Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
@KATIELLEMASC I MEDICINA OBJETIVOS REVISAR AS PRINCIPAIS INFECÇÕES NA GESTAÇÃO QUE CAUSAM PROBLEMAS CONGENITOS DOENÇAS DE TRANSMISSÃO VERTICAL A transmissão vertical é a passagem de uma infecção ou doença da mãe para o bebê. Nesse sentido, este contágio pode acontecer das seguintes maneiras: Durante a gestação (intrauterina) No trabalho de parto (pelo contato com as secreções cérvico-vaginais e sangue materno) Através da amamentação A contaminação do feto ou do recém-nascido pela mãe pode ser causada por vírus, bactérias, protozoários, auto anticorpos, drogas, medicamentos e hormônios capazes de atravessar a barreira placentária, do sangue e/ou do leite materno. RUBÉOLA A rubéola é uma infecção viral, antigamente, considerada uma variante do sarampo e da escarlatina. Quando essa infecção acomete gestantes, especialmente durante o primeiro trimestre, pode resultar em abortamento, óbito fetal ou na Síndrome da Rubéola Congênita. Essa síndrome inclui uma gama de defeitos congênitos como surdez grave, catarata, anomalias cardíacas e atraso mental. O vírus da rubéola (RV), da família Togaviridae, é envolto com RNA de cadeia positiva). É transmitido por via respiratória e via hematogênica. O período de incubação é de duas a três semanas. O contágio pode acontecer um ou dois dias antes da erupção cutânea e até uma semana após. A rubéola atravessa a barreira placentária quando infecta a gestante e dissemina-se nos tecidos fetais. O efeito do vírus no feto depende do momento de sua infecção. Quanto mais próximo da concepção, maior é o dano produzido. O aborto espontâneo pode ocorrer em mais de 20% dos casos quando a infecção materna por rubéola se dá nas primeiras 8 semanas de gestação. Estima-se que a incidência de acometimento fetal seja de 80% a 90% quando a infecção materna ocorre no Apg transmissão de doenças na gestação Apg transmissão de doenças na gestação @KATIELLEMASC I MEDICINA primeiro mês de gestação, decrescendo para 40% a 60% no segundo mês e, 30% a 35% no terceiro mês. No quarto mês de gestação, os riscos não chegam a 10%. A infecção materna que ocorre após esse período não confere risco para o feto ou para o recém-nascido. A síndrome da rubéola congênita decorre da teratogênese do RV e pode apresentar anomalias congênitas como alterações cardíacas (ducto arterioso persistente, defeitos do septo interatrial ou interventricular, estenose da artéria pulmonar), restrição de crescimento fetal intrauterino, microcefalia, hipoacusia neurossensorial, catarata congênita, microftalmia e retinopatia. TOXOPLASMOSE O Toxoplasma gondii, agente etiológico da toxoplasmose, é um protozoário intracelular obrigatório que apresenta ciclo evolutivo com três formas principais sendo todas elas dotadas de competência para realizar a infecção: taquizoítos (que ocorrem na fase aguda ou na reagudização da doença e são capazes de atravessar a placenta e infectar o feto); bradizoítos (que se encontram nos tecidos dos seres humanos e de todos os animais infectados pelo protozoário) e esporozoítas que se encontram dentro dos oocistos (formados exclusivamente no intestino dos felinos, seu hospedeiro definitivo). O oocisto é a forma de resistência do parasito presente no meio ambiente, podendo ficar viável e infectivo por períodos superiores a um ano no solo ou em fontes de água doce ou salinizada. Quanto menor for a idade gestacional, ou seja, quanto mais prévio for esse contato, a chance desse feto adquirir a doença será menor. Entretanto, caso isso ocorra, o risco para o feto será maior, uma vez que a gravidade do quadro se relaciona inversamente com a idade gestacional, apesar de maior chance do feto adquirir a doença, menor será seu risco, uma vez que, nesse caso, a gravidade do quadro será menor. Dentre as principais manifestações fetais destaca-se: ascite, hepatoesplenomegalia, hidrocefalia ou microcefalia, calcificações intracranianas, coriorretinite e retardo no desenvolvimento neuropsicomotor, de modo que as quatro últimas alterações constituem a chamada Tétrade de Sabin. HERPES SIMPLES Nas gestantes portadoras de herpes simples, deve ser considerado o risco de complicações obstétricas, particularmente se a primo-infecção ocorrer durante a gravidez. A infecção primária materna, no final da gestação, oferece maior risco de infecção neonatal do que o herpes genital recorrente. As complicações do herpes na gestação são numerosas, sendo, contudo, pequeno o risco de contaminação fetal durante a gestação. A transmissão fetal transplacentária foi observada em uma a cada 3500 gestações. A