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Artigo 3 - Tratamento enfermagem modelo manicomial

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Artigo Original - 361 -
Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2013 Abr-Jun; 22(2): 361-9.
TRATAMENTO EM SAÚDE MENTAL NO MODELO MANICOMIAL 
(1960 A 2000): HISTÓRIAS NARRADAS POR PROFISSIONAIS DE 
ENFERMAGEM
Andréa Noeremberg Guimarães1, Letícia de Oliveira Borba2, Liliana Muller Larocca3, Mariluci Alves Maftum4
1 Mestre em enfermagem. Professora Assistente do Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado de Santa Catarina. 
Santa Catarina, Brasil. E-mail: deia_ng@yahoo.com.br
2 Doutoranda em enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal do Paraná 
(UFPR). Enfermeira do Hospital das Clínicas da UFPR. Paraná, Brasil. E-mail: leticia_ufpr@yahoo.com.br
3 Doutora em enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem (DEnf) e do PPGEnf/UFPR. Paraná, Brasil. E-mail: 
liliana@ufpr.br
4 Doutora em enfermagem. Docente Adjunto do DEnf/UFPR. Paraná, Brasil. E-mail: maftum@ufpr.br 
RESUMO: História oral temática, desenvolvida de 2010 a 2011. Objetivou descrever a vivência de profissionais de enfermagem no 
tratamento ao portador de transtorno mental no modelo manicomial (1960-2000). Os dados foram coletados mediante entrevista 
semiestruturada realizada com dois enfermeiros e quatro auxiliares de enfermagem, num hospital psiquiátrico do Paraná. Os dados foram 
analisados e apresentados em categorias de acordo com a proposta de análise temática. Os colaboradores relataram como tratamentos 
dispensados ao portador de transtorno mental, terapia medicamentosa, choque cardiazólico, insulinoterapia, eletroconvulsoterapia, 
entendida como importante recurso para controle da agitação, uso de cubículos e celas fortes como prática comum nos hospitais 
psiquiátricos, praxiterapia como ocupação. Discorreram, ainda, sobre lençol de contenção, camisa de força, e contenção no leito por 
faixas de tecido de algodão. Embora muitos destes tratamentos estejam em desuso e sejam criticados, eram os disponíveis e utilizados 
no período estudado.
DESCRITORES: Enfermagem. Enfermagem psiquiátrica. Saúde mental. Tratamento. História da enfermagem.
MENTAL HEALTH TREATMENT ACCORDING TO THE ASYLUM MODEL 
(1960 TO 2000): NURSING PROFESSIONALS’ STATEMENTS
ABSTRACT: Thematic oral stories developed from 2010 to 2011. The purpose was to describe the nursing professionals’ experience in the 
treatment of patients with mental disorders according to the asylum model (1960-2000). The data were collected through semi-structured 
interviews, carried out by two baccalaureate nurses and four nursing assistants in a psychiatric hospital in the state of Parana. Data were 
analyzed and presented in categories in accordance with the proposal of thematic analysis. The staff reported the following types of 
treatment delivered to patients with mental disorders: drug therapy, cardiazol shock, insulin therapy, electroconvulsive therapy – seen 
as an important resource to control agitation – use of cubicles and strong cells as common practices in psychiatric wards, and praxis 
physical therapy as occupation. They also made reference to bed sheet restraint, straightjackets and bed restraint using cotton bandages. 
Although many of these treatments are now discontinued and criticized, they were available and used during the studied period.
DESCRIPTORS: Nursing. Psychiatric nursing. Mental health. Treatment. History of nursing.
TRATAMIENTO EN SALUD MENTAL EN EL MODELO DE MANICOMIO 
(1960 A 2000): HISTÓRIAS NARRADAS POR PROFESIONALES DE 
ENFERMERÍA
RESUMEN: Historia oral temática desarrollada de 2010 a 2011. El objetivo fue describir la vivencia de profesionales de enfermería 
en el tratamiento al portador de trastorno mental en el modelo de manicomio (1960-2000). Los datos fueron colectados mediante 
entrevista semi estructurada realizada con dos enfermeros y cuatro auxiliares de enfermería, en un hospital psiquiátrico del Paraná. 
Los datos fueron analizados y presentados en categorías de acuerdo con la propuesta de análisis temática. Los colaboradores 
relataron como tratamientos dados al portador de transtorno mental, terapia medicamentosa, choque cardiozólico, insulinoterapia, 
electroconvulsoterapia, entendida como un recurso importante para el control de la agitación, uso de cubículos y celas fuertes como 
práctica común en los hospitales psiquiátricos, praxiterapia como ocupación. También discutieron sobre sábana de contención, camisa 
de fuerza, y contención en el lecho con fajas de algodón. Aunque muchos de estos tratamientos estén fuera de uso y sean criticados, 
eran los que estaban disponibles y eran utilizados en el periodo estudiado.
DESCRIPTORES: Enfermería. Enfermería psiquiátrica. Salud mental. Tratamiento. Historia de la enfermería.
361
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Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2013 Abr-Jun; 22(2): 361-9.
