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Livro - Fundamentos Teoricos de Esportes Individuais e Coletivos

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FUNDAMENTOS 
TEÓRICOS DE ESPORTES 
INDIVIDUAIS E COLETIVOS
João Paulo dos Passos-Santos
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Curitiba
2019
Fundamentos Teóricos 
de Esportes Individuais 
e Coletivos
João Paulo dos Passos-Santos
Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael.
P289f Passos-Santos, João Paulo dos
Fundamentos teóricos de esportes individuais e coletivos / João 
Paulo dos Passos-Santos. – Curitiba: Fael, 2019.
352 p.: il.
ISBN 978-85-5337-078-8
1. Jogos - Técnicas I. Título
CDD 796
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
FAEL
Direção Acadêmica Fabio Heinzen Fonseca
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão Editora Coletânea
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Imagem da Capa Shutterstock.com/Eugene Onischenko
Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo
Sumário
Carta ao Aluno | 5
1. Fundamentos históricos e antropológicos 
dos esportes: antes de tudo o jogo | 7
2. O que são esportes individuais e coletivos? | 31
3. Modalidades esportivas: especificidades 
e objetividades | 65
4. Abordagens gerais do ensino esportivo | 99
5. Iniciação esportiva: como iniciar a vida esportiva? | 133
6. Características técnicas, táticas e 
normatizações no esporte | 163
7. Esporte escolar e a questão da cultura | 201
8. Esportes em âmbitos não escolares: lazer, escolinha 
de treinamento e profissionalização | 229
9. Populações com necessidades específicas 
e a prática esportiva | 263
10. Práticas esportivas alternativas: para além 
do esporte convencional | 295
Gabarito | 325
Referências | 335
Prezado(a) aluno(a),
Os esportes estão entre os fenômenos socioculturais mais 
importantes da humanidade. Por tal motivo, compreendê-los 
pode ser muito significativo às pessoas, especialmente às que se 
interessam por estudos relacionados à cultura humana.
Nessa obra, você irá descobrir os aspectos históricos e 
antropológicos dos esportes individuais e coletivos, além do 
estudo teórico-prático de diversas abordagens pedagógicas para 
o ensino de esportes em diferentes faixas etárias e para a inicia-
ção esportiva da população especial.
Carta ao Aluno
– 6 –
Fundamentos Teóricos de Esportes Individuais e Coletivos
Para facilitar a compreensão, o conteúdo foi dividido em 10 capítu-
los que trazem as principais correntes pedagógicas e sua relação com as 
atividades esportivas nas dimensões escolar, de lazer ou de rendimento, 
que permitirão ao aluno adquirir a segurança para atuar no mercado de 
trabalho com a abordagem correta para cada situação.
Diante do exposto, espero que você possa saborear dessa obra cons-
truída com muito suor e carinho, e que ela consiga contribuir na sua for-
mação acadêmica.
Bons estudos!
1
Fundamentos 
históricos e 
antropológicos 
dos esportes: antes 
de tudo o jogo 
Falar a respeito de esportes é muito prazeroso para a maioria 
das pessoas, tendo em vista que as práticas corporais apresentam 
inúmeros benefícios em diversos aspectos: biológico, social, cul-
tural, psicológico, dentre outros. Por outro lado, aos profissionais 
de áreas correlatas aos estudos ligados ao movimento humano, 
como a Educação Física e Esportes, Fisioterapia, ou a quem mais 
se interessar pela temática e utilizá-la como objeto de estudo 
ou de trabalho, é fundamental aprender a respeito da origem 
desse fenômeno, e elaborar saberes que elevem o conhecimento 
comum ao científico.
Nesse sentido, o esporte observado como fenômeno com 
centralidade humana, necessita de resgates antropológicos e his-
tóricos, pois como cita Gebara (2016), dessa forma ele poderá ser 
interpretado e reinterpretado, possibilitando compreensões que o 
direcionem aos diversos significados possíveis.
Fundamentos Teóricos de Esportes Individuais e Coletivos
– 8 –
1.1 A origem dos esportes: aspectos 
históricos e antropológicos dos jogos
É comum a existência de simples praticantes e profissionais das 
diversas modalidades esportivas que dizem que “competir é humano”, 
como uma forma de ressaltar o prazer dos aspectos lúdicos dessa ativi-
dade, priorizando a ação em detrimento de seu resultado. Há quem diga, 
também, que “não entra em um jogo se não for para ganhar: não gosta de 
perder nem no par ou ímpar”, enfatizando, assim, sua personalidade carac-
terizada como competitiva. Em ambos os casos, geralmente o fazem sem 
compreensões históricas e sociais de tal sentimento.
Nesse contexto, entende-se, com fundamentos de Huizinga (1996), 
que as questões básicas da competitividade no esporte estão presentes em 
todo o período da humanidade, e é necessário compreender que:
Em algumas dessas formas, as provas de força e velocidade cons-
tituem a própria essência da competição, como nas corridas a pé 
e de patins, de carros e de cavalos, no levantamento de peso, na 
natação, no mergulho, no tiro ao alvo, etc. Embora os seres huma-
nos tenham praticado essas atividades desde o início dos tempos, 
essas só em pequena medida costumavam assumir a forma de 
jogos organizados. Mas todo aquele que não esquecer o princípio 
agonístico que as anima terá forçosamente de considerá-las jogos 
no sentido pleno da palavra — isto é, atividades que podem ser 
extremamente sérias. Aliás, há outras formas de competição que se 
tornaram “esportes” sujeitos a um sistema de regras, como é o caso 
dos jogos de bola. (HUIZINGA, 1996, p. 118).
Compreende-se que, em algumas atividades corporais, é muito difí-
cil jogar sem haver competição, em especial as que exigem mais das 
capacidades físicas humanas1 ou controle/uso de animais ou objetos2 
 com outras pessoas envolvidas, pois o princípio é, por exemplo, desempe-
1 As capacidades físicas humanas são entendidas como os aspectos biológicos possíveis de 
desenvolvimento. Os atributos físicos básicos são força, velocidade, resistência e flexibili-
dade, responsáveis por sustentar a base biológica humana: aparelho locomotor, circulatório 
e respiratório. Para mais informações ler: GARCIA C. P. Fundamentos teóricos de las 
capacidades físicas. Vision Libros: Madrid, 2009.
2 Entende-se por jogos que necessitam de algo a mais para sua realização, como um objeto 
ou animal controlado por uma pessoa, em que as capacidades físicas são potencializadas 
para chegar a um objetivo pré-estabelecido.
– 9 –
Fundamentos históricos e antropológicos dos esportes: antes de tudo o jogo 
nhar a velocidade e/ou força muscular para saber quem chega primeiro, ou 
quem é mais preciso ou resistente. Seja qual for a idade, realidade social, 
cultural e econômica, é de praxe observar a provocação dentre os partici-
pantes de jogos, especialmente os que exigem condicionamento físico e/
ou percepções: vamos ver quem chega mais rápido? Quem acerta o alvo? 
Quem suporta por mais tempo?
Estas provocações são originárias de contrariedades dentre os indi-
víduos, hoje organizadas e conhecidas como ações esportivas individuais, 
ou seja, todos os participantes competem entre si, exigindo pouca orga-
nização do grupo, tendo em vista que não é necessário coordenar-se com 
outras pessoas para atingir um objetivo comum. O universo simbólico do 
jogo necessita de motivação do participante. Nesse sentido, o observa-
dor passivo nem sempre consegue identificar se ele é realmente lúdico, 
pois, para isso, são necessários conhecimentos relacionados aos aspectos 
socioculturais que iniciaram e deram prosseguimento à atividade. É pos-
sível conferir na figura a seguir exemplos de diversas situações que, de 
acordo com os contextos, podem ser ou não jogos, com aspectos lúdicos.
Figura 1.1 – Exemplos de diversos jogos
Fonte: Shutterstock.com/ Hibrida
Assim, Wittgenstein (2000) discorre que o conceito “jogo” é de difí-
cil explicação, pois é múltiplo e ao mesmo tempo indefinido. Funciona, 
entretanto, como uma família, sendo agrupado de acordo comsuas carac-
terísticas (tabuleiro, bola, azar, linguagem etc.), e o que é jogo para um, 
pode não ser para outra pessoa, ou, em situações diversas, difere para o 
Fundamentos Teóricos de Esportes Individuais e Coletivos
– 10 –
mesmo sujeito. Kishimoto (2011, p. 28) analisa “[...] o que Wittgenstein 
ressalta: o termo se explicita no uso, na espécie de jogo a que o usuário 
está se referindo, no sentido que deu ao termo”.
Desse modo, o jogo é definido de acordo com as aprendizagens de 
quem o conceitua, por exemplo, jogar futebol pode ser lúdico para uma 
situação em que o objetivo é apenas a ação por afinidade com a prática, 
porém, em situação de ensino, pode não ser.
Direta ou indiretamente, é a experiência que determina a ligação ao 
ambiente do jogo, pois é possível que alguém “[...] tenha aprendido o 
jogo sem aprender as regras ou formulá-las. Ele pode ter aprendido ini-
cialmente, pela observação [...] e ter progredido pela constante complexi-
ficação [...]”. Mas, para questionar a respeito do conteúdo da atividade, é 
necessário saber se o jogador de fato conhece algo a respeito dos conceitos 
empregados, ou ainda está em processo, portanto ainda não foi tomada 
consciência (WITTGENSTEIN, 2000, p. 28).
Para Soares et al. (2012, p. 103), todavia, as instituições sociais, como 
a escola, devem reconsiderar sua função lúdica em relação aos jogos, tendo 
em vista que eles vêm funcionando como um “[...] celeiro de talentos espor-
tivos, que tem condicionado a avaliação a detectar talentos. Reconsiderar 
também o princípio do rendimento: ‘mais alto’, ‘mais forte’ e ‘mais veloz’, 
passando-se a privilegiar os princípios da ludicidade e da criatividade”.
Adorno (1995), ao discorrer a respeito da função da educação escolar 
moderna, marcada pela tendência à barbárie humana, ou a resistir a ela, 
em conversa com o pesquisador também alemão Hellmut Becker, reflete 
a respeito da função do jogo na experiência formativa, dizendo que, para 
a efetivação de tal processo, “isto levaria a um predomínio do aspecto 
lúdico no esporte frente ao chamado desempenho máximo. Considero essa 
uma inflexão particularmente humana inclusive neste âmbito dos exercí-
cios físicos, a qual, segundo penso, parece ser estritamente contrária às 
concepções vigentes no mundo”. (ADORNO, 1995, p. 163).
