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DADOS DE COPYRIGHT Sobre a Obra: A presente obra é disponibilizada pela equipe da Editora Conhecimento & Ciência, e seus diversos parceiros, tem por objetivo ofertar a comunidade cientifica conteúdo para uso em pesquisas e estudos acadêmicos. É expressamente proibida a comercialização do presente conteúdo, sem a autorização da Editora. O conteúdo de cada seção e de cada capítulo é de responsabilidade de seus autores. Sobre a Conhecimento & Ciência: A C&C foi criada em abril de 2000, neste momento há vinte anos vem atuando no mercado educacional, sempre tendo como objetivo a construção e divulgação do conhecimento, por entender que o conhecimento e a educação devem ser acessíveis a qualquer cidadão. NÍVEL DE DESEMPENHO MOTOR E SUA RELAÇÃO COM APTIDÃO FÍSICA, ESTADO NUTRICIONAL E ESTADO MATURACIONAL DE ADOLESCENTES ____________________________________________________ Autora: Eliana da Silva Coêlho Mendonça Orientador: Ricardo Figueiredo Pinto AUTORA DOUTORA EM SÁUDE PÚBLICA possui graduação em Licenciatura Plena em Educação Física pela Universidade do Estado do Pará (2006). É especialista em Fisiologia do Exercício, Mestre em Ciência da Motricidade. Atua como Professora da Educação Básica, Técnica e Tecnológica do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA). Tem experiência na área de Educação Física, com ênfase em Qualidades Físicas, Saúde, Lazer e Desenvolvimento Infantil. ORIENTADOR Professor Ricardo Figueiredo Pinto, possui graduação em Educação Física pela Fundação Educacional do Estado do Pará (1983), mestrado em Educação Física pela Universidade Gama Filho (1991) e doutorado em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas (1999). Atualmente é Professor Adjunto IV da Universidade do Estado do Pará. Tem experiência na área de Educação Física, com ênfase no Desenvolvimento Infantil. Atua também como professor e orientador convidado em programas de mestrado e doutorado em Gestão e em Educação em Portugal, Brasil e Paraguai. CONSELHO CIENTÍFICO ANTONIO CESAR MATIAS DE LIMA, Dr DILMA DE OLIVEIRA LEÃO, Dra ERALDO PEREIRA MADEIRO, Dr ISMAEL FENNER, Dr MARCO JOSÉ MENDONÇA DE SOUZA, Dr NEY CALANDRINI DE AZEVEDO, Dr LÍGIA GIZELY DOS SANTOS CHAVES MELO, Dra RICARDO FIGUEIREDO PINTO, Dr ROBSON ANTONIO TAVARES DA COSTA, Dr SUSANA MARÍLIA BARBOSA GALVÃO, Dra MENDONÇA, E.S.C.; Nível de desempenho motor e sua relação com aptidão física, estado nutricional e estado maturacional de adolescentes / Ricardo Figueiredo Pinto (orientador), Belém-PA: Conhecimento & Ciência, 2020. Volume 1, 90p. Tese (Doutorado), Saúde Pública, Facultad Interamericana de Ciencias Sociales. 2019 ISBN: 978-65-86785-05-0 *O conteúdo dos capítulos é de inteira responsabilidade dos autores. SUPERVISÃO E REVISÃO FINAL: Francisco Válber de Sousa Teixeira Ricardo Figueiredo Pinto DIAGRAMAÇÃO E DESIGN: Gabriel Feliz Duarte Pinto CAPA: Gabriel Feliz Duarte Pinto A vida é como uma história: o que importa não é o tempo que dura, mas o quão boa ela é." - Sêneca AGRADECIMENTOS A Deus, em primeiro lugar, por ser a base das minhas conquistas, da minha esperança e da minha imensa fé. Aos meus Pais, Maria Santana da Silva Coêlho e Erbrandino Azevedo Coêlho Filho, por sempre me incentivarem a estudar e por serem a minha fonte de inspiração. A minha amada sogra Augusta Mendonça, que também cumpre um papel de mãe para comigo, pelo seu imenso apoio para a conclusão desse doutorado. Aos meus irmãos, pelo apoio e incentivo incondicional. Aos meus queridos alunos que me ajudaram na coleta de dados dessa pesquisa, Tailine Oliveira Feitosa, Sanderson Chaves dos Santos e Jeisiane de Sousa Galvão. A todos os meus alunos do Ensino Médio do IFPA Campus Itaituba, que foram amostra desta pesquisa. Aos meus filhos, Davi Lucca, Anna Sophia e Marco Lucca, por quem luto para que me vejam como referência de mãe, pesquisadora e educadora. E por último, e não menos importante, ao meu marido e grande amor da minha vida, Marco José Mendonça de Souza, por ser meu maior incentivo e inspiração na Educação Física. Sem você, sem o seu apoio e incentivo, essa tese não seria possível. RESUMO Esta pesquisa foi caracterizada como descritiva quantitativa de corte transversal. Durante o processo de desenvolvimento motor ocorre uma série de mudanças físicas e mecânicas, onde os fatores do crescimento físico, da maturação, do desenvolvimento da aptidão física, da atividade física, da idade e da experiência estão inter-relacionados. Objetivo geral deste estudo foi estudar os diferentes efeitos da aptidão física, estado nutricional e estado maturacional sobre o desempenho motor de adolescentes de 13 a 16 anos no município de Itaituba/Pará. Metodologia desenvolvida foi com o n=amostral de102 alunos de ambos os gêneros com idade entre 13 a 16 anos da cidade de Itaituba/PA. Todos os responsáveis assinaram o TCLE e liberados pelo médico para os testes, os instrumentos utilizados foram MABC-2,caminhada/corrida de 6 e 9, protocolo de T.G Lohman, Banco de Wells, Arremesso de Medicinibol, Sargent Jump Test, Teste de Impulsão Horizontal, Balança Antropométrica e o PVC. A estatística utilizada foi descritiva e inferencial através do programa SPSS que avaliou a relação e ou associação dos resultados. Resultados para o Estado Nutricional, na avaliação geral da amostra, 78,4% foram classificadas dentro da normalidade. Quando comparada entre gêneros, os meninos apresentaram o índice de 85,4% e as meninas 72,2% dentro da normalidade. Para a variável Aptidão Física, apenas os valores dos testes de Arremesso de Medicinibol, Impulsão Horizontal e Flexibilidade, apresentaram índices acima da média. Quando comparados entre gêneros, os meninos não superaram as meninas no teste de abdominal, impulsão horizontal e percentual de gordura. Na análise do estado maturacional, realizado através do teste de Pico de Velocidade de Crescimento, as meninas alcançaram este estado por volta dos 12,9 anos de idade, enquanto os meninos aos 14,6 anos. Na análise do desempenho motor, apenas 38,9% das meninas encontram-se na zona verde, apresentando 40,7% com indicativo de TDC, nos meninos, 50% estão na zona verde e apenas 18,8% apresentam indicativo de TDC. Na associação do desempenho motor entre a idade, a aptidão física, o estado nutricional e o estado maturacional, os resultados apontam significância apenas para a associação entre o desempenho motor e um item da aptidão física, a flexibilidade. Concluímos que o processo de aquisição das habilidades motoras emerge em função das influências ambientais e socioeconômicas, claro, sem esquecer, principalmente, da interação entre o genótipo e fenótipo sobre o desempenho motor. Hoje em dia observamos um declínio enorme de oferecimento de oportunidades motoras para crianças e adolescentes, gerando menores estímulos e com isso, poucas experiências motoras. PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento Motor, Adolescentes, Maturação. ABSTRACT This research was characterized as a quantitative cross-sectional descriptive. During the motor development process, a series of physical and mechanical changes occur, where the factors of physical growth, maturation, development of physical fitness,physical activity, age and experience are interrelated. The general objective of this study was to study the different effects of physical fitness, nutritional status and maturation status on the motor performance of adolescents aged 13 to 16 years in the city of Itaituba / Pará. Methodology developed was with the n = sample of 102 students of both genders aged between 13 and 16 years old from the city of Itaituba / PA. All those responsible signed the ICF and released by the doctor for the tests, the instruments used were MABC-2, 6/9 walk / run, TG Lohman protocol, Wells Bank, Medicineball Throw, Sargent Jump Test, Impulse Test Horizontal, Anthropometric Scale and PVC. The statistics used were descriptive and inferential through the SPSS program that evaluated the relationship and or association of the results. Results for the Nutritional State, in the general evaluation of the sample, 78.4% were classified within the normal range. When compared between genders, boys showed an index of 85.4% and girls 72.2% within normal limits. For the Physical Fitness variable, only the values of the Medicineball Throw, Horizontal Impulse and Flexibility tests showed above-average rates. When compared between genders, boys did not outperform girls in the abdominal, horizontal push and fat percentage test. In the analysis of the maturational state, performed through the Peak Growth Speed test, girls reached this state at around 12.9 years of age, while boys at 14.6 years. In the analysis of motor performance, only 38.9% of the girls are in the green zone, presenting 40.7% with indicative of BDD, in boys, 50% are in the green zone and only 18.8% have indicative of BDD. In the association of motor performance between age, physical fitness, nutritional status and maturation status, the results point to significance only for the association between motor performance and an item of physical fitness, flexibility. We conclude that the process of acquisition of motor skills emerges according to environmental and socioeconomic influences, of course, without forgetting, mainly, the interaction between genotype and phenotype on motor performance. Nowadays, we observe a huge decline in the provision