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Daniel Rodrigues-M33 1- Comentar sobre o metabolismo endógeno dos lipídeos e das lipoproteínas Lipoproteínas Os tipos de lipoproteínas podem ser divididos entre a de maior densidade para a de menor densidade. Temos o quilomícrons, VLDL (lipoproteína de muita baixa densidade), LDL (lipoproteína de baixa densidade), HDL (lipoproteína de alta densidade). Função das lipoproteínas • Quilomícron: transportar triacilglicerol exógeno, ou seja, vindo do alimento. O quilomícron é formado no intestino. E tem como papel, transportar o triacilglicerol para os tecidos periféricos e, no fim, para o fígado. Então o quilomícron entra na circulação linfática para depois ser jogado no sangue, distribuir entre os tecidos periféricos, para no fim, chegar ao fígado. • VLDL (very low density lipoprotein): o VLDL é resultado da transformação do quilomícron no fígado. E a sua função é transportar triacilglicerol endógeno. Aquele produzido no fígado. • IDL (intermediate density lipoprotein): quase não é detectada no plasma sanguíneo; é formado a partir da transformação do VLDL para em LDL. • LDL (low density lipoprotein): é o principal transportador de colesterol do fígado para os tecidos periféricos; seus níveis aumentados no sangue aumentam o risco de infarto agudo no miocárdio • HDL (high density lipoprotein): atua retirando o colesterol da circulação, ou seja, transporta dos tecidos periféricos para o fígado. Seus níveis aumentados no sangue estão associados a uma diminuição do risco de infarto agudo no miocárdio. O receptor sequestrador classe B, tipo I (SR-BI) é uma proteína de membrana integral encontrada em vários tipos de células / tecidos, incluindo o fígado e as supra - renais. É mais conhecido por seu papel em facilitar a captação de ésteres de colesteril a partir de lipoproteínas de alta densidade no fígado. Esse processo impulsiona o movimento do colesterol dos tecidos periféricos em direção ao fígado, onde o colesterol pode ser secretado pelo ducto biliar ou ser usado para sintetizar hormônios esteroides. Esse movimento do colesterol é conhecido como transporte reverso de colesterol e é um mecanismo de proteção contra o desenvolvimento da aterosclerose , que é a principal causa de doenças cardíacas e derrames. Apolipoproteínas As Apolipoproteínas são classificadas em 4 categorias, A; B; C; E. As apolipoproteínas da categoria A, são encontradas principalmente nas lipoproteínas HDL, assim como são encontradas nos quilomícrons. A apolipoproteína Apo-A das HDL, estão relacionadas principalmente à enzima LCAT. A enzima lecitina-colesterol transferase catalisa a transferência da acila sn-2 da fosfotidilcolina (lecitina) para o colesterol, formando o éster de colesterol + lisolecitina, ou seja, ocorre a esterificação. Essa reação transforma a molécula polar de colesterol em éster apolar. Dessa forma, a ação da LCAT diminui a quantidade de colesterol no sangue e célula livre. A Apo-A-I é cofator da LCAT e Apo-A-IV ativa a LCAT. As apolipoproteínas B (Apo-B), podem ser divididas entre a B-100 e B-48. A Apo B-100 são encontradas nas lipoproteínas VLDL, IDL e LDL, mas principalmente na LDL. A função da Apo B-100 é interagir com receptores de LDL https://en.wikipedia.org/wiki/Scavenger_receptor_(immunology) https://en.wikipedia.org/wiki/Integral_membrane_protein https://en.wikipedia.org/wiki/Liver https://en.wikipedia.org/wiki/Adrenal https://en.wikipedia.org/wiki/Adrenal https://en.wikipedia.org/wiki/High-density_lipoprotein https://en.wikipedia.org/wiki/High-density_lipoprotein https://en.wikipedia.org/wiki/Cholesterol https://en.wikipedia.org/wiki/Liver https://en.wikipedia.org/wiki/Cholesterol https://en.wikipedia.org/wiki/Atherosclerosis https://en.wikipedia.org/wiki/Heart_disease https://en.wikipedia.org/wiki/Stroke Daniel Rodrigues-M33 existentes nos tecidos periféricos e facilitar a saída do colesterol da lipoproteína para o tecido periférico. A Apo-B-48 é encontrada principalmente nos quilomícrons, que tem a função de facilitar o transporte de triglicerídeos das células intestinas (enterócitos) para dentro do quilomícron. As apolipoproteínas C (Apo-C), podem ser dividias entre as C-I; C-II; C-III. São encontradas em todas as lipoproteínas. A Apo-C-II é encontrada principalmente nos quilomícrons e VLDL. Essa Apo-C-II é cofator da enzima lipase lipoproteica (LPL). Essa lipase é encontrada principalmente no endotélio vascular de alguns tecidos, principalmente muscular e adiposo. Tem a função de quebrar os triglicerídeos em glicerol + ácido graxo. Isso porque, os tecidos que conseguem fazer oxidação de ácidos graxos (como os músculos esqueléticos), produzem energia para seu funcionamento. A Apo- C III inativa a C-II de lipase lipoproteica. A apolipoproteína E, encontrada no quilomícron, no VLDL e no HDL, tem a função de levar as lipoproteínas de volta ao fígado. A apolipoproteína E tem a capacidade de interagir com as células hepáticas e podem entrar nessas células, devido os receptores de células hepáticas. Metabolismo (ciclo) exógeno O chamado ciclo exógeno corresponde ao processo de formação das lipoproteínas a partir da absorção dos lipídeos da dieta e seu encaminhamento para os tecidos armazenadores até o fígado. O processo tem início com a absorção dos lipídicos provenientes de uma refeição. Para aumentar e facilitar a absorção dessas grandes moléculas, estas sofrem ação dos ácidos biliares constituintes da bile, responsáveis pela formação das micelas, pequenas moléculas que facilitam a ação das lipases e a absorção dos ácidos graxos livres. A partir de então, os lipídeos são absorvidos pelas células da mucosa intestinal dentro das quais será formada a primeira lipoproteína: o quilomícron. Este é formado com a ajuda da enzima proteina microsomal de transporte (MTP), que une a apoproteina Apo B48 com as micelas. Os quilomícrons caem na circulação linfática e chegam ao ducto torácico passando para a corrente sanguínea, onde se encontram com a HDL (high density lipoprotein). Esta fornece ao quilomícrons a Apo C-II, Apo C-III, Apo E, colesterol livre, colesterol esterificado e fosfolipídeos. O