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0 ASSISTÊNCIA EM ENFERMAGEM AO PACIENTE RENAL E HOME CARE 1 ASSISTÊNCIA EM ENFERMAGEM AO PACIENTE RENAL E HOME CARE DÚVIDAS E ORIENTAÇÕES Segunda a Sexta das 09:00 as 18:00 ATENDIMENTO AO ALUNO editorafamart@famart.edu.br mailto:editora 2 Sumário Introdução ................................................................................................................................... 4 Diagnóstico ................................................................................................................................. 4 Sinais e Sintomas ....................................................................................................................... 6 Acompanhamento ...................................................................................................................... 7 Acompanhamento Laboratorial na Atenção Primária ................................................................ 9 Anemia ........................................................................................................................................ 9 Doença óssea ........................................................................................................................... 10 Acidose metabólica .................................................................................................................. 10 Quando encaminhar ................................................................................................................. 10 CONCEITO E HISTÓRICO DE HOME CARE ......................................................................... 15 Objetivos do Home Care .......................................................................................................... 23 Benefícios do Home Care ........................................................................................................ 24 Regulamentação em Home Care ............................................................................................. 24 Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 ................................................................................ 35 Anexo da RESOLUÇÃO COFEN Nº 267/2001........................................................................ 42 DIREITO DOS PACIENTES..................................................................................................... 64 Anexo 1 – Projeto de Lei nº 2880, de 2008. ............................................................................ 68 Anexo 2 – Código de Ética em Home Care ............................................................................. 72 ENFERMAGEM NO HOME CARE .......................................................................................... 74 O Enfermeiro no Home Care.................................................................................................... 78 SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM ................................................. 79 Rotinas no atendimento domiciliar ........................................................................................... 85 Indicação do Paciente ao Atendimento Domiciliar .................................................................. 85 Por meio da procura do paciente e/ou cuidador ...................................................................... 85 Por meio da indicação pelo médico assistente ........................................................................ 88 Por meio da alta hospitalar para internação domiciliar ............................................................ 89 Por meio da Solicitação da Auditoria Hospitalar dos convênios ............................................. 89 Exemplo de Protocolo para Indicação ao Serviço de Home Care .......................................... 90 AUTORIZAÇÃO DO PLANO DE SAÚDE ................................................................................ 94 Esclarecimento a paciente e familiares ................................................................................... 95 Seleção do Paciente e Visita Domiciliar .................................................................................. 95 Plano de Atendimento no Cuidado Domiciliar (PAD) ............................................................ 103 3 Internação Domiciliar .............................................................................................................. 108 Desmame do Serviço de Home Care .................................................................................... 112 Alta do Atendimento Domiciliar .............................................................................................. 113 Fases do Serviço de Home Care ........................................................................................... 114 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 123 4 Doença Renal Crônica Introdução A Doença Renal Crônica (DRC) é um conjunto de alterações clínicas e laboratoriais causadas por agressão persistente e irreversível ao rim. Ela decorre de diversas condições clínicas, sendo hipertensão e diabetes as principais causas de doença renal terminal. É uma doença com repercussões globais, que pode ser identificada em sua fase inicial com exames de baixo custo e, assim, possibilitar a prevenção de sua evolução. Diagnóstico Doença renal crônica é definida como anormalidades da estrutura ou função renal, presentes por mais de 3 meses, com implicações para a saúde. Os critérios para doença renal crônica são: • Marcadores de dano renal (um ou mais): a) albuminúria (≥ 30mg/24h ou razão albuminúria/creatininúria ≥ 30mg/g) b) anormalidades do sedimento urinário c) anormalidades eletrolíticas ou outras devido a doenças tubulares d) anormalidades detectadas por histologia e) anormalidades estruturais detectadas por exames de imagem f) história de transplante renal • Redução da TFG < 60ml/min/1,73m2 A classificação da DRC é divida em 5 estágios funcionais: Estágio de Função Renal Taxa de Filtração Glomerular (mL/min/1,73m2) 1 > 90 com proteinúria 5 2 60 a 89 com proteinúria 3a 45 a 59 3b 30 a 44 4 15 a 29 5 < 15 ou em diálise Fonte: Duncan (2013). Para o cálculo da depuração da creatinina, é necessária a coleta de urina no período de 24 horas, principal limitante da técnica. O NATIONAL KIDNEY FOUNDATION KIDNEY DISEASE OUTCOMES QUALITY INITIATIVE (NKF KDOQI) recomenda estimar a TFG, a qual pode facilmente ser calculada com o uso de fórmulas. O grupo Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration (CKD-EPI) desenvolveu, a partir de coorte que incluiu indivíduos com e sem DRC, uma equação, que é uma variação da fórmula do MDRD, mas que apresenta melhor desempenho e previsão de desfechos adversos. As observações de menor viés e maior acurácia da equação CKD-EPI em comparação à equação do estudo MDRD, particularmente nas faixas de TFG > 60 mL/min/1,73 m2, constituem o racional para preconizar o seu uso clínico em substituição às equações de estimativa da TFG até então utilizadas. A presença de albuminúria é um marcador de dano renal altamente utilizado na prática clínica. O exame pode ser realizado com coleta de urina em 24 horas ou em amostra de urina (para facilitar a realização do exame). Algumas condições podem interferir na excreção de albumina e devem ser descartadas antes de sua realização (febre, infecção urinária, exercício físico). Albuminúria é classificada como: Exame Normo Micro Macro Amostra de urina única < 17 mg/L 17 a 173 mg/L > 174mg/L Amostra de urina de 24 < 30 mg 30 a 299 mg > 300 mg 6 horas. Relação Albuminúria/Creatinúria (em amostra) < 30 mg/g 30 a 299 mg/g > 300 mg/g Fonte: Duncan (2013). Outras alterações sugestivas de dano renal são: presença de cilindros patológicos, hematúria e alterações de exames de imagem. No sedimento urinário pode-se observar a presença de cilindros patológicos: leucocitários, hemáticos, epiteliais, granulosos, céreos, largos e graxos. As presenças de cilindros hialinos não são tipicamente patológicas, podendo ocorrer por alterações fisiológicas. A presença de hematúria em exame comum de urina (EAS/EQU ou urina tipo1) deve ser comprovada com nova coleta após 8 semanas. Persistindo a alteração, deve-se excluir causas glomerulares, por meio da avaliação de hemácias dismórficas (o exame é positivo com a presença de mais de 70% de eritrócitos dismórficos na amostra) ou causas anatômicas (como nefrolitíase). No exame de imagem (ecografia de vias urinárias) os seguintes achados contribuem com a identificação da causa da doença renal crônica: rim policístico, hidronefrose por obstrução, lesão cortical renal por infarto, pielonefrite ou refluxo vesico ureteral, massas renais ou tumores, estenose de artéria renal, assimetria renal (diferença de 1,5 cm entre os rins), perda da diferenciação corticomedular e rins pequenos e ecogênicos (a associação de ecogenecidade e rins inferiores a 10 cm geralmente corresponde a dano renal irreversível). Sinais e Sintomas Diversas condições representam risco para o desenvolvimento de doença renal crônica (DRC) como diabetes, hipertensão, glomerulonefrite, uso de medicamentos nefrotóxicos, nefrolitíase, hipertrofia prostática benigna, estenose de artéria renal, síndrome hepatorrenal, síndromes genéticas, entre outras. O declínio gradual da função em pacientes com doença renal crônica é inicialmente 7 assintomático. Entretanto, diferentes sinais e sintomas podem ser observados com falência renal avançada, incluindo hipervolemia, hipercalemia, acidose metabólica, hipertensão, anemia e doença mineral