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DIREITO INTERNACIONAL II

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Curso 
ireito D II Internacional 
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Conteúdo 
 
 
 
Fontes do Direito Internacional ............................................................................ Pág. 8 
Sujeitos de Direito Internacional Público .............................................................. Pág. 22 
Tribunal Penal Internacional ................................................................................. Pág. 54 
Domínio Público Internacional .............................................................................. Pág. 82 
Nacionalidade ...................................................................................................... Pág. 94 
Aspectos Gerais do Direito Internacional Privado ................................................ Pág. 109 
Competência Internacional ................................................................................... Pág. 113 
Homologação de Sentenças Estrangeiras ........................................................... Pág. 116 
Direito Penal ......................................................................................................... Pág. 120 
Pessoas Jurídicas ................................................................................................ Pág. 125 
Direito de Família Internacional ............................................................................ Pág. 131 
8 
Direito Internacional Público 
 
1. FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL 
1.1 Introdução 
 
 O direito internacional público, também conhecido como direito das 
gentes, é o ramo do direito que normatiza as relações externas entre 
componentes da sociedade internacional. Os principais sujeitos de direito 
internacional são os Estados e as organizações internacionais. 
 Conforme a doutrina de Francisco Rezek, “no plano internacional não 
existe autoridade superior nem milícia permanente. Os Estados se 
organizam horizontalmente, e dispõem-se a proceder de acordo com normas 
jurídicas na exata medida em que estas tenham constituído objeto de seu 
consentimento. A criação das normas é, assim, obra direta de seus 
destinatários” (2010, p. 1). 
 O direito internacional possui fontes formais e materiais. Fontes 
formais são as criações normativas para aplicação em caráter geral. Esse 
caráter geral, em relação ao direito internacional, significa que as espécies 
normativas tem aplicabilidade apenas aqueles Estados que concordarem e 
ratificarem a respectiva fonte normativa, e não a todos os Estados do 
mundo, pois cada um possui a sua soberania e situam-se em plano 
horizontal. Já as fontes materiais são acontecimentos econômicos, políticos 
ou sociais que motivam a elaboração de normas sobre o assunto ou a ele 
relacionados. 
 São fontes formais do direito internacional: 
 a) os tratados; 
 b) os costumes; 
 c) os princípios gerais de direito; 
 d) a doutrina; 
 e) a jurisprudência; 
 f) a equidade; 
 g) os atos unilaterais; e 
 h) as decisões tomadas pelas organizações internacionais. 
 
 
1.2 Tratados 
 
 Antes, os tratados eram elaborados apenas com base nos costumes 
internacionais, dentro das margens da boa-fé e do pacta sunt servanda. 
Hoje, no entanto, já existem normas elaboradas em âmbito internacional 
com o específico propósito de disciplinar essa matéria. Nesse contexto, é 
importante conhecer o preâmbulo da Convenção de Viena sobre o Direito 
dos Tratados, de 23 de maio de 1969: 
Os Estados Partes na presente Convenção, 
Considerando o papel fundamental dos tratados na 
história das relações internacionais, 
9 
Reconhecendo a importância cada vez maior dos 
tratados como fonte do Direito Internacional e como 
meio de desenvolver a cooperação pacífica entre as 
nações, quaisquer que sejam seus sistemas 
constitucionais e sociais, 
Constatando que os princípios do livre consentimento e 
da boa fé e a regra pacta sunt servanda são 
universalmente reconhecidos, 
Afirmando que as controvérsias relativas aos tratados, 
tais como outras controvérsias internacionais, devem 
ser solucionadas por meios pacíficos e de 
conformidade com os princípios da Justiça e do Direito 
Internacional, 
Recordando a determinação dos povos das Nações 
Unidas de criar condições necessárias à manutenção 
da Justiça e do respeito às obrigações decorrentes dos 
tratados, 
Conscientes dos princípios de Direito Internacional 
incorporados na Carta das Nações Unidas, tais como 
os princípios da igualdade de direitos e da 
autodeterminação dos povos, da igualdade soberana e 
da independência de todos os Estados, da não-
intervenção nos assuntos internos dos Estados, da 
proibição da ameaça ou do emprego da força e do 
respeito universal e observância dos direitos humanos 
e das liberdades fundamentais para todos, 
Acreditando que a codificação e o desenvolvimento 
progressivo do direito dos tratados alcançados na 
presente Convenção promoverão os propósitos das 
Nações Unidas enunciados na Carta, que são a 
manutenção da paz e da segurança internacionais, o 
desenvolvimento das relações amistosas e a 
consecução da cooperação entre as nações, 
Afirmando que as regras do Direito Internacional 
consuetudinário continuarão a reger as questões não 
reguladas pelas disposições da presente Convenção, 
Convieram no seguinte: […] 
 Segundo a mencionada Convenção, tratado significa um acordo 
internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito 
Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais 
instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica (art. 
1º, alínea “a”, da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados – 
CVDT). 
 A Convenção de Viena de 1969 não previa como pessoas jurídicas de 
direito internacional as organizações internacionais, motivo pelo qual a 
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados entre Estados e 
Organizações Internacionais ou entre Organizações Internacionais, de 1986, 
 