quilomícron, por sua vez, fornece ao HDL a Apo A-I e a Apo A-IV. Os quilomícrons, então, continuam seu caminho até atingirem os capilares sanguíneos dos tecidos alvo. No endotélio destes, a Apo C-II entra em contato com as lipases lipoproteicas (LPL), ativando-as, e permitindo a hidrólise dos triglicerídeos constituintes do quilomícron, bem como a absorção de ácidos graxos e glicerol pelas células. No músculo, os ácidos graxos absorvidos são utilizados para a obtenção de energia, ao passo que no tecido adiposo, serão reesterificados e armazenados na forma de triacilgliceróis. Assim, à medida que os triglicerídeos dos quilomícrons vão sendo hidrolisados, a densidade desta molécula diminui, passando a ser chamada de quilomícron remanescente. O quilomícron remanescente, por sua vez, ao entrar em contato novamente com o HDL na circulação sanguínea, devolve a Apo C-II, colesterol livre e fosfolipídeos ao HDL, e, então, segue seu caminho até o fígado. No fígado, o quilomícron remanescente é degradado e as proteínas que ainda o constituíam podem ser reutilizadas em outros ciclos. Metabolismo (ciclo) endógeno Daniel Rodrigues-M33 Chamamos de ciclo endógeno o transporte das lipoproteínas a partir do fígado. Quando os ácidos graxos e colesterol obtidos na dieta vão além do necessário para atender as demandas metabólicas, estes são convertidos em triacilgliceróis ou ésteres de colesterol no fígado. O processo se inicia com a formação da VLDL (very low density lipoproteins) a partir da proteína microssomal de transporte que junta a ApoB 100 com lipídeos presentes no fígado. Assim como os quilomícrons, os VLDL na corrente sanguínea encontram com HDL os quais doam Apo C-II, Apo C-III, Apo E e colesterol esterificado ao VLDL. No entanto, ao contrário dos quilomícrons, o VLDL continua seu caminhona circulação sem doar nada ao HDL. Novamente, ao chegar nos tecidos alvo, a Apo C-II do VLDL ativa as lipases lipoproteicas (LPL) presente no endotélio dos capilares dos tecidos, permitindo a hidrólise de seus triglicerídeos. Após perder uma certa quantidade de triglicerídeos e novamente encontrar o HDL na circulação sanguínea, o VLDL doa ao HDL a Apo C-II, Apo CIII e Apo E, passando então a ser chamada de IDL (intermediate density lipoproteins) uma vez que perdeu grande parte de sua densidade. A lipase lipoprotéica (LPL) é a enzima que catalisa a hidrólise dos triglicérides dos quilomícrons e das lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL). Essa reação ocorre na superfície endotelial dos capilares sanguíneos, onde a lipase fica presa através de moléculas de proteoglicanos O IDL se encaminha ao fígado onde será reabsorvido podendo ser totalmente degradado, de forma a reutilizar suas lipoproteínas, ou pode formar o LDL (low density lipoprotein). Esta lipoproteína, rica em ésteres de colesterol, cai na corrente sanguínea e transporta o colesterol aos tecidos extra hepáticos como músculo, tecido adiposo e glândulas suprarrenais. Após exercer sua função, o LDL volta ao fígado e o colesterol remanescente pode ser utilizado para a formação de ácidos biliares ou será reesterificado. Posteriormente a esse processo, se iniciará o transporte reverso do colesterol. Esse processo consiste na retirada de colesterol da corrente sanguínea e seu encaminhamento para o fígado, onde será metabolizado. O chamado transporte reverso do colesterol é realizado pelo HDL em cinco etapas. Incialmente, o colesterol é retirado das células extra hepáticas por aceptores específicos. Depois, por ação da enzima lecitinacolesterol-aciltransferase (LCAT) presentes na superfície do HDL, o colesterol livre é esterificado evitando seu contato com outras moléculas e aumentando sua estabilidade para o transporte. Lecitina colesterol aciltransferase (LCAT), enzima plasmática que esterifica o colesterol. Ela está presente no HDL e sua função é esterificar o colesterol livre adicionando um ácido graxo de um fosfolipídio nesse colesterol transformando-o em éster de colesterol para que assim ele seja englobado pelo HDL para leva-lo de volta para o fígado. Em seguida, esse colesterol esterificado é doado a outras lipoproteínas, como o quilomícron, que está se encaminhando ao fígado. Assim, ocorre o remodelamento do HDL, ou seja, a lipoproteína perde a enzima responsável pela esterificação do colesterol e suas Apolipoproteínas, perdendo, portanto, sua função. Por fim, o HDL é captado pelo fígado, rins e intestino, sendo excretado. A proteína responsável pela transferência de colesterol esterificado, é denominada de proteína transferidora de ésteres de colesterol, também conhecida como CETP (Proteína de Transferência de Colesterol Esterificado). É uma proteína do plasma que facilita o transporte de ésteres de colesterol e triglicérides entre as lipoproteínas, mantendo o equilíbrio dinâmico entre conteúdo lipídico e conteúdo proteico. Esta entrega do colesterol do HDL para o fígado e tecidos esteroidogênicos ocorre por mediação do receptor SR-BI, sem que ocorra endocitose. Desse modo, a HDL libera seu colesterol e, descarregado, pode recircular, extraindo mais lipídeos de quilomícrons remanentes, VLDL e células sobrecarregadas com colesterol. Em resumo, o HDL irá retirar o colesterol das células extra-hepáticas por aceptores específicos, ou seja, por sistema de chaves, que são as apolipoproteína e fechaduras que são receptores específicos nessa célula. Depois disso, por ação da LCAT, irá esterificar todo o colesterol de dentro da lipoproteína HDL. Assim, evitando que o colesterol faça contado com outras substancias em outras ligações e também transforma em uma substância mais estável para transporte. Depois disso, irá transferir esse colesterol esterificado para lipoproteínas que contêm Apo-B, e estas lipoproteínas que encaminham para as células para que sejam metabolizadas ou excretadas. Depois que ele passa o conteúdo, acontece um remodelamento da HDL, ou seja, perde as apoproteínas que são capazes de fazer esterificação do colesterol e perdem as apoproteínas que são capazes de fazer ligações com outras lipoproteínas. E visto que não possui mais capacidade para realizar função, o