Buscar

DIAGNÓSTICO PRECOCE DE INSUFICIÊNCIA RENAL EM CÃES

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 51 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 51 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 51 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

i 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS 
ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL 
 
 
 
Disciplina: SEMINÁRIOS APLICADOS 
 
 
 
 
 
DIAGNÓSTICO PRECOCE DE INSUFICIÊNCIA RENAL EM CÃES 
 
 
 
 
 
 
 
Thaís Domingos Meneses 
Orientadora: Maria Clorinda Soares Fioravanti 
 
 
 
 
 
 
 
GOIÂNIA 
2011 
ii 
THAÍS DOMINGOS MENESES 
 
 
 
 
DIAGNÓSTICO PRECOCE DE INSUFICIÊNCIA RENAL EM CÃES 
 
 
 
Seminário apresentado junto à Disciplina Seminários 
Aplicados do Programa de Pós-Graduação em 
Ciência Animal da Escola de Veterinária e Zootecnia 
da Universidade Federal de Goiás 
Nível: Mestrado 
 
Área de Concentração: 
Patologia, Clínica e Cirurgia Animal 
 
Linha de Pesquisa: 
Alterações clínicas e laboratoriais dos animais 
e meios auxiliares de diagnóstico 
 
 
 
Orientadora: 
Prof.ª Dr.ª Maria Clorinda Soares Fioravanti - UFG 
 
Comitê de Orientação: 
Prof. Dr. Marcello Rodrigues da Roza - UFG 
Dr.a Patrícia Lorena da Silva Neves Guimarães - UFG 
 
 
GOIÂNIA 
2011 
iii 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 1 
2 REVISÃO DE LITERATURA...................................................................... 3 
2.1 Insuficiência renal................................................................................... 3 
2.1.1 Azotemia e uremia............................................................................. 6 
2.2 Provas de lesão renal............................................................................ 9 
2.2.1 Proteinúria e microalbuminúria........................................................... 9 
2.2.2 Relação proteína:creatinina urinária .................................................. 13 
2.2.3 Gama glutamiltransferase urinária (GGT)......................................... 15 
2.3 Provas de função renal.......................................................................... 17 
2.3.1 Uréia................................................................................................... 17 
2.3.2 Creatinina........................................................................................... 19 
2.3.3 Densidade urinária (DU)..................................................................... 22 
2.3.4 Cistatina C.......................................................................................... 27 
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 34 
REFERÊNCIAS........................................................................................... 35 
 
 
 
 
1 
1 INTRODUÇÃO 
 
O rim é responsável por funções reguladoras, excretoras e endócrinas, 
sendo essencial para a manutenção do equilíbrio hídrico, eletrolítico, 
homeostático e ácido-básico (STRASINGER, 1996). 
Está bem estabelecido que a função renal declina de maneira 
progressiva na maioria das enfermidades que acometem o órgão, resultando em 
complicações como hipertensão arterial, desnutrição, anemia, osteodistrofia, 
neuropatia e qualidade de vida insatisfatória (MARTINEZ et al., 2003; HOJS et al., 
2006; STEVENS et al., 2006). 
A insuficiência renal apresenta duas fases, aguda e crônica. A fase 
aguda é caracterizada pela reversibilidade dos danos morfológicos, podendo 
haver restauração da função do néfron, enquanto que a fase crônica é marcada 
por lesões estruturais e funcionais irreversíveis, sendo esta a forma de maior 
prevalência da afecção renal em cães e gatos (BROWN et al., 1997; POLZIN et 
al., 1997). Portanto, nota-se um limite na recuperação da funcionalidade do órgão 
pois as alterações estruturais nem sempre são acompanhadas por recuperação 
funcional (POLZIN et al.,1997). 
A estrutura e função renal devem ser avaliadas separadamente. Os 
testes usados para detectar a presença de alteração na estrutura renal incluem 
urinálise, exames de imagem e biópsia renal, entretanto, outros exames, que 
evidencia lesão morfológica precoce, devem ser instituídos na rotina clínica, tais 
como as enzimas urinárias, que são sensíveis indicadores de lesão renal (FINCO, 
1989; LANIS et al., 2008). 
A função renal pode ser mensurada por testes que avaliam a 
permeabilidade glomerular, a capacidade de concentração renal e, 
principalmente, a taxa de filtração glomerular, a qual é geralmente avaliada pela 
quantificação de um marcador glomerular, que deve ser eliminado do organismo 
via renal (PRATES et al., 2007). 
Alguns exames laboratoriais permitem localizar e identificar lesões 
renais precoces, antes do desenvolvimento do estágio inicial da doença (POLZIN 
et al., 1997). A importância disso refere-se ao fato de que, uma lesão inicial em 
determinada localização do néfron pode progredir para as estruturas adjacentes, 
2 
danificando-as e ocasionando alterações morfológicas (POLZIN et al, 1997; 
NELSON & COUTO, 2001). 
Assim, o estabelecimento de um diagnóstico precoce é primordial para 
instituição de medidas que auxiliem na recuperação do órgão, antes que o 
organismo desempenhe mecanismos metabólicos adaptativos e compensatórios 
que culminem na impossibilidade de reverter o quadro patológico, 
comprometendo a qualidade de vida do animal com redução da sua sobrevida. A 
avaliação da função renal é a chave para o diagnóstico, monitorização e manejo 
das doenças renais, bem como para o cálculo adequado de doses dos fármacos 
que são excretadas pelos rins (STEVENS et al., 2006). 
 
3 
2 REVISÃO DE LITERATURA 
 
 
2.1 Insuficiência renal 
 
Os néfrons consistem na unidade organizacional básica do rim, 
apresentando um leito capilar especializado, denominado glomérulo, envolto por 
um epitélio urinário, denominado cápsula de bowman, que está conectado a uma 
sucessão de segmentos epiteliais especializados, os túbulos renais. Essa é a 
unidade morfofuncional responsável pela filtração do plasma e formação da urina, 
de forma que, o total de urina produzida pelo rim será a soma da urina produzida 
por todos os néfrons do órgão. O número de néfrons de um rim varia conforme a 
espécie e, dentro da mesma espécie, varia conforme o tamanho do animal, entre 
800 e 8 milhões (GARCIA-NAVARRO, 1996; MOTTA, 2009). 
As doenças renais em cães são desencadeadas por desordens de 
etiologia variada que induzem alterações estruturais e funcionais do órgão 
(SPARGOS & HAAS, 1994). Sabe-se que a função renal é essencial para a 
manutenção do equilíbrio hídrico, eletrolítico, homeostático e ácido-básico, 
eliminando produtos de excreção do metabolismo corporal, controlando as 
concentrações da maioria dos constituintes do sangue e dos líquidos intracelular e 
intersticial por meio dos mecanismos de reabsorção e secreção, caracterizando 
os rins como órgãos excretores e reguladores. Além disso, contribuem para para 
a eritropoiese e são responsáveis pela liberação de hormônios para o controle da 
pressão sanguínea (STRASINGER, 1996). 
O auxílio na manutenção da homeostasia do meio interno ocorre por 
meio de três fatores: a filtração, a reabsorção e a secreção, tendo como produto 
final a urina (Figura 1). Esse é um processo mecânico, que independe do gasto 
de energia, sendo necessária adequada perfusão sangüínea ao órgão, 
processamento correto do ultrafiltrado do sangue pelos glomérulos e túbulos 
renais e transporte de urina ao longo de condutos desobstruídos (GARCIA-
NAVARRO, 1996). 
A irrigação do néfron se faz pela arteríola aferente, a qual forma o 
glomérulo e continua, a partir daí, com o nome de arteríola eferente. A arteríola 
4 
eferente se ramifica, capilarizando-se ao redor dos túbulos, irrigando-os e 
recebendo o produto de sua reabsorção. Esses capilares dão início à rede venosa 
responsável pela circulação de retorno, formando-se as vênulas, que vão unindo-
se entre si para formar as diversas veias que, finalmente, constituem a veia renal 
(GARCIA-NAVARRO,1996). 
O sangue que chega ao néfron pela arteríola aferente é filtrado no 
capilar glomerular gerando um líquido, o filtrado glomerular. Esse líquido 
apresenta composição química semelhante ao plasma, mas é destituído de 
proteínas. Em sua passagem pelos túbulos renais, ocorre a reabsorção de 
substâncias importantes para o organismo, como a glicose, uma parte de água, 
aminoácidos e vários íons. O produto final, não reabsorvido nos túbulos renais, 
constitui a urina (CASTIGLIA & VIANNA, 1992). 
 
 
 
 
Figura 1: Eventos biofísicos envolvidos na produção de urina 
Fonte: http://www.ibb.unesp.br 
 
 
eferente 
aferente 
http://www.ibb.unesp.br/
5 
Os animais apresentam reserva funcional correspondente à quantidade 
de néfrons necessários para manter a função renal. Em cães e gatos sadios essa 
reserva é maior que 50% (NELSON & COUTO, 2001; GREGORY, 2003). 
Após a injúria renal são observadas alterações metabólicas adaptativas 
e compensatórias, como hipertrofia e hiperplasia dos néfrons normais, na 
tentativa de manter a função do órgão. Entretanto, quando esses néfrons 
hipertrofiados não conseguem mais manter a função renal adequada, os rins 
tornam-se afuncionais. Assim sendo, a insuficiência renal instala-se quando 
ocorre perda significativa da reserva funcional do órgão, correspondente a 75% 
da população total de néfrons. Esse processo poderá ocorrer mediante qualquer 
lesão progressiva do tecido renal e os danos podem afetar, primariamente, os 
glomérulos, os túbulos, o tecido intersticial ou a vasculatura renal (SPARGOS & 
HAAS, 1994; POLZIN et al., 1997; NELSON & COUTO, 2001; GREGORY, 2003) 
A fase aguda corresponde ao momento de instalação do quadro clínico 
mediante a estabilização da função renal por mecanismos compensatórios 
atuantes. Quanto mais precocemente essa fase for detectada, maior será a 
chance de êxito na reversibilidade dos danos morfológicos e, às vezes, 
funcionais. O quadro tem caráter progressivo e pode manter-se por semanas e, 
ás vezes, meses, até que as alterações adaptativas iniciais sejam substituídas por 
alterações destrutivas de gravidade variável como atrofia, inflamação, fibrose e 
mineralização, caracterizando a fase crônica, em que não há regeneração 
funcional (POLZIN et al., 1997). O diagnóstico da enfermidade renal ocorre com 
maior freqüência entre seis a sete anos em cães e entre sete a oito anos em 
gatos (BROWN et al., 1997; LUSTOZA & KOGIKA, 2003). 
A taxa de filtração glomerular (TFG) é o principal indicador da função 
renal, sendo definida como clearance de uma substância presente no plasma, 
metabolizada exclusivamente pelos rins e filtrada livremente pelos glomérulos. Na 
insuficiência renal há um declínio, súbito ou lento, no ritmo de filtração glomerular, 
que determina decréscimo variável no volume urinário e retenção, entre outros, de 
dejetos nitrogenados, substâncias indesejáveis ao organismo, provenientes do 
catabolismo de proteínas e ácidos nucléicos, que, em condições fisiológicas, são 
eliminados pela urina. Na rotina laboratorial, a dosagem desses compostos no 
6 
organismo faz parte da avaliação do status renal do paciente (CASTIGLIA & 
VIANNA, 1992; MOTTA, 2009; GABRIEL et al., 2011). 
 
