da massa, ou seja, a redução do pH? Principalmente quando comparado com o pão tradicional, que é produzido com fermento biológico. O pão que utiliza o levain, ou seja, uma colônia de microrganismos naturais, é comprovado por estudos científicos que a utilização do fermento natural no processo de fermentação longa da massa, pode provocar uma melhora na digestão desses microrganismos e eles geram Bom, esta acidez pode proporcionar mudanças na estrutura da massa, deixando-a mais macia, menos elástica e facilmente extensível, além de aumentar a biodisponibilidade de minerais e compostos bioativos, proporcionando um pão mais saudável. Também pode impedir que microrganismos indesejáveis não se reproduzam, logo aumenta a vida útil do pão. A acidificação pode reduzir as cadeias do glúten, gerando uma massa mais extensível. Por que o pão de fermentação natural proporciona maiores benefícios nutricionais? diversos nutrientes, como vitaminas (em particular as vitaminas do complexo B) e minerais. Devido a digestão ser mais avançada, eles podem degradar outros nutrientes, como os ATI (inibidores de alfa- amilase-tripsina), os frutanos, as WGA (aglutininas de gérmen de trigo) e as proteínas (glúten). Seria como se o pão saísse do forno “ parcialmente digerido”, o que pode favorecer as pessoas que têm dificuldades na digestão do glúten no intestino (exceto para quem tem a condição celíaca). Estudos sugerem que os pães com fermentação natural e de longa duração, podem contribuir para a melhora dos sintomas de pessoas que são mais sensíveis ao glúten, dependendo do grau desta sensibilidade, mas para pessoas que tem a sensibilidade aos outros componentes do trigo pode ou não favorecer. Os benefícios são: ··MELHORAR A DEGRAÇÃO DO GLÚTEN – Através das modificações enzimáticas endógenas do cereal que são favorecidas pelo tempo de fermentação da massa e ativadas por pH mais ácido (meio proporcionado pelas bactérias do ácido láctico), ocorre a ação enzimática realizando a proteólise (degradação de proteínas), que acaba refletindo na produção de pãescom melhor “digestibilidade” do glúten ·ESTABILIZAR OU AUMENTAR OS NÍVEIS DE VÁRIOS COMPOSTOS BIOATIVOS (existentes nos cereais) - As atividades microbianas, tanto das leveduras quanto das bactérias do ácido láctico podem resultar na produção de metabólitos (substâncias produzidas durante a metabolização) e fortalecimento dos compostos bioativos, que podem oferecer melhorias para a saúde humana. ·RETARDAR A BIODISPONIBILIDADE DO AMIDO - Oferecendo um pão com baixo índice glicêmico. Esta ação ocorre com a ajuda das leveduras e bactérias do ácido láctico que contribui para a redução do pH (3,5 a 4,0) e a liberação do ácido lático e acético, que contribuem também para o: ·AUMENTO DA SACIEDADE; ·INTERAÇÃO DO AMIDO E GLÚTEN DURANTE O COZIMENTO DA MASSA; ·REDUÇÃO DA BIODISPONIBILIDADE DO AMIDO. Diferente do que acontece com o pão tradicional, ao consumir o pão de longa fermentação, a resposta glicêmica é reduzida, ou seja, não ocorre o pico glicêmico e oferece mais tempo de saciedade. Ao ingerir um alimento com alto índice glicêmico (IG), este amido rapidamente é absorvido no intestino, eleva a glicemia e consequentemente ocorre liberação da insulina, para controlar a quantidade de glicose no sangue. Por isto que alimentos com alto IG não são recomendado para pessoas que sofrem de Síndrome de Resistência Insulínica e Diabetes Mellitus. A hiperglicemia é um fator de risco para o desenvolvimento de uma síndrome metabólica (corresponde a um conjunto de doenças, como hipertensão, dislipidemia e obesidade, cuja base é a resistência insulínica). Além deste alimento não contribuir para a sensação de saciedade, induz a pessoa a consumir mais do que o necessário. ·REDUZIR A CONCENTRAÇÃO DE FODMAPs – Pelo fato do pão ser um alimento básico e estar presente em abundância na dieta diária das pessoas, a quantidade de FODMAP presente neste alimento é relevante e adota estratégias para modular a presença de alguns carboidratos fermentáveis, com o objetivo de minimizar os sintomas intestinais, principalmente em indivíduos com SII, pode proporcionar a essas pessoas, o prazer de consumir um pão. Quando o pão é produzido com fermento do padeiro (fermento biológico), onde tipicamente o tempo de fermentação é curto (em torno de 0,5 a 3h), a hidrólise das proteínas e dos FODMAPs é relativamente limitada, mas quando utiliza o fermento natural e o longo período de fermentação da massa com a presença dominante de bactérias heterofermentativo, como algumas espécies de Lactobacillus e as leveduras, sendo uma delas a Saccharomyces cerevisiae, estudos levantam a hipótese de que podem favorecer a degradação pronunciada dos FODMAPs, ou seja, a fermentação reduz os níveis de FODMAPs. Este processo ocorre com o objetivo de atender as necessidades metabólicas dos microrganismos durante o processo fermentativo (como fonte de energia e substrato) e para conversão (redução) do amido, e com isto, favorece as características sensoriais do pão após o cozimento. ·AUMENTAR A BIODISPONIBILIDADE DE MINERAIS - Com a redução dos ácidos fíticos, mas para isto é necessário que ocorra o processo enzimático, que hidroliza os ácidos fíticos ou