HDL será capturado pelo fígado, rins e intestino delgado. Daniel Rodrigues-M33 2- Descrever processo de aterogênese Aterosclerose é a doença das artérias de tamanho médio e grande, em que as lesões de gordura chamadas placas ateromatosas se desenvolvem nas superfícies das paredes arteriais. Em contraste, a arterioesclerose é o termo geral que se refere a vasos sanguíneos espessados e enrijecidos de todos os tamanhos. A aterosclerose é uma doença inflamatória crônica de origem multifatorial, que ocorre em resposta à agressão endotelial, acometendo principalmente a camada íntima de artérias de médio e grande calibre. Em geral, as lesões iniciais, denominadas estrias gordurosas, formam-se ainda na infância e caracterizam-se por acúmulo de colesterol em macrófagos. A formação da placa aterosclerótica inicia-se com a agressão ao endotélio vascular por diversos fatores de risco, como dislipidemia, hipertensão arterial ou tabagismo. Como consequência, a disfunção endotelial aumenta a permeabilidade da íntima às lipoproteínas plasmáticas, favorecendo a retenção destas no espaço subendotelial. Retidas, as partículas de LDL sofrem oxidação, causando a exposição de diversos neoepítopos (novos antígenos), tornando-as imunogênicas. O depósito de lipoproteínas na parede arterial, processo chave no início da aterogênese, ocorre de maneira proporcional à concentração destas lipoproteínas no plasma. Além do aumento da permeabilidade às lipoproteínas, outra manifestação da disfunção endotelial é o surgimento de moléculas de adesão leucocitária na superfície endotelial, processo estimulado pela presença de LDL oxidada. As moléculas de adesão são responsáveis pela atração de monócitos e linfócitos para a intimidade da parede arterial. Induzidos por proteínas quimiotáticas, os monócitos migram para o espaço subendotelial, no qual se diferenciam em macrófagos, que, por sua vez, captam as LDL oxidadas. Os macrófagos repletos de lípides são chamados de células espumosas e são o principal componente das estrias gordurosas, lesões macroscópicas iniciais da aterosclerose. Uma vez ativados, os macrófagos são, em grande parte, responsáveis pela progressão da placa aterosclerótica por meio da secreção de citocinas, que amplificam a inflamação, e de enzimas proteolíticas, capazes de degradar colágeno e outros componentes teciduais locais. Outras células inflamatórias também participam do processo aterosclerótico. Os linfócitos T, embora menos numerosos que os macrófagos no interior do ateroma, são de grande importância na aterogênese. Mediante interação com os macrófagos, as células T podem se diferenciar e produzir citocinas que modulam o processo inflamatório local. Diversos mecanismos têm sido propostos para a aterogênese e suas complicações, como a oxidação de lipoproteínas (principalmente lipoproteínas de baixa densidade) e a alteração fenotípica do endotélio vascular, produzindo substâncias quimiotáticas de linfócitos, liberando espécies reativas de oxigênio, promovendo vasoconstrição e reduzindo propriedades antitrombóticas. Recentemente, o comprometimento da resposta imune de linfócitos, diminuindo a produção de anticorpos anti-LDL oxidada, foi associado à aterosclerose e complicações. Daniel Rodrigues-M33 Alguns mediadores da inflamação estimulam a migração e a proliferação das células musculares lisas da camada média arterial. Estas, ao migrarem para a íntima, passam a produzir não só citocinas e fatores de crescimento, como também matriz extracelular, que formará parte da capa fibrosa da placa aterosclerótica. A placa aterosclerótica plenamentedesenvolvida é constituída por elementos celulares, componentes da matriz extracelular e núcleo lipídico e necrótico, formado principalmente por debris de células mortas. As placas estáveis caracterizam-se por predomínio de colágeno, organizado em capa fibrosa espessa, escassas células inflamatórias, e núcleo lipídico e necrótico de proporções menores. As instáveis apresentam atividade inflamatória intensa, especialmente em suas bordas laterais, com grande atividade proteolítica, núcleo lipídico e necrótico proeminente, e capa fibrótica tênue. A ruptura desta capa expõe material lipídico altamente trombogênico, levando à formação de um trombo sobrejacente. Este processo, também conhecido por aterotrombose, é um dos principais determinantes das manifestações clínicas da aterosclerose. 3- Citar a classificação dos distúrbios lipoproteicos segundo a Organização Mundial da Saúde (Fredrickson) As dislipidemias podem ser classificadas em hiperlipidemias (níveis elevados de lipoproteínas) e hipolipidemias (níveis plasmáticos de lipoproteínas baixos). Classificação fenotípica (Fredrickson) A classificação proposta por Fredrickson é baseada nos padrões de lipoproteínas associados a concentrações elevadas de colesterol e/ou TG, não sendo considerado o HDL-c. A classificação de Fredrickson tem por base a separação eletroforética e/ou por ultracentrifugação das frações lipoproteicas, distinguindo-se seis tipos. Embora se reconheça a grande contribuição desta classificação, ela é hoje muito pouco utilizada, pois pouco colabora para o conhecimento da etiologia (exceto na disbetalipoproteinemia) ou da decisão terapêutica. Classificação etiológica Tanto as hiper quanto as hipolipidemias podem ter causas primárias ou secundárias: Daniel Rodrigues-M33 • Causas primárias: são aquelas nas quais o distúrbio lipídico é de origem genética. • Causas secundárias: a dislipidemia é decorrente de estilo de vida inadequado, de certas condições mórbidas, ou de medicamentos Classificação laboratorial As dislipidemias podem ser classificadas de acordo com a fração lipídica alterada em: • Hipercolesterolemia isolada: aumento isolado do LDL-c (LDL-c ≥ 160 mg/dL). • Hipertrigliceridemia isolada: aumento isolado dos triglicérides (TG ≥ 150 mg/dL ou ≥ 175 mg/dL, se a amostra for obtida sem jejum). • Hiperlipidemia mista: aumento do LDL-c (LDL-c ≥ 160 mg/dL) e dos TG (TG ≥ 150 mg/dL ou ≥ 175 mg/ dL, se a amostra for obtida sem jejum). Se TG ≥ 400 mg/dL, o cálculo do LDL-c pela fórmula de Friedewald é inadequado, devendo-se considerar a