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Apostila I de Direito Constitucional I - 2012 - 2º

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Curso: Direito Ano/semestre: 2012/2º 
Disciplina: Direito Constitucional I Período/Turma: 2º A/B/C 
Carga Horária Semanal: 04 Carga Horária Semestral: 80 
Docente: Hugo Garcez Duarte 
Títulação: Mestre em Direito; Especialista em Direito Público. 
 
 
Apostila I 
 
Prezados, 
 
os senhores encontrarão a seguir, algumas ponderações desenvolvidas em aula, acerca dos 
temas previstos na ementa do curso de Direito Constitucional I. Na medida do possível, este 
documento contemplará passagens doutrinárias, previsões constitucionais e legais (na íntegra) 
e julgados. 
 
 
1 A CONSTITUIÇÃO 
 
Constituição é ato de constituir, de estabelecer, de firmar. A Constituição de um país deve ser 
entendida como norma fundamental e suprema de um Estado. Logo, a Constituição, ainda que em 
tese, deve prever todas as necessidades de um povo, em dado momento histórico e em dado 
território. Ou seja, a Constituição é o diploma normativo máximo de um Estado, contendo normas 
que contemplam direitos, garantias e deveres da pessoa humana, de distribuição de competências e 
de estruturação do Estado, de formação dos poderes públicos, de forma de governo e de aquisição 
do poder. 
 
 
1.1 Princípio da Supremacia da Constituição – Por este princípio entende-se que a Constituição 
possui posição hierárquica superior às demais normas do sistema jurídico. As leis, atos normativos e 
atos jurídicos em geral não poderão existir validamente se incompatíveis com alguma norma 
constitucional. A Constituição regula tanto o modo de produção das demais normas jurídicas como 
também delimita o conteúdo que possam ter. 
 
Em outras palavras, o leitor deve encarar o ordenamento jurídico como uma grande empresa, em 
que a Constituição é o presidente, donde emanam todas as ordens aos subalternos (empregados), 
que no ordenamento jurídico seriam as espécies normativas primárias, art. 59 da CF (ex: Código 
Civil, Código Penal, Código de Processo Civil, Código de Processo Penal, Estatuto da Criança e do 
Adolescente, Estatuto do Idoso, Código de Defesa do Consumidor, entre muitos outros), e 
secundárias (ex: Decretos do Poder Executivo – art. 84, IV da CF). 
 
Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: 
I - emendas à Constituição; 
II - leis complementares; 
III - leis ordinárias; 
 
 
 
IV - leis delegadas; 
V - medidas provisórias; 
VI - decretos legislativos; 
VII - resoluções. 
Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação 
das leis. 
 
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: 
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para 
sua fiel execução. 
 
Quanto ao princípio em tela, vale apreciar: 
 
[...] Significa que a Constituição se coloca no vértice do sistema jurídico do país, a que confere 
validade, e que todos os poderes estatais são legítimos na medida em que ela os reconheça e na 
proporção por ela distribuídos. É, enfim, a lei suprema do Estado, pois é nela que se encontram a 
própria estruturação deste e a organização de seus órgãos; é nela que se acham as normas 
fundamentais de Estado, e só nisso se notará sua superioridade em relação às demais normas 
jurídicas (SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 32. ed. São Paulo: 
Malheiros, 2009, p. 45). 
 
O conflito de leis com a Constituição encontrará solução na prevalência desta, justamente por ser 
a Carta Magna produto do poder constituinte originário, ela própria elevando-se à condição de 
obra suprema, que inicia o ordenamento jurídico, impondo-se, por isso, ao diploma inferior com 
ela inconciliável. De acordo com a doutrina clássica, por isso mesmo, o ato contrário à 
Constituição sofre de nulidade absoluta (MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo 
Gonet. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 123). 
 
A rigor, o princípio da supremacia não disponibiliza nenhum critério interpretativo específico, mas 
deve ser considerado como premissa para a interpretação quando o ordenamento for encabeçado 
por uma Constituição rígida. Neste caso, toda interpretação normativa vai ter como pressuposto a 
superioridade jurídica e axiológica da Constituição. Em razão da supremacia constitucional, 
nenhum ato jurídico incompatível com a Lei Maior pode ser considerado válido (NOVELINO, 
Marcelo. Direito Constitucional. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 183). 
 
No plano dogmático e positivo, a superioridade constitucional se traduz no estabelecimento da 
forma (competência, procedimentos...) e do conteúdo dos atos normativos infraconstitucionais, que, 
na hipótese de inobservância dos critérios constitucionalmente estabelecidos, devem ser 
submetidos a um controle de constitucionalidade (NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. 6. 
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 183). 
 
OBS – Principais aspectos do ponto, desenvolvidos em aula: 
 
I A Constituição, ainda que em tese, prevê tudo o que o povo de determinado Estado, em dado 
território e momento histórico necessita; 
 
 
 
 
II O Princípio da Supremacia da Constituição impõe que a Constituição é o documento normativo 
máximo do Estado, devendo as outras normas (normas infraconstitucionais) buscar nela, o seu 
fundamento de validade; 
 
III Se uma norma infraconstitucional contraria a Constituição, esta deve ser retirada do 
ordenamento jurídico, por ofender a norma suprema do Estado. 
 
 
2 NORMAS CONSTITUCIONAIS 
 
A Constituição é um sistema normativo aberto de princípios e regras. Desse modo, as normas 
constitucionais se subdividem em princípios e regras, e, enquanto referência para o intérprete 
(aplicador do direito), não têm hierarquia. 
 
A doutrina vem se debruçando sobre a importante e complexa distinção entre regras e princípios, 
partindo da premissa de que ambos são espécies de normas e que, enquanto referenciais para o 
intérprete, não guardam em si, hierarquia, especialmente diante da ideia de unidade da 
Constituição (LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 
2012, p. 145). 
 
 
2.1 Princípios e regras 
 
A doutrina pretende diferenciar os princípios e as regras de diversas maneiras, podendo-se destacar 
as propostas de autores como Ronald Dworkin e Robert Alexy. 
 
Antes de enfrentarmos as teorias desses autores, necessário mencionar que o critério mais utilizado 
para se estabelecer distinções entre princípios e regras refere-se ao grau de abstração (ou 
generalidade) entre eles, como se vislumbra na obra de Norberto Bobbio, entre outros. Neste 
contexto, os princípios poderiam ser definidos como mandamentos normativos mais abstratos, 
genéricos. Já as regras podem ser definidas como mandamentos normativos mais específicos. 
 
Ronald Dworkin, abandonando a ideia de grau de abstração (ou generalidade), afirma que as regras 
devem ser analisadas no plano da validade, sendo aplicáveis na forma de tudo ou nada. Nesse viés, 
em ocorrendo os fatos previstos por uma regra válida, a resposta por ela dada deve ser aceita (ela 
deve ser aplicada). 
 
[...] As regras são aplicáveis à maneira de tudo-ou-nada. Dados os fatos que uma regra estipula, 
então ou a regra é válida, e neste caso a resposta que ele fornece deve ser aceita, ou não é válida 
[...] (DWORKIN, Ronald. Levando os direitosa sério. Trad. de Nelson Boeira. 2. ed. São Paulo: 
Martins Fontes, 2007, p. 39). 
 
Apesar do que afirmara, o autor admite que as regras podem conter exceções, sendo apropriado 
anunciar as regras e enumerar as suas exceções, pois segundo este, em tese, todas as exceções 
podem ser arroladas, e quanto mais o forem, mais completo será o enunciado da regra. 
 
 
 
 
Reforçando essa ideia, Ronald Dworkin assevera que eventual conflito entre regras deverá ser 
resolvido segundo os critérios tradicionais de hierarquia (norma hierarquicamente superior 
prevalece sobre norma hierarquicamente inferior), cronologia (norma posterior prevalece sobre 
norma anterior) e especialidade (norma especial prevalece sobre norma geral), devendo uma delas 
ser considerada inválida. 
 
Se duas regras entram em conflito, uma delas não pode ser válida. A decisão de saber qual delas é 
válida e qual deve ser abandonada ou reformulada, deve ser tomada recorrendo-se a 
considerações que estão além das próprias regras. Um sistema jurídico pode regular esses 
conflitos através de outras regras, que dão precedência à regra promulgada pela autoridade 
superior, à regra promulgada mais recentemente, à regra mais específica ou outra coisa desse 
gênero [...] (DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Trad. de Nelson Boeira. 2. ed. São 
Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 43). 
 
As regras, para Dworkin, desse modo, não possuem uma dimensão de importância, de maneira que, 
se duas regras entram em conflito, apenas uma delas será aplicada ao caso concreto e a outra deve 
ser declarada inválida, a não ser que uma seja exceção à outra. 
 
OBS – Lembrem-se do exemplo dado em sala de aula, em que duas regras estabelecem, de forma 
distinta, o horário de funcionamento do comércio. 
 
Segundo Dworkin, os princípios possuem, diversamente das regras, uma dimensão de peso ou 
importância, e que isso, inevitavelmente levará a uma controvérsia acerca do melhor caminho a 
seguir, devendo o intérprete do direito, no caso concreto, observar qual deles terá uma precedência 
em relação ao outro, por meio de um ponderação. Ou seja, os princípios são prima facie. 
 