of motor opportunities for children and adolescents, generating less stimulus and, therefore, few motor experiences. Keywords: Motor Development, Adolescents, Maturation. RESUMEN Esta investigación se caracterizó como un descriptivo transversal cuantitativo. Durante el proceso de desarrollo motor, se producen una serie de cambios físicos y mecánicos, donde los factores de crecimiento físico, maduración, desarrollo de la condición física, actividad física, edad y experiencia están interrelacionados. El objetivo general de este estudio fue estudiar los diferentes efectos de la condición física, el estado nutricional y el estado de maduración en el rendimiento motor de los adolescentes de 13 a 16 años en la ciudad de Itaituba / Pará. La metodología desarrollada fue con la muestra n = de 102 estudiantes de ambos sexos con edades comprendidas entre 13 y 16 años de la ciudad de Itaituba / PA. Todos los tutores firmaron el ICF y fueron liberados por el médico para las pruebas, los instrumentos utilizados fueron MABC-2, 6/9 caminar / correr, protocolo TG Lohman, Wells Bank, Medicinibol Pitch, Sargent Jump Test, Impulse Test Escala horizontal, antropométrica y PVC. Las estadísticas utilizadas fueron descriptivas e inferenciales a través del programa SPSS que evaluó la relación y / o asociación de los resultados. Resultados para el estado nutricional, en la evaluación general de la muestra, 78.4% fueron clasificados dentro del rango normal. Cuando se compara entre géneros, los niños tenían un índice de 85.4% y las niñas 72.2% dentro de los límites normales. Para la variable Aptitud Física, solo los valores de las pruebas de Lanzamiento de Medicinibol, Impulso Horizontal y Flexibilidad mostraron tasas superiores al promedio. En comparación entre los géneros, los niños no superaron a las niñas en la prueba abdominal, de empuje horizontal y porcentaje de grasa. En el análisis del estado de maduración, realizado a través de la prueba Peak Growth Speed, las niñas alcanzaron este estado alrededor de los 12.9 años, mientras que los niños a los 14.6 años. En el análisis del rendimiento motor, solo el 38.9% de las niñas están en la zona verde, presentando el 40.7% con indicativo de BDD, en los niños, el 50% están en la zona verde y solo el 18.8% tienen indicativo de BDD. En la asociación del rendimiento motor entre la edad, la condición física, el estado nutricional y el estado de maduración, los resultados apuntan a la importancia solo para la asociación entre el rendimiento motor y un elemento de condición física, flexibilidad. Concluimos que el proceso de adquisición de habilidades motoras surge como una función de las influencias ambientales y socioeconómicas, por supuesto, sin olvidar, principalmente, la interacción entre el genotipo y el fenotipo en el rendimiento motor. Hoy en día, observamos una gran disminución en la provisión de oportunidades motoras para niños y adolescentes, generando menos estímulos y, por lo tanto, pocas experiencias motoras. Palabras Clave: Desarrollo motor, Adolescentes, Maduración. LISTA DE QUADROS Quadro 01 – Plano Operacional de Variáveis ........................................................................ 39 Quadro 02 – Instrumentos........................................................................................................40 Quadro 03 – Características e Tarefas do Teste MABC-2 para a faixa etária 1....................43 Quadro 04 – Características e Tarefas do Teste MABC-2 para a faixa etária 2..................... 43 Quadro 05 – Características e Tarefas do Teste MABC-2 para a faixa etária 3 .................... 44 Quadro 06 – Diagnóstico nutricional por escore Z para IMC-para-idade.............................. 48 Quadro 07 – Classificação do PVC, proposto por Mirwald et al (2002)............................... 48 LISTA DE TABELAS TABELA 1 – Caracterização do estado nutricional dos adolescentes.................................... 51 TABELA 2 - Caracterização do estado nutricional dos adolescentes, de acordo com o gênero .......................................................................................................................... .52 TABELA 3 – Resultados da Aptidão Física .......................................................................... .55 TABELA 4 – Caracterização da Aptidão Física, de acordo com o gênero ............................ .56 TABELA 5 – Caracterização do estado maturacional dos adolescentes ................................. 61 TABELA 6 - Caracterização do estado maturacional dos adolescentes, de acordo com o gênero ...................................................................................................................................... .62 TABELA 7 – Resultados do Desempenho Motor....................................................................65 TABELA 8 – Resultados do Desempenho Motor, de acordo com o gênero...........................66 TABELA 9 – Associação entre o Desempenho Motor e a Aptidão Física, Estado Nutricional e Estado Maturacional dos adolescentes.................................................................................. 69 ABREVIATURAS E SÍMBOLOS AF: Atividade Física OMS: Organização Mundial de Saúde PA: Pará MABC-2: Movement Assessment Battery for Children – Second EditionPVC: Pico de Velocidade de Crescimento IMC: Índice de Massa Corporal PROESP-BR: Projeto Esporte Brasil SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................................... 15 CAPITULO 1................................................................................................................... 23 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR: NOÇÕES BÁSICAS............. 23 1.1 Crescimento.............................................................................................................. 23 1.2 Desenvolvimento Motor ........................................................................................... 25 1.2.1 Desempenho Motor................................................................................................ 26 CAPITULO 2................................................................................................................... 29 ADOLESCÊNCIA ......................................................................................................... 29 2.1 Maturação................................................................................................................... 30 CAPITULO 3................................................................................................................... 34 FATORES QUE AFETAM O DESENVOLVIMENTO MOTOR................................. 34 3.1 Fatores intrínsecos ao Indivíduo................................................................................ 34 3.2 Fatores do Ambiente.................................................................................................. 35 3.3 Fatores de Tarefa Física............................................................................................. 35 CAPITULO 4.................................................................................................................. 38 PERCURSSO METODOLOGIA.................................................................................... 38 4.1 Características do Estudo........................................................................................... 38 4.2 Desenho Experimental .............................................................................................. 38 4.3 Caracterização da Amostra....................................................................................... 39 4.4 Instrumentos............................................................................................................... 40 4.5 Procedimentos e Protocolos....................................................................................... 49 4.6 Tratamento Estatístico ............................................................................................... 50 CAPITULO 5.................................................................................................................... 51 ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................... 51 CAPITULO 6.................................................................................................................... 72 CONCLUSÃO................................................................................................................... 72 REFERÊNCIAS............................................................................................................... 74 ANEXOS ......................................................................................................................... 