infecção do concepto intra-útero, nos primeiros meses da gestação, poderá culminar em abortamento espontâneo. O maior risco de transmissão do vírus ao feto, se dará no momento da passagem deste pelo canal do parto, resultando em aproximadamente 50% de contaminação. Mesmo na forma assintomática, poderá haver a transmissão do vírus por meio do canal de parto. Recomenda-se, portanto, a realização de cesariana, toda vez que houver lesões herpéticas @KATIELLEMASC I MEDICINA ativas. Esta conduta não traz nenhum benefício quando a bolsa amniótica está rota há mais de 4 horas. O tratamento das lesões herpéticas, no decorrer da gestação, poderá ser feito, com alguma vantagem, nos casos de primo-infecção, com: Aciclovir 400 mg, VO, 8/8 horas, por 7 a 10 dias. A infecção herpética neonatal consiste em quadro grave, que exige cuidados hospitalares especializados. Tratamento neonatal: Aciclovir 5 mg/dia, via intravenosa, de 8/8 horas, durante 7 dias. HIV O HIV pode ser transmitido dentro do útero pelo transporte celular transplacentário, por meio de uma infecção progressiva dos trofoblastos da placenta até que o vírus atinja a circulação fetal, ou devido a rupturas na barreira placentária seguidas de microtransfusões da mãe para o feto. A transmissão durante o parto ocorre pelo contato do bebê com as secreções infectadas da mãe ao passar pelo canal vaginal, por meio de uma infecção ascendente da vagina para as membranas fetais e para o líquido amniótico ou por meio da absorção no aparelho digestivo do RN. No período após o parto, a principal forma de transmissão é a amamentação. Em crianças não amamentadas, a transmissão intra-útero tardia e no período intraparto parecem ser os momentos de maior risco para transmissão. Cerca de 65% das infecções ocorrem no período periparto, e 95% ocorrem até 2 meses antes do nascimento. SIFILIS Os estágios clínicos da sífilis são: • primária: uma ou mais úlceras ou cancros no lugar da infecção • secundária: as manifestações incluem, mas não estão limitadas a lesões muco cutâneas e linfoadenopatias • terciária: manifestações cardíacas, neurológicas ou oftalmológicas, anormalidades auditivas ou lesões gomosas. A sífilis congênita pode ser adquirida de uma mãe infectada pela transmissão transplacentária do T. pallidum em qualquer momento da gestação ou no parto. A transmissão ao feto pode dar-se em qualquer estágio da doença. A taxa é mais alta na sífilis primaria e secundária caindo a aproximadamente 40% durante a fase latente precoce e a 8% durante a fase latente tardia. SIFILIS MATERNA A infecção materna é similar à infecção em uma mulher não grávida, e pode ser contraída em qualquer estágio da gestação. Qualquer gestante, independentemente do período da gravidez ou se teve um aborto recentemente, com evidência clínica (úlcera genital ou sinais compatíveis com sífilis secundária) ou que tem exames para treponema positivos (incluindo os testes rápidos) ou testes não @KATIELLEMASC I MEDICINA treponêmicos e que não recebeu tratamento adequado (feito antes da 20ª semana de gestação até no máximo 30 dias antes do parto) para a sífilis nesta gravidez. HEPATITES B E C O vírus da hepatite B (VHB) é um vírus transmitido por exposição percutâneaou exposição das mucosas ao sangue e outros fluidos corporais de uma pessoa portadora. A fonte primária de infecção de bebês e crianças são as mães infectadas. Depois do nascimento o risco de infecção permanece devido a contato doméstico com portadores. As formas mais importantes de transmissão entre adultos são as relações sexuais e a exposição percutânea ao sangue. A transmissão mãe-filho acontece na maioria das vezes durante o parto. A infecção intra-uterina é rara. Embora se saiba que o leite materno pode conter o vírus, a lactância materna não aumenta o risco de um bebê ser infectado. Os bebês de mães infectadas, que não foram infectados no parto continuam sob o risco de infecção devido ao contato prolongado com suas mães. Até 40% das crianças cujas mães são HBsAg positivas e que não foram infectadas durante o parto, podem ser infectadas até os 4 anos de idade. A vacinação contra a hepatite B é a medida mais efetiva para prevenir a infecção por VHB e suas conseqüências. Antes da imunização universal das crianças, até dois terços das infecções crônicas ocorriam em crianças cujas mães eram negativas para HBsAg. Uma proporção importante destas infecções crônicas não teria sido prevenida por um programa que identificasse e tratasse somente crianças cujas mães eram HBsAg positivas. Todas as crianças devem ser protegidas. O vírus da hepatite C (HCV) é um