óssea. O desenvolvimento de doença renal terminal (IRC classe V) resulta numa constelação de sinais e sintomas conhecida como uremia. A progressão rápida da doença renal é definida como declínio sustendado na TFG > 5ml/min/1,73m2/ano. Alguns achados clínicos e laboratoriais podem ser vistos em pacientes com estágio 4 e 5 conforme o sistema acometido: • Neurológico: letargia, sonolência, tremores, irritabilidade, soluço, câimbra, fraqueza muscular e déficit cognitivo. • Gastrointestinais: anorexia, náusea, vômito, gastrite, hemorragia, diarreia e hálito urêmico. • Cardiovascular ou pulmonar: hipertensão resistente ao tratamento, dispneia, tosse, arritmia e edema. • Metabólico e Endocrinológico: Perda de peso, acidose metabólica, hiperuricemia, hipercalemia, galactorreia, diminuição de libido, impotência. • Hematológico: anemia e sangramento. • Urinário: noctúria e oligúria. Acompanhamento O acompanhamento clínico visa retardar a progressão da doença renal e encaminhar no momento adequado para avaliação de terapia substitutiva renal (diálise). Deve-se identificar os fatores associados com a progressão da DRC. Esses fatores incluem causas de DRC, nível de TFG, nível de albuminúria, idade, sexo, raça, hipertensão, hiperglicemia, dislipidemia, tabagismo, obesidade, história de doença cardiovascular, exposição a agentes nefrotóxicos, entre outros. A evolução da doença renal crônica varia de acordo com a causa base, porém algumas medidas devem ser orientadas na atenção primária a saúde como: 1. Diminuir ingestão de sódio (menor que 2g/dia) correspondente a 5g de cloreto de sódio, em adultos. 8 2. Abandono de Tabagismo. 3. IMC alvo entre 20-25 Kg/m2. 4. Dieta com restrição proteica (0,8 g de proteína/ kg de peso /dia) para pacientes com TFG menor que 30 ml/min. Deve-se atentar para desnutrição desses pacientes. 5. Vacinações: Influenza (anualmente), Pneumococo (realizar uma dose e um reforço em 5 anos) e Hepatite B (avaliar se paciente foi vacinado e se houve resposta sorológica. A vacina contra hepatite B no paciente com DRC deve ser aplicada em dose dupla nos meses 0, 1, 2 e 6 para pacientes com anti-HBs < 10 UI/mL. Deve-se repetir o esquema para os não respondedores e realizar novo anti-HBs em 2 meses após a última dose. Em pacientes no estágio 4 e 5 deve-se reavaliar o anti-HBs anualmente e se valores se tornarem inferiores a 10 ui/mL, revacinar ). 6. Prevenir ou tratar rapidamente distúrbios hemodinâmicos evitando desidratação (diarreia, vômito, uso excessivo de laxantes ou diuréticos) ou episódios de hipotensão arterial. 7. Controle pressórico com valores menores que 140/90. 8. Controle glicêmico nos diabéticos, com valores de hemoglobina glicada em torno de 7%. Alvo menos rigoroso pode ser considerado em pacientes com hipoglicemias frequentes, início tardio do diabetes, doença micro ou macrovascular avançada e em idosos. 9. Evitar medicamentos nefrotóxicos (como AINE, aminoglicosídeos, lítio) e ajustar dose quando necessário (como benzodiazepínicos, colchicina, digoxina, fenofibrato, metformina e glibenclamida); 10. Pacientes com proteinúria, em especial diabéticos, se beneficiam com o uso de Inibidor da Enzima Conversora de Angiotensina (IECA) ou Bloqueadores de Receptores da Angiotensina (BRA). O uso concomitante das duas classes de medicamentos está contra-indicado devido a piores desfechos clínicos e não há evidência suficiente para recomendar a associação entre IECA e BRA para prevenir a progressão da DRC. Deve-se tentar atingir, quando tolerado, a dose alvo de cada medicação (40 mg/dia para enalapril, 150mg/dia para captopril ou 100 mg/dia para losartana). Ao iniciar a medicação, deve-se atentar se não ocorrerá piora da hipertensão, hipercalemia ou diminuição da TFG. Se houver uma queda da TFG 9 maior que 30% deve-se suspender o medicamento e encaminhar para o nefrologista. Não iniciar IECA ou BRA para prevenção primária de DRC em pacientes diabéticos normoalbuminúricos e normotensos. 11. Estatinas reduzem mortalidade e eventos cardiovasculares em pacientes com TFG reduzida (estágios 1 a 3) e dislipidemia. 12. Betabloqueadores reduzem mortalidade e eventos cardiovasculares em pacientes com TFG reduzida e insuficiência cardíaca. Acompanhamento Laboratorial na Atenção Primária • Pacientes em risco para desenvolver DRC ou pacientes com DRC no estágio 1 e 2 (TFG maior que 60 ml/min e lesão estrutural renal) devem realizar anualmente a TFG (creatinina sérica), exame sumário de urina (EQU ou EAS ou urina tipo 1) e Albuminúria (Relação Albuminúria/Creatinúria ou microalbuminúria amostra ou albuminúria em 24 horas) para avaliar evolução. • Estágio 3a: avaliação anual da TFG, EQU, albuminúria, hemograma, potássio, fósforo e PTH. Essa avaliação deve ser semestral se o paciente no estágio 3a apresentar microalbuminúria. • Estágio 3b: avaliação semestral da TFG, EQU, hemograma, albuminúria e potássio. Avaliação anual de cálcio, fósforo, PTH, proteínas totais e frações. Se houver anemia, avaliar também ferritina e saturação de transferrina. • Pacientes em estágio 4 e 5 devem fazer acompanhamento conjunto com nefrologista e avaliação laboratorial a cada 1 a 3 meses. • Realizar sorologia para hepatite b no início do acompanhamento (anti-HBs, HBsAg e Anti-HBc) dos pacientes com DRC. Pacientes em estágio 4 e 5 devem repetir anti- HBs anualmente. Principais complicações associadas a perda de função renal Anemia A incidência de anemia aumenta com o declínio da função renal e em pacientes com estágios mais avançados de DRC. A definição de anemia 10 Hemoglobina < 13g/dl em homens e < 12g/dl em mulheres. Medir níveis hematimétricos:• se TFG ≥ 60ml/min/1,73m2 – quando clinicamente indicado • anualmente em TFG entre 30-59ml/min/1,73m2 • 2 vezes ao ano em pacientes com TFG < 30ml/min/1,73m2 Doença óssea Dosar cálcio, fósforo, PTH e fosfatase alcalina pelo menos uma ocasião em pacientes com TFG < 45 ml/min/1,73m2. Se TFG < 45 ml/min/1,73m2 – manter fósforo dentro da normalidade. Quando TFG < 45ml/min/1,73m2 – nível alvo de PTH não é conhecido. Se PTH estiver no limite superior – avaliar hiperfosfatemia, hipocalcemia e deficiência de vitamina D. Não prescrever vitamina D rotineiramente na ausência de deficiência. Em pacientes com IRC e HCO3 < 22mmol/L recomenda-se suplementação com bicarbonato via oral para mantê-lo dentro dos valores da normalidade. Acidose metabólica Em pacientes com IRC e HCO3 < 22mmol/L recomenda-se suplementação com bicarbonato via oral para mantê-lo dentro dos valores da normalidade. Quando encaminhar O encaminhamento para o Nefrologista visa investigar causas de doença renal crônica que não foram possíveis identificar na atenção primária, bem como acompanhar pacientes em estágio avançando de DRC em vistas a terapia renal substitutiva. As seguintes situações configuram motivos de encaminhamento por Doença Renal Crônica ao nefrologista: Taxa de Filtração Glomerular < 30 ml/min/1,73m2 (Estágio 4 e 5); Proteinúria Microalbuminúria e TFG menor que 60ml/min em não diabéticos 11 Macroalbuminúria para todos os pacientes, independente da TFG (diabéticos ou não); Hematúria persistente de origem glomerular; Alterações Anatômicas que justifiquem a perda de função renal; Perda rápida da função renal (>5 mL/min/1,73m2 em um período de 6 meses, em uma linha de base < 60 ml/min/1,73m2, confirmado em 2 exames.) Presença de cilindros com potencial patológico (céreos, largos, graxos, epiteliais, hemáticos ou leucocitários). Cuidado domiciliar Muitos registros na área da saúde demonstram, historicamente, a inserção do cuidado domiciliar como sendo uma prática antiga e acreditada por vários estudiosos que, com o passar dos anos, tornou-se uma modalidade de atendimento organizada implementada em vários países. No século XIII a.C no Egito Antigo, um médico chamado Imhotep atendia os pacientes no domicílio e em seu consultório e também era responsável pelo atendimento no palácio ao Faraó. Desde esta época, as primeiras referências da medicina apontam para um cuidado domiciliar. Na Grécia Antiga, o médico Asklépios atendia no domicílio dos pacientes e seus denominados seguidores atendiam os indivíduos nos templos. Nesses locais havia medicamentos e materiais para proporcionar o tratamento e a cura aos indivíduos enfermos – alguns registros apontam que estas estruturas são consideradas futuramente como hospitais. Hipócrates, no século V a.C., descreveu a importância e a eficiência do cuidado no domicílio. Segundo ele essa forma de atendimento trazia êxito ao tratamento dos enfermos, como expõe no “Tratado sobre os ares, as águas e os lugares”. Samuel Hanneman, fundador da Homeopatia, no final do século XVII visitava os doentes no domicílio por acreditar que o médico era responsável pelo tratamento 12 e cura das enfermidades, fazendo questão de permanecer junto ao leito dos doentes no domicílio a maior parte do tempo possível. Antes do surgimento dos grandes hospitais e da modalidade de assistência ambulatorial, no final do século XVIII, na Europa, os cuidados de enfermagem já eram largamente empregados. Especificamente no campo de enfermagem, Florence Nigthingale, ao se referir à saúde como estilo de vida, afirmou, em 1963, que os doentes se recuperariam melhor em suas casas do que nas instituições hospitalares. Independente do contexto vivenciado por Florence, do viés histórico – ideológico que permearam sua atuação, bem como as diferenças entre o ecossistema do século XIX e o do tempo atual, o que se advoga no campo da saúde domiciliar já era preconizado, quando esta enfermeira deu início à revolução científica na