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Ms. Paula Nassar de Marchi Ms. Fábia Judice Marques Viroel 1 Clínica Médica de Pequenos Animais A Clínica Médica abrange diversas áreas e aspectos da Medicina Veterinária onde, juntas, nos levam a um diagnóstico certo e preciso para cada caso. • Semiologia • Diagnóstico por Imagem • Patologia Clínica • Doenças Infecciosas • Doenças Parasitárias • Zoonoses • Farmacologia • Terapêutica • Fisiologia • Anatomia • Bioquímica etc… Para o raciocínio clínico, a resenha e anamnese é sempre muito importante junto com o exame físico, buscando sinais clínicos baseados na queixa principal ou ligação com outros sistemas que nos levarão a diagnósticos diferenciais (ou seja, tudo que pode ter causado aqueles sinais clínicos). Para auxiliar em nossa hipótese diagnóstica, devemos solicitar exames complementares e sabemos interpretá-los. Enquanto isso, realizamos o tratamento de suporte (irá manter o paciente estável como a fluidoterapia, por exemplo) até conseguirmos chegar a um diagnóstico definitivo, estabelendo o tratamento. Cão Gato Temp. Retal 38,1 a 39,2ºC 38,1 a 39,4ºC Frequência Cardíaca 60 a 160 bpm 120 a 240 bpm Frequência Respiratória 18 a 36 mpm 20 a 40 mpbm ANATOMIA E FISIOLOGIA DO CORAÇÃO • Paredes – Pericárdio, epicárdio, miocárdio e endocárdio. • Câmaras Superiores – Átrios direito e esquerdo. • Câmaras Inferiores – Ventrículos direito e esquerdo. • Valvas Internas – Tricúspide, mitral, pulmonar e aórtica. • Artérias e veias coronárias • Vasos – Aorta, artéria pulmonar, veia cava cranial e caudal, veias pulmonares. • Sistema de formação e condução do estímulo elétrico. • Funções – Bombeamento sanguíneo, sangue arterial e seus substratos aos órgãos (perfusão tecidual). Bombea sangue venoso aos pulmões, atua como reservatório de sangue, manutenção da pressão arterial e venosa, manutenção do Débito Cardíaco e também é um órgão endócrino (ANP e BNP). Perfusão Coronariana – Ocorre durante a diástole. 10% do volume sanguíneo ejetado é direcionado para perfusão do m. cardíaco. !! Cães e gatos possuem maior número de coronárias, infarto miocárdio é raro. Quanto mais velho, maior o número de coronárias – infarto em pessoas jovens é mais letal. Conceitos Importantes: • DC – Débito Cardíaco, volume sistólico x frequência cardíaca. Volume de sangue bombeado em 1 min. • VS – Volume Sistólico, volume de sangue bombeado pelo coração em 1 batimento. • PA – Pressão Arterial, débito cardíaco x resistência vascular. Ms. Paula Nassar de Marchi Ms. Fábia Judice Marques Viroel 2 • Volume Sistólico – Pré carga (volume ventricular ao fim da diástole, distensão máxima da parede do ventrículo cheia de sangue), pós carga (dificuldade ou resistência enfrentada pelo ventrículo durante a ejeção do sangue) e contratilidade (capacidade de contração ativa da musculatura cardíaca). • Pressão Arterial – Pressão sanguínea dentro da artéria. Se divide em sistólica (pressão máxima atingida durante sístole) e diástolica (pressão mínima atingida durante diástole). !! Calcular sempre a média da pressão em um ou mais ciclos cardíacos. • Inotropismo – Força de contração. • Cronotropismo – Frequência cardíaca. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA Disfunção cardíaca, compromete a capacidade de bombeamento e volume sanguíneo necessário. Ocorre baixa do DC, ativação neuro-hormonais e remodelamento cardíaco. Mecanismos Ativados: 1. Elevação do tônus vagal e SNA simpático por barorreceptores. Na IC, atenua-se a responsividade dos barorreceptores e ocorre ativação do SNA simpático. 2. Ativação do SRAA 3. Secreção de ADH, regulação, volemia, osmolalidade e ação ADH com vasoconstrição, reabsorção de H20 livre de néfrons. 4. Produção de endotelinas e citocinas, estímulo à produção de endotelinas. Hipóxia e fatores vasculares mecânicos. AgT II, ADH, NOR e citocinas. Por Que a ICC é Progressiva? – Sobrecarga de volume ou pressão, com ativação neuroendócrina crônica e citocinas. Logo após, ocorre hipertrofia do miocárdio, apoptose e fibrose, seguindo para o remodelamento. Manifestações Clínicas – ICC pode ser esquerda ou direita. No primeiro momento, o organismo vai conseguir compensar a insuficiência, mas não a longo prazo com o avanço dela. ICC Esquerda – Pulmão congesto, edema pulmonar. Posição ortopneica, dispnéia expiratória e crepitação pulmonar. Intolerância e dispnéia ao exercício ou repouso. Cianose de mucosas, tosse, depressão, letargia e síncope. ICC Direita – Congestão sistêmica, distensão da jugular, hepato e esplenomegalia, ascite (balotamento positivo), edema de SC (sinal de godet positivo), hidrotórax (efusão pleural), hidropericárdio (efusão pericárdica), depressão, letargia, síncope e tosse (AD). Ms. Paula Nassar de Marchi Ms. Fábia Judice Marques Viroel 3 Classificação da ICC – Podemos classificar conforme a ISACHC, sendo: 1. Assintomático: Sem manifestações clínicas, sendo assintomático sem (A) ou com (B) cardiomegalia. 