vírus tipo ARN com pelo menos seis genótipos diferentes. Sua transmissão se dá por via parenteral; em instituições de saúde as agulhas são as principais vias de transmissão, entre os usuários de drogas o uso compartilhado de agulhas, e na transfusão de sangue a ausência de triagem adequada. A infecção crônica pode durar 20 anos antes do surgimento de seqüelas que incluem cirrose ou carcinoma hepatocelular. Aproximadamente 5% das crianças nascidas de mães infectadas por HCV se infectam no período perinatal. O risco é significativamente maior quando as mães apresentam uma co-infecçao por HIV (19%). Não existem vacinas ou tratamentos para prevenir a transmissão do vírus. As pessoas com uma infecção recente por HCV são assintomáticas ou apresentam sintomatologia leve. Sessenta a 85% das pessoas infectadas por HCV desenvolvem uma infecção crônica. Destas, 60-70% apresentam uma hepatopatia ativa e 1-5% das pessoas infectadas podem morrer por cirrose ou câncer de fígado. CITOMEGALOVIRUS O CMV humano é um vírus ADN do grupo do vírus do herpes que infecta células e faz com que estas aumentem de tamanho. O contágio se dá pelo contato humano, pela saliva, sangue, urina, sêmen, secreção cervical/vaginal ou leite materno de pessoas portadoras. O CMV sobrevive nos fômitos, incluindo fraldas, brinquedos e mãos. O contagio pré-natal se dá por via transplacentária. A infecção perinatal pode ser devida à exposição ao CMV no trato genital. No período pós-natal, o bebê pode ser infectado pelo contato com fluidos corporais contaminados como o leite materno ou saliva, ou por transfusão de sangue. As vias mais comuns de transmissão do CMV são o aleitamento, a exposição a crianças pequenas ou o contato sexual. O contagio é freqüente em creches. A @KATIELLEMASC I MEDICINA soroconversão é relativamente comum nos bebês de mães positivas para CMV que amamentam; o risco de transmissão aumenta com o número de meses de aleitamento. Depois da infecção primária, as crianças albergam o CMV por muito mais tempo que os adultos, excretando-o na urina e na saliva por períodos de 6 a 42 meses (média 18 meses). Nas zonas urbanas, aproximadamente 15-70% das crianças soronegativas de uma creche são contagiadas em um período de 12 meses. Mulheres soronegativas que tem filhos que eliminam CMV na saliva ou na urina se contagiam 5 a 25 vezes mais que outras mulheres, e pelo menos a metade delas estará infectada em um período de 12 meses a partir do momento em que seu filho foi infectado. As mulheres com risco especial de soroconversão na gravidez são as que têm contato com pré-escolares no ano anterior ao parto e as que iniciam sua vida sexual 2 anos antes do parto. COMPREENDER A CONDUTA QUANDO A GESTANTE APRESENTA ESSAS INFECÇÕES (ALTO RISCO) O intuito da assistência pré-natal de alto risco é interferir no manejo de uma gestação que possui chances de ter um resultado desfavorável, de maneira a diminuir o risco ao qual estão expostos a gestante e o feto, ou reduzir suas possíveis consequências adversas. No entanto a equipe de saúde deve estar preparada para enfrentar quaisquer fatores que possam afetar adversamente a gravidez, sejam eles clínicos, obstétricos. A gestante deverá ser sempre informada do andamento da sua gestação e instruída quanto aos comportamentos e atitudes que deve tomar para melhorar sua saúde. A equipe de saúde irá realizar o seguimento da gravidez de alto risco, devendo levar em conta: Avaliação clínica, que permite ver detalhada a história clinica com parâmetros clínicos laboratoriais Avaliação obstétrica que estabelece a IG, e acompanha a evolução da gravidez, podendo analisar ganho ponderal, pressão arterial e crescimento uterino. A avaliação do crescimento e condições de vitalidade e maturidade do feto são fundamentais. Parto: determinar a via de parto e o momento ideal para este evento nas gestações de alto risco talvez representa ainda hoje o maior dilema vivido pelo obstetra. A decisão deve ser tomada de acordo com cada caso e é fundamental o esclarecimento da gestante e sua família, com informações completas e de uma maneira que lhes seja compreensível culturalmente, quanto às opções presentes e os riscos a eles inerentes. LISTAR MEDIDAS DE PREVENÇÕES DESSAS INFECÇÕES Fazer todas as consultas de pré-natal e realizar todos os exames pedidos pelo médico. Os exames que identificam infecções devem ser feitos mesmo que a mãe não tenha nenhum sintoma de doença. A prevenção primária da toxoplasmose em crianças e adultos, incluindo gestantes, está baseada na educação. As gestantes devem ser advertidas sobre o risco de contágio associado ao