 
2.1.1 Azotemia e uremia 
 
A redução da quantidade de néfrons funcionais acarreta em queda da 
TFG. Nessa condição, os produtos provenientes da degradação protéica, 
normalmente excretados pela urina, deixam de ser filtrados pelos rins, resultando 
em retenção e acúmulo na circulação. A azotemia refere-se ao excesso desses 
componentes nitrogenados no sangue circulante, sendo rotineiramente detectada 
pelo aumento de uréia e creatinina sérica (FINCO, 1995; NELSON & COUTO, 
2001; STOCKHAM & SCOTT, 2002). 
A uremia é a manifestação clínica secundária à azotemia, assim sendo, 
na ausência de sinais clínicos o animal está azotêmico mas não está urêmico. 
Geralmente a uremia é o estágio clínico final no qual todas as alterações 
progressivas generalizadas confluem, ocorrendo maior comprometimento da 
função do órgão. O acúmulo de componentes nitrogenados não protéicos na 
circulação sanguínea, potencialmente tóxicos, resultará em alteração 
polissistêmica (POLZIN et al., 1997; BELLODI, 2008). 
Os sinais clínicos iniciais da doença renal podem variar dependendo da 
natureza, gravidade, duração, velocidade da progressão, presença de outra 
enfermidade não relacionada, idade, espécie e administração concomitante de 
medicamentos. Esses sinais associados à uremia incluem anorexia, depressão, 
vômito, diarréia, desidratação, hemorragia gastrointestinal, estomatites 
ulcerativas, letargia, tremores musculares, convulsões, coma, hipertensão, perda 
de peso e hálito com odor amoniacal. A polidipsia compensatória à poliúria 
também pode ser observada nos cães, uma vez que estes apresentam menor 
capacidade de concentrar a urina quando comparados aos felinos (POLZIN et al., 
1997; NELSON & COUTO, 2001; STOCKHAM & SCOTT, 2002). 
O acometimento gastrointestinal é a ocorrência mais comum na 
uremia. Toxinas urêmicas estimulam a elevação dos níveis de gastrina sérica e 
estas, por sua vez, ligam-se aos receptores das células parietais localizadas na 
7 
mucosa gástrica, estimulando-as a secretarem maiores quantidades de H+ 
(prótons de hidrogênio) por um período prolongado. Na tentativa de eliminar o H+ 
há formação de ácido clorídrico. Além disso, 40% da gastrina circulante são 
metabolizadas pelos rins, então, a redução do funcionamento renal resulta em um 
aumento e prolongamento da estimulação das células parietais, com aumento da 
produção de H+. A hiperacidez causa irritação, inflamação, ulceração, hemorragia 
gástrica e o contato do ácido clorídrico e da pepsina com a mucosa provoca 
liberação de histamina estimulando novamente as células parietais. Fatores 
agravantes ocorrem concomitantemente, como a urease bacteriana, que produz 
amônia piorando as erosões, causando alterações vasculares que acarreta 
isquemia, prejudicando a reconstituição adequada da mucosa gástrica, induzindo 
refluxo biliar devido à disfunção pilórica, que pode ser provocada, indiretamente, 
pelo aumento da gastrina sérica (POLZIN et al., 1997). 
A azotemia pode ocorrer por diminuição da excreção de uréia ou 
creatinina, sendo classificada em causas de origem não-renal, pré-renal, renal e 
pós-renal. Para o diagnóstico preciso é importante que essa divisão esteja clara 
ao clínico e não há teste capaz de fazer essa distinção (STOCKHAM & SCOTT, 
2002). 
A azotemia não-renal consiste no aumento de uréia porém, com níveis 
de creatinina dentro dos parâmetros da normalidade, isso indica que a função 
renal está preservada mas há maior degradação protéica, com aumento da uréia 
sérica (MOTTA, 2009). Esse fato é mais comumente observado em situações que 
cursam com o aumento da lise protéica e maior disponibilidade de amônia. 
Quando o animal alimenta-se de dieta hiperprotéica, há maior disponibilidade de 
aminoácidos que são absorvidos pelo trato gastrointestinal e, se esta quantidade 
de aminoácidos excede o requerimento nutricional, serão convertidos em uréia, 
com o intuito de eliminar os resíduos nitrogenados do organismo. Ocorrerá da 
mesma forma em casos de sangramentos no trato gastrointestinal, em que há 
reabsorção de proteínas sanguíneas. Outras alterações no metabolismo protéico 
incluem desordens que aumentem o catabolismo protéico, tais como estado febril, 
hipertireoidismo, exercício prolongado, enfermidades crônicas que cursam com 
redução da ingestão alimentar, como a caquexia na doença renal, bem como a 
redução do anabolismo e uso de fármacos catabólicos, como corticosteróides e 
8 
tetraciclinas (FINCO, 1995; STOCKHAM & SCOTT, 2002; FETTMAN & REBAR, 
2004; MOTTA, 2009). 
Os cães da raça Yorkshire terrier, de meia-idade a idosos, apresentam 
particularidades no que se refere à azotemia. Nessa raça pode estar presente 
altas concentraçõesde uréia sem que haja nenhuma razão aparente. Além disso, 
no caso de insuficiência renal, frequentemente apresentam concentrações de 
uréia desproporcionalmente altas em relação à creatinina (MOTTA, 2009). 
A azotemia pré-renal desenvolve-se quando há situações que cursam 
com a diminuição do fluxo sanguíneo para os rins, tais como desidratação, perda 
sanguínea e insuficiência cardíaca congestiva, resultando na diminuição da taxa 
de filtração glomerular. A hipovolemia causa, no túbulo contorcido proximal, um 
aumento da reabsorção de sódio (Na+), água e, passivamente, de uréia, pois o 
fluxo mais lento permite maior tempo para reabsorção (STOCKHAM & SCOTT, 
2002). 
Quando a pressão arterial renal é menor que 60 a 70 mmHg, a filtração 
glomerular diminui sem a formação de urina. Ocorrem graus variáveis de redução 
na velocidade de filtração glomerular apesar do sistema auto-regulador do rim 
tentar manter o suprimento de sangue ao órgão, como o estímulo hipovolêmico à 
liberação do hormônio antidiurético (ADH), o qual causa aumento da reabsorção 
de uréia nos túbulos coletores (STOCKHAM & SCOTT, 2002). 
A restauração do fluxo sanguíneo é suficiente para restabelecer a 
perfusão do órgão e, consequentemente, a filtração glomerular. No entanto, se a 
hipoperfusão for intensa e prolongada poderá provocar lesão renal permanente, 
devido à hipóxia, instalando-se a insuficiência renal aguda (STOCKHAM & 
SCOTT, 2002; MOTTA, 2009). 
A azotemia de origem renal refere-se à lesão parenquimatosa do 
órgão, suficiente para causar significativa diminuição da taxa de filtração 
glomerular com consequente aumento dos produtos nitrogenados no sangue 
(STOCKHAM & SCOTT, 2002; SENIOR, 2005). As causas mais comuns são 
necrose tubular aguda, glomerulonefrite, lesão arteriolar, nefrite intersticial aguda 
induzida por medicamentos, deposição intra-renal de sedimentos, embolização 
pelo colesterol, hemoglobinúria e mioglobinúria (MOTTA, 2009). 
9 
Na azotemia pós-renal a causa inicial está distal aos néfrons, como 
processos obstrutivos do trato urinário, tais como urolitíase, síndrome urológica 
felina, neoplasia, hiperplasia prostática benigna. A ruptura da bexiga é outra 
causa de azotemia pós-renal, com perda de urina para a cavidade abdominal, d 
onde a uréia e a creatinina da urina são absorvidas passivamente pelo mesotélio 
peritoneal e retornam ao plasma (FINCO, 1995; STOCKHAM & SCOTT, 2002). 
 
