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1 Rafaela Pamplona Resumo II – Clínica Médica I - Cardiologia Doença de Chagas ...............................................................................................................................................................................1 Cardiomiopatias ....................................................................................................................................................................................5 Insuficiência Cardíaca...........................................................................................................................................................................9 Endocardite infecciosa (EI) ................................................................................................................................................................. 21 Doença de Chagas Definição É uma infecção transmissível causada por um parasita que circula no sangue e ataca o coração, bem como órgãos do aparelho digestivo (esôfago e intestino) Sua transmissão exige a participação de um vetor, o triatomíneo conhecido pelo nome de barbeiro, fincão, chupança É uma doença do continente americano (Sul dos USA até a Argentina) História Foi descoberta pelo médico sanitarista Carlos Chagas, em 1909, no norte de Minas Encontrou o Tripanosoma no sangue de uma criança doente = BERENICE Encontrou o mesmo parasita em fezes de insetos Encontrou o parasita em sangue de animais mamíferos Chagas descreveu - O agente causador - O transmissor - O modo de transmissão da doença - Epidemiologia da doença (existência de vertebrados que são reservatórios silvestres e domésticos do parasita) Transmissores Triatomíneos são insetos hematófagos responsáveis pela transmissão do Trypanosoma cruzi, o agente etiológico da doença de Chagas São artrópodes da classe Insecta e subfamília Triatominae Sugam sangue em todas as fazes do seu ciclo evolutivo Vivem em média 1 a 2 anos Com evolução de ovo, ninfa e adulta Tem grande capacidade de reprodução Distribuição geográfica dos transmissores São 6 espécies mais importantes na América do Sul - Triatoma infestans → mais importante - Triatoma brasiliense → mais importante no Nordeste - Triatoma dimidiata - Triatoma sordida → mais Brasil Central - P. Megistus - Rhodnius prolixus → Colômbia e Venezuela Agente etiológico A Doença de Chagas é causada por um protozoário de ordem Kinatoplastide de família Trypanosomatidae e gênero Tryponosoma Denominado por Carlos Chagas de Trypanosoma Cruzi (1909) Morfologia do Trypanosoma Cruzi - Em vertebrados → hospedeiro intermediário ~ Sangue – forma Tripomastigota ↳ Forma infectante ~ Tecidos – forma Amastigota - Em invertebrados → Triatomíneo = barbeiro ~ Sangue – forma Tripomastigota ~ Estomago – forma Amastigota ~ Intestino – forma Epimastigota ~ Reto – forma Tripomastigota metacíclica ↳ Forma infectante, encontrada nas fezes 2 Rafaela Pamplona Mecanismo de transmissão Fezes do triatomíneo infectado para Trypanosoma Cruzi na pele do hospedeiro (homem) – 1ª via mais importante Transfusão sanguínea – 2ª via mais importante - São Paulo: próximo de zero - América Latina: 2 a 4% - Brasil: 0,7% - Goiás: 5% Via Congênita Contaminação oral (ovos contaminados) Aleitamento materno Aspectos epidemiológicos No Brasil, o risco de transmissão em 1970 era de 36% do território brasileiro – 2450 municípios Hoje 4% do território brasileiro – zona rural (PA, AM,MG, RS, GO, SE, BA) Existe 1 milhão de brasileiros infectados Morrem 6 mil brasileiros /ano A partir de 1997 o Brasil conseguiu interromper o ciclo da doença pela eliminação de quase todos os barbeiros com aplicação maciça de inseticida Formas da doença Fase Aguda Incubação Transmissão natural: 4 – 10 dias Transmissão por transfusão: 3 – 6 semanas Sintomas ocorrem entre 2 e 3 semanas - Febre, astenia, perda de peso, linfadenopatia, hepatoesplenomegalia - Sinal de Romana ~ Mecanismo de entrada: conjuntiva ocular ~ Edema bipalpebral unilateral - Chagoma de inoclusão ~ Mecanismo de entrada: pele ~ Saliências cutâneas arredondadas ~ Indolor ou levemente dolorosa ~ Com frequência desapercebida - Manifestações neurológicas ~ Meningoencefalite ~ Convulsões ~ Mais comum em crianças e imunodeprimidos - Miocardite ~ O coração frequentemente é acometido na fase aguda ~ A forma amastigota multiplica-se entre os miócitos, provocando intenso infiltrado mononuclear e edema intersticial ~ Sinal mais frequente (85%) – taquicardia ~ Pode ocorrer também pericardite e endocardite ~ Nem sempre ocorre alterações clínicas ao Rx ou ECG ↳ ECG Taquicardia sinusal QRS com baixa voltagem Prolongamento do intervalo QT BAV 1o Grau Bloqueio de ramo direito Extrassístoles são raras ↳ Rx 50 – 60% são normais Aumento da silhueta cardíaca pode ocorrer por derrame pericárdico Diagnóstico laboratorial - Métodos diretos de esfregaços e gotas espessas de sangue - Exame a fresco ou após coloração - Meios de Cultura Tratamento - Todos devem ser tratado – 60% se curam Fase Latência ou Indeterminada Assintomática Pode durar vários anos São 60 a 70% dos portadores da Doença de Chagas São transmissores involuntários Exame físico normal ECG e Rx do Tórax normais Esôfago e Cólon normais Diagnóstico - Sorologia (detecção de anticorpos) - Reação machado guerreiro - Hemaglutinação direta e indireta - Imunofluorescência indireta - Imunoensaio enzimático (ELISA) Fase Crônica Na maioria dos pacientes a sintomatologia desaparece cerca de 2 meses após o início da doença Nesta fase não se encontram mais parasitas no sangue periférico Sorologia e Xenodiagnóstico são positivos São 30% dos portadores de Doença de Chagas A forma digestiva compromete principalmente as extremidades do tubo digestivo, esôfago e cólon, estabelecendo os megas 3 Rafaela Pamplona Miocardiopatia chagásica - Classificação ~ Dilatada ~ Arritmogênica ~ Mista ↳ Manifestações de ICC e arritmia se igualam ↳ Aumenta consideravelmente o potencial de mortalidade Miocardiopatia chagásica dilatada Predomina - Aumento do coração - Hipossistolia ventricular - ICC de graus variados, com predomínio de ICC direita ~ Estase jugular ~ Hepatomegalia ~ Edema de membros inferiores ~ Ascite ~ Sem sinais patognomônicos Rx de tórax - Aumentos variáveis da área cardíaca ~ Mais frequente são aumentos leves e moderados ~ Grandes cardiomegalias ECG - Mostra-se alterado em todos os casos de forma dilatada - Bloqueio intraventriculares ~ Ramo direito ~ Fascículo anterossuperior esquerdo do feixe de His - Infrequentes ~ Bloqueio de ramo esquerdo ~ Fibrilação atrial ~ Flutter - Extrassístole ventricular são frequentes Ecocardiografia - Tamanho do coração - Função ventricular - Presença ou não de trombos - Aneurisma da ponta do VE Diagnóstico laboratorial - Sorologia (detecção de anticorpos) - Reação machado Guerreiro - Hemaglutinação direta e indireta - Imunofluorescência indireta - Imunoensaio enzimático (ELISA) Tratamento (semelhante para IC) - Digitálicos - Diuréticos - Antagonistas de aldosterona - Bloqueadores da enzima conversora da angiotensina - Betabloqueadores (Carvedilol) - Anticoagulantes (FA – trombos) Miocardiopatia chagásica arritmogênica Há predomínio das alterações do sistema excitocondutor do coração Pode ser encontrado grandes comprometimentos do ritmo com área cardíaca normal BAV do 1o, 2o e 3o Graus Bloqueios venoatrial são mais frequentes FA e Flutter são infrequentes Extrassístoles ventricularesfrequentes (38%) Extrassístoles + BAVT (principais causas de óbito) Imagem de área inativa em V1 e V2 – lesão de ponta Tratamento fase crônica O tratamento específico