É evidente que a questão do exagero no aspecto competitivo, não 
é um problema apenas da escola. Isto acontece, pois esse ambiente 
reproduz a lógica da vida contemporânea, em que a individualidade 
– 11 –
Fundamentos históricos e antropológicos dos esportes: antes de tudo o jogo 
deve prevalecer à coletividade. O sentido de coletividade é pensado 
neste texto, com a ideia de que para chegar ao êxito, não é necessário 
massacrar ninguém, e o objetivo do esporte como um jogo que é, 
tomou esse rumo com os princípios em que se vive atualmente.
 
Para utilizar o lúdico na escola, são necessários muitos esforços por 
parte de toda a comunidade, retomando os princípios do jogo das sociedades 
primitivas, que não deixavam de competir, porém, com objetivos direciona-
dos às recompensas simbólicas, promovendo a criatividade para alcançar 
tais ideais relacionados geralmente à honra, à subsistência ou à diversão. 
Logo, o homem produzia todos os recursos, aprendia e se desenvolvia para 
chegar a seu objetivo, sem separar o trabalho corporal e mental.
As reflexões ligadas à corporeidade, como um fenômeno apenas de 
corpo biológico, têm como exemplo o esporte contemporâneo, já que muitas 
vezes visa apenas à prática, sem reflexões em seus aspectos culturais, pois é 
um jogo pronto que afirma em suas regras o que é e o que não é permitido, 
produzindo conhecimentos em sua realização, quase que, exclusivamente, no 
sentido da criação de jogadas para vencer o adversário (técnica e tática), pois 
quem criou o universo lúdico anteriormente, e o aperfeiçoou, foi um terceiro.
Isso possibilita um equívoco de compreensão, porque sobre o corpo, 
são tecidas culturas diversas. Segundo Daolio (2013, p. 34), 
[...] homens de nacionalidades diferentes apresentam semelhanças 
físicas. Para além das semelhanças ou diferenças físicas, entretanto, 
existe um conjunto de significados que cada sociedade escreve nos 
corpos dos seus membros ao longo do tempo, significados estes 
que definem o que é corpo de maneiras variadas.
Desse modo, em relação às características do ser humano como ser cul-
tural por meio do lúdico, Huizinga (1996) fundamenta que, mesmo antes à 
civilização, existe originalidade no ambiente do jogo, pois, por sua contrarie-
dade, produz cultura ao opor-se a alguém, ou a um grupo. Isso ocorre desde os 
rituais do homem primitivo até a capacidade humana criadoura de costumes, 
em que o lúdico favorece em troca a necessidade de honra, dignidade, supe-
rioridade e beleza, em detrimento do desenvolvimento quase que de forma 
inata do ritmo, da harmonia, da mudança, da alternância, do contraste, do clí-
max, etc. À medida que a sociedade vai se desenvolvendo e se reorganizando 
Fundamentos Teóricos de Esportes Individuais e Coletivos
– 12 –
cada vez mais, recobre-se por camadas culturais de ideias, doutrinas e norma-
tizações, e o jogo vai perdendo seu caráter cultural, sendo atribuída a caracte-
rística de não sérias e secundárias às necessidades de perfeição.
Ao indicar a característica de liberdade no jogo, Huizinga o descreve 
como voluntário à humanidade, e, quando imposto, são descaracterizadas 
as ideias antropológicas apresentadas pelo autor (KISHIMOTO, 2011). 
Nesse sentido:
O caráter “não sério” apontado por Huizinga não implica que a 
brincadeira infantil deixe de ser séria. Quando a criança brinca, ela 
o faz de modo bastante compenetrado. A pouca seriedade a que faz 
referência está mais relacionada ao cômico, ao riso, que acompa-
nha, na maioria das vezes, o ato lúdico e se contrapõe ao trabalho, 
considerado atividade séria. (KISHIMOTO, 2011, p. 27).
Quando Kishimoto descreve as apreensões da leitura de Huizinga, 
caracteriza a infância como o centro do ambiente lúdico do jogo, pois na 
contemporaneidade tal atividade é exclusiva do início do desenvolvimento 
humano, quando a criança vai “[...] conhecendo objetos humanos, atri-
buindo significados às coisas, desenvolvendo sua linguagem, pensamento e 
atenção, motivada pelo mundo do adulto” (SANTOS, 2018, p. 84), do qual 
ela é separada, ou proibida de adentrar nele. Ao iniciar a atividade principal 
conhecida como escola, o ambiente lúdico vai desaparecendo cada vez mais, 
até que, na vida adulta, quando o trabalho “sério” ocupa o centro das ações 
humanas, ele quase desaparece, acontecendo apenas como um passatempo.
Mesmo assim, com fundamentos de Caillois (1990), entende-se que há no 
jogo uma “existência institucional”. Assim, não existem os jogos sem as regras. 
E são as regras que o transformam em um elemento cultural, que necessita de 
intervalo, descanso e fantasia. A liberdade é outra característica fundamental, e 
é ela que origina as formas mais complexas e organizadas do jogo.
A presença de regras é também para Vigotsky (2007) um ponto impor-
tante no jogo, tendo em vista que, mesmo na esfera imaginária, organiza/reor-
ganiza o comportamento humano, com base nos conhecimentos da pessoa. O 
autor exemplifica a interação de duas meninas ao fazer de conta que são irmãs. 
Elas fantasiam de acordo com o que sabem sobre o conceito “irmã”, desenvol-
vendo mentalmente as regras a esse respeito. Em seguida, as regulamentações 
que eram “lúdicas” são externalizadas, entretanto ainda existem. Conforme 
– 13 –
Fundamentos históricos e antropológicos dos esportes: antes de tudo o jogo 
a pessoa vai se desenvolvendo, o caráter imaginativo ainda permanece, pois 
com a limitação na possibilidade de ação pelas normas explícitas, é necessário 
imaginar novos modos para atingir o objetivo da atividade vivenciada.
Dessa forma, o lúdico é muito importante, e “a situação imaginária 
que os jogos proporcionam, segundo Vigotsky, força a criança a encontrarrespostas para aquilo que vivencia. Nesse momento, ela utiliza o jogo não 
somente como uma representação do que viveu, mas uma vivência única.” 
(DALLA VALE, 2010, p. 35). Desse modo, é jogando durante os primei-
ros anos de vida que as crianças em completo processo de aprendizagem 
e desenvolvimento conhecem os fenômenos que as cercam no mundo, 
geralmente motivadas pelas ações dos adultos, que na contemporaneidade 
não são as mesmas das crianças, motivadas pelas atividades obrigatórias: 
trabalho, estudo, etc. E é na imitação dos comportamentos dos adultos que 
elas vivem experiências criadouras inigualáveis.
Kishimoto (2011, p. 28) explica que, no jogo com interação de outras 
pessoas “[...] nunca se sabem os rumos da ação do jogador, que dependerá, 
sempre, de fatores internos, de motivações pessoais e de estímulos exter-
nos, como a conduta de outros parceiros”.
Uma dúvida relacionada ao jogo é a similaridade nas situações de 
jogo e não jogo. Nem sempre se observa um jogo, porque algumas vezes 
o participante externaliza tais características na ação, mas o elemento 
interno do lúdico não está presente. Para capturar tal informação, é neces-
sário estar conectado ao jogador para compreender em suas intenções os 
aspectos lúdicos. (KISHIMOTO, 2011).
1.1.1 Os jogos como atividades infantis: 
aspectos sugeridos na modernidade
Uma compreensão a respeito dos aspectos culturais dos jogos está 
relacionada à participação de crianças e adultos no ambiente simbólico 
do jogo, sem distinções, tendo em vista que, de acordo com Ariès (2012), 
até a Idade Medieval não existia diferença no sentido de infância, ou seja, 
não havia atividades lúdicas diferentes para crianças. Elas eram gradativa-
mente inseridas no mundo dos adultos. Assim, o quadro de Pieter Bruegel, 
denominado Jogos infantis (1560), é de grande relevância à análise ico-
Fundamentos Teóricos de Esportes Individuais e Coletivos
– 14 –
nográfica dos jogos, tendo em vista que demonstra ações corporais prati-
cadas em meio a toda a comunidade. Logo se pensa que a necessidade de 
ambiente competitivo ficava em segundo plano.
As práticas corporais do século XVI, período em que o quadro Jogos 
infantis foi elaborado, refletem o modo de vida daquele período, em que a 
Europa passava por grandes transformações socioeconômicas e culturais, 
marcando o fim da idade média e início da modernidade. Na contempo-
raneidade, existem as características da vida privada, em contrapartida à 
coletividade humana, avanço do mercantilismo e êxodo do contexto rural 
ao urbano. Nessa conjuntura, Rosa (2001), Peters e Costa (2006), Darido 
e Souza Jr. (2007) e Azevedo e Campos (2017), identificaram 84 brinca-
deiras e 250 personagens no quadro de Pieter Bruegel.
Para refletir...
Autores renomados em estudos relacionados à cultura corpo-
ral de movimento, como Darido e Souza Jr (2007, p. 158-9) 
sugerem a realização de análises dos jogos presentes na pintura 
“Jogos infantis”, associando-os a atividades lúdicas ainda pre-
sentes na humanidade. Sendo assim reflita: Por que os jogos 
são considerados patrimônio cultural da humanidade?
 
Figura 1.2 – Pintura de Pieter Bruegel “Jogos Infantis” – 1560
Fonte: Museu Kunsthistorisches
– 15 –
Fundamentos históricos e antropológicos dos esportes: antes de tudo o jogo 
Ao realizar buscas a respeito de análises referentes à obra, encon-
tram-se inúmeras interpretações em relação aos motivos do artista para 
produzi-la, e dentre os objetivos dos saberes estéticos, a compreensão 
ocorre de acordo com a realidade do observador. Nessa circunstância, 
quase cinco séculos depois, agora na pós-modernidade para alguns, com 
o incremento e avanço da tecnologia e flexibilização dos modos de vida, 
distanciando cada vez mais as pessoas, são identificados alguns jogos pre-
sentes em realidades contemporâneas, como a utilização do bambolê, que 
é um objeto da ginástica rítmica, a parada de cabeça, que é uma ação da 
ginástica artística, e jogos sem relação com o esporte moderno, como o 
esconde-esconde, cavalinho, dentre outros.
