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A APLICAÇÃO DA TEORIA DA LEGÍTIMA DEFESA ANTECIPADA NOS CASOS DE VIOLENCIA DOMESTICA FAMILIAR

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A APLICAÇÃO DA TEORIA DA LEGÍTIMA DEFESA ANTECIPADA NOS CASOS 
DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR 
 
THE APPLICATION OF THE THEORY OF LEGITIMATE DEFENSE IN CASES OF 
DOMESTIC AND FAMILY VIOLENCE 
 
 Geicy da Silva Lopes1 
 Vicente Celeste de Oliveira Junior2 
 
Resumo: Sendo classificada como uma das causas de exclusão da ilicitude, a legítima 
defesa significa repelir uma agressão injusta, atual ou iminente, utilizando os meios 
necessários de forma moderada. A grande questão e problemática com a aplicação 
dessa exclusão é o fato de se exigir uma situação de violência atual ou iminente, o 
que não ocorre em casos específicos de violência doméstica e familiar. Porque a 
violência doméstica geralmente persiste por meses e anos de forma usual, sendo 
necessário então aguardar a iminência da agressão para a vítima agir. Os altos 
números nas estatísticas de violência doméstica merecem uma análise mais 
detalhada, considerando que qualquer ação para mitigar esses altos índices deve ser 
verificada. 
 
Palavras-chave: Agressão doméstica. Legítima defesa preordenada. Exclusão de 
ilicitude. 
Abstract: Being classified as one of the causes of exclusion of illegality, the legitimate 
defense means to repel an unjust aggression, current or imminent, using the necessary 
means in a moderate way. The big issue and problem with the application of this 
exclusion is the fact that a situation of current or imminent violence is required, which 
does not occur in specific cases of domestic and family violence. Because domestic 
violence usually persists for months and years in the usual way, it is then necessary to 
wait for the imminence of aggression for the victim to act. The high numbers in 
domestic violence statistics deserve a more detailed analysis, considering that any 
action to mitigate these high rates must be verified. 
 
Keywords: Domestic aggression. Legitimate preordained defense. Exclusion of 
illegality. 
 
1 Acadêmica do curso de Direito da Instituição de Ensino Superior (IES) da rede Ânima Educação. Email: 
geicylopessilva24@gmail.com 
 
2 Orientador: Prof. Vicente Celeste de Oliveira Júnior. Curso de Extensão Universitária (UnB/UERN/UnP). 
Graduado em Direito (UnB/UnP). Especialista em Direito Civil e Processo Civil (UFRN). Especialista em Educação 
(UERN). Mestrado em Ambiente Tecnologia e Sociedade (Meio Ambiente - UFERSA - dissertação: Direito e 
Inclusão). Mestrado em Educação (dissertação: Sistema Prisional Federal - UERN). Cursa o Doutorado em 
Arquitetura e Urbanismo (tese: História da Arquitetura e o Poder - UFRN). Autor de livro (Brasília/DF) e autor de 
capítulo de livro pelo Doutorado em Educação (UERJ). É citado em 452 artigos científicos no Brasil e exterior, 
segundo o site: ACADEMIA (trabalhos acadêmicos e pesquisas). Currículo Lattes: 
http://lattes.cnpq.br/8755911560333981 
2 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
A violência doméstica é uma problemática que expõe os padrões tanto da 
sociedade como do ordenamento jurídico. Nessa situação, perante uma sociedade 
que prefere se calar e de um Estado carente de proteção, muitas vezes as vítimas são 
obrigadas a agir para evitar males maiores, essas atitudes com o objetivo de proteção 
nem sempre ocorrem diante de agressões iminentes ou atuais (requisito da legítima 
defesa clássica). Vale destacar que essas mulheres vêm de uma sequência de 
violências, não apenas de uma única agressão, sendo assim, essas situações devem 
ser analisadas detalhadamente, pois existem institutos raramente mencionados que 
podem ser solicitados nesses casos. 
A inexigibilidade de conduta diversa, segundo a doutrina hodierna, é 
conceituada como uma condição geral de culpa, somente se aplica aqueles que 
agiram quando poderiam agir diferente ou então não agir. Parte dos ensinamentos 
entende a defesa antecipada como um pressuposto para aplicação da inexigibilidade 
de conduta diversa, que poderia ser também usada para despenalização desses 
casos que a vítima atua contra aquele que a agride. O trabalho vai analisar o 
comportamento dessas mulheres que sofrem violência doméstica e familiar, que usam 
dos meios cabíveis para defender sua vida, principalmente quando essas atuações 
não são respaldadas pelo instituto da defesa comum, analisando a viabilidade da 
aplicação da legítima defesa antecipada, aos casos em que se suprime a iminência 
da agressão, que é indispensável ao acatamento da legítima defesa comum. 
Temos como objetivos específicos explicar o histórico de violência contra a 
mulher no Brasil e sua posterior proteção através da Lei Maria da Penha, e os fatores 
que impulsionaram sua implementação. Em seguida, será verificado os dados 
estatísticos relativos ao feminicídio e homicídio de mulheres no Ceará, os dados foram 
coletados por meio de pesquisas no Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Por fim, 
verificaremos, nas doutrinas e nas jurisprudências, as possíveis aplicações da 
chamada legítima defesa antecipada e de causas supralegais da inexigibilidade de 
conduta diversa, averiguando a viabilidade de aumentar as disposições legais que 
garantem que as mulheres que se encaixam nos requisitos não serão penalizadas 
pelos comportamentos típicos analisados. Será feita uma pesquisa qualitativa e a 
problemática será respondida utilizando-se da pesquisa bibliográfica e análise 
3 
 