83 15 ~ 15 ~ INTRODUÇÃO Durante o processo de desenvolvimento motor ocorre uma série de mudanças físicas e mecânicas, onde os fatores do crescimento físico, da maturação, do desenvolvimento da aptidão física, da atividade física, da idade e da experiência estão inter-relacionados. As mudanças estão representadas pelas alterações das características somatomotoras do indivíduo que em diferentes aspectos relaciona-se com o desempenho da aptidão física (FERREIRA & BÖHME, 1998; GALLAHUE, 2000). O conjunto de características individualizadas que se relacionam a habilidade de desempenhar a atividade física possuindo elementos qualitativos, variações entre os indivíduos e variações entre as diferentes fases do ciclo da vida, tem sido definido como aptidão física. De modo que a aptidão física pode ser considerada como um produto resultante do processo do desenvolvimento motor e da atividade física. O vínculo entre atividade física e aptidão física está inserido nos termos de frequência, intensidade e tempo. A interação entre a atividade física, a genética e a nutrição sugerem o limite superior da aptidão física que pode ser esperado de um indivíduo (BÖHME, 2003). A aptidão física possui elementos relacionados à saúde e ao desempenho, sendo que a interação entre os componentes de aptidão relacionados á saúde e atividade física estão mais voltadas para as capacidades de resistência cardiorrespiratória, força, resistência muscular, flexibilidade e composição corporal. Concomitantemente a aptidão relacionada ao desempenho e a atividade física estão mais dirigidas às capacidades de velocidade, coordenação, força explosiva, equilíbrio e agilidade (BÖHME, 1993; MATSUDO et al, 1998; GALLAHUE, 2000; SOUZA & NETO, 2002). Uma das grandes questões analisadas quando se refere o desenvolvimento motor de crianças e adolescentes, é verificar quais são os fatores associados a um baixo nível de desempenho motor. (SLINING, ADAIR, GOLDMAN, BORJA & BENTLY, 2010; SIEGEL, STOLTZFUS, KATZ, KHATRY & LECLERQ, 2005; MONTEIRO, MOURÃO- CARVALHAL, PINTO & COELHO, 2010; VALDIVIA, CARTAGENA, SARRIA, TÁVARA, SEABRA, SILVA & MAIA, 2008). Deve-se levar em consideração que o sexo, o estado maturacional e as condições de saúde de adolescentes influenciam diretamente os componentes da aptidão física. E o estágio maturacional está diretamente ligado as mudanças na gordura corporal e no aprendizado de habilidades motoras. Tendo em vista a importância de uma estimulação, estilo de vida e alimentação adequada nos vários períodos de desenvolvimento, procuramos, por meio deste estudo, verificar os efeitos do impacto da aptidão física, do estado nutricional e maturacional sobre o 16 ~ 16 ~ desempenho motor de adolescentes no município de Itaituba/Pará/Brasil. Enquadramento Muitos são os fatores que podem levar uma criança a passar pelo seu processo de desenvolvimento motor sem os devidos estímulos necessários para alcançar suas habilidades e capacidades motoras. O advento do uso excessivo da tecnologia, o distanciamento de brincadeiras com a família, a violência que chega e afasta as crianças e adolescentes das ruas e dos parques, esses são alguns desses fatores. Isso pode levar essa população a crescer longe das atividades físicas, modificando e empobrecendo o seu estilo de vida. Procurando associar e recomendar uma forma eficaz de treinamento e desenvolvimento das qualidades físicas a ser utilizada em cada etapa de desenvolvimento da criança, visando a elevação da capacidade psicomotora da mesma ou seus limites máximos foram temas de alguns estudos (VILLAR & DENADAI, 2001; MALINA, BOUCHARD & BAR-OR, 2004; WEINECK, 2000; BOJIKIAN, MASSA, MARTIN, TEIXEIRA, KISS & BOHME, 2002). O desenvolvimento motor é dinâmico, tendo em vista que o mesmo muda em função das alterações maturacionais do sistema biológico e da interação do indivíduo com seu ambiente e com as características específicas de cada tarefa motora realizada (NEWEL, 1986; NAZARIO & VIEIRA, 2014). Os pesquisadores da área de Desenvolvimento Motor têm buscado identificar asmudanças motoras que ocorrem ao longo do tempo. Atualmente, o foco dessa área tem sido, principalmente, identificar os fatores que dão origem a essas mudanças durante a vida (GALLAHUE & OZMUN, 2013 O domínio de uma variedade ampla de habilidades motoras é um requisito para que as crianças possam envolver-se em atividades físicas, simples ou complexas. Além dos fatores intervenientes do desenvolvimento motor, existem situações em que a criança pode apresentar características de desvio da normalidade do comportamento motor (APA, 2013). Abrindo uma lacuna, com o desenvolvimento de pesquisas na área do desempenho motor, houve um interesse nos movimentos desajeitados em crianças, conhecida como uma desordem, e conceituada como Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC). O TDC é descrito como sendo um sério comprometimento no desenvolvimento da coordenação motora, que não é explicável unicamente em termos de retardo intelectual, global ou qualquer desordem neurológica congênita ou adquirida específica (a não ser aquela que possa estar implícita na anormalidade da coordenação). Crianças com TDC possuem dificuldades em realizar atividade de automanutenção, como se vestir, higiene pessoal e alimentação, quando comparadas a crianças de mesma faixa etária (SUMMERS, LARKIN & DEWEY, 2008). 17 ~ 17 ~ A adolescência é um período de transição, no qual se modifica física, mental e emocionalmente tornando-se adulta (BEE, 1997). Significa “crescer para a maturidade” e é considerado o processo psicológico, social e maturacional iniciado pelas mudanças púberes (LIMA et al, 2014). O crescimento somático e o desenvolvimento de habilidades psicomotoras se intensificam e os hormônios atuam intensamente levando a mudanças relevantes de forma e expressão, tais como as mudanças biológicas, psicossociais, cognitivas, morais e, até mesmo espirituais (HOCKENBERRY & WILSON, 2011; SILVA, 2011; BRASIL, 2008). Este período, de acordo com Gallahue e Ozmun (2005), compreende as idades entre 13 e 18 anos até cerca de 20 anos ou mais. Segundo a OMS, as delimitações para início e término são distintas de acordo com o sexo, sendo que para meninos compreende as idades entre 10 e 19, enquanto que para as meninas entre 10 e 22 anos (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2009). Gallahue e Ozmun (2005) comentam que há uma tendência para extensão deste período, influenciada por efeitos combinados de fatores culturais e biológicos. A maturação sexual é marcada por mudanças físicas e biológicas durante a puberdade (BORGES et al, 2004). A maturação está relacionada com o tempo biológico e a idade cronológica, mas não necessariamente estão em sincronia. Assim dentro de um grupo de indivíduos do mesmo sexo e da mesma idade cronológica, poderá haver variações na idade biológica ou no nível de maturação atingido (MALINA & BOUCHARD, 1991). Matsudo e Matsudo (1991) definiram a maturação biológica como sendo o processo que leva a um completo estado de desenvolvimento morfológico, fisiológico ou psicológico e que, necessariamente, tem influência genética e ambiental. Os estudos de Borges et al (2004) confirmaram que é possível encontrar diferenças na aptidão física de adolescentes com a mesma idade cronológica e na mesma fase da maturação biológica, no caso a puberdade, reforçando a idéia de que cada individuo tem seu tempo e ritmo biológico, sendo uns mais precoces e outros mais tardios. Os componentes da aptidão física são influenciados também pelo sexo, estado maturacional e condições de saúde de crianças e adolescentes. As fases do estágio maturacional apresentam diferenças na gordura corporal, e no aprendizado de habilidades motoras (HENNEBERG, BRUSH & HARRISON, 2001; NEU et al, 2002). Durante a adolescência, ocorre aumento de aproximadamente 50% do peso e de 15 a 25% da estatura final do indivíduo (ROGOL et al, 2002). As meninas iniciam o estirão em média aos 9,5 anos, um a dois anos antes que os meninos (SAITO, 2002). As mudanças na composição corporal incluem alterações nas proporções relativas de água, de massa magra, de massa de gordura e óssea, assim como características da maturação puberal, que resultam nas 18 ~ 18 ~ diferenças fenotípicas entre os sexos (BENEDET et al, 2013). A quantidade relativa de gordura no sexo feminino aumenta progressivamente durante a adolescência (CLEMENTE et al, 2011). O crescimento é rápido na infância e no início da pré-adolescência, aumentando agudamente durante o estirão do crescimento adolescente, diminuindo e, eventualmente, terminando conforme as dimensões adultas são atingidas (VIEIRA et al, 2011). Todas as modificações na composição corporal que ocorrem durante a adolescência associam-se ao estágio de maturação biológica (BAXTER-JONES et al, 2005). As mudanças no estado nutricional do adolescente podem variar entre indivíduos, conforme os processos genéticos, hormonais e ambientais (WHO, 2005; SIERVOGEL et al, 2003). Atraso ou precocidade no início do desenvolvimento pode resultar em alterações no crescimento, no desempenho motor e na composição corporal do adolescente (BARBOSA et al, 2006). O conceito de maturação estabelece a ligação entre “tempo biológico” e “tempo cronológico”, sendo que os dois não seguem coordenados entre si durante o processo de desenvolvimento do indivíduo (MALINA, 1989). Para a sua determinação podem ser utilizados indicadores de maturação esquelética, sexual ou somática (MACHADO & BARBANTI, 2007). Por consequência, as diferenças de performance motora nas comparações entre sujeitos de maturação adiantada com os normais ou atrasados, torna necessária a classificação maturacional no contexto esportivo ou nas pesquisas realizadas com crianças e adolescentes (MATSUDO & MATSUDO, 1995; MALINA et al, 2004; MALINA & BOUCHARD, 1991; MIRWALD et al, 2002; BERGMANN et al, 2007). Um dos métodos utilizados para mensurar a avaliação da maturação somática é o PVC (Pico de Velocidade de Crescimento), proposto por Mirwald et al (2005). No início da segunda infância que ocorre a estabilização no crescimento, um desenvolvimento mais intenso