enfermagem mundial. Segundo Barreira (1992) a prestação de cuidados domiciliares no Brasil no início do século foi valorizada e tida como atividade prioritária no combate às grandes endemias que assolaram os grandes centros. Este cuidado era feito por intermédio de visitas domiciliares. A partir deste fato foi reconhecida a necessidade de formação de profissionais para este exercício. Conforme Oliveira (1996) esta formação estava direcionada à prestação do cuidado para o doente ou para os fatores de risco de determinados agravos e não para a família como grupo social. Com a institucionalização do Sistema Único de Saúde – SUS, a partir da Lei Federal nº 8080/90 (BRASIL, 1990), algumas estratégias foram pensadas e implementadas para a consolidação do seu modelo. Uma delas foi a proposta do Ministério da Saúde, em 1994: O Programa de Saúde da Família – PSF (Fundação Nacional de Saúde, 1996). O PSF, na forma com que foi concebido, surge como resposta às propostas de atenção primária de saúde que ocorreram na década de setenta e ao movimento da Reforma Sanitária, que ocorreu na década de oitenta, culminando com a implantação do SUS. Neste cenário, a construção de um novo modelo assistencial embasado em estratégias do PSF propõe a organização das práticas de saúde voltadas para 13 atenção a família. Um dos pressupostos das estratégias do PSF elege a família e seu espaço social como foco da atenção à saúde (Ministério da Saúde, 1996). Segundo Elsen (1994) a família constitui uma unidade de saúde para seus componentes, apesar dos estudos que abordam as funções da família não incluírem de forma explícita o cuidado com a saúde de seus membros. Entretanto, a autora destaca que esta unidade nem sempre é eficiente no desempenho deste papel e apenas é considerada saudável quando cuida da saúde de seus componentes de forma adequada. Assim, o domicílio é considerado o cenário onde ocorrem as relações sociais geradoras de conflitos e de outros fatores de risco de adoecer, sendo também o local privilegiado para o desenvolvimento de ações e da atuação na busca pela promoção e manutenção da saúde. O cuidado dispensado à saúde no domicílio propicia a inserção dos profissionais no cotidiano do paciente; identificando demandas e potencialidades da família, em um clima de parceria terapêutica. Para isso concorrem fatores como a humanização do cuidado, a ausência de riscos iatrogênicos de origem hospitalar, o resgate das formas de cuidar calcadas nas práticas tradicionalmente usadas pela população, embasadas na bagagem cultural. O desenvolvimento das ações propostas pelo PSF está relacionado prioritariamente à prevenção primária, ou seja, aquela prevenção realizada antes mesmo que a doença ocorra no paciente, não excluindo também a atuação na prevenção secundaria e terciária, tratamento e reabilitação respectivamente. No caso do atendimento domiciliar realizado pelos serviços de Home Care, na maioria das vezes há mais ações voltadas para a atenção secundária e terciária, que consistem no tratamento do agravo, até mesmo internações domiciliares e acompanhamento na reabilitação do paciente. É importante também identificar que o PSF é um programa de política pública de atendimento à população pelo Sistema Único de Saúde, enquanto o Home Care é uma empresa constituída que obedece a normas regidas pelo sistema nacional, mas que atende na maioria das vezes pacientes particulares ou com planos de 14 saúde, tendo também possibilidade de atender ao SUS, constituindo um serviço terceirizado. Atendimento domiciliar conceitua-se como o conjunto de procedimentos hospitalares passíveis de serem realizados no ambiente domiciliar do paciente, englobando ações de saúde de equipe multiprofissional, baseadasem diagnóstico da realidade que o paciente vive, buscando a promoção, manutenção e reabilitação da saúde (Fabrício et al, 2004). A atenção ao atendimento domiciliar, segundo Moura e Nakamura (2003), inclui procedimentos simples de enfermagem, internações domiciliares e até mesmo assistência no domicílio daqueles pacientes considerados pelos médicos como fora das possibilidades terapêuticas. Um paciente considerado fora das possibilidades terapêuticas, ou também denominado paciente terminal, é aquele onde as possibilidades de cura não existem, o tratamento passa a ser paliativo e o prognóstico é o óbito. Este diagnóstico é feito pelo médico depois de esgotados os recursos de cura para determinada doença. Collopy et al, citado por Mendes (2001), descreve que na modalidade de assistência domiciliar estão envolvidos procedimentos como cuidados dos clientes em suas atividades cotidianas, administração de medicamentos, realização de curativos, cuidados com estomas e até mesmo o uso de alta tecnologia hospitalar com a presença de equipe multiprofissional de permanência 24 horas/dia. A equipe multiprofissional que compõe um cuidado domiciliar formal deve ser composta por médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, nutricionista e fisioterapeuta. Conforme a complexidade do atendimento ao paciente, sua patologia e prognóstico, os profissionais em conjunto devem estipular as condutas de tratamento a serem seguidas e a possível necessidade de outro profissional. O trabalho em equipe multiprofissional consiste numa modalidade de trabalho coletivo que se configura como uma relação recíproca entre as múltiplas intervenções técnicas e a interação dos agentes de diferentes áreas profissionais. Por meio da comunicação, ou seja, da mediação simbólica da linguagem, dá-se a articulação das ações multiprofissionais e a cooperação (PEDUZZI, 1998). 15 O cuidador é o indivíduo que presta cuidados ao enfermo sendo que pode ou não ter vínculo familiar. Existem dois tipos de cuidadores: o formal e o informal (BRASIL, 1999b). O cuidador formal é um profissional preparado em uma instituição de ensino para prestar cuidados no domicílio, segundo as necessidades específicas do cliente (REJANE & CARLETTE, 1996); o cuidador informal, no entanto, é um membro da família ou da comunidade que presta cuidado de forma parcial ou integral. Este indivíduo deve ser alfabetizado e possuir noções básicas sobre o cuidado do cliente e terá a função de auxiliar e/ou realizar a atenção adequada às pessoas que apresentam limitações para as atividades básicas e instrumentais da vida diária, estimulando a independência e respeitando a autonomia destas (BRASIL, 1999b). Duarte (1997) afirma que o cuidador é a pessoa que realiza suas atividades aos indivíduos com necessidades de atenção no domicílio. Leitão e Almeida (2000, p. ) descrevem o cuidador como a pessoa que assume a responsabilidade em cuidar proporcionando suporte e visando a melhoria da qualidade de vida da pessoa a ser cuidada. Mendes (1998) expõe que o cuidador domiciliar se constitui no indivíduo que possui vínculos de parentesco com o doente, e classifica como cuidador principal aquele com maior responsabilidade sobre os cuidados do paciente e o cuidador secundário como aquele que realiza cuidados complementares. CONCEITO E HISTÓRICO DE HOME CARE Home Care é uma expressão inglesa na qual Home significa “Lar” e Care “Cuidados”. Traduz-se, desta forma, como cuidados no lar. O Home Care surgiu primeiramente nos Estados Unidos (EUA) no período pós-guerra, mediante a necessidade dos familiares de cuidar de seus doentes em casa. Após essa fase inicial houve a inserção dos profissionais especializados para este cuidado. A procura excessiva por serviços de saúde e a intencionalidade para internações hospitalares em conjunto com a escassez destes serviços propiciou e 16 colaborou para a transformação do cuidado domiciliar. Esta modalidade de atendimento tornou-se gradativamente organizada. Em 1796 o Home Care começou a ser arranjado, primeiramente prestando cuidados aos pobres e enfermos, nos Estados Unidos da América, objetivando o tratamento destes pacientes em casa, ao invés de hospitalizá-los. Nesta mesma época o hospital ainda era considerado um local insalubre, onde os acometidos por pestes e os pobres aguardavam a morte. A primeira referência da forma organizada da Assistência Domiciliar em Saúde (ADS) foi o Dispensário de Boston, em 1976, hoje denominado New England Medical Center. Liderado por Lílian Wald, foi criado em 1850 o programa que mais tarde denominou-se Public Health Nurse, o seja, Enfermeira da Saúde Pública. No período de 1900 a 1905, nos EUA, havia uma preocupação com a imigração, a industrialização e o aumento de doenças infecto-contagiosas. Neste mesmo período algumas enfermeiras faziam visitas aos pobres em sua residência, informando-lhes sobre os cuidados básicos de saúde e prevenção do alastramento das enfermidades, sendo empregadas por associações. Esta função denominada como enfermeira visitante foi vista como uma saída para o controle das doenças que estavam tomando conta das cidades e as destruindo. Até o período de 1905, quatrocentos e cinquenta e cinco enfermeiras estavam empregadas por associações e realizando as visitas à toda a população. Também existia o trabalho das enfermeiras de forma autônoma que realizavam acompanhamento contínuo dos enfermos nos domicílios, nas 24 horas do dia, prestando cuidados em sua convalescença. Recebiam de forma particular, geralmente nos casos de enfermos da classe média e pessoas influentes. Em 1909, com o investimento público nas ações de saúde e educação, o sistema de saúde domiciliar dos EUA passou por mudanças. A enfermeira começou a ensinar às pessoas nas escolas um estilo de vida saudável, incluindo hábitos de higiene pessoal, métodos de tratamento e a