 
 
documental, tendo em vista que será analisado a possibilidade do acatamento de 
teses doutrinária partindo de casos concretos. 
Nesse trabalho adotaremos como referência a tese de legítima defesa 
antecipada do juiz federal e professor da universidade federal fluminense, William 
Douglas publicada pela revista dos tribunais nº 715, e a análise das possibilidades de 
aplicação desse instituto com base na teoria da responsabilidade, de Claus Roxin, que 
afirma que não é necessário aplicar uma sanção penal, quando o agente mesmo 
praticando um ato ilícito, não necessita ser ressocializado. Também serão abordados 
a teoria da conduta finalista do jurista e filósofo Hans Wenzel, a normalidade 
concorrente das circunstâncias do advogado Frank e a concepção bipartidária do 
crime também serão discutidas. A aplicação da inexigibilidade de conduta diversa ou 
então da tese da legítima defesa antecipada aos casos em que mulheres praticam 
crimes no ambiente violento das relações, fora dos casos que já suportados pela 
legítima defesa clássica, é algo pouco discutido pela doutrina. Nesse sentido, é 
imprescindível analisar se é necessário ou não uma legislação que insira uma causa 
exculpante que exclua a exigência de um comportamento diferente em casos que 
mulheres, nesse contexto, venham a praticar crimes em razão da violência doméstica 
que, pelo cenário, seria inaplicável um comportamento diferente. 
Seguindo os estudos de Fernando Capez (2017) e Damásio de Jesus (2014), 
segundo a concepção dicotomia, a culpabilidade é condição para a aplicação da pena. 
É nessa condição que este artigo se debruçará, analisando a possibilidade e afastar 
a culpabilidade, pois não sendo requisito de crime, haverá crime, mas seu autor não 
será punido. A exigibilidade da conduta diversa é uma das temáticas deste trabalho, 
e segundo a teoria da normalidade das circunstâncias de Frank (1930, p. 23), para ser 
considerada culpada, a conduta deve ser praticada em circunstâncias normais, caso 
contrário, não será possível pedir comportamentos diferentes daqueles efetivamente 
praticados. Essa definição se encaixa perfeitamente no caso de mulheres vítimas de 
violência doméstica que em razão disso praticaram algum comportamento típico, 
também seria incoerente exigir que a vítima abalada emocionalmente e 
psicologicamente pela agressão, aja conforme o direito. 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
2. A LUTA CONTRA VIOLÊNCIA DA MULHERE A SUA EFICÁCIA NO BRASIL 
APÓS A LEI MARIA DA PENHA 
 
2.1 ORIGENS E CLASSIFICAÇÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
 
A violência doméstica é uma espécie de discriminação que incide 
principalmente, sobre as mulheres, nenhum outro setor da sociedade é tão atingido 
por esse tipo de violência. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública junto ao 
Instituto Datafolha, em cada 4 mulheres brasileiras (24,4%) com mais de 16 anos 
afirma que sofreu alguma violência ou agressão nos últimos 12 meses, durante a 
pandemia de covid-19. Isso significa dizer que existe uma estimativa de que 17 
milhões de mulheres sofreram algum tipo de violência no último ano. 
Perante a grave realidade, é primordial compreender as causas específicas 
dessa mazela e porque elas se perpetuam. Considerando a análise dos cinco 
componentes da violência doméstica por Bonita Meyersfeld (2010), que são: 
seriedade, continuidade do dano, intimidade, vulnerabilidade do grupo afetado e 
falência do Estado, parte da dificuldade é que esse tipo de violência se resume a uma 
continuidade de eventos, onde a gravidade da violência não deve ser medida pelo 
nível de dano físico deixado, mas sim pelo nível de vulnerabilidade que a vítima se 
encontra. As formas mais brandas de agressão também são graves quando ocorrem 
no contexto do ambiente doméstico e do nível de subordinação que a mulher está, 
como explica Meyersfeld (2010, p. 16): “os atos de violência que não são severos por 
eles mesmos, podem se tornar severos se eles induzem um contínuo ambiente de 
medo e controle do qual a vítima é incapaz de escapar”. A violência doméstica é como 
uma doença invisível, seja porque ainda é considerada natural pela sociedade, ou 
porque, de tão extremas, fazem com que a vítima fique desacreditada que tal situação 
possa ter mudança. 
Nesse sentido, ter uma vida íntima com o agressor dificulta que ela entenda 
que está em um relacionamento abusivo e, assim, saia dele. Em muitos casos, as 
vítimas são financeiramente dependentes do agressor e sentem-se compelidas a 
manter os laços familiares. “A intimidade ainda deixa a sensação que a violência 
doméstica é uma questão privada que a sociedade e o Estado não devem intervir”. 
(Bernardes; Costa; Oliveira, 2016). As mulheres muitas vezes relutam em procurar 
5 
 
 
 
ajuda de órgãos oficiais porque acreditam que são responsáveis pela violência e que 
o agressor tem todo o direito de fazê-lo, principalmente porque desacreditam do 
sistema de proteção estatal, por isso criam medo da violência que ocorrerá se elas 
fizerem uma reclamação. 
Uma das coisas que torna a violência doméstica uma mazela sistemática é a 
incompetência do Estado, que deixa de proporcionar às vítimas locais adequados e 
não capacita seus agentes para lidar com as peculiaridades dessa violência. Outra 
dificuldade é evidenciar a continuidade e a complexidade da violência, pois na maioria 
das vezes a agressão ocorre no ambiente do lar, o que resulta no isolamento da 
mulher e na impossibilidade de buscar apoio nas instituições estatais. A violência 
doméstica na esfera privada, aliada à incapacidade do Estado de lidar com ela na 
esfera pública, se traduz em opressão e subordinação do gênero. Então, é possível 
compreender que essa opressão e subordinação não são atos de pessoas isoladas, 
mas sim uma manifestação da toda sociedade, como expõe Márcia Nina Bernardes 
(2016, p. 22 - 23). 
 
 [...] o poder não é um recurso individual que se pode ou não ter. Ele produz 
sujeitos e hierarquias sociais, nas quais direitos e privilégios são distribuídos 
aos indivíduos de acordo com a posição social que ocupam. É verdade que 
nem todo o membro de um grupo oprimido será uma “vítima passiva”. Há 
diferentes e sofisticadas formas para se explicar agência e empoderamento 
de indivíduos pertencentes a grupos sociais estruturalmente oprimidos. No 
entanto, tais indivíduos, empoderados ou não, terão de navegar através de 
obstáculos e desafios que não existem para outros indivíduos diferentemente 
posicionados na sociedade. Violência doméstica, como uma manifestação 
não rara de opressão, visa justamente a manter as hierarquias sociais, e a 
confirmar os indivíduos oprimidos ao “lugar ao qual pertencem”. 
 