2. Leve a Moderada: Sinais clínicos de IC são evidentes em repouso ou com exercícios leves, comprometendo a qualidade de vida. 3. Grave ou Fulminante: Sinais clínicos de IC evidentes e óbvios. Pode ser do tipo A (terapia em casa é possível) ou B (hospitalização é indicada). Exames Complementares – Podemos solicitar diversos exames para auxiliar no diagnóstico do caso clínico, como: • Radiografia torácica: Avaliação da silhueta cardíaca, tamanho do coração em relação às costelas (normal de 10 a 10,5). Posicionamento e calibre traqueal. Avaliação pulmonar (edema? Efusãol?). • Eletrocardiografia ECG: Avalia a atividade elétrica cardíaca. Única forma de diagnosticar arritmias cardíacas. Acompanhamento de doenças cardíacas e terapias com drogas pró-arrítmicas. • Ecocardiograma: Ultrassom do coração. Observa cordas tendíneas, grandes vasos e alterações nodulares. Fecha o diagnóstico da maioria das cardiopatias. • Holter: Dispositivo portátil que monitora continuamente a atividade elétrica cardíaca. Pode ser feito em 24hrs ou mais. Indicado para pacientes com histórico de síncope com suspeita de arritmia como causadora sem diagnósticopelo ECG convencional. Paciente com arritmias graves para controle da terapia. • Pressão Arterial (PAS): Método não invasivo por oscilométrico (petmap) ou doppler vascular. Método invasivo pela cateterização da artéria femoral. Indicada para controle terapêutico, terapias hipotensoras e diuréticos, patologias hipertensoras concomitantes. Valor de normalidade de Sistólica (90-150mmHg). Cuidado com situações de estresse!! • Ultrassonografia Abdominal: Indicado em suspeitas de ascite, hepato ou esplenomegalia e congestão hepática. • Outros: Hemograma, hemogasometria, bioquímicos (ALT, FA, GGT, AST, ureia e creatinina), Na/K. Utilizamos para descartar outras patologias. Tratamento – Tem como objetivos manter a qualidade de vida, evitar ou retardar a progressão da ICC, bloqueio da ativação do SRAA, evitar vasoconstrição e remodelamento cardíaco, manutenção da volemia e controle da frequência cardíaca. Em casos da IC 3b, evitar estresse e manter o repouso, cuidado com manipulação do paciente na internação. Oxigenioterapia (máscara, tenda ou gaiola de O2, sonda intranasal e entubação). Sedativos – Morfina (ansiolítico, analgésico e vasodilatador) e butorfanol (sedativo, analgésico e sem efeito na hemodinâmica). Diuréticos – Edema Pulmonar Cardiogênico. Furosemida com efeito rápido, expoliador de K tendo ação em 5min, com pico em 30min. 4-8mg/kg a cada 1 a 2hrs (cães) 2-4mg/kg a cada 2hrs (gatos) Infusão Contínua: 1-2mg/kg/h !! Monitoração do débito urinário (1-2ml/kg/h) e K Vasodilatadores – Nitroprussiato de sódio (efeitodilatador potente e rápido, dose de 2- 5ug/kg/min), nitroglicerina a 2% (adesivo, cuidado na manipulação. Age somente na pressão venosa), cloridrato de hidralazina (age na pressão arteriolar e venosa, dose de 0,5-3mg/kg VO), monitoração da PAS. Inotrópicos – Indicado em pacientes com pobre contratilidade cardíaca, cardiomiopatias e hipotensão arterial. Aumentam a contração do miocárdio (inotropismo +) e melhora da função sistólica. Utiliza-se dobutamina (efeito B1 adrenérgico, utilizado em infusão contínua), dopamina (utilizado em IC) e pimobendam (inodilatador via oral). Ms. Paula Nassar de Marchi Ms. Fábia Judice Marques Viroel 4 Drenagem – Toracocentese, em casos de Efusão pleural. Hemitorax direito (4 a 5º EIC), hemitórax esquerdo (7 e 9º EIC), drenar cranialmente à costela. Cuidado com pneumotórax iatrogênico. Pericardiocentese no hemitorax direito, 4 a 6º EIC. Abdominocentese em ascite, linha alba. Dois dedos acima ou abaixo da cicatriz umbilical. Tratamento de Manutenção – Terapia dos 5D’s (vasoDilatadores, Diuréticos, Digitálicos, Dieta e Descanso). Vasodilatores: • Anlodipino: Bloqueio dos canais de cálcio. Tem ação vasodilatadora e anti-arrítmico, inibe o influxo do cálcio nos miócitos, diminui a condução do impulso elétrico e diminui a pós carga. Indicado em doença valvar crônica de mitral em cães e hipertensão arterial em gatos. Diuréticos: • Espironolactona: Antagoniza a aldosterona, evita remodelamento do coração. Poupador de cálcio, ação em tubo contorcido distal e ducto coletor. • Furosemida: Diurético de alça Henle, inibe a reabsorção de cálcio e água. Espoliador de K+. • Tiazidas: Por exemplo, hidroclorotiazida. Ação nos túbulos contorcidos distais, menor reabsorção de Na, Cl e H20, maior reabsorção de Ca, diurese branda a moderada. Digitálicos: Antiarrítmico, ação inotrópica (+) • Digoxina: Atividade antiarrítmica supraventricular e discreto efeito inotrópico. Cuidado com intoxicação, monitorar a dosagem, peso do paciente, função renal e eletrólitos. • Pimobendam: Inotrópico +, vasodilatador. • β-Bloqueadores: Indicado em alguns casos com cautela, pois apresenta efeito inotrópico (-). Inibe efeitos deletérios do remodelamento cardíaco, cardioprotetor, inotropismo e cronotropismo (-), vasodilatação. Ex: carvediol e metoprolol. Dieta: • Rações coadjuvantes • Restrição de sódio • Altos níveis de CHO e proteínas • Evitar caquexia cardíaca • Ômega 3 • Efeito antiarrítmico • Antioxidante • Reduz produção de citocinas • Cardioprotetor Ms. Paula Nassar de Marchi Ms. Fábia Judice Marques Viroel 5 Descanso: • Repouso • Evitar agitação e estresse • Evitar atividade e esforços físicos • Ureia e creatinina • Urinálise • Eletrólitos: Sódio, potássio e magnésio • FC e FR • Pressão arterial • ECG • Ecocardiograma • Raio-x ENDOCARDIOSE Processo de degeneração valvar, regurgitação, insuficiência valvar e ICC, mitral e/ou tricúspide. Distúrbio por sobrecarga de volume. Também conhecida como doença valvar crônica degenerativa, fibrose valvar crônica, insuficiência ou regurgitação adquirida da mitral e/ou tricúspide. Prevalência – 75 a 80% de distúrbios cardiovasculares. Machos são mais acometidos. Cães de raças de pequenos e médio porte, como lhasa apso, poodle, shih tzu, teckel, terrier e outros. Atinge, normalmente, animais acima dos 12 anos (35%), 9 a 12 anos (25%) e 5 a 8 anos (10%). Etiologia – Desconhecida, em humanos se refere a anormalidade na formação de colágeno ou hereditário em cavalier kings. Patologia – Degeneração mixomatosa crônica das estruturas valvares. Pequenos nódulos nas bordas livres das valvas. Coalescência em nódulos grandes. Espessamento das valvas e cordas tendíneas com possível rompimento. Fisiopatologia – Degeneração dos folhetos valvares, substituição por tecido fibroso. Evolução lenta e progressiva na meia idade. Desenvolvimento da insuficiência valvar e ativação de mecanismos compensatórios. Sinais Clínicos: • Endocardiose de Mitral (Esquerda): tosse, aumento do AE (compressão do brônquio principal esquerdo, ICC esquerda (edema pulmonar cardiogênico), dispnéia, ortopnéia. • Endocardiose de Tricúspide (Direita): Edema de membros, efusão pleural e ascite. • Geral: Sinais relacionados à diminuição do débito cardíaco, intolerância ao exercício, emaciação, sonolência, apatia e síncope. Os sinais clínicos são progressivos, onde o paciente começa assintomático e passa a ser sintomático, evoluindo e apresentando tosse noturna e constante, taquipnéia, dispnéia, distensão abdominal, intolerância ao exercício, ICC e edema pulmonar. Diagnóstico – Anamnese (histórico de sinais clínicos), exame físico (sopro cardíaco, crepitação pulmonar, hipo forense) e exames laboratoriais (eletrólitos e FR). Além disso, exames de imagem são essenciais, como o ECG (aumento do AE e AD, aumento ventricular e arritmias, contração atrial prematura, taquicardia atrial paroxística e fibrilação atrial). DOENÇA VALVAR CRÔNICA CARDÍACA Estágio A - Alto risco, raças predispostas. Não recomendado nenhum tipo de tratamento. Raças predispostas a desenvolver como dachshunds, poodles, cockers spaniel etc. Avaliação deve ser anual, auscultação cardíaca detalhada. Descanso, dieta adequada e terapia medicamentosa. Estágio B - Sem sinais clínicos, mas com exame físico e complementares positivos. Se Ms. Paula Nassar de Marchi Ms. Fábia Judice Marques Viroel 6 divide em B1 (sopro presente, sem remodelamento cardíaco), B2 (sopro e evidências radio ou ecocardiográficas) e B2 avançado (remodelamento cardíaco, características de imagens e avançadas). Radiográfica torácica, ecocardiografia (doença valvar) e exames laboratoriais (hemograma, proteínas, função renal e urinálise). • B1: Resultados normais, controle a cada 12 meses. • B2: Remodelamento cardíaco, alterações hemodinâmicas. Controle a cada 12 meses. • B2 Avançado: Pimobendam e Ieca. Estágio C - Sinais clínicos e evidências radio ou ecocardiográficas. Pode fazer edema pulmonar e entrar em ICC. Diferenciação de doenças respiratórias. Exame físico completo e auscultação detalhada. Perfil hematológico, urinálise e bioquímica sérica. Tratamento hospitalar ou domiciliar, iECA, pimobendam, espironolactona e furosemida. Estágio D - Estágios finais da ICC, grave e refratário à terapia. Refratariedade ao tratamento instituído. Acrescentar fármacos, aumentar doses e frequências além da terapia suporte. Oxigenioterapia, tratamento hospitalar e monitoração frequente. CARDIOMIOPATIA DILATADA Contratilidade miocárdica inadequada, disfunção sistólica com ou sem arritmias. Etiologia – Idiopática, fatores genéticos (doberman, cocke, dálmata, são bernardo, boxer e outros cães de grande porte), ou por deficiência de taurina. Acomete normalmente cães entre 4 a 10 anos. Alterações – Dilatação de todas as câmaras cardíacas (AE e VE). Isquemia miocárdica, disfunção miocárdica e arritmias (fibrilação atrial, taquiarritmias ventriculares e VPC – complexo ventriculares prematuros). Degeneração valvar, discretas e moderadas. Manifestações Clínicas – Longo período pré- clinico oculto. Progressão lenta. Diagnóstico se dá por ecocardiograma, observação de ritmo irregular e déficit de pulso com sopro de baixa intensidade. Em cães sedentários, a progressão é rápida, com morte súbita antes dos sinais de ICC. • Fraqueza e letargia • Intolerância ao exercício • Taquipnéia ou dispnéia • Tosse • Anorexia e caquexia • Distensão abdominal (ascite) • Síncope Exame Físico – Sopro de mitral e/ou tricúspede. Arritmias, palidez ou cianose de mucosa. Redução no TPC, pulso femural fraco e déficit de pulso.ICC direita ou esquerda, podendo ocorrer efusão pleural (hipofonese de bulhas cardíacas), ascite (balotamento positivo), edema pulmonar (crepitação pulmonar), hepato ou esplenomegalia. Diagnóstico – Radiografia torácica, cardiomegalia generalizada e veias pulmonares distendidas. Se tiver ICC esquerda, tem indícios de edema pulmonar (opacificação intersticial ou alveolar, em região peri hilar e dorso caudal) ou ICC direita apresentando ascite, hepatomegalia, efusão pleural e distensão da veia cava caudal. Importante e essencial o ECG (fibrilação atrial, taquicardia ventricular, aumento do compl. QRS pela dilatação ventricular ou ondas p largas por dilatação atrial AE). Em caso de síncopes, solicitar Holter 24hrs, onde 50 vpc’s por dia pode mostrar predisposição a CMD. Ecocardiograma – Observamos câmaras cardíacas dilatadas, função miocárdica. Pouca movimentação sistólica da parede ventricular e do septo interventricular, espessura da parede reduzida. Regurgitação de mitral, VsF > 80ml/m2 (normal <30ml/m2). Ms. Paula Nassar de Marchi Ms. Fábia Judice Marques Viroel 7 Tratamento – Pimobendam (inodilatador), digoxina (pode ser associada com o pimobendam se necessário, antiarritmico e controle da taquicardia). Também utiliza-se iECA (atenua