hiperlipidemia mista quando o não HDL-c ≥ 190 mg/dL. • HDL-c baixo: redução do HDL-c (homens < 40 mg/dL e mulheres < 50 mg/dL) isolada ou em associação ao aumento de LDL-c ou de TG. 4- Descrever as principais causas genéticas das dislipidemias primárias e relacionar com o tipo de Fredrickson e com o risco clínico e explicar as apresentações clínicas mais frequentes. I- Hipertrigliceridemia familiar A hipertrigliceridemia familiar, hiperlipoproteinemia tipo IV ou poligênica é decorrente de uma produção exagerada de VLDL e transmitida como um defeito autossômico dominante. Os níveis séricos de TG são, em geral, moderados, com níveis de TG de 500 a 1.000 mg/ℓ, enquanto o CT está normal ou discretamente elevado. É uma dislipidemia frequente, em geral diagnosticada devido à associação a outras patologias (p. ex., obesidade, DM, hipotireoidismo), ingestão excessiva de bebidas alcoólicas ou uso de alguns fármacos (p. ex., diuréticos tiazídicos, betabloqueadores, estrogênios, tamoxifeno etc.). Na hipertrigliceridemia familiar, geralmente não há manifestações clínicas, tais como xantomas, arco corneano ou xantelasmas. Episódios de pancreatite podem ocorrer em virtude dos níveis dos TG. Cerca de 70% dos pacientes com hipertrigliceridemia familiar preenchem os critérios diagnósticos de síndrome metabólica. II- Disbetalipoproteinemia Anteriormente conhecida como hiperlipoproteinemia tipo III, a disbetalipoproteinemia é predominante em homens. Entre mulheres, geralmente só se manifesta após a menopausa. Decorre de mutação no gene que codifica a estrutura da ApoE, levando ao surgimento de isoformas da ApoE que não interagem normalmente com os seus receptores. Nessa condição, existe um acúmulo de remanescentes de QM, VLDL e IDL. Caracteristicamente, os níveis da LDL estão diminuídos, refletindo o bloqueio da transformação normal dos remanescentes da VLDL em LDL. Todas essas partículas remanescentes são ricas em ésteres do colesterol, de maneira que, quase sempre, os níveis de CT estão tão elevados quanto os dos TG. A principal função da ApoE é a constituição do transporte reverso de colesterol, que basicamente leva-o dos tecidos da periferia para o fígado, onde serão degradados. Portanto, essa proteína age na remoção dos resíduos dos quilomícrons e VLDs circulantes. Ela é codificada por um gene localizado no cromossomo 19. O gene da apoE possui três alelos comuns, E2, E3 e E4, que codificam isoformasdistintas da apo E, E2, E3 e E4. A doença só acontece no indivíduo homozigoto para o alelo ApoE2, situação observada em cerca de 1% da população. No entanto, a prevalência da disbetalipoproteinemia é muito menor (1:10.000), indicando a necessidade de outros fatores. A maioria dos pacientes (cerca de 80%) apresenta xantomas tuberosos ou tuberoeruptivos. Localizados nas superfícies extensoras, os tuberosos são geralmente móveis e de cor alaranjada ou vermelha. Já os tuberoeruptivos são nódulos amarelados ou róseos. Diversos pacientes apresentam tolerância à glicose diminuída, e a obesidade é muito frequente. A doença aterosclerótica das coronárias e demais artérias é um achado bastante comum, em especial envolvendo membros inferiores (claudicação intermitente e gangrena). Episódios de pancreatite aguda secundários à hipertrigliceridemia ocasionalmente acontecem. III-Hipercolesterolemia familiar Daniel Rodrigues-M33 A hipercolesterolemia familiar (HF) é uma doença monogênica, em sua maioria, apresenta um padrão de herança autossômica dominante, acomete 1 em cada 250 pessoas no mundo, podendo levar ao desenvolvimento prematuro de doença cardiovascular aterosclerótica. Antigamente denominada hiperliproteinemia do tipo IIa na classificação de Fredrickson, a hipercolesterolemia familiar caracteriza-se por elevações de CT e LDLc e níveis de TG normais. O fenótipo clínico de HF é geralmente decorrente de defeitos no gene LDLR, que codifica o receptor de LDL (LDL-R). Pode também ser secundário a defeitos no gene APOB, que codifica a apolipoproteína B-100 (Apo B-100), onde a Apo B-100 defeituosa possui menor afinidade pelo LDL-R. O fenótipo pode ser também, quando existe catabolismo acelerado do LDL-R, devido a mutações com ganho de função no gene pró-proteína convertase subutilisina/ kexina tipo 9 (PCSK-9), que codifica a proteína NARC-1 que participa do catabolismo do LDL-R. O receptor de LDL está localizado sobre a superfície celular. A LDL liga-se ao receptor e é conduzida ao citoplasma por vesículas recobertas formando os endossomos, que se fundem ao lisossomo. A apo B-100 é essencial para ligação das partículas de LDL aos receptores celulares, permitindo a entrada de LDL nas células. A PCSK9 é uma proteína que promove a degradação de receptores hepáticos de LDL, levando à hipercolesterolemia. As manifestações clínicas associam-se aos níveis elevados de LDLc e são resultado de mutações dos genes que codificam o receptor de LDL (LDLR), o que leva a menor catabolismo da LDL e, consequentemente, a aumento dos níveis do LDLc. A maioria dos pacientes com HF heterozigota têm um CT > 300 mg/d ℓ e o LDLc está acima de 250 mg/d ℓ. Entretanto, adultos com LDLc ≥ 190 mg/dℓ e crianças/adolescentes (< 20 anos de idade) com LDLc ≥ 160 mg/dℓ já devem ser considerados para rastreio na suspeita do diagnóstico. Em sua maioria, os pacientes são assintomáticos, apesarde a doença aterosclerótica subclínica (p. ex., aumento do espessamento médio intimal das carótidas e calcificação coronária). A HF homozigótica tem um quadro clínico mais dramático, pois os pacientes podem apresentar doença cardiovascular aterosclerótica precoce com níveis de LDLc que ultrapassam 500 mg/dℓ. Manifestações clínicas como angina, IAM e morte súbita podem ocorrer antes dos 30 anos de idade. Há casos de IAM causado por estreitamento grave de valvas cardíacas em crianças com menos de 10 anos de idade. Suspeita de uma paciente com HF homozigótica também se baseia na história familiar (igual da HF heterozigótica), níveis elevados de LDLc (> 500 mg/dℓ) e alterações no exame físico. Os achados incluem xantomas tendinosos que, quando presentes, são muito característicos da HF, principalmente na região do