ainda não é recomendado em termos de Programa de Saúde Pública O tratamento está indicado em casos de infecção recente, em todas as crianças com sorologia positiva Em caráter de investigação e em assistência individual é válido o tratamento Indicações Contraindicações Fase aguda Gestantes Fase crônica em crianças Insuficiência renal grave Reativação da doença Cardiomiopatia chagásica Contaminação acidental Megaesôfago com disfagia Tratamento infecção congênita Os critérios para diagnóstico são os mesmos da fase aguda adquirida O reconhecimento de que a mãe é portadora de doença de chagas faz pensar em transmissão congênita O tratamento é mais eficiente quanto mais próximo do parto foi instituído 4 Rafaela Pamplona Tratamento na infecção acidental Inicia-se o tratamento imediatamente Benzonidazol: 7-10 mg/Kg /10 dias Exames pré-tratamento Mínimo duas provas sorológicas positivas Imunofluorescência indireta Hemoglutinação indireta Técnica Imunoenzimática (ELISA) Hemograma completo ECG, Rx de tórax, Ecocardiograma, Rx do esôfago, intestino grosso Doses para tratamento Benzonidazol (Rochagan) - Adultos 5 mg/Kg/dia durante 60 dias - Crianças 5-10 mg/Kg/dia durante 60 dias Intervalos de 8/8 h ou 12/12h Nifurtimox (Lampit) - Adultos 8-10 mg/Kg/dia durante 60 a 90 dias Intervalos de 8/8 h - Crianças 15 mg/Kg/dia durante 60 dias Intervalo 12/12 h Posaconazole Efeitos colaterais Manifestações do aparelho digestivo: epigastralgia, náuseas, vômitos Alterações hematológicas: leucopenia, plaquetopenia, agranulocitose Dermatopatia ocorre em 30% (+ Benzonidazol) Polineuropatia e dependente da dose (ocorre em 10 a 30% dos casos) OBS.: As crianças toleram melhor o tratamento Contraindicações Gestantes Pacientes com afecções graves Avaliação de cura Fase aguda ou crônica recente - Acompanhamento através de hemocultura, xenodiagnóstico e provas sorológicas - Negatividade prolongadamente repetidas é critério de cura Fase Crônica - Exames parasitológicos negativos - Exames sorológicos positivos Eficácia do tratamento Paciente deve retornar a cada 6-12 meses para nova avaliação clínica Acompanhamento clínico a cada 5 anos Acompanhamento sorológico a cada 6-12 meses Escore de Rassi É a melhor forma de predizer o prognóstico de um paciente com Doença Chagas a longo prazo Avalia 6 características para dizer o risco de mortalidade em 5 e 10 anos Mnemônico Classe funcional III ou IV Hipocontralidade no Eco Amplitude reduzida do QRS Grande coração no Rx Arritmia no Holter (TVNS) Sexo masculino 5 Rafaela Pamplona Cardiomiopatias Conceito São doenças do músculo cardíaco, que ocasionam anormalidades miocárdicas estruturais e funcionais na ausência de doença coronária, hipertensão, doença valvar e congênita Classificação da cardiomiopatia Dilatada Hipertrófica Restritiva Arritmogênica do VD (acomete também VE) Cardiopatia dilatada Miocardiopatia que se caracteriza por dilatação de um ou ambos os ventrículos com comprometimento da função sistólica Características anatomofuncionais - Anatômico: dilatação das câmara ventriculares - Funcional: comprometimento da função sistólica ventricular Classificação - Idiopática ou primária ~ É a mais comum ~ Maior prevalência entre 20 e 50 anos ~ Representa 50% de todas as cardiomiopatias ~ Incidência entre 7 e 10 para 100.000 indivíduos ~ Mortalidade de 50% nos dois primeiros anos após o diagnóstico ~ Cerca de 50% de todas as mortes por CMD ocorrem de forma súbita ~ Caráter familiar em 20% dos casos (Michels e cols) ~ Incidência maior em países de terceiro mundo - Específica ou secundária Fisiopatologia - Ocorre fibrose e morte de miócitos, e na tentativa de recuperação há uma hipertrofia de miócitos existentes - Há surgimento novas células, que não possuem a mesma capacidade contrátil das outras - O coração na tentativa de compensar vai se desgastando e dilatando, diminuindo a força contrátil - A redução do inotropismo leva a disfunção sistólica de instalação progressiva e dilatação ventricular - A dilatação é o principal mecanismo compensatório da insuficiência sistólica através da Lei de Frank-Starling Diagnóstico - Histórica clínica ~ Dispneia de esforço progressiva ~ Ortopneia ~ Dispneia paroxística noturna ~ Tosse ~ Palpitações ~ Tontura ~ Síncope (quando cursa com arritmia) - Exame físico geral ~ Palidez cutâneo mucosa ~ Dispneia objetiva ~ Estase jugular em decúbito de 45 graus ~ Edema de MMII - Exame físico coração ~ Ictus-cordis desviado para fora da linha hemiclavicular e abaixo do 5º EIE ~ Taquicardia ~ Ritmo de galope por B3 ~ Sopro sistólico mitral e/ou tricúspide (frequente) ~ Abafamento universal da bulhas ~ Extrassístole - Exame físico pulmonar ~ Estertores subcrepitantes bilaterais ~ Diminuição ou abolição do murmúrio vesicular nas bases - Exame físico abdome ~ Hepatomegalia, geralmente dolorosa ~ Ascite - Exames complementares ~ Eletrocardiograma – achados inespecíficos ↳ Alteração da repolarização ventricular ↳ Distúrbio de condução intraventricular (BDASE) ↳ Padrão de sobrecarga de ventrículo esquerdo ↳ Desproporção SVE com pouca ou nenhuma expressão de SAE ↳ Alteração de segmento ST-T; 6 Rafaela Pamplona ↳ Eventualmente sinais de SVD; ↳ Em casos mais graves sinais de sobrecarga biventricular ↳ Distúrbios do ritmo Extrassístole DCRE Fibrilação atrial no casos avançados ~ Rx de Tórax – achados inespecíficos ↳ Pode ser normal ↳ Aumento de área cardíaca ↳ Sinais de congestão pulmonar ↳ Sinais de edema intersticial (linha B de Kerley) ~ Ecocardiograma ↳ Dilatação de um ou ambos os ventrículos ↳ Dilatação menos pronunciada dos átrios ↳ Hipocontratilidade ventricular (ou global) ↳ Alteração da espessura das paredes dos ventrículos ↳ Regurgitação através da valvular atrioventricular, em geral sem alterações estruturais do aparelho valvar ↳ Trombos intracavitário em 75% dos casos ~ Ergoespirométria ~ Holter ~ Cintilografia Miocárdica ~ Ressonância Nuclear Magnética ↳ Avaliação precisa do tamanho das câmaras cardíacas, da espessura das paredes e da função sistólica ~ Angiotomografia coronária ~ Cateterismo Cardíaco – estudo hemodinâmico ↳ Pressão diastólica final (Pd2), pressão atrial esquerda e do capilar pulmonar encontram-se elevadas; ↳ Débito cardíaco reduzido em graus variáveis; ↳ Aumento na resistência vascular pulmonar e sistêmica ↳ Hipocontratilidade em graus variáveis ↳ Trombos intracavitários; ↳ Regurgitação através das valvular atrioventriculares; ↳ Coronariografia em geral e normal Tratamento Clínico - Medidas gerais ~ Evitar ganho de peso ~ Restrição de sal (máximo de 5g/dia) ~ Restrições hídricas (400ml a 1000ml/dia) ~ Suspensão total de bebida alcoólica ~ Atividade física proporcional ao estado funcional do paciente - Farmacológico ~ Betabloqueadores – Carvedilol / metoprolol / Bisoprolol ~ IECA – captopril / enalapril / Ramipril ~ BRA – losartana / Valsartana ~ Antagonistas da aldosterona - espironolactona ~ Diuréticos – furosemida ~ Inibidor da Neprilisina e dos receptores da angiotensina – entresto (sacubitril/Valsartana) ~ Vasodilatadores – Hidralazina / dinitrato de Isossorbida ~ Digitálicos – digoxina ~ Anticoagulantes e antiplaquetários Tratamento Cirúrgico - Implante de marcapassode dupla câmara ~ Paciente que além da miocardiopatia tem FC baixa - Cardioversor-disfibrilador implantável ~ Paciente com miocardiopatia dilatada que cursam com taquicardia ventricular não sustentada) - Transplante cardíaco Prognóstico - Em geral é reservado - Mortalidade de 31 a 35% no primeiro ano - Sobrevida média de 85 meses Cardiopatia hipertrófica Patologia que se caracteriza por hipertrofia do miocárdio, determinando aumento da espessura de