2.2 ATOS QUE ACARRETARAM O ADVENTO DA LEI MARIA DA PENHA 
 
O caso Maria da Penha representa a realidade de várias mulheres não só no 
Brasil como no mundo todo, a sua luta por justiça durou 19 anos, assim se tornando 
um símbolo pela luta da vida da mulher sem violência. Embora a letra da lei não 
mencione a nomenclatura Lei Maria da Penha, ela tem esse nome devido a história 
que levou a sua implementação. O que nos leva á cidade de Fortaleza, Ceará, no dia 
29 de maio de 1983, quando Maria da Penha Maia Fernandes levou um tiro de seu 
marido, enquanto dormia. Em razão desse tiro, Maria ficou tetraplégica. No entanto, 
Marco Antônio (na época era seu marido) declarou a polícia de que havia se tratado 
de uma tentativa de assalto, versão que foi depois desmentida pela perícia. O primeiro 
6 
 
 
 
julgamento de Marco aconteceu somente em 1991, ou seja, 8 anos após o crime. O 
agressor foi condenado a 15 anos de prisão, mas foi apresentado recursos pela defesa 
e ele saiu do fórum em liberdade. O segundo julgamento só foi realizado em 1996, 
sendo ele condenado a 10 anos e 6 meses de prisão. Foram alegadas irregularidades 
processuais por parte dos advogados de defesa e mais uma vez a sentença não foi 
cumprida. Sendo somente em setembro de 2002, o réu ser efetivamente preso, 
passados mais de 19 anos da ação criminosa. 
Foi a própria Maria da Penha que buscou ajuda na Comissão Interamericana 
de Direitos Humanos, que resultou na publicação do Relatório 54/2001. Devido à 
grande repercussão do documento ressaltou mais ainda a necessidade de uma 
iniciativa legislativa que fosse mais efetiva na proteção à mulher. No relatório, é 
possível verificar o descumprimento do Estado brasileiro ao que foi disposto na 
Convenção Interamericana e na Convenção de Belém do Pará. Em casos específicos, 
o Comitê recomenda que o Estado realize investigações sérias para responsabilizar 
criminalmente o autor de Maria da Penha e apurar se existem fatos ou ações de 
agentes do Estado que impeçam o efetivo julgamento dos responsáveis, recomenda 
também que a vítima seja efetivamente compensada, como também, tomar medidas 
para eliminar a violência doméstica contra as mulheres. O relatório foi escrito enquanto 
o agressor ainda estava solto. Mesmo após a divulgação do relatório, o Brasil não 
respondeu os questionamentos da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, 
descumprindo as obrigações ratificadas na convenção (Washington, 2001, p. 7). 
 
[...]O silêncio processual do Estado com respeito à petição contradiz a 
obrigação que assumiu ao ratificar a Convenção Americana em relação à 
faculdade da Comissão para “atuar com respeito às petições e outras 
comunicações, no exercício de sua autoridade, em conformidade com o 
disposto nos artigos 44 e 51 da Convenção”. A Comissão analisou o caso 
com base nos documentos apresentados pelos peticionários e outros 
elementos obtidos, levando em conta o artigo 42 de seu Regulamento. 
 
 
Com base na indiferença do Estado brasileiro, a comissão concluiu que todo os 
fatos trazidos na denúncia apresentada por Maria da Penha eram de fato verdadeiras, 
condenando o Estado ao pagamento de sessenta mil reais em favor da vítima. 
 
 
 
7 
 
 
 
 
3. A FALHA DO ESTADO NA FUNÇÃO E OBJETIVO DE PROTEGER 
3.1 ANÁLISE SOBRE FEMINICÍDIO E HOMICÍDIO DE MULHERES NO CEARÁ 
(DADOS ESTATÍSTICOS) 
 
O Brasil mudou seu código penal em 2015, quando criou a qualificadora do 
feminicídio. Conforme a Leiº 13.104/2015, o feminicídio é caracterizado pelo 
assassinato de mulheres “por razões da condição de sexo feminino”, onde isso 
acontece em situações que envolve “violência doméstica e familiar” ou "discriminação 
por ser mulher".Sendo assim, o feminicídio é muito mais do que o assassinato de 
mulheres no âmbito do lar, provocado por um homem. Mesmo sendo o criador da 
qualificadora do feminicídio, o País ainda é muito falho na identificação dos casos 
tipificados na lei. 
Conforme as estatísticas do 15º Anuário Brasileiro de Segurança Pública o 
Ceará é o segundo estado brasileiro com a maior taxa de homicídios de mulheres e 
meninas. De acordo com as pesquisas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública são 
7 mortes a cada 100 mil mulheres no Estado do Ceará, onde 329 mulheres foram 
mortas no ano de 2020 e apenas 8,2% das mortes de mulheres foram qualificadas 
como feminicídio. Segundo a diretora executiva do fórum de segurança pública, 
Samira Bueno, a taxa de feminicídio do estado pode ser ainda maior do que os 
registros oficiais apontam. “A gente não sabe exatamente, desses 329 assassinatos 
de mulheres, quantos foram em decorrências de feminicídio”. (Bueno; Samira,2020, 
n.p) 
Gráfico 01- Proporção dos homicídios femininos classificados como feminicídio. 
 
8 
 
 
 
Fica evidente que esses números não condizem com a realidade e indicam a 
subnotificação desse crime no Ceará. Nos anos de 2016 e 2017 o Ceará foi o único 
estado do país que não notificou nenhum caso de feminicídio. Sendo assim, isso 
resulta da forma como a morte de mulheres são classificadas pelos órgãos policiais 
do estado. Nesse sentido, é necessária uma mudança na forma em que é classificado 
os homicídios de mulheres pela Secretaria de Segurança do Estado. Os operadores 
do sistema de justiça criminal precisam olhar para o assassinato de mulheres e saber 
quando os registrar como feminicídio. 
 
3.2 INEFICÁCIA DA PROTEÇÃO ESTATAL ÀS VÍTIMAS DE AGRESSÃO 
DOMÉSTICA 
 
Apesar da existência de leis protetivas, muitas vítimas não buscaram apoio dos 
órgãos estaduais. Essa afirmação pode ser corroborada por dados de um estudo do 
Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2019, realizado pelo Instituto Datafolha, 
que mostrou que cerca de 10% das mulheres foram ameaçadas com violência física 
e 8% foram agredidas sexualmente. Ainda é possível verificar se a violência é de 
alguém conhecido, o que aconteceu com 8 em cada 10 mulheres, entre essas pessoas 
próximas, o namorado ou marido representou 23,9%. De acordo com o Alto 
Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), Brasil é 
quinto país do mundo com o maior número de casos de feminicídio, apesar da Lei 
Maria da Penha, então fica claro que se existe uma lei de proteção utilizada pelo 
judiciário, por que o Brasil ainda é um dos países mais violentos do mundo contra as 
mulheres? A resposta para tal indagação está na atuação do estado, pois muitas 
vezes não investe o necessário para efetivar a proteção, sob o argumento de 
dificuldade orçamentárias. 
Para aumentar a eficiência, foi aprovada a Lei nº 13.641/2018, que inclui o art. 
24A na Lei Maria da Penha. A Lei passou, então, tornar típico o descumprimento de 
decisões judiciais que concedem medidas protetivas emergenciais. O STJ 
estabeleceu que o descumprimento das medidas protetivas emergenciais não é crime 
de desobediência. Mesmo com essa inovação legislativa, o Estado e a Justiça ainda 
têm problemas quanto a fiscalização das medidas protetivas de urgência, que são de 
grande valor para mulheres, que vivem constantemente em um ambiente de violência 
e ameaça. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 
9 
 