[...] Os princípios possuem uma dimensão que as regras não têm – a dimensão de peso ou 
importância. Quando os princípios se intercruzam (por exemplo, a política de proteção aos 
compradores de automóveis se opõe aos princípios de liberdade de contrato), aquele que vai 
resolver o conflito tem de levar em conta a força relativa de cada um. Esta não pode ser, por certo, 
uma mensuração exata e o julgamento que determina que um princípio ou uma política particular é 
mais importante que a outra frequentemente será objeto de controvérsia. Não obstante, essa 
dimensão é uma parte integrante do conceito de um princípio, de modo que faz sentido perguntar 
que peso ele tem e o quão importante ele é (DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Trad. 
de Nelson Boeira. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 42-43). 
 
Marcelo Novelino, desenvolvendo as distinções existentes entre os princípios e as regras em Ronald 
Dworkin, alude que: 
 
Segundo DWORKIN, enquanto as regras impõem resultados, os princípios atuam na orientação do 
sentido de uma decisão. Quando se chega a um resultado contrário ao apontado pela regra é 
porque ela foi mudada ou abandonada; já os princípios, ainda que não prevaleçam, sobrevivem 
intactos. Um determinado princípio pode prevalecer em alguns casos e ser preterido em outros, o 
que não significa sua exclusão. Assim como os aplicadores do Direito devem seguir uma regra 
considerada obrigatória, também devem decidir conforme os princípios considerados de maior 
peso, ainda que existam outros, de peso menor, apontado em sentido contrário (NOVELINO, 
 
 
 
Marcelo. Direito Constitucional. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 127). 
 
Desse modo: 
 
DWORKIN estabelece que um paralelo entre as duas espécies normativas afirmando que os 
princípios possuem um caráter prima facie, ao passo que as regras possuem um caráter definitivo. 
Então, as regras são aplicáveis na forma de juízos disjuntivos: se os fatos estipulados por uma 
regra válida se dão, a resposta dada deve ser aceita. Por essa razão, distintamente do que ocorre 
com os princípios, um enunciado preciso de uma regra deve levar em conta todas as exceções que 
ela contém (NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 
127). 
 
Robert Alexy estabelece que a diferença entre os princípios e as regras é qualitativa. 
 
Note-se o alerta de Alexy no sentido de que os princípios oferecem a possibilidade de o intérprete 
do direito buscar o melhor para a resolução do caso, ou seja, otimizar a decisão. Mas que essa busca 
deve levar em consideração todas as características do fato, além das possibilidades jurídicas 
(princípios e regras constitucionais e infraconstitucionais). Para o autor: 
 
[...] princípios são normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível dentro 
das possibilidades jurídicas e fáticas existentes. Princípios são, por conseguinte, mandamentos de 
otimização, que são caracterizados por poderem ser satisfeitos em graus variados e pelo fato de 
que a medida devida de sua satisfação não depende somente das possibilidades fáticas, mas 
também das possibilidades jurídicas. O âmbito das possibilidades jurídicas é determinado pelos 
princípios e regras colidentes (ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Trad. de Virgílio 
Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros, p. 90). 
 
Sobre a colisão entre princípios, vale analisar as seguintes palavras do autor: 
 
[...] Se dois princípios colidem – o que ocorre, por exemplo, quando algo é proibido de acordo com 
um princípio e, de acordo com o outro, permitido -, um dos princípios terá que ceder. Isso não 
significa, contudo, nem que o princípio cedente deva ser declarado inválido, nem que nele deverá 
ser introduzida uma cláusula de exceção. Na verdade, o que ocorre é que um dos princípios tem 
precedência em face do outro sob determinadas condições. Sob outras condições a questão da 
precedência pode ser resolvida de forma oposta. Isso é o que se quer dizer quando se afirma que, 
nos caos concretos, os princípios têm pesos diferentes e que os princípios com o maior peso tem 
precedência. Conflitos entre regras ocorrem na dimensão da validade, enquanto as colisões entre 
princípios – visto que só princípios válidos podem colidir – ocorrem, para além da dimensão, na 
dimensão de peso (ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Trad. de Virgílio Afonso da 
Silva. São Paulo: Malheiros, p. 93-94). 
 
Obs – Recordem-se do exemplo dado em aula em que o Hugo leva seu filho que necessita de um 
tratamento urgente, para o hospital, e para tal, avança o sinal vermelho, bem devagar, depois de 
observar que nem pedestres nem veículos automotores atravessavam o local. 
 
A definição de regras, em Alexy, aproxima-se da definição de Dworkin, mas com algumas 
 
 
 
distinções. 
 
Já as regras são normas que são sempre ou satisfeitas ou não satisfeitas. Se uma regra vale, então, 
deve se fazer exatamente aquilo que ela exige; nem mais, nem menos [...] (ALEXY, Robert. Teoria 
dos direitos fundamentais. Trad. de Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros, p. 91). 
 
No que tange ao conflito de regras, Alexy determina que: 
 
Um conflito de regras somente pode ser solucionado se se introduz, em uma das regras, uma 
cláusula de exceção que elimine o conflito, ou se pelo menos uma das regras for declarada 
inválida. Um exemplo para um conflito entre regras que pode ser resolvido por meio da introdução 
de uma cláusula de exceção é aquele entre a proibiçãode sair de uma sala de aula antes que o 
sinal toque e o dever de deixar a sala se soar o alarme de incêndio. Se o sinal ainda não tiver sido 
tocado, mas o alarme de incêndio tiver soado, essas regras conduzem a juízos concretos de dever-
ser contraditórios entre si. Esse conflito deve ser solucionado por meio da inclusão, na primeira 
regra, de uma cláusula de exceção para o caso de alarme de incêndio (ALEXY, Robert. Teoria dos 
direitos fundamentais. Trad. de Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros, p. 92). 
 
Ademais: 
 
Se esse tipo de solução não for possível, pelos menos uma das regras tem de ser declarada inválida 
e, com isso, extirpada do ordenamento jurídico. Ao contrário do que ocorre com o conceito de 
validade social ou de importância de uma norma, o conceito de validade jurídica não é graduável. 
Ou uma norma jurídica é válida, ou não é. Se uma regra é válida e aplicável a um caso concreto, 
isso significa que também sua consequência jurídica é válida. Não importa a forma como sejam 
fundamentados, não é possível que dois juízos concretos de dever-ser contraditórios entre si sejam 
válidos. Em um determinado caso, se se constata a aplicabilidade de duas regras com 
consequências jurídicas concretas contraditórias entre si, e essa contradição não pode ser 
eliminada por meio da introdução de uma cláusula de exceção, então, pelo menos uma das regras 
deve ser declarada inválida (ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Trad. de Virgílio 
Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros, p. 92). 
 
Por referidas passagens da obra de Alexy, constata-se que o autor, como Dworkin, concebe as 
regras no plano da validade, de maneira que, se houver um conflito de regras, uma delas deverá ser 
considerada válida e aplicável, e, a outra inválida, a não ser que uma seja exceção à outra. 
 
Alexy, contudo, alerta que algumas regras também podem ter um caráter prima facie. Para explicar 
isso, afirma-se existirem regras completas e regras incompletas. 
 
As regras completas estão presentes quando a determinação contida no dispositivo é suficiente para 
a decisão. Ora, como essas regras não detêm qualquer exceção, seriam consideradas razões 
definitivas. 
 
Quanto às regras incompletas em Alexy, Marcelo Novelino assim adverte: 
 
As regras incompletas são aquelas que, apesar de extraídas de disposições de direitos 
 
 
 
fundamentais que fixam determinações em relação às exigências de princípios colidentes, não 
podem ser aplicadas independentemente de sopesamentos, por ser necessário “um recurso ao nível 
dos princípios, com todas as incertezas que estão a ele vinculadas” para se chegar à decisão. 
Entretanto, ao mesmo tempo em que isso não significa que as determinações contidas em uma 
regra não devam ser levadas a sério na medida em que forem suficientes para a decisão, por outro 
lado, não se pode ignorar que a exigência de levar a sério as disposições de direitos fundamentais 
vale também para as determinações fixadas por meio de princípios, e não apenas para aquelas 
estabelecidas por meio de regras (NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. 6. ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 2012, p. 129). 
 
Enfim, Alexy, ao que parece, considera as normas completas como mandamentos definitivos e as 
normas incompletas como mandamentos prima facie. 
 
Ronald Dworkin e Robert Alexy, conforme dissemos anteriormente, são dois ícones, atualmente, no 
que tange ao estabelecimento da distinção entre os princípios e as regras. Passaremos, a partir de 
agora, a analisar os fundamentos de tais autores para superar os chamados casos difíceis, citados em 
aula. 
 
Ronald Dworkin, para comprovar sua tese, lançará mão da metáfora do juiz Hércules e, 
posteriormente, da metáfora do romance em cadeia. 
 