10 
cuidou do assunto praticamente reproduzindo a Convenção de 1969, apenas 
para incluir na regulamentação dos tratados as organizações internacionais. 
 Nesse contexto, veja-se a conceituação de tratado pelo artigo 2º da 
Convenção de Viena, de 1986: 
Art. 2º – Termos empregados: 
1. Para efeitos da presente Convenção: 
a) Por “tratado” entende-se um acordo internacional 
regido pelo direito internacional e celebrado por escrito: 
i) Entre um ou várias Estados e uma ou várias 
organizações internacionais; ou 
ii) Entre organizações internacionais, quer esse 
acordo conste de um instrumento único ou de dois 
ou mais instrumentos conexos e qualquer que seja a 
sua denominação particular. 
 Os diversos instrumentos normativos internacionais demonstram que 
“acordo” e “convenção” são expressões que tem sido utilizadas como 
sinônimas de tratado. 
 
 
1.2.1 Requisitos de validade 
 
 São requisitos que condicionam a validade dos tratados: 
 a) a capacidade das partes; 
 b) a habilitação dos agentes signatários; 
 c) o consentimento mútuo; e 
 d) o objeto lícito e possível. 
 A capacidade dos Estados consta expressamente do artigo 6º da 
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, de 1969, que prevê que 
todo Estado tem capacidade para concluir tratados. Já a capacidade das 
organizações internacionais está contida no artigo 6º da Convenção de 
Viena sobre o Direito dos Tratados entre Estados e Organizações 
Internacionais ou entre Organizações Internacionais, de 1986, que dispõe 
que as organizações internacionais tem capacidade para concluir tratados, e 
que essa capacidade rege-se pelas regras das respectivas organizações. 
 A habilitação se traduz na entrega de plenos poderes aos 
representantes dos sujeitos internacionais, também conhecidos como 
plenipotenciários. Veja-se o conceito de plenos poderes segundo o artigo 2º 
da Convenção de Viena de 1986: 
Art. 2º – Termos empregados: 
1. Para efeitos da presente Convenção: 
[…] 
c) Por “plenos poderes” entende-se um documento que 
emana daautoridade competente de um Estado ou do 
órgão competente de uma organização internacional e 
11 
pelo qual se designa uma ou várias pessoas para 
representar o Estado ou a organização na negociação, 
na adoção ou na autenticação do texto de um tratado, 
para expressar o consentimento do Estado ou da 
organização em obrigar-se por um tratado, ou para 
executar qualquer outro ato relativamente a um tratado. 
 O consentimento mútuo indica a necessidade de concordância 
recíproca entre as partes contratantes, de forma volitiva. Segundo a 
Convenção de Viena, tanto a de 1969 como a de 1986, o vício de 
consentimento gera a nulidade do tratado e pode se manifestar sob a forma 
de erro, dolo, corrupção e coação. No caso de coação, ela pode ocorrer 
tanto por meio de um representante do Estado, como através de um Estado 
ou de uma organização internacional, pela ameaça ou pelo emprego de 
força. Acerca do tema, veja-se a redação dos artigos 46 a 52 da Convenção 
de Viena de 1969: 
Artigo 46 - Disposições do Direito Interno sobre 
Competência para Concluir Tratados: 
1. Um Estado não pode invocar o fato de que seu 
consentimento em obrigar-se por um tratado foi 
expresso em violação de uma disposição de seu direito 
interno sobre competência para concluir tratados, a não 
ser que essa violação fosse manifesta e dissesse 
respeito a uma norma de seu direito interno de 
importância fundamental. 
2. Uma violação é manifesta se for objetivamente 
evidente para qualquer Estado que proceda, na 
matéria, de conformidade com a prática normal e de 
boa fé. 
Artigo 47 - Restrições Específicas ao Poder de 
Manifestar o Consentimento de um Estado: 
Se o poder conferido a um representante de manifestar 
o consentimento de um Estado em obrigar-se por um 
determinado tratado tiver sido objeto de restrição 
específica, o fato de o representante não respeitar a 
restrição não pode ser invocado como invalidando o 
consentimento expresso, a não ser que a restrição 
tenha sido notificada aos outros Estados negociadores 
antes da manifestação do consentimento. 
Artigo 48 – Erro: 
1. Um Estado pode invocar erro no tratado como tendo 
invalidado o seu consentimento em obrigar-se pelo 
tratado se o erro se referir a um fato ou situação que 
esse Estado supunha existir no momento em que o 
tratado foi concluído e que constituía uma base 
 
