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PNEUMONIAS NOSOCOMIAIS (PN) OU ADQUIRIDAS NO AMBIENTE HOSPITALAR (PAH) - Pneumonia Nosocomial (PN) ou pneumonia adquirida em ambiente hospitalar (PAH) :quadro de pneumonia que se instala 48h ou mais após a internação hospitalar - PAVM: Pneumonia associada à ventilação mecânica é o quadro de pnm que se instala 48 - 72h após a intubação orotraqueal obs.: não se usa mais o termo PNM relacionada aos cuidados de saúde (HCAP). A maioria desses pacientes cursa com PAC Patogênese - Alguns estudos sugerem que até 75% dos pacientes críticos mudam sua microbiota orofaríngea – ficando colonizados pelos germes do ambiente nosocomial – dentro das primeiras 48h de internação no CTI. - Microrganismo coloniza a orofaringe → microaspiração de secreções → vias aéreas inferiores. - Tubo traqueal não evita microaspiração → acima do cuff acumulam-se secreções contaminadas (secreções subglóticas) → essa secreção pode vazar para o trato respiratório inferior → a aspiração diária desta secreção é uma forma de prevenção da PNM - O lúmen do tubo também pode ser colonizado → biofilme → aspiração de microêmbolos - Outro fator de risco para as PN é o aumento do pH gástrico → em pacientes hospitalizados, com frequência, múltiplos fatores concorrem para elevar o pH gástrico, por exemplo: (1) uso de antiácidos e anti secretores (ex.: BH2 e IBP) na profilaxia das úlceras de estresse; (2) dieta enteral com tempo de infusão longo; (3) existência de hipo/acloridria prévia, comum em pacientes idosos. (4) a própria doença grave de base que pode reduzir a secreção ácida - cateteres naso/oro gástricos → fator de risco para PAVM na medida em que podem abrigar patógenos em sua superfície (biofilme) → guia para a colonização da mucosa aerodigestiva. Também pode acarretar outra complicação: sinusite nosocomial → devido ao bloqueio na drenagem dos seios paranasais - Posição supina (cabeceira do leito a zero grau) aumenta a chance de PAVM no paciente intubado e mais ainda se estiver recebendo nutrição enteral. → essa posição faz acumular mais secreções na região subglótica devido o maior refluxo gastroesofágico da posição supina. - Exceto nos casos de contraindicação (TRM) todo paciente intubado deve permanecer com cabeceira do leito elevada entre 30 - 45º - Vias de aquisição menos comuns → inalação de aerossóis contaminados ou a vida hematogênica Etiologia - Principais patógenos (PN e PAVM): ● Bastonetes gram-negativos (BGN) → Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae, Enterobacter spp, Pseudomonas aeruginosa (coloniza a água que circula e se acumula no circuito do ventilador mecânico. , Acinetobacter baumannii, Burkholderia cepacea, Stenotrophomonas maltophilia. ● cocos Gram-positivos (CGP) → staphylococcus aureus (MSSA ou MRSA) OBS.: Os principais são Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosas - São germes que devido ao uso corriqueiro de ATB no ambiente hospitalar apresentam um perfil de elevada resistência (MDR = multidroga-resistência) - Em paciente internados é comum as infecções polimicrobianas (CGP + BGN) - Fungos e vírus são causas menos comuns em PN e PAVM, exceto em paciente imunodeprimidos (aids, receptores de transplante, quimioterapia) - Anaeróbios são muito incomuns, exceto em casos de aspiração de vômito e/ou cirurgia abdominal recente Fatores de risco gerais para PAH - Ventilação mecânica - Broncoaspiração (RNC, re-intubações, SNG/SNE, posição supina, íleo) - Idade avançada (>65 - 70 anos) - Internação prolongada - Uso prévio de ATB - Alcoolismo e/ou tabagismo - Uso de medicamentos que aumentam o pH gástrico - Trauma e queimaduras extensas - Hipotensão - Acidose metabólica - Comorbidades: ICC, DPOC, DM, IRC/uremia, desnutrição, insuficiência hepática, doenças neurológicas Fatores de risco adicionais para PAVM - Biofilme de bactéria no interior do tubo - Vazamentos ao redor do balonete - Intubações repetidas - Formação de condensado nos circuitos - Aspiração traqueal inadequada - Contaminação dos equipamentos respiratórios (nebulizadores, ambu, espirômetro) Fatores de risco para germes MDR Diagnóstico Presença de infiltrado radiológico novo ou progressão do infiltrado antigo + Evidências de que esse infiltrado possui origem infecciosa Diagnóstico de PN - Diagnóstico clínico: Infiltrado radiográfico + dois ou mais dos seguintes critérios: - febre > 38º - escarro purulento - leucocitose ou leucopenia ● Sempre que possível realizar coleta de culturas antes de iniciar o tratamento antimicrobiano → coletar escarro + 2 amostras de hemocultura ● Após suspeita clínica (sinais e sintomas condizentes + exame de imagem “positivo”) e coleta de culturas(hemoculturas + escarro), inicia-se o tratamento antimicrobiano empírico da PN. → Coleta do escarro: - preferencialmente de forma não invasiva → expectoração espontânea - O escarro induzido pode ser realizado em paciente que não conseguem expectorar espontaneamente → nebulização com salina hipertônica para aumentar o volume de secreções respiratórias e o paciente consiga expectorar. - Coleta invasiva (broncofibroscopia + lavado broncoalveolar) não é indicado de rotina por ser mais caro e invasivo ao paciente → indicado em casos de suspeita de CA ou infecção por patógenos oportunistas (M. tuberculosis, P jiroveci, fungos e vírus) obs.: os guidelines atuais são enfáticos em afirmar que o diagnóstico inicial de PN/PAVM deve ser baseado nos SINAIS E SINTOMAS e nos EXAMES DE IMAGEM, independentemente dos resultados de quaisquer marcadores (procalcitonina, proteína C-reativa, sTREM-1). A confirmação do diagnóstico (ver adiante) é feita a partir do resultado das culturas. Diagnóstico de PAVM 1. Em pacientes intubados há mais de 48-72h, o diagnóstico de PAVM deve ser cogitado sempre que surgirem sinais como: - Febre - Secreção traqueobrônquica purulenta - Leucocitose - Piora dos parâmetros ventilatórios e/ou troca gasosa (aumento da FR e queda da SatO2) Obs.: A redução da troca gasosa pode ser evidenciada por uma piora da relação PaO2/FiO2, isto é, a oxigenação arterial cai a despeito de um aumento na fração inspirada de O2). - Normalmente os pacientes estão sedados, logo a investigação de sintomas é prejudicada. Exame físico: - roncos assimétricos - estertores - diminuição do murmúrio vesicular - sibilos - hemoptise Dica prática: pensaremos em PAVM quando um paciente intubado há mais de 48-72h começar/piorar a “inflamar”, desenvolvendo secreção respiratória purulenta e necessidade de maior “suporte” do ventilador mecânico. Tais achados podem aparecer de forma súbita ou gradual. 2. Frente a suspeita clínica de PAVM → solicitar RX de tórax em AP realizado com aparelho portátil à beira leito. Transporte desses pacientes muitas vezes é impossibilitado. - Positivo na presença de infiltrado novo ou progressão do infiltrado antigos 3. Solicitação de cultura : coleta de secreções respiratórias + duas amostras de hemocultura - No paciente intubado as secreções respiratórias devem ser coletadas de forma invasiva e não invasiva: ● Broncofibroscopia com lavado broncoalveolar e/ou escovado brônquico protegido (invasivo) ● Mini lavado broncoalveolar (invasivo) ● Aspirado endotraqueal (não invasivo) - Método de escolha para a coleta de secreções respiratórias na suspeita de PAVM é o ASPIRADO ENDOTRAQUEAL (AET) → material coletado deve ser submetido à bacterioscopia pelo Gram e cultura. Resumindo… - Suspeita clínica → exame de imagem positivo + coleta de culturas → tratamento com ATB empírico da PAVM Obs.: Assim como na PN, marcadores de fase aguda (procalcitonina, proteína C-reativa, sTREM-1) e escore tradicionais (CPIS) NÃO são recomendados como ferramentas diagnósticas auxiliares, dada sua baixa acurácia. - S-TREM-1: peptídeo da família das imunoglobulinas que só aumenta nos tecidos infectados Tipos de coleta de secreção respiratória 1) Lavado Broncoalveolar (LBA): o broncofibroscópio flexível é inserido até a região identificada pelos exames de imagem como provável foco pneumônico, instilando-se soro fisiológico estéril (~ 100 ml)somenteno lúmen do brônquio correspondente. Procede-se, então, à aspiração endobrônica,recuperando-se o líquido ministrado. 