No primeiro caso, Dworkin imagina um magistrado com capacidades e paciência sobre-humanas, 
competente para, de maneira criteriosa e metódica, selecionar as hipóteses de interpretação dos 
casos concretos a partir do filtro da integridade. Assim, em diálogo com as partes daqueles 
processos, ele deverá interpretar a história institucional como um movimento constante e partindo 
de uma análise completa e criteriosa da Constituição, da legislação e dos precedentes, para 
identificar nestes a leitura feita pela própria sociedade dos princípios jurídicos aplicáveis aos casos. 
 
Como consequência, supera-se a chamada “vontade do legislador” (ou dos pais fundadores) como 
requisito assegurador da objetividade na interpretação do Direito, como bem esboçado pela tradição 
do positivismo. O fundamento da tese dworkiana para tal postura está na compreensão da 
interpretação jurídica como uma forma de interpretação construtiva, capaz de tomar as práticas 
sociais da melhor forma possível. 
 
Já no romance em cadeia, o que se propõe consiste num exercício literário em que um grupo de 
romancistas seja contratado para um determinado projeto e que jogue dados para definir a ordem do 
jogo. 
 
O número mais baixo escreve o capítulo de abertura de um romance, que ele depois manda para o 
número seguinte, o qual acrescenta um capítulo, com a compreensão de que está acrescendo um 
capítulo a esse romance, não começando outro, e manda os dois capítulos para o seguinte, e assim 
por diante. Cada romancista, a não ser o primeiro, tem a dupla responsabilidade de interpretar e 
criar, pois precisa ler tudo o que foi feito antes para estabelecer, no sentido interpretativista, o que é 
o romance criado até então. 
 
Nessa perspectiva, cada juiz será como um romancista na corrente, de modo que deverá interpretar 
 
 
 
tudo o que foi escrito no passado por outros juízes e partes nos respectivos processos, buscando 
descobrir o que disseram, bem como o seu estado de espírito quando o disseram, objetivando chegar 
a uma opinião do que eles fizeram coletivamente. 
 
A cada caso, o juiz incumbido de decidir deverá se considerar como parte de um complexo 
empreendimento em cadeia no qual as inúmeras decisões, convenções e práticas representam a 
história, que será o seu limite. 
 
O trabalho consistirá, portanto, na continuação dessa história, mas com olhos para o futuro, levando 
em consideração o que foi feito, por ele e pelos demais, no presente (que também contém o 
passado). Ele deverá interpretar o que aconteceu no passado e não partir em uma nova direção. Isso 
porque o dever do juiz consiste, para Dworkin, em interpretar a história jurídica que encontra e não 
inventar uma história melhor. 
 
Dessa forma, não pode o magistrado romper com o passado, porque a escolha entre os vários 
sentidos que o texto legal apresenta não pode ser remetida à intenção de ninguém in concreto, mas 
sim deve ser feita à luz de uma teoria política e com base no melhor princípio ou política que possa 
justificar tal prática. 
 
Outro ponto importante é que Dworkin pressupõe a identificação de uma comunidade de princípios, 
ou seja, uma dada sociedade é compreendida como formada por pessoas que consideram ser sua 
prática governada por princípios comuns e não somente por regras criadas em conformidade com 
um acordo político. 
 
Assim, o Direito não está restrito ao conjunto de decisões tomadas em âmbito institucional, mas o 
transborda, devendo ser tido, em termos gerais, como um sistema de princípios construídos a partir 
da interpretação da história das práticas sociais, ponto que se deve pressupor nas decisões 
institucionais. Dessa forma, tanto o juiz Hércules quanto os co-autores do romance em cadeia 
representam os membros dessa comunidade, tendo sua visão moldada por esse mesmo pano de 
fundo de silêncio compartilhado que rege as práticas sociais. 
 
Assim, tais atividades levarão não somente o magistrado,mas também a comunidade, 
compreendida pela totalidade de seus membros, ao melhor argumento possível do ponto de vista de 
uma moral política substantiva, bem como a um argumento com pretensões de ser o correto. 
 
Já para Alexy, a despeito das teorias positivistas separarem o Direito e a Moral, por meio de um 
conceito de Direito com validade puramente formal, corroborada pela legalidade em conformidade 
com o ordenamento e a eficácia social, teorias não-positivistas tendem a vinculá-los (direito e 
moral), concebendo o autor um conceito de direito carreado de um terceiro aspecto além dos dois 
primeiros, vale dizer, o da correção material: 
 
o direito é um sistema de normas que (1) formula uma pretensão de correção, (2) consistindo na 
totalidade das normas que pertencem a uma Constituição geralmente eficaz e que não são 
extremamente injustas, bem como à totalidade das normas promulgadas de acordo com esta 
Constituição, que possuem um mínimo de eficácia social ou de probabilidade de eficácia e não são 
extremamente injustas a qual (3) pertencem princípios e outros argumentos normativos nos quais 
 
 
 
se apoia o procedimento de aplicação do Direito e/ou tem que se apoiar a fim de satisfazer a 
pretensão da correção (ALEXY, Robert. El concepto y la validez Del derecho. Barcelona: Gedisa, 
p. 123). 
 
Com esses ditames Alexy enfatiza que um sistema desprovido de pretensão à correção não possa ser 
considerado sistema jurídico, e que na prática os sistemas jurídicos a formulam. Que os elementos 
outrora descritos (legalidade em conformidade com o ordenamento, eficácia social e a correção 
material) referem-se além da constituição, às normas postas em conformidade com essa 
constituição, existindo uma estrutura escalonada, excluindo-se normas extremamente injustas da 
seara do direito. E por fim, que incorpora-se ao direito o procedimento de sua aplicação, pois tudo 
aquilo em que se apoia ou que tem que se apoiar alguém que aplica o direito almejando sua 
correção o direito abarca. Ou seja, que princípios não identificados como jurídicos sobre as bases da 
validade de uma constituição bem como demais argumentos normativos fundamentadores de 
decisões pertenceriam ao direito. 
 
Em suma, Alexy considera direito e moral como “aliados”. Aliados estes que, por meio de 
princípios bem como de argumentação jurídica, buscam uma aplicação justa para o direito. 
 
Isso se dá, por que segundo Alexy, os princípios equiparam-se a valores, apesar de não tratarem-se 
destes. Para o autor, princípios dizem respeito a um conceito deontológico (de dever ser), enquanto 
que os valores atinem a um conceito axiológico (de bom, de melhor), não obstante estarem 
intimamente ligados, possibilitando-se colisão, bem como sopesamento tanto de princípios como de 
valores, vez que a realização gradual dos princípios corresponde à dos valores. 
 
Alexy delimita que a visão do nível dos princípios mostra que neles estão reunidas coisas 
extremamente diversas. Mas, mais importante que referir-se a essa diversidade é a constatação de 
sua indeterminação. Pois no mundo dos princípios há lugar pra muita coisa, podendo-se chamá-lo 
de mundo do dever-ser ideal. Para ele, as colisões, tensões, conflitos, etc, surgem exatamente no 
momento em que se tem de passar do espaçoso mundo do dever-ser ideal para o estreito mundo do 
dever-ser definitivo ou real. 
 
Mas os princípios por si só, não têm a possibilidade de determinar a resposta correta para cada caso, 
necessitando de um “amparo” para que alcance a aplicação racional do Direito. 
 
Alexy então, na busca dessa aplicação racional do direito, elabora uma teoria da argumentação 
jurídica, identificando-a como um caso especial da argumentação prática geral (da argumentação 
moral), que, conjuntamente às regras e princípios, formam um procedimento apto a estabelecer a 
melhor decisão para o caso concreto (ALEXY, Robert. Teoria da argumentação jurídica. Trad. de 
Zilda Hutchinson Schild Silva. São Paulo: Landy, 2001). 
 
 
2.2 A evolução normativa dos princípios 
 
O processo de reconhecimento normativo dos princípios percorre diversas etapas na história 
jurídica, podendo-se apontar o seguinte. 
 
 
 
 
Jusnaturalismo (Direito Natural) – Os princípios são encarados como valores superiores, eternos, 
uniformes, permanentes e imutáveis. 
 
Neste período, os princípios são vistos de uma forma abstrata e metafísica, carecendo de 
normatividade, servindo, unicamente de um norte valorativo a seguir-se. 
 
Positivismo Jurídico (dominou a ciência jurídica no século XX) – O positivismo jurídico tem 
diversas etapas, dependendo do momento histórico vivido. 
 
De uma forma geral, a maioria da doutrina nega a normatividade dos princípios no positivismo 
jurídico, classificando-os, como fontes subsidiárias, a serem observadas, por este caráter, 
unicamente, como uma válvula de segurança, caso haja eventual lacuna no ordenamento jurídico, 
após esgotadas as previsões legais, a analogia e os costumes. 
 
Pós-positivismo jurídico – Diversos autores (com ênfase em Luis Roberto Barroso) sustentam que, 
somente com o advento do pós-positivismo (surgiu nas últimas décadas do século XX), reconheceu-
se a normatividade dos princípios, tendo tal corrente filosófica como principais características a 
ascensão dos valores e o reconhecimento da normatividade dos princípios, fundamentando que a 
dogmática tradicional (positivismo jurídico) fomentou-se sob o mito da objetividade do Direito e da 
neutralidade do intérprete, tendo encoberto seu caráter ideológico bem como sua instrumentalidade 
à dominação econômica e social. 
 