suas paredes sem dilatação ventricular Características anatomofuncionais - Anatômico: marcada hipertrofia do septo e/ou parede livre ventricular - Funcional: exacerbação da função sistólica e comprometimento da função diastólica 7 Rafaela Pamplona Importância - Componente genético importante – autossômica dominante - Principal causa de morte súbita em adultos jovem - Mortalidade anual de 3 a 4% para adultos, 5 a 6% para jovens com menos de 20 anos - Evolução para disfunção sistólica grave em 10% dos casos Fisiopatologia - Há hipertrofia do septo, que cresce para dentro da cavidade ventricular esquerda - Esse crescimento diminui a cavidade ventricular esquerda, diminuindo a via de saída do ventrículo esquerdo, a via de saída do VE é a aorta - A hipertrofia septal diminui a cavidade ventricular e restringe a diástole, aumentando a pressão ventricular e a pressão para o AE - O enchimento diastólico do VE passa a depender grandemente da fase de contração do AE, que acaba por se sobrecarregar - A elevação da pressão intra-atrial se transmite retrogradamente a circulação pulmonar, causando congestão - A CMH predispõe a isquemia miocárdica devido ~ Aumento da demanda metabólica do miocárdio, por maior massa e sua contratilidade ~ Aumento das pressões de enchimento do VE, reduzindo a perfusão coronariana subendocárdica na diástole ~ Alterações na morfologia das coronárias intramurais que se encontram pequenas e espessas Diagnóstico - História clínica ~ A maioria é assintomática ~ História de casos na família ~ História de morte súbita na família sem causa determinada ~ Dispneia ~ Dor precordial ~ Palpitações ~ Síncope - Exame físico ~ Pulso venoso jugular pode apresentar uma onda “a” elevada; ~ B1 é normal e B2 com desdobramento paradoxal (Se tiver retardo na abertura da válvula aórtica) ~ Presença de B4 ↳ Quando o coração não se distende principalmente quando o átrio vai desaguar no ventrículo que ele se contrai aqueles 30% finais e o ventrículo está mais ou menos cheio de sangue porque o ventrículo está com a cavidade diminuída não se distende bem e essa batida desse sangue dá a presença dessa 4 bulha. ↳ Podemos ouvir tanto um sopro sístole de insuf mitral como também podemos ouvir um sopro de estenose aórtica pelos mecanismo que foi falado: hipertrofia septal e o movimento anormal do folheto anterior da válvula mitral ~ Sopro sistólico, rude em crescendo e decrescendo, início após B1, melhor audível no FM e sem irradiação para o pescoço - Exames complementares ~ Eletrocardiograma de repouso ↳ 90% dos eletros do pct com essa doença são alterados ↳ Não há padrão característico ↳ SVE com alteração ST-T (mais frequente) 8 Rafaela Pamplona ~ Holter ↳ Exame obrigatório ↳ 11% não apresentaram arritmia ↳ Daqueles com arritmia 57% eram supraventriculares 82% eram ventriculares EEVV frequentes > 20h em 20% EEVV polimórficas em 20% EEVV pareadas em 26% Taquicardia ventricular não sustentada em 19% (taquicardias que revertem) ~ RX de tórax ↳ Área cardíaca geralmente é normal ↳ Pode ser observado sinais de aumento de átrio esquerdo ↳ Sinais de congestão pulmonar ~ Ecocardiograma ↳ Hipertrofia do VE, mais frequentemente do septo ↳ Cavidade do VE normal ou diminuída ↳ Aumento do átrio esquerdo ↳ Valva mitral anormal em 50% dos pacientes e insuficientes em 39% dos casos ↳ Estreitamento da via de saída do VE ↳ Movimento anterior da valva mitral observado em 68% dos casos ↳ Fechamento precoce da valva aórtica ↳ Disfunção diastólica ~ Ressonância Nuclear Magnética ~ Cateterismo cardíaco Tratamento clínico - Cuidados ~ Esportes competitivos e esforços extenuantes devem ser proscritos ~ Desidratação deve ser evitada ~ Diuréticos usados com cautela ~ Deve-se evitar nifedipina ~ Tentar manter o paciente sempre em ritmo sinusal - Betabloqueadores ~ Melhoram a angina do peito e a síncope de 1/3 à metade dos pacientes ~ Se não houver contraindicações o betabloqueador melhora a diástole, a performance do coração, a distensibilidade - Amiodarona ~ Antiarrítmico ~ Parece ser eficaz na redução das arritmias supraventriculares e ventriculares potencialmente fatais - Nos 10% que evoluem com disfunções sistólicas, utiliza fármacos das cardiomiopatias dilatadas Tratamento cirúrgico - Implante de marca-passo permanente de dupla câmara ~ Melhora os sintomas e reduz gradiente de VSVE - Infarto do septo interventricular ~ Faz um infarto no septo, ele deixa de se mover, melhorando a performance do ventrículo esquerdo ~ Reduz a obstrução de VSVE - Miotomia/miectomia do músculo ventricular hipertrofiado ~ Retirada de parte do septo e de parte da coronária ~ Piora sistema de condução, necessitando do marcapasso ~ Melhora duradoura dos sintomas em até 75% dos casos - Introdução de um cardioversor e desfibrilador implantável ~ Pacientes que sobreviveram a PCR Prognóstico e História natural - Reservado - Diagnóstico dos pacientes assintomáticos ~ Por volta dos 20 anos - Primeiros sintomas (classe II da NYHA) ~ Geralmente aos 30 anos - Paciente já estaria na classe funcional III ~ Aos 35 anos - Ocorrência de óbito ~ Dentro dos anos seguintes ↳ Mortalidade anual 3 a 4% tratados clinicamente 1,8 a 2,4% entre os operados - Progresso para ICC ~ Em 10 anos nos tratados clinicamente ~ Em 7,57 anos nos operados Sinais de pior prognóstico - Diagnóstico precoce: recém-nascidos/adolescentes - História de síncope - História de morte súbita em familiares - Taquicardia ventricular documentada mesmo assintomático - Fibrilação atrial (não é consenso) 9 Rafaela Pamplona Insuficiência Cardíaca Definição Síndrome clínica complexa e progressiva, que pode resultar de qualquer distúrbio funcional ou estrutural do coração que altere sua capacidade de enchimento e/ou ejeção Caracterizada clinicamente por dispneia, fadiga, edema e redução da sobrevida É uma condição em que o coração não consegue bombear o sangue de acordo com a demanda tecidual ou só faz à custa de aumento na pressão de enchimento - Aumento da pressão de enchimento: síndrome congestiva pulmonar - Baixo débito cardíaco: exaustão, sincope e choque cardiogênico A maioria dos casos é devido a perda de massa miocárdica, cursando com a dilatação ou hipertrofia compensatória do VE A resposta compensatória envolve ativação neuro-hormonal, sendo responsável pelas alterações deletérias – cardiotoxicidade mediada por epinefrina, angiotensina II e aldosterona A principal consequência clínica da ICC é o fenômeno da congestão venocapilar - Se o coração não bombeia adequadamente uma parte do sangue fica estagnada na circulação venosa, aumentando a pressão venocapilar, o que provoca o extravasamento de liquido para o interstício, determinando edema ou congestão Epidemiologia Problema de Saúde Pública Agravado pelo aumento da população > 65 anos Brasil (180 milhões de habitantes) - 1ª causa de hospitalização - Visitas ambulatoriais Prevalência cresce - Alta prevalência na população idosa (1,5%) - 80% dos hospitalizados por IC são idosos - A população envelhece - Idosos no Brasil (2000: 15 milhões; 2020:30 milhões) - Aumentam os sobreviventes de IAM (50% causas) - Aumento de casos de IC em futuro próximo IC é a via final comum da maioria das cardiopatias 1/3 dos pacientes é hospitalizado anualmente Taxa de readmissão em 90 dias > 30% Hospitalizações: aumento > 50% nos próximos 25 anos Mortalidade: 50% (CF IV NYHA) Fisiopatologia Determinantes do desempenho cardíaco - Pré-carga ou capacitância (volemia) - Pós-carga ou impedância (resistência vascular periférica) - Contratilidade ou inotropismo (FE) - Frequência cardíaca Determinantes do Debito cardíaco = FC x Vol. Sistólico - Frequência cardíaca - Pré e pós carga ventricular - Função sistólica e diastólica ventricular - Fluxo sanguíneo miocárdico - FE = vol. Diastólico final – vol. Sistólico final VDF Ex.: 120ml – 80ml = 0,33 (33%) 120ml ~ FE normal > 50% Mecanismo de adaptação ⃕ ⃕ ⃕ Causa Efeito Compensação Descompensação ↓ Curto prazo ↗ (min a horas) ↘ Frank-Starling Progressão Ativação simpática e neuro-hormonal ↓ Longo prazo ↗ (sem a meses) ↘ Remodelamento Morbidade ↓ Expressão gênica Mortalidade Disfunção do ventrículo esquerdo FEVE < 40% - Causas ~ Sobrecarga de volume ou de pressão ~ Perda de miocárdio ~ Alteração da contratilidade - Consequências ~ Redução do debito cardíaco ↳ Hipotensão tecidual ~ Aumento do volume sistólico final e do volume diastólico final ↳ Congestão pulmonar IC Esquerda - Disfunção do coração esquerdo - Cursa com congestão pulmonar: dispneia, ortopneia, dispneia paroxística noturna, Cheyne-Stocke, tosse/hemoptise, terceira bulha, estertores crepitantes basais, edema pulmonar - Ex.: IAM, cardiopatia hipertensiva (SVE), miocardiopatia idiopática, doença valvar 10 Rafaela Pamplona IC Direita - Disfunção do coração direito - Cursa com congestão sistêmica: turgência jugular, hepatomegalia/refluxo hepatojugular, ascite, edema MMII, derrame pleural, terceira bulha, dor abdominal, náusea, anorexia - Ex.: cor pulmonale, infarto do VD e cardiomiopatias IC sistólica - Perda da capacidade contrátil - Provoca dilatação ventricular (cardiopatia dilatada) - Fração de ejeção ≤ 50% - Consequência: ↓DC e ↑VDF - ↑ pressão de enchimento ventricular - Cardiomiopatia dilatada IC diastólica - Restrição patológica ao enchimento - Fração de ejeção normal - Elevação da pressão de enchimento diastólico - Redução da complacência ventricular - Hipertrofia concêntrica, com redução da cavidade Mecanismos compensatórios - Lei de Frank-Starling – Pré carga ~ Resposta de curto prazo baseada na relação comprimento-tensão: quanto ↑VDF, ↑distensão muscular e ↑força de contração, evitando a queda do débito cardíaco ~ VDF ou pré-carga depende do retorno venoso, que por sua vez depende da volemia e do tônus do leio venoso - Contratilidade dos miócitos remanescentes ~ A contratilidade (inotropismo) é modulada pela ação do sistema adrenérgico sobre os receptores beta-1 e alfa-2 ~ ↓ DC estimula os barorreceptores arteriais, ativando o sistema simpático que age sobre beta 1 e alfa2, aumentando a contratilidade dos miócitos - Hipertrofia ventricular esquerda ~ Aumento da massa do miocárdio ventricular ~ Principal mecanismo compensatório inicial nos casos de sobrecarga de pressão ou volume ~ A angiotensina II é um dos principais indutores de hipertrofia ventricular na IC ~ Consequências: arritmogênese, piora da função diastólica, fator de risco para eventos cardiovasculares ~ Sobrecarga de pressão ↳ Hipertensão arterial, estenose aórtica ↳ Ocorre hipertrofia concêntrica: aumento da espessura sem aumentar a cavidade ~ Sobrecarga de volume ↳ Regurgitação valvar ↳ Ocorre hipertrofia excêntrica: aumento da cavidade predominando sobre o aumento da espessura - Aumento da frequência cardíaca ~ Para compensar a redução do DC ~ Sistema adrenérgico aumenta o cronotropismo, agindo sobre os receptores beta-1 no nódulo sinoatrial Remodelamento cardíaco - Ação deletéria do sistema neuro-humoral - Os mesmos mediadores humorais que inicialmente mantém o paciente compensado passam a exercer efeito deletério sobre a função miocárdica - ↓ Débito cardíaco é percebida pelos barorreceptores periféricos que estimulam o aumento no tônus adrenérgico - ↑ Noradrenalina ~ Atua sobre receptores beta 1 e 2 desencadeando a injuria do miócito ~ Efeitos cardiotrópicos ~ Estimula a liberação de renina - ↑ Retenção de Na e água ~ Hipoperfusão renal ~ Ativação do SRAA ↳ Angiotensina II: apoptose do miócito, proliferação de fibroblastos, liberação local de NA e da própria angiotensina ↳ Aldosterona: hiperproliferação dos fibroblastos - Outros sistemas neuro-hormonais ~ ↑ peptídeo natriurético ~ ↑ prostaglandinas vasodilatadoras ~ ↑ endotelina ~ ↑ arginina vasopressina ~ ↑ citocinas ↳ Fator α de necrose tumoral ↳ Interleucina IL-6 e IL-1β Ao impedir a hiperativação neuro-humoral há aumento da sobrevida do paciente Inibidores da ECA (IECA) Bloqueador do receptor de AT1 de angiotensina II (BRA) Betabloqueador Antagonistas da aldosterona 11 Rafaela Pamplona Pós-carga cardíaca - Tudo que dificulta a ejeção ventricular faz parte da pós- carga Ex.: ↑ tônus arteriolar periférico, calcificação aórtica, estenose da valva aórtica e a lei de Laplace - Lei de Laplace ~ Fator relacionado a geometria ventricular ~ Ventrículo com diâmetro muito grande e parede fina precisa fazer um esforço muito maior para ejetar o sangue Compensação Mecanismo Efeito ↑ FC e inotropismo Ativ. simpática ↑ DC (DC=VSxFC) ↑ Vol VE Retenção de Na e H2O Ativação neuro- humoral ↑ Vol. sistólico Frank-Starling Vasoconstricção periférica Ativação neuro- humoral PA=DCxRVP ↑ vol. Sistólico RemodelamentoVE Dilatação/hipertrofia Ativação neuro- humoral e inflamatória ↑ vol. Sistólico ↑ contração VE Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona (SRAA) Regula funções essenciais do organismo, como a manutenção da pressão arterial, balanço hídrico e de sódio Atua de modo a reverter a tendência à hipotensão arterial através da indução de vasoconstricção arteriolar periférica e aumento na volemia por meio de retenção renal de sódio (através da aldosterona) e água (através da liberação de ADH-vasopressina A renina é liberada pelos rins, enquanto a enzima conversora de angiotensina (ECA) é encontrada no endotélio vascular em vários órgãos Com a cascata ativada, surgem a angiotensina I (AI) e a angiotensina II (AII), que circulam pelo sangue e se ligam em receptores específicos ATI e ATII, regulando funções em órgãos-alvos Receptores de ATII estão presentes na artéria e produzem vasoconstricção em segmentos isolados de todos os leitos arteriais. Exerce importantes efeitos tróficos sobre a parede arterial Efeitos da angiotensina II - Vasoconstricção - Facilitação da liberação de NE pelo SN - Retenção sódica (via aldosterona) - Remodelamento: promoção do crescimento celular; alteração da expressão genica; hipertrofia e proliferação fibroblástica Aldosterona - Remodelação coronariana e renovascular, disfunção das células endoteliais e dos barorreceptores, redução da variabilidade da FC, fibrose, retenção de sódio e água SRA e interação com outros sistemas - ↑ catecolaminas e renina ativam receptores da arginina- vasopressina (AVP) responsáveis por inibir a diurese e consequentemente reter água - Endotelina é um potente vasoconstritor produzido nas células endoteliais e liberado na circulação. Induzida por angiotensina II, AVP Peptídeo natriurético B (BNP) Produzido pelo miocárdio dos ventrículos, sempreem resposta ao estiramento miocárdico Sua liberação está ligada ao aumento das pressões de enchimento ventricular Valor diagnóstico - Ajuda a diferenciar se a dispneia é de origem cardíaca ou por pneumopatia ~ BNP aumenta na insuficiência cardíaca Valor prognóstico - Normal: 0-99pg/ml - Anormal: 100-400pg/ml indica incerta falência cardíaca > 400pg/ml indica provável IC Disfunção endotelial Aumento da endotelina Queda do oxido nítrico Aumento de citocinas inflamatórias como FNT, IL1 e IL6 12 Rafaela Pamplona Etiologia IC direita IC esquerda Estenose mitral Cor pulmonale (DPOC) TEP Hipertensão Arterial Pulmonar primária Hipertireoidismo/ tireotoxicose Sepse, SIRS Beribéri (defic B1 – tiamina) Doença de Paget óssea Cirrose hepática Fistula arteriovenosa sistêmica Congênita: CIV, tetralogia de Fallot