dilatação ventricular progressiva e regurgitação mitral secundária, aumenta sobrevida na CMD e reduz taxa de filtração glomerular), espironolactona (antagoniza ação da aldosterona, evita remodelamento e tem efeito diurético), furosemida (dose mínima efetiva, atentar-se com hipocalemia em casos de anorexia, desidratação e êmese). Monitoramento – Observar sempre FC, FR, eletrólitos, ureia, creatinina, ECG, ECO, PAS e ajuste de dose pelo peso corpóreo. Prognóstico – Normalmente de reservado a mau. Três meses após as manifestações de ICC, pode ocorrer morte súbita na fase oculta (mesmo sem clínica), dependendo do grau de resposta às terapias. Efusão pleural, edema pulmonar, ascite, FA e indicador de mau prognóstico. SISTEMA RESPIRATÓRIO Tem a função de realizar trocas gasosas (inspira 02 e expira CO2), realizando a hematose pulmonar nos alvéolos. Remove e inativa pela tosse e espirro partículas inaladas, realizando a filtração aerodinâmica, limpeza mucociliar, defesas secretórias e celulares (macrófagos e anticorpos). Alguns fatores reduzem a defesa do trato respiratório, como o estresse (causado por vários motivos, como ambiental, desmame, adaptações novas), imunossupressão, exposição a agentes, verminoses e outros. Afecções do Trato Respiratório Superior – Rinite, sinusite, rinossinusite, síndrome do braquicefálico, colapso de traqueia e traqueobronquite infecciosa canina. RINITE E SINUSITE Rinite se refere a uma inflamação da mucosa nasal, enquanto a Sinusite com a inflamação dos seios paranasais. Sinais Clínicos – Secreção nasal (mucóide, mucopurulento ou sanguinolento), espirros e tosse, epistaxe (uni ou bilateral), distrição, anosmia, inapetência, halitose, deformação facial, lesões em plano nasal e prurido nasal. Exame Físico – Presença e classificação de corrimento nasal, secreção ocular (obstrução ducto nasolacrimal por muco), deformidade óssea (osteólise, fungo ou neoplasias), despigmentação e ulceração das narinas. Etiologia – Pode ter diversos motivos, como: • Alérgica – É inspecífica, comum em cães e rara em gatos. Pode ser crônica idiopática. • Parasitária – Rara, podendo ser causada por pneumonyssoides caninum, capillaria boehmi, cuterebra simulans. • Fúngica – Aspergillus fumigatus (cães) ou cryptococcus neoformans (gatos). • Viral – Cinomose, calicivírus felino, herpes-vírus felino, imunodeficiência, altamente contagioso. • Bacteriana – Bordetella bronchiseptica (tosse dos canis), mycoplasma sp e chlamydophila sp. • Secundárias – Afecção dentária, fístulas oronasais, periodontites, bactérias na junção dente-gengiva. • Outros Motivos – Corpos estranhos, neoplasias, pólipos e traumas. Diagnóstico – Anamnese, exame físico e inspeção. Exames de imagem (radiografia de seios nasais, avaliar raiz apical dentária, osteólise etc), rinoscopia e sinoscopia. Citologia (swab e lavado nasal), biópsia, cultura bacteriana, antibiograma e fúngica, hemograma (inflamação crônica ou infecção), sorologia (FIV e FeLV), titulação sérica aspergillus e criptococcus. Ms. Paula Nassar de Marchi Ms. Fábia Judice Marques Viroel 8 Diagnósticos Diferenciais – Pela epistaxe, podemos citar diferenciais para HAS, distúrbios de coagulação e hemoparasitose. Tratamento – Umidificar ambiente, nebulização, tratamento alérgico (anti- histamínico com prometazina e cetirizina, prednisolona 0,5mg/kg BID) e remoção dos alérgenos (alimento, ambiente, químico?). Dependendo do caso, utilizamos antifúngicos (itraconazol, fluconazol, cetoconazol, anfotericina, clotrimazol 1% tópico – cuidado com efeitos colaterais de hepatotoxicidade e teratogênese), antiparasitários (febendazol, ivermectina), vacinação e quimioterapia. Antibioticoterapia – Auxilia independente da causa, tratando infecções secundárias e previne colonização profunda da flora residente. Deve ser empírica ou baseada no antibiograma (ampicilina, amoxicilina com clavulato de potássio, sulfadiazina com trimetoprim, cloranfenicol e cefalosporinas). Em caso de suspeita de clamídia, bordetella ou mycocplasma, utilizar tetra ou doxiciclina. SÍNDROME DO BRAQUICEFÁLICO Caracteriza-se por estenose de narinas, palato mole alongado, hipoplasia de traquéia, alterações anatômicas da laringa, edema e hipertrofia das mucosas. Cães braquicefálicos (como pug, shih tzu, bulldogue) e gatos de face curta (persas, himalaios) são raças predispostas. Sinais Clínicos – Dispneia inspiratória, respiração oral, cianose, síncope, disfagia, hipertermia, excitação e agitação, inapetência, estridor e ruídos respiratórios. Exame Físico – Verifica-se se é raça braquicefálica, presença de hipertermia, ausculta pulmonar limpa, ronquidão, estertores e estreitamento da narina. Diagnóstico – Resenha, anamnese, exame físico, faringoscopia, laringoscopia, inspeção nasal (estreitamento da narina e edema de mucosas) e radiografia (hipoplasia de traquéia). Tratamento – Clínico por sedação, oxigenioterapia, repouso, corticóides e controle de peso. Cirúrgico para abdução ou remoção das asas das narinas, ressecção do palato mole e excisão dos ventrículos laterais da laringe. COLAPSO DE TRAQUEIA A traqueia é um órgão tubular e flexível, composto por anéis de cartilagem hialina. Tem ligamentos anulares que conectam as cartilagens, compostos por tecido fibroelástico. Tem membrana dorsal de músculo e tecido conjuntivo. No colapso, ocorre um estreitamento do lúmen traqueal. Pode acometer a traqueia extra e/ou intratorácica. Etiologia por fragilidade dos anéis cartilaginosos e/ou da membrana traqueal