responsabilidade do auto-cuidado dos indivíduos. Segundo Orem (1971, p.80) auto-cuidado é utilizado como sinônimo de cuidar de si próprio, ou seja, são todas as ações que o indivíduo executa em seu próprio 17 benefício. É um comportamento que implica no papel ativo do cliente no desenvolvimento de atividades com o objetivo de manter a vida, a saúde e o bem- estar. Esta função da enfermeira foi denominada de comunitária, pois ensinava também aos indivíduos os conceitos de doença; neste mesmo período o plano de saúde “Metropolian Life Insurance Company” contratou enfermeiras visitantes para tratar dos seus usuários em casa durante a fase da enfermidade. A Metropolian Life Insurance Company conhecida também com MetLife é uma das mais antigas companhias de seguros dos Estados Unidos, criada em 1863 por um grupo de empresários em Nova York. No início esta empresa oferecia somente seguros de assistência à vida, mais tarde incluiu serviços dentários. O Plano de Saúde Metropolian Life Insurance Company aceitou este desafio mediante a ideia de Lílian Wald, enfermeira que iníciou o serviço de enfermeiras visitadoras em Nova York e colaborou com a abertura da primeira escola de enfermagem em tempo integral, ela acreditava que as enfermeiras visitantes poderiam contribuir na redução dos gastos com usuários enfermos. A Cruz Vermelha ampliou o programa de enfermeiras visitantes para a área rural, em 1912. O final da I Guerra Mundial propiciou o aumento das enfermeiras visitantes em todos os países, e a Cruz Vermelha ampliou esta função para todas as suas filiais. O plano de saúde Metropolian Life Insurance Company contratou várias enfermeiras para o desempenho desta atividade. No primeiro momento de atuação da enfermagem no domicílio dava-se ênfase às doenças contagiosas. A partir de 1950 as doenças contagiosas, diante do trabalho realizado pelas enfermeiras visitantes e comunitárias, diminuíram expressivamente.O foco do trabalho então começou a ser os doentes crônicos. As doenças crônicas inviabilizavam a vida do indivíduo, que na maioria das vezes necessitava longa permanência no leito, acarretando uma total dependência no desenvolvimento de ações, surgindo com isso problemas sociais e econômicos, e principalmente de saúde. Em 1922 a enfermagem tornou-se profissão no Brasil por meio da fundação da Escola de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública, que possuía 18 o mesmo padrão da Escola Florence Nightingale na Inglaterra, em 1926 esta mesma escola passou a se chamar Ana Nery. No período compreendido entre os anos de 1925 e 1929 a taxa de mortalidade urbana e as doenças infectocontagiosas começam a diminuir nos EUA, e a principal causa de mortalidade passa a ser as doenças crônicas degenerativas. Os hospitais começam a ficar lotados por estes pacientes que optam pela internação para tratamento de tais moléstias. O Home Care ainda é uma opção de tratamento, mas progressivamente neste período diminui e muito seus serviços, sendo substituído pela permanência dos pacientes em hospitais. Houve a centralização e o aumento de pacientes nos hospitais, principalmente no período entre 1930 a 1954 nos EUA, o que fez com que o trabalho das enfermeiras comunitárias e visitantes foi declinando. O Plano de Saúde Metropolian Life cancelou o programa de enfermeiras visitantes e a Cruz Vermelha também. A partir do ano de 1955 até 1964 houve um grande questionamento sobre os custos dos pacientes para os Planos de Saúde. Como as internações aumentaram, verificou-se que os custos para manter um paciente internado eram superiores àqueles para mantê-lo em tratamento domiciliar. Paralelamente ao aumento das internações, a taxa de doenças crônicas na população aumentava consideravelmente e o número de pacientes idosos também. Neste contexto, mais uma vez o Home Care aparece como uma modalidade de assistência à saúde da população, demonstrando qualidade nos serviços com um menor custo. Em 1965 o plano de saúde Medicare, nos EUA, por meio de sua legislação, começou a prever aos seus usuários os serviços de Home Care especializados e terapias de natureza curativa ou de reabilitação para os idosos. O serviço de Home Care oferecido pelo Medicare era contratado por uma empresa terceirizada. No ano de 1968 os serviços domiciliares no Brasil estavam em sua maioria restritos à vigilância epidemiológica materno-infantil. O Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo estruturou-se e iniciou suas atividades de visitação em domicílio. 19 O Home Care, nos EUA, começou a ser visto pelos planos de saúde como uma forma de reduzir custos com seus usuários. Assim no período de 1970 a 1985 muitas outras empresas de Home Care foram abertas e em 1982 foi fundada a Associação Nacional para Home Care. Esta associação objetivava defender os interesses das empresas credenciadas. Promoveu esclarecimento à população na mídia frente ao tratamento do paciente em Home Care. Observou-se que quanto menos dias os pacientes permaneciam internados mais os serviços de Home Care eram utilizados pela população. O conhecimento frente ao Home Care também aumentou muito por parte da população. Em 1986 é fundada no Brasil a primeira agência de Home Care, chamada “Geriátricas Home Care”. Localizada no Rio de Janeiro e dirigida pelo Dr. Ricardo Rodrigues, inicia seus atendimentos com exclusividade para o Plano de Saúde Amil. Quatro anos depois, em 1990, é aprovada a Lei 8.080, em 19 de setembro, que trata das condições para promoção, proteção e recuperação da saúde da população, como também a organização e o funcionamento de serviços correspondentes, dando outras providências e regulamentando a assistência domiciliar no Brasil. Em 1994 foi criada a Fundação de Home Care pela Volkswagen no Brasil e em 1995 foi fundada a Associação das empresas de Medicina Domiciliar – ABEMID. Um ano depois, em 1996, constituiu-se o NADI (Núcleo de Assistência Domiciliar Interdisciplinar) do Hospital de Clínicas de São Paulo. A atenção em torno da assistência domiciliar foi aumentando gradativamente, e em 1998 ocorreu o I Simpósio Brasileiro de Assistência Domiciliar – SIBRAD. Neste encontro foram discutidos os aspectos mais importantes relacionados à assistência domiciliar e pela primeira vez houve um debate sobre os modelos de assistência domiciliar nos setores público e privado. Com a expansão dos serviços de atendimento domiciliar, passou a existir a necessidade de emissão de resoluções sobre a adequação dos profissionais para realização da função. Em 2002 o Conselho Federal de Enfermagem e o Conselho Federal de Farmácia e em 2003 o Conselho Federal de Medicina aprovam resoluções referentes à assistência domiciliar. 20 Também em 2002 o Conselho Federal de Enfermagem aprovou a resolução número 270 que definiu a regulamentação para que as empresas prestassem serviços de enfermagem domiciliar Home Care. No mesmo ano, o Conselho Federal de Farmácia edita a resolução número 386, em 12 de novembro, na qual dispõe sobre as atribuições do farmacêutico no âmbito da assistência domiciliar. Posteriormente, em 2003 o Conselho Federal de Medicina aprovou a resolução número 1.668/2003 que dispôs sobre as técnicas necessárias à assistência domiciliar de paciente, definindo as responsabilidades e a interface multidisciplinar neste tipo de assistência. No mesmo ano de 2003, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publica a Consulta Pública número 81, de 10 de outubro de 2003, relacionada com a prática da assistência domiciliar no Brasil. E, em 2006, a ANVISA publica a resolução RDC nº 11, que estipula as regras para o funcionamento de serviços de saúde que prestam atendimento domiciliar. A partir da publicação da RDC nº 11 os serviços de saúde com atendimento domiciliar começaram a ser fiscalizados e consequentemente melhor estruturados, já que passaram a seguir normas de funcionamento. Perspectivas para o Home Care Frente ao atual quadro de políticas de saúde, questões demográficas e sociais encontradas no Brasil, pode-se dizer que alguns fatores contribuem para o crescimento da atenção à saúde prestada em domicílio, são eles: O aumento da população idosa Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS – a população idosa é definida como aquela possui no mínimo 60 anos de idade, limite de idade válido para os países em desenvolvimento, no caso dos países desenvolvidos admite-se o limite de idade de 65 anos. Carvalho e Andrade (2000) descrevem o envelhecimento como o aumento do número de anos vividos em conjunto com a evolução cronológica do indivíduo. Existem fenômenos de natureza biopsíquica e social, que proporcionam a percepção 21 da idade e do envelhecimento. O envelhecimento é associado, algumas vezes, com a saída da vida produtiva pela vida de aposentadoria. Segundo estudos do IBGE (2002) as estimativas para os próximos 20 anos indicam que a população idosa poderá exceder 30 milhões de pessoas, chegando a representar quase 13% da população brasileira. Os estudos mostram que a população de idosos vem crescendo mais rapidamente que a população de crianças. Concomitante a isso, estudos apresentados pelo Ministério da Saúde apontam que em nosso país mais de 85 % dos idosos apresentam uma enfermidade crônica e cerca de 15% dos idosos apresentam pelo menos 5 enfermidades crônicas, resultando na procura constante ao atendimento à saúde (IBGE, 2002). O aumento da incidência de Doenças Crônicas O aumento das doenças crônicas na população acarreta uma demanda de pacientes com necessidades de tratamento constante. O Home Care, neste sentido, evita a internação deste paciente, já que os cuidados a serem realizados na maioria das patologias consideradas como crônicas podem serdesenvolvidos no domicílio. O alto custo no uso de tecnologias diagnósticas e de tratamento Cada vez mais o investimento na área de saúde preventiva e curativa vem aumentando os custos das tecnologias diagnósticas, aumentando, consequentemente, os valores para manter o tratamento de pacientes no ambiente hospitalar, ou mesmo em forma ambulatorial de atendimento em hospitais ou centros diagnósticos. Quando um Home Care está ligado a um plano de saúde ocorre a redução dos custos pelos usuários do plano mantendo uma qualidade de vida adequada sem interferir no desenvolvimento de ações para diagnóstico e tratamento. O Home Care pode agir de forma preventiva, focalizando os riscos das doenças antes que a mesma se instale no paciente, diminuindo custos com tecnologia diagnóstica, já que estará envolvido na saúde preventiva. 