 
 
dez municípios dos 184 do Ceará possuíam uma delegacia especializada de 
atendimento às mulheres vítimas de violência em 2018. O serviço foi ofertado apenas 
a 5,4% das cidades cearenses. Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) 
do IBGE evidencia ainda que, dos 184 municípios do Ceará, somente 38 têm serviços 
especializados para amparo a mulheres que sofrem violência. Isto equivale a 20% das 
cidades. 
O Ceará conta, dentre outros, com centros de referência, juizados ou varas 
especializadas de violência doméstica e familiar contra a mulher, promotorias e, pelo 
menos, uma casa abrigo e uma Casa da Mulher Brasileira. O estudo não detalha em 
quais municípios cearenses esses equipamentos estão localizados, mas enfatiza a 
permanência desses serviços em cidades de maior contingente populacional, ou seja, 
principalmente as localidades rurais não têm um maior amparo estatal, nesses casos 
as vítimas devem se deslocar para outros municípios o que muitas vezes não se torna 
viável devido a conjuntura em que vivem. O relatório Conflitos no Campo Brasil 2018 
mostra que de 2009 a 2018, 1.409 mulheres notificaram algum tipo de violência no 
meio rural, mas esse número, segundo a CPT, pode ser bem maior devido à 
subnotificação. Nesse período, 38 mulheres foram assassinadas, 409 receberam 
ameaças de morte, 22 morreram em consequência de conflitos e 37 foram 
estupradas. 
 Destarte, é importante destacar a falta de autonomia financeira das mulheres 
do campo, fator que aumenta a dependência do agressor, a maioria das políticas e 
programas que apoiavam as mulheres do campo foram extintas em decorrência da 
grande pandemia da covid-19, assim evidenciando a vulnerabilidade econômica 
desse grupo de mulheres. De acordo com a promotora Patrícia Habkouk, 
coordenadora do CAOVD (Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça 
de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher), a implementação do 
boletim de ocorrência digital foi algo positivo, pois permite o registro de ocorrências 
como lesão corporal e ameaça e outros tipos de agressões que não deixam marcas, 
como empurrão e puxão de cabelo, mas ainda é pouco. “É um desafio para essas 
mulheres, porque são muitas vulnerabilidades: são mulheres do campo, mulheres 
pobres e muitas não sabem quem procurar, o que fazer num caso de violência” 
(HABKOUK; PATRICIA, 2020, n.p) 
 
 
10 
 
 
 
4. COMPORTAMENTO EXERCIDO POR MULHERES, VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA 
DOMÉSTICA, CONTRA OS AGRESSORES. 
 
4.1 ANÁLISE GERAL DE CRIME 
 
Neste trabalho, usamos como base para definir crime a teoria finalista de Hans 
Wenzel (1930), que trouxe o dolo e a culpa para a tipicidade penal tirando eles da 
culpabilidade, essa mudança foi importante para tornar brando o objetivismo da 
conduta penal, pois a tipicidade precisa da presença desses elementos subjetivos. 
Sendo assim, determinada situação pode até ser considerada típica, mas se ocorrer 
sem o dolo e a culpa, em relação ao autor, o fato será atípico. Para entender o que 
isso quer dizer na prática é necessário um estudo em etapas sobre os elementos do 
crime. Sobre esse ponto de vista, conforme Fernando Capez (2017) e Damásio de 
Jesus (2014), crime é todo o fato típico e ilícito assim deve ser pontuada a tipicidade 
da conduta. Caso seja apurado que a ação é típica é preciso analisar se é licita ou 
ilícita, sendo verificado isso, usando como base a teoria bipartida, já é possível ver 
que ocorreu uma infração penal. A partir desse momento é possível observar se o 
autor é culpado ou não. Nesta sequência, é possível ver que existe crime sem ter em 
conta a culpa do autor. Após esse breve estudo, vamos recorrer ao raciocínio 
supramencionado para responder as dúvidas mencionadas acima. 
Segundo a teoria finalista, a tipicidade é o primeiro ponto que deve ser averiguado, 
possuindo quatro tópicos: tipicidade formal, dolo ou culpa, resultado e nexo causal. A 
Tipicidade formal é uma ação praticada no mundo real que se encaixa em uma norma 
penal incriminadora. Destarte, para uma ação do ser humano ser crime é preciso que 
se encaixe em um tipo legal, sendo assim, a tipicidade formal consiste na conexão 
entre uma ação na vida real e o tipo penal que está na lei. Segundo Fernando Capez 
(2017, p. 38) “conduta é a ação ou omissão humana, consciente e voluntária, dirigida 
a uma finalidade”. Considera-se então a ação como a materialização da vontade, pois 
para o sistema jurídicopenal não é possível punir com base em cogitações, avista 
disso, os resultados que não derivam da vontade humana em plena consciência são 
irrelevantes para o direito afastando a responsabilidade objetiva. Nessa conjunção, 
existe ainda o dolo e a culpa, quando é verificado na ação que o ser agiu com vontade 
e consciência e o resultado corresponde com a finalidade existe a presença do ato 
doloso, quando o resultado dessa ação humana não corresponde com a vontade do 
agente, tem a presença de uma ação culposa. 
11 
 
 
 
Após análise do Art. 13 do CP, é possível ver que qualquer ação que contribui 
para o resultado deve ser considerada como sua causa, entretanto, para afastar o 
regresso ad infinitum, é necessário analisar se existe nexo psíquico ou subjetivo, ou 
seja, dolo e culpa no resultado. Para isso, ainda que contribuindo para a produção do 
resultado, um fato pode não ser considerado sua causa quando não tiver idoneidade 
para tanto. Sendo assim, em um caso concreto, sendo possível verificar a atipicidade, 
a ação penal não deverá iniciar, ou seja, não existe dever de agir se não for 
configurada a tipicidade. 
 