calcâneo, mas também podem acometer outros tendões do corpo; xantelasmas; e arco corneano. Xantomas tuberosos também podem ser encontrados na HF. Essas alterações são incomuns nos pacientes heterozigotos. IV-Hipercolesterolemia poligênica Causa mais comum de hipercolesterolemia isolada, a hipercolesterolemia poligênica responde por aproximadamente 85% dos casos de hiperlipoproteinemia padrão IIa de Fredrickson. Os pacientes apresentam um catabolismo defeituoso da LDL, associado ao aumento da sua produção, possivelmente por vários polimorfismos em um único nucleotídio, levando a concentrações de LDLc superiores ao limiar diagnóstico de HF. A hipercolesterolemia poligênica ocorre em indivíduos suscetíveis em associação a fatores ambientais; o CT situa-se em torno de 300 a 350 mg/dℓ, e não há elevação do TG. O risco de DAC (doença arterial coronarina) e aterosclerose para portadores dessa condição é alto e, quando associado às causas secundárias de dislipidemias, o quadro pode ser ainda mais grave. O diagnóstico é feito após exclusão de outras causas genéticas de dislipidemias, história familiar ausente (< 10% dos parentes de primeiro grau) e ausência de xantomas tendinosos. V-Hiperlipidemia familiar combinada Transmitida de modo autossômico dominante, a hiperlipidemia familiar combinada (HFC) é a dislipidemia primária mais frequente. Na HFC, existe uma produção aumentada de VLDL pelo fígado, com redução da capacidade de remoção de lipoproteínas ricas em TG (VLDL e QM). Os pacientes podem ter níveis de LDL e VLDL aumentados, bem como elevação apenas de uma dessas lipoproteínas. Assim, existem três fenótipos para a HFC: hipertrigliceridemia, hipercolesterolemia ou ambas. Um fato importante é que o padrão de alteração lipídica pode se modificar ao longo do tempo em um mesmo paciente. A doença costuma se manifestar plenamente na idade adulta, sendo excepcional a detecção de hiperlipidemia em crianças. Com relação à apresentação clínica, os pacientes podem apresentar-se com xantelasmas, enquanto obesidade e diminuição da tolerância à glicose são também frequentes. O risco de DAC nos Daniel Rodrigues-M33 indivíduos com HFC é significativamente elevado: trata-se da dislipidemia mais frequente em pacientes afetados por DAC (10%) e entre os sobreviventes de IAM com idade acima de 60 anos (11,3%). VI-Hipoalfalipoproteinemia familiar Na maioria das vezes, a hipoalfalipoproteinemia familiar tem transmissão autossômica dominante e se caracteriza por deficiência parcial de HDL. É comum (prevalência em torno de 1/400) e se manifesta por baixos níveis de HDLc e risco aumentado para DAC prematura. O diagnóstico fica sugerido pela detecção de valores do HDLc < 30 mg/dℓ em homens e < 40 mg/dℓ em mulheres antes da menopausa. Não há achados físicos característicos, mas frequentemente existe uma história familiar de HDLc baixo e DAC prematura. Os defeitos metabólicos e genéticos que levam à redução do HDLc são desconhecidos, mas supõe-se que até 50% dos níveis baixos do HDLc estejam ligados à lipase hepática ou ao locus do gene da ApoAI-CIII-AIV. VII-Deficiência da proteína transferidora de ésteres de colesterol Tendo em vista que CETP regulam os níveis plasmáticos do HDLc e o tamanho das partículas de HDL, elas são consideradas proteínas chave no transporte reverso do colesterol, um sistema protetor contra aterosclerose. Deficiência de CETP é uma condição rara, exceto entre japoneses, nos quais metade dos casos resulta de mutações no gene da CETP. Caracteriza-se por níveis de HDLc muito aumentados (geralmente > 100 mg/dℓ) por atividade diminuída da CETP. Nos heterozigotos, a elevação do HDLc é moderada. O défice de LCAT é causado por défice ou ausência da atividade catalítica da enzima LCAT, que catalisa a formação de ésteres de colesterol em lipoproteínas e é codificada pelo gene LCAT (16q22.1) A apolipoproteína A-1 (apo A-I) é o principal componente proteico da partícula HDL. Participa da remoção do excesso de colesterol dos tecidos, sendo responsável pela ativação da colesterolaciltransferase que esterifica o colesterol plasmático. A deficiência da proteína de transferência de colesteril éster (CETP) é uma rara doença autossômica recessiva causada por uma mutação do gene CETP. Esse gene facilita a transferência de ésteres de colesterol das HDL para outras lipoproteínas e a deficiência de CETP provoca LDL baixa e diminui a depuração de HDL. 5- Explicar 05 causas comuns das dislipidemias secundárias e a anormalidade lipídica dominante atual I-Diabetes mellitus A resistência à insulina está relacionada com aumento na concentração de triglicérides, redução de HDL-C e maior formação de LDL pequenas. A hipertrigliceridemia, principal característica da dislipidemia da síndrome metabólica e do diabetes mellitus, é causada primariamente pelo aumento da produção de triglicérides e apo B-100 pelo fígado, levando à maior formação VLDL. A secreção de apo B-100 é regulada pela disponibilidade de lipídeos nos hepatócitos. Se o conteúdo de lipídeos for escasso, a apo B-100 será degradada com menor quantidade de VLDL formada. A resistência à insulina está associada com o aumento da produção de lipídeos pelas três vias principais: fluxo de ácidos graxos para o fígado proveniente do tecido adiposo, captação hepática de VLDL, IDL e remanescentes de quilomícrons, e síntese hepática de ácidos graxos. Consequentemente, há elevação da formação das partículas ricas em triglicérides, maior aporte destas ao fígado e estímulo à produção de lipase lipoprotéica hepática. Dessa forma, o aumento da enzima lipase lipoprotéica hepática contribui ainda mais para a formação de LDL e HDL pequenas. Além disso, a Daniel Rodrigues-M33 elevação da concentração de ácidos graxos livres no plasma restringe a ação da lipoproteína lipase periférica, pelo fato de sua maior concentração na interface partícula-enzima bloquear a interação da lipoproteína lipase periférica com quilomícrons e VLDL. Outra característica da dislipidemia diabética é a maior concentração de LDL pequenas e mais densas. Essas partículas estão associadas à aterogenicidade. A formação de LDL pequenas e densas é dependente