INTRODUÇÃO
Por meio do Decreto n. 82/1841 foi fundado 
no Rio de Janeiro o Hospício Dom Pedro II, inau-
gurado em 1852, e renomeado mais tarde Hospício 
Nacional de Alienados. Assim, o Brasil se tornou 
o primeiro país da América Latina a fundar um 
grande manicômio com base no alienismo francês, 
o qual manteve a tradição asilar de abrigar des-
viantes de todos os tipos, regidos sob a égide das 
mais diversas intervenções e arbitrariedades.1-3
A partir desse evento, foram construídos em 
todo o país vários asilos e manicômios. Portanto, 
ao longo dos anos, a assistência psiquiátrica este-
ve atrelada ao tratamento restrito ao interior dos 
grandes hospícios, com internação prolongada e 
manutenção da segregação do portador de trans-
torno mental do espaço familiar e social. O foco de 
atenção não era a pessoa, mas a doença. Os porta-
dores de transtorno mental eram marginalizados e 
desprovidos de autonomia, não sendo vistos como 
indivíduos ativos na sua terapêutica.4
À instituição hospitalar cabia a responsa-
bilidade de eliminar os sintomas da desordem 
psíquica. Para o tratamento utilizavam recursos 
que iam desde a internação, técnicas de hidrote-
rapia, administração excessiva de medicamentos, 
até aplicação de estímulos elétricos ou o uso de 
procedimentos cirúrgicos. O objetivo das ins-
tituições psiquiátricas era utilizar dispositivos 
que caminhassem na direção da correção do que 
sinalizava “anormalidade”.5
Foi no interior do manicômio, que surgiu a 
enfermagem brasileira. Sua origem não objetivou 
melhorar a assistência aos internos, mas vigiar, con-
trolar e puni-los por seus atos. Não existiam trocas 
sociais entre trabalhadores de saúde e os internos, 
como comunicação, afetividade e acolhimento,6 
os portadores de transtorno mental não recebiam 
tratamento digno, muitas vezes eram tratados 
com violência e, por não serem estimulados, suas 
potencialidades eram reduzidas até se tornarem 
incapazes de regressar ao convívio social.4
Há que se considerar que, desde aproxima-
damente 1978, o modelo de atenção em saúde 
mental no Brasil vem sofrendo um redireciona-
mento influenciado pelo Movimento da Reforma 
Psiquiátrica que preconiza a criação de novos dis-
positivos de tratamento de base comunitária como 
os Centros de Atenção Psicossocial e mudanças 
na terapêutica e no modo de conceber e tratar a 
pessoa com transtorno mental. Entretanto, para 
que práticas adotadas no passado, não se repitam 
pelo desconhecimento em tempos de reformulação 
da assistência nesta área do conhecimento, faz-se 
necessário manter o registro de tais práticas por 
meio das memórias. 
O recorte temporal de 1960-2000 para esta 
pesquisa se justifica pela possibilidade de encon-
trar profissionais de enfermagem que tivessem 
vivenciado sua prática profissional anterior a 2001, 
quando efetivamente se estabelece um aparato le-
gal para a reformulação da assistência psiquiátrica 
no país. Desse modo, nesta pesquisa tem-se por 
objetivo: descrever a vivência de profissionais de 
enfermagem no tratamento ao portador de trans-
torno mental no modelo manicomial (1960-2000).
MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com 
abordagem da história oral temática, desenvolvi-
dade fevereiro de 2010 a março de 2011, em um 
hospital psiquiátrico no Paraná, com seis colabo-
radores (dois enfermeiros e quatro auxiliares de 
enfermagem). 
No que se refere ao número de colaboradores 
entrevistados, a história oral normalmente tem 
sido explorada em seu aspecto mais diminuto, 
devido às dificuldades de trabalhar com eleva-
da quantidade de material.7 Portanto, devido à 
quantidade de material oriundo das narrativas, 
optou-se por encerrar as entrevistas em seis co-
laboradores. 
Os critérios de inclusão foram: ser maior 
de dezoito anos e ter desenvolvido sua prática 
profissional em uma instituição asilar no período 
de 1960 a 2000.
Os dados foram obtidos mediante entrevista 
semiestruturada, gravada e transcrita, com a ques-
tão: Relate os modos de tratamento ao portador de 
transtorno mental que você vivenciou na prática 
de enfermagem anteriormente às mudanças de-
correntes da reforma psiquiátrica.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de 
Ética em Pesquisa do Setor de Ciências da Saú-
de da Universidade Federal do Paraná (CAAE 
4187.0.000.091-09), em consonância com a Reso-
lução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.8
As narrativas foram analisadas e apresen-
tadas em categorias de acordo com a proposta de 
análise temática9 que inclui a fase de ordenação, 
classificação e análise final dos dados.
A fase de Ordenação dos dados incluiu a 
transcrição de fitas cassetes; releitura do material; 
Guimarães AN, Letícia de Oliveira Borba LO, Larocca LM, Maftum MA
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Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2013 Abr-Jun; 22(2): 361-9.
organização dos relatos e dos dados de observação. 