22 O aumento do interesse de cuidados próprios Mesmo não sendo tão conhecida pelos pacientes, por ainda haver o paradigma de que sempre a internação hospitalar é o melhor caminho, a modalidade de atendimento domiciliar Home Care vem mostrando, principalmente nos maiores centros do país, a facilidade e resolutividade no atendimento domiciliar. Com a conscientização, tanto familiares como os próprios pacientes compreendem esta forma de gerenciar o cuidado como uma maneira mais humanizada, já que, na maioria das situações os pacientes possuem um cuidador informal, alguém que está presente por todo o tempo no domicílio e que será responsável pela detectação de sinais e sintomas. • Os recursos financeiros insuficientes destinados à saúde pelo governo Quanto menos recursos são destinados à saúde pelo governo menos necessidades da população são atendidas. Com isso, muitos indivíduos buscam apoio na saúde privada, inserido-se neste contexto as empresas de Home Care e os Planos de saúde. Alguns hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde utilizam como estratégia de ação o atendimento domiciliar para diminuir seus custos com pacientes internados, sendo uma maneira de direcionar o cuidado qualificando sem, contudo, intervir na terapêutica. • As dificuldades nas instituições hospitalares Atualmente, diante das dificuldades das instituições hospitalares, tem-se tentado focalizar o paciente que realmente possui a necessidade de permanecer dentro desta instituição para tratamento, enquanto os demais podem e devem ser encaminhados para um serviço de atendimento domiciliar. • A necessidade de gerenciamento de custo de riscos pelos planos de saúde. 23 A atuação do Home Care nos Planos de Saúde está diretamente relacionada à qualidade de vida dos usuários e à diminuição dos custos relacionados às internações e/ou aos tratamentos empregados nas situações de diagnóstico e tratamento. Nesta visão utilizam-se ações preventivas de acompanhamento de usuários mediante os riscos no aparecimento de doenças. Objetivos do Home Care Segundo Floriani e Schramm (2004) os principais objetivos de um serviço de Atendimento Domiciliar são: • Contribuir para a otimização dos leitos hospitalares e do atendimento ambulatorial, visando a redução de custos; • Reintegrar o paciente ao seu núcleo familiar e de apoio; • Proporcionar assistência integrada e humanizada por meio de uma maior aproximação da equipe de saúde com a família; • Estimular uma maior participação do paciente e de sua família no tratamento proposto; • Promover educação em saúde; • Ser um campo de ensino e pesquisa. Economicamente está comprovado que o atendimento domiciliar reduz os custos com internação de pacientes nos hospitais, como também otimiza a utilização de leitos por aqueles que realmente necessitam estar em ambiente hospitalar, ou seja, não são pacientes potenciais para Home Care. A integração com a família é importante para restabelecer o paciente. Também nesse contexto pode-se citar a presença do cuidador como indispensável para melhor recuperação e acompanhamento do paciente em seu tratamento domiciliar. Mesmo com a atuação da equipe de atendimento domiciliar é importante sempre identificar um componente como sendo a referência em cuidador. 24 O Projeto Lei do Congresso Nacional nº (descrito na íntegra no Anexo 1) cria a profissão do cuidador: de acordo com o proposto neste projeto, o profissional “cuidador” tem por finalidade o serviço domiciliar extra-institucional de saúde, prestado a pessoas cuja saúde debilitada, idade avançada ou limitação temporária ou crônica impeçam-nas de realizar tarefas básicas da vida, como locomoção, alimentação e higiene. O exercício desta profissão só poderá ser feito, segundo o projeto de lei, por meio da conclusão do Ensino Fundamental e de curso de qualificação básica para formação de cuidador, sendo que o conteúdo do curso será elaborado e estabelecido pelo Ministério da Saúde. As atividades dos cuidadores citados neste projeto não compreendem atividades privativas dos profissionais de saúde. O projeto está sendo analisado pela câmara de deputados. O atendimento domiciliar proporciona à equipe que presta este serviço, um conhecimento maior frente à realidade de vivências de seus pacientes, podendo propor ações dentro desta realidade, o que torna o cuidado mais eficiente, no sentido de evitar danos e futuras reiternações. Benefícios do Home Care Os mesmos autores relacionam como benefícios de um atendimento domiciliar: • Diminuição das reinternações e dos custos hospitalares; • Redução dos riscos de infecção hospitalar; • Manutenção do paciente no núcleo familiar; • Aumento da qualidade de vida dele e de seus familiares. Regulamentação em Home Care Para qualificar o entendimento sobre o Home Care é importante conhecer as principais resoluções vigentes sobre o assunto, dentre elas citam-se a RDC n° 11 e 25 n° 07 que regulamentam tecnicamente os serviços que prestam atendimento domiciliar, bem como as resoluções de categorias profissionais que descrevem as funções no atendimento junto à equipe multiprofissional. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC n°11 de 26 de janeiro de 2006. No dia 26 de janeiro de 2006 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou a RDC (Resolução da Diretoria Colegiada) nº 11 que regulamenta a atividade de Assistência Domiciliar no Brasil. Em seu Regulamento Técnico descreve os principais fundamentos para o funcionamento de tais empresas, como pode ser observado no anexo 1. RDC n° 11 – Anexo “Regulamento Técnico para o funcionamento de Serviços de Atenção Domiciliar” 1. Objetivo Estabelecer os requisitos de funcionamento para os Serviços de Atenção Domiciliar. 2. Abrangência do Regulamento Esta resolução é aplicável a todos os Serviços de Atenção Domiciliar, públicos ou privados, que oferecem assistência e ou internação domiciliar. 3. Definições 3.1 Admissões em Atenção domiciliar: processo que se caracteriza pelas seguintes etapas: indicação, elaboração do Plano de Atenção Domiciliar e início da prestação da assistência ou internação domiciliar. 3.2 Alta da Atenção domiciliar: ato que determina o encerramento da prestação de serviços de atenção domiciliar em função de: internação hospitalar, alcance da estabilidade clínica, cura, a pedido do paciente e/ou responsável, óbito. 26 3.3 Atenções domiciliar: termo genérico que envolve ações de promoção à saúde, prevenção, tratamento de doenças e reabilitação desenvolvidas em domicílio. 3.4 Assistências domiciliar: conjunto de atividades de caráter ambulatorial, programadas e continuadas desenvolvidas em domicílio. 3.5 Cuidador: pessoa com ou sem vínculo familiar capacitada para auxiliar o paciente em suas necessidades e atividades da vida cotidiana. 3.6 Equipes Multiprofissionais de AtençãoDomiciliar – EMAD: profissionais que compõem a equipe técnica da atenção domiciliar, com a função de prestar assistência clínico-terapêutica e psicossocial ao paciente em seu domicílio. 3.7 Internação Domiciliar: conjunto de atividades prestadas no domicílio, caracterizadas pela atenção em tempo integral ao paciente com quadro clínico mais complexo e com necessidades de tecnologia especializada. 3.8 Plano de Atenção Domiciliar – PAD: documento que contempla um conjunto de medidas que orienta a atuação de todos os profissionais envolvidos de maneira direta e ou indireta na assistência a cada paciente em seu domicílio desde sua admissão até a alta. 3.9 Serviço de Atenção Domiciliar – SAD: instituição pública ou privada responsável pelo gerenciamento e operacionalização de assistência e/ou internação domiciliar. 3.10 Tempo de Permanência: período compreendido entre a data de admissão e a data de alta ou óbito do paciente. 4. Condições Gerais 4.1 O SAD deve possuir alvará expedido pelo órgão sanitário competente. 4.2 O SAD deve possuir como responsável técnico um profissional de nível superior da área da saúde, habilitado junto ao respectivo conselho profissional. 4.3 O SAD deve estar inscrito no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – CNES. 4.4 O SAD deve possuir um regimento interno que defina o tipo de atenção domiciliar prestada e as diretrizes básicas que norteiam seu funcionamento. 27 4.5 O SAD deve elaborar manual e normas técnicas de procedimentos para a atenção domiciliar, de acordo com a especificidade da assistência a ser prestada. 4.6 A atenção domiciliar deve ser indicada pelo profissional de saúde que acompanha o paciente. 4.7 O profissional de saúde que acompanha o paciente deve encaminhar ao SAD relatório detalhado sobre as condições de saúde e doença do paciente contendo histórico, prescrições, exames e intercorrências. 