do sistema muscular e é o momento em que o nível de maturidade atinge o período ideal para o início de um trabalho baseado em atividades esportivas em geral que desenvolvem mais intensamente a técnica, pois a criança tem melhoras significativas na coordenação e no controle motor, alcançando grande ganho e aperfeiçoamento nos movimentos axiais, locomotores e manipulativos (JURAK et al, 2006). Intervenções de programas motores na infância demonstram que crianças que participam destes programas possuem maturação mais rápida e uma idade biológica mais avançada que as demais (JURAK, KOVAC & STREL, 2006). Timmons, Naylor & Pfeiffer (2007) sugerem que a atividade física escolar para crianças deve considerar suas atividades naturais e espontâneas, dar ênfase a exercícios que requeiram o uso da coordenação motora global e atividades locomotoras, ser facilitada pela participação 19 ~ 19 ~ adulta e feita, preferencialmente, em ambientes amplos e equipados. A inclusão tardia de práticas motoras adequadas no currículo educacional favorece a falta de habilidades esportivas ou motoras de crianças adolescentes (CERISARA, 2002). A avaliação do desempenho motor em crianças e adolescentes, mesmo como medida monocasional, fornece informações relevantes para o planejamento de programas de educação física e esportes, na formulação de estratégias de intervenção motora, na programação de rotinas de atividades e exercícios físicos, entre outros (GUEDES et al, 2008; KREBS & MACEDO, 2005). Igualmente ao desempenho motor, a aptidão física de crianças e adolescentes têm sidomonitoradas ao longo do último século (MATSUDO, 2005; GIAROLLA, JUNIOR & MATSUDO, 2008), pois se sabe que existe uma relação importante entre a melhora da aptidão física e a melhora nas capacidades funcionais motoras (força, velocidade, agilidade, flexibilidade e potência aeróbia) dos indivíduos, contribuindo, assim, na eficiência da realização de determinadas tarefas. Constata-se que jovens de mesma idade e sexo, apresentam diferenças significativas ao nível dos aspectos somáticos, de aptidão geral e específica, e respectivas habilidades (MATSUDO, 2005). Malina, Bouchard & Bar-On, 2004; Alonso, Silva Dantas & Fernandes Filho, 2005; Georgopoulos, Theodoropoulou, Leglise, Vagenakis & Markou, 2004; Gurd & Klentrou, 2003; Hansen & Klausen, 2004, procuraram associar e recomendar o treinamento e desenvolvimento das qualidades físicas a programas sistemáticos de acordo com os níveis de maturação biológica. Kim et al., (2005) afirmam que os resultados do teste da aptidão podem também ser influenciados pelo status de maturação e as normas são construídas pela idade cronológica sem consideração da maturação. Neste complexo processo do desenvolvimento biológico, não se pode ignorar que o organismo também pode sofrer influências diretas e indiretas, sendo que (MALINA, BOUCHARD & BAR-ON, 2004) mostra a existência de fatores influenciadores, como: genética, hábitos nutricionais, diferenças étnicas, efeitos sazonais e climáticos, agravos e doenças, urbanização, tamanho da agregação familiar, nível socioeconômico, tendência secular e prática de atividade física. Um crescimento eficaz depende da combinação de fatores genéticos e ambientais, dessa forma, o treinamento intensivo, o stress psicológico, o repouso inadequado são fatores que podem danificar o crescimento e o desenvolvimento de crianças (GEORGOPOULOS, THEODOROPOULOU, LEGLISE, VAGENAKIS & MARKOU, 2004; GEORGOPOULOS, 20 ~ 20 ~ MARKOU, THEODOROPOULOU, VAGENAKIS, BENARDOT & LEGLISE, 2001). Contar apenas com a informação proveniente da Idade Cronológica é sintetizar ao extremo a complexidade que envolve esse período do crescimento, desenvolvimento e maturação, e suas possíveis relações com o desempenho motor e aptidão física (BOJIKIAN et al, 2002; BOJIKIAN et al, 2009; RÉ et al, 2005). O sedentarismo aparece com destaque hoje em dia, entre crianças e adolescentes, e sua consequência mais evidente tem como resultado a obesidade, e que por atingir todos os níveis socioeconômicos, torna-se um problema de saúde pública. A pratica regular de atividade física, como parte de um estilo de vida saudável, aparece tendo um papel fundamental no controle e tratamento da obesidade (BLAAK et al, 1992). A complexidade dos fatores relacionados à obesidade tem exigido maior reflexão a respeito desse problema na infância, evidenciando que uma criança ao se tornar obesa no período da pré-puberdade, mantendo-se neste estado durante a adolescência, terá mais chance de se tornar um adulto obeso (JENOVESI et al, 2003). Estudos indicam que crianças malnutridas são menos ativas (JENOVESI et al, 2003). A prolongada redução da atividade física associada à baixa ingestão alimentar, pode limitar a interação social e o desenvolvimento de suas capacidades motoras e intelectuais, contribuindo assim, para o baixo desenvolvimento cognitivo e social da criança. Tanto as obesidades, como a desnutrição, estão diretamente ligadas ao estilo de vida adotado pela criança e pelo adolescente. Se esta adotar a prática regular de atividades físicas sistematizadas pode contribuir para melhoria de diversos componentes da aptidão física relacionada à saúde, como força, resistência muscular, flexibilidade, resistência cardiorrespiratória e composição corporal. Ao longo do processo de desenvolvimento, o indivíduo busca relacionar-se de forma eficiente com o ambiente, tornando-se mais competente. A qualidade dessas interações conduzirá a criança à conquista da autonomia e a autoconfiança em suas habilidades e, consequentemente, a perceber-se competente (WHITE, 1959; HARTER, 1978, 1985, 1992). A competência percebida, entendida como o julgamento expresso pelo indivíduo relativo a uma capacidade realizada (VALENTINI, 2002), pode ser expressa pela criança na infância em domínios específicos do comportamento humano (cognitivo, social ou motor); sendo, portanto, multidimensional. Entretanto, as mesmas podem mudar em decorrência das experiências dependendo de suas conquistas. Essa abordagem multidimensional permite verificar em qual domínio a criança investiu, ou está investindo, maior energia e esforço, para tornar-se competente. 21 ~ 21 ~ O processo de socialização da criança se diferencia considerando-se as características pertinentes as diferentes faixas etárias, ao gênero e a própria motivação intrínseca da criança ao realizar diferentes tarefas (ALMEIDA, VALENTINI & BERLEZE, 2009). Crianças e adolescentes que superestimam suas capacidades tendem a julgar todas as tarefas como fáceis. A criança que se percebe como desvalorizada devido a constantes fracassos utiliza a estratégia de afastar-se deliberadamente da atividade, protegendo sua habilidade (HARTER, 1978). Além disso, quando as crianças percebem que possuem dificuldades nas tarefas é possível que elas evitem essa experiência, perdendo oportunidades vitais de desenvolvimento de novas habilidades (PIEK, 2006). Apresentação do Problema O desempenho motor de crianças e adolescentes vem se constituindo numa preocupação permanente entre os especialistas da área da saúde. Esse interesse se justifica na medida em que a atividade física pode desempenhar importante papel na prevenção, conservação e melhoria da capacidade funcional, e por conseguinte na saúde dos jovens. A falta de atividade física regular está diretamente associada à ocorrência de uma série de distúrbios orgânicos, o que comumente têm-se denominado doenças hipocinéticas (GUEDES & BARBANTI, 1995). Haja visto que muitos estudos, têm procurado perceber se é a obesidade que provoca problemas no desenvolvimento motor, ou se são problemas no desenvolvimento motor que estão associados à obesidade (COELHO & MOURÃO-CARVALHAL,2011). Assim, inúmeras investigações têm sido conduzidas, principalmente, em crianças e adolescentes, na tentativa de analisar o comportamento de indicadores de aptidão física relacionada à saúde, por meio de indicadores de adiposidade corporal e desempenho motor (LOPES & PIRES NETO, 2002). Considerando o exposto acima, chegou-se à seguinte questão problema: Qual a influência da aptidão física, estado nutricional e estado maturacional sobre o desempenho motor em adolescentes? Objetivos do Trabalho Objetivo Geral: Analisar os diferentes efeitos da aptidão física, estado nutricional e estado maturacional sobre o desempenho motor de adolescentes de 13 a 16 anos no município de Itaituba/Pará. Objetivos específicos: Caracterizar o desempenho motor de adolescentes entre os gêneros pesquisados. Identificar a aptidão física de adolescentes entre os gêneros pesquisados. Caracterizar o estado nutricional de adolescentes entre os gêneros pesquisados. 22 ~ 22 ~ Verificar o estado maturacional dos adolescentes entre os gêneros pesquisados. Avaliar a associação entre o desempenho motor e as variáveis: a aptidão física, estado nutricional, estilo de vida, estado maturacional de adolescentes. Comparar o desempenho motor, aptidão física, estado nutricional e estado maturacional entre os gêneros. Hipóteses Levantadas Hipótese Substantiva (Hs): O estudo antecipa queas variáveis estudadas (aptidão física, estado nutricional e estado maturacional) exercem influência no nível do desempenho motor de adolescentes. Hipótese nula (Ho): As variáveis estudadas (aptidão física, estado nutricional e estado maturacional) não influenciarão no nível do desempenho motor de adolescentes. Hipótese Derivada (Ho₁): Não ocorrerá relação significativa, para p< 0,05, entre aptidão física e o desempenho motor de adolescentes. Hipótese Derivada (Ho₂): Não ocorrerá relação significativa, para p< 0,05, entre estado nutricional e o desempenho motor de adolescentes. Hipótese Derivada (Ho3): Não ocorrerá relação significativa, para p< 0,05, entre estado maturacional e o desempenho motor de adolescentes. 