da proteína de transferência de colesterol éster, que promove a troca de colesterol éster da LDL por triglicérides de VLDL e quilomícrons. O maior conteúdo de triglicérides nas LDL favorece a atividade das enzimas lipoproteína lipase periférica e lipase hepática, gerando as LDL menores e mais densas. As concentrações de HDL-colesterol e apo AI estão caracteristicamente reduzidas nos indivíduos portadores de resistência à insulina. Essa alteração é decorrente da ação da proteína de transferência de colesterol éster, mediando a troca de colesterol éster da HDL por triglicérides das lipoproteínas VLDL e quilomícrons. O catabolismo da apo AI está aumentado no DM tipo 2. II- Síndrome nefrótica A hiperlipidemia na SN é caracterizada pelo aumento dos níveis séricos de colesterol total, da lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL), lipoproteína de baixa densidade (LDL) e da lipoproteína a [Lp(a)], com níveis normais ou levementereduzidos da lipoproteína de alta densidade (HDL), especialmente a fração HDL2. O aumento dos triglicerídeos, da VLDL e da lipoproteína de densidade intermediária (IDL) resulta da diminuição de sua depuração, em parte decorrente da menor ligação da lipase lipoproteica (LLP) ao endotélio vascular e da redução de apolipoproteina C-II, ativadora da LLP. Além da síntese de LDL estar aumentada, existe uma deficiência de seus receptores no fígado e também da enzima lipase hepática, resultando em menor captação e catabolismo do LDL colesterol. A concentração de HDL usualmente é normal, mas com a inibição da enzima lecitina-colesterol aciltransferase, ocorre uma maturação deficiente de HDL para HDL2, prejudicando a remoção do colesterol tecidual para metabolização hepática. III- Hipotireoidismo O hipotireoidismo é uma causa comum de hiperlipidemia. A manifestação clássica é a elevação na concentração de LDL-C, mas também pode haver hipertrigliceridemia. A elevação de LDL-C está associada à diminuição da remoção de LDL por causa da menor síntese de receptor de LDL. O hipotireoidismo também pode reduzir a atividade da lipoproteína lipase periférica, predispondo ao aumento da concentração plasmática de triglicérides. IV-Consumo de álcool A ingestão regular de bebidas alcoólicas pode alterar significativamente o metabolismo dos triglicérides. O álcool é metabolizado basicamente por meio de três vias: catalase, oxidação microssomal e álcool desidrogenase, sendo esta última a via preponderante. A álcool desidrogenase converte o álcool em acetaldeído, que sob ação da acetaldeído desidrogenase é convertido em CO2, H2O e acetil CoA. O acetil CoA é o precursor da síntese de ácidos graxos. Por sua vez, o álcool provoca aumento na concentração de NADH, que inibe a oxidação de ácidos graxos no fígado, elevando a produção de triglicérides e VLDL. A hipertrigliceridemia é a alteração mais frequente, mas geralmente associada ao aumento de HDL-C, decorrente da menor atividade da lipase hepática. IV- Terapia estrogênica Os estrógenos estimulam a produção de triglicérides, de maneira dose-dependente. O uso de contraceptivos e a terapia de reposição hormonal podem provocar a hipertrigliceridemia. Os estrógenos atuam elevando a produção de VLDL, porém aumentam a remoção de LDL da circulação por maior síntese de receptores de LDL, podendo diminuir as concentrações plasmáticas de LDL-C. 6- Descrever os critérios de identificação de pacientes com alto risco de eventos coronarianos segundo a Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose Muito alto risco Indivíduos que apresentem doença aterosclerótica significativa (coronária, cerebrovascular, vascular periférica), com ou sem eventos clínicos, ou obstrução ≥ 50% em qualquer território arterial Daniel Rodrigues-M33 Alto risco • Portadores de aterosclerose na forma subclínica documentada por metodologia diagnóstica: ultrassonografia de carótidas com presença de placa; Índice Tornozelo-Braquial (ITB) < 0,9; escore de Cálcio Arterial Coronariano (CAC) > 100 ou a presença de placas ateroscleróticas na angiotomografia (angio-CT) de coronárias. • Aneurisma de aorta abdominal. • Doença renal crônica definida por Taxa de Filtração Glomerular (TFG) < 60 mL/min, e em fase não dialítica. • Aqueles com concentrações de LDL-c ≥ 190 mg/dL. • Presença de diabetes melito tipos 1 ou 2, e com LDL-c entre 70 e 189 mg/dL e presença de Estratificadores de Risco (ER) ou Doença Aterosclerótica Subclínica (DASC) Definem-se ER e DASC no diabetes como: • ER: idade ≥ 48 anos no homem e ≥ 54 anos na mulher; tempo de diagnóstico do diabetes > 10 anos; história familiar de parente de primeiro grau com DCV prematura (< 55 anos para homem e < 65 anos para mulher); tabagismo (pelo menos um cigarro no último mês); hipertensão arterial sistêmica; síndrome metabólica, de acordo com a International Diabetes Federation; presença de albuminúria > 30 mg/g de creatinina e/ou retinopatia; TFG < 60 mL/min • DASC: ultrassonografia de carótidas com presença de placa > 1,5 mm; ITB < 0,9; escore de CAC > 10; presença de placas ateroscleróticas na angio-CT de coronárias. • Pacientes com LDL-c entre 70 e 189 mg/dL, do sexo masculino com risco calculado pelo ERG > 20% e nas mulheres > 10% Risco intermediário Indivíduos com ERG entre 5 e 20% no sexo masculino e entre 5 e 10% no sexo feminino ,ou ainda os diabéticos sem os critérios de DASC ou ER listados anteriormente. Baixo risco Pacientes do sexo masculino e feminino com risco em 10 anos < 5%, calculado pelo ERG. 7-Diagnóstico e exame laboratorial O perfil lipídico é definido pelas determinações bioquímicas do colesterol total (CT), do HDLc, do LDLc e dos TG. Para a coleta de sangue, recomenda-se que o paciente mantenha sua dieta habitual e estado metabólico saudável, não Daniel Rodrigues-M33 sendo mais necessário o jejum. A justificativa para tal mudança é simples: os TG levam de 8 a 12 horas para voltar aos níveis de jejum, e o homem passa a maior parte do dia em estado pós-prandial. De acordo com a Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemia e Prevenção da Aterosclerose – 2017, os valores de referência (desejáveis) dos lipídios para adultos com mais