4.2 LEGÍTIMA DEFESA 
 
Existem condutas típicas que em razão de causas extraordinárias são taxadas 
de licitas pelo ordenamento jurídico, essas causas são consideradas excludentes de 
ilicitude. Ao discutir sobre a possibilidade de despenalização de condutas de vítimas 
de violência doméstica que agem contra o seu agressor é preciso analisar os 
elementos para que a legítima defesa seja acatada, e se é possível sua aplicação nos 
casos que são tratados aqui. A legítima defesa é um instituto que basicamente todos 
os sistemas jurídicos aceitam em razão de está intimamente ligado a pessoa humana. 
O jurista brasileiro Galdino Siqueira (2020) argumenta: 
 
Tao visceralmente ligada a pessoa, se manifesta a defesa, isto é, a 
faculdade de repelir pela força o ataque no momento em que se 
produz, se considerarmos o substrato fisiológico e psicológico da 
defesa, como reação do instituto de conservação que brota e se 
desenvolve independente de qualquer regulamentação. (SIQUEIRA, 
p. 314) 
 
A legítima defesa é uma das mais antigas excludentes de ilicitude, embora não 
conste expressamente em lei em alguns sistemas jurídicos, seguindo os pensamentos 
de Aníbal Bruno (1978, p. 370), desde a antiguidade os filósofos já falavam da legítima 
defesa como algo sagrado, confirmando em seus textos que afastar a violência com 
violência é permitida por todas as leis. Hodiernamente, a legítima defesa se encontra 
no sistema jurídico brasileiro como causa de exclusão de ilicitude, se embasando na 
proteção dos bens jurídicos tutelados com o objetivo de prevenir. Seguindo a seguinte 
redação: 
 
12 
 
 
 
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: [...] II - em legítima 
defesa; Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando 
moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou 
iminente, a direito seu ou de outrem (BRASIL, 1940). 
 
 
Seguindo a análise do artigo acima é possível ver que a legítima defesa está 
restrita ao cumprimento de alguns elementos: agressão injusta, atual ou iminente, 
contra direito próprio ou alheio, reação com os meios necessários e moderados. 
Sendo assim, conforme os ensinamentos de Cleber Masson (2019, p. 336) agressão 
injusta é toda ação do ser humano que lesa ou coloca em perigo um bem ou direito 
protegido pelo sistema jurídico. A agressão deve ser atual ou iminente, ou seja, com 
a iminência é possível a reação imediata da vítima, pois a agressão está prestes a 
acontecer, atual é a agressão que iniciou e ainda não se encerrou. Sendo assim, tanto 
a agressão futura quanto a agressão passada não dão direito à legítima defesa, muito 
menos o medo irá justificar a reação da vítima. 
É exatamente nesse momento que se encontra a problemática desse presente 
trabalho, que é aplicar a legítima defesa comum nos casos que a vítima da violência 
doméstica age contra o agressor, pois como já foi mencionado nos estudos acima, as 
agressões domesticas tem como característica principal a continuidade e 
habitualidade. Existem sim casos em que a legítima defesa clássica são aceitados, 
mas não é sempre possível provar que a mulher se defendeu de uma agressão atual 
ou iminente, pois a maioria das agressões ocorre no ambiente do lar, no interior das 
residências, o que dificulta a produção probatória. Sendo assim, apesar da palavra da 
vítima ser levada em consideração é preciso mais elementos para confirmar a legítima 
defesa. 
 
Acrescentou, que foi ele quem iniciou a discussão, quando o ofendido chegou 
em casa "chupado", o tendo questionado sobre eventual traição, frisando que 
ele a agrediu verbal e fisicamente, até que se apoderou de uma faca, que 
mantinha em cima da cômoda, para sua defesa, e com ela desferiu contra ele 
um único golpe. Entretanto, a prova oral não fornece a convicção, 
necessária, nessa fase processual, quanto a presença da excludente de 
ilicitude invocada. (STJ, 2018). (Grifo nosso). 
 
 
Conforme está disposto no Art. 415, IV, do Código de Processo Penal: “O juiz, 
fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando: IV – demonstrada 
causa de isenção de pena ou de exclusão do crime”. Porém, a doutrina majoritária 
adere a aplicação do princípio do in dubio pro societate, pois na dúvida quanto o crime 
e sua autoria o juiz deve pronunciar o acusado. Segue-se então, que tanto na 
13 
 
 
 
pronúncia como no recebimento da denúncia a legítima defesa precisa ser 
comprovada para que não reste duvidas de sua aplicação. Vale destacar, que deve 
ser usado meios proporcionais para repulsar a agressão, usando de forma moderada 
os meios necessários, sendo medida de acordo com a gravidade da agressão. A 
moderação consiste na utilização dos meios na medida suficiente para a afastar a 
agressão. (MASSON, 2019, p. 338 - 339) 
 
 
 
4.3 LEGÍTIMA DEFESA PREORDENADA 
 
 
A legítima defesa antecipada se resume ao agente se antecipar a um ataque 
certo e futuro do agressor, e por saber que não terá como suportar a agressão, ele 
acaba atacando antes. Se torna diferente da legítima defesa comum porque não exige 
que a violência seja atual ou iminente. O Juiz e Professor William Douglas, publicou 
na Revista dos Tribunais nº 715 a tese da legítima defesa antecipada, que abordava 
exemplos da vida real que a referida tese poderia ser aplicada. A base para os estudos 
de William Douglas foi a teoria da responsabilidade, do penalista alemão Claus Roxin 
(1964), onde não seria preciso a aplicação de uma sanção penal, quando o agente 
mesmo tendo cometido um ato típico e ilícito, não seria necessário a ressocialização, 
bem como, quando o ato foi cometido com o objetivo de prevenção, o agende só 
cometeu o ato porque estava em uma situação específica. Dessa maneira, mesmo o 
sujeito praticando uma conduta típica e ilícita, ele estaria livre da sanção penal, não 
sendo responsabilizado, pois a sua falta de punição não trouxe maus exemplos para 
a sociedade. 
A legítima defesa preordenada, em contrapartida da legítima defesa clássica, 
não apaga a ilicitude, mas apenas a culpabilidade, fazendo com que o indivíduo não 
seja responsável penalmente. Grande parte dos doutrinadores entende esse instituto 
como uma espécie de inexigibilidade de conduta diversa. Sendo assim, uma das 
maiores indagações feitas em cima desse assunto diz respeito a se é necessário 
aplicar uma sanção para a pessoa que não tinha outros meios de se defender e usou 
da legítima defesa antecipada, e se mesmo perante tudo que foi exposto seria imperial 
ressocializar. Um ponto muito importante a ser destacado, é que diferente da legítima 
defesa tradicional, a defesa antecipada conforme os autores fundamentam, somente 
defende o direito à vida, não incluindo lesão ao patrimônio, por exemplo. 
14 
 
 
 
Em sua tese, Willian Douglas (1995, p.429-430)ficou atento ao fato de que a 
pessoa, depois de se defender de uma injusta agressão tendo que agir de forma 
preordenada, ainda seria obrigada a passar por todo processo criminal, pelo simples 
fato de o Direito Brasileiro não considerar como legítima defesa a reação que não 
ocorrer diante de uma agressão atual ou iminente. Douglas denomina isso de ‘’dupla 
vitimização’’, pois a pessoa séria vítima quando quase perdeu a vida e quando for 
submetido a um processo criminal que traria consequências insanáveis. O jurista cita 
alguns casos que poderiam ocorrer na vida real que seriam enquadrados na legítima 
defesa antecipada: 
 
Um traficante, em morro por ele dominado, promete ao morador que se este 
não entregar sua filha ou esposa para a prática de relações sexuais, toda a 
sua família será executada. O morador sabe que isso já ocorreu com outro 
pai de família e que não pode contar com a proteção do Estado, de modo que, 
aproveitando uma rara oportunidade, mata o autor do constrangimento; 
(DOUGLAS, RT nº 715, p. 348.) 
 