Assim, nesta fase foi realizada a transposição do 
oral para o escrito segundo envolvendo três fases: 
transcrição, textualização e transcriação.7 
Na fase Classificação dos dados fez-se leitura 
exaustiva dos textos originados da transcriação das 
entrevistas, a qual permitiu apreender a relevância 
entre as falas, as ideias centrais e organizá-las em 
categorias temáticas. 
Na fase de Análise final os dados foram 
organizados em oito categorias temáticas de 
acordo com a vivência de modos de tratamento 
narrados pelos colaboradores: medicamentos, 
choque cardiazólico, insulinoterapia (choque in-
sulínico), eletroconvulsoterapia, cubículo ou cela 
forte, praxiterapia, lençol de contenção e camisa 
de força, e contenção no leito por faixas de tecido 
de algodão.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os colaboradores narraram a vivência de 
diversos modos de tratamentos dispensados à 
pessoa com transtorno mental, na sequência, são 
descritas partes de suas narrativas cotejadas com 
literatura pertinente. 
Medicamentos
As narrativas evidenciaram que até 1960 
existiam poucos fármacos para o tratamento 
psiquiátrico e os disponíveis tinham potencial 
de ação insuficiente para minimizar os sintomas 
decorrentes do transtorno mental. Para diminuir a 
agitação dos pacientes, utilizavam-se medicamen-
tos de forma excessiva, comumente associados a 
outros tipos de tratamentos.
A medicação era pouca, quase não tinha e a que 
existia era fraca. Usávamos Haldol de 1 mg e Amplictil 
de 25 mg, mais tarde que chegaram os novos fármacos 
como o Neozine e o Amplictil de 100 mg. Para os ca-
sos em que o paciente estava muito agitado, tínhamos 
também o Sonifen. Administrávamos 1 ml na veia e em 
cinco minutos a pessoa estava dormindo. Depois entrou 
o Amplictil aplicado com o Fenergan. A dose de cada 
medicação era prescrita conforme a agitação do paciente, 
quando o paciente estava muito agitado e agressivo, 
eram prescritos três Amplictil e um Fenergan (C6).
A psicofarmacologia teve início em 1952, 
quando os pesquisadores franceses Jean Delay e 
Pierre G. Deniker obtiveram sucesso no tratamento 
das pessoas com transtornos mentais com uma 
nova substância, a clorpromazina. Eles identifi-
caram que ela reduzia a agitação psicomotora, as 
alucinações e os delírios. Essa ação foi denominada 
de neurolepsia, e os novos medicamentos com esse 
emprego passaram a ser chamados neurolépticos.10
Assim, a partir de 1952, psicofármarcos como 
clorpromazina (Amplictil®), levomepromazina 
(Neozine®) e haloperidol (Haldol®), passaram a 
ser empregados vastamente no tratamento dos 
portadores de transtorno mental, como uma tera-
pia coadjuvante.11 Com o surgimento e, posterior-
mente, com o aumento na quantidade e qualidade 
dos psicofármacos, houve uma diminuição da 
manifestação dos sintomas decorrentes dos trans-
tornos mentais. 
Tem-se o reconhecimento da importância do 
emprego da terapia medicamentosa no tratamento 
do portador de transtorno mental, porém, atual-
mente, com o modelo psicossocial vigente, diferen-
temente do modelo manicomial, enfatiza-se o uso 
racional do medicamento em associação a outras 
abordagens terapêuticas como consultas, oficinas 
terapêuticas, atividades socioterápicas, grupos 
operativos, psicoterapia e atividades comunitá-
rias, visando a reinserção social do portador de 
transtorno mental.12-13 
Choque cardiazólico
O colaborador C6 narrou que vivenciou até 
o final da década de 1960, a aplicação do medica-
mento cardiazol, no tratamento de pessoas com 
transtornos mentais; narrou como a enfermagem 
se inseria nessa modalidade de tratamento e 
externou sua posição em relação aos resultados 
positivos dessa prática na diminuição da agitação 
de alguns pacientes em contraposição à medicação 
oral disponível naquela época.
Utilizávamos em pacientes muito crônicos, surtia 
quase o mesmo efeito do eletrochoque. O cardiazol era 
um medicamento que vinha em uma ampola de 1 ml. 
O médico fazia a prescrição, antes de administrá-lo 
fazíamos os procedimentos preparatórios, como no 
eletrochoque. O cardiazol era administrado bem rápi-
do via endovenosa, o paciente entrava em convulsão. 
Essa terapia dava resultado. Nos casos de pacientes 
superagitados, era uma beleza, pois a medicação oral 
não surtia efeito (C6).
Terapias convulsivas para tratar pessoas com 
transtornos mentais graves remontam ao século 
XVI, quando o médico suíço Paracelsus relatou 
administrar cânfora via oral para indução de con-
vulsões e tratamento da loucura. Essa informação, 
em grande parte, foi esquecida, até que em 1934 
Tratamento em saúde mental no modelo manicomial...