 
2.2 Provas de lesão renal 
 
2.2.1 Proteinúria e microalbuminúria 
 
Em condições normais, as proteínas não estão presentes, em grandes 
quantidades, no filtrado glomerular. O colágeno do tipo IV, localizado na 
membrana basal da parede capilar glomerular, é o responsável por restringir a 
filtração da maioria das proteínas plasmáticas, principalmente em função do peso 
molecular e tamanho das partículas protéicas. Essa permeabilidade seletiva não 
permite nem mesmo a passagem da albumina, que é uma das proteínas de 
menor peso molecular (69.000 dáltons). Além disso, a parede dos glomérulos 
apresentam carga negativa, impedindo a passagem de proteínas, também 
carregadas negativamente, como a albumina (GRAUER, 2011). Ainda assim, as 
proteínas de menor peso molecular ou proteínas maiores com carga positiva, que 
conseguem passar pelos glomérulos, são completamente reabsorvidas pelas 
células epiteliais do túbulo contorcido proximal, podendo ser degradadas e 
utilizadas pelas células tubulares ou retornarem ao sangue (SENIOR, 2005; 
GRAUER, 2011). 
Em condições fisiológicas, o filtrado glomerular de cães e gatos 
saudáveis contém apenas 2 a 3 mg/dL de albumina em comparação aos 4 g/dL 
encontrados no plasma. Isso corresponde 40% a 60% de albumina urinária em 
relação às demais proteínas (MEYER & HARVEY, 1998; SCOTT & STOCKHAM, 
2002; BARSANTI et al., 2004; GRAUER, 2011). 
A proteinúria é a presença excessiva de qualquer tipo de proteína na 
urina e microalbuminúria está relacionada à presença de pequena concentração 
10 
de albumina na urina em valores acima dos parâmetros fisiológicos permitidos. A 
proteinúria pode refletir função renal inadequada e, quando detectada, é 
importante avaliar sua origem, visando estabelecer um diagnóstico adequado 
(GREGORY, 2003; LESS et al., 2005; GRAUER, 2011). 
A presença excessiva de proteína na urina pode ter causas fisiológicas 
ou patológicas. A condição fisiológica ou benigna é geralmente transitória, de 
baixa magnitude e tende a reduzir quando o agente desencadeante é removido. 
As principais causas são ingestão alimento hiperprotéico, exercícios extenuantes, 
convulsões, febre, estresse, exposição ao calor ou frio (McCAW et al., 1985). 
Em estudo realizado por McCAW et al. (1985), observaram que a 
redução da atividade física influenciou no desenvolvimento de proteinúria em 
cães, mostrando que a perda protéica pela urina foi maior em cães confinados em 
baias quando comparada aos cães com nível de atividade física normal. 
Entretanto, segundo GARY et al. (2004), cães submetidos à caminhada em 
esteira por 20 minutos não apresentaram proteinúria, indicando que o aumento da 
atividade física não foi um fator de risco. 
O mecanismo pelo qual a proteinúria fisiológica ocorre ainda não está 
completamente esclarecido, mas acredita-se que esteja relacionado à 
vasoconstricção renal transitória, isquemia e/ou congestão (BUSH, 2004; 
LAROUTE et al., 2005). 
A proteinúria patológica pode ser oriunda de causas pré-renal, renal ou 
pós-renal. A proteinúria de origem pré-renal relaciona-se à estados patológicos 
que aumentam as concentrações de proteínas de baixo peso molecular na 
circulação, como é o caso em lesões musculares extensas (mioglobinúria), 
anemias hemolíticas (hemoglobinúria) e até mesmo devido a alta produção de 
imunoglobulinas de cadeias leves por células plasmáticas neoplásicas, como o 
mieloma múltiplo. As proteínas de baixo peso molecular, quando em excesso, 
extrapolam a capacidade de reabsorção tubular e concentram-se na urina 
(MEYER & HARVEY, 1998; SCOTT & STOCKHAM, 2002; BARSANTI et al., 
2004; GRAUER, 2011). 
A proteinúria de origem renal ocorre, principalmente, devido às 
alterações na permeabilidade glomerular, frequentemente associada à 
hipertensão intraglomerular, a presença de complexos imunes, inflamação 
11 
vascular nos capilares glomerulares ou defeitos estruturais na membrana basal do 
glomérulo (GRAUER, 2011). Na hipertensão intraglomerular há aumento da TFG, 
resultando em hiperfiltração, com consequente sobrecarga nos néfrons residuais 
e progressão da doença renal (FINCO et al., 1999). 
A glomerulonefrite é uma das principais causas de proteinúria renal, 
por ser a principal causa de IR em cães. Nesse caso, a permeabilidade seletiva 
do mecanismo de filtração glomerular é perdida, permitindo a passagem de 
grande quantidade de proteínas séricas. A lesão glomerular geralmente evidencia 
proteinúria mais severas do que aquelas associadas às lesões tubulares 
(DIBARTOLA & BENSON, 1989; GRAUER, 1994; GRAUER, 2011). Outras 
causas de proteinúria de origem renal incluem doenças inflamatórias ou 
infiltrativas do rim, como as pielonefrites, leptospirose, neoplasias, que muitas 
vezes são acompanhadas por sedimento urinário ativo com alterações renais 
detectáveis na avaliação ultrassonográfica (GRAUER, 2011). 
Quando a proteinúria é de origem renal deve ser feito um 
monitoramento, analisando a persistência e quantificação da sua magnitude. 
Deve ser interpretada em associação à avaliação da concentração de creatinina 
sérica, pois a proteinúria pode reduzir com a progressão da doença renal, devido 
à diminuição da quantidade de néfrons funcionais. Essa condição quando 
associada à creatinina sérica estável, indica resposta positiva ao tratamento e, 
quando associada ao aumento da creatinina sérica, sugere progressão da doença 
renal (GRAUER, 2011). 
A proteinúria de origem pós-renal é a mais comum. Trata-se de lesões 
inflamatóriase/ou hemorrágicas do trato urinário inferior, podendo envolver os 
ureteres, bexiga e uretra, sendo a cistite a causa mais frequentemente observada. 
É importante ressaltar que a obtenção de amostra urinária por meio da 
cistocentese minimiza o potencial de contaminação por proteínas presentes no 
trato urinário inferior. A análise do sedimento pode estimar, de acordo com a 
celularidade presente, a desordem que influenciou as concentrações protéicas 
encontradas. No sedimento urinário compatível com o processo inflamatório, 
encontra-se, piúria, hematúria, bacteriúria e aumento de células epiteliais de 
transição (LESS et al., 2005; GRAUER, 2011). 
12 
Além das complicações clássicas relacionada à forte proteinúria, tais 
como hipoalbuminemia, edema, ascite, hipercolesterolemia, hipertensão e 
hipercoagulabilidade, há evidências de que a proteinúria também pode 
desencadear dano glomerular e tubular, resultando em perda progressiva dos 
néfrons, pois as proteínas plasmáticas que atravessam a parede dos capilares 
glomerulares podem se acumular dentro dos glomérulos e estimular a proliferação 
celular mesangial e aumento da produção de matriz mesangial (JERUMS et al., 
1997). 
Em humanos, a albuminúria já é um indicador preciso de doença renal 
e sua detecção precoce, com a instituição de tratamento adequado, tem retardado 
a progressão da enfermidade. Além disso, o excesso de proteínas no filtrado 
glomerular pode resultar em toxicidade às células epiteliais tubulares, gerando 
inflamação intersticial, fibrose e morte celular (ABRASS, 1997; KEANE & 
EKNOYAN, 1999; EDDY, 2001). 
Estudos em cães mostram que a microalbuminúria é um bom marcador 
da função renal, considerando o início da doença. Nesse caso, os cães devem 
receber maior atenção e cuidados especiais. Entretanto, a sua prevalência parece 
variar de acordo com diferentes doenças, podendo refletir outras alterações além 
da doença renal, incluindo doenças cardiovasculares, inflamatórias não 
infecciosas e metabólicas (LEES et al., 2002; PRESSLER et al., 2003; 
WHITTEMORE et al., 2003). Cães com linfossarcoma e osteossarcoma 
apresentaram aumentos significativos nas concentrações de albumina urinária, 
que tendem a reduzir à medida que diminui a carga tumoral (PRESSLER et al., 
2003; GRAUER, 2011). 
REGO (2006) avaliou a concentração de albumina na urina em cães 
com insuficiência renal crônica (IRC) comparativamente aos cães hígidos, 
estabeleceu ainda a relação albumina:creatinina urinária (RAC) e 
proteína:creatinina urinária (RPC), correlacionando à pressão arterial. Foi 
observado aumento gradual na RPC nos cães doentes, seguido por aumento 
igualmente gradual na RAC, acompanhados por aumento da pressão arterial. O 
estudo mostrou que a albuminúria resulta em hipertensão e esta causa efeito 
adverso sobre os rins de cães com IRC, assim como observado na medicina 
humana. 
13 
Relatos em cães mostram que a albuminúria estava presente em 
grande porcentagem dos animais que precisaram ser eutanasiados ou que 
morreram naturalmente, sugerindo que, assim como nas pessoas, pode ser 
indicador de prognóstico desfavorável (LEES et al., 2002). 
 
 
2.2.2 Relação proteína:creatinina urinária (PU/CU) 
 
A relação proteína:creatinina urinária é obtida dividindo-se a 
concentração de proteína pela de creatinina numa amostra de urina. O objetivo 
dessa avaliação é obter, aproximadamente, a magnitude de eliminação de 
proteína pela urina, detectando assim a gravidade das lesões renais, a resposta 
ao tratamento ou a progressão da doença (GREGORY, 2003). 
Uma única amostra já é considerada efetiva para a determinação da 
relação proteína:creatinina urinária, possuindo alta correlação com a análise da 
urina produzida pelo animal em 24 horas. Porém, é necessário que a proteína 
total e a creatinina sejam mensuradas de uma mesma amostra (CHRISTOPHER, 
2003; GREGORY, 2003). 
Inicialmente, valores menores que 0,5 eram considerados normais para 
a espécie canina, enquanto que os resultados obtidos acima de 1,0 eram tidos 
como anormais e valores entre 0,5 e 1,0 eram considerados suspeitos ou 
inconclusivos, sendo recomendada a repetição do teste (MEYER & HARVEY, 
1998; SCOTT & STOCKHAM, 2002; BARSANTI et al., 2004). 
Resultados de estudos mais recentes alteraram esses valores, sendo 
estabelecidos como limites borderline a relação de 0,2 a 0,5 em cães e 0,2 a 0,4 
em gatos. São considerados valores anormais a relação PU/CU >0,5 para cães e 
>0,4 para gatos. É provável que a definição dos parâmetros considerados normais 
para PU/CU continuem a mudar a medida que ocorram pesquisas adicionais 
(LEES et al., 2005; LYON et al., 2010, GRAUER, 2011). 
A proteinúria persistente com resultados superiores aos limites 
máximos permitidos à espécie, com causas pré-renal e pós-renal descartadas, 
são achados consistentes de doença glomerular ou tubular intersticial crônica. 
14 
Relação PU/CU > 2,0 indica forte excreção protéica, sendo sugestiva de doença 
glomerular (LEES et al., 2005). 
A proteinúria persistente, mesmo em níveis baixos, já é tida como um 
fator de risco à progressão da doença renal, sendo necessário estimar sua 
magnitude para estabelecer um prognóstico preciso. Em cães nefropatas 
crônicos, o risco de crise urêmica ou mortalidade foi três vezes maior quando 
estes apresentaram PU/CU > 1,0 em relação aos cães com PU/CU < 1,0, 
indicando que o declínio da função renal foi maior em cães que apresentaram 
maior PU/CU, evidenciando a ligação entre proteinúria e a progressão da doença 
renal. Portanto, a proteinúria não representa apenas um marcador de dano 
glomerular, mas também, um dos principais sinais de progressão à insuficiência 
renal (JACOB et al., 2005; LESS et al., 2005). REGO (2006) evidenciou esse fato, 
concluindo ainda que a relação albumina:creatinina urinária é o melhor índice 
para avaliar a microalbuminúria em cães sadios, sendo também uma boa medida 
de acompanhamento clínico em cães nefropatas. 
Ao contrário da tiras reagentes para a detecção de proteínas na urina, 
a relação proteína:creatinina urinária possui como vantagem não sofrer influência 
da concentração urinária e do volume da amostra sobre o seu resultado. Além 
disso, as tiras, comumente utilizadas na urinálise, detectam apenas 
concentrações protéicas entre 5 e 30 mg/dL, assim sendo, concentrações 
menores nas amostras em que a urina encontra-se excessivamente diluída 
podem gerar resultados falso-negativos (MEYER & HARVEY, 1998; SCOTT & 
STOCKHAM, 2002; BARSANTI et al., 2004). 
 