Assim, no pós-positivismo jurídico os princípios e as regras são considerados subespécie de 
normas. 
 
 
OBS – Principais aspectos do ponto, desenvolvidos em aula: 
 
I A Constituição é composta de um emaranhado (complexo) de normas, cujas subespécies são os 
princípios e as regras; 
 
II Os princípios e as regras, como referenciais para o intérprete, não detém hierarquia; 
 
III Tradicional e basicamente, os princípios eram definidos como mandamentos normativos mais 
abstratos, genéricos; e as regras como mandamentos normativos mais específicos; 
 
IV Para Ronald Dworkin, as regras devem ser analisadas no plano da validade, sendo aplicáveis na 
forma de tudo ou nada. Assim, em ocorrendo os fatos previstos por uma regra válida, a resposta por 
ela dada deve ser aceita; 
 
V Segundo Ronald Dworkin, havendo um conflito de regras, se uma é considerada válida e aplicada 
ao caso, logicamente, a outra deve ser declarada inválida, a não ser que uma excetue a outra; 
 
VI Conforme Ronald Dworkin, eventual conflito entre regras deverá ser resolvido segundo os 
critérios tradicionais de hierarquia (norma hierarquicamente superior prevalece sobre norma 
hierarquicamente inferior), cronologia (norma posterior prevalece sobre norma anterior) e 
 
 
 
especialidade (norma especial prevalece sobre norma geral), devendo uma delas ser considerada 
inválida; 
 
VII Dworkin sustenta que os princípios são prima facie, possuindo, diversamente das regras, uma 
dimensão de peso ou importância, e que isso, inevitavelmente, levará a uma controvérsia acerca do 
melhor caminho a seguir, devendo o intérprete do direito, no caso concreto, observar qual deles terá 
uma precedência em relação ao outro, por meio de ponderação; 
 
VIII Para Robert Alexy a diferença entre os princípios e as regras é qualitativa; 
 
IX Segundo Alexy, os princípios são mandamentos de otimização, ou seja, normas que ordenam 
que algo seja realizado na maior medida possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas 
existentes; 
 
X Alexy, como Dworkin,concebe as regras no plano da validade, de maneira que, se houver um 
conflito de regras, uma delas deverá ser considerada válida e aplicável, e, a outra inválida, a não ser 
que uma seja exceção à outra; 
 
XI Alexy alerta que algumas regras também podem ter um caráter prima facie. Para explicar isso, 
afirma-se existirem regras completas e regras incompletas. As regras completas estão presentes 
quando a determinação contida no dispositivo é suficiente para a decisão. Como essas regras não 
detêm qualquer exceção, seriam consideradas razão definitivas. Já as regras incompletas são aquelas 
que, apesar de extraídas de disposições de direitos fundamentais que fixam determinações em 
relação às exigências de princípios colidentes, não podem ser aplicadas independentemente de 
sopesamentos, por ser necessário um recurso ao nível dos princípios, com todas as incertezas que 
estão a ele vinculadas para se chegar à decisão; 
 
XII O fundamento da teoria de Dworkin relaciona-se ao juiz Hércules e ao romance em cadeia; 
 
XIII O fundamento da teoria de Alexy concentra-se no seu conceito de direito. Para o autor o 
conceito de direito engloba a Constituição; as leis em conformidade com essa Constituição e a 
busca da correção material (justiça no caso concreto). A argumentação jurídica ocupa um papel 
muito importante na teoria do autor, admitindo-se que qualquer argumento utilizado sob o crivo 
Constitucional e legal constitua direito; 
 
XIV No Jusnaturalismo, os princípios são considerados meros valores. Ou seja, somente as regras 
são consideradas direito; 
 
XV No Juspositivismo considera-se os princípios como fontes subsidiárias (princípios gerais do 
direito), a serem aplicados quando esgotadas as regras, a analogia e os costumes; 
 
XVI No Pós-positivismo os princípios, como as regras, são considerados espécies de normas. 
 
 
 
 
 
 
 
3 CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS QUANTO À EFICÁCIA E/OU 
APLICABILIDADE 
 
Muitos autores pretendem classificar as normas constitucionais quanto à eficácia e/ou 
aplicabilidade. Traremos à baila, contudo, a classificação de José Afonso da Silva, mais famosa e 
aplicada. 
 
 
3.1 Normas constitucionais de eficácia plena 
 
As normas constitucionais de eficácia plena são aquelas que desde sua entrada em vigor, ou seja, da 
entrada em vigor da Constituição, produzem ou têm a possibilidade de produzir, todos os efeitos 
que pretendem produzir. São auto-aplicáveis (aplicação direta e imediata). 
 
Em outras palavras, em ocorrendo os fatos nela previstos ela já pode ser aplicada, 
independentemente de qualquer intermediação legislativa. 
 
Ex: Remédios constitucionais (habeas corpus, mandado de segurança, mandado de injunção). 
 
Art. 5º, LXVIII, CF - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar 
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso 
de poder; 
Art. 5º, LXIX, CF - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não 
amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso 
de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder 
Público; 
Art. 5º, LXX, CF - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: 
a) partido político com representação no Congresso Nacional; 
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em 
funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados; 
Art. 5º, LXXI, CF - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma 
regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das 
prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. 
 
Relativamente à espécie normativa: 
 
aquelas que, desde a entrada em vigor da Constituição, produzem, ou têm a possibilidade de 
produzir, todos os efeitos essenciais, relativamente aos interesses, comportamentos e situações, que 
o legislador constituinte, direta e normativamente, quis regular (por exemplo: os remédios 
constitucionais) (MORAES, Alexandre. Direito constitucional. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 
 
 
 
12). 
 
A Constituição Federal de 1988 revela uma acentuada tendência no sentido de deixar ao legislador 
ordinário a complementação de suas normas. Não obstante a maioria de seus dispositivos, 
sobretudo os referentes à organização e limitação dos poderes estatais, acolhe normas de eficácia 
plena. Estas normas possuem aplicabilidade direta e imediata por não dependerem de legislação 
posterior para sua inteira operatividade, estando aptas a produzir, desde sua entrada em vigor, 
seus efeitos essenciais (eficácia positiva e negativa). Por terem aplicabilidade integral, estas 
normas não podem sofrer restrições por parte do legislador infraconstitucional, o que não significa 
a impossibilidade de regulamentação de certos interesses nela consagrados (NOVELINO, Marcelo. 
Direito Constitucional. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 107). 
 
As normas de eficácia plena possuem todos os elementos e requisitos para a sua incidência direta, 
isto é, sua regulamentação normativa é precisa a ponto de possibilitar que dela seja extraída a 
conduta positiva ou negativa a ser seguida. São normas consideradas completas, o que não 
significa serem necessariamente efetivas. Sua eficácia não depende da intermediação do legislador 
(NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 108). 
 
 
ARE 672579. AgR/RJ - RIO DE JANEIRO. AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 
COM AGRAVO. Relator(a): Min. LUIZ FUX. Julgamento: 29/05/2012. Órgão Julgador: 
Primeira Turma 
 
Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. DIREITO 
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. ADICIONAL NOTURNO. REGIME DE PLANTÃO 
SEMANAL. NECESSÁRIO REEXAME DA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL. ANÁLISE 
DO CONTEXTO FÁTICO-PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 279 
DO STF. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. A repercussão geral pressupõe recurso 
admissível sob o crivo dos demais requisitos constitucionais e processuais de admissibilidade (art. 
323 do RISTF). Consectariamente, se o recurso é inadmissível por outro motivo, não há como se 
pretender seja reconhecida a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso 
(art. 102, III, § 3º, da Constituição Federal). 2. A violação reflexa e oblíqua da Constituição 
Federal dependente da análise de malferimento de dispositivo infraconstitucional torna 
inadmissível o recurso extraordinário. 3. A Súmula 279 do STF dispõe: “Para simples reexame de 
prova não cabe recurso extraordinário”. 4. É que o recurso extraordinário não se presta ao exame 
de questões que demandam o revolvimento do contexto fático-probatório dos autos, adstringindo-se 
à análise da violação direta da ordem constitucional. 5. In casu, o acórdão recorrido assentou: 
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA DE ADICIONAL NOTURNO. DIREITO 
CONSTITUCIONAL. DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. ADICIONAL 
NOTURNO. DIREITO FUNDAMENTAL. NORMA DE EFICÁCIA PLENA. REGIME DE 
PLANTÃO SEMANAL NOTURNO. IMPOSSIBILIDADE DE PERCEPÇÃO DA VERBA. 
MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. Ainda que seja de aplicação imediata e incondicional a norma 
constitucional que estabeleça direitos fundamentais, não pode o Ente Estatal beneficiar-se de sua 
inércia em não regulamentar, em sua esfera de competência, a aplicação de direito 
constitucionalmente garantido. Prestado serviço no sistema de plantão, com extenso período de 
descanso, não se aplica ao servidor a percepção do adicional noturno, consoante estabelece o art.73 da CLT. Manutenção da sentença. Conhecimento e desprovimento do recurso.” 6. Agravo 
regimental a que se nega provimento. 
 