4.8 A equipe do SAD deve elaborar um Plano de Atenção Domiciliar – PAD. 4.9 O PAD deve contemplar: 4.9.1. A prescrição da assistência clínico-terapêutica e psicossocial para o paciente; 4.9.2. Requisitos de infra-estrutura do domicílio do paciente, necessidade de recursos humanos, materiais, medicamentos, equipamentos, retaguarda de serviços de saúde, cronograma de atividades dos profissionais e logística de atendimento; 4.9.3. O tempo estimado de permanência do paciente no SAD considerando a evolução clínica, superação de déficits, independência de cuidados técnicos e de medicamentos, equipamentos e materiais que necessitem de manuseio de profissionais; 4.9.4. A periodicidade dos relatórios de evolução e acompanhamento. 4.10 O PAD deve ser revisado de acordo com a evolução e acompanhamento do paciente e a gravidade do caso. 4.10.1 A revisão do PAD deve conter data, assinatura do profissional de saúde que acompanha o paciente e do responsável técnico do SAD. 4.11 O registro dos pacientes em atenção domiciliar e o PAD devem ser mantidos pelo SAD. 4.12 O SAD deve manter um prontuário domiciliar com o registro de todas as atividades realizadas durante a atenção direta ao paciente, desde a indicação até a alta ou óbito do paciente. 28 4.12.1 O prontuário domiciliar deve conter identificação do paciente, prescrição e evolução multiprofissional, resultados de exames, descrição do fluxo de atendimento de Urgência e Emergência, telefones de contatos do SAD e orientações para chamados. 4.12.2 O prontuário deve ser preenchido com letra legível e assinado por todos os profissionais envolvidos diretamente na assistência ao paciente. 4.12.3 Após a alta ou óbito do paciente o prontuário deve ser arquivado na sede do SAD, conforme legislação vigente. 4.12.4 O SAD deve garantir o fornecimento de cópia integral do prontuário quando solicitado pelo paciente ou pelos responsáveis legais. 4.13 O SAD deve fornecer aos familiares dos pacientes e/ou cuidadores orientações verbais e escritas, em linguagem clara, sobre a assistência a ser prestada, desde a admissão até a alta. 4.14 O SAD deve prover por meio de recursos próprios ou terceirizados, profissionais, equipamentos, materiais e medicamentos de acordo com a modalidade de atenção prestada e o perfil clínico do paciente. 4.15 O SAD deve observar, como critério de inclusão para a internação domiciliar, se o domicílio dos pacientes consta com suprimento de água potável, fornecimento de energia elétrica, meio de comunicação de fácil acesso, facilidade de acesso para veículos e ambiente com janela, especifico para o paciente, com dimensões mínimas para um leito e equipamentos. 4.16 O SAD deve controlar o abastecimento domiciliar de equipamentos, materiais e medicamentos conforme prescrição e necessidade de cada paciente, assim como meios para atendimento a solicitações emergenciais. 4.17 O SAD deve assegurar o suporte técnico e a capacitação dos profissionais envolvidos na assistência ao paciente. 4.18 O SAD deve estabelecer contrato formal, quando utilizar serviços terceirizados, sendo que estes devem ter obrigatoriamente Alvará Sanitário atualizado. 4.19 O SAD deve elaborar e implementar um Programa de Prevenção e Controle de Infecções e 29 Eventos Adversos (PCPIEA) visando a redução da incidência e da gravidade desses eventos. 4.20 O SAD deve possuir sistema de comunicação que garanta o acionamento da equipe, serviços de retaguarda, apoio ou suporte logístico em caso de urgência e emergência. 4.21 O SAD deve garantir aos pacientes que estão em regime de internação domiciliar, a remoção ou retorno à internação hospitalar nos casos de urgência e emergência. 5.5 Condições Específicas 5.1 O SAD deve assegurar os seguintes serviços básicos de retaguarda de acordo com a necessidade de cada paciente e conforme estabelecido no PAD: 5.1.1 referência para atendimento de urgência e emergência e internação hospitalar formalmente estabelecida; 5.1.2 referência ambulatorial para avaliações especializadas, realização de procedimentos específicos e acompanhamento pós alta. 5.2 O SAD deve assegurar os seguintes suportes diagnósticos e terapêuticos de acordo com o PAD: 5.2.1 exames laboratoriais, conforme RDC/ANVISA nº 302 de 2005; 5.2.2 exames radiológicos, conforme Portaria SVS/MS nº 453 de 1998; 5.2.3 exames por métodos gráficos; 5.2.4 hemoterapia, conforme RDC/ANVISA nº 153 de 2004; 5.2.5 quimioterapia, conforme RDC/ANVISA nº 220 de 2004; 5.2.6 diálise, conforme RDC/ANVISA nº 154, de 2004; 5.2.6.1 na realização de hemodiálise o dialisador deve ser de uso único. 5.2.7 assistência respiratória com oferta de equipamentos, materiais e gases medicinais compreendendo procedimentos de diferentes graus de complexidade; 5.2.7.1 a ventilação mecânica invasiva só é permitida na modalidade de internação domiciliar com acompanhamento do profissional da Equipe Multiprofissional de Atenção domiciliar – EMAD; 30 5.2.7.1.1 caso o equipamento seja acionado por energia elétrica o domicílio deve ser cadastrado na companhia de fornecimento de energia elétrica local; 5.2.7.1.2 deve haver sistema alternativo de energia elétrica ligado ao equipamento com acionamento automático em no mínimo 0,5 segundos; 5.2.7.2 quando houver instalação de sistemas de suprimento de gases medicinais canalizada, esta deve estar de acordo com a NBR 12.188; 5.2.7.3 O enchimento dos cilindros de gases medicinais não deve ser realizado no domicílio do paciente. 5.2.8 Nutrição Parenteral conforme Portaria SVS/MS nº 272 de 1998; 5.2.8.1 compete a EMAD verificar e orientar as condições de conservação da nutrição seguindo as exigências do regulamento do item 5.2.8. 6. Recursos humanos 6.1 O SAD deve possuir EMAD que atenda ao seu perfil de demanda e ser dimensionada para o atendimento de cada paciente conforme o PAD. 6.2 O SAD deve garantireducação permanente para a EMAD. 6.2.1 As capacitações devem ser registradas contendo nome do responsável, especificação de conteúdo, lista de participantes assinada, data e tempo de duração das atividades. 6.3 O SAD que mantiver em estoque medicamentos sujeitos ao controle especial deve contar com farmacêutico habilitado, conforme Portaria SVS/MS nº 344, de 1998. 6.3.1 caso o SAD esteja inserido em um serviço de saúde, pode contar com o apoio do profissional da farmácia do mesmo. 6.4 O SAD deve garantir o fornecimento e orientar o uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI), conforme as atividades desenvolvidas. 7. Infra-estrutura física 7.1 O domicílio do paciente deve possibilitar a realização dos procedimentos prescritos no PAD. 7.2 Infra-estruturas da Sede do SAD 31 7.2.1 O SAD deve possuir infra-estrutura física conforme a RDC/ANVISA nº 50 de 2002; com os seguintes ambientes: 7.2.1.1 recepção; 7.2.1.2 área de trabalho para a equipe administrativa com arquivo; 7.2.1.3 área de trabalho para a EMAD; 7.2.1.4 almoxarifado; 7.2.1.5 instalações de conforto e higiene; 7.2.2 O SAD que estiver inserido em um serviço de saúde pode compartilhar os ambientes descritos no item 7.3.1. 8. Equipamentos, medicamentos e materiais 8.1 O SAD deve prover equipamentos, medicamentos e materiais conforme definido no PAD. 8.2 Os equipamentos, medicamentos e materiais devem estar regularizados junto à ANVISA/MS, conforme legislação vigente. 8.3 O SAD deve possuir um sistema de controle que permita a rastreabilidade dos equipamentos, dos medicamentos e dos materiais. 8.4 O transporte de equipamentos, medicamentos e materiais deve ser efetuado conforme orientação do fabricante, de forma a garantir sua integridade. 8.5 Os equipamentos devem estar calibrados periodicamente, conforme instruções do fabricante. 8.6 O SAD deve garantir a manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos e manter registros das mesmas. 8.7 Para a instalação dos equipamentos no domicílio, o SAD deve: 8.7.1 Verificar as condições de instalação conforme manual de operação do fabricante; 8.7.2 Realizar os testes de funcionamento dos equipamentos; 8.7.3 Orientar o paciente, os familiares e cuidadores quanto ao manuseio dos equipamentos e os riscos a eles associados. 8.8 O SAD deve substituir prontamente os equipamentos com problemas de operação. 32 8.9 O SAD deve fornecer bateria dos equipamentos de suporte a via. 9. Procedimentos de suporte técnico e logístico 9.1 O SAD deve garantir a implantação das normas e rotinas de limpeza e desinfecção de artigos, superfícies e equipamentos utilizados diretamente na assistência ao paciente, sob supervisão do responsável pelo PCPIEA. 9.2 O responsável técnico do SAD deve elaborar e implantar o plano de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde – PGRSS, conforme RDC/ANVISA nº 306, de 2004. 10. Avaliação da assistência domiciliar 10.1 Compete ao SAD a realização continuada de avaliação do desempenho e padrão de funcionamento global. 