Nos dizeres de Santos (2018, p. 54), o jogo direcionado à criança no 
período do medievo ocorria:
[...] no meio social coletivo, aprendendo no trabalho e na convi-
vência com os adultos, da mesma forma ao participar de jogos e, 
em geral, sofrendo a influência da religião Cristã. A visão biológica 
estava começando a ser ultrapassada, pois as crianças passaram a 
ser tratadas com suas particularidades, compreendidas como seres 
singulares”. (SANTOS, 2018, p. 54).
Nota-se uma ambiguidade, pois aprender o jogo em meio à comuni-
dade enfatiza os aspectos culturais das interações humanas, promovendo a 
tradição e consequentemente o desenvolvimento de forma geral, pois ele 
não é ligado apenas ao caráter de disputa, mesmo que tal sentimento de 
contrariedade exista.
Questões relacionadas às singularidades infantis, como o “cui-
dado”, porém, são de extrema importância para a convivência e 
manutenção dos estados de saúde da criança, que conforme vai cres-
cendo e se desenvolvendo torna-se mais autônoma, tomando cons-
ciência dos possíveis riscos físicos. Mas nem sempre foi assim, e os 
objetivos para separação entre criança e adultos no ambiente do jogo 
estiveram ligados a questões moralistas.
Para melhor compreensão histórica da localização da criança no 
ambiente social, também como o personagem central das características 
lúdicas no jogo atual, observe-se o quadro a seguir, fundamentado em 
Ariès (2012):
Fundamentos Teóricos de Esportes Individuais e Coletivos
– 16 –
Quadro 1.1 – Características sociais relacionadas ao sentido de infância, de acordo com o período
Período Características sociais relacionadas às crianças
Século XIII A criança é alvo de paparicação no meio familiar, e na companhia de criancinhas pequenas.
Século XVI
Fonte exterior à família no relacionamento com as 
crianças: dos escolásticos ou dos homens da lei, raros 
até o momento.
Século XVII
Um número maior de moralistas preocupados com a 
disciplina e racionalidade dos costumes, com a sensibi-
lidade à infância, antes ignorada, recusavam-se a con-
siderar as crianças como brinquedos encantadores, pois 
viam nelas criaturas de Deus.
Século XVII
O cuidado com o corpo era apenas com os doentes, a 
não ser com o objetivo moral: um corpo mal enrijecido 
inclinava à moleza, à preguiça, à concupiscência, a todos 
os vícios.
Século XVIII
Encontram-se na família os dois elementos – papari-
cação e disciplina para racionalidade dos costumes – 
associados a um novo: a preocupação com a higiene e 
a saúde física.
Fonte: adaptado de Ariès (2012, p. 105).
Após a Idade Média e com o início da Modernidade, o período mar-
cado pelo pensamento Renascentista trouxe uma nova compreensão às 
ações infantis, associando preocupações relacionadas à inteligência da 
criança ao brincar, tendo em vista que antes disso o jogo era observado 
como uma mera distração. Como os precursores desse pensamento é pos-
sível indicar, por exemplo, Comênio (Jan Amós Komensky, 1592-1670) e 
Jean Jacques Rousseau (1712-1778), que citaram em suas obras relacio-
nadas ao âmbito educacional, a importância do jogo nesse contexto. Logo, 
“foi durante o Renascimento que o jogo serviu para divulgar princípios de 
moral, ética e conteúdo de áreas como história e geografia, com a premissa 
de que o lúdico era uma conduta livre que favorecia o desenvolvimento da 
inteligência, facilitando o estudo”. (DALLA VALE, 2010, p. 16).
– 17 –
Fundamentos históricos e antropológicos dos esportes: antes de tudo o jogo 
Em relação à gênese do lúdico, Caillois (2017) fundamenta que, dife-
rentemente dos jogos competitivos (agon), no “ludus”, o jogador luta con-
tra o obstáculo e sem oposição a diversos participantes. Como exemplo, o 
autor cita o “ioiô”, o “bilboquê” e o “diabolô”.
Figura 1.3 – Jogos lúdicos exemplificados por Caillois
Fonte: Shutterstock.com/vvoe/burnel1/Elena Yakusheva
Esses elementos simples necessitam de habilidades manuais, e de 
elementosnaturais como a gravidade e a rotação, com as exigências de 
mudança de direção. Outra atividade lúdica que o autor cita é a pipa, cons-
tituída em uma situação atmosférica concreta, projetando-a além de seu 
corpo a uma distância aproximada que vai em direção ao céu. A cabra-
-cega possibilita ao jogador desenvolver recursos relacionados às percep-
ções, tendo em vista que não se enxerga (CAILLOIS, 2017). As ideias de 
Caillois vão a uma infinidade de possibilidades de ações que envolvem os 
aspectos lúdicos, em oposição aos competitivos modernos. Como já fun-
damentado anteriormente, é difícil saber quando o jogo é lúdico ou não, 
ou seja, quando existem objetivos não competitivos e competitivos dentro 
da mesma ação.
Fundamentos Teóricos de Esportes Individuais e Coletivos
– 18 –
Uma outra alternativa de atividade lúdica com características menos 
competitivas, são os jogos cooperativos, que, em vez de um jogar contra 
o outro, é possível participar com a outra pessoa junto. Darido e Souza 
Jr. (2007, p. 163) fundamentam que “[...] dependendo do jogo, podemos 
diminuir ou aumentar a distância entre cada jogador. No caso cooperativo, 
há um movimento de aproximação em que a distância é diminuída, cau-
sando uma maior associação entre os jogadores”.
Os jogos competitivos caracterizam-se pela rivalidade como ponto 
central. Neles “[...] há um distanciamento chamado de ‘processo dissocia-
tivo’ (o contrário da associação entre jogadores), que pode gerar conflito. 
Mas, na maioria dos jogos, estão presentes tanto a cooperação quanto a 
competição [...]” (DARIDO, SOUZA JR., 2007, p. 163). O que se pre-
tende aqui é causar uma reflexão a respeito do impacto das objetividades 
em diversos contextos em jogo.
Logo, a sociedade na atualidade privilegia os aspectos competitivos, 
porque eles garantem o princípio do “mais forte sobrevive”, ideais funda-
dores das desigualdades entre as pessoas, que cada dia mais é preconizado 
no pensamento egocêntrico humano. Assim, as interações entre as pessoas 
são muitas vezes desinteressantes, caso não haja alguém superior ao outro.
Figura 1.4 – Futebol (competitivo) e Quebra-cabeça em grupo (cooperativo)
 
Fonte: Shutterstock.com/Vasyl Shulga/fizkes
Ao observar a Figura 1.4, notam-se os princípios de superar um adver-
sário, ou seja, competir, quando geralmente alguém deverá ser melhor do 
que o outro – “agon” de acordo com Caillois. Ao cooperar para jogar todos 
juntos, atingindo um objetivo comum, em que ninguém será perdedor, o 
aspecto lúdico é preservado – “ludus”, para o mesmo autor. É possível 
– 19 –
Fundamentos históricos e antropológicos dos esportes: antes de tudo o jogo 
cooperar em jogos competitivos, e competir ao cooperar, como já citado 
anteriormente. A situação de jogo depende do jogador, e quem analisa 
precisa estar em simbiose com quem joga.
O quadro a seguir analisa situações em ações cooperativas e compe-
titivas, conceituando percepções acerca do jogador no ambiente lúdico. 
Em suma, sabe-se que competir é uma atitude normal, porém é possível 
cooperar enquanto se compete e vice-versa. A busca aqui não é defender 
uma postura no jogo superior à outra, mas pontuar características das 
duas situações.
Quadro 1.2 – Ações cooperativas e competitivas
Situação Cooperativa Situação Competitiva
Percebem que o atingimento de 
seus objetivos é, em parte, consequ-
ência da ação dos outros membros.
Percebem que o atingimento de 
seus objetivos é incompatível com a 
obtenção dos objetivos dos demais.
São mais sensíveis às solicitações 
dos outros.
São menos sensíveis às solicita-
ções dos outros.
Ajudam-se mutuamente com fre-
quência.
Ajudam-se mutuamente com 
menor frequência.
Há maior homogeneidade na quanti-
dade de contribuições e participações.
Há menor homogeneidade na quanti-
dade de contribuições e participações.
A produtividade em termos quali-
tativos é maior.
A produtividade em termos quali-
tativos é menor.
A especialização de atividades é 
maior.
A especialização de atividade é 
menor.
Fonte: Brotto (1999, p. 36)
Ao considerar as capacidades de comportamentos das pessoas, nota-
-se, tanto na esfera individual, quanto na coletiva, uma possibilidade de 
postura violenta, “[...] ou contra os outros ou contra si mesmo (rivali-
dade competitiva). Do mesmo modo, porém em direção oposta, somos, 
extraordinariamente, aptos para doar-nos, incondicionalmente, aos outros, 
mesmo que ao fazê-lo, aparentemente, nos prejudiquemos (auxílio coope-
rativo)” (BROTTO, 1999, p. 38).
Fundamentos Teóricos de Esportes Individuais e Coletivos
– 20 –
Não se pretende incitar uma postura de jogador mediador de confli-
tos, pois a questão de convivência igualitária não cabe apenas no jogo, 
mas sim em todas as situações de vida, em especial às socioeconômicas, 
que dificilmente sofrem discussões relacionadas às desigualdades e egoís-
mos do homem, naturalizando por meio de meritocracia a pobreza como 
uma “escolha”. Ser pobre no sentido cultural e material, em que a cultura 
não vem das pessoas, mas é vendida a elas, como por exemplo, os jogos 
com regras prontas e sem a condição de alterá-las: o esporte.
Com fundamentos de Adorno (1995) a respeito da competitividade 
no esporte institucionalizado, percebe-se uma tendência cética nos ideais 
formativos ingleses de fair play, ou jogo justo:
Isto é, desacostumar as pessoas de se darem cotoveladas. Cotove-
ladas constituem sem dúvida uma expressão da barbárie. No sis-
tema educacional inglês — por menos que nos agrade o momento 
de conformismo que ele encerra, o objetivo de se tornar brilhante, 
o que de fato não é uma boa máxima, e que no fundo é hostil ao 
espírito — encontra-se na ideia de fair play momentos de uma con-
sideração segundo a qual a motivação desregrada da competitivi-
dade encerra-se em algo de desumano, e nesta medida há muito 
sentido em se aproveitar do ideal formativo inglês o ceticismo 
frente ao saudável desejo do sucesso. (ADORNO, 1995, p. 162).
