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Doenças autoimunes Tolerância imunológica ● indivíduos “normais” são tolerantes aos seus próprios antígenos porque os linfócitos responsáveis pelo reconhecimentos dos autoantígenos estão eliminados ou inativados, ou a especificidade destes linfócitos encontra-se alterada 1. pela deleção clonal de linfócitos T auto-reativos 2. pela deleção clonal de linfócitos B auto-reativos 3. pela supressão funcional de linfócitos T e B auto-reativos ● estabelecida pela exposição dos linfócitos aos antígenos Tolerância central de linfócitos T ● induzida quando os linfócitos em desenvolvimento encontram os autoantígenos nos órgãos linfoides geradores ● seleção negativa: linfócito T interage fortemente com um antígeno próprio apresentado via MHC → recebe sinais que estimulam a apoptose de linfócitos B ● linfócitos B que reagem com antígenos próprios na medula óssea tanto podem ser destruídos como podem alterar a especificidade do seu receptor ● edição do receptor → expressa uma nova cadeia leve de Ig → passa por uma novo reconhecimento e se permanecer reagindo com antígenos próprios sofre apoptose ● deleção ● anergia Tolerância periférica de linfócitos T ● algumas células T CD4+ autorreativas que encontram autoantígenos no timo não são deletadas → diferenciam-se em células T regulatórias específicas para esses antígenos → deixam o timo e inibem as respostas contra autoantígenos na periferia ● o que determina a escolha entre a deleção e o desenvolvimento das células T regulatórias é desconhecido ○ possíveis fatores: afinidade de reconhecimento do antígeno, os tipos de células apresentadoras de antígenos, disponibilidade de certas citocinas no timo ● proteína AIRE é parte de um complexo que regula a expressão de antígenos restritos a tecidos ○ TRAs: tissue-restricted antigens ○ peptídeos derivados dos antígenos são mostrados nas MTEC e reconhecidos por células T antígenoespecíficas imaturas → deleção de muitas células T autorreativas ○ na ausência de AIRE funcional → células T autorreativas não são eliminadas → podem entrar nos tecidos onde os antígenos continuam a ser produzidos e causar danos ● induzida quando as células T maduras reconhecem os antígenos próprios nos tecidos periféricos → inativação funcional ou morte ● maduras: sem reação auto-reativa que migra para a periferia e amadurece ● anérgicas: células que não receberam a estimulação necessária para ser ativada → falta co-estimulação ● supressão: a interação com o auto-antígeno é fraca → poucos sinais intracelulares são emitidos após a ligação → migra para a periferia mas permanece suprimida ● apoptose: morte celular de linfócitos B ● linfócitos B maduros → encontram antígenos na periferia → entram em anergia → não podem responder novamente àquele antígeno ● deleção por apoptose ● expressão de receptores inibitórios que impedem a ativação da célula B de linfócitos T CD8+ ● se as células T CD8+ reconhecerem peptídeos associados à MHC de classe I sem coestimulação ou ajuda da célula T → tornam-se anérgicas (mecanismo de anergia essencialmente o mesmo dos linfócitos T C4+) ● receptores inibitórios (ex.: PD-1): suprimem a ativação das células CD8+ ○ podem estar envolvidos na exaustão (término das respostas das células CD8+) ● células T regulatórias CD25+ podem inibir diretamente a ativação de células T CD8+ ou suprimir células auxiliares CD4+ (necessárias para respostas completas das células T CD8+) ● células CD8+ expostas a elevadas concentrações de autoantígenos → morte celular por apoptose Regulação das respostas das células T por receptores inibitórios ● ligação do CTLA-4 ao B7 (coestimulador) → ativa a fosfatase → remove fosfatos das moléculas de sinalização associadas ao TCR e ao CD28 → termina as respostas ● redução da disponibilidade de B7 ○ CTLA-4 (esp. nas células T regulatórias) → liga-se às moléculas B7 das APCs → impede-as de se ligarem ao CD28 ○ CTLA-4 → captura + faz endocitose das moléculas B7 → reduz a expressão destas nas APCs → reduz o nível de B7 nas APCs disponíveis → se ligam ao CD28 → deficiência de coestimulação → resposta diminuída da célula T Supressão pelas células T regulatórias ● reconhecimento de auto-antígenos no timo ou na periferia (menor extensão) → síntese de T regs ● desenvolvimento e sobrevivência requer IL-2 e fator de transcrição FOXO3 ● periferia: suprimem a ativação e função efetora de outros linfócitos autorreativos e potencialmente patogênicos ● mecanismos de ação ○ produção de citocinas imunossupressoras IL-10 e TGF-β ○ ligação do CTLA-4 (nas células regulatórias) às moléculas B7 (nas APCs) → habilidade reduzidas das APCs em estimularem as células T ○ alto nível de expressão do receptor de IL-2 → consumo de IL-2 + priva outras populações de células desse fator de crescimento → redução da proliferação e diferenciação de outras células dependentes de IL-2 ● Síndrome de IPEX ● doença autoimune rara em humanos (desregulação imunológica, poliendocrinopatia e enteropatia ligada ao X) ● mutações no gene FOXP3 → associada à deficiência das células T regulatórias ● importância das células T regulatória na manutenção da autotolerância Autoimunidade ● doenças autoimunes assemelham-se as respostas imunes normais contra patógenos, só que neste caso o reconhecimento ocorre para antígenos próprios ● normalmente: mecanismos de autotolerância previnem a auto-imunidade ● alguns linfócitos auto-reativos sofrem maturação → ativados → doença autoimune Mecanismos propostos para autoimunidade ● ex.: doença autoimune mediada por célula T órgão-específica: vários loci genéticos podem causar suscetibilidade à autoimunidade, em parte por influenciarem a manutenção da autotolerância ● fatores ambientais: infecções e outros estímulos inflamatórios → promovem a influxo de linfócitos para dentro dos tecidos e a ativação de células T autorreativas → lesão tecidual ● tolerância ou regulação defeituosas: falha dos mecanismos de autotolerância em células T ou B → desequilíbrio entre ativação e controle de linfócitos → causa subjacente de todas as doenças autoimunes ○ defeitos na deleção (seleção negativa) de células T ou B ou na edição de receptores em células B durante a maturação dessas células nos órgãos linfoides centrais ○ defeitos no número e função de linfócitos T regulatórios ○ apoptose defeituosa de linfócitos autorreativos maduros ○ função inadequada de receptores inibitórios ● apresentação anormal de autoantígenos ○ expressão aumentada e persistência de autoantígenos que são normalmente degradados ○ alterações estruturais nesses antígenos, resultantes de modificações enzimáticas ou de estresse ou lesão celular ○ apresentação de epítopos antigênicos que normalmente não estão presentes → sistema imunológico não pode ser tolerante com esses epítopos → permite o desenvolvimento de autorrespostas ● inflamação ou resposta imunológica inata inicial ○ resposta imune inata é um forte estímulo para a ativação subsequente de linfócitos e para a geração de respostas imunológicas adaptativas ○ infecções ou danos à célula podem suscitar reações imunológicas inatas locais com inflamação → podem contribuir para o desenvolvimento de doença autoimune, talvez pela ativação das APCs, que se sobrepõem aos mecanismos regulatórios, resultando em ativação excessiva da célula T ○ infecções virais e bacterianas podem contribuir para o desenvolvimento e exacerbação da autoimunidade ○ encontro de uma célula T autorreativa madura com um autoantígeno apresentado por uma APC em estado quiescente com deficiência de coestimulador → tolerância periférica por anergia ○ microrganismos podem ativar as APCs para que expressem coestimuladores → APCs apresentam autoantígenos → células T autorreativas são ativadas em vez de se tornarem tolerantes ○ alguns antígenos microbianos podem apresentar reação-cruzada com autoantígenos → respostas imunológicas iniciadas por microrganismos podem ativar células T específicas para autoantígenos (mimetismomolecular, porque os antígenos do microrganismo mimetizam os autoantígenos) Bases genéticas da autoimunidade ● maioria das doenças autoimunes é consequência de características poligênicas complexas → indivíduos afetados herdam polimorfismos genéticos múltiplos que contribuem para a suscetibilidade da doença ● genes + fatores ambientais → doenças autoimunes ● associação de alelos de MHC com autoimunidade ● polimorfismos de genes não HLA associados à autoimunidade ● anormalidades de gene única herdadas (mendelianas) que causam autoimunidade Doenças autoimunes ● doenças autoimunes órgão-específicas: restrita a órgão específicos ● doenças autoimunes sistêmicas: diferentes tecidos são atingidos Lúpus eritematoso sistêmico ● doença mediada por complexos imunes ● doença crônica multissistêmica remitente e recidivante ● prevalência em mulheres, especialmente entre 20 e 60 anos ● erupções cutâneas, artrite, glomerulonefrite, vasculite e anemia hemolítica ● acúmulo de autoanticorpos e complexos imunes: anti-DNA, antígenos nucleares e histonas ● autoanticorpos mais frequentes: ○ anticorpos antinucleares, esp. anti-DNA ○ outros: anticorpos contra ribonucleoproteínas, histonas e antígenos dos nucléolos ○ anemia hemolítica e a trombocitopenia são causadas por autoanticorpos contra eritrócitos e plaquetas, respectivamente ● autoanticorpos + seus antígenos específicos → imunocomplexos → se depositam em pequenas artérias e capilares em todo o corpo → glomerulonefrite, artrite e vasculite ● principal teste diagnóstico: presença de anticorpos antinucleares + anticorpos contra o DNA nativo de fita dupla → específicos para o LES Patogênese ● fatores genéticos (envolvimento de HLA) e ambientais → quebra de tolerância de linfócitos T e B autorreativos ○ probabilidade (risco relativo) de indivíduos portadores do HLA-DR2 ou HLA-DR3 é de 2 a 3 e, se ambos os haplótipos estiverem presentes, de aproximadamente 5 ○ exposição à luz ultravioleta (UV) → morte apoptótica das células e liberação de antígenos nucleares ● gatilho externo (radiação UV) → apoptose → eliminação deficiente de corpos apoptóticos → + antígenos nucleares → reconhecidos pelos anticorpos antinucleares → complexo antígeno-anticorpo → linfócitos B + células dendríticas plasmocitóides → endocitam os complexos antígeno-anticorpo → acoplamento de antígenos aos Toll Like receptors nos endossomos → produção de interferons do tipo I pelas células dendríticas → ativação dos linfócitos B → citocinas + anticorpos IgG antinuclear ● ciclo de liberação de antígenos e imunoativação que leva à produção de autoanticorpos de alta afinidade Tratamento ● anticorpos anti-IFN-α ou seu receptor e tentar inibir os sinais de TLR ● grande interesse na depleção de células B por meio da utilização de um anticorpo contra a proteína de superfície de células B, CD20 ● um anticorpo que bloqueia o fator de crescimento de células B (BAFF) foi aprovado para o tratamento de LES Artrite reumatóide ● doença inflamatória que envolve pequenas e grandes articulações das extremidades, incluindo dedos das mãos e pés, punhos, ombros, joelhos e tornozelos ● inflamação da sinóvia associada à destruição da cartilagem articular e óssea ● respostas imunes humoral e mediada por células: podem contribuir para o desenvolvimento de sinovite ● Células CD4 + Th1 e Th17 + linfócitos B ativados + plasmócitos + macrófagos + outras células inflamatórias → encontradas na sinóvia inflamada ● o IL-1, IL-8, TNF, IL-6, IL-17 e IFN-γ: detectadas no líquido sinovial (articular) → recrutam leucócitos → lesão tecidual + estimula as c. sinoviais a produzirem enzimas proteolíticas (ex.: colagenase) → medeiam a destruição da cartilagem, ligamentos e tendões das articulações ● complicações sistêmicas da artrite reumatoide: vasculite, presumivelmente causada por imunocomplexos, e lesão pulmonar ● células B ativadas + plasmócitos: frequentemente presentes na sinóvia das articulações afetadas ● frequentemente apresentam anticorpos circulantes IgM ou IgG que reagem com as porções Fc (e raramente Fab) de suas próprias moléculas de IgG → fatores reumatoides → presença utilizada como um teste diagnóstico para a artrite reumatoide ○ fatores reumatoides: podem participar da formação de imunocomplexos prejudiciais ● anticorpo para peptídeos cíclicos citrulinados (anti-CCP): detectado em pelo menos 70% dos pacientes ○ peptídeos cíclicos citrulinados (CCP): derivados de determinadas proteínas modificadas em um ambiente inflamatório pela conversão enzimática de resíduos de arginina em citrulina ○ marcador diagnóstico para a doença → é mais específico para AR do que os fatores reumatoides, que podem estar presentes em outras doenças ○ podem estar envolvidos na lesão tecidual Patogênese ● falha na