23 ~ 23 ~ CAPITULO 1 A revisão bibliográfica apresentada nesse capítulo ilustra a base teórica que norteou todo esse estudo. Da mesma forma, procurou-se apresentar subsídios teóricos suficientes e relevantes, através dos conteúdos abordados, para o entendimento geral de todos os objetivos desta pesquisa. Inicialmente são abordados temas relacionados ao crescimento, desenvolvimento humano e motor. A importância em apresentar um conteúdo específico sobre Adolescência deve-se ao fato de este ser, o público-alvo deste estudo. E finalizamos, com os principais fatores que podem influenciar no desenvolvimento motor. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR 1.1. Crescimento Segundo Gallahue & Ozmun (2005), o termo crescimento é frequentemente usado para referir-se à totalidade da alteração física e, como resultado, ele se torna mais abrangente e assume o mesmo significado de desenvolvimento. Porém, os mesmos autores, conceituam o crescimento físico como o aumento no tamanho do corpo de um indivíduo na maturação, que em outras palavras, significa dizer que o crescimento físico é um aumento da estrutura do corpo causado pela multiplicação ou pelo aumento de células. Crescimento significa aumento em tamanho, onde nos primeiros anos de vida, ele é bastante rápido e acelera durante a puberdade. O crescimento começa a se estabilizar após a puberdade e permanece razoavelmente constante ao longo da idade adulta (RHEA, 2009). Para Malina e Bouchard (2002), o crescimento é resultado de um complexo mecanismo celular que envolve basicamente três fenômenos diferentes, a hiperplasia (aumento do número de células a partir da divisão celular), hipertrofia (aumento do tamanho das células a partir de suas elevações funcionais, particularmente com relação às proteínas e seus substratos) e agregação (aumento da capacidade das substâncias intercelulares de agrupar as células). Malina (1975) enfatiza o crescimento e desenvolvimento como uma atividade dominante do organismo humano nas duas primeiras décadas de vida. Define o crescimento como um processo geométrico de multiplicação própria de substâncias da vida, envolvendo hipertrofia, hiperplasia e acréscimo de materiais intercelulares e o desenvolvimento como sendo uma implicação da especialização e diferenciação das células dentro de suas unidades funcionais. Este conceito assemelha-se muito com o da área da Biologia Celular, onde o crescimento é conceituado como aumento em duas partes, ou seja, no tamanho das células (hipertrofia) ou aumento em seu número (hiperplasia), e é um componente de um processo ontogênico de toda 24 ~ 24 ~ a vida do organismo, (GOSS (1964) apud JOHNSTON,1986). E na área da Biologia Humana, o crescimento é definido como um aumento no tamanho. Entretanto, esse aumento refere-se ao corpo como um todo; torna-se, então imprescindível o aprofundamento do entendimento desses aumentos, sobretudo o ósseo, que é causado pela combinação de três fatores: o primeiro é sobre a hiperplasia ou o aumento no número das células; o segundo é referente à hipertrofia que implica um aumento nas estruturas funcionais das células; e o terceiro é a respeito da estocagem de materiais orgânicos e não-orgânicos dentro ou entre as células ósseas (ROCHE, 1986). Vistos o crescimento e desenvolvimento como um processo, implica entender que, nesta situação, ocorre um dinamismo celular, onde a predominância de uma situação de equilíbrio está instalada. Este equilíbrio é basicamente entre as situações de construção e destruição de células. O dinamismo dualístico de construir e destruir células é a função maior e, por conseguinte, torna relativada suas representatividades na hipertrofia e ou hiperplasia celulares (ARRUDA, 1997). Para Marcondes (1978), em uma visão mais ampla, afirma que o crescimento e a vida são funções correlatas e, como não existe uma definição única para a vida, o crescimento segue com a mesma indefinição central e aceitável. Em uma citação De Toni (1965), em sus estudos onde apresenta diferentes definições para o crescimento, e aborda questões de aumentos e transformações celulares, fenômenos físicos e químicos, desde a fecundação até a idade adulta, chegando a mencionar os ciclos de crescimento. Finalmente conclui com uma conceituação globalística, onde centraliza o crescimento como fruto da somatória de fenômenos celulares, bioquímicos, biofísicos e morfogênicos, todos seguindo um plano genético, determinado pela herança. O crescimento é um conjunto de fenômenos celulares, bioquímicos, biofísicos, morfogênicos, integralizados e estruturalmente modificados pelo ambiente, pois, as determinantes do crescimento e desenvolvimento, agrupadas em questões biológicas e ambientais, são tratadas com simbolismos próprios ou então estudadas unilateralmente. À medida que a criança cresce, aumenta em progressão geométrica sua inter-relação com o ambiente que, assim, preenche o "espaço da criança" (MARCONDES, 1994). O crescimento físico é um fenômeno complexo e dependente de vários fatores pessoais e ambientais, como a herança genética, a condição nutricional, o nível socioeconômico, a ocorrência de doenças na infância e na adolescência, a atividade física, a região geográfica e as condições climáticas (NAHAS et al, 1992; GALLAHUE & OZMUN, 2005). 25 ~ 25 ~ 1.2. Desenvolvimento Motor É importante, iniciarmos pelo conceito de desenvolvimento humano e ressaltarmos que durante as últimas décadas, muitos estudiosos deixaram contribuições valiosas para os estudos nesta área, desenvolvendo inúmeros modelos, cada um refletindo seu conhecimento, seus interesses e suas tendências, como a Teoria Psicanalítica de Sigmund Freud (1927), a Teoria Psicossocial de Erick Erickson (1963, 1980), a Teoria Maturacional de Arnold Gesell (1928, 1954), a Teoria de Desenvolvimento Cognitivo de Jean Piaget (1969) e a Teoria Ecológica de Bronfen brenner (1979). Desenvolvimento refere-se a alterações no nível de funcionamento de um indivíduo ao longo do tempo (GALLAHUE & OZMUN, 2005). O desenvolvimento como “alteração adaptativa em direção à habilidade”, implica que, no decorrer da vida, é necessário ajustar, compensar ou mudar, a fim de obter ou manter a habilidade, sendo assim, é um processo permanente de alteração (KEOGH & SUGDEN, 1985). Conforme Bijou & Baer (1976) o desenvolvimento humano é um processo contínuo de aprendizagem, resultado de interações recíprocas entre o ambiente e o indivíduo que se modificam, implicando reorganizações constantes deste sistema indivíduo-ambiente. O estudo do desenvolvimento refere-se ao que ocorre, e como ocorre, no organismo humano em sua jornada desde a concepção até a maturidade e, depois, a morte, é um processo contínuo, incluindo todas as dimensões inter-relacionadas de nossa existência (GALLAHUE &OZMUN, 2005). Nessa perspectiva, as interações indivíduo-ambiente incluem fatores biológicos, genéticos, sociais e culturais que agem simultaneamente sobre o desenvolvimento. Todavia, ainda que se identifique a presença de algum fator de risco, a continuidade dos seus efeitos no processo de desenvolvimento não é linear, considerando que este é resultado da interação do indivíduo com o ambiente e comportamentos podem emergir, modificar e, até mesmo, desaparecer (WEBER, 2008). O desenvolvimento motor é uma alteração contínua no comportamento motor (alterações no aprendizado e no desenvolvimento, incluindo os processos maturacionais vinculados ao desempenho motor) ao longo do ciclo da vida. Porém, pode ser estudado como um processo ou um produto, como um processo, o desenvolvimento motor envolve as necessidades biológicas subjacentes, ambientais e ocupacionais, que influenciam o desempenho motor e as habilidades motoras dos indivíduos desde o período neonatal até a velhice. Como um produto, o desenvolvimento motor pode ser considerado como descritivo ou normativo, sendo analisado por fases (período neonatal, infância, adolescência, e idade adulta) que 26 ~ 26 ~ refletem o particular interesse do pesquisado (GALLAHUE & OZMUN, 2005). É na infância, particularmente, no início do processo de escolarização, que ocorre um amplo incremento das habilidades motoras, que possibilita à criança um amplo domínio do seu corpo em diferentes atividades, como: saltar, correr, rastejar, chutar uma bola, arremessar um arco, equilibrar-se num pé só, escrever, entre outras (SANTOS et al, 2004). É importante salientar, que o desenvolvimento motor é muito específico, ele deve nos lembrar sempre da individualidade de aprendizagem do indivíduo em questão. Para a aquisição e para o desenvolvimento de habilidades motoras cada pessoa tem o seu próprio tempo. Portanto, apesar de o desenvolvimento estar relacionado à idade, ele não depende dela. O processo implícito comum de controle em movimento conceitua a habilidade motora, que nada mais é, que um padrão de movimento fundamental realizado com maior precisão, exatidão e controle. Essa precisão é enfatizada e o movimento extrínseco é limitado; em um padrão de movimento fundamental, o movimento é enfatizado, mas a precisão é limitada e não é necessariamente vista como o objetivo (GALLAHUE & OZMUN, 2005). O desenvolvimento motor na infância caracteriza-se pela aquisição de um amplo espectro de habilidades motoras, que possibilita a criança um amplo domínio do seu corpo em diferentes posturas (estéticas e dinâmicas), locomover-se pelo meio ambiente de variadas formas (andar, correr, saltar, etc.) e manipular objetos e instrumentos diversos (receber uma bola, arremessar uma pedra, chutar, escrever, etc.). Essas habilidades básicas são requeridas para a condução de rotinas diárias em casa e na escola, como também servem a propósitos lúdicos, tão característicos na infância. A cultura requer das crianças, já nos primeiros anos de vida e particularmente no início de seu processo de escolarização, o domínio de várias habilidades (SANTOS et al, 2004). Para Tani et al (1988), não raro, essas habilidades denominadas básicas são vistas como o alicerce para a aquisição de habilidades motoras especializadas na dimensão artística, esportiva, ocupacional ou industrial. Essa relação de interdependência entre as fases de habilidades básicas e de habilidades especializadas denota a importância das aquisições motoras iniciais da criança, que atende não só as necessidades imediatas na 1ª e 2ª infância, como traz profundas implicações para o sucesso com que habilidades específicas são adquiridas posteriormente. 