dorsal, além de anormalidades na composição da cartilagem. Predisposição – Raças toys, cães de meia idade a idosos e obesos. Sinais Clínicos – Tosse crônica, cianose, estertores e ronquidão, dispnéia (inspiratória por colapso alto extratorácico, expiratória por colapso baixo intratorácico), crises de cianose e tosse em momentos de agitação. Piora na obesidade, em atividade física e com uso de coleira tipo enforcador. Ms. Paula Nassar de Marchi Ms. Fábia Judice Marques Viroel 9 Exame Físico – Estertores respiratórios, dispnéia inspiratória. Reflexo de tosse positivo e hipertermia. Diagnóstico – Raça predisposta, anamnese, ECC, reflexo de tosse, radiografia cervical e torácica. Nem sempre o diagnóstico é fechado, utiliza-se a técnica de compressão. Técnicas de fluoroscopia e broncoscopia. Diagnósticos Diferenciais – ICC (compressão brônquioesquerdo e tosse, edema pulmonar), bronquite crônica, bronquite alérgica e broncopneumonia. Tratamento – Manejo! Em cães obesos, perda de peso. Trocar coleira enforcador por peitoral. Evitar agitação ou estresse, evitar calor excessivo e atividade física intensa. Sedativos (opióides, acepromazina e butorfanol) e broncodilatadores (aminofilina, teofilina, simpatomiméticos – terbutalina e albuterol). Supressores de Tosse (codeina, vibral e butorfanol), corticóides (somente se houver dispneia grave e/ou bronquite crônica) e antibioticoterapia (se houver infecção secundária). Condroprotetores e descompressão cirúrgica. AFECÇÕES TRATO RESPIRATÓRIO INFERIOR Mais comum ocorrer bronquite crônica canina, bronquite e asma felina, broncopneumonia e pneumonia. BRONQUITE CRÔNICA CANINA Inflamação crônica dos brônquios e brônquiolos. Distúrbio inflamatório crônico, espessamento de paredes brônquicas, aumento do muco nas vias aéreas e presença de edema e líquidos. Enfisema Pulmonar – Hiperdistenção alveolar, ruptura das paredes dos alvéolos. Alveólo que enche muito, rompe e perde sua função, ocorrendo por bronquiectasia (dilatação dos brônquios e destruição de suas paredes, redução da ramificação dos brônquios) e atelectasia (perda de capacidade de alvéolo de se distender, o ar não chega até o alvéolo). BRONQUITE E ASMA FELINA Distúrbio inflamatório crônico dos brônquios em gatos, bastante comum. Sinais Clínicos – Dispneia expiratória, podem ser episódios isolados. Sibilos e crepitação pulmonar, ausculta ruidosa. Tosse, sinais lentamente progressivos que aumenta de tempos em tempos. Diagnóstico – Anamnese, raio-x do tórax, opacificação alveolar difusa, hemograma, eosinofilia parasitária e idiopática. Tratamento – Manejo emergencial, corticóide de ação rápida, hidrocortisona, prednisolona, dexametasona, fluticasona por via inalatória, broncodilatadores (aminofilina e terbutalina), oxigenioterapia, repouso, reduzir estresse e sedação. Também é importante o manejo domiciliar, para correção do fator ambiental. Doxicilina, ação imunomediadora, inalação, broncodilatador. BRONCOPNEUMONIA Inflamação do parênquima pulmonar, brônquios e pleura. É uma inflamação, tem agente causador seja ele bacteriano, viral ou alérgico. Em cães, pode se associar com agentes virais (cinomose, hepatite infecciosa, Ms. Paula Nassar de Marchi Ms. Fábia Judice Marques Viroel 10 adenovírus), bacterianos (bordetella parapertus, stretococus, e.coli, staphylococcus, pseudomonas, mycoplasma, klebsiella e proteus), enquanto gatos se associam com questões virais (herpervirus, calicivurs) e bacterianas (bordetella, papeutussis, manheimia haemolytica, chlamydia). Etiologia – Fúngica, blastomicose (cães), histoplasmose (gatos), coccidiomicose, megaesôfago, obstrução esofágica e esofagite. Patogenia – Imunossupressão, agentes predisponente e invasores oportunistas. Infecção do trato respiratório, disseminação pelo brônquio, brônquiolos e parênquima. Sinais Clínicos – Taquipneia, cianose, corrimento nasal, maior ruído traqueobrônquico e bronquiobronquiolar, dispneia expiratória, crepitação grossa e fina, áreas de silêncio pulmonar e sibilos. Hipertermia, anorexia, apatia, sinais de pleurite e dor ao decúbito. Diagnóstico – Hemograma, leucocitose por neutrofilia (bacteriano), leucopenia por linfopenia (viral), raio-x, coproparasitológico, lavagem traqueobrônquica, citologia e cultura bacteriana. Tratamento – Controlar fator de imunossupressão e estresse. Nutrição adequada, remover agentes irritantes e manter trocas gasosas. Oxigenioterapia, inalação, umidifcação do ambiente, hidratação. Evitar diuréticos (aumentam ressecamento das secreções). Antibioticoterapia (amoxicilina e clavulanato, sulfa + trimetoprim, cloranfenicol). Anti- inflamatórios AINES, mucolíticos, broncodilatadors e antibiótico intravenoso se houver risco de sepse. Fisioterapia para exercícios leves, troca de decúbito a cada 2hrs, realizando após a nebulização. Favorece tosse, tapotagem (mão em concha, bater de leve na barriga pra sentir). Prognóstico – Bom, reservado em pacientes com problemas subjacentes (imunossupressão e neoplasias). Monitoração – Frequência respiratória, padrão respiratório, ausculta, coloração de mucosa. Hemograma, raio-x de tórax. Se quadro não melhorar em 72hrs, avaliar a troca de terapia e rever o diagnóstico. SISTEMA DIGESTÓRIO Devemos sempre pensar em todo o corpo do animal para esse sistema, desde o mais simples (cavidade oral) até os mais complexos (intestinos e glândulas acessórias, como pâncreas e fígado). FÍSTULA E ABCESSO DENTÁRIO Fístula em canto medial periocular, abscesso da raíz dental. Sinais