Valvulopatias: insuficiência mitral, estenose aórtica Miocardiopatia: IAM, miocardite HAS Pericardite constritiva Toxinas: álcool, antiblásticos Sobrecarga de volume Sobrecarga de pressão Insuficiência mitral Insuficiência aórtica Estados de alto débito (anemia, hipertireoidismo) HAS Estenose aórtica Disfunção sistólica Disfunção diastólica Perda de miocárdio - Infarto do miocárdio - Isquemia miocárdica Comprometimento da contratilidade - Miocardiopatia alcoólica - Miocardite Alteração do relaxamento - HAS - Doença cardíaca isquêmica Classificações Direita X Esquerda Sistólica X Diastólica Etiológica: valvar, miocárdica, hipertensiva, inflamatória/ infecciosa, tóxica Classificação funcional da IC – NYHA Evolução dos estágios clínicos - Normal: sem sintomas; exercício normal; FEVE normal - Disfunção VE assintomática: sem sintomas; exercício normal; FEVE anormal - IC compensada: sem sintomas; ↓exercícios; FEVE anormal - IC descompensada: sintomas; ↓↓exercícios; FEVE anormal - IC refratária: sintomas não controlados pelo tratamento Nova classificação da IC A Alto risco para IC HAS, doença coronariana, DM, alcoolismo, febre reumática, HF de miocardiopatia B Doença estrutural sem sintomas Hipertrofia VC, dilatação VE, FEVE <40%, valvopatia assintomática, IAM prévio C Doença estrutural com sintomas NYHA (I-IV) Dispneia, fadiga por disfunção do VE, assintomáticos em tratamento para IC D IC terminal Hospitalização frequente, ionotrópicos EV, suporte ventricular mecânico, aguardando transplante Diagnóstico – Avaliação Clínica Anamnese - Síndrome congestiva pulmonar: dispneia aos esforços, ortopneia, dispneia paroxística noturna, tosse seca principalmente à noite - Síndrome do baixo débito: fadiga muscular, indisposição, mialgia, cansaço, lipotimia - Choque cardiogênico: extremo da IC comum nas formas agudas (IAM de parede extensa) ou forma crônica terminal. Hipoperfusão orgânica generalizada + hipotensão grave que não responde a reposição volêmica Exame Físico - Pulso arterial: alternância de um pulso forte com um fraco - Refluxo hepatojugular: ao comprimir o quadrante superior direito do abdome há aumento da altura do pulso jugular >1 - Turgência jugular patológica a 45º é um sinal fidedigno e precoce de IVD - Precórdio ~ Cardiopatia dilatada: ictus difuso e fraco, pode estar desviado ~ Cardiopatia hipertrófica: ictus na posição normal, mas com pico sistólico “forte” e duradouro ~ Cardiopatia restritiva: ictus não se altera - Ausculta cardíaca ~ B1 hipofonética – Hipocontratilidade VE ~ B2 hiperfonética – HAP 13 Rafaela Pamplona ~ B3 – audível nas sobrecargas de volume ~ B4 – comum na doença isquêmica e cardiopatia hipertensiva ~ Sopro diastólico pode ser audível no foco mitral Critérios clínicos de Framingham - Simples, barato e acurados - Diagnóstico de ICC: 2 maiores ou 1 maior + 2 menores Rx tórax (congestão / cardiomegalia) - Inespecífico - Cardiomegalia com índice cardiotorácico > 0,5 ou 50% - Alterações pulmonares sugestivas de congestão pulmonar ~ Inversão trama vascular: as veias ficam mais proeminentes nos ápices ~ Linhas B de Kerley: linhas paralelas ao diafragma, visualizadas nas regiões laterais dos hemitórax inferiores, na incidência em PA. Essas linhas representam o ingurgitamento linfático, relacionado ao edema pulmonar ~ Edema intersticial ~ Congestão hilar ~ Derrame pleural: bilateral, predominando a direita (pior drenagem) ~ “Tumor fantasma”: derrame intercisural arredondado, que some após tratamento com diurético Eletrocardiograma (FA, sobrecargas, isquemia) - Exame mais comum - Alterações são inespecíficas e dependem da doença subjacente - Paciente com ICC raro ter ECG normal ~ Valor preditivo negativo - Principais alterações ~ Sobrecargas atriais e ventriculares: onda T negativa, desnivelamento de ST ~ Bloqueios de ramo esquerdo e direito ~ Fibrilação atrial ~ Alterações segmentares Ecocardiograma (FE, valva, câmaras) - Método mais útil para confirmação diagnóstica - Permite avaliar ~ Diagnostico etiológico ~ Grau de sobrecarga ~ Avaliar a função sistólica (FE<50%) e diastólica ~ Grau de refluxo ~ Prognóstico Ergometria - Métodos de avaliação mais objetivo da capacidade funcional - Quanto mais o paciente tolerar o esforço, maior será o consumo de oxigênio e melhor será sua capacidade física Ergoespirométria - Avalia a capacidade funcional, e fornece compreensão abrangente das respostas clínicas do avaliado - Permite a avaliação do consumo máximo de oxigênio (VO2) ou capacidade aeróbica através da avaliação não invasiva dos gases respiratórios - Pacientes com VO2 máx menor que 10ml/kg/min são de maior gravidade 14 Rafaela Pamplona Teste dos 6 minutos - Alternativa prática de avaliar a capacidade funcional - Mede a distância máxima que um paciente consegue andar por conta própria num corredor - Quem percorre acima de 450m tem melhor prognóstico e menos de 300m pior prognóstico Cateterismo cardíaco - Uso na ICC mais restrito - Avaliar doença coronariana - Diagnóstico diferencial entre miocárdio restritiva e pericardite constrictiva - Avaliar indicação de transplante cardíaco Ressonância nuclear - Permite não utilizar contrastes radioativos para obtenção e imagens que avaliam ~ Fração de ejeção ~ Volumes ventriculares ~ Massa miocárdica ~ Alterações segmentares Diagnóstico diferencial Dispneia Edema Estase Jugular Descondicionamento físico Disfunção da tireóide Insuficiência venosa Dispneia psicogênica Embolia pulmonar Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) Posicionamento inadequado dos membros inferiores por tempo prolongado Hepatopatias Nefropatias Obstrução da veia cava inferior Neoplasias Hipoalbuminemia Doença oclusiva venosa pélvica Insuficiência venosa Bócio mergulhante Pericardite constritiva Aneurisma da aorta Pneumonias Laboratório Hemograma Função renal BNP - Peptídeo liberado pelos ventrículos - Tem elevado valor preditivo negativo - Sofre influência de fatores como idade, IMC, função renal - Pode aumentar em situações como: HAS, valvulopatias, isquemia miocárdica, HVE, embolia pulmonar - Indicação: complemento do diagnóstico clínico, estratificação de risco, complemento ao exame físico para guiar o tratamento - Valores ~ < 100pg/ml – improvável ~ 100 – 400 pg/ml – possível ~ > 400pg/ml – provável ~ Ambulatorial: < 35 – 50pg/ml Sumário de urina Função da tireoide Eletrólitos Glicemia Função hepática Tratamento Drogas que reduzem sintomas Drogas que reduzem mortalidade (clássicas) Drogas novas incorporadas ao tratamento New release 2021Drogas que reduzem mortalidade Betabloqueadores Principal droga para tratamento da IC Redução da mortalidade acima de 34%, 2x superior ao IECA Reversão da dilatação e ↑FE em cerca de 75% Reduz em 78% a chance de mortalidade Mecanismo de ação ↱ Efeito cronotrópico (-) (diminui FC) ↓ ativação de receptores β1 ao coração ↳ Efeito inotrópico (-) (diminui força de contração) ↓ Pressão arterial sangue ↓ Consumo miocárdico de O2 Metoprolol - Inclusão: 40 – 80 anos IC NYHA II-IV por 3 meses FEVE < 40% - Resultados: redução de 34% na mortalidade - Limitações: inclui poucos pacientes NYHA - Dose inicial de 12,5 mg Alvo 200mg 1 x ao dia Bisoprolol - Inclusão: 18 – 80 anos IC NYHA III-IV ≥ 3 meses FEVE < 35% - Resultados: redução de 34% na mortalidade - Limitações: pacientes ambulatoriais - Dose inicial de 12,5mg Alvo 10mg 1 x ao dia 15 Rafaela Pamplona Carvedilol - Inclusão: IC sintomática FEVE < 25% Tratamento otimizado - Resultados: redução de 35% na mortalidade - Limitações: exclui pacientes com doença - Dose inicial de 3,125 mg de 12/12h Alvo até 25mg 12/12h Benefícios são obtidos desde as doses iniciais mais os