 
2.2.3 Gama glutamiltransferase urinária 
 
A existência da atividade enzimática na urina é conhecida há mais de 
160 anos, no entanto, sua determinação em relação ao estado de saúde e 
enfermidades tem causado maior impacto nas últimas décadas (PALACIO et al., 
1994). 
Devido à limitada sensibilidade dos métodos disponíveis para a 
detecção dos danos renais agudos, as enzimas urinárias, foram motivo de 
15 
estudos e avaliações sendo que mais de 40 já foram mensuradas com fins de 
diagnóstico, mas poucas têm real importância na prática clínica (GRAUER & 
LANE, 1997; CLEMO, 1998). 
A gama glutamiltransferase (GGT) é uma enzima urinária que tem sido 
destacada em inúmeros estudos. Apresenta concentração máxima nas células 
epiteliais dos túbulos contorcidos proximais e alça de Henle dos néfrons, 
normalmente aumentos de duas a três vezes superiores ao valor basal indica 
lesão do epitélio tubular, sendo por isso considerada um marcador precoce de 
dano tubular renal (RUDOLPH & CORVALAN, 1992; UECHI et al., 1994; 
GRAUER & LANE, 1997; CLEMO, 1998). 
Algumas situações clínicas que podem cursar com enzimúria são a 
senilidade, febre, septicemia, hepatopatias, diabetes mellitus, aminoglicosideos, 
nefrotoxinas, intoxicação por metais pesados, antiinflamatórios não esteroidais e 
anestésicos (POPPL et al., 2004). 
A GGT também pode ser encontrada, em pequenas concentrações,em 
outros órgãos como fígado, pâncreas, baço, pulmões, intestino delgado, placenta, 
sistema nervoso central, próstata e coração. Essa enzima exerce papel essencial 
no transporte de aminoácidos e auxilia na manutenção da reserva desses nas 
células (RUDOLPH & CORVALAN, 1992). 
A GGT urinária fornece informações importantes sobre a progressão da 
lesão tubular, devido à variação de sua atividade no curso da doença renal, além 
disso, o seu aumento pode também estar relacionado à lesão glomerular grave, 
permitindo o aumento da filtração das enzimas séricas (GRAUER & LANE, 1997). 
Relatos indicam que cães nefropatas, mesmo na presença de função 
renal normal, podem apresentar aumento na atividade da GGT urinária, 
demonstrando sua precocidade em indicar lesões renais antes mesmo que 
ocorram alterações funcionais do órgão (UECHI et al., 1994; HARST et al., 2005). 
A atividade da GGT urinária foi avaliada por SILVA et al. (2006), 
utilizando um agente nefrotóxico, o acetaminofeno (paracetamol), induzindo lesão 
renal em ratos com redução significativa na TFG. Concluiu-se que a dosagem de 
GGT urinária é um procedimento simples, de baixo custo e útil na detecção 
precoce de lesões renais. 
16 
Estudo realizado em cães avaliou, comparativamente, a atividade da 
enzima GGT urinária com os testes utilizados na rotina clínica que avaliam a 
disfunção renal, como a urinálise, uréia e creatinina séricas, durante a indução de 
IRA por outro agente nefrotóxico, a gentamicina. Concluiu-se que a enzima 
urinária gama glutamiltransferase é mais sensível e específica quando comparada 
aos testes de função renal convencionais, mostrando ser um indicador precoce de 
lesão tubular renal (HENNEMANN et al., 1997). Em avaliação similar, realizada 
por MELCHERT et al., (2007), foi demonstrado que o aminoglicosídeo causou 
redução significativa da taxa de filtração glomerular após estabelecimento de 
lesões tubulares severas. A GGT urinária teve aumento da sua atividade sérica 
quatro dias após indução da nefrotoxicidade, enquanto que a uréia e creatinina 
indicaram alterações renais após sete dias e a urinálise sofreu alterações após 
cinco dias à instalação do agente agressor. 
MENEZES et al. (2010) avaliaram a integridade e função renal de cães 
submetidos à isquemia e reperfusão. Concluiu-se que a atividade da GGT urinária 
é um dos métodos mais sensíveis em detectar lesão tubular aguda quando 
comparado à urinálise de rotina, apresentando nítidas vantagens ao detectar 
alterações precoces. 
Em um experimento, os cães foram submetidos ao envenenamento 
crotálico, o quadro nefrotóxico gerou insuficiência renal aguda. A sedimentoscopia 
urinária mostrou turbidez acentuada, coloração marrom-avermelhada, hematúria, 
proteinúria e glicosúria, indicando alterações renais. A densidade urinária não 
apresentou alterações, enquanto que a GGT urinária apresentou aumento em 
todos os animais, logo na primeira amostra analisada após o envenenamento, 
indicando lesão tubular renal, caracterizando sua precocidade como marcador 
(OLIVEIRA et al., 2004). 
A nefrotoxicidade foi detectada por meio da mensuração da GGT 
urinária em várias espécies, como ovinos, felinos e caninos. Vários artigos 
apontam a GGT urinária como o marcador mais sensível para detectar lesão 
renal, apresentando vantagens no que diz respeito à precocidade de diagnóstico, 
sendo comparada, nesse sentido, à urinálise e determinação sérica de uréia e 
creatinina que apresentam pouco ou nenhum valor (HENNEMANN et al., 1997; 
SILVA et al., 2006; MELCHERT et al., 2007; MENEZES et al. , 2010). 
17 
SANTIN et al. (2006), ao pesquisar a atividade da GGT urinária em 
cães sadios submetidos à terapia com anfotericina-B, fármaco causador de 
disfunção tubular proximal e distal, relataram que esta enzima não foi eficaz para 
o diagnóstico precoce de lesão renal. Entretanto, os valores de referência 
utilizados foram de 13 a 92 UI/L, limites muito amplos que dificultam a correta 
interpretação dos resultados. 
 
 
2.3 Provas de função renal 
 
2.3.1 Uréia 
 
A uréia é um composto nitrogenado não protéico, classificado 
quimicamente como amida. Apresenta em sua constituição uma pequena 
quantidade de ferro e chumbo, que não são considerados tóxicos. É solúvel em 
água, álcool e compostos orgânicos sólidos, sendo, desta maneira, de fácil 
excreção (SANTOS et al., 2001). 
O catabolismo de proteínas exógenas, provenientes da alimentação, e 
endógenas, oriundas da renovação celular, gera aminoácidos. Em geral, os 
aminoácidos são absorvidos pelo intestino e utilizados para a síntese protéica, 
porém, quando em excesso, não são armazenados nem excretados, mas 
degradados (DONALD et al., 2002). 
Os aminoácidos são captados pelos hepatócitos, entrando no “ciclo da 
uréia” ou “ciclo da ornitina” e, nas mitocôndrias, sofrem catabolismo por meio de 
dois mecanismos: transaminação e desaminação oxidativa. Nesse processo 
haverá a desaminação e oxidação dos aminoácidos, com a transferência de um 
grupo amino para um α cetoácido, resultando na produção de amônia (DONALD 
et al., 2002; STOCKHAM & SCOTT, 2002; FETTMAN & REBAR, 2004). 
A amônia é um composto potencialmente tóxico ao organismo, sendo 
convertido em uréia (NH2-CO-NH2) e esta é transportada pelo plasma até os rins, 
onde é filtrada pelos glomérulos e eliminada na urina. Entretanto, 50% a 60% é 
reabsorvida, por difusão passiva, pelos túbulos proximais e coletores, para a 
18 
manutenção do gradiente de concentração renal (STOCKHAM & SCOTT, 2002; 
FETTMAN & REBAR, 2004). 
Um quarto da uréia reabsorvida vai para o trato gastrointestinal, via 
corrente sanguínea ou sistema biliar, sendo metabolizada pela ação da microbiota 
bacteriana entérica normal para formação da amônia. A amônia pode ser 
absorvido passivamente por via portal ou excretado nas fezes (STOCKHAM & 
SCOTT, 2002; FETTMAN & REBAR, 2004). 
Assim sendo, os mamíferos excretam o nitrogênio na forma de uréia, 
sendo por isso denominados “ureotélicos”. A maior parte da uréia é excretada 
pelos rins e, por isso, é considerada um dos índices que avaliam a taxa de 
filtração glomerular, com valores inversamente proporcionais (FINCO, 1995; 
SCHOSSLER et al., 2001). 
A reabsorção da uréia pelos rins é influenciada pelo fluxo de filtrado 
nos túbulos renais ou taxa de filtração glomerular (TFG). Assim, o aumento da 
perfusão renal diminui a reabsorção do metabólito, aumentando sua excreção na 
urina. Nesse sentido, a redução da perfusão renal cursa com o aumento de 
reabsorção de uréia pelo túbulo renal, aumentando sua concentração sérica. Por 
essa razão, o aumento de uréia em animais desidratados pode ser um índice não 
confiável da TFG (FINCO, 1995; FETTMAN & REBAR, 2004). 
O aumento na concentração sérica da uréia mediante queda na TFG 
pode ocorrer, principalmente, como conseqüência de perfusão renal diminuída, 
catabolismo tissular ampliado e dieta hiperprotéica, dentre outros. Por outro lado, 
a hipouremia pode ser causada por fatores relacionados à inibição de sua 
produção, como dieta pobre em proteínas e, mais grave e comumemente 
relatado, por problemas hepáticos, como a insuficiência hepatocelular ou shunt 
portossitêmico (WILLARD et al., 1994). 
Filhotes da raça Irish Wolfhound apresentam hiperamonemia 
assintomática e benigna nos primeiros meses de vida que tende a se normalizar 
quando adultos. Esse aspecto é importante pelo fato do desvio portossistêmico 
congênito ser relativamente comum nessa raça. Nessa situação a mensuração 
dos ácidos biliares seria o teste de escolha (MOTTA, 2009). 
O fígado, quando lesado, torna-se incapaz de sintetizar uréia, 
resultando no acúmulo de amônia na corrente sanguínea, que é potencialmente 
19 
tóxico, podendo causar encefalopatia hepática. A hipouremia também pode 
ocorrer, embora muito raramente, por deficiência no ciclo enzimático da uréia e 
por desordens que aumentem a excreção de uréia,como na diabetes mellitus e 
diabetes insipidus central ou nefrogênica. Assim, quando há doença hepática 
concomitante à insuficiência renal o diagnóstico torna-se obscuro, pois não há 
produção de uréia suficiente para que ocorra acúmulo anormal na presença da 
baixa taxa de filtração glomerular (STOCKHAM & SCOTT, 2002; FETTMAN & 
REBAR, 2004). 
A mensuração da uréia pode ser realizada no soro, no plasma ou 
sangue total, pois encontra-se livremente difundida na maioria das membranas 
celulares. É estável por um dia em temperatura ambiente, vários dias de 4oC a 
6oC e por pelo menos dois a três meses quando congelada. A hemólise pode 
causar um falso aumento da uréia; 50mg/dL de hemoglobina pode causar um 
aumento de aproximadamente 1mg/dl (FINCO, 1995; STOCKHAM & SCOTT, 
2002). 
 