clínicos de dor e cavidade oral, hiporexia e emagrecimento. Tratamento com antibiótico, antiinflamatório, analgésico e tratamento cirúrgico. GRANULOMA EOSINOFÍLICO Comum em felinos, lesão crônica. Etiologia imunomediada, associada a pulgas. Complexo granuloma eosinofilico, úlceras indolentes, placas eosinofílicas e granulomas lineares. Sinais Clínicos de disfagia, halitose, anorexia e perda de peso. Diagnóstico por exame físico (inspeção da base da língua, palato, gengiva e lábios), citologia e histopatológico. Tratamento com prednisolona 2mg/kg SID a BID e criocirurgia. ESOFAGITE Etiologia por refluxo gastroesofágico, êmese persistente (ácido gástrico), corpo estranho no esôfago, ingestão de substâncias cáusticas e doxiclina em gatos. Sinais Clínicos de sialorréia, disfagia, anorexia e regurgitação. Diagnóstico por raio-x simples e contrastado, endoscopia. Tratamento com manejo alimentar (gastrotomia), metoclopramida e cisaprida, antagonista de Ms. Paula Nassar de Marchi Ms. Fábia Judice Marques Viroel 11 receptores H2 (ranitidina), sucralfato e inibidores das bombas de prótons (omeprazol). MEGAESÔFAGO Dilatação esofágica. Etiologia de alteração da motilidade, neuropatias e miopatias, doenças obstrutivas (neoplasias, estenoses cicatriciais) e idiopático, raças predispostas como schnauzer, fox terrier, pastor alemão etc. Sinais Clínicos – Regurgitação x êmese, conteúdo alimentar, ausência de sinais podrômicos (sem contração abdominal ou mímica de êmese), ausência de bile, polifagia, emagrecimento, pneumonia aspirativa. Diagnóstico – Por anamnese, histórico e exame físico, radiografia cervical simples ou contrastada com esofagograma. Tratamento – Causa de base, neoplasia (excisão cirúrgica), CE (remoção cirúrgica ou endoscópio), manejo (dieta pastosa em pequena porções, postura bipedal) e pneumonia aspirativa (ATB e oxigenioterapia). GASTRITE Pode ser aguda (ocorre em horas a dias) e crônica (ocorre em semanas). Tem causas primárias (ingestão de materiais irritantes e CE, medicamentosa, agentes bacterianos, virais ou parasitários) ou secundárias (doenças metabólicas como DRC, IH, CAD, pancreatite e hipoadreno, estresse, doenças infecciosas etc). Sinais Clínicos – Hiporexia, anorexia, depressão, desidratação, êmese de início agudo com conteúdo alimentar ou bilioso, hematêmese, febre e dor abdominal pouco frequente. Causas e Diagnóstico – Pode ser causado por medicamento, troca de ração, ingestão de CE ou alimentação inadequada, exame físico observando desidratação, fraqueza e desequilíbrio eletrolítico, abdomên tenso a palpação abdominal. Diagnóstico se dá por raio-x do abdômen contrastado, ultrassom abdominal (aumento da espessura da parede gástrica e pregueamento), endoscopia (hiperemia e erosão gástrica), biópsia, hemograma (leucograma de estresse, hiperproteinemia e hipocalemia), além de exames gerais para investigar causas base. Tratamento – Manejo dietético (jejum nas primeiras 48hrs, dieta palatável com baixoteor de gordura, pequenas porções várias vezes ao dia e pequenas porções de água). Terapêutica com anti-eméticos (metoclopramida, ondansetrona), protetores de mucosa gástrica (ranitidina, omeprazol e sucralfato), fluido e reposição eletrolítica. IDENTIFICANDO A ORIGEM DA DIARRÉIA SINAIS ID IG Apetite Aumento Diminuição Êmese + - Eructação + - Flatulência + - Vol. Abdominal + - Tenesmo - + Sangue Melena Hematoquezia Muco - + Gordura + ou - - Alimento Não Digerido + - Halitose + - Borborigmos + - Exame Retal - Sangue, muco e dor Ms. Paula Nassar de Marchi Ms. Fábia Judice Marques Viroel 12 ENTERITES E COLITES • Alimentar: Jovens, mudança brusca de dieta e diarréia de ID. • Viral: Parvovirose, coronavirose, panleucopenia felina, FIV e FeLV. • Bacteriana: Campilobacteriose, salmonelose, clostridiose. • Micótica: Histoplasmose e prototecose (raras). • Parasitária: Tricuris (cólon e ceco), nematódeos (toxocara, toxocaris – ID), tênias (dipylidium – ID), coccídeos (isospora – ID), protozoários (giardia – ID). Sinais Clínicos – Diarreia mucóide ou sanguinolenta. Hematoquezia, emagrecimento, desidratação. Pode ocorrer hipertermia, dores abdominais e choque hipovolêmico em casos graves ou filhotes. Diagnóstico – Anamnese, histórico e exame físico. Coproparasitológico, swab retal e exame retal. Endoscopia (duodeno) e colonoscopia (intestino grosso). Tratamento – Sintomático (correção do distúrbio hidroeletrolítico por fluidoterapia e repoisção de potássio), manejo alimentar (dietas leves, como frango, arroz, cenoura e queijo cottage), analgesia, tratamento de causa base (anti-parasitários e antibióticos), hematoquezia (antibioticoterapia profilática). HEPATITE Etiologia – Viral, bacteriana, doença autoimune ou intoxicação. Classifica-se em aguda (evento grave de toxicidade) ou crônica (fator de agressão constante). Sinais Clínicos – Aparentes somente quando +75% dos hepatócritos estão comprometidos, gerando quadro de cirrose. A forma leve pode apresentar êmese, diarréia, anorexia, poliúria e polidipsia. Em quadros severos de cirrose, apresenta icterícia, ascite, encefalopatia hepática e caquexia. Diagnóstico – Aumento de ALT, amônia, bilirrubinas e ácidos biliares. Diminuição de ureia e albumina. Se estiver associada com colecistite e colangite, aumento de FA e GGT. O diagnóstico se dá por ultrassom abdominal (microhepatia e hiperecogenicidade indica cirrose, além de hepatomegalia e redução da ecogenicidade). Tratamento – Tratar ou remover a causa de base, hiperadrenocorticismo, toxinas