Fica evidente que ser justo em qualquer ação é o que se espera das pessoas, 
e no jogo não seria diferente. Orientar-se para o sucesso na competição, que 
era um ideal lúdico nas sociedades primitivas, como fundamentou Huizinga, 
todavia, não possui o mesmo sentido nas experiências contemporâneas, pois o 
momento em que os jogados se cumprimentam, ou realizam um gesto “justo” 
ao final das partidas esportivas, não reduz os excessos desumanos enquanto 
houve competição exacerbada, tanto no campo, quanto fora dele. O significado 
de lúdico dificilmente se aplica aos exageros dos esportes modernos.
Nesse contexto, ao pensar em períodos anteriores à idade medieval, 
partiu-se de uma estruturação social em que os jogos eram os mesmos 
para todas as pessoas, não importando idade e/ou nível socioeconômico 
(ARIÈS, 2012).
O fenômeno que se deve sublinhar é o abandono desses jogos pelos 
adultos das classes sociais superiores e, simultaneamente, sua sobre-
vivência entre o povo e as crianças dessas classes dominantes. É 
– 21 –
Fundamentos históricos e antropológicos dos esportes: antes de tudo o jogo 
verdade que, na Inglaterra, os fidalgos não abandonaram, como na 
França, os velhos jogos, mas transformaram-nos, e foi sob formas 
modernas e irreconhecíveis que esses jogos foram adotados pela 
burguesia e pelo “esporte” do século XIX. (ARIÈS, 2012, p. 74).
A abstração que é possível fazer com Ariès (2012) está relacionada à 
origem dos esportes modernos mais conhecidos. A maioria deles tem como 
marco histórico de normatização a Inglaterra, ou países colonizados pelos 
ingleses. Percebe-se que os precursores da virada do jogo em seu aspecto 
lúdico estão ligados à Europa, mais especificamente à Inglaterra, que o 
descaracterizou em formato de esporte, como se conhece atualmente.
1.1.2 Jogo e esporte
Hoje, muitas vezes, o universo do jogo é limitado às crianças, 
enquanto permanecem assim. Ao passo que se desenvolvem e crescem, 
vão lhes sendo impostas as racionalidades da contemporaneidade, na qual 
o lúdico se opõeàs atividades sérias, como o estudo e o trabalho. Nesse 
ínterim, o jogo com sentido lúdico, que foi sendo abandonado no desen-
rolar da sociedade, hoje ocorre no tempo em que as exigências atuais per-
mitem, muitas vezes com o objetivo de ser realizado no intervalo da rotina 
árdua diária, em que as pessoas estão submetidas e separadas de acordo 
com suas características socioeconômicas e culturais.
Caillois (2017) descreve que a sociedade moderna – industrial, deu 
origem a uma nova forma de lúdico: o hobby. Na tradução do inglês para 
o português, passatempo é uma ação que visa ao prazer quando não se 
está realizando uma atividade obrigatória, seja ela secundária ou gratuita. 
Com a mutilação do trabalhador, condenado a realizar gestos automáticos 
e limitados durante grande parte de sua rotina diária, o hobby deve obriga-
toriamente aparecer como uma compensação aos sofrimentos de colaborar 
com a máquina ou processo, que também não lhe exige muita inteligência, 
isso no sentido em que a criatividade do lúdico, em seu significado mais 
amplo oferece, com o máximo de resposta que o jogo em seu instinto 
mais primitivo pode oferecer. Como exemplos de passatempo, Caillois 
descreve a coleção, o desenho, a música, a dança, a bricolagem, pequenas 
invenções, ou qualquer atividade que situe o trabalhador em outra reali-
dade além das ações laborais.
Fundamentos Teóricos de Esportes Individuais e Coletivos
– 22 –
Quando se pensa em ati-
vidades como esportes em clu-
bes ou academias, que ocor-
rem no período além das ações 
laborais, elas podem adquirir 
um caráter de passatempo no 
contexto social atual, se a pes-
soa não as objetivar como obri-
gatórias. Quando, porém, há 
algum objetivo de resultado 
fisiológico, ou como comércio 
e trabalho, o caráter lúdico do 
jogo não é atingido, pois a essência de tal prática está na necessidade de 
interações sem mecanismos reguladores de ordem biológica, financeira ou 
competitiva, contraditoriamente às questões culturais, transmitidas dentre 
os membros locais em suas ações necessárias às relações sociais.
Na reunião de um grupo de amigos em um parque público, para 
jogar a famosa “pelada”, que nada mais é do que o clássico jogo com 
bola, o futebol, em que a preocupação não é o resultado daquela ação, 
encontra-se o sentido de lúdico na prática, pois as tensões dentre os 
participantes ocorrem com objetivos intrínsecos, tendo em vista que o 
participante está motivado a jogar, e extrínsecos nas necessidades de 
antecipações com demais pessoas, pausas e colaborações para a intera-
ção com os demais membros do grupo. Porém, toda vez que a motivação 
é a vitória, o sentimento é alterado em relação ao jogo em seu caráter 
lúdico, pois o objetivo é vencer o opositor, mesmo que ocorra como uma 
atividade de lazer.
Nesse sentido, não existe uma origem no esporte sem o jogo, estando 
uma história vinculada à outra. A definição do próprio conceito “esporte” 
passa pelo “jogo”. Considerando que o jogo faz o vínculo entre a cultura e 
esporte, a literatura chega “[...] a definir o esporte como antítese ao jogo, 
enquanto outros defendem que o esporte é o jogo institucionalizado, o 
jogo regulado por códigos e regras comandado por entidades dirigentes, 
como as federações” (TUBINO, 2017, [s.p]).
Fonte: Shutterstock.com/ anatoliy_gleb
Figura 1.5 – Atividades lúdicas, segundo Caillois
– 23 –
Fundamentos históricos e antropológicos dos esportes: antes de tudo o jogo 
O esporte como fenômeno oriundo do jogo tem em seus pilares os 
fundamentos lúdicos, e muitas vezes, os participantes podem se encontrar 
em tal estado. Para tanto, é interessante diferenciar as informações basi-
lares dos aspectos pertinentes a essas manifestações, para conseguir atuar 
dentro de cada uma dessas vertentes, com suas necessidades simbólicas, 
sociais e materiais. Para tanto, na Figura 1.6 apresentam-se os conceitos 
de brinquedo, brincadeira, jogo e esporte.
 Saiba mais
O livro organizado pela professora Tizuko Morchida Kishimoto, livre-
-docente na USP, intitulado “Jogo, brinquedo, brincadeira e a educa-
ção” é uma obra muito conhecida a quem se interessa pela temática 
“Jogo”. Possui mais de 15 edições e é citado por mais de 2020 pesquisas, 
com base no site “google acadêmico”. Com certeza é uma leitura forma-
tiva de grande relevância.
Fonte: Editora Cortez.
Fundamentos Teóricos de Esportes Individuais e Coletivos
– 24 –
Destarte, a professora Tizuko Morchida Kishimoto da Universidade 
de São Paulo é reconhecida como uma das principais referências nos estu-
dos relacionados a jogo, brinquedo, brincadeira e educação. Portanto, suas 
análises fundamentam a compreensão a respeito desses conceitos, como é 
possível verificar na Figura 1.6. Compreende-se que brinquedo é o suporte 
material no qual a brincadeira ganha vida. Nesse sentido, brinquedo e 
brincadeira são intimamente interligados, e geralmente relacionam-se à 
criança moderna; é o ato lúdico, a criatividade acionada. Em relação ao 
jogo, o uso de regras é o diferencial, sejam elas implícitas ou explícitas, 
mas sempre existem, pois utilizam um modelo já existente para acontecer.
Figura 1.6 – Brinquedo, brincadeira, jogo e esporte.
BRINQUEDO
i
BRINCADEIRA
i
JOGO
i
ESPORTE
i
n
Referência ao tempo 
de infância do adulto 
com representações vei-
culadas pela memória 
e imaginação. Não 
pode ser reduzido à 
pluralidade de sentidos 
do jogo, pois conota 
criança e tem uma 
dimensão material, 
cultural e técnica. 
Enquanto objeto é 
sempre suporte de brin-
cadeira. É o estimulante 
material para fazer fluir 
o imaginário infantil.
É a ação que a criança 
desempenha ao con-
cretizar as regras do 
jogo, ao mergulhar na 
ação lúdica. Pode-se 
dizer que é o lúdico 
em ação. Desta forma, 
brinquedo e brinca-
deira relacionam-se 
diretamente com a 
criança e não se con-
fundem com o jogo.
A existência de regras 
em todos os jogos é 
uma característica 
marcante. Há regras 
explícitas, como no 
xadrez ou amarelinha, 
regras implícitas como 
na brincadeira de faz de 
conta, em que a menina 
se faz passar pela mãe 
que cuida da filha. São 
regras internas, ocultas, 
que ordenam e condu-
zem a brincadeira.
Os jogos possuem 
regras rígidas no 
esporte, passa por um 
processo hierárquico 
regido por entidades 
como federações e 
confederações. Os 
jogadores profissionais 
“atletas” sobrevivem 
dessas práticas, ou bus-
cam viver (amadores). 
Os aspectos lúdicos 
são secundarizados. 
Fonte: adaptado de Kishimoto (2011). Shutterstock.com/irin-k/SeventyFour/godbamn/
Eugene Onischenko
– 25 –
Fundamentos históricos e antropológicos dos esportes: antes de tudo o jogo 
Para analisar as diferenças entre esporte profissional e de várzea e 
jogos, Kishimoto (2011) explana a respeito:
Na partida de xadrez, há regras externas que orientam as ações 
de cada jogador. Tais ações dependem, também, da estratégia do 
adversário. Entretanto, nunca se tem a certeza do lance que será 
dado em cada passo do jogo. Esse tipo de jogo serve para entreter 
amigos em momento de lazer, situação na qual predomina o prazer, 
a vontade de cada um participar livremente da partida. Em disputa 
entre profissionais, os dois parceiros não jogam pelo prazer ou pela 
vontade de o fazer, mas são obrigados por circunstâncias como o 
trabalho ou a competição esportiva. Neste caso, pode-se chamar de 
jogo? (KISHIMOTO, 2011, p. 16-7).
A reflexão a que a autora se refere faz alusões à obrigatoriedade no 
esporte, no caso da profissionalização, e ao sentimento de prazer nas situ-
ações de tempo livre. Ela explica que, no lazer, caso haja uma situação 
de jogo – que Caillois reconhece como hobby – ele ocorre como uma 
das poucas formas de diversão do trabalhador contemporâneo. Mas no 
primeiro caso – profissionalização – fica a indagação de Kishimoto, a que 
se subentende que o conceito de jogo, no aspecto lúdico, pouco se aplica.