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Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2013 Abr-Jun; 22(2): 361-9.
o neuropsiquiatra húngaro Ladislas von Meduna 
começou o seu trabalho com a terapia convulsi-
va,14 desenvolvendo, inicialmente, o tratamento 
convulsivo induzido por cânfora intramuscular 
e, posteriormente, pelo cardiazol intravenoso.15
As convulsões ocasionadas pelo cardiazol 
ocorriam rápida e violentamente e eram difíceis 
de controlar. Às vezes, eram tão severas que 
causavam fraturas espinhais nos pacientes. Com 
a chegada de outros métodos para tratar pessoas 
com transtornos mentais, como os neurolépticos 
e a eletroconvulsoterapia, o cardiazol foi gradual-
mente descontinuado no final dos anos 40 e não 
mais utilizado. Hoje, sua importância é unicamen-
te histórica.15
Insulinoterapia (choque insulínico)
O uso da insulinoterapia foi referido por dois 
colaboradores. Entretanto, somente o colaborador 
C6 a vivenciou e detalhou minuciosamente a atua-
ção da enfermagem na aplicação dessa técnica, que, 
conforme seu relato foi utilizada até o início de 1970. 
Aplicávamos 10 unidades de insulina subcutânea 
às cinco horas da manhã e somávamos 10 unidades a 
cada dia até que a pessoa fazia o pré-coma. No dia se-
guinte ao pré-coma, aumentávamos mais 10 unidades 
de insulina e o paciente entrava em coma. A partir daí, 
a dose era sempre a mesma, se o paciente fez, por exem-
plo, coma com 100 unidades de insulina, ele ia tomar 
sempre essa dosagem até terminar o tratamento. Se o 
médico tivesse prescrito 30 comas, marcávamos o dia 
em que ele fez o primeiro coma, contávamos 30 comas e 
encerrávamos o tratamento. Era comum o médico pres-
crever 30 comas de insulina e o eletrochoque em coma. 
Logo que o paciente entrava em coma, injetávamos 20 
ml de glicose endovenosa,ele ia acordando. Em segui-
da, o levantávamos e mandávamos tomar uma solução 
de água e açúcar que estava preparada. Geralmente o 
paciente estava transpirando. Era encaminhado para o 
chuveiro, tomava banho, trocava de roupa, tomava café 
bem doce, comia de dois a três pães. Depois, sentava no 
pátio e andava um pouco (C6).
A terapia por choque insulínico foi descober-
ta pelo neuropsiquiatra polonês Manfred Sakel e, 
comunicada, oficialmente em 1933. A introdução 
da insulinoterapia na psiquiatria se deu quando 
Sakel, ao causar convulsões com uma dose excessi-
va de insulina, descobriu acidentalmente que esse 
tratamento era eficaz para pacientes com psicoses, 
como a esquizofrenia.15 
Consistia no uso de doses cada vez mais 
altas de insulina intramuscular até que o paciente 
ficasse comatoso. A princípio, esse quadro era re-
vertido com glucagônio após 15 minutos, porém, 
foram realizadas tentativas de elevar os comas 
subsequentes até uma hora. Por vezes, eram ne-
cessárias mais de 60 aplicações para se observar 
os resultados.14
Em conformidade com os achados de Sakel, 
mais de 70% de seus pacientes melhoraram após a 
realização da terapia por choque insulínico. O de-
suso desse procedimento se acelerou ao surgirem 
pesquisas que mostraram que a cura real não era 
alcançada e que as melhoras na maioria das vezes 
eram temporárias.15
Eletroconvulsoterapia (ECT)
A história contada pelos colaboradores 
demonstrou que, até meados da década de 1970, 
a ECT foi amplamente empregada dentro dos 
hospitais psiquiátricos. Esse tratamento foi visto 
como um procedimento importante para a época, 
pois era um dos poucos recursos disponíveis que 
contribuíam para diminuir a agitação e amenizar 
sintomas psicóticos. Contudo, a ECT ocasionava 
medo e uma experiência traumatizante para 
o paciente e até mesmo para quem a aplicava. 
Além disso, foi utilizada por alguns trabalhado-
res da enfermagem como instrumento punitivo 
e coercitivo.
Era um aparelho em que colocávamos uma carga 
elétrica pesada e molhávamos duas bonequinhas com 
uma água de sal para elas atuarem como transmissoras 
de eletricidade. Amarrávamos o paciente em uma cama, 
colocávamos uma borracha na sua boca para ele não 
morder a língua, reuníamos duas ou três pessoas para 
não deixar o paciente se debater, para que não se ma-
chucasse. Encostavam-se as duas bonequinhas de uma 
só vez na fronte do paciente, uma de cada lado, apertava 
um botão e ele convulsionava na hora. Normalmente 
quem participava da aplicação do eletrochoque eram 
o médico e o pessoal da enfermagem. Era uma coisa 
ruim para o paciente, não era confortável. Tanto que 
na segunda ou terceira aplicação do eletrochoque, nós 
tínhamos que pegar o paciente a força para poder fa-
zer a administração. Houve épocas, que funcionários 
usavam aquilo como castigo, se o paciente perturbasse 
davam choque. O eletrochoque não era só tratamento, 
era castigo também. Em alguns casos, o eletrochoque 
ajudava um pouco, tirava o paciente do delírio, dimi-
nuía a agitação, algumas pessoas melhoraram com 
isso. Mas para outras, esse tratamento não funcionava. 