ou drogas. Retardar a progressão da doença. Utilização de antioxidantes (silimarina, s- adenosilmetionina, vitamina E), coleréticos (ácido ursodesoxicólico), antibioticoterapia (na suspeita de infecção bacteriana, ampicilina,amoxicilina com clavulanato, metronidazol) e dieta (proteína de alta qualidade e digestibilidade, diminuindo a sobrecarga hepática. Manter o animal nutrido, diminuindo proteínas que serão convertidas em amônia). Além disso, pode-se utilizar anti-fibróticos (glicocorticóide e azatioprina mediante biópsia e descartado origem infecciosa ou endocrinopatias). PANCREATITE Pâncreas – Se divide em endócrino e exócrino (secreção de enzimas digestivas e bicarbonato no duodeno proximal). Enzimas pancreáticas realizam a digestão inicial de moléculas maiores de alimentos, necessidade de pH alcalino para a digestão. Ms. Paula Nassar de Marchi Ms. Fábia Judice Marques Viroel 13 A secreção pancreática é estimulada pelo alimento e preenchimento do estômago. No intestino delgado, o tripsinogênio é ativado em tripsina pela enzima enterocinase. Patogênese – Ativação precoce do tripsinogênio no pâncreas. Maior autoativação com autodigestão e inflamação. Etiologia – Origem genética ou hereditária. Predisposição racial em terriers e schnauzer. Endocrinopatias, hiperlipidemia, dieta e gordura ou por medicações (azatioprina e brometo de potássio). Manifestações Clínicas – Dor abdominal. Postura de prece, anorexia, abdome agudo e peritonite. Êmese, retardo no esvaziamento gástrico e evolução do quadro (êmese com bile, aguda para crônica), desidratação, colapso e choque. Além disto, pode ocorrer letargia, desconforto abdominal, icterícia (mais comum em início do quadro). Exame Físico – Palpação abdominal, observação de dor na região pancreática (porção cranial). Dor abdominal generalizada com peritonite associada. Diagnóstico – Sinais clínicos, ultrassom abdominal (a normalidade não descarta pancreatite), exames laboratoriais e específicos. Ocorre redução da ecogenicidade e edema na pancreatite aguda, e aumento da ecogenicidade, fibrose e formação de cistos na pancreatite crônica. PLI ou SPEC (lipase pancreática imunorreativa), teste espécie-específico. Análise do fluído abdominal, efusão abominal (exsudato serosanguinolento estéril, atividade lipase e amilase líquido com maior soro), pancreatite aguda (discreta efusão pleural e vasculite). Tratamento – Depende da gravidade, podendo ser brando domiciliar a terapia intensiva (UTI). Remover causa de base e seguir com dieta e medicações se necessário. Tratamento sintomático e fluidoterapia. Para a dieta, contra-indica-se o jejum prolongado (em felinos há risco de lipidose hepática, por exemplo), pela necessidade de nutrientes para recuperação. Iniciar alimentação dentro das primeiras 48hrs, com i/d Hills, Low Fat Royal Canin – caso ele não aceite nenhuma alimentação, realizar a sondagem. Prognóstico – Depende do estado, podendo ir de bom a péssimo. O quadro pode se agravar se demorar muito ao tratamento. NEFROLOGIA E UROLOGIA • Os rins são órgãos pares, localizados no espaço retroperitoneal. • Rim direito mais cranial que o esquerdo – que é mais móvel. • Em repouso, os rins recebem de 20 a 25% do débito cardíaco. • Néfron é a unidade funcional dos rins. O nímero de néfrons será o mesmo para toda a vida após o primeiro mês onde completa a maturação renal. • O néfron pode ser cortical (mais curto) ou justamedular (mais fundo). • Gatos possuem bem menos número de néfrons do que cães. • Ducto coletor não faz parte do néfron! Porém cápsula de bowman, alça de henle e outros fazem. • O problema nem sempre está somente no rim, o problema pode estar antes dele! • Retroalimentação – Células sensíveis ao fluxo tubular, segregam substâncias vasoconstritoras ou vasodilatadoras. Ms. Paula Nassar de Marchi Ms. Fábia Judice Marques Viroel 14 • Auto regulação para equilibrar a pressão, envolvendo a constrição ou dilatação de vasos, reabsorção e eliminação de água e outros, regulados por variações nos níveis plasmáticos de ADH. • Paciente hepatopata não tem uréia, causando baixa reabsorção. • Rins tem função de filtração glomerular, balanço hídrico e eletrolítico, equilíbrio ácido básico, controle da hemodinâmica renal e sistêmica, excreção de metabólitos, funções endócrinas (eritropoietina e renina) e ativação de Vitamina D (metabolismo Ca e P). Avaliação da Função Renal • Azotemia – Aumento da ureia e creatinina, com 75% dos néfrons acometidos, sendo marcadores tardios. Pode ser pré-renal (problema vem antes dos rins, desidratação), renal (glomerulopatia e nefropatia) ou pós-renal (obstrução de uretra). • SDMA – Dimetilarginina simétrica, seu aumento indica 50% de comprometimento, biomarcador renal precoce. Associar com US, ureia e creatinina para o diagnóstico. • Urinálise – Verificar o produto final da filtração glomerular e reabsorção tubular, pois rins eficientes não deixarão a urina “jogar pra fora” elementos necessários para o organismo que deveriam ser reabsorvidos. Além disso, aconcentração da urina também é um grande indicador: Uma urina diluída em um paciente desidratado é sinal que algo não está certo, por exemplo. Cuidados na coleta, ideal realizar por cistocentese, cateterismo com sonda fina, ou com micção natural. DOENÇA RENAL CRÔNICA (DRC) Etiologia – Hipóxia e hipotensão, HAS, isquemia, drogas, intoxicação, doenças autoimunes, inflamação e/ou infecção e obstrução urinária. Sinais Clínicos – Começa a aparecer em cães a