Os jogos como o “pai” dos esportes, nas comunidades primitivas, possu-
íam unicamente o caráter utilitarista,logo eram utilizados para subsistência, 
relacionados à alimentação e aos embates com outras pessoas e animais. Com 
o desenvolvimento da humanidade, ele também foi se caracterizando com 
fins de combate em guerras para conquistas de territórios. Desse modo, desde 
o início das organizações das civilizações antigas, houve quatro momentos 
importantes à transformação e modernização do jogo em esporte, de acordo 
com Tubino (2010, p. 20-4). São os períodos denominados de pré-esportivos, 
esportivo, crise do movimento esportivo e o esporte moderno.
 2 período pré-esportivo – a maioria utilitarista e/ou de prepa-
ração à guerra, como exemplo, as artes marciais nas culturas 
orientais, lutas, natação, arco e flecha, equitação, dentre outros, 
alguns desses evidenciados nas civilizações antigas: chinesa, 
egípcia, etrusca, hitita e japonesa.
 2 início do esporte – iniciado com o caráter humanístico relacionado 
à formação cultural e autonomia do cidadão na população grega, 
tendo como marco a criação dos Jogos Olímpicos na Antiguidade.
Fundamentos Teóricos de Esportes Individuais e Coletivos
– 26 –
 2 crise do movimento esportivo – diminuição das práticas espor-
tivas na Civilização Romana, Idade Média e Renascença. Tal 
descaracterização estava marcada por práticas ligadas a outros 
fins, com ações relacionadas à higiene corporal ou aos jogos cir-
censes. As poucas competições eram extremamente violentas.
 2 criação do esporte moderno – a partir de 1820, o inglês e dire-
tor do Rugby College, Thomas Arnold, foi o responsável por 
iniciar a regulamentação de normas para as competições espor-
tivas. Logo, foram iniciadas as associações e clubes esportivos, 
fundamentando a crença da Ética esportiva e mais à frente à res-
tauração das Olimpíadas em Atenas em 1896, com a iniciativa 
do barão francês Pierre de Coubertin.
Desta maneira, os jogos permanecem muitas vezes com caráter uti-
litário, ao prevalecer-se como objetos a se chegar a um fim – hoje pouco 
relacionados à alimentação ou à defesa pessoal, tendo em vista que essas 
ações são terceirizadas ao comércio ou serviço público, na maioria das 
vezes. Nas atividades voltadas à guerra também se usam os esportes, 
geralmente ligadas aos interesses socioeconômicos, que preparam fisica-
mente seus “soldados” ao combate.
Os esportes modernos buscaram, nas Olímpiadas da Grécia Antiga, o 
caráter autônomo daquele momento, ao preparar – na escola ou em clubes 
– as crianças e adolescentes à autonomia. Essa liberdade contemporânea, 
entretanto, confunde-se muitas vezes com o individualismo e a competi-
tividade necessários à vida na modernidade capitalista, em que cada um é 
responsável por si, sem as devidas contextualizações, mantendo as dife-
renças socioeconômicas como elas são. Há, dessa maneira, pouca discus-
são a respeito da minoria que se profissionaliza, e o excedente que não 
chega ao auge na carreira esportiva.
Diante do exposto, nota-se, com fundamentos de Tubino (2017, 
[s.p]), que a origem do termo “esporte”, é do “[...] século XIX, quando os 
marinheiros usavam a expressão ‘fazer esporte’, ‘desportar-se’ ou ‘sair do 
porto’, para explicar seus passatempos que envolviam habilidades físicas”. 
O autor também explica que, atualmente, são utilizados diversos termos 
em vários países como, por exemplo: esporte; educação física; educação 
– 27 –
Fundamentos históricos e antropológicos dos esportes: antes de tudo o jogo 
física e esportes; educação física, esportes e recreação; desporto; cultura 
física (que é mais geral em relação às atividades físicas).
No Brasil, podem ser utilizados os termos esportes ou desportos. A pala-
vra “desporto”, entretanto, é influenciada pelos portugueses, que utilizam tal 
denominação. A primeira vez que os “desportos” foram citados de forma 
oficial em documentos nacionais, aconteceu no Decreto 3.199, em 1941, 
com a legislação que institucionalizou o esporte nacional, por influência de 
João Lyra Filho, que consultou o estudioso da língua portuguesa Antenor 
Nascentes para tal inserção. Atualmente, em caráter oficial, utiliza-se “des-
portos”. Inclusive na Constituição Federal, em seu artigo 217, os esportes 
aparecem pela primeira vez como matéria constitucional (TUBINO, 2017).
Síntese
O esporte é um fenômeno do mundo contemporâneo, com raízes no 
jogo, tendo em vista que possuí algumas características desse. No jogo 
sempre existem regras, sejam internas ou externas. Geralmente, as internas 
estão relacionadas às características infantis, nas ações em que a criança 
precisa compreender o que sabe e não sabe a respeito do que imita, ou 
seja, brinca e copia a respeito da realidade que conhece. À medida que as 
crianças crescem, as regras infantis vão sendo exteriorizadas e, ao jogar, 
os jogadores combinam o que fazer no ambiente simbólico do jogo, sendo 
essas as regras externas.
A liberdade no jogo é outro fator preponderante para essa atividade, 
uma vez que o jogador se movimenta dentro dele de acordo com a intera-
ção com os demais participantes, havendo possibilidades de flexibilidade 
nas regras. Logo, o jogo é um patrimônio cultural da humanidade, porque 
nele são transmitidas culturas de muitas gerações, que dentro das con-
dições possíveis, permanecerão por inúmeros tempos. Constituem uma 
ameaça aos jogos tradicionais: o exagero na tecnologia e a falta de segu-
rança e espaço, que limitam as possibilidades de trocas de experiências 
promovidas pela cultura.
Com a separação da criança e do adulto no mundo do trabalho na 
Idade Média, o jogar de forma lúdica foi sendo considerado exclusi-
Fundamentos Teóricos de Esportes Individuais e Coletivos
– 28 –
vamente uma atividade referente à infância. Com os avanços ingleses 
burgueses do século XIX, houve a oficialização das normas rígidas no 
esporte, descaracterizando-o completamente de seus princípios essencial-
mente culturais do jogo. Mesmo que atualmente o esporte possua pouca 
mobilidade no espaço simbólico, depende da postura e das necessidades 
do jogador para que haja esporte com aspectos de jogo.
Atividades
1. O quadro de Pieter Bruegel “Jogos infantis”, de 1560, demons-
tra mais de 84 atividades retratadas dentre os personagens pin-
tados na tela. Observe a Figura 1.2 e perceba que alguns desses 
jogos ainda estão presentes nas culturas atuais, geralmente rela-
cionadas às ações de crianças. Por que várias dessas brincadeiras 
ainda existem depois de tanto tempo?
2. Os esportes são atividades humanas dotadas de significados, e 
são ressignificados de acordo com cada praticante, tendo em vista 
suas experiências. Sendo assim, qual a origem dos esportes?
3. Leia o excerto.
Em algumas dessas formas, as provas de força e velocidade cons-
tituem a própria essência da competição, como nas corridas a pé 
e de patins, de carros e de cavalos, no levantamento de peso, na 
natação, no mergulho, no tiro ao alvo etc. Embora os seres huma-
nos tenham praticado essas atividades desde o início dos tem-
pos, essas só em pequena medida costumam assumir a forma de 
jogos organizados. Mas todo aquele que não esquecer o princípio 
agonístico que as anima terá forçosamente de considerá-las jogos 
no sentido pleno da palavra — isto é, atividades que podem ser 
extremamente sérias. Aliás, há outras formas de competição que 
se tornaram «esportes» sujeitos a um sistema de regras, como é o 
caso dos jogos de bola. (HUIZINGA, 1996, p. 118).
De acordo com a leitura acima explique: os esportes possuem 
quais características, quando compreendidos como jogos que 
são/eram?
– 29 –
Fundamentos históricos e antropológicos dos esportes: antes de tudo o jogo 
4. CESGRANRIO – 2010 – Prefeitura de Salvador – BA.
Huizinga, ao definir o homem como homo ludens, mostra que 
o jogo acompanha os humanos desde o surgimento da cultura. 
Quando o autor se refere às características formais do jogo, 
ele não apresenta somente uma possibilidade de conceituar-se 
o jogo, mas também tenta demarcar e diferenciar a noção de 
ludicidade do exercício forçado e do trabalho.Nesse contexto, o 
jogo, do ponto de vista formal, se define como um(a):
a) exercício de embate, com regras imperativas, visando à 
satisfação do jogador.
b) atividade frívola, incerta, de natureza competitiva e vertiginosa.
c) atividade voluntária, sujeita a regras, que se realiza em um 
espaço e tempo próprios e que promove a evasão da realidade.
d) prática visando à superação do acaso, com regras, cuja fina-
lidade última é obter algum tipo de reconhecimento externo.
e) representação de um papel social, uma imitação forçada e 
um exercício de sobrevivência.
2
O que são esportes 
individuais e coletivos?
Como conceituado no capítulo 1, os esportes são jogos, ou 
seja, atividades humanas conscientes e dotadas, nesse caso, de 
regras explícitas, que, a partir do século XIX na Inglaterra, foram 
remodelados para fins que geralmente transcendem os aspectos 
lúdicos, organizados por uma federação ou confederação, objeti-
vando ações competitivas dentre os participantes, em que alguma 
pessoa ou equipe tende a superar seus oponentes. Os jogadores 
federados ou não, na maioria das vezes, competem como forma de 
trabalho, se profissionais, ou como busca disso, quando amadores.
Logo, para a devida compreensão da estruturação básica de 
esportes em dois grupos distintos (individuais e coletivos), com 
base no Dicionário Michaelis (2019), individual significa “feito 
por uma só pessoa; definido pela singularidade”, e tem como 
antônimo a palavra coletivo, que em sua busca é conceituada 
em: “relativo ou pertencente a muitas coisas ou pessoas; que é 
intrínseco à natureza de um grupo; que é inerente ou pertence a 
um povo, uma classe, etc.; treino em conjunto, com o objetivo de 
estabelecer a formação ideal de uma equipe”.
Fundamentos Teóricos de Esportes Individuais e Coletivos
– 32 –
Nesse sentido, pensando de forma cartesiana, os esportes individuais 
são jogos competitivos e com regras rígidas, realizados por apenas uma 
pessoa, que se contrapõem às demais, ao mesmo tempo ou com uma de 
cada vez. Já os coletivos, de forma contrária, visa competir em grupo com 
um objetivo comum: vencer a equipe adversária.