 
Com o objetivo de limitar sua aplicação, a legítima defesa antecipada também 
necessita que alguns elementos sejam cumpridos, sendo eles: injusta violência, 
agressão iminente, defesa de direito próprio ou de terceiros e moderação a repulsa. 
Existem também elementos específicos que serão analisados de forma detalhada, 
tudo isso tem o objetivo de não tornar a aplicação da tese em algo banal, devendo ser 
utilizada apenas em ocasiões excepcionais. São requisitos específicos: agressão 
futura e certa, falta de proteção do Estado, impossibilidade de fugir da agressão, 
impossibilidade de suportar certos riscos e proceder preventivamente em casos 
extremos. Sobre esse ponto Willian Douglas (1995, p. 429-430) afirma: 
 
Como requisito para a aceitação da tese, e consequente absolvição, teremos 
sempre a demonstração do conjunto circunstâncias que justifiquem a conduta 
do réu, por exemplo, quanto à certeza da agressão (futura e certa). Sempre 
terá que haver suficiente e robusta prova de que o agente seria atacado, que 
tinha motivos bastantes para proceder em legítima e antecipada defesa. 
Sendo alegação do réu, as circunstâncias referidas teriam que ser 
demonstradas e provadas pela defesa (art.156, CPP). Tudo ainda sujeito à 
livre convicção judicial (art.157, CPP) ou ao crédito a ser dado pelos pares, 
no Júri, onde o princípio da convicção íntima revigora a admissão da tese. 
[...]É preciso, sempre, bom senso. Devemos, pois, interpretar a iminência da 
agressão não só com o auxílio de cronos mas também de logos. Se a 
agressão ainda não se iniciou, mas se prenuncia com suficiente certeza, deve 
ser assegurado à pessoa o direito à autodefesa, que é metajurídico. 
 
 
15 
 
 
 
O Estado não pode proteger todos ao mesmo tempo, principalmente com a alta 
na criminalidade o Estado não consegue reprimir todas as agressões. Dessa maneira, 
sempre que for solicitado a proteção é possível que a solicitação não seja atendida de 
imediato pois os casos criminais são maiores que formas de segurança pública para 
combater. 
Em relação a suportar certos riscos e sua impossibilidade, os escritores que 
defendem a referida tese afirmam que qualquer pessoa pode suportar certos riscos, 
desde que não prejudique a sua própria integridade física (JÚNIOR; JUNIOR, 2006, 
p. 364). Ou seja, a agressão futura tem que ser tão agressiva que se torne impossível 
a vítima se defender, levando em consideração os excessos cometidos. E para 
finalizar a legítima defesa preordenada só deveria ser utilizada em casos onde 
nenhum outro meio poderia ser usado. Willian Douglas (1995) usou o nome “legítima 
defesa antecipada”, mas caso a tese venha a ser acatada no caso concreto, tem o 
objetivo de tirar a culpabilidade do agente, sendo assim, uma espécie de 
inexigibilidade de conduta diversa, independente do conceito e nomenclatura a ser 
usado ambos podem ser capazes de excluir a culpabilidade de mulheres que venham 
a cometer crimes contra seus agressores nas condições já apresentadas. 
 
4.4 INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA (CAUSAS SUPRALEGAIS) 
 
A culpa de uma pessoa que cometeu um ato típico e ilícito deve estar ligada a 
em que circunstâncias o crime foi cometido, ou seja, se poderia ser exigido do agente 
uma conduta diferente da que ele tomou. Pois se não fosse possível exigir um outro 
comportamento, seria excluída a culpa do agente e ele não seria penalizado. Porém, 
grande parte da doutrina adota a concepção tripartida de crime, que junto com a 
tipicidade e a ilicitude considera a culpabilidade como elemento do crime. 
Quem inseriu a inexigibilidade de conduta diversa na culpabilidade foi Reinhart 
Frank (1930), ele foi responsável por desenvolver a teoria da normalidade das 
circunstâncias concomitantes. São acrescentados elementos a culpabilidade que são 
a imputabilidade e a exigibilidade de conduta diversa. Somente com o advento da 
Teoria normativa de Welzel, que o dolo e a culpa são retirados da culpabilidade e 
passam a ser elementos da tipicidade. A teoria da normalidade das circunstâncias 
concomitantes, conforme afirma Fernando Capez (2017, p. 346 - 347), para alguém 
ser considerado culpado, é necessário que a conduta tenha sido praticada em 
condições e circunstâncias normais, caso o contrário não será possível exigir do 
16 
 
 
 
sujeito conduta diferente da que praticou, ou seja, só pode ser punido aquele que sua 
conduta poderia ser evitada, não podendo ser punível qualquer ação inevitável, 
mesmo que criminosa. 
Com relação a possibilidade de aplicar causas supralegais de inexigibilidade 
de conduta diversa existe grandes discordância na doutrinária e jurisprudências. 
Sobre esse ponto, é importante falar sobre os pensamentos de Francisco de Assis 
Toledo (2007, p. 328): 
 
A inexigibilidade de outra conduta é, pois, a primeira e mais importante causa 
de exclusão de culpabilidade. E constitui um verdadeiro princípio do direito 
penal. Quando aflora em preceitos legislados, é uma causa legal de exclusão. 
Se não, deve ser reputada causa supralegal, erigindo-se em princípio 
fundamental que está intimamente ligado com o problema da responsabilidade 
pessoal e que, portanto, dispensa a existência de normas expressas a 
respeito. 
 
 
O Superior Tribunal de Justiça também admite causas supralegais de 
inexigibilidade de conduta diversa. 
 