 
AI 707810. AgR/RJ - RIO DE JANEIRO. AG.REG. NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. 
Relator(a): Min. ROSA WEBER. Julgamento: 22/05/2012. Órgão Julgador: Primeira Turma. 
 
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. TRANSPORTE COLETIVO. GRATUIDADE PARA O 
IDOSO. MANDADO DE SEGURANÇA CONCEDIDO NA ORIGEM. DEVER DE FISCALIZAÇÃO 
E DE EXPEDIÇÃO DE NORMA PELO ESTADO. OFENSA À CONSTITUIÇÃO FEDERAL NÃO 
CONFIGURADA. Eficácia plena e aplicabilidade imediata do art. 230, § 2º, da Constituição 
Federal, que assegurou a gratuidade nos transportes coletivos urbanos aos maiores de 65 anos, 
reconhecida em precedente desta Corte (ADI 3.768/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, 
DJe 26.10.2007). Possibilidade de o Poder Judiciário determinar, em casos excepcionais, que o 
Poder Executivo adote medidas que viabilizem o exercício de direitos constitucionalmente 
assegurados. Ofensa ao princípio da separação de poderes não configurada. Precedentes. Agravo 
regimental conhecido e não provido. 
 
 
Processo: AIRR 7802100152003516 7802100-15.2003.5.16.0900. Relator(a): Helena Sobral 
Albuquerque e Mello. Julgamento: 30/04/2003. Órgão Julgador: 4ª Turma, Publicação: DJ 
16/05/2003. 
 
Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. RITO SUMARÍSSIMO. Assevera o Agravante que o apelo 
extraordinário versa tão somente sobre a afronta aos artigos 5º, II e 7º, XI da Carta Magna . Sem 
arranhaduras o princípio constitucional da legalidade, já que por ser norma princípio, somente por 
via reflexa poderia ser atingido. Quanto ao segundo invocativo, no dizer da própria Agravante, 
razões do agravo, fl. 104 , -não constitui norma constitucional de eficácia plena- , pelo que 
pendente de regulamentação. Daí, a decisão regional apenas poderia atingir a esfera 
infraconstitucional não legislativa, -in casu-, preceito de ordem regulamentar empresarial. Agravo 
de Instrumento conhecido e desprovido. 
 
R E L A T Ó R I O 
 
Pelo despacho de fl. 99/100, originário do Eg. Tribunal Regional do Trabalho da 16ª Região, 
denegou-se seguimento ao recurso de revista interposto pela Reclamada. 
Inconformada, a Parte Agrava de Instrumento, sustentando, em síntese, que a Revista merece 
regular processamento (fls. 102/106). 
Oferecida contraminuta (fls. 110/113). 
Ausente remessa ao Ministério Público do Trabalho, nos moldes da Resolução Administrativa nº 
322/96 do TST. 
É o relatório. 
 
V O T O 
 
1. CONHECIMENTO 
 
 
 
Tempestivo o apelo (fls. 101/102), regular a representação (fl. 96/97), estão preenchidos os 
pressupostos genéricos do recurso, dele conheço. 
 
2. MÉRITO 
 
De início, frise-se que a presente causa se encontra submetida ao procedimento sumaríssimo, 
moldes do art. 852-A e seguintes da CLT. Por conseguinte, a matéria agitada tanto nas razões do 
Recurso de Revista quanto na minuta do agravo há de estar em conformidade com o estatuído no 
artigo 896, § 6º, da CLT. 
 
A Agravante contrapondo-se à conclusão do r. despacho denegatório, enfatiza que o apelo 
extraordinário versa tão somente sobre a afronta aos artigos 5º, II e 7º, XI da Carta Magna. 
Afirma que a participação dos trabalhadores nos lucros da empresa deve ficar a critério de livre 
negociação entre as partes interessadas, seja através de regulamento interno, do qual devem 
participar empregados e empregadores, seja mediante acordo coletivo de trabalho. 
 
Sem merecer censura o r. despacho agravado. 
 
O v. acórdão regional consignou “in verbis”, fl. 75: 
 
”(...) A Participação nos Lucros, conforme ensinamento doutrinário, é o pagamento feito pelo 
empregador ao empregado, referente à distribuição do resultado positivo alcançado pela empresa 
com a colaboração do empregado, que com sua força de trabalho contribuiu para obtenção do 
lucro. 
Sem maiores digressões, entendo que afronta o princípio da igualdade, capitulado como direito 
individual na Constituição Federal, art. 5º, o programa implementado pela TELEMAR, vez que 
prejudicou os empregados demitidos sem justa causa durante o exercício de 2000, tanto que um 
empregado que tenha trabalhado durante 04 (quatro) meses durante ao ano de 2000 e tenha sido 
demitido antes de dezembro do referido ano, não tenha direito a participar nos lucros deste 
exercício financeiro, apesar de demitido sem justa causa. 
 
Dessa forma, ante os princípios norteadores do Direito do Trabalho e do Direito Constitucional, 
considero de cunho discriminatório o Programa de Participação nos Resultados implementado 
pela empresa, não podendo, portanto, se aplicar ao reclamante, a restrição imposta pelo 
Programa”. 
 
A decisão retrata apreciação do conteúdo do Programa de Participação nos Resultados da 
Empresa, na parte pertinente ao tratamento distributivo dos lucros. Apreciou a pretensão obreira 
de auferir o ganho participativo, sob o prisma do princípio constitucional da igualdade. 
 
Restou sem arranhaduras o princípio constitucional da legalidade, já que por ser norma princípio, 
somente por via reflexa poderia ser atingido. 
 
Quanto a afronta ao artigo 7º, XI da Carta Magna, no dizer da própria Agravante, razões do 
agravo, fl. 104, “não constitui norma constitucional de eficácia plena”, pelo que pendente de 
regulamentação. Daí, a decisão regional apenas poderia atingir a esfera infraconstitucional não 
 
 
 
legislativa, “in casu”, preceito de ordem regulamentar empresarial. 
 
Nego provimento ao agravo de instrumento. 
ISTO POSTO 
 
ACORDAM os Ministros da Quarta Turma do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade, 
conhecer do Agravo de Instrumento e, no mérito, negar-lhe provimento. 
 
Brasília, 30 de abril de 2003. 
 
JUÍZA CONVOCADA HELENA E MELLO 
 RELATORA 
 
 
3.2 Normas constitucionais de eficácia contida 
 
As normas constitucionais de eficácia contida podem ser classificadas como aquelas normas 
constitucionais em que o legislador constituinte originário regulou suficientemente os interesses 
acerca de determinada matéria, mas deixou uma margem de atuação restritiva por parte da 
competência discricionária do poder público, nos termos em que a lei estabelecer. 
 
Assim, nessa espécie de norma, pode-se efetivar, desde já, o direito nela previsto, contudo, o 
legislador poderá efetuar uma contenção/ restrição ao seu exercício. 
 
Ex: Direito de liberdade de profissão - art. 5º, XIII da CF. 
 
Art. 5º, XIII, CF - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as 
qualificações profissionais que a lei estabelecer. 
 
 
Quanto às normas constitucionais de eficácia contida: 
 
Normas constitucionais de eficácia contida são aquelas em que o legislador constituinte regulou 
suficientemente os interesses relativos a determinada matéria, mas deixou uma margem à atuação 
restritiva por parte da competência discricionária do poder público, nos termos que a lei 
estabelecer ou nos termos de conceitos gerais nela enunciados (por exemplo: art. 5º, XIII – é livre o 
exercício de qualquer trabalho ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a 
lei estabelecer) (MORAES, Alexandre. Direito constitucional. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 
12). 
 
Possuem eficácia positiva e negativa. Enquanto não elaborada a norma regulamentadora 
restritiva, terão aplicabilidade integral, como se fossem uma “norma de eficácia plena passível de 
restrição”. A aplicabilidade dessas normas independe da intervenção do legislador ordinário, isto 
é, não estão condicionadas à existência de uma normação infraconstitucional ulterior, apesar de 
passíveis de limitadaspor ela (NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. 6. ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2012, p. 108). 
 