 
2.3.2 Creatinina 
 
A creatinina, em sua grande maioria, origina-se da creatina endógena. 
Os aminoácidos, arginina e glicina, associam-se, formando o guanidinoacetato no 
pâncreas, rins e intestino delgado. No fígado, a metionina fornece um grupo metil 
para conversão de guanidinoacetato em creatina, que circula no plasma para ser 
captada pelos músculos, passando a armazenar energia sob a forma de 
fosfocreatina. A partir daí, ocorre degradação espontânea, irreversível, não 
enzimática, da creatina e fosfocreatina presentes nas fibras musculares, 
originando a creatinina (FINCO, 1989; CHEW & DIBARTOLA, 1992). 
Posteriormente, a creatinina desloca-se para o plasma, sendo filtrada 
pelos glomérulos e eliminada, quase que exclusivamente, via renal, sem sofrer 
reabsorção tubular. Suspeita-se que pequena parcela possa ser excretada via 
trato gastrointestinal, em cães e gatos, já que a creatinina apresenta baixo peso 
molecular, sendo difundível pela maioria das membranas celulares. Esse fato é 
observado em humanos, nos quais a creatinina sérica não aumenta, 
20 
proporcionalmente, à medida que a taxa de filtração glomerular diminui, pois, 
quando sofre elevação, é degradada por bactérias entéricas (FINCO, 1995; 
STEVEN & SCOTT, 2002; STOCKHAM & SCOTT, 2002). 
Nos animais domésticos, a creatinina sérica é o marcador endógeno 
mais comumente utilizado na prática clínica, sendo considerada de eleição para 
avaliar a função renal. Pode ser mensurada no soro ou plasma, sendo estável a 
4oC por um dia e por mais tempo quando congelada. Sua mensuração consiste 
em um método simples, quando comparado às dificuldades e aos custos 
inerentes relacionado às demais técnicas (SCHOSSLER et al., 2001; STOCKHAM 
& SCOTT, 2002; FETTMAN & REBAR, 2004; PRATES et al., 2007). Entretanto, 
há muitos fatores que limitam sua acurácia, exercendo influências em sua 
determinação, sendo, por isso, não considerada ideal para avaliação da TFG 
(DEINUM & DERK, 2000). 
A massa muscular individual é um dos principais fatores limitantes à 
utilização da creatinina, uma vez que a sua concentração sérica é reflexo da sua 
produção. Assim, animais que perdem massa muscular apresentam redução na 
produção de creatinina e, consequentemente, em seu nível plasmático. Quando 
há lesão de miócitos com adequada função renal, o excesso de creatinina sérica 
é rapidamente removido do plasma (MARTINEZ et al., 2003; HOJS et al., 2006; 
STEVENS et al., 2006). 
Há estudos, em humanos, que demonstram a não influência da massa 
muscular sobre os valores de creatinina sérica (FETTMAN & REBAR, 2004). 
Entretanto, MEDAILLE et al. (2004) ao avaliarem 4.799 pacientes clinicamente 
saudáveis, verificaram que, em 27,5% dos casos houve aumento na concentração 
sérica da uréia e a creatinina apresentou valores dentro da normalidade. O estudo 
concluiu que a discrepância observada reflete a atuação de fatores não renais e, 
sobretudo, relação com a massa muscular individual. 
Fatores como citocinas, que aumentam o catabolismo muscular 
endógeno, durante a sepse ou caquexia por neoplasia, podem aumentar a 
liberação de creatina e, consequentemente, a quantidade de creatinina produzida 
(STOCKHAM & SCOTT, 2002; FETTMAN & REBAR, 2004). Entretanto para HARI 
et al. (2007), no estado de desnutrição há queda nos níveis de creatinina. 
21 
A função tireoideana também pode interferir no nível sérico de 
creatinina. Foi demonstrado que os pacientes com hipotireoidismo apresentavam 
níveis de creatinina mais elevados, enquanto pacientes com hipertireoidismo 
apresentavam níveis menores. Após o tratamento e consequente estado de 
eutireoidismo, os níveis se reduziram e se elevaram, respectivamente (GABRIEL 
et al., 2011). 
A creatinina também é influenciada por outros fatores, como a idade, 
gênero, dieta, desnutrição e treinamento físico (MARTINEZ et al., 2003; 
STOCKHAM & SCOTT, 2002; FETTMAN & REBAR, 2004; HOJS et al., 2006; 
STEVENS et al., 2006; HARI et al., 2007). 
Dietas hiperprotéicas e hemorragias gastrointestinais são fatores que, 
ao contrário do que fazem com a uréia, não alteram a creatinina (MEYER & 
HARVEY, 1998). Contudo, para FETTMAN & REBAR (2004), dietas com fonte de 
creatina, como a carne vermelha cozida, aumentam a produção de creatinina e, 
por conseqüência, sua elevação sérica enquanto que as demais refeições, na sua 
maioria, tendem a reduzir a concentração do metabólito, pois a absorção dos 
nutrientes induz um aumento pós-prandial da taxa de filtração glomerular. 
FERREIRA (2006) dividiu cães em grupos, conforme o nível de 
proteína bruta oferecida na dieta, sendo, 12%, 22% e 32%. O estudo mostrou 
que, níveis crescentes de proteína bruta na dieta de cães adultos sadios 
acarretam graduais aumentos séricos de uréia e aumentos gradativos de 
creatinina na urina. 
Uma significativa limitação, relacionada à mensuração da creatinina 
sérica, refere-se à sua baixa sensibilidade. É incapaz de detectar graus leves de 
perda de função renal, ou seja, não serve como precocidade em diagnóstico. 
Além disso, não identifica rápidas alterações funcionais. Entretanto, atua bem em 
pacientes com redução a partir de 75% na TFG, indicando acometimento renal de 
intensidade moderada a severa (SCHOSSLER et al., 2001; PRATES et al., 2007). 
Outro fator que limita a utilização da creatinina como marcador ideal da 
função renal é o fato de ser secretada pelos túbulos renais, superestimando, 
dessa forma, a TFG (DEINUM & DERK, 2000). 
Os fatores externos que interferem em sua determinação analítica são 
substâncias endógenas como glicose, bilirrubinas, ácido úrico, triglicerídeos, 
22 
cetonas e proteínas plasmáticas. Dentre esses, bilirrubina e glicose tendem a 
reduzir seus valores enquanto que as demais substâncias podem levar a 
resultados falsamente elevados. A interferência também pode estar relacionada à 
utilização de alguns medicamentos, como cefalosporinas, ácido ascórbico, 
cimetidina, sulfas e trimetropim, que inibem secreção tubular de creatinina, 
elevando, assim, seu nível sérico, sem afetar a TFG (BOKENKAMP et al., 1998; 
MARTINEZ et al., 2003; HOJS et al., 2006). 
A função renal foi avaliada em cães expostos ao antineoplásico 
doxorrubicina, que mostrou causar lesão glomerular, hipoproteinemia e 
proteinúria, evidenciando sua ação nefrotóxica, entretanto, os valores de uréia e 
creatinina mantiveram-se dentro da normalidade, mesmo diante da agressão 
renal (NAKAGE & SANTANA, 2008). Pacientes com alterações significativas da 
função renal podem apresentar valores de creatinina dentro dos limites normais, o 
que torna evidente a necessidade de reavaliar os exames laboratoriais que são 
pedidos na rotina clínica, bem como estabelecer outras medidas que avaliem, 
com maior exatidão, veracidade e precocidade, bem como o nível da função 
orgânica (BURMEISTER et al., 2007). 
 
 
2.3.3 Densidade urinária (DU) 
 
Os solutos encontrados na urina são os íons e moléculas dissolvidas, 
incluindo, em sua maioria, eletrólitos (Na+, K+, Cl-, Ca2+, PO4 e NH4
+) e produtos 
metabólicos, como uréia e ceatinina. A concentração desses solutos no filtradosão modificadas pela sua reabsorção ou secreção tubular e pela reabsorção da 
água do filtrado (STOCKHAM & SCOTT, 2011). 
A densidade urinária é utilizada para estimar a quantidade de soluto 
que está presente em uma amostra urinária sendo, a parte mais importante do 
exame físico de urina, pois fornece informações sobre a capacidade regulatória 
dos rins. Ao medir o grau de solutos existentes na amostra, a densidade urinária, 
avalia, indiretamente, a capacidade de concentração e diluição tubular, sendo, 
uma medida de função renal (GARCIA-NAVARRO, 1996; TRHALL et al., 2007). 
23 
A DU é considerada um dos métodos mais práticos e sensíveis, sendo 
indicador precoce de acometimento renal pois suas alterações podem ocorrer 
antes das observadas na bioquímica sérica (BROWN, 2003; REYERS, 2003). Em 
estudo realizado por SANTIN et al. (2006), cães sadios foram submetidos à 
terapia com anfotericina B, o agente nefrotóxico gerou disfunção tubular proximal 
e distal. A queda da densidade urinária foi a alteração obtida na urinálise, 
indicando lesão renal, mais precocemente que a atividade da GGT urinária. 
Osmolalidade é a concentração de soluto em uma solução. Na amostra 
urinária há uma adequada correlação linear entre osmolalidade e densidade 
urinária, sendo esta uma estimativa do reflexo acurado da concentração de soluto 
na urina. A osmolalidade pode ser expressa em osmol de partículas do soluto por 
quilograma do solvente (osmol/kg) ou em mol de soluto por quilograma de 
solvente (mol/kg), enquanto que a densidade urinária é uma relação sem unidade 
(STOCKHAM & SCOTT, 2011). 
Essa variável pode sofrer alterações devido ao peso, grau de 
hidratação, ingestão hídrica, dieta, exercício, idade, condições climáticas e 
metabolismo do animal. É influenciada pelo número de partículas de soluto por 
unidade de volume, mas principalmente pelo peso de cada partícula. 
Convencionou-se que a densidade da água, a 37º C, na pressão atmosférica ao 
nível do mar, tem densidade de 1.000 mg/1L, assim sendo, a densidade urinária é 
avaliada em relação à densidade da água e, em animais saudáveis, é 
inversamente proporcional ao volume urinário (KERR, 2003; LOPES & VEIGA, 
2008). 
Em condições normais, a densidade urinária aumenta 
proporcionalmente à osmolaridade urinária, sendo assim, quanto mais os rins 
absorverem água maior será a concentração de soluto na amostra urinária 
(FABER et al., 1993; BROWN, 2003). 
Animais sadios com função renal normal ou adequada podem excretar 
urina com uma variação ampla da densidade urinária, dependendo do desafio 
provocado aos rins. Em geral, consideram-se valores entre 1.015 a 1.045 no cão, 
1.035 a 1.065 no gato e para grandes animais de 1.015 a 1.030 (KERR, 2003; 
STOCKHAM & SCOTT, 2011). 
24 
A diluição máxima da urina em mamíferos domésticos avaliada pela 
DU é próxima a 1,001 e a concentração máxima é próxima a 1,060 em cães e 
1,089 em gatos (STOCKHAM & SCOTT, 2011). Os valores da densidade urinária 
podem sofrer alterações fisiológicas, em geral transitórias, ou patológicas, que 
são permanentes (GARCIA-NAVARRO, 1996). 
Eustenúria é a excreção de urina com a osmolalidade esperada para 
um animal que tenha função renal adequada e um estado de hidratação normal e 
hiperesternúria é a excreção de urina altamente concentrada. Entretanto, os 
temos eustenúria e hiperestenúria raramente são utilizados (STOCKHAM & 
SCOTT, 2011). 
A DU baixa pode ser observada em casos de desidratação, 
hematócrito elevado e, não raro, aumento da quantidade de uréia no sangue. 
Isostenúria é o estado em que a osmolalidade urinária é a mesma da 
osmolalidade plasmática, esteja a osmolalidade plasmática diminuída, normal ou 
elevada. Na maioria dos mamíferos domésticos, a urina isostenúrica apresenta 
DU entre 1.007 a 1.013 (STOCKHAM & SCOTT, 2011). A isostenúria deve ser 
diferenciada de outras causas de DU baixa pela técnica de privação hídrica por 
12horas, após esse período colhe-se amostra para determinar DU. No rim normal, 
a DU estará superior a 1020, enquanto que na isostenúria ela permanece baixa, 
sendo que quanto mais próxima for de 1010, maior será a lesão renal (GARCIA-
NAVARRO, 1996). 
Hipoestenúria é o estado em que a urina excretada apresenta 
osmolalidade menor do que os valores isostenúricos, ou seja, a DU será menor 
que 1.007, indicando que esta urina está diluída (STOCKHAM & SCOTT, 2011). 
A DU está diminuída na urina diluída ou hipotônica, que acompanha 
geralmente os estados de poliúria, com exceção da diabetes mellitus, em que há 
poliúria com densidade elevada. As principais causas de diminuição da DU são, 
conforme GARCIA-NAVARRO (1996) e STOCKHAM & SCOTT (2011): 
 