de 20 anos de idade são um CT < 190 mg/dℓ, HDLc > 40 mg/dℓ, TG < 175 mg/dℓ sem jejum e TG < 150 mg/dℓ com jejum. Todo indivíduo com DAC ou outras manifestações de doença aterosclerótica (cerebrovascular, carotídea e da aorta abdominal e/ou dos seus ramos terminais) deve ter perfil lipídico determinado obrigatoriamente, independentemente de idade ou sexo. Recomenda-se a avaliação de risco cardiovascular e a determinação do perfil lipídico em todos os indivíduos com mais de 20 anos de idade. Tanto os exames laboratoriais quanto a avaliação de risco para doença cardiovascular aterosclerótica devem ser repetidos a cada 5 anos, desde que não apareçam novos fatores de riscos. Recomenda-se a avaliação do perfil lipídico em crianças e adolescentes cujos parentes em primeiro grau apresentem história de dislipidemias (CT > 240 mg/dℓ e/ou TG > 400 mg/dℓ) ou doenças ateroscleróticas (DAC, acidente vascular cerebral [AVC] e/ou doença arterial periférica) antes dos 55 anos de idade para homens e 65 anos de idade para mulheres. Em relação aos sinais e sintomas, as hiperlipidemias, em geral, não apresentam manifestações clínicas. Nos casos mais severos, pode ocorrer a formação de xantomas. Diversos tipos de xantomas podem ser observados e caracterizam as diferentes dislipidemias. O desenvolvimento de xantomas tendinosos e tuberosos, xantelasmas e arco córneo são sinais clínicos característicos das hipercolesterolemias primárias, os quais refletem acúmulo de colesterol em macrófagos infiltrados nos tendões e na pele. Em decorrência da elevação plasmática do LDL colesterol, ocorrem maior captação de LDL, desenvolvimento acelerado de aterosclerose e, consequentemente, maior incidência de doença cardiovascular. 8- Comentar o tratamento não medicamentoso e medicamentoso para dislipidemias I-Não medicamentoso a) Terapia nutricional: Nos últimos anos, o padrão alimentar e o estilo de vida saudável ganharam evidência em estudos epidemiológicos observacionais e de intervenção. reforçaram as diretrizes nutricionais que preconizam dieta isenta de ácidos graxos trans, o consumo de < 10% do valor calórico total de ácidos graxos saturados para indivíduos saudáveis e < 7% do valor calórico total para aqueles que apresentarem risco cardiovascular aumentado. O padrão alimentar deve ser resgatado por meio do incentivo à alimentação saudável, juntamente da orientação sobre a seleção dos alimentos, o modo de preparo, a quantidade e as possíveis substituições alimentares, sempre em sintonia com a mudança do estilo de vida. b) Dieta: O consumo reduzido de açúcares simples (mono e diglicerídeos) ajuda a melhorar a resistência à insulina e afeta positivamente a produção hepáticade lipoproteínas ricas em TG. Existem também evidências associando o consumo de frutose com aumento nos níveis de TG (sobretudo nos pacientes com hipertrigliceridemia). Por exemplo, um consumo de frutose que atinja 15 a 20% da energia total ingerida pode elevar os TG em até 30 a 40%. A sacarose, um dissacarídeo contendo glicose e frutose, representa uma importante fonte de frutose na dieta. c) Atividade Física: No endotélio, o exercício físico aumenta a biodisponibilidade de óxido nítrico e diminui a concentração de endotelina. Em relação aos lípides plasmático, o exercício físico aumenta os níveis de HDL-c. Deve ser encorajada atividade física aeróbica por, pelo menos, 30 minutos em 5 dias da semana. Recomenda-se atividade física que produza aumento em 60 a 75% da frequência cardíaca máxima. Quando o paciente é submetido à dieta e à perda de peso, os níveis de TG reduzem, em média, 25% (até cerca de 50%), mas há grande variação individual d) Cessação do tabagismo: A doença aterosclerótica encontra-se relacionada com a disfunção endotelial. A exposição à fumaça do cigarro causa prejuízos à vasodilatação dependente do endotélio em artérias coronárias, assim como em leitos microvasculares. A cessação do tabagismo é benéfica em qualquer fase da vida do fumante. A prática clínica recomenda o uso de farmacoterapia para a cessação do tabagismo em fumantes. motivados a parar de fumar. Os medicamentos de primeira linha para a cessação tabágica são a Terapia de Reposição de Nicotina (TRN) com goma ou patch, bupropiona e vareniclina. II-Tratamento medicamentoso Daniel Rodrigues-M33 Vários fármacos diminuem o LDL plasmático. A terapia medicamentosa é usada complementarmente às medidas dietéticas e à correção de outros fatores de risco cardiovascular modificáveis. Os principais agentes usados clinicamente são: • estatinas: inibidores da 3-hidroxi-3-metilglutaril-coenzima A (HMG-CoA) redutase; • fibratos; • inibidores da absorção de colesterol; • ácido nicotínico e seus derivados; • derivados de óleo de peixe. Indicações de tratamento farmacológico para a hipertrigliceridemia pelas Diretrizes brasileiras • TG > 500 mg/dℓ: indicado o uso de fibrato, independentemente do risco CV, juntamente com as MEV (visando à prevenção de pancreatite aguda) ; adicionar ácido nicotínico e/ou ômega3, se necessário • TG < 500 mg/dℓ: priorizar a redução de risco CV com o uso de estatinas (se necessário) • Em casos de dislipidemia mista e TG < 500 mg/dl, a adição de um fibrato (de preferência, o fenofibrato) à estatina pode trazer benefícios cardiovasculares em diabéticos com TG > 204 mg/dℓ e HDLc < 34 mg/dℓ. a) Estatinas: inibidores da HMG-coa redutase A etapa enzimática limitante na síntese do colesterol é a HMG- CoA redutase, que catalisa a conversão de HMG-CoA a ácido mevalônico. A sinvastatina, a lovastatina e a pravastatina são inibidores competitivos, específicos e reversíveis da HMG-CoA redutase, com valores de Ki de aproximadamente 1 nmol/l. A atorvastatina e a rosuvastatina são inibidores de ação prolongada. A diminuição da síntese hepática de colesterol suprarregula (upregulates) a síntese do receptor de LDL, aumentando a remoção de LDL do plasma para os hepatócitos. O principal efeito bioquímico das estatinas, portanto, é reduzir o LDL plasmático. Também há certa redução dos triglicerídeos plasmáticos e aumento do HDL. As estatinas de ação curta são dadas por via oral, à noite, para reduzir o pico matinal de