2.1 Esportes individuais: fundamentos 
e exemplificações
Compreende-se esporte individual como uma ação individual em situ-
ação de disputa dentre outras pessoas, sendo com vários participantes ao 
mesmo tempo, ou apenas de lados opostos. Assim, ao inserir mais um joga-
dor, além do que já se opõe, ou modificar o sistema de organização, como por 
pontuação total das participações individuais, tal generalização é inválida para 
caracterização de esporte individual, pois a responsabilidade é grupal.
A modalidade esportiva individual mais antiga, quando não combi-
nada com outros participantes do mesmo grupo ou clube, também como 
natural às ações humanas, é o atletismo.
O ser humano já praticava algumas modalidades do atletismo como 
forma de sobrevivência na Pré-história. A caminhada, por exemplo, era 
utilizada para se locomover de um lugar para outro; a corrida e os saltos, 
para escapar das presas dos animais carnívoros. O arremesso e lançamento 
eram usados para se defender e matar animais, que serviam de alimento. 
Dessa forma, os homens e as mulheres foram adquirindo habilidades que, 
mais tarde, foram aprimoradas e adaptadas às competições de atletismo. 
(DARIDO; SOUZA JR., 2007, p. 115).
Sendo o atletismo o esporte individual mais antigo ainda existente na 
contemporaneidade, por estar atrelado à natureza da motricidade humana 
– andar, lançar, arremessar e pular, por exemplo –, e ao identificar a rela-
ção entre os jogos competitivos atuais e os princípios do homem, tanto 
individual quanto coletivamente, esses movimentos fundamentais ocor-
riam na luta pela subsistência biológica e social.
Darido e Souza Jr (2007) esclarecem que, de acordo com relatos his-
tóricos, as primeiras competições de atletismo aconteceram aproximada-
– 33 –
O que são esportes individuais e coletivos?
mente em 1.200 a.C., na Grécia Antiga, no monte Olimpo, e próximo a tal 
lugar, a população grega construiu um palco para que ocorressem os jogos 
olímpicos. Nesse local [...] os homens exibiam sua força, suas habilidades 
físicas e o controle psicológico, tudo em homenagem a Zeus, o rei dos 
deuses da mitologia grega.
As mulheres, por sua vez, não tinham permissão para participar dos 
jogos e nem para assistir às competições masculinas. Em contrapartida, a 
cada quatro anos era realizado um evento esportivo só para elas, em home-
nagem a Hera, esposa de Zeus. (DARIDO; SOUZA JR., 2007, p. 116).
Os jogos gregos marcam o início do conceito de esporte, pela rigidez 
na organização e realização das provas competitivas, especificamente as 
individuais. Neles aconteciam homenagens aos líderes locais com tribu-
tos, rituais religiosos e fúnebres em que participavam as cidades gregas. 
As olimpíadas da Antiguidade aconteceram 293 vezes, em doze séculos, 
em que Tubino (2017) cita o período inicial de 796 a.C. e final de 394 d.C., 
quando o imperador romano Teodósio proíbe sua realização.
O período indicado por Tubino difere da ideia citada por Darido e 
Souza Jr., pois estes últimos consideram os primeiros relatos sobre os 
jogos gregos. Já o primeiro autor descreve que o período aproximado do 
início das competições dos jogos olímpicos ocorreu após a construção de 
espaços específicos para os jogos, em Olímpia.
Do mesmo modo, como observado na Figura 2.1, o que se sabe é que 
as corridas na Antiguidade 
aconteciam com os corpos 
dos corredores desnudos, 
havendo culto ao corpo 
atlético. Como nessa 
representação, a maioria 
dos esportes, que eram 
individuais, ocorria sem 
roupas, e exibiam corpos 
magros e musculosos.
Assim, nota-se que o tipo de corpo atlético ideal nas olimpíadas da 
Antiguidade é o mesmo que o da atualidade. As ações e as intenções de 
Figura 2.1 – Corridas na Grécia Antiga
Fonte: Shutterstock.com/Malysh Falko
Fundamentos Teóricos de Esportes Individuais e Coletivos
– 34 –
cada povo, ou dos seus comandantes sobre ele, é que se modificam. Daolio 
(2013, p. 34) afirma que, sobre a corporeidade humana, aspectos biológi-
cos e culturais caminham juntos, indiferente da nacionalidade ou tempo-
ralidade, sendo o corpo um patrimônio universal que “[...] para além das 
semelhanças ou diferenças físicas, existe um conjunto de significados que 
cada sociedade escreve nos corpos dos seus membros ao longo do tempo, 
significados esses que definem o que é corpo de maneiras variadas”.
 Saiba mais
Os jogos olímpicos da Antiguidade eram realizados em 13 provas, 
todas elas individuais, e algumas com a utilização de objetos e animais. 
Confira as modalidades acessando o link https://www.bol.uol.com.br/
listas/13-modalidades-esportivas-das-olimpiadas-na-grecia-antiga.htm
Para ampliar discussões teóricas a respeito dos esportes na Grécia 
Antiga, sugere-se a leitura do artigo científico: LESSA, Fábio S. Esporte 
na Grécia Antiga: um balanço conceitual e historiográfico. Recorde: 
Revista de História de Esporte Artigo, v. 1, n. 2, dez. 2008. Disponível 
em: <https://revistas.ufrj.br/index.php/Recorde/article/view/774/715>, 
Acesso em: 21 jun. 2019.
Na era moderna das olímpiadas, o francês Pierre de Coubertin, no 
final do século XIX, acreditando no poder do esporte para promover a paz 
mundial em meio a conflitos de ordem internacional, inicia um processo 
de restauração dos jogos olímpicos em 1892, e termina quatro anos depois 
em 1896. A primeira edição da era moderna das olimpíadas ocorreu na 
cidade de Atenas, com a participação de 285 atletas, com rituais modifi-
cados em relação aos da Antiguidade (TUBINO, 2017). Como exemplo, 
a cerimônia de premiação que, na modernidade, ocorre com entrega de 
medalhas aos três primeiros colocados: ouro, prata e bronze, respectiva-
mente, sobre uma plataforma com três alturas diferentes, sendo a mais alta 
o lugar do campeão. Na Antiguidade, a premiação ao vencedor era uma 
coroa de ramos de oliveira, a confecção de uma estátua ouum poema.
Os jogos olímpicos na modernidade iniciam com ideais moralistas 
e burgueses, porém, com incentivos da mídia com interesses comerciais, 
– 35 –
O que são esportes individuais e coletivos?
acabou sendo desenvolvido também um caráter formativo na escolha 
de esportes a serem praticados em todo o mundo, em especial os com 
maior cobertura televisiva. A partir de então, nota-se a necessidade de 
relevante representatividade mundial em participação nos esportes que 
compõem o quadro de modalidades olímpicas, as quais tendem a apre-
sentar um grande número de pré-requisitos para serem inseridas no pro-
grama do evento.
Hoje, com uma gama de modalidades esportivas, a cada dia que 
passa novos jogos são criados, por conta da ampliação da tecnologia, 
que acelera a divulgação de informações, promovendo novas práticas 
e gostos. Para tanto, Tubino (2017) explica que os implementos tec-
nológicos conseguem ampliar para fora do estádio o contexto espor-
tivo, “[...] evidenciando detalhes de grande interesse para o público, 
como as emoções, os fatos paralelos, os bastidores e tudo que possa 
causar sensações”.
A cada quatro anos tem-se a realização de jogos olímpicos em países 
diferentes, que devem dispor de enormes estruturas para os megaeventos, 
sendo essa uma necessidade para a aprovação da sede das competições. 
Tal fato se assemelha a um dos objetivos das olimpíadas da Antiguidade, 
que era a exibição do corpo e do poderio de um povo sobre os demais, por 
intermédio das competições.
Para que as modalidades sejam inseridas e retiradas da programação 
olímpica, o que se sabe é que, geralmente, a relação para inclusão está 
atrelada a um número suficiente de atletas federados em todo o mundo, 
de acordo com o sexo, estando a cargo do Comitê Olímpico Internacional 
(COI), avaliar quais esportes entram, e quais saem do quadro. Provavel-
mente tal fato esteja ligado à necessidade de espectadores para acompa-
nhar as transmissões e, assim, patrocinadores também se sentem satisfei-
tos com objetivos mercadológicos.
Quadro 2.1 – Modalidades esportivas nas olimpíadas do Rio de Janeiro – 2016 
Modalidade Individual
Atletismo X
Badminton X
Fundamentos Teóricos de Esportes Individuais e Coletivos
– 36 –
Modalidade Individual
Basquetebol O
Boxe X
Canoagem (slalom e velocidade) X
Ciclismo (estrada, pista, BMX e Mountain-Bike) X
Esgrima X
Futebol O
Ginástica (artística, rítmica e trampolim) X
Golfe X
Halterofilismo X
Handebol O
Hipismo X
Hóquei sobre a grama O
Judô X
Luta Greco-Romana X
Nado sincronizado O
Natação X
Pentatlo moderno X
Polo aquático O
Remo X
Rugby O
Saltos ornamentais X
Taekwondo X
Tênis X
Tênis de mesa X
Tiro X
Tiro com arco X
Triatlo X
Vela X
– 37 –
O que são esportes individuais e coletivos?
Modalidade Individual
Voleibol O
Voleibol de praia O
Legenda: X= há provas individuais; O= não há provas individuais.
Fonte: elaborado pelo autor.
Observando o quadro 2.1, nota-se que são poucas as modalidades que 
não ofereciam ações individuais em suas provas: basquetebol, handebol, 
futebol, hóquei sobre a grama, nado sincronizado, polo aquático, rugby, volei-
bol e voleibol de praia. Nesses esportes, há interação com algum participante 
em sua equipe, ou seja, o atleta, além de suas ações individuais, necessita de 
harmonia com outro jogador de seu grupo para atingir os objetivos do jogo.
Na maioria das modalidades que estiveram presentes no programa 
dos jogos olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, existiu alguma forma de 
disputa em que a interação do atleta é apenas com seus oponentes, alme-
jando vencê-los: atletismo, badminton, boxe, canoagem (slalom e velo-
cidade), ciclismo (estrada, pista, BMX e montain-bike), esgrima, ginás-
tica (artística, rítmica e trampolim), golfe, halterofilismo, hipismo, judô, 
luta greco-romana, natação, pentatlo moderno, remo, saltos ornamentais, 
taekwondo, tênis, tênis de mesa, tiro, tiro com arco, triatlo e vela.