12 
essencial de seu consentimento em obrigar-se pelo 
tratado. 
2. O parágrafo 1 não se aplica se o referido Estado 
contribui para tal erro pela sua conduta ou se as 
circunstâncias foram tais que o Estado devia ter-se 
apercebido da possibilidade de erro. 
3. Um erro relativo à redação do texto de um tratado 
não prejudicará sua validade; neste caso, aplicar-se-á o 
artigo 79. 
Artigo 49 – Dolo: 
Se um Estado foi levado a concluir um tratado pela 
conduta fraudulenta de outro Estado negociador, o 
Estado pode invocar a fraude como tendo invalidado o 
seu consentimento em obrigar-se pelo tratado. 
Artigo 50 - Corrupção de Representante de um Estado: 
Se a manifestação do consentimento de um Estado em 
obrigar-se por um tratado foi obtida por meio da 
corrupção de seu representante, pela ação direta ou 
indireta de outro Estado negociador, o Estado pode 
alegar tal corrupção como tendo invalidado o seu 
consentimento em obrigar-se pelo tratado. 
Artigo 51 - Coação de Representante de um Estado: 
Não produzirá qualquer efeito jurídico a manifestação 
do consentimento de um Estado em obrigar-se por um 
tratado que tenha sido obtida pela coação de seu 
representante, por meio de atos ou ameaças dirigidas 
contra ele. 
Artigo 52 - Coação de um Estado pela Ameaça ou 
Emprego da Força: 
É nulo um tratado cuja conclusão foi obtida pela 
ameaça ou o emprego da força em violação dos 
princípios de Direito Internacional incorporados na 
Carta das Nações Unidas. 
 Por fim, último requisito de validade dos tratados é o objeto lícito e 
possível, isto é, o objeto contratual não pode ser contraposto às normas de 
direito internacional público e deve ser materialmente executável. Acerca do 
tema, veja-se a redação do artigo 53 da Convenção de Viena sobre o Direito 
dos Tratados: 
Artigo 53 - Tratado em Conflito com uma Norma 
Imperativa de Direito Internacional Geral (jus cogens): 
É nulo um tratado que, no momento de sua conclusão, 
conflite com uma norma imperativa de Direito 
Internacional geral. Para os fins da presente 
Convenção, uma norma imperativa de Direito 
 
13 
Internacional geral é uma norma aceita e reconhecida 
pela comunidade internacional dos Estados como um 
todo, como norma da qual nenhuma derrogação é 
permitida e que só pode ser modificada por norma 
ulterior de Direito Internacional geral da mesma 
natureza. 
 
 
1.2.2 Processo de formação dos tratados 
 
 O processo de formação dos tratados possui dois âmbitos, um 
externo e outro interno. No âmbito externo, são fases do processo de 
formação dos tratados: 
 a) a negociação, a adoção e a assinatura (1ª fase); 
 b) a ratificação (3ª fase); 
 Já no âmbito interno, são fases do processo de formação dos 
tratados: 
 a) o referendo parlamentar (2ª fase); e 
 b) a promulgação e a publicação (4ª fase). 
 Essas fases, no entanto, não são sucessivas, mas interligadas. O 
referendo parlamentar (em âmbito interno), ocorre após a negociação, 
adoção e assinatura (em âmbito externo), ao passo que a promulgação e 
publicação (em âmbito interno) ocorre após a ratificação (em âmbito 
externo). 
 