síntese de colesterol. São bem absorvidas e extraídas pelo fígado, seu local de ação, e sofrem extenso metabolismo pré-sistêmico por meio das vias citocromo P450 e glicuronidação. A sinvastatina é um pró-fármaco inativo de lactona; é metabolizada no fígado dando origem à sua forma ativa, o ácido graxo β-hidroxilado correspondente. b) Fibratos Estão disponíveis vários derivados do ácido fíbrico (fibratos), incluindo bezafibrato, ciprofibrato, genfibrozila, fenofibrato e clofibrato. Eles reduzem acentuadamente o VLDL circulante e, portanto, os triglicerídeos, com redução modesta (cerca de 10%) do LDL e aumento de aproximadamente 10% do HDL. São agonistas dos receptores nucleares PPARα, presentes no fígado, músculo esquelético, músculo cardíaco e células da parede arterial; em seres humanos, os principais efeitos são de aumento da transcrição dos genes de lipoproteína lipase, apoA1 e apoA5. Aumentam a captação hepática de LDL. Além dos efeitos sobre lipoproteínas, os fibratos reduzem a proteína C-reativa e os fibrinogênio plasmáticos, aumentam a tolerância à glicose e inibem a inflamação da musculatura lisa vascular por inibição da expressão do fator de transcrição nuclear NFK B. c) Fármacos que inibem a absorção do colesterol (Ezetimiba) A ezetimiba pertence ao grupo de azetidinonas inibidoras da absorção de colesterol e é usada como coadjuvante à dieta e ao uso de estatinas na hipercolesterolemia. No duodeno, inibe a absorção de colesterol (e de estanóis vegetais) por bloqueio de uma proteína transportadora (NPC1L1) nas microvilosidades (borda em escova) dos enterócitos, sem afetar a absorção de vitaminas lipossolúveis, triglicerídeos ou ácidos biliares. A ezetimiba é administrada por via oral e absorvida nas células epiteliais do intestino, onde se localiza nas microvilosidades, que se presume ser seu ponto de ação. Também é extensamente (> 80%) metabolizada, originando um metabólito ativo. A recirculação êntero-hepática faz com que sua eliminação seja lenta. A meia-vida terminal é de aproximadamente 22 horas. Passa para o leite (pelo menos em estudos animais) e está contraindicada para lactantes. É em geral bem tolerada, mas pode causar diarreia, dor abdominal ou cefaleia; foram relatados rash e angioedema. d) Ácido nicotínico (Niacina) Daniel Rodrigues-M33 O ácido nicotínico é o agente hipolipemisante mais antigo. É derivado da vitamina B. Atualmente, utiliza-se o derivado de ácido nicotínico de liberação programada (niaspan) que apresenta menor efeito colateral. O ácido nicotínico reduz a trigliceridemia em até 50%, LDL-C em até 30%, e é o melhor agente para elevação do HDL-C (15-35%). Age inibindo a atividade da lipase hormônio sensível no tecido adiposo (Diacilglicerol Aciltransferases-2), reduz a hidrólise dos triglicérides e libera ácidos graxos livres para a circulação sanguínea. Por causa do menor aporte de ácidos graxos para o fígado, diminui a síntese de triglicérides e a secreção de VLDL. As Diacilglicerol Aciltransferases (DGATs) são as principais enzimas para a biossíntese de TAGs e catalisam a condensação de diacilglicerol (DAG) com ácidos graxos para a formação do principal componente dos óleos vegetais, os TAGs. A elevação na concentração de HDL-C é decorrente da menor atividade da CETP (Proteína de Transferência de Colesterol Esterificado) e do catabolismo de apo A-I. Os efeitos colaterais mais frequentes como rubor facial, prurido e cefaleia são provocados por aumento de formação de prostaglandinas. Esses efeitos podem ser minimizados pela administração de ácido acetilsalicílico 30-60 minutos antes do ácido nicotínico. O uso de ácido nicotínico é contraindicado em pacientes portadores de úlcera péptica e hepatopatias. Outro cuidado refere-se ao controle da glicemia e do ácido úrico, pois com frequência observa-se elevação de ambos. Posologia: Recomenda-se iniciar o ácido nicotínico de liberação prolongada (Metri®) na dose de 500 mg à noite, seguida de aumentos gradativos a cada 4 semanas, sempre de 250 mg, até alcançar a dosagem máxima de 2.000 μg/dia, se necessário, com o intuito de diminuir a ocorrência de reações adversas e) Derivados de óleo de peixe (ácidos graxos ômega 3) Os ácidos graxos ômega3 (n-3 FA) são derivados do óleo de peixes, capazes de reduzir a síntese hepática de VLDL e, por consequência, de TG. Não são sintetizados em nosso organismo e devem ser ingeridos por meio de dieta e suplementação alimentar. Os principais são o ácido eicosapentaenoico(EPA) e o ácido docosa-hexaenoico (DHA). Os ácidos graxos ômega 3 diminuem as concentrações plasmáticas de triglicerídeos ao reduzir a síntese destes, sua incorporação nas partículas de VLDL, sua secreção e ao aumentar o seu clearance nas partículas de VLDL. Os mecanismos responsáveis por esses efeitos são vários: • Os ácidos graxos ômega 3 diminuem a lipogênese hepática ao suprimir a expressão da proteína 1c que se liga ao elemento regulatório dos esteróis. • Os ácidos graxos ômega 3 aumentam a betaoxidação de ácidos graxos, resultando em uma redução da disponibilidade de substrato necessário para síntese de triglicerídeos e de VLDL. • Os ácidos graxos ômega 3 inibem as enzimas hepáticas envolvidas na síntese de triglicerídios, a fosfatase do ácido fosfatídico e a diacilglicerol transferase. • Os ácidos graxos ômega 3 atuam como ligantes endógenos para os PPAR-alfa e PPAR-gama do miocárdio. Posologia e eficácia. Na dose de 4 g/dia (dose máxima autorizada pela Food and Drug Administration [FDA]), os n-3 FA possibilitam redução de 20 a 30% nos TG. Redução > 30% ocorre com níveis de TG > 500 mg/d ℓ. Recomenda-se dose inicial de 1 g/dia para reduzir o surgimento de reações adversas à medicação. Daniel Rodrigues-M33 Referências Clínica Médica Vol. 5 - Doenças Endócrinas e Metabólicas, Doenças Ósseas, Doenças Reumatológicas. BARUERI: MANOLE, 2016 ATUALIZAÇÃO DA DIRETRIZ BRASILEIRA DE DISLIPIDEMIAS E PREVENÇÃO DA ATEROSCLEROSE – 2017 Endocrinologia clínica / editor responsável Lucio Vilar ; editoresassociados Claudio E. Kater ... [et al.]. 7. ed. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2021.
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