10.2 A avaliação referida no item 10.1 deve ser realizada levando em conta os indicadores abaixo: N º Indicado r Fórmula e Unidade Frequência de Produção 1 Taxa de mortalidade para a modalidade internação domiciliar (Número de óbitos de pacientes em internação domiciliar no mês / Todos os pacientes que receberam atenção na modalidade internação domiciliar no mês) * 100 (%) Mensal 2 Taxa de internação após atenção domiciliar (Número de pacientes em atenção domiciliar que necessitaram de internação hospitalar no mês / Todos os pacientes que receberam atenção domiciliar no Mensal 33 mês) * 100(%) 3 Taxa de infecção para a modalidade internação domicilia r (Número de pacientes em internação domiciliar com episódios de infecção no mês / Todos os pacientes que receberam atenção na modalidade internação domiciliar no mês) * 100 (%) Mensal 4 Taxa de alta da modalidade assistência domicilia r (Número de pacientes em assistência domiciliar que receberam alta no mês / Todos os pacientes que receberam atenção na modalidade assistência domiciliar no mês) * 100 (%) Mensal 5 Taxa de alta da modalidade internação domicilia r (Número de pacientes em internação domiciliar que receberam alta no mês / Todos os pacientes que receberam atenção na modalidade internação domiciliar no mês) * 100 (%) Mensal 1 – Pacientes que receberam atenção domiciliar no mês: considerar o número de pacientes do dia 15 de cada mês. 10.3 O SAD deve encaminhar à Vigilância Sanitária local o consolidado dos indicadores do semestre anterior em todos os meses de janeiro e julho. 34 10.4 O consolidado do município deverá ser encaminhado à Secretaria Estadual de Saúde e o consolidado dos estados à ANVISA. 11. Disposições transitórias 11.1 O SAD já em funcionamento têm prazo máximo de 365 dias após a publicação, para se adequar às disposições deste regulamento. 11.2 Para o início ou reinício das atividades os serviços devem atender na íntegra as disposições deste regulamento. O PAD – Plano de Atendimento Domiciliar que se refere a RDC nº 11 é um dos principais mecanismos de acompanhamento da assistência programada e realizada ao paciente enquanto este estiver sob atenção domiciliar. Tanto nos casos de assistência domiciliar como internação domiciliar. A visita domiciliar realizada pela equipe multiprofissional de saúde é primordial e essencial, para que, observando a realidade do ambiente em que o paciente reside, possa concluir sobre a eficiência do atendimento domiciliar e a perspectiva que o paciente terá neste domicílio. O paciente na admissão do atendimento domiciliar recebe primeiramente, visita da equipe multiprofissional de atendimento domiciliar, e após conforme o preenchimento dos requisitos (de domicílio e complexidade), e conversa entre os membros da equipe é considerado paciente possível desta modalidade ou não. Nos casos de internação domiciliar, o paciente poderá estar em regime de internação hospitalar, a EMAD realiza a visitação ao paciente no hospital (em concordância com o médico assistente, se este não fizer parte da EMAD) e no domicílio para verificar as condições de infra-estrutura. A família deve sempre participar do processo de admissão do paciente ao atendimento domiciliar, já que neste momento de conversa e visitação ao domicílio, a EMAD também identificará um potencial cuidador, que será a pessoa responsável por passar informações a respeito do paciente (sinais, sintomas). 35 Resolução da Diretoria Colegiada - RDC Nº. 7, DE 2 de fevereiro de 2007 Prorroga prazo da Resolução RDC nº. 11, de 26 de janeiro de 2006, que dispõe sobre o Regulamento Técnico de Funcionamento de Serviços que prestam Atenção Domiciliar. A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, considerando a necessidade de adequação do sistema do Cadastro Nacional de estabelecimentos de saúde para o a inscrição dos serviços de atenção domiciliar, adota a seguinte Resolução: Art. 1º Prorrogar, até 31 de dezembro de 2007, o prazo previsto no item “11. Disposições Transitórias” da Resolução - RDC nº. 11, de 26 de janeiro de 2006, para que os Serviços que prestam Atenção Domiciliar - SAD atendam o disposto no item 4.3 do mesmo Regulamento Técnico, referente à inscrição no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde- CNES. Após a divulgação da RDC nº 11 de 2006 as empresas de Home Care foram obrigadas a realizar a inscrição no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – CNES. Entretanto, o Ministério da Saúde e ANVISA não reconheciam as empresas como estabelecimentos de saúde, não sendo possívela realização da inscrição. Neste sentido, a RDC nº 7 foi criada para prorrogar a inscrição no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – CNES. Frente a este impasse, a ANVISA, Ministério da Saúde e ANS, formaram uma comissão para estudar o cadastramento e classificação destas empresas. Até julho de 2008 este estudo e classificação estavam em andamento, impossibilitando a inscrição do Home Care no CNES. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 A Lei nº 8.080 de 19 de setembro de 1990 dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde como também descreve a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Em seu 36 capítulo VI descreve sobre o Subsistema de atendimento e internação domiciliar, conforme consta a seguir: Art. 19-I. São estabelecidos, no âmbito do Sistema Único de Saúde, o atendimento domiciliar e a internação domiciliar. (Artigo acrescentado pela Lei nº 10.424, de 15.4.2002) § 1o Na modalidade de assistência de atendimento e internação domiciliares incluem-se, principalmente, os procedimentos médicos, de enfermagem, fisioterapêuticos, psicológicos e de assistência social, entre outros necessários ao cuidado integral dos pacientes em seu domicílio. (Parágrafo acrescentado pela Lei nº 10.424, de 15.4.2002); § 2o O atendimento e a internação domiciliares serão realizados por equipes multidisciplinares que atuarão nos níveis da medicina preventiva, terapêutica e reabilitadora. (Parágrafo acrescentado pela Lei nº 10.424, de 15.4.2002) § 3o O atendimento e a internação domiciliares só poderão ser realizados por indicação médica, com expressa concordância do paciente e de sua família. (Parágrafo acrescentado pela Lei nº 10.424, de 15.4.2002). Portaria SUS Em outubro de 2006 o Ministério da Saúde publicou a Portaria nº 2529, de 19 de outubro de 2006, que institui a Internação Domiciliar no Âmbito do Sistema Único de Saúde além de outras disposições, inclusive sobre o funcionamento das equipes multiprofissionais de atendimento domiciliar e seus recursos, conforme esta descrito no anexo x: Portaria nº 2529 de 19 de outubro de 2006 – Institui a Internação Domiciliar Hospitalar no âmbito do SUS. Art. 1º Instituir a Internação Domiciliar no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS. 37 Art. 2º Definir como Internação Domiciliar, no âmbito do SUS, o conjunto de atividades prestadas no domicílio a pessoas clinicamente estáveis que exijam intensidade de cuidados acima das modalidades ambulatoriais, mas que possam ser mantidas em casa, por equipe exclusiva para este fim. Art. 3º Definir que os Serviços de Internação Domiciliar são compostos de: I - Equipes Multiprofissionais de Internação Domiciliar, compostas, no mínimo, por médico, enfermeiro e técnico ou auxiliar de enfermagem; e II - Equipes Matriciais de Apoio, podendo ser compartilhadas por várias equipes ou serviços de Internação Domiciliar, ou mesmo com a rede de serviços de saúde, composta por outros profissionais de nível superior, levando em consideração o perfil da atenção a ser prestada e os protocolos firmados. Art. 4º Definir que uma Equipe Multiprofissional de Internação Domiciliar esteja referida a uma população mínima de 100.000 (cem mil) habitantes. Parágrafo único. Os municípios poderão habilitar uma equipe por grupo populacional de referência de 100.000 (cem mil) habitantes. Art. 5º Definir como meta a média de 30 (trinta) internações/mês por equipe, com média de permanência de até 30 (trinta) dias. Art. 6º Definir que os Serviços de Internação Domiciliar garantam retaguarda no período da noite e finais de semana para as pessoas sob cuidado das equipes. Art. 7º Estabelecer, de acordo com os Anexos I e II a esta Portaria o roteiro e as condições mínimas para credenciamento dos Serviços de Internação Domiciliar que deverão ser explicitadas na elaboração dos programas locais de internação domiciliar. Art. 8º Estabelecer como prioridade de eleição os seguintes grupos populacionais: I - idoso; II - portadores de doenças crônico-degenerativas agudizadas; III - portadores de patologias que necessitem de cuidados paliativos; e IV - portadores de incapacidade funcional, provisória ou permanente. 38 Parágrafo único. Outras prioridades, além das definidas, poderão ser estabelecidas localmente. Art. 9º Definir a exclusão de usuários, dada a complexidade do modelo proposto: I - com necessidade de ventilação mecânica; II - com necessidade de monitorização contínua; III - com necessidade de enfermagem intensiva; IV - com necessidade de propedêutica complementar com demanda potencial de realização de vários procedimentos diagnósticos em sequência com urgência: V - em uso de medicação complexa com efeitos colaterais potencialmente graves, ou de difícil administração; VI - com necessidade de tratamento cirúrgico em caráter de urgência; e VII - que não tenham cuidador contínuo identificado. Parágrafo único. Outros critérios de exclusão definidas pelos protocolos locais. Art. 10. Estabelecer que os serviços que preencherem os requisitos constantes nesta Portaria passem a dispor das condições necessárias para se integrarem ao Sistema Único de Saúde e receberem a remuneração por equipe em funcionamento, de acordo com os tetos financeiros previstos pelo Ministério da Saúde para os estados, o Distrito Federal e os municípios. Art. 11. Estabelecer recursos no montante de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) por equipe, por mês, a serem incorporados aos limites financeiros anuais dos estados, do Distrito Federal ou dos municípios. Parágrafo único. Não serão admitidas superposições de equipes em uma mesma base territorial ou populacional. Art. 12. Instituir incentivo financeiro para implementação e funcionamento das equipes de internação domiciliar em parcela única, no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) por equipe. 