Para as olimpíadas de Tóquio, em 2020, serão inclusas as modali-
dades: caratê, basquetebol 3x3, surfe, escalada, skate, beisebol e softbol. 
Destes esportes, o caratê, surfe, skate e escalada acontecem em participa-
ção individual. Já o basquetebol 3x3, o beisebol e o softbol, com compe-
tição coletiva. Nesse contexto, as inserções no próximo quadro olímpico 
estão divididas quase que igualmente dentre necessidade de participação 
com parceiro ou não.
Uma forma de somar as individualidades nesses esportes é a competição 
por equipe, que acontece com a soma de pontuação dos atletas de acordo 
com suas classificações singulares, ou seja, quanto mais próximos do primeiro 
lugar, mais pontuam, e no todo também são avaliados e premiados.
A participação em dupla ou em trio fica como outra maneira de divi-
são de responsabilidades, pois é necessária harmonia entre os dois ou três 
Fundamentos Teóricos de Esportes Individuais e Coletivos
– 38 –
componentes da equipe. Exige, porém, 
menos do que uma organização coletiva 
no futebol, voleibol, handebol, na qual, 
em campeonatos de alto nível, todos os 
jogadores, tanto reservas, como titulares, 
precisam apresentar relevante desempe-
nho, fato que vai sendo minimizado ao 
compor equipes com menos atletas, e 
mais ainda nas participações individuais, 
nas quais o participante é o único respon-
sabilizado por seus atos.
É de extrema relevância, porém, 
indiferentemente se o esporte for indivi-
dual ou coletivo, uma análise a respeito 
da cultura presente na comunidade em 
que o jogo está inserido, para que não 
haja banalização que conduza a única 
motivação esportiva orientada à vitória.
Segundo a importância do esporte, 
culturalmente é refletida em prestí-
gio nacional e na identidade do atleta 
a necessidade de sucesso esportivo. Na 
Grécia Antiga, por exemplo, o esporte 
era visto como parte valiosa da cultura, 
relacionado à alma e espírito do povo. 
O desporto era componente integral 
da educação do jovem, e os atletas de 
sucesso recebiam honrarias como líderes 
(BRANDÃO, 2007).
A comunidade grega representa um 
berço do esporte como atividade cultu-
ral, pois ele era utilizado no processo 
educativo com o fim de elevar espiri-
tualmente o praticante, algo parecido 
com os processos educativos das artes 
Fonte: Adaptado de CC BY 3.0/
brasil2016.gov.br com elementos de 
Shuttertock.com/Artem Kovalenco.
Figura 2.2 – Provas do pentatlo 
moderno
– 39 –
O que são esportes individuais e coletivos?
marciais orientais. Hoje, os atletas com grandes conquistas no currículo, 
geralmente pertencentes aos esportes coletivos de maior prestígio social 
e de finanças, também são condecorados em meio à comunidade, porém, 
existe grande influência da utilização das vitórias no marketing pessoal 
e no dos patrocinadores.
Nota-se, também, que alguns esportes individuais, mesmo modifica-
dos, fizeram parte das olímpiadas na Grécia Antiga: atletismo, boxe, luta 
greco-romana e pentatlo. Sabe-se que, na Antiguidade, as provas eram 
bem diferentes em relação às normas, por exemplo: o pentatlo, que ante-
riormente ocorria com a participação em cinco provas (luta, corrida, lan-
çamento do disco e dardo, salto) podendo ser alteradas por outras, desde 
que a quantidade de provas fosse respeitada, difere bastante da versão 
olímpica moderna (esgrima, natação, hipismo, tiro e corrida). 
Destarte, percebe-se que o pentatlo, na Antiguidade, tinha como 
objetivo a preparação para as batalhas entre as nações. Nesse sentido, 
os atletas desempenhavam esportes que tinham ligação com força 
muscular dinâmica, capacidade necessária para vencer os oponentes 
nas guerrilhas, e o campeão era considerado o atleta mais versátil den-
tre todos. 
No pentatlo atual, as atividades também são associadas às ações de 
preparação para o combate, porém hoje a modalidade olímpica é pouco 
conhecida, contrariamente à Grécia Antiga, onde o esporte tinha um fim 
cultural, ligado às questões da comunidade.
Uma prova individual que se tornou tradicional e ainda é presente no 
quadro olímpico é a maratona do atletismo.Ela está relacionada às bata-
lhas históricas da Antiguidade, na cidade de Maratona, como é possível 
conferir na história de Pheidippides, um mensageiro grego que teve uma 
intensa empreitada em 490 a.C.
Na verdade, Pheidippides foi encarregado de uma tarefa mais 
árdua e importante. Quando os persas estavam chegando à Grécia 
para destruir Atenas, coube a Pheidippides ir até Esparta, a 240 km 
de distância, pedir reforços. Correndo! [...] Na verdade, não era só 
Pheidippides que corria, já que a preparação física era fundamental 
no exército ateniense. E foi graças à corrida que eles derrotaram os 
persas em Maratona (DARIDO; SOUZA JR., 2007, p. 116).
Fundamentos Teóricos de Esportes Individuais e Coletivos
– 40 –
Os atenienses estavam em número menor em relação aos persas, e 
com a má notícia trazida pelo mensageiro, o exército de gregos correu até 
a planície de Maratona e surpreendeu os oponentes, obrigando-os a voltar 
aos barcos. Em seguida, os persas foram navegando por cerca de oito a dez 
horas, até o sul da Grécia na praia de Phaleron, onde também foram rece-
bidos pelos atenienses, que correram cerca de 40 km e chegaram antes, 
impedindo o desembarque dos oponentes (DARIDO; SOUZA JR, 2007).
Nas regras atuais do atletismo, a maratona é composta por uma cor-
rida de extrema resistência física, e, com base na história grega, a prova 
tem uma distância de 42.195 metros a serem percorridos pelas ruas de 
cidades que sediam as competições.
Uma prova individual que também se mostra ainda presente, 
e com relação com as batalhas históricas da Antiguidade, 
é a maratona, com a história de Pheidippides, um mensa-
geiro grego que teve uma intensa empreitada em 490 a.C.
 
Quadro 2.2 – Exemplos de maratonas contemporâneas
Principais maratonas do mundo
Boston (EUA)
Nova York (EUA)
Chicago (EUA)
Berlim (Alemanha)
Londres (Inglaterra)
Fonte: http://globoesporte.globo.com/eu-atleta/noticia/2012/04/5-principais-maratonas-
do-mundo.html
De acordo com o site Globo Esporte (2012), as atuais maratonas de 
Boston, Nova York, Chicago, Berlim e Londres são as principais provas 
dessa modalidade no mundo, pois os participantes pontuam para o circuito 
World Marathon Majors (VMN), e o campeão masculino e feminino recebe 
um milhão de dólares. A maratona atual, como um esporte com o caráter pro-
fissional, conduz os atletas por todo o mundo em busca das boas premiações. 
– 41 –
O que são esportes individuais e coletivos?
Dentre os principais vencedores estão os africanos (quenianos e etíopes), que 
possuem, segundo Vancini et al. (2013, p. 1), alguns fatores que a literatura 
científica explica que corroboram para tais fatos “[...] (o estilo de vida na 
infância, a motivação psicológica para o sucesso econômico e social, o 
tipo de dieta, o tipo de treinamento físico, o biotipo, o perfil fisiológico e 
bioquímico e o background genético) da intrigante e complexa interação 
entre o genótipo e fenótipo”.
 Saiba mais
O artigo científico de revisão de literatura de Vancini et al. (2013) “O 
que explicaria o fantástico fenômeno de rendimento esportivo dos cor-
redores africanos?”, publicado na revista Brazilian Journal of Biomotri-
city, fundamenta, com alicerce na ciência atual, o fenômeno dos etío-
pes e quenianos nas maratonas pelo mundo. Vale a pena aprofundar 
a leitura, compreendendo melhor como organizar um treinamento de 
corrida longa, com base nos melhores atletas do mundo nessa modali-
dade atual!
Nos esportes individuais atuais, a maratona é considerada um dos 
mais lucrativos, pois possui a característica importante de não necessitar 
de muitos recursos financeiros para sua preparação, o que teoricamente 
coloca os atletas em nível inicial de igualdade, tanto que o continente 
mais pobre do mundo é o mais vitorioso. Também é evidente que, para 
o alto nível, é necessário maior investimento que garanta a manutenção 
dos resultados depois de algum tempo. Muitas pessoas, porém, também 
estão buscando as corridas como uma atividade recreativa, aproximando-a 
do aspecto lúdico, procurando com isso a melhoria do condicionamento 
físico e a manutenção da saúde.
Muitos esportes individuais contemporâneos estão associados a fatos 
ocorridos há muito tempo, tais como as ações relacionadas à sobrevivência 
de uma nação em determinados períodos históricos. De tal modo, produ-
zia-se cultura com as relações agonísticas1, atendendo aos preceitos lúdi-
1 No capítulo anterior há mais informações a respeito de fundamentos básicos do jogo por 
um princípio lúdico e como produtor de cultura. Para situar o leitor, porém, pensa-se no 
Fundamentos Teóricos de Esportes Individuais e Coletivos
– 42 –
cos dos jogos que Huizinga e Caillois defendem, tendo em vista que as 
histórias estão presentes até hoje, sendo repassadas de geração a geração.
Figura 2.3 – Representação do esporte individual x esporte coletivo 
Individual Coletivo
X
Fonte: Shutterstock.com/Rocksweeper/Vasyl Shulga
Também é notório que, atualmente, o esporte individual tem pouca 
representatividade social. Em suma, apenas reproduz fatos históricos, pro-
duz pouco do que se espera do jogo em seu sentido humano. Um exem-
plo disso é que a maioria das modalidades individuais do quadro 2.1 são 
pouco conhecidas, e a maior parte de seus competidores sofre em seus 
países, para sobreviver no mundo do profissionalismo esportivo, e acabam 
desistindo do esporte, logo distanciam-se também da essência lúdica.
Constituindo os jogos olímpicos como o principal megaevento espor-
tivo mundial da atualidade, em se tratando de disputas com relevantes 
adaptações aos competidores com necessidades especiais para participa-
ção, torna-se interessante mapear as modalidades individuais e coletivas 
dos Jogos Paraolímpicos, que são exclusivos às pessoas com deficiência.
Quadro 2.3 – Modalidades nas paraolimpíadas do Rio de Janeiro em 2016
Modalidade Individual
Atletismo X
sentido de atividade agonista a que Huizinga e Caillois referem-se como ações de contra-
riedade dentre jogadores, que, para alcançar seus objetivos na disputa, agem com criativi-
dade para superar seu opositor, havendo, assim, produção cultural que pode ser repassada 
no grupo por meio da tradição, principalmente em comunidades primitivas.