fitatos (que são considerados antinutrientes, ou seja, são substâncias naturais encontradas nos vegetais, que provocam desconfortos abdominais, são tóxicas no organismo e ainda impedem absorção dos nutrientes essenciais pelo sistema digestivo). Como a enzima responsável pela degradação dos fitatos está presente nos cereais, nas leveduras e nas bactérias de ácido láctico, a adoção da estratégia de fermentação da massa em tempo prolongado, favorece a inativação do ácido fítico e a acidez facilita a absorção dos micronutrientes, como o ferro, zinco e cálcio, mas principalmente o fósforo e magnésio. ·PROPORCIONAR CONSERVAÇÃO NATURAL – A produção do ácido acético que é liberado pela fermentação natural, inibe o crescimento microbiano, como o bolor, sendo assim, aumenta o tempo de conservação do pão quando comparado com o pão tradicional. Os pães industriais embalados possuem em sua formulação, aditivos com função de conservantes para impedir o crescimento microbiano e assim aumentar o prazo de validade do produto. Então, fiquem atentos quanto ao prazo de validade dos produtos de panificação quando forem longos! Ao utilizar a farinha integral na produção do levain e na produção do pão, os ganhos são ainda maiores, tanto na qualidade quanto nos benefícios nutricionais, contribuindo ainda mais para a saúde das pessoas. Existem estudos científicos que levantam a hipótese de que o pão de fermentação curta pode contribuir para a intolerância ao pão, por meio de seus efeitos na fermentação no cólon do intestino. Assim, verificamos que o pão com fermentação natural pode contribuir para a saúde. São mais nutritivos do que os pães fabricados pelo método atual, além disso, não há adição de conservantes para aumentar a vida útil do alimento, ou seja a conservação é natural. O processo de longa fermentação da massa pode contribuir na digestibilidade das proteínas e carboidratos, reduzir o índice glicêmico, auxiliar na regularização da microbiota intestinal e favorecer a redução do teor de FODMAPs. Diante de tantos benefícios que o pão de fermentação natural pode oferecer, podemos concluir que ao consumir o pão tradicional, comprado na padaria, este sim é um alimento pobre em nutrientes e com grande concentração de glúten, que pode contribuir para o ganho de peso, complicações gastrointestinais, possível intolerância ou sensibilidade ao glúten, dentre outros danos à saúde. Abaixo faremos um resumo comparativo entre os dois processos de fermentação da massa do pão: *Principalmente em pães embalados. Silvia Duccini é casada, mãe de duas filhas lindas, Itaboraiense (RJ) e Nutricionista. Trabalha com Reeducação alimentar individual e familiar e com Elaboração de Rótulos de produtos alimentícios. Possui especialização em Nutrição Esportiva e está se especializando em Nutrição Materno Infantil. Sobre a autora silviaduccininutri silviaduccininutri@gmail.com 21 99798-1610 mailto:silviaduccininutri@gmail.com mailto:silviaduccininutri@gmail.com Adebo, Oluwafemi Ayodeji, and Ilce Gabriela Medina-Meza. “Impact of Fermentation on the Phenolic Compounds and Antioxidant Activity of Whole Cereal Grains: A Mini Review.” Molecules (Basel, Switzerland) vol. 25,4 927. 19 Feb. 2020, doi:10.3390/molecules25040927 Al-Toma, Abdulbaqi et al. “European Society for the Study of Coeliac Disease (ESsCD) guideline for coeliac disease and other gluten- related disorders.” United European gastroenterology journal vol. 7,5 (2019): 583-613. doi:10.1177/2050640619844125 Biesiekierski, Jessica R. “What is gluten?.” Journal of gastroenterology and hepatology vol. 32 Suppl 1 (2017): 78-81. doi:10.1111/jgh.13703 Calasso, Maria et al. “New Protocol for Production of Reduced- Gluten Wheat Bread and Pasta and Clinical Effect in Patients with Irritable Bowel Syndrome: A randomised, Double-Blind, Cross-Over Study.” Nutrients vol. 10,12 1873. 2 Dec. 2018, doi:10.3390/nu10121873 Costabile, Adele et al. “Effect of breadmaking process on in vitro gut microbiota parameters in irritable bowel syndrome.” PloS one vol. 9,10 e111225. 30 Oct. 2014, doi:10.1371/journal.pone.0111225 Demirkesen-Bicak, Hilal et al. “Effect of Different Fermentation Condition on Estimated Glycemic Index, In Vitro Starch Digestibility, and Textural and Sensory Properties of Sourdough Bread.” Foods (Basel, Switzerland) vol. 10,3 514. 1 Mar. 2021, doi:10.3390/foods10030514 De Vuyst, Luc et al. “Yeast diversity of sourdoughs and associated metabolic properties and functionalities.” International journal of food microbiology vol. 239 (2016): 26-34. doi:10.1016/j.ijfoodmicro.2016.07.018 Referências Bibliográficas Fonseca, Ayrlana da Silva. 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Fonte: https://drpaulopittelli.com.br/doencas- etratamentos/intolerancia-ao-gluten 7.Fonte: Openclipart: https://publicdomainvectors.org/pt/vetorial- gratis/Festa-na-ilustra%C3%A7%C3%A3o-vetorial- intestinos/7839.html Nenhuma violação de direitos autorais pretendida. http://creativecommons.org/publicdomain/zero/1.0/ https://commons.wikimedia.org/wiki/User:Vini_175 https://publicdomainvectors.org/pt/vetorial-gratis/Festa-na-ilustra%C3%A7%C3%A3o-vetorial-intestinos/7839.html
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