39 Art. 13. Estabelecer que os recursos orçamentários, objeto desta Portaria, corram por conta do orçamento do Ministério da Saúde, devendo onerar o Programa de Trabalho 10.302.1220.8585-0035 Atenção à Saúde da População nos Municípios Habilitados em Gestão Plena do Sistema e nos Estados Habilitados em Gestão Plena Avançada. Art. 14. Caberá à Secretaria de Atenção à Saúde (SAS/MS) a regulamentação desta Portaria, bem como a adoção das medidas necessárias ao fiel cumprimento do que nela está disposto. Art. 15. Esta Portaria entra em vigor na data da sua publicação,. Ar. 16. Fica revogada a Portaria nº 2.416/GM, de 23 de março de 1998, publicada no Diário Oficial n° 58, de 26 de março de 1998, página 106, Seção 1. A internação domiciliar realizada pelo SUS poderá ser executada mediante o credenciamento da instituição de saúde e/ou empresa de atendimento domiciliar que esteja vinculada ao Sistema Único de Saúde e que atenda as exigências constantes na portaria. Recursos Humanos Tanto a RDC nº 11 como a Portaria nº 2529, caracterizam como indispensável a presença de Equipe Multiprofissional de Atendimento Domiciliar no desenvolvimento de ações em caráter de domicílio. Conforme estas regulamentações os profissionais exigidos são o médico, o enfermeiro e o técnico de enfermagem, sendo que a partir do diagnóstico e ações adotadas serão identificados os demais agentes que poderão intervir nesta atividade. Conselho Federal de Medicina A Resolução nº 1.668/2003 do Conselho Federal de Medicina Publicada no D.O.U em 03 de junho de 2003, Seção I, pg.84 dispõe sobre as normas técnicas necessárias à assistência domiciliar de paciente definindo as responsabilidades do médico, hospital, empresas públicas e privadas e a interface profissional neste tipo de assistência,conforme segue abaixo: 40 Art. 1º - Todas as empresas públicas e privadas prestadoras de assistência à internação domiciliar deverão ser cadastradas/registradas no Conselho Regional do estado onde operam. Parágrafo 1º - Este cadastro/registro deve ser acompanhado da apresentação do Regimento Interno que estabeleça as normas de funcionamento da empresa, o qual deverá ser homologado pelo Conselho Regional. Parágrafo 2º - As empresas, hospitalares ou não, devem ter um diretor técnico, necessariamente médico, que assumirá, perante o Conselho, a responsabilidade ética de seu funcionamento. Parágrafo 3º - As empresas, hospitalares ou não, responsáveis pela assistência a paciente internado em regime domiciliar devem ter, por força de convênio, contrato ou similar, hospital de retaguarda que garanta a reinternacão nos casos de agudização da enfermidade ou intercorrência de alguma condição que impeça a continuidade do tratamento domiciliar e exija a internação formal, que deve ser preferencialmente feita no hospital de origem do paciente. Art. 2º - As empresas ou hospitais que prestam assistência em regime de internação domiciliar devem manter um médico de plantão nas 24 horas, para atendimento às eventuais intercorrências clínicas. Art. 3º - As equipes multidisciplinares de assistência a pacientes internados em regime domiciliar devem dispor, sob a forma de contrato ou de terceirização, de profissionais de Medicina, Enfermagem, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Serviço Social, Nutrição e Psicologia. Parágrafo único - As equipes serão sempre coordenadas pelo médico, sendo o médico assistente o responsável maior pela eleição dos pacientes a serem contemplados por este regime de internação e pela manutenção da condição clínica dos mesmos. Art. 4º - A assistência domiciliar somente será realizada após avaliação médica, registrada em prontuário específico. Art. 5º- A atribuição dos demais membros da equipe multidisciplinar deverá ser estabelecida pelo conselho profissional de cada componente. 41 Art. 6º- As normas de funcionamento às quais se refere o parágrafo primeiro do artigo primeiro devem contemplar os protocolos de visitas e o número de pacientes internados sob a responsabilidade de cada equipe. Parágrafo 1º - Os protocolos de visitas devem estabelecer o número mínimo de visitas de cada componente da equipe ao paciente internado no domicílio. Parágrafo 2º - O número máximo de pacientes internados no domicílio sob a responsabilidade de um médico, não poderá exceder a quinze. Art. 7º - O médico assistente de paciente internado em instituição hospitalar e que quer submeter-se à internação domiciliar tem a prerrogativa de decidir se deseja manter o acompanhamento no domicílio. Parágrafo único - Em caso de recusa, o médico assistente deve fornecer ao novo médico que irá prestar assistência domiciliar todas as informações concernentes ao quadro clínico do paciente, sob a forma de laudo circunstanciado, nos termos do artigo 71 do Código de Ética Médica. Art. 8º - O hospital ou empresa responsável por pacientes internados em domicílio deve(m) dispor das condições mínimas que garantam uma boa assistência, caracterizadas por: I - Ambulância para remoção do paciente, equipada à sua condição clínica; II - Todos os recursos de diagnóstico, tratamento, cuidados especiais, matérias e medicamentos necessários; III - Cuidados especializados necessários ao paciente internado; IV - Serviço de urgência próprio ou contratado, plantão de 24 horas e garantia de retaguarda, nos termos do parágrafo 3º do artigo 1º e do artigo 2º desta resolução. Art. 9º - Em caso de óbito durante a assistência domiciliar, o médico assistente do paciente assumirá a responsabilidade pela emissão da competente declaração. 42 Art.10 - A assistência domiciliar poderá ser viabilizada após anuência expressa do paciente ou de seu responsável legal, em documento padronizado que deverá ser apensado ao prontuário. Art.11 - O profissional médico, em conjunto com o diretor técnico da instituição prestadora da assistência, deverá tomar medidas referentes à preservação da ética médica, especialmente quanto ao artigo 30 do Código de Ética Médica, que veda delegar a outros profissionais atos ou atribuições exclusivos da profissão médica. Art. 12 - Esta resolução entra em vigor na data de sua aprovação. O Conselho Federal de Medicina regulamenta o médico como responsável técnico da atividade de atendimento domiciliar, e, por conseguinte, o responsável por optar o paciente que está dentro das possibilidades para internação domiciliar. Um médico poderá atender no máximo 15 pacientes em regime de internação domiciliar. E todo o serviço de Home Care deverá ter um médico de plantão 24 horas para atender as urgências/emergências. Esta Resolução também adiciona a figura de outros profissionais como o nutricionista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicólogo e assistente social, além da equipe de enfermagem e médica, para constituir a Equipe Multiprofissional de Atendimento Domiciliar. Conselho Federal de Enfermagem – COFEN O Conselho Federal de Enfermagem, na Resolução nº 267/2001, aprova as atividades de Enfermagem em Domicílio - Home Care, e dispõe sobre as atividades do profissional de enfermagem no cuidado domiciliar, conforme descrito no anexo abaixo: Anexo da RESOLUÇÃO COFEN Nº 267/2001 Define-se por "ENFERMAGEM EM DOMICÍLIO-HOME CARE" a prestação de serviços de saúde ao cliente, família e grupos sociais em domicílio, e de acordo com 43 a RESOLUÇÃOCOFEN Nº 256 de 12 de julho de 2001, esta modalidade assistencial exprime, significativamente, a autonomia e o caráter liberal do profissional enfermeiro. Estas atividades estão previstas nos seguintes níveis de complexidade: - menor complexidade: Neste nível está caracterizado a investigação do processo saúde/doença. O cliente necessita de procedimentos técnico-científicos de Enfermagem relacionada às prevenções, promoção e manutenção do estilo de vida saudável; - média complexidade: Neste nível não se dá a caracterização de uma doença em curso. Entretanto, o cliente necessita de procedimentos técnico-científicos de Enfermagem que definirá o modelo assistencial aplicado à clientela visando a deliberação do dano, invalidez e a reabilitação da mesma com retorno ao seu estado de vida; - alta complexidade: Neste nível o cliente apresenta uma doença em curso, cujo atendimento em domicílio deverá ser multiprofissional, ocorrendo a internação domiciliar, ficando assegurado à complexidade do especialista em Enfermagem em Domicílio. I- É da competência privativa do Enfermeiro em Domicílio- Home Care atuar nas seguintes funções: assistencial, administrativa, educativa e de pesquisa: a) Função Assistencial: - Identificar, diagnosticar, prescrever e avaliar sobre a prestação do cuidado de saúde e enfermagem a ser realizada em domicílio do cliente, família e/ou grupo social; - Organizar, dirigir, planejar, coordenar e avaliar os serviços de saúde realizados pela enfermagem em domicílio; - Fazer o prognóstico de enfermagem de acordo com os níveis de complexidade do cliente no domicílio, atendendo as interfaces de intercorrências clínicas; 44 - Assumir, como prerrogativas as atividades da responsabilidade de planejar, executar, delegar, supervisionar e avaliar a assistência de Enfermagem através do SAE (Sistematização do Atendimento de Enfermagem) de instrumentos de controle de qualidade das assistências realizadas; - Identificar e classificar as condições que predispõem a riscos de saúde, fazendo referências do caso clínico, através de pareceres sistemáticos, cabendo-lhe a delegação de responsabilidades assistenciais ao pessoal de enfermagem;
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