 
 
 
 
25 
Nefrite intersticial crônica: A causa da queda da DU é a incapacidade do rim de 
concentrar urina e, neste caso, os valores permanecem entre 1.003 e 1.015, mas 
pode também haver isostenúria 
Uremia de origem renal: Nos casos mais avançados, pode apresentar baixa DU, 
por incapacidade do rim em diluir a urina 
Diabetes insípidus nefrogênica: Condição em que o hormônio anti-diurético 
(ADH) está presente mas os túbulos renais não são responsivos a ele. Em geral, 
nesse caso, a DU permanece entre 1.002 a 1.006 
Diabetes insípidus central: É uma doença hipotalâmica ou hipofisária que cursa 
com a diminuição da produção do ADH e, portanto, os ductos coletores não 
podem reabsorver água resultando em diluição do filtrado. Nessa condição, o 
animal encontra-se poliúrico, não azotêmico e DU entre 1.001 a 1.015 
Piometra: Produz polidipsia nas cadelas e consequentemente poliúria com baixa 
DU. A patogenia específica ainda não está clara mas acredita-se que, nessa 
situação, os rins estão refratários ou fracamente responsivos ao ADH, 
possivelmente por um mecanismo potencial desencadeado pela ação das 
endotoxinas bacterianas 
Terapias com corticosteróides, líquidos parenterais (fluidoterapia) ou diuréticos: 
Geralmente vêm acompanhadas de poliúria com DU baixa 
Falência hepática: Cursa com redução na síntese de uréia, podendo gerar 
gradiente de concentração medular reduzido com baixa DU 
Hipercalcemia: Inibe a atividade do ADH, além disso, existem evidências de que 
altas concentrações de cálcio reduzem a reabsorção de Na+ e Cl- no ramo 
ascendente da alça de Henle, o que reduz o gradiente osmótico necessário para 
reabsorção de água no néfron distal 
Polidipsia psicogênica: Há consumo excessivo de água que causa expansão do 
volume do fluido extracelular e hiposmolalidade. A TFG aumenta e a secreção de 
ADH diminui, resultando em poliúria 
 
A elevação da DU está presente na urina concentrada ou hipertônica, 
indicando diminuição da filtração glomerular e/ou um aumento de reabsorção da 
água, geralmente associada à oligúria com excessão, já vista, da diebetes 
mellitus, e se dá nos seguintes casos: 
26 
Nefrite intersticial aguda: Quando os valores da DU permanecem entre 1.030 a 
1.060, devido a uma incapacidade do rim em eliminar água durante a fase inicial 
da doença 
Nefrite generalizada aguda: Por diminuição da filtração glomerular, o que deixa a 
urina mais concentrada 
Diabetes mellitus e glicosúria renal primária (insuficiência renal aguda): Casos 
em que há uma elevação da DU acompanhada de poliúria devido ao fato da 
glicose carregar consigo uma maior quantidade de água 
Desidratações (vômitos, diarréia ou sudorese intensa): Diminuem a quantidade 
de água disponível à perfusão renal resultando em urina mais concentrada, o que 
aumenta a DU. Valores acima de 1050 em cães e 1060 em gatos sugerem uma 
desidratação significativa 
Febre de qualquer natureza etiológica: Quando a elevação da DU é causada pela 
retenção de água pelo organismo, com produção de urina mais concentrada 
Edema: Onde há uma disfunção circulatória, que tem como causa a excessiva 
retenção de líquidos no organismo. Nessa situação haverá, consequentemente, 
oligúria com DU elevada 
Choquehipotensivo: Cursa com queda brusca da perfusão renal, produzindo 
oligúria, que pode chegar a anúria, com DU elevada, principalmente se não 
houver doença renal associada. A hipovolemia ou hiperosmolalidade plasmática 
estimula a liberação de ADH que promove a reabsorção de água nos túbulos 
coletores, concentrando assim o fluido tubular e, portanto, a urina. 
 
A densidade urinária pode ser estimada, principalmente, por meio de 
duas técnicas diferentes: tira reagente e refratômetro. A tira reagente fornece o 
resultado por colorimetria, pelo princípio de indicadores de concentração iônica 
(FELDMAN & SINK, 2006). Esse método apresenta alguns inconvenientes, pois 
não fornece valores precisos, não é sensível às alterações de DU diante da 
presença de glicose ou uréia e pode dar resultado falso-positivo de DU baixa em 
urina alcalina (GARCIA-NAVARRO, 1996). 
A refratometria é uma metodologia rápida e fácil de ser aplicada, segue 
o princípio de medir a densidade específica da urina comparando-a com a da 
água destilada (FELDMAN & SINK, 2006). O refratômetro é um aparelho em 
27 
forma de luneta, que utiliza o principio da relação entre a quantidade de soluto 
num líquido e seu índice de refração, cuja leitura se faz colocando uma gota de 
urina no local apropriado, na parte superior do aparelho, fazendo a leitura na 
escala apropriada para esse fim (GARCIA-NAVARRO, 1996). 
 