 
1.2.2.1 Negociação, adoção e assinatura (1ª fase) 
 
 Após a fase de discussões e negociações, aos Estados é 
apresentado um texto escrito finalmente elaborado. Conforme prevê o artigo 
9º da Convenção de Viena, a adoção do texto de um tratado far-se-á por 
consentimento de todos os Estados e de todas as organizações 
internacionais, salvo no caso de conferência internacional, caso em que 
essa adoção pode depender de quórum diferente, a depender do que fora 
acordado entre os participantes da mesma. Nesse caso, se não se conseguir 
um acordo sobre tal procedimento, a adoção do texto far-se-á por 2/3 (dois 
terços) dos participantes presentes e votantes, a menos que esses 
participantes decidam por igual maioria aplicar regra diferente. 
 Ato contínuo, passa-se a fase de autenticação do tratado. Sobre o 
assunto, veja-se o procedimento por meio da análise do artigo 10 da 
Convenção de Viena, de 1986: 
Artigo 10 - Autenticação do Texto: 
1. O texto de um tratado entre um ou vários Estados e 
uma ou várias organizações internacionais ficará 
estabelecido como autêntico e definitivo: 
 
 
14 
a) Mediante o procedimento que nele se prescrever ou 
que seja acordado entre os Estados e as organizações 
que tenham participado na sua elaboração; ou 
b) Na falta de tal procedimento, mediante a sua 
assinatura, assinatura ad referendum ou a rubrica pelos 
representantes desses Estados e dessas organizações, 
do texto do tratado ou do ato final de uma conferência 
em que o texto tenha sido incluído. 
2. O texto de um tratado entre organizações 
internacionais ficará estabelecido como autêntico e 
definitivo: 
a) Mediante o procedimento que nele se prescreva ou 
que seja acordado pelas organizações que tenham 
participado na sua elaboração; 
b) Na falta de tal procedimento, mediante a sua 
assinatura, assinatura ad referendum ou a rubrica pelos 
representantes dessas organizações, do texto do 
tratado ou do ato final de uma conferência em que o 
texto tenha sido incluído. 
 Como se vê, portanto, a assinatura não tem o caráter de aceite 
definitivo do tratado. Embora seja etapa relevante, tem caráter de 
provisoriedade. No caso do representante do Estado ou organização 
internacional não possuir autorização regular, ele deve apenas rubricar o 
texto, que posteriormente deve ser assinado por quem tenha poderes de 
representação regular do Estado ou organização internacional. 
 
 
1.2.2.2 Referendo parlamentar (2ª fase) 
 
 Após a assinatura, a segunda fase para aprovação de um tratado não 
é internacional, mas interna.Tão logo seja concluída a primeira fase, o texto 
do tratado deve ser remetido ao Congresso Nacional, que deve sobre ele 
deliberar. 
 São 4 (quatro) as condutas passíveis de serem adotadas pelo 
Congresso Nacional: 
 a) aprovação integral; 
 b) aprovação com reservas; 
 c) aprovação com declaração de discordância às reservas do Poder 
Executivo; ou 
 d) rejeição integral. 
 Caso o Congresso Nacional rejeite integralmente o texto do tratado, a 
decisão tem caráter definitivo. Nos demais casos, há continuação do 
procedimento relativo a aprovação e aplicação do respectivo tratado. 
 Acerca das reservas, é importante conhecer o teor do artigos 19 e 20 
da Convenção de Viena de 1969: 
 
15 
Artigo 19 - Formulação de Reservas 
Um Estado pode, ao assinar, ratificar, aceitar ou 
aprovar um tratado, ou a ele aderir, formular uma 
reserva, a não ser que: 
a) a reserva seja proibida pelo tratado; 
b) o tratado disponha que só possam ser formuladas 
determinadas reservas, entre as quais não figure a 
reserva em questão; ou 
c) nos casos não previstos nas alíneas a e b, a reserva 
seja incompatível com o objeto e a finalidade do 
tratado. 
Artigo 20 - Aceitação de Reservas e Objeções às 
Reservas: 
1. Uma reserva expressamente autorizada por um 
tratado não requer qualquer aceitação posterior pelos 
outros Estados contratantes, a não ser que o tratado 
assim disponha. 
2. Quando se infere do número limitado dos Estados 
negociadores, assim como do objeto e da finalidade do 
tratado, que a aplicação do tratado na íntegra entre 
todas as partes é condição essencial para o 
consentimento de cada uma delas em obrigar-se pelo 
tratado, uma reserva requer a aceitação de todas as 
partes. 
3. Quando o tratado é um ato constitutivo de uma 
organização internacional, a reserva exige a aceitação 
do órgão competente da organização, a não ser que o 
tratado disponha diversamente. 
4. Nos casos não previstos nos parágrafos precedentes 
e a menos que o tratado disponha de outra forma: 
a) a aceitação de uma reserva por outro Estado 
contratante torna o Estado autor da reserva parte no 
tratado em relação àquele outro Estado, se o tratado 
está em vigor ou quando entrar em vigor para esses 
Estados; 
b) a objeção feita a uma reserva por outro Estado 
contratante não impede que o tratado entre em vigor 
entre o Estado que formulou a objeção e o Estado 
autor da reserva, a não ser que uma intenção contrária 
tenha sido expressamente manifestada pelo Estado 
que formulou a objeção; 
c) um ato que manifestar o consentimento de um 
Estado em obrigar-se por um tratado e que contiver 
uma reserva produzirá efeito logo que pelo menos 
outro Estado contratante aceitar a reserva. 
 