maiores benefícios são com as doses plenas Existe controvérsia de o ideal seria atingir a dose plena ou a FC de 70bpm Contraindicação - BAV de alto grau - Hipotensão arterial - Bradicardia (FC < 50bpm) - DPOC Sugestões práticas - DPOC com broncoespasmo: priorizar os β1 seletivos como Bisoprolol e Metoprolol - Bradicardia dose-dependente ~ Revisar prescrição e suspender drogas bradicardizantes que não tenham impacto na mortalidade (ex-digital) ~ Priorizar Carvedilol, o Bisoprolol causa redução mais intensa da FC - Hipotensão sintomática ~ Revisar prescrição e suspender hipotensores com menor evidência de benefício (diuréticos, Hidralazina, BCC) ~ Trocar Carvedilol Inibidores dos receptores de angiotensina II Drogas essenciais no tratamento de todas as fases da ICC Metanálise de 5 grandes ensaios clínicos (save, aire, trace, solvd tratamento e solvd prevenção) mostrou - Redução de 20% do risco de morte - Redução de 21% de reinfarto - Redução de 31 %de readmissão hospitalar Modo de usar - Iniciar com doses mais baixas e tentar chegar à dose máxima de medicações - Tolera-se um aumento de 35-50 de alteração dos valores de creatina inicial - Reduzir ou suspender: valores acima de 3,0 de creatina ou 5,5 de potássio - Provoca tosse seca em 10 a 20% Bloqueadores dos receptores de angiotensina Surgiu depois dos inibidores da enzima conversora de angiotensina 2 Provoca menos tosse e angioedema Mesmas contraindicações dos IECA no tocante a disfunção renal e hipercalemia Comparou Losartan e captopril em pacientes de ICC, >60anos e CF II e IV Comparou a Valsartana com tratamento padrão Avaliou ICC pós-IAM para receberem captopril, Valsartana e captopril e Valsartana Avaliou pacientes para o uso da Candesartana Antagonistas do receptor de aldosterona Diuréticos poupadores de potássio Efeito na excreção urinária - Semelhantes aos bloqueadores de Na - Depende da aldosterona endógena Mecanismo de ação - Antagonista dos receptores mineralocorticoides, com efeito diurético e anti-hipertensivo - Compete com aldosterona pelos sítios de receptores nos túbulos distais, miocárdio, parede arterial - Aumentando a excreção de sódio e água – arritmias - Retenção de potássio e hidrogênio – edema - Evita a deposição de colágeno que geraria fibrose no miocárdio e nos vasos - Ex.: Espironolactona, Canrenona, Eplerenona 16 Rafaela Pamplona Insuficiência cardíaca com FE < 35% Classe funcional III/IV Resultado: redução de mortalidade em torno de 30% ICC com fração de ejeção <35% Classe funcional II Resultado: redução de 37% em relação ao tratamento Pós-infarto do miocárdio e com fração de ejeção < 40% Resultado: redução do desfecho primário (morte por qualquer causa ou hospitalização) Redução devido à queda da morte súbita Posologia - Espironolactona ~ De 25 a 50mg 1x ao dia - Eplerone não tem no Brasil Efeitos colaterais - Ginecomastia e mastodinia - Hipercalemia Contraindicações - Potássio > 5 - Creatinina > 2,5 Hidralazina + Nitrato Hidralazina - Atua diretamente na musculatura lisa, promovendo relaxamento e vasodilatação Nitrato - Diminui o consumo de O2 no miocárdio, diminuindo a pré e a pós carga Placebo X Prazosin X Hidralazina+Nitrato - CF II e III - Redução da mortalidade por todas as causas - Melhora da tolerância ao exercício físico e da FE Enalapril X Hidralazina+Nitrato - Tendencia de na mortalidade (28%) no grupo da Hidralazina - Exceção: raça negra ~ Hidralazina+Nitrato em pacientes com ICC e DF III e IV com redução da mortalidade Indicações - Alternativa ao IECA/BRA - Sintomático apesar da terapia padrão (reduz mortalidade) - Pacientes de qualquer etnia, CF II-IV com contraindicação a IECA ou BRA - Afrodescendentes em DF II-IV em uso de terapia otimizada - Pacientes de qualquer etnia CF II-IV em uso de terapia otimizada Contraindicação - Hipotensão sistêmica - LES - Insuficiência renal severa Doses - Hidralazina / Nitrato 37,5/20mg 3x ao dia (máx 75/40mg 3x/dia) Efeitos adversos - Hipotensão sintomática - Cefaleia, tontura e náuseas - Síndrome LES like Drogas que melhoram os sintomas Diuréticos Utilizado na prática clínica para controle de doenças que causam sobrecarga de volume São capazes de manter assintomáticos ou pouco sintomáticos ICC descompensada - 89% dispneia - 67% creptos em base - 65% edema de MMII Indicações - Melhora dos sintomas e da capacidade de exercício em pacientes com sintomas de congestão - Reduzir o risco de hospitalização por IC em pacientes com sinais e sintomas de congestão Contraindicado em pacientes sem sinais de congestão 17 Rafaela Pamplona Posologia - Na ICC descompensada: 1 ou 2 ampolas de furosemida EV ou 1mg/kg - Doses subsequentes individualizadas - Estudo dose - Uso de 2,5x a dose diária foi associado com maior alívio do sintomas de dispneia e perda de peso mais com piora transitória da função renal Avaliar resposta → boa evolução - Se depois de 2h com furosemida EV o sódio urinário estiver > 50-70meq/l - Se o débito urinário após 6h estiver > 100-150 ml/h Digoxina Atua bloqueando a bomba Na/Ka fosforilada (↓[K]), aumentando a concentração de Ca e consequentemente o inotropismo (força de contração) ↑inotropismo ↑volume ↑DC ↓FC ↓IC Dose: 0,25 mg/dia de digoxina para a maioria dos pacientes Menor em idosos e na insuficiência renal Indicação no paciente com FE reduzida sintomático ou com fibrilação atrial Novas drogas incorporadas ao tratamento Inibidores da Neprilisina/ receptores da angiotensina II Entresto (valsartan + sacubitril) O receptor da angiotensina – inibidor da Neprilisina (ARNI) resulta da combinação de dois fármacos anti-hipertensivos (sacubitril e valsartan) que reduzem a tensão arterial - Valsartan (BRA) bloqueia os receptores aos quais a angiotensina II normalmente se liga, impedindo os efeitos cardiotóxicos e permite a vasodilatação - Sacubitril bloqueia a decomposição de peptídeos natriuréticos produzidos no organismo, aumentando a excreção de sódio e a água na urina. Este efeito reduz o trabalho no coração e a tensão arterial Comparação do sacubitril/valsartan na dose de 200mg 2x ao dia com enalapril 10mg 2x ao dia - Com ICC e FE< 35% e CF II-IV - 84% dos pacientes estavam recebendo diuréticos, 94% betabloqueadores e 58% aldosterona - A média de idadedos pacientes foi de 64 anos - 87% do sexo masculino e 95% de não negros - Resultados ~ Redução do risco relativo de morte cardiovascular ou hospitalização por ICC em torno de 20% , 21,8% x26,5% ~ Redução do internamento de ICC - 21% ~ Redução por morte cardiovascular 20% ~ Morte por todas as causas 16% ~ Melhora da qualidade de vida, redução das idas a UTI ~ Provocou uma maior queda da pressão arterial 3,2mmHg em relação a valsartan ~ Tosse, hiperpotassemia e insuficiência renal foram mais comuns com a valsartan Pacientes pouco tolerantes a doses baixas de IECA/BRA devem começar com doses baixas de Entresto 24/26mg e aumentar a cada 3sem Pacientes com ICC aguda porém compensada podem utilizar essa medicação Indicação - Substituto do IECA para redução do risco de internamento e morte por IC - Doentes de ambulatório com IC-FEr que se mantém sintomáticos apesar do tratamento otimizado com IECA, betabloqueador e ARM (antagonista mineralocorticoide – aldosterona) - Sacubitril/valsartan em substituição ao IECA/BRA para disfunção de VE sintomática, já em uso de terapêutica otimizada com terapia tripla para reduzir morbimortalidade - Como início de tratamento na IC crônica sintomática, pode ser considerado no lugar do IECA/BRA - Pode ser considerado em pacientes internados com IC descompensada 18 Rafaela Pamplona Ivabradina (Procoralan) É um agente redutor da frequência cardíaca, agindo através