 
2.3.4 Cistatina C 
 
Diversas proteínas de baixo peso molecular foram analisadas, com o 
objetivo de identificar um marcador adequado para avaliar a TFG. Dentre elas, a 
cistatina C destacou-se, sendo reconhecida e bem documentada como um bom 
marcador endógeno da filtração renal. Sua utilização foi sugerida desde 1985 na 
medicina veterinária, porém, só recentemente tem sido avaliada de forma 
sistemática (DEINUM & DERK, 2000; GRUPTA-MALHOTA et al., 2003; GRUBB 
et al., 2005). 
A cistatina C é um dos 11 membros da superfamília das cistatinas, 
potente inibidor das proteases endógenas cisteínicas. Acredita-se que seu papel 
seja o de inibir tais proteases, secretadas ou “vazadas” dos lisossomos, de 
células doentes ou rompidas, protegendo o tecido conjuntivo (FILLER et al., 
2005). 
É uma proteína básica, constituída por 120 aminoácidos dispostos em 
uma cadeia polipeptídica simples, cuja sequência foi determinada em 1981. A 
cistatina C não é glicosilada e apresenta duas pontes de enxofre, sendo 
sintetizada como uma pré-proteína (BOKENKAMP et al., 1998; LATERZA et al., 
2002; FILLER et al., 2005; ROSENTHAL et al., 2007). 
Estudos demonstram que essa proteína é produzida num ritmo 
constante por todas as células nucleadas e está presente nos líquidos biológicos. 
O gene que a codifica está localizado no cromossomo 20, cuja estrutura parece 
ser do tipo housekeeping, sendo compatível com a sua estabilidade de produção 
(BOKENKAMP et al., 2002; UCHIDA & GOTOH, 2002; FILLER et al., 2005; 
DEMIRTAS et al., 2006; STEVENS et al., 2006; ROSENTHAL et al., 2007). 
A cistatina C apresenta baixo peso molecular (aproximadamente 13 
kDa), alto ponto isoelétrico (9,3) e carga elétrica positiva, sendo, por isso, 
28 
facilmente filtrada pela membrana glomerular e reabsorvida no túbulo proximal em 
uma proporção significativa, sendo catabolizada de forma quase total neste sítio, 
assim como as demais proteínas de baixo peso molecular. Uma vez filtrada, a 
cistatina C não vai retornar à circulação de forma intacta, sendo degradada em 
peptídeos menores e/ou seus aminoácidos constituintes, portanto, sua 
concentração urinária é praticamente indetectável (LATERZA et al., 2002; 
DHARNIDHARKA et al., 2002; UCHIDA & GOTOH, 2002; GUPTA-MALHOTA et 
al., 2003; NEWMAN, 2003; CURHAN, 2005; FILLER et al., 2005). 
Há evidências de que, ao contrário da creatinina, a concentração sérica 
da cistatina C não é influenciada por fatores como idade, gênero, dieta, estado 
nutricional, febre, massa muscular e peso corporal. Além disso, a cistatina C 
apresenta alta sensibilidade, sendo essencialmente dependente da filtração 
glomerular e da reabsorção e metabolização a nível tubular, elevando-se diante 
da TFG reduzida. Essas características a indicam como melhor marcador 
bioquímico para avaliar a função renal, quando comparada à creatinina, fato esse 
confirmado por uma série de estudos tanto em animais quanto em humanos 
(FINNEY et al., 1999; BURKHARDT et al., 2002; GUPTA-MALHOTA et al., 2003; 
CURHAN, 2005; FILLER et al., 2005; OGNIBENE et al., 2006; RULE et al., 2006; 
HARI et al., 2007; PRATES et al., 2007). 
No que se refere à população humana pediátrica, a cistatina C 
apresenta notória vantagem em relação à creatinina, principalmente para 
detectar, precocemente, pequenas mudanças na TFG uma vez que, nessa 
população, a massa muscular reduzida, principalmente em crianças com idade 
inferior a quatro anos, resulta em um valor muito baixo de creatinina sérica. Seus 
valores tendem a aumentar com o avançar da idade até o início da adolescência, 
em virtude do ganho de massa muscular que ocorre com o crescimento. 
Enquanto que a concentração sérica de cistatina C, em crianças saudáveis, está 
elevada no primeiro dia de vida, evoluindo com uma rápida redução nas semanas 
seguintes e tende a estabilizar no segundo ano de vida, apresentando valores de 
referência idênticos ao dos adultos (BOKENKAMP et al., 1998; LATERZA et al., 
2002; FILLER et al., 2005; ROSENTHAL et al., 2007). 
A determinação da TFG é um fato preocupante em pacientes idosos. 
ERIKSEN et al. (2010) concluíram que não existe ainda um método preciso para 
29 
avaliar a função renal nesse grupo, entretanto, a cistatina C é o marcador 
bioquímico que confere parâmetros úteis de avaliação. 
Recentemente, um estudo em pacientes humanos com doença renal 
crônica comprovou que o conteúdo protéico da dieta, independente das 
mudanças na TFG, é um fator que não interfere nos valores da cistatina C, ao 
contrário do que ocorre com a creatinina sérica. Verificou-se que a cistatina C 
pode fornecer estimativas mais precisas da TFG que a creatinina em pacientes 
com ingestão reduzida de proteínas (TANGRI et al., 2011). Conclusão similiar foi 
obtida, referente à maior precisão da cistatina C em comparação à creatinina, em 
pacientes com doença renal crônica que desenvolveram complicações 
cardiovasculares. Isso indicou que esse marcador bioquímico é importante 
também em indivíduos que apresentam fatores de risco aos problemas cardíacos 
(WU et al., 2010; PERALTA et al., 2011). 
O peso corporal e a massa magra não se correlacionam com os níveis 
séricos de cistatina C, sendo esta uma alternativa na avaliação da função renal 
em pacientes com grande massa muscular (BAXMANN et al., 2008). 
Entretanto, VUPPUTURI et al. (2009) constataram que a adiposidade 
está associada aos níveis séricos de cistatina C, superestimando a TFG em 
indivíduos com índice de massa corporal elevada, sendo difícil avaliar a função 
renal em paciente obesos, contrariando, assim, as expectativas de achar um 
marcador bioquímico ideal. 
Um estudo in vitro, utilizando diferentes concentrações de 
dexametasona, constatou aumento dose-dependente na produção de cistatina C 
por células expostas ao corticóide Esse achado sugeriu que a imunossupressão 
seja o principal fator capaz de influenciar tais resultados (BJARNADÓTTIR et al., 
1995). RISCH et al. (2001) fizeram um estudo prospectivo, evidenciando que os 
pacientes que receberam corticóide apresentaram níveis séricos de cistatina C 
superiores aos dos grupos que não receberam tal imunossupressor. Dentro do 
grupo tratado com corticóide, verificou-se ainda que os níveis de cistatina C foram 
significativamente maiores nos indivíduos que receberam altas doses do fármaco 
quando comparado aos indivíduos que receberam baixa dose. 
Outros trabalhos têm evidenciado elevação no nível sérico de cistatina 
C relacionada a altas doses de corticóide em pacientes portadoresde asma 
30 
brônquica, hemorragia subaracnóidea e oftalmopatia severa secundária à doença 
de Graves. No entanto, os mecanismos envolvidos nessas mudanças ainda não 
estão bem esclarecidos (CIMERMAN et al., 2000; RISCH & HUBER, 2002; 
RISCH et al., 2005; MANETTI et al., 2005; GABRIEL et al., 2011). 
Por outro lado, foram publicados dados de um estudo realizado com 
crianças portadoras de síndrome nefrótica idiopática, as quais a concentração 
sérica de cistatina C não foi afetada pela administração de altas doses de 
corticóide (BOKENKAMP et al., 2002). 
No estudo de pacientes com insuficiência renal aguda, indivíduos 
transplantados e na avaliação da rejeição de transplantes, a cistatina C 
demonstrou ser um marcador acurado da função renal, sendo mais rápido e mais 
sensível que a creatinina sérica em detectar reduções agudas da filtração 
glomerular (LE et al., 1999). 
Observou-se que, ao contrário do que ocorre com a creatinina, a 
concentração sérica de cistatina C é menor no estado de hipotireoidismo e maior 
no hipertireoidismo, quando comparada àquela observada no estado de 
eutireoidismo. Possíveis explicações para esses achados baseiam-se nos efeitos 
dos hormônios tireoideanos sobre a hemodinâmica renal, a homeostase renal de 
sal e água e o transporte tubular ativo de sódio, potássio e íons hidrogênio. No 
que se refere à creatinina, é possível que sua secreção tubular esteja reduzida no 
hipotireoidismo e aumentada no estado oposto. Já no que tange à cistatina C, 
como o estado tireoideano influencia o metabolismo geral, ele pode influenciar a 
sua produção (MANETTI et al., 2005; GABRIEL et al., 2011). 
O nível sérico da cistatina C parece não ser afetado por condições 
extra-renais, como processos inflamatórios, infecciosos e neoplásicos, ao 
contrário do que ocorre com outras proteínas de baixo peso molecular, como ß2-
microglobulina (11,8 kDa). Entretanto, foi observado a elevação dos níveis de 
cistatina C durante a evolução de doenças malignas, na ausência de alterações 
da função renal, sugerindo que o aumento da síntese desta proteína seja induzida 
por estes processos patológicos. Contudo, alteração nos níveis séricos de 
cistatina C não foi identificado em pacientes com doenças proliferativas de origem 
hematológica (BOKENKAMP et al., 2002; MARTINEZ et al., 2003; FILLER et al., 
2005; ROSENTHAL et al., 2007). 
31 
Estudos realizados em cães mostraram que há similaridade com 
resultados obtidos em estudos humanos. Inclusive, o reagente comercial utilizado 
para avaliar o soro de cães é o mesmo de uso humano. Esses estudos permitem 
afirmar o mesmo que se conclui à espécie humana, que a cistatina C é o 
marcador mais apropriado à avaliação da função renal quando comparado às 
concentrações séricas de uréia e creatinina. Hipercistatinemia é indicativo de 
progressão da doença como conseqüência de alteração na filtração renal, 
indicando, precocemente, o acometimento do órgão. Entretanto, mais pesquisas 
são necessárias no cão, assim como nos outros animais, a fim de avaliar 
interferências de fatores não renais nos níveis séricos de cistatina C (BRAUN et 
al., 2002; ANTOGNONI et al., 2005). 
Fórmulas matemáticas vêm sendo desenvolvidas, nos últimos anos, 
utilizando os marcadores bioquímicos, com o objetivo de melhor avaliar a função 
renal, estimando a TFG (GRUBB et al., 2005; MACISAAC et al., 2006; RULE et 
al., 2006; STEVENS et al., 2008). Segundo investigadores, as fórmulas que 
envolviam a cistatina C apresentaram melhor desempenho que a da creatinina 
(GRUBB et al., 2005). Outros pesquisadores acreditam que apresentaram efeitos 
similares (RULE et al., 2006). Alguns autores relatam que a melhor opção é 
associar as dosagens séricas de creatinina e cistatina C (RIGALLEAU et al., 
2007; STEVENS et al., 2008; TIDMAN & SJOSTROM, 2008). 
A mensuração da cistatina C pode ser feita em soro ou plasma, nas 
mesmas condições das amostras para dosagem da creatinina. A cistatina C é 
muito estável no soro, podendo ser mantida, sem separação do sangue total, por 
até 24 horas sem que haja alteração da sua quantidade na amostra (NEWMAN, 
2003). Pode ser armazenada a 4ºC ou congelada durante semanas ou meses 
sem perda apreciável da sua concentração. Conforme o fabricante do reagente, 
sua estabilidade à temperatura ambiente é de sete dias; a -20ºC, de um a dois 
meses; - 80ºC por seis meses. Além disso, resiste a um mínimo de sete ciclos 
congelamento/descongelamento. Os valores de referência variam conforme os 
reagentes comerciais utilizados (GABRIEL et al., 2011). 
A determinação da cistatina C pode ser realizada por 
enzimaimunoensaio, radioimunoensaio, fluoroimunoensaio e a imunodifusão 
radial simples, sem que haja uma padronização específica. Destes, o 
32 
radioimunoensaio foi o primeiro a ser desenvolvido, em 1979, e tinha como limite 
de detecção 30 μg/L, o que foi suficiente para detectar a cistatina C no soro de 
indivíduos saudáveis. Posteriormente, as outras técnicas foram desenvolvidas, 
apresentando como limite de detecção o intervalo de 0,13 a 1,9 μg/L (LATERZA 
et al., 2002). 
Atualmente, métodos imunológicos baseados na turbidimetria e 
nefelometria vêm ganhando espaço no laboratório clínico para quantificar a 
proteína. Tais técnicas requerem pequenas quantidades de amostra, sendo 
métodos rápidos, precisos, acurados e simples. Estudos recentes comprovam que 
a cistatina C é um marcador confiável e de rápida execução na análise da função 
renal em diversas situações clínicas (DATI, 1998; PRATES et al., 2007). 
No Brasil, esse exame não está disponível na maioria dos serviços e 
seu custo ainda é elevado. Em alguns laboratórios de qualidade reconhecida no 
país que realizam tal exame, o custo é de aproximadamente oito vezes o da 
creatinina (GABRIEL et al., 2011). 
Portanto, uma condição em que a utilização da cistatina C parece 
particularmente promissora é a lesão renal aguda, na qual se tem revelado um 
biomarcador preciso para detecção precoce e alguns estudos trazem evidências 
que a tornam superior à creatinina. No entanto, inúmeros estudos, já realizados e 
outros que estão em andamento visam definir melhor, cada vez mais, o papel da 
cistatina C e ainda há resultados inconsistentes. Um possível fator limitante 
questionável é se é custo-efetiva em relação à creatinina e se os dois testes 
teriam papéis complementares (BAGSHAW & BELLOMO, 2010). 
 
 
33 
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Os métodos rotineiramente utilizados na prática clínica não são 
suficientes para a realização do diagnóstico precoce no que se refere às lesões 
renais. Isso tem trazido graves conseqüências, pois, na maioria das vezes, a 
insuficiência renal é detectada muito tardiamente. Sabe-se que as alterações 
morfológicas conduzem às funcionais e, sem medidas renoprotetoras adequadas, 
o processo pode evoluir à cronicidade, com alterações adaptativas e 
compensatórias irreversíveis, comprometendo a qualidade de vida dos animais e, 
consequentemente, afetando a sobrevida dos mesmos. 
Em virtude disso, há necessidade da realização de exames que 
detectam lesões estruturais e funcionais precoces, permitindo ao clínico a 
instituição de protocolos de tratamento conforme o caso, visando preservar a 
função renal residual, evitando o agravamento e progressão da moléstia. 
Vários estudos têm sido desenvolvidos buscando encontrar um 
marcador ideal e promissor na mensuração da TFG. A cistatina C é um exemplo 
dessa inovação, destacando-se na precocidade em avaliar a funcionalidade dos 
rins, já sendo, por isso, utilizada na prática clínica em todo o mundo. 
 
 
34 
REFERÊNCIAS 
 
1. ABRASS, C. K. Clinical spectrum and complications of the nephrotic 
syndrome. Journal of Investigative Medicine, Thorofare, v. 45, n. 4, p. 143-153, 
1997. 
 