16 
5. Para os fins dos parágrafos 2 e 4, e a não ser que o 
tratado disponha diversamente, uma reserva é tida 
como aceita por um Estado se este não formulou 
objeção à reserva quer no decurso do prazo de doze 
meses que se seguir à data em que recebeu a 
notificação, quer na data em que manifestou o seu 
consentimento em obrigar-se pelo tratado, se esta for 
posterior. 
 Naturalmente, não pode ser alvo de reserva o próprio objeto ou 
finalidade do tratado. 
 Por derradeiro, quanto a retirada de reservas e de objeções feitas às 
reservas, veja-se o artigo 22 da Convenção de Viena de 1969: 
Artigo 22 - Retirada de Reservas e de Objeções às 
Reservas: 
1. A não ser que o tratado disponha de outra forma, 
uma reserva pode ser retirada a qualquer momento, 
sem que o consentimento do Estado que a aceitou seja 
necessário para sua retirada. 
2. A não ser que o tratado disponha de outra forma, 
uma objeção a uma reserva pode ser retirada a 
qualquer momento. 
3. A não ser que o tratado disponha ou fique acordado 
de outra forma: 
a) a retirada de uma reserva só produzirá efeito em 
relação a outro Estado contratante quando este Estado 
receber a correspondente notificação; 
b) a retirada de uma objeção a uma reserva só 
produzirá efeito quando o Estado que formulou a 
reserva receber notificação dessa retirada. 
 
 
1.2.2.3 Ratificação (3ª fase) 
 
 Após a manifestação do Congresso Nacional, desde que não tenha 
sido pela rejeição integral do tratado, o texto do mesmo segue para o 
Presidente da República, que pode ou não ratificar a assinatura nele 
proferida. 
 Como se havia mencionado, note-se o caráter precário da assinatura, 
pois o Presidente da República, em ato discricionário, pode ou não ratificá-
la. 
 Realizada a ratificação, pelo Presidente da República, o tratado se 
torna obrigatório para o Estado, e este se vincula definitivamente com os 
demais Estados-Partes. 
 
 
 
 
17 
1.2.2.4 Promulgação (4ª fase) 
 
 Se o Presidente da República ratificar, ele deve também promulgar o 
respectivo tratado e publicá-lo no Diário Oficial da União, com o que ele 
adquire relevância jurídica externa e interna. 
 
 
1.2.3 Interpretação dos tratados 
 
 A interpretação dos tratados não pode se afastar da boa-fé, tão 
menos da finalidade que motivou a celebração do mesmo. 
 Acerca do assunto, é necessário conhecer os artigos 31 e 32 da 
Convenção de Viena, de 1969: 
Artigo 31 - Regra Geral de Interpretação: 
1. Um tratado deve ser interpretado de boa fé segundo 
o sentido comum atribuível aos termos do tratado em 
seu contexto e à luz de seu objetivo e finalidade. 
2. Para os fins de interpretação de um tratado, o 
contexto compreenderá, além do texto, seu preâmbulo 
e anexos: 
a) qualquer acordo relativo ao tratado e feito entre 
todas as partes em conexão com a conclusão do 
tratado; 
b) qualquer instrumento estabelecido por uma ou várias 
partes em conexão com a conclusão do tratado e 
aceito pelas outras partes como instrumento relativo ao 
tratado. 
3. Serão levados em consideração, juntamente com o 
contexto: 
a) qualquer acordo posterior entre as partes relativo à 
interpretação do tratado ou à aplicação de suas 
disposições; 
b) qualquer prática seguida posteriormente na 
aplicação do tratado, pela qual se estabeleça o acordo 
das partes relativo à sua interpretação; 
c) quaisquer regras pertinentes de Direito Internacional 
aplicáveis às relações entre as partes. 
4. Um termo será entendido em sentido especial se 
estiver estabelecido que essa era a intenção das 
partes. 
Artigo 32 - Meios Suplementares de Interpretação: 
Pode-se recorrer a meios suplementares de 
interpretação, inclusive aos trabalhos preparatórios do 
tratado e às circunstâncias de sua conclusão, a fim de 
confirmar o sentido resultante da aplicação do artigo 31 
 