 
 
STF analisa recurso contra obrigatoriedade do exame da OAB 
Fonte: 
(http://ultimainstancia.uol.com.br/conteudo/noticias/53660/stf+analisa+recurso+contra+obrigatoriedade+do+exa
me+da+oab.shtml) 
O Plenário do STF (Supremo Tribunal Federal) iniciou nesta quarta-feira (26/10) o julgamento do Recurso 
Extraordinário (RE) 603583, com repercussão geral reconhecida, que discute a constitucionalidade da exigência de 
aprovação prévia em exame como requisito para a inscrição do bacharel em Direito nos quadros da Ordem dos 
Advogados do Brasil. 
O recurso afirma que a submissão dos bacharéis ao exame atenta contra os princípios constitucionais da dignidade 
da pessoa humana, da igualdade, do livre exercício das profissões, bem como contra o direito à vida. 
Conforme o recurso, impedir que os bacharéis exerçam a profissão de advogado após a conclusão do curso 
universitário também representaria ofensa aos princípios da presunção de inocência, do devido processo legal, do 
contraditório e da ampla defesa. 
Recurso Extraordinário contra decisão do TRF da 4ª Região que rejeitou a alegação de inconstitucionalidade do 
artigo 8º, parágrafo 1º, da Lei 8.906/1994 (Estatuto da OAB) e dos Provimentos 81/1996 e 109/2005 do Conselho 
Federal da OAB, que dispõem sobre a exigência de prévia aprovação no exame de ordem como requisito para a 
inscrição do bacharel em direito nos quadros da OAB, por ofensa aos artigos 1º, incisos II, III e IV, e 3º, incisos IV e 
V, da Constituição Federal. 
O Recurso sustenta caber às instituições de ensino superior certificar a aptidão do bacharel para o exercício 
profissional, e que a sujeição dos bacharéis ao exame viola o direito à vida e aos princípios da dignidade da pessoa 
humana, da igualdade, do livre exercício das profissões, da presunção de inocência, do devido processo legal, do 
contraditório e da ampla defesa e representa censura prévia ao exercício profissional. 
A União sustenta que a norma constitucional invocada como violada possui eficácia contida, limitada por lei 
ordinária constitucional. O procurador-geral da União, Roberto Gurgel sustentou o desprovimento do recurso 
extraordinário. 
Gurgel manifestou-se favoravelmente ao Exame da OAB e defendeu que a liberdade de escolha de profissão deve ser 
interpretada levando em conta o artigo 22, inciso XVI, da Constituição Federal. 
Dessa forma, frisou o procurador-geral, o efetivo exercício de uma profissão dependerá do atendimento às 
qualificações e exigências legais. 
Antes do pronunciamento do procurador-geral, falou na tribuna o advogado Alberto Jorge Junior, representando a 
AASP (Associação dos Advogados de São Paulo), em defesa do exame. 
No recurso, o bacharel afirma que a submissão dos bacharéis ao exame como requisito para a inscrição nos 
quadros da OAB atenta contra os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, da igualdade, do livre 
exercício das profissões, bem como contra o direito à vida. 
Impedir que os bacharéis exerçam a profissão de advogado após a conclusão do curso universitário também 
representaria ofensa aos princípios da presunção de inocência, do devido processo legal, do contraditório e da 
ampla defesa. 
O presidente do Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Ophir Cavalcante, sustenta a 
incorrência de contrariedade à Constituição. 
 
 
TRT-14 - RECURSO ORDINARIO TRABALHISTA: RO 37820090061400 RO 
00378.2009.006.14.00. Relator(a): DESEMBARGADOR VULMAR DE ARAÚJO COÊLHO 
 
 
 
JUNIOR. Julgamento: 12/08/2009. Órgão Julgador: PRIMEIRA TURMA. Publicação: 
DETRT14 n.0150, de 14/08/2009 
 
Emanta: MUNICÍPIO DE PORTO VELHO - RONDÔNIA. SERVIDOR CELETISTA. 
GRATIFICAÇAO DE LOCALIDADE. Art. 5º DA LEI MUNICIPAL Nº 1.151/94. NORMA DE 
EFICÁCIA CONTIDA. Em estudo analógico da classificação das normas constitucionais adotada 
pelo nobre doutrinador José Afonso da Silva, percebe-se que o art. 5º da Lei Municipal de Porto 
Velho nº 1.151/94 trata-se de norma de eficácia contida e não limitada, pois a regra municipal 
pode ser reduzida ou restringida por regulamento. Assim, enquanto não sobrevier a criação do 
regulamento que restrinja a norma de eficácia contida, esta terá eficácia plena e total, já que 
nestes casos as normas de eficácia restringível apenas admitem o regulamento. 
 
 
3.3 Normas constitucionais de eficácia limitada 
 
Normas constitucionais de eficácia limitada são conhecidas por sua aplicabilidade indireta, mediata 
e reduzida, pois somente incidem totalmente sobre os interesses, após uma normatividade ulterior 
que lhes desenvolva aplicabilidade. 
 
Ex: art. 37, VII da CF. 
 
Art. 37, caput, CF - A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, 
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, 
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela 
Emenda Constitucional nº 19, de 1998) 
 
Art. 37, inciso VII, CF - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei 
específica; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) 
 
 
Quanto a essa espécie de normas: 
 
Por fim, normas constitucionais de eficácia limitada são aquelas que apresentam “aplicabilidade 
indireta, mediata e reduzida, porque somente incidem totalmente sobre esses interesses, após uma 
normatividade ulterior que lhes desenvolva a aplicabilidade” (por exemplo: CF, art. 37, VII: o 
direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica. Essa previsão 
condiciona o exercício do direito de greve, no serviço público, à regulamentação legal. Ainda, 
podemos citar como exemplo o art. 7º, XI, da Constituição Federal, que prevê a participação dos 
empregados nos lucros, ou resultados da empresa, conforme definido em lei (MORAES, Alexandre. 
Direito constitucional. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 12). 
 
Algumas normas constitucionais só manifestam a plenitude dos efeitos jurídicos pretendidos pelo 
legislador constituinte após a emissão de atos normativos previstos ou requeridos por ela, 
possuindo uma eficácia limitada ou reduzida. A aplicabilidade dessas normas é indireta, mediata e 
reduzida, pois só incidem sobre os interesses objeto de sua regulamentação jurídica após uma 
normatividade ulterior que lhes desenvolva a eficácia, conquanto tenham uma incidência reduzida 
 
 
 
e surtam outros efeitos não essenciais (NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. 6. ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 2012, p. 110). 
 
 
Mandado de Injunção 20–4/DF, DJU: 22.11.1996, p. 45.690, Rel. Min. Celso de Mello: 
 
MANDADO DE INJUNÇÃO COLETIVO - DIREITO DE GREVE DO SERVIDOR PÚBLICO 
CIVIL - EVOLUÇÃO DESSE DIREITO NO CONSTITUCIONALISMO BRASILEIRO - 
MODELOS NORMATIVOS NO DIREITO COMPARADO - PRERROGATIVA JURÍDICA 
ASSEGURADA PELA CONSTITUIÇÃO (ART. 37, VII) - IMPOSSIBILIDADE DE SEU 
EXERCÍCIO ANTES DA EDIÇÃO DE LEI COMPLEMENTAR - OMISSÃO LEGISLATIVA - 
HIPÓTESE DE SUA CONFIGURAÇÃO - RECONHECIMENTO DO ESTADO DE MORA DO 
CONGRESSO NACIONAL - IMPETRAÇÃO POR ENTIDADE DE CLASSE - ADMISSIBILIDADE - 
WRIT CONCEDIDO. DIREITO DE GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO: O 
preceito constitucional que reconheceu o direito de greve ao servidor público civil 
constitui norma de eficácia meramente limitada, desprovida, em conseqüência, de 
autoaplicabilidade, razão pela qual, para atuar plenamente, depende da edição da lei 
complementar exigida pelo próprio texto da Constituição. A mera outorga constitucional do direito 
de greve ao servidor público civil não basta - ante a ausência de auto-aplicabilidadeda normaconstante do art. 37, VII, da Constituição - para justificar o seu imediato exercício. O 
exercício do direito público subjetivo de greve outorgado aos servidores civis só se revelará 
possível depois da edição da lei complementar reclamada pela Carta Política. A lei complementar 
referida - que vai definir os termos e os limites do exercício do direito de greve no serviço público - 
constitui requisito de aplicabilidade e de operatividade da norma inscrita no art. 37, VII, do 
texto constitucional. Essa situação de lacuna técnica, precisamente por inviabilizar o exercício do 
direito de greve, justifica a utilização e o deferimento do mandado de injunção. A inércia estatal 
configura-se, objetivamente, quando o excessivo e irrazoável retardamento na efetivação da 
prestação legislativa - não obstante a ausência, na Constituição, de prazo pré-fixado para a edição 
da necessária norma regulamentadora - vem a comprometer e a nulificar a situação subjetiva de 
vantagem criada pelo texto constitucional em favor dos seus beneficiários. MANDADO DE 
INJUNÇÃO COLETIVO: A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido de 
admitir a utilização, pelos organismos sindicais e pelas entidades de classe, do mandado de 
injunção coletivo, com a finalidade de viabilizar, em favor dos membros ou associados dessas 
instituições, o exercício de direitos assegurados pela Constituição. Precedentes e doutrina. 
 
 
TJDF - Apelação Cível: APL 475691320098070001 DF 0047569-13.2009.807.0001. Relator(a): 
VERA ANDRIGHI. Julgamento: 02/05/2012. Órgão Julgador: 6ª Turma Cível. Publicação: 
10/05/2012, DJ-e Pág. 197. 
 