1.2.1. Desempenho Motor Okano (2001) descreve uma boa performance motora como sendo um atributo fundamental no repertório de conduta motora de crianças e adolescentes, tornando-se assim essencial para a efetiva participação em programas de atividade física. É notório que nas últimas décadas, tem crescido consideravelmente o número de estudos que buscam obter 27 ~ 27 ~ informações relativas aos índices de desempenho motor de crianças e adolescentes (GUEDES & GUEDES, 1997; MIRANDA et al, 2011; RAMALHO et al, 2013; BELTRAME et al, 2007; KREBS et al, 2011). Muitos desses estudiosos, obtiveram como respostas de suas pesquisas, que as crianças e adolescentes brasileiros apresentam desempenho motor abaixo do esperado ou estão com dificuldades significativas de movimento. Qualquer dificuldade apresentada acerca de movimento, em crianças ou adolescentes, independente do contexto a qual estão inseridas, pode causar impacto negativo em vários domínios do desenvolvimento (cognitivo, afetivo e social) destes indivíduos (MISSIUNA, 2003; DSM-IV-TRTM, 2006; SILVA et al, 2006 apud NOBRE et al, S/D), e as consequências incluem prejuízos na autoconfiança, autoestima e convívio social da criança, que se julga incapaz de realizar qualquer ação motora, afastando-as do convívio de brincadeiras e prática de atividades físicas (NOBRE et al, S/D). Em sua vida diária, as crianças confrontam situações que demandam o desempenho ótimo de habilidades motoras. Ao ingressar no ambiente escolar, devem possuir um repertório de habilidades motoras capaz de ajudá-las a lidar com as crescentes exigências desse ambiente, porém, vale ressaltar, que algumas crianças, ao atingirem a idade escolar, não possuem o esperado domínio de suas habilidades motoras básicas e passam a ter um desempenho aquém do esperado (FERREIRA et al, 2006). As habilidades motoras fundamentais são consideradas os blocos críticos na construção de habilidades mais avançadas (SILVA et al, 2007). Valentin (2015) salienta a importância que sua prática deva ser oportunizada desde a primeira infância. Pouca atenção é dada aos movimentos do cotidiano, porém eles são imprescindíveis para uma ação eficiente no ambiente, levando em consideração, que o cotidiano humano, demanda muitas ações motoras e, sob a perspectiva de uma criança, de uma crescente complexidade. O cotidiano escolar demanda praticamente todo o espectro de habilidades motoras, com a vantagem de abrigar um observador privilegiado, o professor (SILVA et al, 2007). A idade escolar é o melhor período para o desenvolvimento motor e para a adoção de um estilo de vida ativo, que pode ser mantido na vida adulta (BRACCO, 2001). Os fatores determinantes do desempenho motor em escolares como biológicos (genética, sexo), psicológicos (familiares), socioculturais (nível socioeconômico) e ambientais (moradia e escola) são sumarizados por Sallis et al (1992). Para Hollmann & Hettingenr (1983), o termo desempenho motor, é o estado de disponibilidade de desempenho tanto na área psíquica como física, seja para atividades ativas como para as consideradas passivas. Contudo, Barbanti (1991) observou que o termo desempenho motor torna-se mais abrangente dependendo dos valores ou situações com as quais são mensuradas, sejam nos aspectos de rendimento, saúde, lazer, etc. Barbanti (1991) vai além, 28 ~ 28 ~ e explana sobre o desempenho motor relacionado à saúde, onde envolve componentes diretamente ligados ao estado de saúde geral do indivíduo e são influenciados por atividades motoras, as quais podem ser determinadas por atividades como a resistência muscular, resistência aeróbia, flexibilidade, coordenação e força muscular. Esses componentes de aptidão também contribuem para a performance e capacidade nos esportes e para tarefas ocupacionais (SALLIS & PATRICK, 1994). Vale ressaltar, que Matsudo (1992) afirma que o desempenho motor é a capacidade de realizar trabalho físico diário sem prejudicar sua saúde biológica, psicológica e social. Segundo Malina & Bouchard (1991),em razão de outros fatores além dos aspectos morfológicos, também interferirem no comportamento motor, como a familiarização com as tarefas motoras solicitadas nos testes, a habilidade da execução dos movimentos, a motivação e as considerações relacionadas com o meio ambiente, as informações relativas ao crescimento e a composição corporal deverão responder apenas por uma porção da variação do desempenho motor. Para Rowlands et al (2002) a atividade física reduzida e/ou aumento do comportamento sedentário seriam a explicação de uma redução do total de energia despendido, os quais podem estar associados com o aumento da gordura corporal e um baixo nível do desempenho motor. 29 ~ 29 ~ CAPITULO 2 ADOLESCÊNCIA Para a Organização Mundial de Saúde (1995), adolescência é a fase do desenvolvimento compreendida entre os 10 e os 19 anos, critério adotado, no Brasil, pelo Ministério da Saúde e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2004). A Organização das Nações Unidas (ONU) adota os limites cronológicos da adolescência entre 15 e 24 anos, critério este usado principalmente para fins estatísticos e políticos. No Brasil, a Lei 8.069, de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), considera criança a pessoa até 12 anos de idade incompletos e define a adolescência como a faixa etária de 12 a 18 anos de idade (artigo 2º), e, em casos excepcionais e quando disposto na lei, o estatuto é aplicável até aos 21 anos de idade (artigos 121 e 142). Sabe-se, no entanto, que essa fase é marcada por outras questões que vão além das mudanças biológicas ou de uma simples faixa etária, perpassada pela situação de gênero, classe social e contextos socioculturais, segundo Matheus (2003). Eisenstein (2005) conceitua a adolescência como sendo o período de transição entre a infância e a vida adulta, caracterizado pelos impulsos do desenvolvimento físico, mental, emocional, sexual e social e pelos esforços do indivíduo em alcançar os objetivos relacionados às expectativas culturais da sociedade em que vive. Para Tanner (1962) adolescência se inicia com as mudanças corporais da puberdade e termina quando o indivíduo consolida seu crescimento e sua personalidade, obtendo progressivamente sua independência econômica, além da integração em seu grupo social. G. Stanley Hall (1904) publica dois grossos volumes sobre a adolescência, onde existe uma tendência a considerar essa época da vida como um período de “tormenta e drama”, de acordo com a contrassenha do movimento romântico da literatura alemã do século XVIII. Portanto, de acordo com esse ponto de vista, a adolescência seja uma época de turbulências, de mudanças dramáticas, de abundantes tensões e sofrimentos psicológicos. Erickson (1968) chamou de uma “moratória social”, um compasso de espera que a sociedade oferece a seus membros jovens, enquanto se preparam para exercer os papéis adultos. A adolescência apresenta tarefas particulares, por ser encarada como uma fase do ciclo de vida familiar, envolvendo todos os membros da família (PRATTA & SANTOS, 2007). Pode-se dizer, então que este período se constitui como uma fase de transição do indivíduo, da infância para a idade adulta, evoluindo de um estado de intensa dependência para uma condição de autonomia pessoal (SILVA & MATTOS, 2004) e de uma condição de necessidade de controle externo para o autocontrole (BIASOLI-ALVES, 2001), sendo marcado por mudanças evolutivas rápidas e intensas nos sistemas biológicos, psicológicos e sociais (MATURANO, 30 ~ 30 ~ ELIAS & CAMPOS, 2004). Kalina (1999) afirma que a adolescência corresponde a um fenômeno biopsicossocial, cujo elemento psicológico do processo é constantemente determinado, modificado e influenciado pela sociedade. Essa fase do desenvolvimento humano tem início a partir das mudanças físicas que ocorrem com os indivíduos a partir da puberdade. Portanto, é muito relevante pontuar que puberdade e adolescência, apesar de estarem diretamente relacionadas, correspondem a dois fenômenos específicos, ou seja, enquanto a puberdade envolve transformações biológicas inevitáveis, a adolescência refere-se aos componentes psicológicos e sociais que estão diretamente relacionados aos processos de mudança física gerados neste período (OSÓRIO, 1996). Por isso, que para Pratta & Santos (2007), a adolescência começa na biologia e termina na cultura no momento em que menino e menina atingiram razoável grau de independência psicológica em relação aos pais. Na adolescência, ocorrem alterações biológicas associadas ao pico de produção dos hormônios testosterona no gênero masculino e estradiol no feminino, com grande variabilidade em relação à idade cronológica, o que acarreta na necessidade de ajustar os estímulos motores em função do estágio de maturação biológica e das experiências anteriores (RÉ, 2011). 