– 43 –
O que são esportes individuais e coletivos?
Modalidade Individual
Basquete em cadeira de rodas O
Bocha X
Canoagem X
Ciclismo de estrada X
Ciclismo de pista X
Esgrima em cadeira de rodas X
Futebol de cinco O
Futebol de sete O
Goalball O
Halterofilismo X
Hipismo X
Judô X
Natação X
Remo X
Rugby em cadeira de rodas O
Tênis de mesa X
Tênis em cadeira de rodas X
Tiro com arco X
Tiro esportivo X
Triatlo X
Vôlei sentado O
Legenda: X= há provas individuais; O= não há provas individuais.
Fonte: elaborado pelo autor.
Nas paraolimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, o grande evento 
que aconteceu um mês depois de terminadas as olímpiadas, as modalida-
des individuais foram: atletismo, bocha, canoagem, ciclismo de estrada, 
ciclismo de pista, esgrima em cadeira de rodas, halterofilismo, hipismo, 
judô, natação, remo, tênis de mesa, tênis em cadeira de rodas, tiro com 
arco, tiro esportivo e triatlo. Já as que ocorreram apenas de maneira cole-
Fundamentos Teóricos de Esportes Individuais e Coletivos
– 44 –
tiva foram: basquete em cadeira de rodas, futebol de cinco, futebol de sete, 
goalball, rugby em cadeira de rodas e vôlei sentado, permanecendo como 
maioria as modalidades em disputas individuais.
Já sobre os Jogos Olímpicos de Inverno, que acontecem em regi-
ões frias por conta da necessidade de solo congelado ou com neve, o 
último evento ocorreu em 2018, na cidade de PyeongChang, Coreia do 
Sul. Nesse acontecimento, dentre as quatorze modalidades disputadas, 
onze foram especialmente individuais: salto de esqui, snowboard, biatlo, 
combinado nórdico, esqui alpino, esqui cross-country, esqui estilo livre, 
luge, patinação artística, patinação de velocidade e skeleton. Apenas três 
modalidades foram coletivas: bobsled, curling ehóquei. Na versão para-
olímpica de inverno, o evento teve seis provas, sendo quatro individuais 
(biatlo, esqui alpino, esqui cross-country e snowboard) e duas coletivas 
(curling em cadeira de rodas e hóquei sobre trenó).
Da mesma maneira que nos jogos olímpicos, nos paraolímpicos e 
nos paraolímpicos de inverno, algumas modalidades singulares também 
funcionam com sistemas de pontuação que somam as participações indi-
viduais, resultando em premiações coletivas. Em sites de busca, ou nos 
sites dos eventos, é possível pesquisar a respeito dos esportes contidos no 
quadro 2.4, tendo em vista que a maioria deles não é de conhecimento dos 
brasileiros, pois há remotas regiões no sul do país nas quais há ocorrência 
de neve. Explicar cada uma delas não faz parte do objetivo desta obra.
Quadro 2.4 – Modalidades nas olimpíadas e paraolimpíadas de inverno
Modalidade Olimpíada de inverno
Parolimpíada 
de inverno
Modalidade 
individual
Biatlo X X X
Bobsled X - -
Combinado nórdico X - X
Curling X - -
Curling em cadeira de rodas - X -
Esqui alpino X X X
Esqui cross-country X X X
– 45 –
O que são esportes individuais e coletivos?
Modalidade Olimpíada de inverno
Parolimpíada 
de inverno
Modalidade 
individual
Esqui estilo livre X - X
Hóquei X - -
Hóquei sobre trenó - X -
Luge X - X
Patinação artística X - X
Patinação de velocidade X - X
Salto de esqui X - X
Skeleton X - X
Snowboard X X X
Legenda: OI= Olimpíadas de Inverno; PI= Paraolimpíadas de Inverno; X= há 
provas individuais; O= não há provas individuais.
Fonte: elaborado pelo autor.
As modalidades das paraolimpíadas, olímpiadas e paraolimpíadas de 
inverno também foram citadas para a comparação da quantidade de jogos 
coletivos e, de forma geral, representam em todos os programas a mino-
ria, em detrimento às participações individuais, mesmo fato analisado nos 
últimos jogos olímpicos de verão. Não é intuito deste texto estimar a indi-
vidualidade, mas sim, problematizar a supervalorização dos esportes cole-
tivos na mídia: Por que ocorre tal valorização? Por que os atletas de provas 
individuais, geralmente, recebem menos incentivo, quando comparados 
aos que compõem grandes equipes coletivas?
Tubino (2017) explica que no momento em que o esporte de desem-
penho obteve um caráter comercial, houve uma reorganização da sua 
importância. Isso ocorreu devido à atuação da televisão, que começou 
a centralizar os interesses da população mundial por meio dos eventos 
esportivos. Assim:
A busca permanente pelo espetáculo esportivo e o abandono gra-
dual das competições que não despertassem o interesse do público 
Fundamentos Teóricos de Esportes Individuais e Coletivos
– 46 –
foram as principais causas da reacomodação dos esportes olímpi-
cos. Assim, os esportes coletivos ganharam importância e os indi-
viduais perderam espaços na mídia. 
Entretanto, mesmo perdendo espaço, os esportes individuais per-
manecem no cenário esportivo internacional, fato que pode ser 
explicado pela vocação cultural de cada nação. No caso espe-
cífico do Brasil, além, é claro, do futebol, as grandes vocações 
específicas são os esportes coletivos. (TUBINO, 2017, [s.p.], 
grifos do autor).
Nos jogos olímpicos da Antiguidade, existiam apenas modalidades 
individuais, e elas apresentavam objetivos que iam muito além do compe-
tir. Seu objetivo eram as características culturais de um povo, e algumas 
claro que exageradamente violentas para os jogadores, nas quais o intuito 
dos organizadores era o lazer, especialmente dos mais abastados, ou a pre-
paração para a guerra.
Nos megaeventos esportivos da modernidade, em especial os de cará-
ter olímpico, os princípios que o barão Pierre de Coubertin buscou, ao 
retomá-los no século XIX, estão bem distantes do romantismo que aquele 
momento buscava, como a paz mundial. Outra questão está atrelada às 
mudanças que a maioria dos jogos passava na Inglaterra, na busca pela 
manutenção do imperialismo, pensando-os para utilização com normati-
zações para a burguesia.
Hoje, a maioria dos jogos busca mercantilismo, em que as modali-
dades individuais geralmente são pouco atrativas. Para que atletas desses 
esportes consigam alguma representatividade midiática em seus contratos 
e suas respectivas modalidades, necessitam quebrar recordes e mais recor-
des, funcionando como espécies de máquinas programadas para vencer 
seus limites. Um exemplo é o jamaicano Usain Bolt, que atingiu o auge 
da história esportiva nos últimos anos, sendo o homem mais rápido do 
mundo, aparecendo em inúmeras propagandas. Atletas que não conse-
guem chegar tão longe em seus resultados estão fadados a muitas penúrias 
no caminho, até alcançar um espaço sólido no mundo esportivo atual, ou 
desistir de fato.
Ao concordar com Tubino em suas indagações, pois realmente há 
pouca divulgação na mídia para os esportes individuais, na maioria das 
vezes, apenas os resultados mais expressivos dos atletas são amplamente 
– 47 –
O que são esportes individuais e coletivos?
divulgados por ela. Prova disso, mas em um sistema de busca diferente 
(sites de pesquisas acadêmicas: Google Acadêmico, Scielo e portal capes 
periódicos), foi feita uma investigação para a organização deste texto, e 
com o termo “esportes individuais”, pouquíssimos estudos foram encon-
trados para contribuir com tal fundamentação teórica, o que não ocorreu 
para “esportes coletivos”, em que várias análises foram localizadas.
Alguns desses resultados serão apresentados a seguir, com o intuito de 
esclarecer conceitos basilares presentes nos esportes coletivos e, em seguida, 
comparar características básicas desses tipos de jogos competitivos.
2.2 Esportes coletivos: fundamentos 
e exemplificações
Os esportes coletivos, em suma, são jogos realizados por diversas 
pessoas que compõem uma equipe, contrapondo-se à outra e, como ações 
humanas, possuem características materiais e simbólicas. A simbologia 
está marcada pelos sistemas de regras externalizadas, ou seja, são com-
binadas entre seus participantes, que, por tal sentido, tornaram-se signos 
psicológicos, tendo em vista que não sofrem variações e passaram por 
um sistema de convenções sociais. Os esportes estão além de ser apenas 
jogos, pois trazem uma seriedade diferente dos princípios lúdicos, por não 
possibilitar alterações em sua forma. A questão não é que outras maneiras 
de jogar não sejam sérias, mas é possibilitado aos jogadores criarem suas 
regras e obedecerem a elas em seguida. No caso dos esportes, as regras são 
pré-estabelecidas por outras pessoas, no regulamento específico à moda-
lidade ou competição.
O aspecto material está balizado pelos objetos e implementos neces-
sários aos jogadores, como: espaço geográfico, rede, bastão, taco, gol, 
cesto, luvas, uniformes, dentre outros. No caso dos esportes coletivos, a 
maioria conta com uma bola que deverá ser conduzida até o espaço da 
equipe adversária, para que o ponto seja marcado.
Nos jogos esportivos do tipo coletivo, desenvolvem-se importantes 
aspectos em seus jogadores, além das capacidades motoras, mesmo que as 
regras não sejam fundadas anteriormente por eles, pois, para atuar em tal 
Fundamentos Teóricos de Esportes Individuais e Coletivos
– 48 –
espaço físico e simbólico bem delimitado, são necessárias diversas ativi-
dades cognitivas.
Nos jogos esportivos coletivos é muito importante o uso do conhe-
cimento, da captação da informação e tomada de decisão, porque 
é preciso agir de modo contrário à previsibilidade ou se adaptar à 
imprevisibilidade do jogo. É necessário que o atleta tenha o saber 
da sua modalidade esportiva para solucionar, por meio dos proces-
sos cognitivos, os problemas presentes no contexto do jogo, reso-
lução que será efetivada via execução de uma habilidade motora 
[...] (MATIAS; GRECO, 2010, p. 252).
Os jogos esportivos coletivos acontecem tanto individual quanto 
coletivamente, porque são necessárias tomadas de decisão que resul-
tam em habilidades motoras do participante enquanto indivíduo naquele 
espaço, que,

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