Inexigibilidade de outra conduta. Causa legal e supralegal de exclusão da 
culpabilidade cuja admissibilidade no Direito brasileiro já não pode ser negada. 
Júri. Homicídio. Defesa alternativa baseada na alegação de não exigibilidade 
de conduta diversa. Possibilidade em tese, desde que se apresentem ao Júri 
quesitos sobre fatos e circunstâncias, não sobre mero conceito jurídico. (STJ, 
1990). 
 
 
Os que não admitem têm como justificativa o fato de que é impossível aplicar a 
analogia em matéria de dirimentes, ou seja, só é admitido os casos que são 
taxativamente expressos em lei. Diferente do STJ que foi citado acima, o STF, em 
antigo julgado, não reconheceu a aplicação de causas supralegais. 
 
Teoria das causas supralegais de exclusão do crime ou de culpabilidade. 
Improcedência, também, da alegação de cerceamento de defesa. Em nosso 
sistema jurídico, não é admissível a teoria das causas supralegais de exclusão 
de crime ou de culpabilidade. Correta, pois, na formulação dos quesitos, a 
alusão ao estado de necessidade e não à inexigibilidade de conduta diversa. 
(STF, 1988). 
 
 
4.5 A POSSIBILIDADE DE RECONHECER A LEGÍTIMA DEFESA PREORDENADA 
E A INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA AOS CASOS DE VÍTIMAS DE 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR QUE AGEM CONTRA O AGRESSOR 
 
Para verificar se é possível a aplicação da teoria da legítima defesa antecipada 
nesses casos de violência doméstica, usando todos os meios já analisados, é 
17 
 
 
 
imprescindível o estudo de um caso real, onde a tese da legítima defesa antecipada 
e da inexigibilidade de condutadiversa foram reconhecidas pelo Tribunal do Júri. O 
Procurador Geral de Justiça do Estado de Pernambuco, Francisco Dirceu Barros, 
publicou na revista de prática jurídica (2011, p. 10) um caso real em que ele trabalhou 
onde foi solicitado a absolvição da ré pois foi verificado que ela agiu em defesa 
antecipada, bem como, ela não poderia ter agido de maneira diferente perante a 
realidade me que vivia. O caso será usado como forma de exemplo, mas conforme já 
foi estudado nos capítulos anteriores, infelizmente situações parecidas são 
frequentes, principalmente em localidade rurais, onde o estado não se encontra tão 
presente. A ré do caso citado era Severina, que morava no interior de Pernambuco, 
onde sempre foi abusada pelo pai. Segue o resumo do processo e depoimento de 
Severina (BARROS, 2019): 
 
Nunca estudei, nunca tive amiga, nunca arrumei namorado na vida, nunca saí 
para ir a festas. Até os 38 anos, vivi assim e foi assim até quando me desliguei 
do meu pai, no dia em que ele foi morto. Meu pai não deixava eu e minhas 
irmãs fazer nada. Comecei a trabalhar na roça com seis anos. Aos nove, fui 
com meu pai para o roçado. No caminho, ele me levou para o mato, amarrou 
minha boca com a camisa e tentou ser dono de mim. Eu dei uma “pesada” no 
nariz dele, e ele puxou uma faca para me sangrar. A faca pegou no meu 
pescoço e no joelho. Depois, ele tentou de novo, mas não conseguiu ser dono 
de mim. Em casa, contei para minha mãe e ela me deu uma pisa (surra). Fiquei 
sem almoço. À noite, minha mãe foi me buscar e me levou para ele, que me 
abusou. No outro dia, fui andar e não consegui. Falei: ‘Mãe, isso é um pecado’. 
E ela: ‘Não é pecado. Filha tem que ser mulher do pai’. A partir daquele dia, 
três dias por semana ele ia abusando de mim. Com 14 anos eu engravidei. 
Tive o filho e ele morreu. Eu tive 12 filhos com meu pai. Sete morreram. Seis 
foram feitos na cama da minha mãe. Dormíamos eu, pai e mãe na mesma 
cama. Um dia, uma irmã minha disse que estava interessada em um 
namorado. O pai quis pegar ela, disse que já tinha um touro em casa. Eu 
mandei minha mãe correr com minha irmã. Depois disso, minha mãe não ficou 
mais com ele. Foram para a casa do meu avô em Caruaru. Ela e as minhas 
oito irmãs. Só ficamos eu e meu pai na casa. Eu tinha 21 anos, e ele sempre 
batia em mim. Tentei me matar várias vezes, botei até corda no pescoço. Os 
filhos nasciam e morriam. Os que vingavam foram se criando. Minha filha 
estava com 11 anos quando ele quis ser dono dela. Eu disse para ele: ‘Se você 
ameaçar a minha filha, você morre.’ Meu pai me bateu três dias seguidos. Um 
dia, ele amolou a faca e foi vender fubá. Antes, disse: ‘Rapariga safada, se 
você não fizer o acordo, vai ver o começo e não o fim’. Ele foi para a feira e eu 
para a casa da minha tia. Foi quando paguei para matarem ele. Peguei um 
dinheiro guardado e paguei ao Edilson R$ 800 na hora. Quando o pai chegou, 
Edilson e um amigo fizeram o homicídio. A minha filha, a filha dele, eu salvei. 
Quem é pai, quem é mãe, dói no coração. Antes disso, eu ainda procurei os 
meus direitos, mas perdi. Há uns 15 anos, fui na delegacia, mas ouvi o 
delegado falar para eu ir embora com o velhinho (o pai), que era uma boa 
pessoa. O homicídio foi no dia 15 de novembro de 2005. No cemitério já tinha 
um carro de polícia me esperando. Na cadeia passei um ano e seis dias. 
Depois do julgamento, fiquei feliz. Agora, quero viver e ficar com meus filhos. 
 