2.1. Maturação A maturação refere-se a alterações qualitativas que capacitam o indivíduo a progredir para níveis mais altos de funcionamento, e quando considerada na perspectiva biológica, é basicamente inata, ou seja, ela é geneticamente determinada e resistente a influências externas e ambientais (GALLAHUE & OZMUN, 2005). A maturação é caracterizada por uma ordem fixa de progressão, na qual o ritmo pode variar, mas a sequência do surgimento das características geralmente não varia (GALLAHUE & OZMUN, 2005). Maturação é o termo utilizado para descrever mudanças biológicas, acontecidas de forma ordenada, com o objetivo de atingir o estado adulto, sem a influência direta de estímulos externos, mas que pelo menos em partes, são resultados da interação do organismo e seu meio (GUEDES & GUEDES, 2007). Pode também ser definida como um fenômeno biológico qualitativo, relacionando-se com o amadurecimento das funções de diferentes órgãos e sistemas (MALINA, BOUCHARD & BAR-OR, 2009; MASSA & RÉ, 2010; PAPALIA & OLDS, 2000). Ou simplesmente o processo que leva a um completo estado de desenvolvimento morfológico, fisiológico e psicológico e que, necessariamente, tem controle genético e ambiental (MATSUDO & MATSUDO, 1991). Malina (1989) caracteriza o conceito de maturação estabelece a ligação entre “tempo biológico” e “tempo cronológico”, sendo que os dois não seguem coordenados entre si, 31 ~ 31 ~ durante o processo de desenvolvimento de um indivíduo. Todas as medidas de maturação são variáveis, elas estão relacionadas à idade cronológica, mas não são dependentes dela (GALLAHUE & OZMUN, 2005). Portanto, podemos concluir que, embora a idade cronológica seja o método mais comumente utilizado como meio de classificação etária, ela é, frequentemente, a menos válida. A idade cronológica é a idade determinada pela diferença entre um dado dia e o dia do nascimento do indivíduo. Enquanto, a idade biológica, corresponde à idade determinada pelo nível de maturação dos diversos órgãos que compõem o homem. A partir desse pressuposto, observa-se que surgem muitas diferenças individuais (MALINA et al., 2004), e de acordo com Tanner et. al.(1983), a análise da maturação é diferente de uma medida variável, como a estatura. A maturação biológica se refere à progressão em direção ao estado de maturidade e pode ser analisada por dois componentes: timing e tempo. Timing é considerado o momento em que ocorre um dado evento maturacional. Por exemplo, a idade da menarca, o período de estirão do crescimento, o aparecimento das características sexuais secundárias, entre outros. Ao identificar o timing da maturação biológica de um indivíduo, é possível classificá-lo em maturado precoce, no tempo ou tardio. Tempo é o ritmo com que esse evento se manifesta, ou seja, o quão lentas ou rápidas essas alteraçõesse manifestam (MALINA, BOUCHARD & BAR-OR, 2009; SMART et al, 2012). Os processos de crescimento, desenvolvimento e maturação são confundidos, ou entendidos como uma coisa só, porém cada um desses processos indica uma atividade biológica específica em cada momento da evolução física (MALINA et. al., 2004). A maturação biológica, atinge um alto nível de mudanças, durante as ações da puberdade (MARSHALL et al, 1978). Vale ressaltar, que a puberdade não deve ser confundida com adolescência. Pois, o início da adolescência pode coincidir com a puberdade, mas pode também atrasar-se ou adiantar-se em relação a ela no seu desenrolar, já que independe da capacidade reprodutora, sendo uma fase de transição entre infância e maturidade (FARINATTI, 1995). De modo geral, a puberdade tem uma duração de dois anos, ao passo que o tempo de adolescência seria difícil de definir (FARINATTI, 1995). A maturação biológica alcança níveis intensos de modificação durante a puberdade, definida por Marshall (1978) como todas aquelas mudanças morfológicas e fisiológicas que acontecem durante o crescimento devido à transformação das gônadas de um estado infantil a um adulto. A puberdade manifesta-se, basicamente, por um surto no crescimento, desenvolvimento das gônadas dos órgãos e características sexuais secundárias, mudanças na composição corporal e o desenvolvimento do sistema cardiorrespiratório (TOURINHO FILHO 32 ~ 32 ~ & TOURINHO, 1998). Puberdade é o fenômeno biológico que se refere às mudanças morfológicas e fisiológicas (forma, tamanho e função) resultantes da reativação dos mecanismos neuro- hormonais do eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal-gonadal (EISENSTEIN, 2005). Estas mudanças corporais conhecidas como os fenômenos da pubarca ou adrenarca e gonadarca são parte de um processo contínuo e dinâmico que se inicia durante a vida fetal e termina com o completo crescimento e fusão total das epífises ósseas, com o desenvolvimento das características sexuais secundárias, com a completa maturação da mulher e do homem e de sua capacidade de fecundação, através de ovulação e espermatogênese, respectivamente, garantindo a perpetuação da espécie humana (TANNER, 1962). Eisenstein (2005) ressalta a importância de observar que ocorre uma enorme variabilidade no tempo de início, duração e progressão do desenvolvimento puberal, com marcantes diferenças entre os sexos e entre os diversos grupos étnicos e sociais de uma população, inclusive de acordo com estado nutricional e fatores familiares, ambientais e contextuais. A menarca caracteriza a primeira menstruação da adolescente, e ocorre em média aos 12,8 anos de idade, com a diferença significativa de 12,18 anos para as áreas urbanas e 12,89 anos para as áreas rurais do país (BRASIL, 1992). Beunen & Malina (2007) afirmam que o padrão de crescimento de estatura e massa corporal são bem parecidos, ou seja, no processo da infância e início da adolescência o processo é rápido, estabilizando durante a adolescência, tendo um pico durante o pico de velocidade de crescimento ou surto de crescimento e diminuindo a medida que a estatura adulta seja atingida. O PVC é quando o adolescente atinge a máxima taxa de crescimento, durante o surto de crescimento da adolescência, mais comumente conhecido como a fase do “estirão” de crescimento (BLASQUEZ, 2010). A puberdade inicia-se um ano antes nas meninas, porém seu PVC ocorre dois anos antes, em comparação aos meninos (WHO, 2005). O estirão puberal dura cerca de 3 a 4 anos e representa ganho de aproximadamente 20% da estatura e 50% do peso adulto do indivíduo (CHIPKEVITCH, 1995). As mudanças na composição corporal incluem alterações nas proporções relativas de água, de massa magra, de massa de gordura e óssea, assim como características da maturação puberal, que resultam nas diferenças fenotípicas entre os sexos (BENEDET et al, 2013). A quantidade relativa de gordura no sexo feminino aumenta progressivamente durante a adolescência (CLEMENTE et al, 2011). Segundo Eliakim e Beyth (2003) um quarto do osso adulto é acumulado durante os dois anos de pico de velocidade de crescimento. Esse processo é influenciado por fatores endógenos 33 ~ 33 ~ e exógenos. Dentre os fatores endógenos destacam-se: genética, raça, aumento dos hormônios anabólicos associados à puberdade (hormônio do crescimento [GH], fator de crescimento insuliniforme tipo 1 [IGF–1], esteróides sexuais) e marcadores de remodelação óssea (STAFFORD, 2005; ELIAKIM & BEYTH, 2003; LIMA et al, 2001). Borba et al (2003) relata sobre receptores de leptina têm sido encontrados no tecido ósseo, sugerindo que este hormônio esteja envolvido na regulação esquelética. Em relação aos fatores exógenos (ambientais), destacam-se o exercício e a nutrição, com adequado aporte de cálcio na dieta (LIMA et al, 2001; MUÑOZ et al, 2004; PETTERSSON et al, 2000). A maturação somática é utilizada para avaliar o desenvolvimento biológico, utilizando- se, para isso, a análise do PVC em estatura (CHAVES et al, 2012; BAXTER-JONES et al, 2005), que pode ser obtido pela fórmula de Mirwald et al (2002), a qual conta com medidas antropométricas de peso, estatura e altura tronco-cefálica. O PVC vem sendo constantemente utilizado pela sua praticidade e característica não-invasiva, principalmente por ter procedimentos de fácil aplicabilidade, com boa aceitação na comunidade científica (MORTATTI, 2013). O manual de aplicação de análise do estágio maturacional de Mirwald et. al. (2002), foi realizado um estudo do Pico de Velocidade de Crescimento como alternativa para classificação maturacional associada ao desempenho motor, juntamente com outras formas de análises, revelando ser uma técnica interessante a ser utilizada para análise do estágio maturacional, que requer uma única avaliação de poucas variáveis antropométricas, sendo capaz de predizer em meses, a distância que o sujeito se encontra da sua idade naquele instante (SARRO et al, 2012). Machado et al (2009) explica que a idade é um indicador comumente usado em estudos longitudinais, considerando a maturação somática do adolescente. 