18 
ou de determinar o sentido quando a interpretação, de 
conformidade com o artigo 31: 
a) deixa o sentido ambíguo ou obscuro; ou 
b) conduz a um resultado que é manifestamente 
absurdo ou desarrazoado. 
 
 
1.2.4 Tratados e terceiros Estados 
 
 Os tratados, via de regra, não produzem efeitos em relação aos 
Estados que não tenham figurado como partes, sob pena de lesão à 
soberania dos mesmos. 
 Há, no entanto, relevantes ressalvas, consoante se faz citação dos 
seguintes dispositivos da Convenção de Viena: 
Artigo 34 - Regra Geral com Relação a Terceiros 
Estados: 
Um tratado não cria obrigações nem direitos para um 
terceiro Estado sem o seu consentimento. 
Artigo 35 - Tratados que Criam Obrigações para 
Terceiros Estados: 
Uma obrigação nasce para um terceiro Estado de uma 
disposição de um tratado se as partes no tratado 
tiverem a intenção de criar a obrigação por meio dessa 
disposição e o terceiro Estado aceitar expressamente, 
por escrito, essa obrigação. 
Artigo 36 - Tratados que Criam Direitos para Terceiros 
Estados: 
1. Um direito nasce para um terceiro Estado de uma 
disposição de um tratado se as partes no tratado 
tiverem a intenção de conferir, por meio dessa 
disposição, esse direito quer a um terceiro Estado, quer 
a um grupo de Estados a que pertença, quer a todos os 
Estados, e o terceiro Estado nisso consentir. Presume-
se o seu consentimento até indicação em contrário, a 
menos que o tratado disponha diversamente. 
2. Um Estado queexerce um direito nos termos do 
parágrafo 1 deve respeitar, para o exercício desse 
direito, as condições previstas no tratado ou 
estabelecidas de acordo com o tratado. 
Artigo 37 - Revogação ou Modificação de Obrigações 
ou Direitos de Terceiros Estados: 
1. Qualquer obrigação que tiver nascido para um 
terceiro Estado nos termos do artigo 35 só poderá ser 
revogada ou modificada com o consentimento das 
 
 
19 
partes no tratado e do terceiro Estado, salvo se ficar 
estabelecido que elas haviam acordado diversamente. 
2. Qualquer direito que tiver nascido para um terceiro 
Estado nos termos do artigo 36 não poderá ser 
revogado ou modificado pelas partes, se ficar 
estabelecido ter havido a intenção de que o direito não 
fosse revogável ou sujeito a modificação sem o 
consentimento do terceiro Estado. 
Artigo 38 - Regras de um Tratado Tornadas 
Obrigatórias para Terceiros Estados por Força do 
Costume Internacional: 
Nada nos artigos 34 a 37 impede que uma regra 
prevista em um tratado se torne obrigatória para 
terceiros Estados como regra consuetudinária de 
Direito Internacional, reconhecida como tal. 
 
 
1.2.5 Extinção dos tratados 
 
 A extinção de um tratado ou a retirada de uma das partes pode 
ocorrer de conformidade com as disposições do tratado ou a qualquer 
momento, pelo consentimento de todas as partes, após a consulta com os 
outros Estados contratantes (art. 54 da Convenção de Viena). 
 São formas de extinção dos tratados: 
 a) a execução completa; 
 b) o consentimento mútuo; 
 c) o termo ou a condição resolutória; 
 d) a ruptura das relações diplomáticas; 
 e) a impossibilidade de execução; 
 f) a inexecução por uma das partes; 
 g) a caducidade; ou 
 h) a denúncia. 
 A extinção do tratado pela execução completa ocorre quando todas as 
partes cumprem o pactuado, de modo que resta exaurido o objeto do 
tratado. 
 Um tratado também pode ser extinto quando, por consentimento de 
todas as partes, decide-se colocar fim ao mesmo. 
 Ultrapassado o prazo previsto para ocorrência do evento previsto 
(termo), sem que este tenha se verificado e sendo o tratado por tempo 
determinado, este reputa-se extinto. Do mesmo modo, extingue-se o tratado 
quando se constata a ocorrência de evento futuro e incerto, de modo a 
revelar a ocorrência da condição resolutória nele prevista. 
 A ruptura das relações diplomáticas, via de regra, verifica-se pela 
iminência ou efetivo início de uma guerra. Com ela quebram-se as relações 
entre os envolvidos e, consequentemente, extinguem-se os tratados 
celebrados. Embora seja frequente, nada impede que determinados tratados 
 