 
18 
 
 
 
Nesse caso real é possível ver que os elementos específicos, que são 
indispensáveis para o acatamento da tese da legítima defesa antecipada, são 
totalmente preenchidos. As violências já perduravam por mais de trinta anos, o que 
deixa possível verificar que as novas agressões aconteceriam de certeza, dessa 
forma, o ápice para a decisão tomada pela ré foi uma ameaça de morte caso ela não 
entregasse sua filha para o agressor, que tinha a intenção de estuprá-la. 
Perante o que foi exposto ficou evidente que existiu a presença do elemento 
“certeza da agressão”. É mister destacar que Severina vivia isolada, não tinha 
formação intelectual nem sabia nada em relação aos seus direitos, sendo assim, para 
ela seria impossível abandonar o lar e sozinha promover o sustento de seus filhos, 
assim preenchendo o requisito da impossibilidade de fugir da agressão. O elemento 
suportar certos riscos fica evidente no momento em que ela sofre ameaças de que se 
tentasse fugir seria morta. Com relação ao requisito “proceder preventivamente em 
casos extremos”, foi possível verificar que mesmo após 30 anos de violências, 
Severina só agiu a partir do momento em que sofreu ameaça do pai visando forçá-la 
a entregar sua filha, ou seja, um caso de necessidade extrema, foi preenchido também 
o requisito da falta de proteção do Estado quando Severina fala que foi a delegacia, 
mas o delegado falou para ela voltar para casa com o pai. Sendo assim, Severina se 
defendeu de forma preventiva, pagando R$800,00 (oitocentos reais), para que 
matassem o futuro e certo agressor, pois esse era seu único meio possível para 
exercer tal defesa. Nesse caso estudado os elementos específicos da legítima defesa 
antecipada foram cumpridos e assim Severina foi absolvida. 
Esse caso não é uma situação única, sendo assim a tese de Willian Douglas 
(1995) se encaixa de forma perfeita aos casos de violência doméstica. Os dados 
estatísticos que foram trabalhados nesse artigo também confirmam a possibilidade de 
aplicação da tese, pois foi verificado que boa parte das violências se quer foram 
classificadas de forma correta, mostrando a precariedade da capacitação e proteção 
estatal à mulher, e se tivesse existido uma intervenção prévia do Estado, essas mortes 
teriam a possibilidade de não ter acontecido. 
Usando como base a inexigibilidade de conduta diversa, a mulher que vive em 
uma continua conjuntura de violência não está em uma situação de normalidade, 
sendo assim, poderia ter sua culpabilidade afastada caso viesse agir contra o seu 
agressor. Entretanto, a aplicação desse instituto aos casos reais mencionados não 
está expressa em lei, e por isso, muitos juízes não acatam a tese. Pois afirmam que 
apenas existem duas causas (coação moral irresistível e obediência à ordem de 
19 
 
 
 
superior hierárquico não manifestamente ilegal), assim tornando inexistente a 
presença de causas supralegais no ordenamento jurídico do Brasil. 
Diante disso, é muito necessário o uso da cautela para não tornar banal a 
aplicação desse instituto, de modo que uma simples agressão ou ameaça sirva de 
respaldo para uma ação violenta contra o agressor. Observando o caso concreto será 
feito um controle dos elementos necessários e uma comprovação da possível 
aplicabilidade, bem como, a verificação de todos os meios probatórios para confirmar 
que não havia outra conduta a ser tomada. 
 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
De acordo com o que foi estudado, é possível concluir que a violência 
doméstica não é uma violência comum e merece tratamento diferenciado devido as 
suas especificidades. Desse modo, sabendo que não existe uma proteção estatal tão 
eficiente, foi necessário discutir se é possível a aplicação da tese da legitima defesa 
antecipada nesses casos em que mulheres agem de forma antecipada contra o 
agressor, quando não protegidas pela legítima defesa clássica. Para isso, analisamos 
a violência doméstica a partir do ponto de vista de Bonita Meyersfeld (2010) que 
destaca os cincos pontos da violência: falência do Estado, vulnerabilidade do grupo 
social afetado, a continuidade do dano sofrido e intimidade com o agressor. Também 
foi possível chegar à conclusão de que a violência doméstica é uma maneira de 
discriminação global, que segundo dados a ONU é um dos principais motivos de 
invalidez das mulheres, sendo considerada como uma forma de violação aos Direitos 
Humanos. Por esse motivo, foram inseridas ao longo do tempo, por meio de acordos 
e convençõesinternacionais, medidas para diminuir os índices de violência doméstica. 
Maria da Penha Maia Fernandes foi responsável por provocar o processo que resultou 
na elaboração da Lei 11.340 de 2006. Apesar dessa lei ter sido um avanço no combate 
à violência, foi possível constatar que ainda existe um longo caminho a ser percorrido 
quando o assunto é proteger de forma efetiva. Isso foi comprovado pelos dados 
estatísticos que mostram a incapacidade do Estado em lidar com essa mazela. 
 Perante tudo que foi exposto, temos a noção de que as vítimas de violência 
doméstica não são protegidas de forma eficiente pelo poder público, tendo que agir 
por conta própria em casos extremos visando proteger a própria vida. É exatamente 
nesses casos extraordinários que a tese da legítima defesa antecipada poderia ser 
usada, utilizando dos critérios necessários estabelecidos por Douglas (1995) em sua 
20 
 
 
 
tese. A tese só deve ser aplicada se existir a certeza da agressão e analisando os 
pontos desse trabalho, foi possível concluir que a continuidade é umas das principais 
características da violência doméstica. 
 A falha da proteção do Estado também deve ser constatada no caso real, a 
defesa precisará demonstrar que a mulher procurou os órgãos oficiais e mesmo assim 
não foi efetivada sua segurança ou então que tais organizações não eram acessíveis, 
que é o mais comum para as mulheres do campo. 
A impossibilidade de fugir da agressão é outro elemento primordial para o 
acatamento da legítima defesa antecipada, e como foi visto é comum o isolamento da 
vítima que dependendo do nível de isolamento se torna impossível a fuga de uma 
futura agressão. Também é necessário a confirmação que a mulher não poderia 
suportar os riscos da situação, mostrando como é de extrema importância o registro 
da agressão, pois revela o perigo em que a vítima de violência se encontra. Por fim, a 
mulher só vai agir em casos extremos, onde fique provado que não existia outra forma 
de se defender de uma agressão que lhe causaria morte. Comprovados todos os 
elementos necessários, tanto para o acatamento da legítima defesa antecipada ou a 
título de inexigibilidade de conduta diversa, foi possível concluir que a tese defensiva 
deve ser acolhida com base no art. 397, inc. II do CPP, onde a ré não deve ser 
submetida a júri popular. É de grande importância pontuar que concordamos com o 
pensamento de Rogério Greco (2012, p.342) que diz que a legítima defesa antecipada 
é uma espécie de inexigibilidade de conduta diversa melhor delimitada, pois existe a 
presença de requisitos para ser preenchidos. Entendemos que a tese desenvolvida 
por Douglas (1955) tem grande importância, porque delimitou requisitos para sua 
aplicação, isso torna mais fácil a sua aceitação. 
 Por fim, compreendemos que essas teses defensivas podem até não agradar 
os doutrinadores tradicionais, mas elas existem com a pura finalidade de proteger o 
cidadão do poder punitivo do Estado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
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Nações Unidas, da qual faz parte integrante o anexo Estatuto da Corte 
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ocasião da Conferência de Organização Internacional das Nações Unidas. 
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