Eu acredito que isso cronificava os pacientes, deixava 
sequelas, tirava a capacidade de reação deles. Há uns 
oito anos nós tivemos um médico que foi transferido 
Guimarães AN, Letícia de Oliveira Borba LO, Larocca LM, Maftum MA
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Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2013 Abr-Jun; 22(2): 361-9.
para cá, ele tentou implantar de volta o eletrochoque, 
mas a equipe não aceitou (C1).
A ECT, inicialmente denominada Terapia de 
Eletrochoque, foi administrada pela primeira vez 
em Roma, em 1938, por Ugo Cerletti e Lucio Bini.14 
Por mais que esse método tenha sido muito utili-
zado desde o seu surgimento, nos anos 60 e 70 sua 
popularidade declinou. Isso pode ser associado ao 
advento dos psicofármacos mais efetivos e a cres-
cente movimentação contrária a esse procedimento 
ocasionada pelo seu uso indevido com o objetivo 
de punir, controlar ou ameaçar os pacientes.5
Apesar da decadência do uso da ECT, nos 
últimos quinze anos, essa prática voltou a ganhar 
destaque.5 Esse tratamento é considerado efetivo 
para algumas pessoas que sofrem de transtornos 
mentais severos, como transtornos depressivos 
graves, catatonia, mania e certos casos de esquizo-
frenia. Atualmente, algumas associações psiquiá-
tricas têm se posicionado a favor da ECT, e vários 
países a inseriram como tratamento de eleição para 
transtornos mentais.16 No Brasil, o Conselho Fede-
ral de Medicina (CFM) normatizou esse método 
por meio da Resolução n. 1.640/2002.17
A ECT quando realizada deve ocorrer em 
ambiente hospitalar, sob anestesia, após a ava-
liação do estado clínico do paciente. Deve ser 
obtido antes do procedimento o consentimento do 
paciente ou de seu responsável, em situações em 
que ele não tenha condições mentais e/ou etárias 
para o preenchimento. Ainda, em momentos em 
que não for possível obter tal documento, o mé-
dico poderá aplicar o tratamento, desde que se 
responsabilize pelo ato.17 Nota-se, contudo, que 
não há um protocolo padrão para a quantidade 
de aplicações da ECT, de modo que a manutenção 
dessa terapêutica está a critério da avaliação do 
paciente após cada sessão.18
Em um estudo realizado no Instituto de Psi-
quiatria da Universidade Federal do Rio de Janei-
ro, foram comparados os dados de 69 prontuários 
sobre o uso da ECT de 2005 a 2007, com pesquisas 
desenvolvidas anteriormente e investigações a 
respeito do tema em outros países. Os resultados 
mostraram que todas as aplicações realizadas na 
instituição estavam de acordo com os critérios 
válidos e, que embora, a ECT seja polêmica, ela 
constituiu um bom método para a remissão de 
sintomas graves. Neste estudo, os autores também 
reforçaram a importância de estudos direcionados 
ao estabelecimento do padrão de aplicações neces-
sárias à boa resposta dos pacientes submetidos ao 
tratamento.18
Cubículo ou cela forte
Os colaboradores narraram a existência de 
celas fortes, que consistiam em pequenas salas, 
individuais, fechadas, com portas de material re-
forçado, que continham uma ou duas aberturas, 
na parte superior para o profissional observar a 
pessoa no interior do cubículo e na parte inferior 
para entregar as refeições. Em todos esses espaços 
restritivos havia um lugar para que os indivíduos 
fizessem as eliminações fisiológicas e se deitassem. 
As pessoas eram encaminhadas para os 
cubículos quando estavam muito agitadas ou 
agressivas. Todavia, esses recintos também ser-
viram para que alguns funcionários os usassem 
como um castigo para os pacientes. Não existia 
um tempo de permanência estabelecido para a 
reclusão, podia ser de 2 a 3 horas, até vários dias. 
Conforme relato do colaborador C3, no hospital 
campo deste estudo a desativação dos cubículos 
se deu no final de 1980.
Havia os cubículos onde os pacientes eram joga-
dos. Era uma cela. Quando o paciente ficava agitado, era 
colocado nesse lugar, qualquer coisinha era cubículo. Lá 
tinha somente uma patente e um colchão de capim no 
chão, quando tinha. Era escuro, tinha uma janelinha lá 
em cima. A comida era jogada por uma portinhola (C3). 
Os cubículos eram salas fechadas, de mais ou 
menos 3m2, com uma abertura embaixo na porta para 
dar a alimentação e uma em cima para observarmos o 
paciente, tinham um vaso sanitário daqueles de chão 
e um colchão. Para aplicar a medicação injetável, era 
preciso entrar mais de um auxiliar de enfermagem e se 
necessário conter o paciente. Para o banho, o paciente 
era retirado de lá e depois a enfermagem o colocava lá 
novamente. A porta era bem reforçada para que ele 
não pudesse arrebentá-la. Parecia um isolamento de 
solitária. O paciente muito agitado, que agredia outro 
paciente ou um funcionário, era encaminhado para lá. 