 
20 
sejam mantidos durante uma guerra. O próprio artigo 63 da Convenção de 
Viena dispõe que o rompimento de relações diplomáticas ou consulares 
entre partes em um tratado não afeta as relações jurídicas estabelecidas 
entre elas pelo tratado, salvo na medida em que a existência de relações 
diplomáticas ou consulares for indispensável à aplicação do tratado. 
 Conforme prevê o artigo 61 da Convenção de Viena, uma parte pode 
invocar a impossibilidade de cumprir um tratado como causa para extingui-lo 
ou para dele retirar-se, se esta possibilidade resultar da destruição ou do 
desaparecimento definitivo de um objeto indispensável ao cumprimento do 
tratado. Caso a impossibilidade seja temporária, só poderá ser invocada 
como causa para suspender a execução do tratado. 
 Quando uma das partes não cumprir o tratado, e este for de natureza 
bilateral, a outra parte pode optar pela suspensão ou extinção do mesmo. E 
caso o tratado seja de natureza multilateral, a inexecução por uma das 
partes confere às demais o direito de não executar o tratado em relação a 
todas as partes, apenas em relação ao Estado infrator, ou apenas entre o 
Estado infrator e o Estado afetado pela inexecução. 
 Um tratado se extingue pela caducidade quando deixa de ser aplicado 
com o decorrer do tempo, ou quando práticas opostas a ele surgem no 
tempo, de modo a torná-lo inexecutável. 
 Por fim, a denúncia, ou declaração unilateral de extinção, é o meio 
pelo qual um Estado declara sua vontade de não fazer mais parte do tratado, 
o que gera a extinção do mesmo em relação, apenas, ao Estado 
denunciante. 
 
 
1.3 Costume internacional 
 
 O costume foi, durante muito tempo, a principal base do direito 
internacional público. Embora não tenha desaparecido, sucumbiu ante uma 
tendência moderna de codificação das normas. Se diz que não 
desapareceu, pois em inúmeros casos essa codificação nada mais faz do 
que formalizar, através de tratados, os costumes internacionalmente 
reconhecidos. 
 Conforme dispõe o artigo 38, parágrafo primeiro, alínea “b”, do 
Estatuto da Corte Internacional de Justiça, os costumes são práticas gerais 
aceitas como direito. 
 Por derradeiro, cumpre mencionar, conforme a doutrina de Francisco 
Rezek, que não há hierarquia entre os tratados e os costumes 
internacionais, sendo comum que um seja causa de derrogação do outro. 
 
 
1.4 Princípios gerais de direito 
 
 Um princípio geral de direito é aquele reconhecido como tal por vários 
Estados civilizados, nos termos em que dispõe o artigo 38, parágrafo 
primeiro, alínea “c” do Estatuto da Corte Internacional de Justiça. 
 
 
21 
 Dentre os principais, pode-se citar os seguintes princípios gerais de 
direito, todos consagrados através do artigo 4º da Constituição Federal de 
1988: 
 a) independência nacional; 
 b) prevalência dos direitos humanos; 
 c) autodeterminação dos povos; 
 d) não-intervenção; 
 e) igualdade entre os Estados; 
 f) defesa da paz; 
 g) solução pacífica dos conflitos; 
 h) repúdio ao terrorismo e ao racismo; 
 i) cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; 
 j) concessão de asilo político. 
 
 
1.5 Doutrina e jurisprudência 
 
 A doutrina e a jurisprudência mostram-se segundo a melhor doutrina, 
como instrumento de interpretação da norma de direito internacional público, 
e não propriamente como fonte do mesmo. 
 A doutrina, consabido, é o estudo de reconhecidos especialistas em 
direito internacional, enquanto a jurisprudência internacional forma-se pelo 
conjunto de decisões judiciais proferidas em âmbito internacional. 
 É importante frisar que as decisões judiciais nacionais não constituem 
jurisprudência, apta a ser utilizada em âmbito internacional. 
 