Ementa: ADMINISTRATIVO. GRATIFICAÇÃO DE TITULAÇÃO. NORMA DE EFICÁCIA 
LIMITADA. I - O ART. 37 DA LEI DISTRITAL 3.824/06, QUE INSTITUIU A GRATIFICAÇÃO DE 
TITULAÇÃO, É NORMA DE EFICÁCIA LIMITADA QUE DEPENDE, PARA SUA APLICAÇÃO, 
DE REGULAMENTAÇÃO PELO PODER EXECUTIVO. II - APELAÇÃO DOS AUTORES 
DESPROVIDA. 
 
 
 
 
STJ - AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO: AgRg no Ag 1332935 DF 
2010/0137976-1. Relator(a): Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO. Julgamento: 
19/06/2012. Órgão Julgador: T1 - PRIMEIRA TURMA. Publicação: DJe 28/06/2012. 
 
Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. 
TRIBUTÁRIO. PIS ECOFINS. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL 
(ART. 5º., INCISOS LV E XXXV DA CF). MATÉRIA DE ÍNDOLE CONSTITUCIONAL. 
INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO ART. 535, II DO CPC. EXCLUSÃO DA BASE DECÁLCULO DE 
RECEITAS TRANSFERIDAS A TERCEIROS (ART. 3º., § 2º., IIIDA LEI 9.718/98). NORMA DE 
EFICÁCIA LIMITADA. NECESSIDADE DEREGULAMENTAÇÃO. PRECEDENTES DO STJ. 
AGRAVO REGIMENTAL DE UMBROINDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA E OUTROS 
DESPROVIDO. 
 
 
As normas constitucionais de eficácia limitada se subdividem em: 
 
 
3.3.1 Normas constitucionais institutivas 
 
As normas institutivas são aquelas normas constitucionais que preveem a necessidade de criação de 
organização ou esclarecimento (especificação) de competências de instituições, de órgãos, e até de 
entes políticos. 
 
Ex: art. 134, § 1º da CF. 
 
Art. 134. A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, 
incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do 
art. 5º, LXXIV.) 
 
§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos 
Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, 
providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus 
integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições 
institucionais. (Renumerado pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) 
 
 
No que toca a essa espécie de norma constitucional limitada: 
 
São normas de eficácia limitada que dependem de lei para organizar ou dar estrutura a entidades, 
órgãos ou instituições previstos na Constituição. Seu conteúdo é eminentemente organizatório e 
regulativo. [...] (NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2012, p. 110). 
 
As normas constitucionais de eficácia limitada, declaratórias de princípios institutivos ou 
organizativos (ou orgânicos) contêm esquemas gerais (iniciais) de estruturação de instituições, 
órgãos ou entidades [...] (LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 16. ed. São Paulo: 
 
 
 
Saraiva, 2012, p. 221). 
 
 
3.3.2 Normas programáticas 
 
As normas programáticas são espécie no gênero limitada, exigindo ou a atuação legislativa ou uma 
prestação positiva (fomento de política pública) por parte do poder público que lhes ofereçam plena 
eficácia. 
 
São as chamadas normas de aplicação diferida, ou adiada, pois condicionadas a um evento futuro 
incerto, qual seja, a criação de uma lei ou o fomento de uma política pública que lhes efetivem. 
 
Ex: Direitos sociais; arts. 6º e 196 da CF. 
 
Art. 6º, CF - São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o 
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos 
desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64, de 
2010) 
Art. 196, CF - A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e 
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e 
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. 
 
 
Nesse viés, interessante observar: 
 
São de aplicação diferida, e não de aplicação ou execução imediata; mais do que comando-regras, 
explicitam comandos-valores, conferem elasticidade ao ordenamento constitucional; têm 
destinatário primacial – embora não o único – o legislador, a cuja opção fica a ponderação do 
tempo e dos meios em que vêm a ser revestidas de plena eficácia (e nisso consiste a 
discricionariedade); não consentem que os cidadãos ou quaisquer cidadãos as invoquem já (ou 
imediatamente após a entrada em vigor da Constituição), pedindo aos tribunais o seu cumprimento 
só por si, pelo que pode haver quem afirme que os direitos que nela constam, máxime os direitos 
sociais, têm mais natureza de expectativas que de verdadeiros direitos subjetivos; aparecem, muitas 
vezes, acompanhadas de conceitos indeterminados ou parcialmente indeterminados (MORAES, 
Alexandre. Direito constitucional. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 14). 
 
Já as normas de eficácia limitada, declaratórias de princípios programáticos, veiculam programas 
a serem implementados pelo Estado, visando a realização de fins sociais (arts. 6º, - direito à 
alimentação; 196 – direito à saúde; 205 – direito à educação; 215 – cultura; 218, caput – ciência e 
tecnologia; 227 – proteção da criança ... LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 16. 
ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 221). 
 
 
Art. 6º, CF - São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o 
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos 
 
 
 
desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64, de 
2010) 
Art. 196, CF - A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e 
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e 
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. 
 
Art. 205, CF - A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e 
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao plenodesenvolvimento da pessoa, seu 
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. 
 
Art. 215, CF - O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às 
fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações 
culturais. 
 
Art. 218, CF - O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa e a 
capacitação tecnológicas. 
 
Art. 227, CF - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e 
ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, 
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e 
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, 
violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) 
 
 
ARE 639337 AgR / SP - SÃO PAULO. AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM 
AGRAVO. Relator(a): Min. CELSO DE MELLO. Julgamento: 23/08/2011. Órgão Julgador: 
Segunda Turma. 
 
E M E N T A: CRIANÇA DE ATÉ CINCO ANOS DE IDADE - ATENDIMENTO EM CRECHE E 
EM PRÉ-ESCOLA - SENTENÇA QUE OBRIGA O MUNICÍPIO DE SÃO PAULO A 
MATRICULAR CRIANÇAS EM UNIDADES DE ENSINO INFANTIL PRÓXIMAS DE SUA 
RESIDÊNCIA OU DO ENDEREÇO DE TRABALHO DE SEUS RESPONSÁVEIS LEGAIS, SOB 
PENA DE MULTA DIÁRIA POR CRIANÇA NÃO ATENDIDA - LEGITIMIDADE JURÍDICA DA 
UTILIZAÇÃO DAS “ASTREINTES” CONTRA O PODER PÚBLICO - DOUTRINA - 
JURISPRUDÊNCIA - OBRIGAÇÃO ESTATAL DE RESPEITAR OS DIREITOS DAS CRIANÇAS - 
EDUCAÇÃO INFANTIL - DIREITO ASSEGURADO PELO PRÓPRIO TEXTO 
CONSTITUCIONAL (CF, ART. 208, IV, NA REDAÇÃO DADA PELA EC Nº 53/2006) - 
COMPREENSÃO GLOBAL DO DIREITO CONSTITUCIONAL À EDUCAÇÃO - DEVER 
JURÍDICO CUJA EXECUÇÃO SE IMPÕE AO PODER PÚBLICO, NOTADAMENTE AO 
MUNICÍPIO (CF, ART. 211, § 2º) - LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DA INTERVENÇÃO 
DO PODER JUDICIÁRIO EM CASO DE OMISSÃO ESTATAL NA IMPLEMENTAÇÃO DE 
POLÍTICAS PÚBLICAS PREVISTAS NA CONSTITUIÇÃO - INOCORRÊNCIA DE 
TRANSGRESSÃO AO POSTULADO DA SEPARAÇÃO DE PODERES - PROTEÇÃO JUDICIAL 
DE DIREITOS SOCIAIS, ESCASSEZ DE RECURSOS E A QUESTÃO DAS “ESCOLHAS 
TRÁGICAS” - RESERVA DO POSSÍVEL, MÍNIMO EXISTENCIAL, DIGNIDADE DA PESSOA 
 
 
 