34 ~ 34 ~ CAPITULO 3 FATORES QUE AFETAM O DESENVOLVIMENTO MOTOR Tanto o processo como o produto do desenvolvimento motor são influenciados por grande variedade de fatores operando isoladamente e em conjunto, e estes, foram organizados por Gallahue & Ozmun (2005) em três grupos: os fatores intrínsecos ao indivíduo; fatores do ambiente e fatores de Tarefa Física. 3.1. Fatores Intrínsecos ao Indivíduo A herança genética peculiar que é responsável pela individualidade também pode ser responsável pela similaridade de muitas maneiras. O princípio de direção desenvolvimentista descrito por Gesel (1954), foi formulado como um meio de explicar a coordenação e o controle motores crescentes em função do sistema nervoso em maturação. Este princípio possui dois aspectos: o primeiro é o céfalo- caudal, que se refere especificamente à progressão gradual do controle crescente sobre a musculatura, movendo-se da cabeça em direção aos pés; o segundo é o próximo-distal, que se refere especificamente à progressão da criança no controle da musculatura a partir do centro do corpo até suas partes mais distantes. Como acontece com o desenvolvimento céfalo-caudal, o conceito próximo-distal aplica-se tanto aos processos de crescimento quanto à aquisição de habilidades motoras. O índice de crescimento de um indivíduo segue um padrão característico que é universal para todos e resistente à influência externa. Por exemplo, um bebê que nasce com baixo peso, ele acaba alcançando os índices de crescimento característicos de seus colegas da mesma idade em alguns anos.O processo de crescimento auto regulador, estudado por Gesell (1954), compensa os mínimos desvios no padrão de crescimento, não sendo capaz de compensar desvios maiores, principalmente no período neonatal e na infância (GALLAHUE & OZMUN, 2005). É típico do comportamento motor em desenvolvimento, que ocorra a maturação neuromotora, evidenciada por meio de dois processos diferentes, porém relacionados: diferenciação e integração. Enquanto a diferenciação está associada à progressão gradual dos padrões motores globulares rudimentares (globais) dos bebês para os movimentos mais refinados e funcionais de crianças e adolescentes. A integração refere-se a fazer com que vários grupos musculares opostos e sistemas sensoriais trabalhem em integração coordenada uns com os outros. Este processo todo é denominado entrelaçamento recíproco (GESELL, 1954). 35 ~ 35 ~ A prontidão pode ser definida como a convergência de condições intrínsecas à tarefa, natureza do indivíduo e condições ambientais que tornam o domínio de uma tarefa particular apropriado. O desenvolvimento normal em períodos posteriores pode ser prejudicial se a criança não receber o estímulo adequado no período correto. Má alimentação, estresse, falta de cuidados ou a falta de experiências de aprendizados adequados, podem ter um impacto negativo no desenvolvimento se ocorrerem precocemente do que em idade posterior. Por isso, períodos críticos e suscetíveis de aprendizado está intimamente ligado à aptidão e gira me torno da observação de que um indivíduo é mais suscetível a certos tipos de estímulo em certas épocas. A individualidade biológica, ligada diretamente a herança genética, e as influências ambientais combinadas, formam a escala de tempo para o desenvolvimento. Cada pessoa possui sua própria escala de tempo, exibindo suas diferenças individuais. Vários tipos de padrões motores podem ter sua base na filogenia (biologia), mas as condições ontogenéticas (ambientais) moldam a proporção e a extensão para as quais os padrões são adquiridos. As habilidades filogenéticas são resistentes às influências ambientais externas. Já as habilidades ontogenéticas, dependem basicamente do aprendizado e das oportunidades ambientais. 3.2. Fatores do Ambiente O vínculo, em essência, é a ligação emocional forte que perdura ao longo do tempo, distância, privações e vontade, entre pais e bebê, desempenhando um papel indeterminado no processo de desenvolvimento. Esse vínculo emocional começa a se desenvolver no nascimento e pode ser estabelecido de modo incompleto, com uma separação precoce. Estímulo e privação de experiências são dois fatores que possuem potencial para influenciar o nível de desenvolvimento. Por isso, precisamos levar em consideração o que diz respeito as idades aproximadas nas quais várias habilidades podem ser aprendidas mais efetivamente (BAYLEY, 1935; SHIRLEY, 1931; WELLMAN, 1937), aos efeitos de um treinamento especial sobre o aprendizado de habilidades motoras (ULRICH, 1984) e o efeito das oportunidades limitadas ou restritas para a prática na aquisição das habilidades motoras (DENNIS, 1960; DENNIS & NAJARIAN, 1957; GALLAHUE et al, 1994). 3.3. Fatores de Tarefa Física A interação dos fatores ambientais com os biológicos modifica o curso do desenvolvimento motor no período neonatal, na infância, na adolescência e na idade adulta (GALLAHUE & OZMUN, 2005). 1- Um destes fatores é a prematuridade. Como dificilmente conseguimos determinar com 36 ~ 36 ~ precisão a idade gestacional do bebê e como índices de morbidez e de mortalidade mais altos estão presentes em bebês de peso mais baixo ao nascer, os termos nascituro de baixo peso (peso abaixo de 1,5 kg ao nascer) e prematuro (peso de 1,5 – 2,5 kg ao nascer) emergiram como indicadores mais precisos de prematuridade no real sentido da palavra. Os efeitos ao longo prazo do baixo peso ao nascer são diretamente relacionados ao grau de retardo de crescimento intrauterino e à idade gestacional da criança. Pois quanto menor a idade gestacional, mais alta a incidência de deficiência maior (BENNETT, 1997). 2- Outro fator são as desordens alimentares. Muitas pessoas não conseguem manter um equilíbrio entre a ingestão e o gasto calórico, pois, se forem consumidas mais calorias do que queimadas, com o tempo, isso resultaria em um quadro de obesidade, assim como o contrário, queimar mais calorias do que consumir resultaria em perda de peso. Os termos excesso de peso e obesidade são geralmente utilizados de maneira intercambiável, porém não são sinônimos. O excesso de peso é caracterizado por um grau moderado de excesso de peso para a altura, enquanto a obesidade é um estado de maior severidade (MALINA et al, 2009). A obesidade coloca um estresse adicional nos sistemas circulatório, respiratório e metabólico, podendo causar e até mesmo intensificar, desordens nesses sistemas (GALLAHUE & OZMUN, 2005). Malina et al (2009) afirma que o excesso de peso e obesidade podem ocorrer no início da infância, mas sua prevalência é mais comum na infância, adolescência e idade adulta, com consequências funcionais e implicações em longo prazo para a saúde. Assim como os fatores genéticos, os ambientais, e a própria combinação entre os dois, acabam contribuindo para o surgimento da obesidade. Comum entre os obesos, a desordem alimentar compulsiva é quando um indivíduo consome de forma compulsivamente uma quantidade significativa de comida, sem provocar vômito. As pessoas que apresentam bulimia nervosa, provocam o vômito, após comer compulsivamente, pois possuem a necessidade de glorificar o corpo magro e esbelto. Já a anorexia nervosa é caracterizada pela aversão ao consumo de alimentos e a obsessão também de estar sempre magro, mesmo estando claramente abaixo do peso. O status nutricional pode inibir ou aumentar muito o nível de funcionamento físico de uma pessoa, conforme afirmam as pesquisas de Meredith & Dwyer (1991) e Rickard et al (1996). Gallahue & Ozmun (2005), em seus estudos, abordam que a interação entre a atividade física, genética e nutrição sugerem os limites mínimos e máximos da aptidão física que podem ser razoavelmente esperados de um indivíduo. A estrutura genética determina o nível de 37 ~ 37 ~ definitivo de aptidão que pode ser alcançado (MALINA & BOUCHARD, 1991). 3- A aptidão física é definida como um conjunto de atributos que um indivíduo possui relacionado à habilidade de realizar uma atividade física, combinado com a sua carga genética e a manutenção nutricional adequada, sendo subdividida em aptidão física relacionada à saúde e relacionada ao desempenho. O nível pessoal e a extensão da aptidão, seja ela relacionada à saúde ou ao desempenho, irá influenciar de várias formas suas capacidades de desempenho motor. Cada padrão e cada habilidade motora envolve uma sequência específica de movimentos, onde todos incorporam a mecânica básica (equilíbrio, aplicação e recebimento de força), pois são princípios mecânicos comuns a todas as situações de movimento. A biomecânica é o estudo da aplicação da mecânica aos sistemas biológicos, avaliando o movimento de um organismo vivo e o efeito da força - seja empurrando ou tracionando – sobre esse organismo (HAMILL & KNUTZEN, 1999). 38 ~ 38 ~ CAPITULO 4 PERCURSSO METODOLOGICO 4.1 Características do Estudo Este estudo teve como objetivo principal descrever os diferentes efeitos da aptidão física, estado nutricional e estado maturacional sobre o desempenho motor de adolescentes de 13 a 16 anos no município de Itaituba/Pará. 4.2. Desenho Experimental Esta pesquisa é caracterizada como descritiva
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