consumo de carne mal cozida e ao contato com solo contaminado com oocistos. @KATIELLEMASC I MEDICINA Se for possível, manter os gatos fora da casa durante a gestação e não alimentá-los com carne crua. Como ainda não existem vacinas contra o CMV a mudança do comportamento das mães é muito importante para reduzir significativamente o risco das gestantes CMV soronegativas de infectar- se com suas crianças pequenas. • Lavar cuidadosamente as mãos com água corrente e sabão por aproximadamente 15 a 20 segundos depois de: • Contato com os fluidos corporais do bebê e da troca de fraldas • Contato com roupa suja • Contato com os brinquedos e outros objetos do bebê • Banhar o bebê HEPATITE C: não existe uma vacina para prevenir a transmissão e a profilaxia com imunoglobulina não é efetiva. • Durante o parto, devem-se evitar procedimentos percutâneos no recém-nascido. • Não utilizar drogas intravenosas: • Se a pessoa usa drogas intravenosas, deve parar e entrar em um programa de tratamento; • Se a pessoa não pode conseguir ou seguir um tratamento, não deve compartilhar agulhas, seringas, água ou “preparados”, e. • deve vacinar-se contra a hepatite B PROFILAXIA PRÉ-GESTACIONAL E PRÉ-NATAL • Evitar comportamento de alto-risco (relações sexuais com diferentes parceiros sem proteção, seringas com agulhas usadas). • Evitar contato com sangue nos casos de pessoas que trabalham com sangue humano • Vacinação de gestantes identificadas com alto risco de infecção por VHB durante a gravidez (por exemplo, mais de um parceiro sexual nos últimos seis meses, avaliação ou tratamento por doenças de transmissão sexual, usuária recente ou habitual de drogas injetáveis, ou ter um parceiro sexual HBsAg positivo) • Se o resultado do teste para HBsAg da mulher for positivo, deverá receber atenção médica adequada e todos seus contatos domésticos, sexuaisou parceiros de injeções devem ser identificados e vacinados. As mulheres suscetíveis devem ser avisadas sobre o risco de contatos com crianças ou adultos com afecções parecidas a rubéola ou gripe durante a gravidez. Recomenda-se o rastreamento para suscetibilidade à rubéola pelos antecedentes de vacinação da paciente ou pela sorologia de todas as mulheres em idade reprodutiva na primeira consulta pré-concepção para diminuir a incidência da síndrome de rubéola congênita. A vacinação contra a rubéola deve ser recomendada a todas as mulheres não grávidas em idade reprodutiva. As gestantes que são soronegativas devem ser vacinadas contra rubéola imediatamente depois do parto, seja com vacina sarampo-rubéola ou com a triviral, com exceção daqueles casos em que duas vacinações anteriores não tenham apresentado resultados. Não existem contra-indicações para a vacinação pós-parto enquanto a mãe estiver @KATIELLEMASC I MEDICINA amamentando, nem foram registrados problemas para o embrião ou feto se uma mulher grávida é vacinada inadvertidamente contra a rubéola. DISCORRER SOBRE AS ORIENTANÇÕES DURANTE A GESTAÇÃO (BEBIDA, CIGARRO E MEDICAMENTOS) O uso de substâncias nocivas à saúde no período gravídico-puerperal, como drogas lícitas e ilícitas, deve ser investigado e desestimulado, pois crescimento fetal restrito, aborto, parto prematuro, deficiências cognitivas no concepto, entre outros, podem estar associados ao uso e abuso dessas substâncias. Os efeitos decorrentes do uso de drogas recreativas vêm sendo amplamente pesquisados, com achados que apontam a presença de álcool no leite materno em grandes proporções, que promovem alterações na produção, volume, composição e excreção do leite, causando prejuízos aos recém- natos. O uso do cigarro durante a gestação associa-se a maior risco de intercorrências maternas e tal observação é feita pela análise comparativa do risco de intercorrências entre as gestantes e não fumantes. Além disso, sabe-se que ocorre uma diminuição da quantidade de leite produzido pelas mulheres que fumam7,8. Os achados mais recentes acerca dessa questão ainda são inconclusivos, pois não elucidam a relação entre níveis hormonais, produção de leite materno (lactogênese) e sua relação com a diminuição da quantidade de leite nas mães tabagistas. Diferenças nos níveis de prolactina entre as mães fumantes e que deixaram de amamentar e as que fumam e amamentam ainda não foram evidenciadas. A utilização de medicamentos durante a gravidez deve ser vista com cautela e estar sujeita a criteriosa avaliação do risco/benefício devido às implicações sobre a saúde do feto. Levando em consideração este fato, tornam-se importantes estudos que identifiquem o uso de medicamentos pelas gestantes.
Compartilhar