da inibição da corrente marca-passo If que controla a despolarização diastólica espontânea no nódulo sinusal e regula a frequência cardíaca Reduz 26% da mortalidade e internação por IC Redução da hospitalização total por IC esquerda e mortalidade por ICC Indicação - Reduzir a hospitalização por IC em doentes com FE <35% sintomáticos apesar do tratamento otimizado com maior dose tolerada e em ritmo sinusal com FC > 70bpm em repouso Contraindicação - ICC descompensada, doença do no sinusal, bloqueio sinoatrial, bloqueio AV, marcapasso, fibrilação atrial Posologia - Dose de adaptação ~ 5mg/cp ~ 2cp ao dia – 1cp de manhã outro cp a noite - Dose eficaz de manutenção ~ Após 1 mês ~ 7,5mg/cp ~ 2cp ao dia – 1cp de manhã outro cp a noite New release 2021 Inibidores de SGLT2 – Dapagliflozin (Forxiga) Glifozinas que atuam inibindo reabsorção de sódio e glicose nos túbulos proximais Propriedades pleiotropicas sobre o peso corporal, pressão arterial e lipídios Reduzem internações por IC em pacientes com dm e alto risco cardiovascular Redução de 26% do risco combinado de morte cardiovascular ou piora da IC Efeito mesmo em pacientes sem DM ou independente dos níveis de hemoglobina glicada Recomendação - Inibidores da SGLT2 em pacientes com ICC sintomáticos - Diabéticos ou não já com dose máxima otimizada tolerada de betabloqueador, antagonista da aldosterona, IECA/BRA ou IRA para reduzir desfechos cardiovasculares ou progressão de disfunção renal Recomendação na prevenção de hospitalização por ICC em DM2 - Inibidores da SGLT2 para prevenção de hospitalização por IC em pacientes com diabetes tipo 2 e que apresentam fatores de risco cardiovasculares para aterosclerose ou doença cardiovascular aterosclerótica - Inibidores da SGLT2 (Dapaglizocina ou empaglizozina) como medicação antidiabética inicial associada ou não a metformina em pacientes com ICC Inibidores da SGLT2 em pacientes com ICC para prevenção da redução da função renal em pacientes com ou sem DM, com taxa de filtração glomerular (TFG) > 20ml/min/1,73m2 Tratamento Controle das comorbidades e dos fatores de risco Dieta com restrição de sódio Restrição hídrica em pacientes sintomáticos e com risco de hipervolemia Fármacos - Drogas que reduzem a mortalidade: IECA, BRA, betabloqueador, antagonista da aldosterona Betabloqueador somente: Carvedilol, Metoprolol e Bisoprolol - Drogas sintomáticas: diuréticos e digitálicos Tratamento padrão da ICFEr → tríade - Betabloqueador + IECA/BRA + AMR Sequência convencional - Escalonado para doses alvo em cada passo - Geralmente levando 6 meses ou mais Passo 1 IECA/BRA ↓ Passo 2 Betabloqueador ↓ Passo 3 AMR ↓ Passo 4 Entresto ↓ Passo 5 ISGLT2 19 Rafaela Pamplona Nova sequência - Todos os passos alcançados em 4 semanas - Escalonamento das doses alvo depois dos passos Passo 1 Betabloqueador + ISGLT2 ↓ Passo 2 Entresto ↓ Passo 3 AMR Definição do perfil clínico/hemodinâmico – IC aguda - Sinais de congestão pulmonar ou sistêmica - Sinais de hipoperfusão Congestão Perfusão Dispneia de esforço Enchimento capilar lentificado Tosse ou dispneia noturna Extremidades frias Ortopneia Sincope Estase jugular Palidez cutânea Hepatomegalia dolorosa Oligúria Ascite Torpor Edema MMII Obnubilação B3 (ritmo de galope) Abordagem terapêutica guiada por perfil clínico/hemodinâmico - Perfil A (quente e seco) → boa perfusão e sem congestão ~ Ajuste de medicação via oral e encaminhamento para seguimento ambulatorial ~ Deve-se pesquisar outras causas que justifiquem seus sintomas como tromboembolismo pulmonar, exacerbação aguda de DPOC, pneumonia, etc - Perfil B (quente e úmido) → boa perfusão e congesto ~ Se a hipertensão é predominante priorizar vasodilator em relação ao diurético ~ Se a congestão é predominante priorizar o uso de diuréticos ~ VNI diminui necessidade de intubação orotraqueal e reduz mortalidade em curto prazo. Deve ser estimulada em pacientes cooperativos com desconforto respiratório sem necessidade iminente de intubação orotraqueal ~ Os vasodilatadores endovenosos possibilitam a melhora rápida dos sintomas, muitas vezes evitando a necessidade de intubação orotraqueal ↳ A dose é deve ser titulada de acordo com os níveis pressóricos e melhora da congestão - Perfil C (frio e úmido) → baixa perfusão e congesto ~ Desafio na sala de urgência ~ SOMENTE reduzir ou suspender a dose dos betabloqueadores se houver hipotensão importante (choque cardiogênico), pois sua suspensão está associada a pior prognóstico ~ Abordagem de acordo com os níveis de pressão arterial sistólica (PAS) ↳ PAS > 90mmHg → iniciar vasodilatadores EV (nitroglicerina e nitroprussiato). Pode ser necessário diuréticos e considerar agentes inotrópicos (dobutamina, Milrinona, dopamina) em casos refratários ↳ PAS < 90mmHg → pode ser necessário reduzir as doses de IECA e/ou betabloqueadores de uso habitual. Iniciar Inotrópicos (dopamina/ noradrenalina) - Perfil L (frio e seco) → baixa perfusão e sem congestão ~ Avaliar se o paciente não está usando dose excessiva de diuréticos ou vasodilatadores ~ Considerar reposição volêmica e/ou redução da dose de diuréticos para otimização volêmica ~ Se continuar hipoperfusão, avaliar a necessidade de inotrópicos Critérios para avaliar eficácia do tratamento Dosagem de BNP - Valores abaixo de 500 pg/ml, ideal é abaixo de 100 pg/ml Frequência cardíaca - FC < 70bpm → melhor prognóstico Fração de ejeção → ecocardiograma - Rever o tratamento se em 3 meses não ocorrer aumento da fração de ejeção e melhora da dilatação ventricular 20 Rafaela Pamplona 21 Rafaela Pamplona Endocardite infecciosa (EI) Conceito Infecção microbiana do endocárdio ou endotélio vascular Lesão característica – vegetação - Plaquetas, fibrina, microrganismo e células inflamatórias É uma doença causada pela infecção da face endotelial de estruturas cardiovasculares, requerendo a presença de microrganismos No coração é acometida particularmente o endotéliodas valvas cardíacas, podendo acometer o endotélio dos átrios, ventrículos e dos grandes vasos Epidemiologia Incidência – 1,6 a 6 / 100.000 pessoas/ano Grupos de risco: drogaditos e paciente com próteses cardíacas Mudanças no perfil epidemiológico: - Populações suscetíveis - febre reumática congênitas drogaditos - Diagnóstico e tratamento mais precoces - Impacto da antibioticoterapia Patogênese Lesão prévia do endotélio cardíaco - Impacto de fluxos sanguíneos - Estresse mecânico por turbilhonamento - Presença de corpos estranhos Com a lesão do endotélio, a exposição dos tecidos subendoteliais estimula a formação de um tampão composto por plaquetas e fibrina Esse tampão constitui a “vegetação” incialmente estéril chamada de endocardite trombótica não bacteriana (ETNB) Durante episódios de bacteremia ou fungemia alguns microrganismos podem se aderir, colonizar e se multiplicar no interior da ETNB, dando início ao processo de EI Defeito cardíaco ↓ Gradiente de pressão (jato) ↓ Lesão endotelial ↓ Depósito de plaquetas e fibrina ← Bacteremia ou fungemia ↳ Trombo + colonização ↓ Vegetação Lesões de alto risco - Valvas aórticas protéticas - Endocardite prévia de valva nativa - Cardiopatia congênita cianótica complexa - Derivações cirúrgicas sistêmico-pulmonares - Coartação da aorta Lesões de risco moderado - Doença reumática - Doença cardíaca degenerativa - Outras cardiopatias congênitas - Miocardiopatia hipertrófica - Prolapso valvar mitral com regurgitação Lesões de risco moderado - CIA - Cirurgia de revascularização miocárdica prévia - Sopros inocentes - Prolapso valvar mitral sem sopro - Doença reumática sem disfunção valvar - Marcapasso / CDI Bacteremia provável - Procedimentos dentários c/ risco de sangrar - Broncoscopia rígida - Cistoscopia com infecção urinária - Biópsia de trato urinário e próstata - Amigdalectomia e adenoidectomia - Dilatação esofágica e escleroterapia - Instrumentação de vias biliares obstruídas - Prostatectomia transuretral - Litotripsia - Procedimentos ginecológicos com infecção Etiologia Endocardite subaguda - Valva nativa, não usuários de drogas ~ Streptococcus viridans ~ Enterococos gram-positivos – após instrumentação do trato urinário em homens ~ Grupo HACEK germes gram-negativos fastiosos – após cirurgia Endocardite aguda - Valva nativa, não usuários de drogas ~ Staphylococcus aureus ~ Streptococcus pneumonia – alcoólatras. Síndrome de Austrian: PNM + meningite + endocardite Endocardite em usuários de drogas ~ Staphylococcus aureus 22 Rafaela Pamplona Classificação Aguda - Decorrente de patógeno com grande capacidade de lesar tecidos cardíacos e extracardíacos - Manifesta-se com quadro clínico exuberante e complicações precoces, exigindo diagnóstico imediato - O período de latência entre a bacteremia e o início dos sintomas é de aproximadamente duas semanas - Normalmente causada pelo Staphylococcus aureus e afeta uma válvula cardíaca normal - Febre alta, sinais de toxemia (sepse), disfunção cardíaca precoce e surgimento de múltiplos focos de infecção metastática à distância. - Caso não tratada logo, a EI aguda evolui para óbito em curto espaço de tempo (semanas), sendo, uma urgência médica Subaguda - Evolui em semanas ou meses em virtude da baixa virulência do agente infectante - É causada pelo Streptococcus viridans e afeta as válvulas lesadas - Febre baixa (pode ser intermitente), sudorese noturna, perda ponderal, fenômenos imunológicos - Disfunção cardíaca gradual - Caso não tratada, EI subaguda evolui para óbito num período de tempo bem mais logo (meses) Quadro clínico Abrupto ou arrastado Manifestações gerais: febre, mal-estar, anorexia, perda de peso Sopro ou modificação das características, sinais de ICC Embolias periféricas Manifestações extracardíacas - Hemorragias - Manchas de Roth: manchas retinianas hemorrágicas - Lesão de Janeway: pápulas eritematosas não dolorosas na palma das mãos ou na planta dos pés - Nódulos de Osler: nódulos eritematosos e sensíveis nos dedos - Esplenomegalia (incomuns em crianças) Paciente de risco + Febre + sopro = suspeitar de EI Complicações Insuficiência cardíaca Embolização – ESA 12-40, EA 40-60% - Cérebro 20%, pulmões 15%, coronárias 6%, baço 6%, membros 6%, intestino 3% Perturbações da condução em pcts que acometem a valva aórtica – 4-16% - BAV 1º grau 45%, BAV 3º grau 20%, - BAV 2º grau 15%, Bloqueio de ramo 15% Neurológicas – 29-50% - Isquêmicas – 80% - Hemorrágicas – 20% - Reação meníngea – 7-15% - Como sintoma inicial – 10-15% Aneurismas micóticos – 3-15% - Aorta proximal 25%, vísceras 24%, membros 22%, cérebro 15% Localização da vegetação (%) Localização ESA EA EDA Esquerda 85 65 40 Aórtica 15-26 18-25 15-20 Mitral 38-45 30-35 15-20 Ambas 23-30 15-20 13-20 Direita 5 20 50-70 Tricúspide 1-5 15 45-65 Pulmonar 1 Rara 2 Ambas Rara Rara 3 Direita + esquerda Rara 5-10 5-10 Outras 10 5 5 Endocardite aguda e subaguda Usuários de drogas - Coração esquerdo - Valva mitral - Coração direito - Valva tricúspide - Staphylococcus aureus Diagnóstico Hemograma - Forma subaguda: anemia e plaquetas normais - Forma aguda: leucocitose e plaquetopenia Presença de VDRL e FR positivo Provas de atividade inflamatória positivas Sumário de urina: proteinúria e hematúria em até 50% dos casos Radiografia de tórax - Só altera se tiver lesão na tricúspide - Presença de infiltrado pulmonar ECG - Prolongamento de PR sugere abscesso de valva aórtica - Sinais de pericardite e infarto 23 Rafaela Pamplona Critérios de Duke - 2 critérios maiores - 1 critério maior e 3 menores - 5 critérios menores - Diagnóstico definitivo ~ Critério anatomopatológico: microrganismo ou alteração patológica demonstrada por cultura ou Gram de uma vegetação, embolo ou abscesso intracárdico ~ Critério clínico: 2 critérios maiores ou 1 maior e 3 menores ou 5 menores - Diagnóstico possível ~ Achados sugestivos de EI, porém não preenchem os critérios menores - Diagnóstico improvável ou rejeitado ~ Diagnóstico firme de outra patologia ~ Melhora das manifestações da EI com menos de 4dias ~ Nenhuma evidencia anatomopatológica por cirurgia ou autopsia, após 4sem de antibióticos Ecocardiograma - ETT – Sensibilidade – 65% ~ 20% - Inadequação técnica por biotipo ou enfisema ~ Inadequado para próteses ou complicações intracardíacas - ETE – Sensibilidade – 90% ~ 6 a 18% - Falsos negativos ~ Melhor para próteses, abscessos, fístulas, perfurações valvares Tratamento clínico Objetivo - Erradicar o microrganismo - Indicação cirúrgica adequada - Tratar as eventuais complicações Princípios - Antibiótico bactericida / parenteral - Tempo de tratamento prolongado - Combinações sinérgicas (organismos atípicos) Streptococcus viridans, Streptococcus bovis e Enterococcus - Penicilina cristalina: 200.000U/kg/dia - Ceftriaxona: 100mg/kg/dia + Gentamicina: 2mg/kg/dia - Alérgicos: Vancomicina – 40mg/kg/dia - Duração: 4 a 6 semanas Staphylococcus aureus - Meticilina sensível: Oxacilina – 200mg/kg/dia + Gentamicina - Alérgicos: cefazolina – 100mg/kg/dia + Gentamicina ou Vancomicina - Meticilina resistente: vancomicina Gram-negativos: os mais frequentes são os cocobacilos do grupo HACEK - Ceftriaxona: 100mg/kg/dia - Ampicilina + Gentamicina Tratamento cirúrgico Falha do tratamento clínico Abscesso perianular Embolia Grandes vegetações Agente etiológico: gram negativos, grupo HACEK, fungos Aneurismamicótico Endocardite de prótese 24 Rafaela Pamplona Profilaxia As situações com alto risco de desfecho desfavorável na EI são também as de maior risco de desenvolverem EI A profilaxia ainda assim é IIb – B A profilaxia não é mais recomendada pelo risco de adquirir EI Ela deve se restringir aos pacientes com maior risco de desfecho desfavorável, e não deve ser feita em nenhum outro grupo Indicações - Próteses valvares - Endocardite infecciosa prévia - Cardiopatias congênitas ~ Cianóticas não corrigidas, incluindo “shunts” e condutos paliativos ~ Com correção completa, com prótese ou dispositivo por cirurgia ou cateterismo, durante 6 meses após, até endotelização ~ Corrigida com defeitos residuais no local ou adjacentes a retalhos ou dispositivos prostéticos (que inibem endotelização) - Receptores de transplante cardíaco com valvopatias - Procedimentos dentários com 1. Manipulação de gengivas 2. Manipulação periapical dos dentes 3. Perfuração das mucosas 4.Procedimentos respiratórios com incisão ou biópsia da mucosa respiratória (IIb C) Profilaxia para procedimentos dentários e respiratórios - Amoxicilina 2g VO 1h antes (crianças 50 mg/Kg) - Alérgicos à penicilina: Cefalexina 2 g (crianças 50 mg/kg) ou Clindamicina 600mg (crianças 20mg/Kg) ou Azitromicina / Claritromicina 500mg (crianças 15mg/Kg) VO 1h antes - Incapazes de deglutir: Ampicilina 2g IV ½ -1h antes (crianças 50mg/Kg) ou Cefazolina ou Ceftriaxona 1g IV ou IM - Alérgicos e incapazes de deglutir: Cefazolina ou Ceftriaxona 1g (crianças 50mg/Kg) IM ou IV ou Clindamicina 600mg (crianças 20mg/Kg) IM ou IV Profilaxia para procedimentos genitourinário e gastrointestinais - Não se indica profilaxia para EI - Não há estudos que a indiquem ou justifiquem (III B) - Infecções GI/GU em tratamento – incluir penicilinas, ampicilina ou vancomicina (para enterococo) - Pacientes com risco alto para EI, colonizados, que vão a manipulação GI/GU: tratar antes do procedimento (IIb B)
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