HUMANA E VEDAÇÃO DO RETROCESSO SOCIAL - PRETENDIDA EXONERAÇÃO DO 
ENCARGO CONSTITUCIONAL POR EFEITO DE SUPERVENIÊNCIA DE NOVA REALIDADE 
FÁTICA - QUESTÃO QUE SEQUER FOI SUSCITADA NAS RAZÕES DE RECURSO 
EXTRAORDINÁRIO -PRINCÍPIO “JURA NOVIT CURIA” - INVOCAÇÃO EM SEDE DE APELO 
EXTREMO - IMPOSSIBILIDADE - RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. POLÍTICAS 
PÚBLICAS, OMISSÃO ESTATAL INJUSTIFICÁVEL E INTERVENÇÃO CONCRETIZADORA DO 
PODER JUDICIÁRIO EM TEMA DE EDUCAÇÃO INFANTIL: POSSIBILIDADE 
CONSTITUCIONAL. - A educação infantil representa prerrogativa constitucional indisponível, 
que, deferida às crianças, a estas assegura, para efeito de seu desenvolvimento integral, e como 
primeira etapa do processo de educação básica, o atendimento em creche e o acesso à pré-escola 
(CF, art. 208, IV). - Essa prerrogativa jurídica, em conseqüência, impõe, ao Estado, por efeito da 
alta significação social de que se reveste a educação infantil, a obrigação constitucional de criar 
condições objetivas que possibilitem, de maneira concreta, em favor das “crianças até 5 (cinco) 
anos de idade” (CF, art. 208, IV), o efetivo acesso e atendimento em creches e unidades de pré-
escola, sob pena de configurar-se inaceitável omissão governamental, apta a frustrar, 
injustamente, por inércia, o integral adimplemento, pelo Poder Público, de prestação estatal que 
lhe impôs o próprio texto da Constituição Federal. - A educação infantil, por qualificar-se como 
direito fundamental de toda criança, não se expõe, em seu processo de concretização, a avaliações 
meramente discricionárias da Administração Pública nem se subordina a razões de puro 
pragmatismo governamental. - Os Municípios - que atuarão, prioritariamente, no ensino 
fundamental e na educação infantil (CF, art. 211, § 2º) - não poderão demitir-se do mandato 
constitucional, juridicamente vinculante, que lhes foi outorgado pelo art. 208, IV, da Lei 
Fundamental da República, e que representa fator de limitação da discricionariedade político-
administrativa dos entes municipais, cujas opções, tratando-se do atendimento das crianças em 
creche (CF, art. 208, IV), não podem ser exercidas de modo a comprometer, com apoio em juízo de 
simples conveniência ou de mera oportunidade, a eficácia desse direito básico de índole social. - 
Embora inquestionável que resida, primariamente, nos Poderes Legislativo e Executivo, a 
prerrogativa de formular e executar políticas públicas, revela-se possível, no entanto, ao Poder 
Judiciário, ainda que em bases excepcionais, determinar, especialmente nas hipóteses de políticas 
públicas definidas pela própria Constituição, sejam estas implementadas, sempre que os órgãos 
estatais competentes, por descumprirem os encargos político- -jurídicos que sobre eles incidem em 
caráter impositivo, vierem a comprometer, com a sua omissão, a eficácia e a integridade de 
direitos sociais e culturais impregnados de estatura constitucional. DESCUMPRIMENTO DE 
POLÍTICAS PÚBLICAS DEFINIDAS EM SEDE CONSTITUCIONAL: HIPÓTESE 
LEGITIMADORA DE INTERVENÇÃO JURISDICIONAL. - O Poder Público - quando se abstém 
de cumprir, total ou parcialmente, o dever de implementar políticas públicas definidas no próprio 
texto constitucional - transgride, com esse comportamento negativo, a própria integridade da Lei 
Fundamental, estimulando, no âmbito do Estado, o preocupante fenômeno da erosão da 
consciência constitucional. Precedentes: ADI 1.484/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.. - A 
inércia estatal em adimplir as imposições constitucionais traduz inaceitável gesto de desprezo pela 
autoridade da Constituição e configura, por isso mesmo, comportamento que deve ser evitado. É 
que nada se revela mais nocivo, perigoso e ilegítimo do que elaborar uma Constituição, sem a 
vontade de fazê-la cumprir integralmente, ou, então, de apenas executá-la com o propósito 
subalterno de torná-la aplicável somente nos pontos que se mostrarem ajustados à conveniência e 
aos desígnios dos governantes, em detrimento dos interesses maiores dos cidadãos. - A intervenção 
do Poder Judiciário, em tema de implementação de políticas governamentais previstas e 
 
 
 
determinadas no texto constitucional, notadamente na área da educação infantil (RTJ 199/1219-
1220), objetiva neutralizar os efeitos lesivos e perversos, que, provocados pela omissão estatal, 
nada mais traduzem senão inaceitável insulto a direitos básicos que a própria Constituição da 
República assegura à generalidade das pessoas. Precedentes. A CONTROVÉRSIA PERTINENTE À 
“RESERVA DO POSSÍVEL” E A INTANGIBILIDADE DO MÍNIMO EXISTENCIAL: A QUESTÃO 
DAS “ESCOLHAS TRÁGICAS”. - A destinação de recursos públicos, sempre tão dramaticamente 
escassos, faz instaurar situações de conflito, quer com a execução de políticas públicas definidas 
no texto constitucional, quer, também, com a própria implementação de direitos sociais 
assegurados pela Constituição da República, daí resultando contextos de antagonismo que 
impõem, ao Estado, o encargo de superá-los mediante opções por determinados valores, em 
detrimento de outros igualmente relevantes, compelindo, o Poder Público, em face dessa relação 
dilemática, causada pela insuficiência de disponibilidade financeira e orçamentária, a proceder a 
verdadeiras “escolhas trágicas”, em decisão governamental cujo parâmetro, fundado na dignidade 
da pessoa humana, deverá ter em perspectiva a intangibilidade do mínimo existencial, em ordem a 
conferir real efetividadeàs normas programáticas positivadas na própria Lei Fundamental. 
Magistério da doutrina. - A cláusula da reserva do possível - que não pode ser invocada, pelo 
Poder Público, com o propósito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar a implementação de 
políticas públicas definidas na própria Constituição - encontra insuperável limitação na garantia 
constitucional do mínimo existencial, que representa, no contexto de nosso ordenamento positivo, 
emanação direta do postulado da essencial dignidade da pessoa humana. Doutrina. Precedentes. - 
A noção de “mínimo existencial”, que resulta, por implicitude, de determinados preceitos 
constitucionais (CF, art. 1º, III, e art. 3º, III), compreende um complexo de prerrogativas cuja 
concretização revela-se capaz de garantir condições adequadas de existência digna, em ordem a 
assegurar, à pessoa, acesso efetivo ao direito geral de liberdade e, também, a prestações positivas 
originárias do Estado, viabilizadoras da plena fruição de direitos sociais básicos, tais como o 
direito à educação, o direito à proteção integral da criança e do adolescente, o direito à saúde, o 
direito à assistência social, o direito à moradia, o direito à alimentação e o direito à segurança. 
Declaração Universal dos Direitos da Pessoa Humana, de 1948 (Artigo XXV). A PROIBIÇÃO DO 
RETROCESSO SOCIAL COMO OBSTÁCULO CONSTITUCIONAL À FRUSTRAÇÃO E AO 
INADIMPLEMENTO, PELO PODER PÚBLICO, DE DIREITOS PRESTACIONAIS. - O princípio 
da proibição do retrocesso impede, em tema de direitos fundamentais de caráter social, que sejam 
desconstituídas as conquistas já alcançadas pelo cidadão ou pela formação social em que ele vive. 
- A cláusula que veda o retrocesso em matéria de direitos a prestações positivas do Estado (como o 
direito à educação, o direito à saúde ou o direito à segurança pública, v.g.) traduz, no processo de 
efetivação desses direitos fundamentais individuais ou coletivos, obstáculo a que os níveis de 
concretização de tais prerrogativas, uma vez atingidos, venham a ser ulteriormente reduzidos ou 
suprimidos pelo Estado. Doutrina. Em conseqüência desse princípio, o Estado, após haver 
reconhecido os direitos prestacionais, assume o dever não só de torná-los efetivos, mas, também, se 
obriga, sob pena de transgressão ao texto constitucional, a preservá-los, abstendo-se de frustrar - 
mediante supressão total ou parcial - os direitos sociais já concretizados. LEGITIMIDADE 
JURÍDICA DA IMPOSIÇÃO, AO PODER PÚBLICO, DAS “ASTREINTES”. - Inexiste obstáculo 
jurídico-processual à utilização, contra entidades de direito público, da multa cominatória prevista 
no § 5º do art. 461 do CPC. A “astreinte” - que se reveste de função coercitiva - tem por finalidade 
específica compelir, legitimamente, o devedor, mesmo que se cuide do Poder Público, a cumprir o 
preceito, tal como definido no ato sentencial. Doutrina. Jurisprudência. 
 
 
 
 
OBS – Principais aspectos do ponto, desenvolvidos em aula: 
 
I As normas constitucionais de eficácia plena são aquelas que desde sua entrada em vigor, ou seja, 
da entrada em vigor da Constituição, produzem ou têm a possibilidade de produzir, todos os efeitos 
que pretendem produzir. Têm eficácia imediata, completa, integral. 
 
II As normas constitucionais de eficácia contida, como as normas constitucionais de eficácia plena, 
desde sua entrada em vigor, ou seja, da entrada em vigor da Constituição, produzem ou têm a 
possibilidade de produzir, todos os efeitos que pretendem produzir. Contudo, o legislador pode 
promover uma contenção/restrição a esses efeitos. Tem eficácia imediata, completa, integral, mas é 
passível de contenção/restrição. 
 
III As normas constitucionais de eficácia limitada só produzem efeitos após a criação de uma lei por 
parte do legislador. Ou seja, estão condicionadas à atividade legislativa. Têm eficácia mediata, 
reduzida; 
 
IV As normas constitucionais de eficácia limitada se subdividem em institutivas e programáticas; 
 
V As normas constitucionais limitadas institutivas destinam-se a criar, organizar ou dar estrutura a 
entidades, órgãos ou instituições previstos na Constituição; 
 
VI As normas constitucionais programáticas exigindo ou a atuação legislativa ou uma prestação 
positiva (fomento de política pública) por parte do poder público que lhes ofereçam plena eficácia. 
São normas de eficácia diferida.

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