Não era um castigo, era um isolamento porque ele não 
tinha condição de ficar na unidade. Geralmente ele 
não queria ir para lá, tinha medo, ninguém quer ficar 
fechado, ia à força. Lá ele ficava isolado por sete dias,às 
vezes, até mais tempo. A intenção era que ele refletisse, 
se acalmasse (C4).
Em uma pesquisa realizada no Paraná, com 
famílias que vivenciam o tratamento da pessoa 
com transtorno mental, um sujeito verbalizou ter 
tido a experiência de ficar isolado em um cubículo 
após desentendimento com outro paciente. Ele 
mencionou que no período de reclusão não era 
possível alimentar-se e nem ingerir líquidos. A 
pessoa perdia a noção espacial e temporal e, ao 
Tratamento em saúde mental no modelo manicomial...
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Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2013 Abr-Jun; 22(2): 361-9.
ser retirada daquele local, apresentava-se confusa 
e desorientada.19
A Portaria MS n. 224/1992, na perspectiva 
de viabilizar a humanização da assistência e a pre-
servação da cidadania da pessoa com transtorno 
mental nos hospitais psiquiátricos, entre outras de-
terminações, proibiu a existência de celas fortes.12-13 
A Portaria GM n. 251/2002, mantém a proibição 
desses espaços restritivos,12 prática que propicia 
exclusão e sofrimento para o paciente internado.
Praxiterapia
Outra modalidade de tratamento narrada 
pelos colaboradores foi a praxiterapia em que os 
internos desempenhavam tarefas laborais, como a 
horticultura e criação de galináceos e suínos, sob a 
orientação dos funcionários. Essa prática possibili-
tava uma ocupação aos pacientes, conferindo uma 
ação terapêutica. Entretanto, foi muito empregada 
até a década de 1980 como um instrumento de 
exploração de trabalho.
A horta terminou em 2000 mais ou menos, mas 
nessa época ela já estava bem reduzida e o funcionamen-
to era diferente. Quando era ativa mesmo, na década de 
1980, ela era enorme. Os pacientes eram levados para 
a horta, lá eles carpiam, plantavam, regavam, colhiam. 
Eu achava que era bom porque era uma forma deles se 
ocuparem, mas por outro lado penso que era um esforço 
muito grande para eles, pois muitas vezes as pessoas que 
comandavam aquelas atividades se aproveitavam deles. 
O [nome do funcionário], que hoje já se aposentou, 
agredia pacientes, chicoteava. Ele fazia o paciente tra-
balhar mesmo (C4).
A praxiterapia consistia no uso terapêutico 
do trabalho. No Brasil, ela foi oficializada em 
1890 por meio do Decreto n. 206-A, que aprovou 
instruções para a assistência médica legal de alie-
nados. Nota-se que esse aparato se destinava aos 
“alienados indigentes”, capazes de trabalhar na 
agricultura e indústrias nas colônias. Estes locais 
foram criados principalmente para solucionar os 
problemas de superlotação de pobres e miseráveis 
no Hospício Nacional de Alienados. No entanto, 
havia também o interesse terapêutico em propor-
cionar tratamento baseado no trabalho, especial-
mente em atividades de agropecuária e produção 
artesanal.2
Ainda, no interior da instituição asilar havia 
um contingente de pessoas com condições de de-
sempenhar atividades que estavam sem ocupação. 
Assim, em 1903 Hermann Simon, utilizou a força 
de trabalho de pacientes para a construção de um 
hospital e registrou a melhoria que essa atividade 
produziu nos pacientes, instituindo a terapêutica 
ocupacional.20
O uso de atividades laborais como forma de 
terapia foi uma das mais importantes aplicações de 
tratamento moral. Inúmeras instituições psiquiá-
tricas do tipo colônias de alienados foram origina-
das em todo o Brasil. A ideia era que pessoas com 
transtornos mentais pudessem trabalhar nesses 
espaços, sobretudo na lavoura, pois o trabalho as 
recuperaria.21
Em um estudo realizado acerca das terapias 
utilizadas em um hospital psiquiátrico em Santa 
Catarina entre os anos de 1941 e 1961, a praxite-
rapia também foi mencionada. Tratava-se de um 
recurso que visava ocupar integralmente o tempo 
dos portadores de transtorno mental. O trabalho 
era visualizado como uma forma de introjetar 
na pessoa a atenção, a coordenação dos atos, a 
obediência, entre outras qualidades. Os pacientes 
desenvolviam atividades que eram permitidas tan-
to pelos seus graus de periculosidade, como pelas 
suas condições físicas e aptidões individuais em 
vários setores da instituição, como serraria, olaria, 
carpintaria, suinocultura, agricultura, capinação, 
lavanderia, costura, cozinha e limpeza.22
Apesar dos aspectos positivos da praxite-
rapia, a fala do colaborador C4 mostrou o mau 
emprego dessa técnica até a década de 1980. Ela 
era uma condição imposta para os pacientes, que 
visava à produtividade. Pessoas chegavam a ser 
açoitadas, assemelhando-se a escravos. Se por 
um lado essa prática surgiu para exercer ação 
terapêutica mediante a ocupação e o contato com 
a natureza, a exemplo de outras terapias citadas 
neste estudo ou em outras pesquisas, ela trouxe 
resultados mais iatrogênicos do que curativos e 
de reabilitação pelo seu mau uso tanto por pro-
fissionais da enfermagem, quanto por médicos e 
donos de hospitais.