partir de 2/3 dos néfrons comprometidos, e em gatos ¾ de néfrons comprometidos. Vasculite, desidratação, êmese, diarreia, úlceras e hemorragias. Anorexia, poliúria e polidipsia, emagrecimento, alterações neurológicas, osteodistrofia renal (hiperparatireoidismo secundário renal), calcificação distrófica, fratura patológica e “mandíbula de borracha”. Hiperparatireoidismo Secundário Renal – O paratormônio é responsável por regular os níveis de cálcio, secretando PTH e aumentando o nível no sangue. Na DRC, ocorre hiperfosfatemia (menor excreção de P), menor reabsorção de cálcio renal e menor ativação renal de Vitamina D, ocasionando uma menor absorção de cálcio intestinal. Exame Físico – Desidratação, mucosas hipocoradas, hálito urêmico (necrose de língua e estomatite), calcinose cutânea e osteodistrofia renal. Diagnóstico – Hemograma (anemia não regenerativa e nutricional, vômito, diarreia e tudo mais), azotemia, urinálise (baixa da densidade urinária, proteinúria e aumento da RPC ou UPC). No ultrassom abdominal, vemos a diminuição do tamanho dos rins, fibrose (aumento da ecogenicidade), perda da relação córtex:medula, calcificação distrófica de demais órgãos. Eletrólitos com Ca e P aumentados, K diminuído. Aumento de PAS, PTH e SDMA, biópsia renal. Tratamento – Controle da uremia, fluidoterapia, focar no sintomático! Protetor gástrico, antiemético, analgésico, estimulante de apetite, vitaminas e ômega 3. Ms. Paula Nassar de Marchi Ms. Fábia Judice Marques Viroel 15 Dieta – Restrição de fósforo! Manutenção do ECC, evitar perda de massa magra. Alta palatabilidade, evitar jejum prolongado. Quelante de fósforo, hidróxido de alumínio 30mg/kg uma vez ao dia, junto com as refeições, sempre que Ca X P > 70 (mg/dL). !! Com distúrbios no rim, a produção de eritropoetina fica prejudicada, causando queda de hematócrito. Recomenda-se a aplicação nesses casos, 2 a 3x por semana. Controle da PAS, iECA (benazepril 0,5mg/kg SID), podendo associar com amlodipino. Monitoração – Hemograma (anemia), ureia e creatinina, Ca e P, K, urinálise, UPC, US abdominal e PAS. INJÚRIA RENAL AGUDA (IRA) Etiologia – Queda abrupta da função renal. Injúria isquêmica aguda, PAS < 80mmHg. Trombose vascular renal, hiperviscosidade sanguínea, intoxicação renal. Sinais Clínicos – Inicial, fase oligúrica ou anúrica. Débito urinário normal é de 2ml/kg/h. Os sinais agudos se relacionam com êmese, diarreia, desidratação e anorexia. Diagnóstico – Anamnese, verificação do início dos sinais agudos. Histórico de algum evento que justifique a IRA. Exame físico, verificando peso e pelames, hálito urêmico, oligúria e anúria. Urinálise, densidade urinária começa a cair <1030 (cães) e <1045 (gatos). Sedimento urinário, cilindros urinários e células epiteliais renais. Hemograma com HT normal. Bioquímica mostrando azotemia, hipercalemia (K > 5,5), aumento de P e diminuição de Ca (<7mg/Dl). No ultrassom, os rins podem estar normais, mas também pode estar maior de tamanho. Ao doppler, ocorre detecção de isquemia renal. Ausência de sinais de calcificação distrófica. Tratamento – Fluidoterapia, hidratação, recuperação e manutenção da perfusão renal. Se a oligúria persistir (DU < 1ml/kg/h), entrar com furosemida (2 a 6mg/kg IV, de 30 a 60 min), manitol (0,25 a 1gr/kg IV em 60 min). Em casos de diurese osmótica, aplicar dopamina (IV 0,5 a 1mcg/kg/min). Se a oligúria ou anúria persistir, realizar diálise peritoneal com monitoração intensiva mas tem risco de complicações. Hemodiálise é o ideal, porém o equipamento tem custo caro, exige técnica da equipe e necessita de monitoração, além de outras complicações. Monitoração – Débito urinário (DU), PAS, ureia e creatinina, Ca, P e K. DOENÇA DO TRATO URINÁRIO INFERIOR DO FELINO (DTUIF) Etiologia – Urólitos, dietas ricas em Mg e proteína de origem vegetal. Alcaliniza pH urinário e formam cristais de estruvita, urina estéril. Dietas ricas em proteína de origem animal, dietas acidificanes ou pobres em Na e K, acidifica pH urinário formando cristais de oxalato de cálcio. Urólitos, ITU, CIF (cistite intersticial em felinos), urina estéril, idiopático, estresse, oligodipsia e retenção. Sinais Clínicos – Sem obstrução, apresentará polaquiúria, disúria, estrangúria e hematúria. Com obstrução, tenesmo vesical, agitação, vocalização, ansiedade, lambedura das genitálias, sinais de azotemia pós renal como anorexia, êmese, desidratação, depressão, fraqueza, hipotermia e bradicardia. Diagnóstico – US abdominal, rx abdominal, urinálise e urocultura. Em casos obstrutivos, ureia, creatinina, eletrólitos e ECG. Tratamento – Não obstrutiva, manejo de estresse, caixas de areia e potes de água, AINEs, tranquilizantes (amitriptilina), antiespasmódicos (butorfanol ou prazosin), dieta com u/d Hills (dilui estruvita) e terapia com ferôrmonio (felliway). Ms. Paula Nassar de Marchi Ms. Fábia Judice Marques Viroel 16 No caso da obstrutiva, avaliamos a condição clínica. Se houver sinais de azotemia e hipercalemia, entramos com fluidoterapia e cistocentese de alívio. Ocorre baixa de K rapidamente, entrar com glicose e insulina. Contenção física ou química, com cetamina, tiopental, propofol, epidural. Realiza-se massagem peniana, palpação retal da uretra (deslocar tampão uretral ou cálculo). Retrohidropropulsão com solução salina estéril, assepsia rigorosa (impedir ITU secundária), manter sonda uretral por 2 a 3 dias. Em último caso, realiza-se uma uretrostomia perineal.
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