2) Escovado Brônquico Protegido (EBP): o broncofibroscópio flexível é inserido até a região identificada pelos exames de imagem como provável foco pneumônico. Um cateter contendo uma escova em seu interior é passado através do aparelho. Chegando à região de interesse, o cateter permanece estático enquanto a escova em seu interior (que estava “protegida” do contato com a mucosa respiratória) é liberada e finalmente entra em contato com a mucosa, coletando material por fricção. Até então, a ponta do cateter estava selada com um plug de polietilenoglicol, que impedia a contaminação da escova. Este plug é desfeito com a saída da escova… Terminada a coleta, a escova é recolhida para dentro do cateter, e o conjunto é retirado. 3) “Mini”-Lavado Broncoalveolar (mini-LBA): é feito às cegas, sem broncofibroscopia… Através do tubo traqueal, um cateter contendo outro cateter em seu interior é inserido até encontrar resistência (o que geralmente acontece ao nível da carina). A partir daí, avança-se o cateter interno (mais fino), até encontrar novamente resistência (o que geralmente acontece em brônquios de terceira ou quarta geração). Neste momento, instila-se ~ 100 ml de soro fisiológico estéril pelo cateter, aspirando o líquido em seguida. 4) Aspirado Endotraqueal (AET): é o procedimento mais simples de todos. Um cateter estéril é cuidadosamente inserido dentro do tubo traqueal até encontrar resistência (o que geralmente acontece ao nível da carina). Neste momento, aspiram-se as secreções, sem instilar nenhum tipo de líquido. Tratamento empírico - A demora em iniciar o tratamento adequado acarreta aumento da mortalidade → iniciar tratamento empírico - Cada unidade de internação, idealmente,deve ter suas próprias estatísticas relativas aos principais patógenos causadores de PN/PAVM e seu perfil de resistência aos antimicrobianos. → A escolha do tratamento para PN depende da presença ou ausência de fatores de risco: Tratamento empírico da PN Ausência de fatores de alto risco para mortalidade, para infecção por pseudomonas e outras BGN MDR e para MRSA (SEM FATORES DE RISCO) cefepima ou piperacilina/tazo ou Imi/meropenem Ausência de fatores de alto risco para mortalidade e para infecção por pseudomonas e outros BGN MDR + com fatores de risco para MRSA cefepima ou piperacilina/tazo ou Imi/meropenem + vancomicina ou linezolida Presença de fatores de alto risco para mortalidade e/ou uso de ATV IV nos últimos 90 dias cefepima ou piperacilina/tazo ou Imi/meropenem + aminoglicosídeo ou cipro/levofloxacino ou aztreonam + vancomicina ou linezolida Presença com fatores de risco para pseudomonas e outros BGN MDR (doenças estruturais pulmonares) - sem fatores de risco de mortalidade e para MRSA cefepima ou piperacilina/tazo ou Imi/meropenem + aminoglicosídeo ou cipro/levofloxacino ou aztreonam Obs.: doses devem ser reajustadas em caso de disfunção renal Tratamento empírico da PAVM - A escolha terapêutica vai depender da presença de fatores de risco : Ausência de fatores de risco para germes MDR em geral, para infecção por Pseudomonas e outros BGN MDR e para MRSA (SEM FATORES DE RISCO) Ausência de fatores de risco para germes MDR em geral, para pseudomonas e outros BGN MDR + com fator de risco para MRSA Presença de fatores de risco para germes MDR em geral e/ou para infecção por pseudomonas e outros BGN MDR Tratamento guiado por cultura - Normalmente as culturas ficam prontas em 48 - 72 h - Sendo necessário reajustar o tratamento com base no antibiograma → Se o MRSA não for encontrado podemos suspender a cobertura empírica contra esse germe. Quando verdadeiramente presente esse germe costuma der isolado em cultura. Duração do tratamento de PN/PAVM - Duração do tratamento é de 7 dias, independente do agente causal. Podendo ser prolongado em casos de: 1. paciente com resposta lenta 2. complicações supurativas (abscessos, empiema) 3. infecções associadas que necessitem de mais tempo de ATB
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