Lençol de contenção e camisa de força
Os colaboradores narraram o uso do lençol 
de contenção, também denominado de jacaré, até 
1990. Ao discorrerem sobre esta técnica, simulta-
neamente, intercalavam informações a respeito da 
camisa de força. Para eles o aspecto positivo do 
lençol de contenção era ser rapidamente colocado, 
todavia chegava a machucar os pacientes. A camisa 
de força ou colete conferia grande risco de queda. 
Essas técnicas foram adotadas ou tiveram seu uso 
intensificado a partir da extinção dos cubículos.
Guimarães AN, Letícia de Oliveira Borba LO, Larocca LM, Maftum MA
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O colete era colocado em pacientes que se autoa-
grediam, eles ficavam apenas com os braços amarrados, 
conseguiam andar, só que era perigoso porque podia 
cair, a enfermagem precisava ficar atenta. Já o lençol 
de contenção continha a pessoa na cama. O paciente 
ficava deitado, vestíamos nele uma lona com braçadeiras 
de couro e fivela que prendiam as pernas e os braços no 
leito. Colocávamos ali uma proteção para não garrotear 
os membros. A pessoa não podia ficar contida dessa 
forma por muito tempo, para não machucá-la, logo que 
o médico a sedava, o lençol de contenção era retirado. 
Quando um paciente mesmo após a medicação não dor-
mia, conversávamos com ele, se estivesse calmo, remo-
víamos a contenção. Mas lembro que houve muitos casos 
de soltarmos o indivíduo e imediatamente termos que 
contê-lo novamente. Era soltar e ele nos agredir (C6).
A camisa de força ou colete de força foi in-
troduzida por Pinel, no século XIX, e substituiu 
as correntes, algemas e celas fortes utilizadas nos 
manicômios. Esse recurso foi considerado uma 
forma de contenção física menos dolorosa, mais 
transitória e menos excludente que os dispositivos 
que existiam naquela época.23
Durante mais de 50 anos a camisa de força 
foi utilizada no tratamento psiquiátrico. Ela foi 
amplamente empregada no Brasil. Era confeccio-
nada com tecido do tipo lona resistente, possuía 
mangas muito compridas e fechadas para serem 
amarradas nas costas. O paciente permanecia 
amarrado, imobilizado e inofensivo.10 Ao imobili-
zar somente os membros superiores, a camisa de 
força permitia que a pessoa não ficasse restrita ao 
leito, no entanto, aumentava o risco de quedas e 
ferimentos, especialmente no rosto, uma vez que 
prejudicava o equilíbrio e diminuía a possibilidade 
de o paciente ao cair se proteger com os braços.24-25
Tais apontamentos condizem com as falas 
dos colaboradores e também podem ser obser-
vados nos resultados de uma pesquisa realizada 
com profissionais de enfermagem de um hospital 
psiquiátrico que teve como objeto de estudo a 
contenção física. Os participantes mencionaram 
que quando a camisa de força era utilizada, comu-
mente acontecia de o paciente cair e se machucar, 
sendo necessário por vezes fazer sutura. Ressal-
taram que esse tipo de contenção não evitava por 
completo que a pessoa agredisse os outros, pois 
como os membros inferiores ficavam livres, eles 
poderiam ser usados.24-25
O lençol de contenção era confeccionado de 
lona grossa e tinha correiasde couro, portanto, 
oferecia um contato desagradável ao indivíduo 
contido e transmitia uma mensagem de medo e 
agressividade, revelada por pacientes ao apelidá-lo 
de “arreio”. Na pesquisa referida anteriormente, os 
sujeitos fizeram colocações que vêm ao encontro do 
que foi exposto pelos colaboradores deste estudo. 
Contaram que o lençol de contenção tinha uma 
estrutura física muito rudimentar, pesava bastante 
sobre o paciente, o incomodava e em muitas vezes 
lhe causava ferimentos. Não obstante, esse tipo de 
contenção era uma técnica boa e fácil, pois, segundo 
os sujeitos, era realizada de forma rápida.24-25
Contenção no leito com faixas de tecido de 
algodão
A contenção física no leito por faixas de teci-
do de algodão foi outra técnica citada pelos colabo-
radores, e que inclusive perdura até os dias atuais. 
Contudo, devido às mudanças decorrentes da 
reforma psiquiátrica, eles explicitaram que ela não 
é utilizada como primeira escolha. Ela é aplicada 
para a proteção do paciente, de outros indivíduos 
e para a pessoa contida ter um tempo para pensar 
em seus atos. Esse procedimento é de indicação 
médica. Alguns cuidados durante a contenção físi-
ca foram referidos pelos colaboradores, tais como 
a realização correta da técnica, o monitoramento 
constante do indivíduo contido, a verificação dos 
dados vitais e das condições circulatórias e a ava-
liação da supervisão de enfermagem.