2. ANTOGNONI, M. T.; SIEPI, D.; PORCIELLO, F.; FRUGANTI, G. Use of serum 
cistatin C determination as a marker of renal functionin the dog. Veterinary 
Research Communications, Amsterdam, v. 29, Suppl. 2, 265S-267S, 2005. 
 
3. BAGSHAW, S. M.; BELLOMO, R. Cystatin C in acute kidney injury. Current 
Opinion in Critical Care, Austrália, Epub ahead of print 2010 Aug 21. 
 
4. BARSANTI, J. A.; LEES, G. E.; WILLARD, M. D.; GREEN, R. A. Urinary 
disorders. In: WILLARD, M. D.; TVEDTEN, H. Small animal clinical diagnosis 
by laboratory methods. 4 ed. Missouri: Saunders, 2004. p. 135-164. 
 
5. BAXMANN, A. C.; AHMED, M. S.; MARQUES, N. C.; MENON, V. B.; 
PEREIRA, A. B.; KIRSZTAJN, G. M.; HEILBERG, I. P. Influence of muscle mass 
and physical activity on serum and urinary creatinine and serum cystatin C. 
Clinical Journal of the American Society of Nephrology, São Paulo, v. 3, n. 2, 
p. 348-354, 2008. 
 
6. BJARNADÓTTIR, M.; GRUBB, A.; ÓLAFSSON, I. Promoter-mediated, 
dexamethasone-induced increase in cystatin C production by Hela cells. 
Scandinavian Journal of Clinical and Laboratory Investigation, Oxford, v. 55, 
n. 7, p. 617-623, 1995. 
 
7. BOKENKAMP, A.; DOMANETZKI, M.; ZINCK, R.; SCHUMANN, G.; 
BRODEHL, J. Reference values for cystatin C sérum concentration in children. 
Pediatric Nephrology, Berlin, v. 12, n. 2, p. 125-129, 1998. 
 
35 
8. BOKENKAMP, A.; WIJK, J. A. E. V.; LENTZE, M. J.; STOFFEL-WAGNER, B. 
Effect of corticosteroid therapy on serum cystatin C and ß2-microglobulin 
concentrations. Clinical Chemistry, Baltimore, v. 48, n. 1, p. 1123-1126, 2002. 
 
9. BRAUN, J. P.; PERXACHS, A.; PECHEREAU, D.; FARGE, F. Plasma cystatin 
C in the dog: Reference values and variations with renal failure. Comparative 
Clinical Pathology, New York, v. 11, n. 1, p. 44-49, 2002. 
 
10. BROWN, S. A.; BROWN, S. A.; CROWELL, W. A.; BROWN, C. A.; 
BARSANTI, J. A.; FINCO, D. R. Review: Pathophysiology and Management of 
Progressive Renal Disease. The Veterinary Journal, London, v. 154, n. 2, p. 93-
109, 1997. 
 
11. BROWN, S. A. Clinical assessment of renal function: new methods, old ideas. 
In: Proceedings of the 28th World Small Animal Veterinary Association 
Congress, 2003, Tailândia. 
 
12. BURKHARDT, H.; BOJARSKY, G.; GLADISCH, R. Diagnostic efficiency of 
cystatin C and creatinine as markers of reduced glomerular filtration rate in the 
elderly. Clinical Chemistry, Baltimore, v. 40, n. 11, p. 1135-1138, 2002. 
 
13. BURMEISTER, J. E.; AGNOLIN, R.; COSTA, M. G.; MILTERSTEINER, D. R.; 
CAMPOS, B. M. Creatinina plasmática normal significa função renal normal?. 
Revista da Associação Médica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 51, n. 2, 
2007. 
 
14. BUSH, B. M. Interpretação de resultados laboratoriais para clínicos de 
pequenos animais. São Paulo: Roca, 2004. 384 p. 
 
15. CASTIGLIA, Y. M. M.; VIANNA, T. G. Monitorização da função renal. Revista 
Brasileira de Anestesiologia, Rio de Janeiro, v. 42, n. 1, p. 85-89, 1992. 
 
36 
16. CHEW, D. J., DIBARTOLA, S. P. Diagnóstico e fisiopatologia da moléstia 
renal. In: ETTINGER S. J. Tratado de medicina interna veterinária. São Paulo: 
Manole, v. 4. cap. 107, 1992. p. 1975-2046. 
 
17. CHRISTOPHER, M. M. Urinalysis and urine sediment. In: Proceedings of the 
28th World Small Animal Veterinary Association Congress, 2003, Tailândia. 
 
18. CIMERMAN, N.; BRGULJAN, P. M.; KRASOVEL, M.; SUSKOVIC, S.; KOS, J. 
Serum cystatin C, a potent inhibitor of cysteine proteinases, is elevated in 
asthmatic patients. Clinica Chimica Acta, Amsterdam, v. 300, n. 2, p. 83-95, 
2000. 
 
19. CLEMO, F. A. Urinary enzyme evaluation of nephrotoxicity in the dog. 
Toxicologic Pathology, Philadelphia, v. 26, n. 1, p. 29-32, 1998. 
 
20. CURHAN, G. Cystatin C. A marker of renal function or something more? 
Clinical Chemistry, Baltimore, v. 51, n.1, p. 293-293, 2005. 
 
21. DEINUM, J.; DERK, F. H. M. Cystatin for estimation of glomerular filtration 
rate? The Lancet, London, v. 6, p. 1624-1625, 2000. 
 
22. DEMIRTAS, S.; AKAN, O.; CAN, M.; ELMALI, E.; AKAN, H. Cystatin C can be 
affected by nonrenal factors: A preliminary study on leukemia. Clinical 
Biochemistry, Toronto, v. 39, n. 2, p. 115-118, 2006. 
 
23. DHARNIDHARKA, V. R.; KWON, C.; STEVENS, G. Serum cystatin C is 
superior to serum creatinine as a marker of kidney function: A meta-analysis. 
American Journal of Kidney Diseases, New York, v. 40, n. 2, p. 221-226, 2002. 
 
24. DIBARTOLA, S. P.; BENSON, M. D. The pathogenesis of reactive systemic 
amyloidosis. Journal of Veterinary Internal Medicine, Lawrence, v. 3, n. 1, p. 
31-41, 1989. 
 
37 
25. DONALD, V.; JUDITH, G. V. CHARLOTTE, W. P. Fundamentos de 
Bioquímica, Artmed Editores, 2002. Disponível em: 
http://pt.scribd.com/doc/23249025/2-Catabolismo-de-aminoacidos. 
 
26. EDDY, A. Role of cellular infiltrates in response to proteinuria. American 
Journal of Kidney Diseases, New York, v. 37, Suppl., 25S-29S, 2001. 
 
27. ERIKSEN, B. O.; MATHISEN, U. D.; MELSOM, T.; INGEBRETSEN, O. C.; 
JENSSEN, T. G.; NJOLSTAD, I.; SOLBU, M. D.; TOFT, I. Cystatin C is not a 
better estimator of GFR than plasma creatinine in the general population. Kidney 
International, Malden, v. 78, n. 2, p. 1305-1311, 2010. 
 
28. FABER, M. D.; KUPIN, W. L.; KRISHNA, G. G.; NARINS, R. G.; The 
differencial diagnosis of acute renal failure. In: LAZARUS, J. M.; BRENNER, B. M. 
Acute renal failure. 3. ed. New York: Churchill Livingstone, 1993. p. 133-192. 
 
29. FELDMAN, B. F.; SINK, C. A. Urinálise e hematologia laboratorial para o 
clínico de pequenos animais. São Paulo: Roca. 2006. 128p. 
 
30. FERREIRA, R. P. Função renal de cães adultos sadios alimentados com 
diferentes teores de proteína bruta. Goiânia. 2006, 81 f. Dissertação (Mestrado 
em Medicina Veterinária) – Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Goiás. 
 
31. FETTMAN, M. J.; REBAR, A. Laboratory evaluation of renal function. In: 
THRALL, M. A.; BAKER, D. C.; CAMPBELL, R. W.; DENICOLA, D.; FETTMAN, 
M. J.; LASSEN, E. D.; REBAR, A.; WEISER, G. Veterinary hematology and 
clinical chemistry. Philadelphia: Lippincott Willians & Wilkins, cap.21, 2004. 
p.301-314. 
 
32. FILLER, G.; BOKENKAMP, A.; HOFMANN, W.; LE, B. T.; MARTÍNEZ-BRÚ, 
C.; GRUGG, A. Cystatin C as a marker of GFR - history, indications, and future 
research. Clinical Biochemistry, Toronto, v. 38, n. 1, p. 1-8, 2005. 
 
http://pt.scribd.com/doc/23249025/2-Catabolismo-de-aminoacidos
38 
33. FINCO, D. R. Kidney function. In: KANEKO, J. J. Clinical biochemistry of 
domestic animals. Davis: Academic Press, cap. 18, 1989. p. 496-542. 
 
34. FINCO, D. R. Canine and feline nephrology and urology. Philadelphia: 
Williams & Wilkins, 1995. p. 136-205. 
 
35. FINCO, D. R.; BROWN, S. A.; BROWN, C. A.; CROWELL, W. A.; COOPER, 
T. A.; BARSANTI, J. A. Progression of chronic renal disease in the dog. Journal 
of Veterinary Internal Medicine, Lawrence, v. 13, n. 6, p. 516-528, 1999. 
 
36. FINNEY, H.; BATES, C. J.; PRICE, C. P. Plasma cystatin C determinations in 
a healthy elderly population. Archives of Gerontology and Geriatrics, 
Amsterdam, v. 29, n. 1, p. 75-94, 1999. 
 
37. GABRIEL, I. C.; NISHIDA, S. K.; KIRSZTAJN, G. M. Cistatina C sérica: uma 
alternativa prática para avaliação de função renal?. Jornal Brasileiro de 
Nefrologia, São Paulo, v. 33, n. 2, p. 261-267, 2011. 
 
38. GARCIA-NAVARRO, C. E. K. Manual de urinálise veterinária. 2.ed. São 
Paulo: Livraria Varela, 2005. 95p. 
 
39. GARY, A. T.; COHN, L. A.; KERL, M. E.; JENSEN, W. A. The effects of 
exercise on urinary albumin excretion in dogs. Journal of Veterinary Internal 
Medicine, Lawrence, v. 18, n. 1, p. 52-55, 2004. 
 
40. GIOVANNI, L. H. Avaliação do cálcio sérico ionizado em gatos sadios e 
em gatos com insuficiência renal crônica. São Paulo, 2003. Dissertação 
(Mestrado em Medicina Veterinária). Faculdade de Medicina Veterinária e 
Zootecina da Universidade de São Paulo, São Paulo. 
 
41. GRAUER, G. F. Insuficiência renal. In: NELSON, R. W.; COUTO, C. G. 
Fundamentos de medicina interna de pequenos

Outros materiais