tolerância + fatores ambientais → modificação de enzimas e proteínas próprias → c. T e B respondem a antígenos próprios nos tecidos articulares → migração de anticorpos e complexos para circulação → produção de citocinas → inflamação → destruição da cartilagem e do osso ● fatores genéticos: haplótipo HLA-DR4 e a outros poucos alelos de HLA-DR + gene que codifica uma tirosina fosfatase, PTPN22 ● fatores ambientais: tabagismo e algumas infecções Tratamento ● antagonistas de TNF-α ● inibição da ativação de células T tem sido realizada por meio do bloqueio da coestimulação de B7:CD28 com CTLA-4-Ig, que se liga a B7 ● depleção de células B com anticorpo antiCD20 também se provou eficaz Esclerose múltipla e encefalomielite experimental autoimune ● doença autoimune do SNC ● células CD4+ Th1 e Th17 reagem contra os autoantígenos da mielina → inflamação com ativação de macrófagos ao redor dos nervos no cérebro e na medula espinhal, destruição da mielina, anormalidades na condução nervosa e déficit neurológicos ● doenças neurológica mais comum em adultos jovens ● exame patológico → inflamação na substância branca do SNC e desmielinização ● clinicamente: fraqueza, paralisia e sintomas oculares com exacerbações e remissões ● encefalomielite autoimune experimental (EAE): um dos modelos experimentais mais bem caracterizados de uma doença autoimune órgão-específica mediada principalmente por linfócitos T ○ induzida pela imunização de animais com antígenos normalmente presentes na mielina do SNC (proteína básica da mielina (MBP), proteína proteolipídica e a glicoproteína da mielina do oligodendrócito) + micobactérias mortas pelo calor (para elicitar uma forte resposta de células T) ○ 1-2 semanas após a imunização: animais desenvolvem encefalomielite → infiltrados perivasculares de linfócitos e macrófagos na substância branca do SNC, seguida por desmielinização ○ lesões neurológicas podem ser leves e autolimitadas ou crônicas e reincidentes → paralisia progressiva ou com remissão e recidiva ○ células CD4 + Th1 e Th17 ativadas e específicas para antígenos proteicos da mielina ● polimorfismos genéticos associados à esclerose múltipla incluem o locus HLA, com o alelo HLADRB1*1501 apresentando a ligação mais forte Tratamento ● anticorpo contra a integrina VLA-4 → bloqueia a migração de leucócitos para o SNC → benéfica em pacientes ○ tratamento com anticorpo monoclonal humanizado anti-integrina α4 reduz a reincidência de esclerose múltipla → Natalizumab - SNC ● fingolimode (FTY720): bloqueia a via mediada pela esfingosina 1-fosfato da célula T egressa de tecidos linfoides Diabetes tipo I ● vários mecanismos podem contribuir para destruição das células β do pâncreas: inflamação mediada por células TH1 CD4+ reativas com antígenos das ilhotas (incluindo insulina), lise de células das ilhotas mediada por CTL, produção local de citocinas (TNF e IL-1) que danificam células das ilhotas e autoanticorpos contra as células das ilhotas ● 90% ou mais das ilhotas precisam ser destruídas antes que as manifestações clínicas sejam observadas ● autoanticorpos contra as células das ilhotas e a insulina também são detectados no sangue desses pacientes ● tratamento○ indução de tolerância com peptídios diabetogênicos de antígenos das ilhotas (como a insulina) ou gerando ou administrando células T reguladoras para os pacientes Doença inflamatória intestinal (Doença de Chron e colite ulcerativa) ● grupo heterogêneo de distúrbios → inflamação mediada por células T causa a lesão intestinal ● inflamação remitente crônica do intestino delgado ou grosso ● respostas mal reguladas às bactérias comensais ● Crohn → espessura do tecido da parede intestinal, mais frequente no íleo terminal ● colite ulcerativa → restrita a mucosa colônica ● sintomas: dor abdominal, vômitos, diarréia e perda de peso. ● tratamentos ○ fármacos anti-inflamatórios: sulfassalazina, corticosteroide e antagonistas de TNF Psoríase ● doença inflamatória de pele coordenada por linfócitos T ● produção de citocinas pró-inflamatórias ● ativação e queratinócitos ● erupções cutâneas ● hiperplasia da epiderme ● presença de neutrófilos na derme ● infiltrado perivascular neutrófilos e monócitos
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