Atualmente a contenção mecânica é realizada 
com faixas para assegurar a integridade física do pa-
ciente, para proteção do outro e também em casos em 
que o usuário está muito angustiado e não consegue 
parar e ter um tempo para ele. Todas as contenções 
são realizadas com indicação médica. Quando há uma 
situação de agressividade, que o paciente está agitado, 
batendo, quebrando, a enfermagem faz a técnica, mas 
imediatamente o médico é avisado para prescrever. Daí 
a supervisão de enfermagem vai lá, vê todos os cuidados, 
como é que está a circulação do paciente, o estado geral 
dele. O tempo de contenção é no máximo de três horas. 
Mas há paciente que às vezes está muito agitado, poden-
do este período ser ultrapassado com monitoramento e 
acompanhamento constante (C2).
A contenção tem que ser terapêutica. Alguns 
cuidados são importantes, como conter o paciente o 
mais próximo do posto de enfermagem, não deixá-lo 
sozinho, olhá-lo a todo o momento, verificar sinais 
vitais, observar se ele está bem, se está tendo resposta e 
se continuar muito agitado chamar o médico para ver se 
há necessidade de uma medicação; não dar líquidos ou 
alimentos e cuidar para que outros pacientes também 
não deem (C1).
Tratamento em saúde mental no modelo manicomial...
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Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2013 Abr-Jun; 22(2): 361-9.
Como medida terapêutica, a contenção física 
no leito com faixas de tecido de algodão deve ser 
realizada somente como último recurso, depois de 
esgotadas todas as tentativas de acalmar o paciente 
pela abordagem verbal.26 Esta prática envolve o 
uso de dispositivos mecânicos ou manuais para 
limitar os movimentos do paciente, para proteger 
a ele próprio ou os demais.14 
Tal situação requer que esse tema seja objeto 
de discussão e normatização pela categoria pro-
fissional, além de que ela seja realizada de modo 
terapêutico e não com descaso ou como forma de 
punição a alguém que se encontra em momento de 
sofrimento, portanto, fragilizado por sua condição. 
Estudo25 que objetivou investigar como 
ocorre a contenção física revelou que os sujeitos 
mencionaram o uso desse instrumento como te-
rapêutico, devendo ser utilizado em situações de 
agitação psicomotora, agressividade e quando há 
necessidade de estabelecer limites. Para eles, o uso 
da contenção física no leito com faixas de tecido de 
algodão propicia, na maioria das vezes, resultados 
positivos, como a diminuição da ansiedade e a 
liberação dos sentimentos de raiva. Além disso, 
houve relatos que em algumas situações essa téc-
nica acaba por dispensar o uso de medicamentos 
e confere tempo para a pessoa contida repensar 
suas atitudes, sua vida e até externar sentimentos 
não mencionados em outros momentos.
Outra preocupação refere-se ao uso de faixas 
apropriadas para a contenção e aos cuidados de 
enfermagem, como vigilância contínua do indi-
víduo contido, conforto, proteção, avaliação na 
presença de comorbidades clínicas e obstétricas, 
controle de sinais vitais e perfusão sanguínea e 
avaliação do enfermeiro.25
CONCLUSÕES
As narrativas dos colaboradores contribuí-
ram para recuperar a memória da assistência ao 
portador de transtorno mental praticada dentro de 
hospitais psiquiátricos no recorte temporal (1960 
a 2000). Esse histórico facilita o entendimento do 
presente, nos remete à discussão de saúde mental, 
seus atores e cenários, as influências sofridas ao 
longo do tempo e seus impactos e implicações na 
sociedade.
As histórias externadas neste estudo eviden-
ciaram que os tratamentos adotados nas institui-
ções em que os colaboradores trabalharam vêm 
ao encontro daqueles utilizados nos hospitais 
psiquiátricos dos grandes centros brasileiros. 
Foram mencionadas as terapias biológicas: os 
psicofármacos, o choque cardiazólico, a insulino-
terapia e a eletroconvulsoterapia. Destes, o choque 
cardiazólico e a insulinoterapia caíram em desuso, 
e a eletroconvulsoterapia é empregada por alguns 
centros de pesquisa e tratamento de transtornos 
mentais. As terapias de ideologia moral, como as 
atividades laborais, e as de restrição física, repre-
sentadas pela cela forte, o lençol de contenção, a 
camisa de força e a contenção no leito por faixas 
de tecido de algodão foram mencionadas pelos 
colaboradores sendo que as celas fortes têm proi-
bição em legislação federal. 
É importante ressaltar que alguns tipos de 
tratamentos que no presente são considerados inci-
pientes e em desuso, eram os disponíveis durante 
o recorte temporal do estudo, de 1960 a 2000, no 
entanto, mesmo sendo originados para exercerem 
uma ação terapêutica, por vezes, foram utilizados 
de forma desumana e coercitiva. 
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Correspondência: Mariluci Alves Maftum
Avenida Pref. Lothario Meissner, 632, 3º andar
80210-170 – Jardim Botânico, Curitiba, PR, Brasil.
E-mail: maftum@ufpr.br
Recebido: 11 de Junho de 2011
Aprovação: 31 de Agosto de 2012
Tratamento em saúde mental no modelo manicomial...

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