 
1.6 Equidade e analogia 
 
 A equidade e a analogia são instrumentos que conduzem ao melhor 
raciocínio acerca da aplicação das normas. Não são, portanto, propriamente 
fontes do direito internacional. 
 Por meio desses dois instrumentos busca-se a correta e mais 
adequada interpretação a determinados casos concretos. 
 Em relação a equidade, conforme salienta Francisco Rezek, “parece 
generalizada a convicção de que a equidade pode operar tanto na hipótese 
de insuficiência da norma de direito positivo aplicável quanto naquela em 
que a norma, embora bastante, traz ao caso concreto uma solução 
inaceitável pelo senso de justiça do intérprete” (2010, p. 148). 
 
 
1.7 Atos unilaterais 
 
 Os atos unilaterais não foram incluídos no rol do artigo 38 do Estatuto 
da Corte Internacional de Justiça, motivo pelo qual é controverso o 
reconhecimento deles como fonte do direito internacional público. 
 
22 
 O ato unilateral é aquele praticado por apenas um sujeito de direito 
internacional público. A denúncia de um tratado ou a reserva em relação a 
parte dele constituem, pois, atos unilaterais. 
 
 
1.8 Decisões das organizações internacionais 
 
 As decisões das organizações internacionais, da mesma forma que os 
atos unilaterais, por não constarem do rol do artigo 38 do Estatuto da Corte 
Internacional de Justiça também tem questionado seu caráter de fonte do 
direito internacional público. 
 Uma resolução editada por uma organização internacional, como a 
Organização das Nações Unidas por exemplo, embora não vincule, convida 
os diversos Estados que dela fazem parte a observarem suas 
recomendações. 
 
 
2. Sujeitos de Direito Internacional Público 
 
 Ossujeitos de direito internacional, também chamados de sujeitos em 
direito das gentes, ou simplesmente de pessoas jurídicas de direito 
internacional público, são os Estados soberanos e as organizações 
internacionais. A Santa Sé, é importante salientar, equipara-se aos Estados 
soberanos. 
 É originária a personalidade jurídica de direito internacional público 
dos Estados soberanos, enquanto é derivada a das organizações 
internacionais. 
 As empresas, sejam públicas ou privadas, não são consideradas 
sujeitos de direito internacional público, assim como as Organizações Não-
Governamentais (ONG's). Exceção em relação as ONG's seja feita em 
relação ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha, ao qual se reconhece a 
personalidade jurídica de direito internacional. 
 Em relação as pessoas, individualmente consideradas, há divergência 
doutrinária sobre o reconhecimento da sua personalidade jurídica de direito 
internacional. Parece mais adequada a posição de Francisco Rezek (2010, 
p. 154), por meio da qual não se consideram os indivíduos como sujeitos de 
direito internacional. Os que filiam-se à teoria que atribuiu essa 
personalidade aos indivíduos, utilizam o argumento de que eles são os 
destinatários das normas e, portanto, também gozam dessa personalidade 
de direito internacional público. 
 Todo sujeito de direito internacional público é sujeito de direitos e 
também de deveres. 
 Conforme apontado pela melhor doutrina, os sujeitos de direito 
internacional podem ser classificados em: 
 a) Estados; 
 b) Organizações internacionais; e 
 c) Coletividades não estatais. 
 
 
23 
2.1 Estados 
 
 Para que se fale em Estado, há que se falar na reunião de 4 (quatro) 
elementos: 
 a) território; 
 b) povo; 
 c) governo; e 
 d) soberania. 
 Território é o elemento material (ou físico) do Estado. Compreende, 
grosso modo, a superfície, o subsolo e o espaço aéreo que o território 
ocupa. 
 Povo é o elemento pessoal do Estado. Note-se que a expressão 
“povo” é mais precisa que “população” quando se fala de elementos do 
Estado, pois enquanto população compreende todos aqueles que estejam 
em território nacional, sejam nacionais ou não, estejam de maneira 
permanente ou temporária, povo compreende apenas as pessoas que 
possuem vínculo jurídico com o respectivo Estado. 
 Governo é a medida de organização necessária ao exercício e à 
manutenção do poder político. 
 Soberania é o poder do Estado que o autoriza a não se submeter à 
nenhuma autoridade exterior, permitindo-lhe reger-se de acordo com os 
sistemas que adotar. 
 Não se pode deixar de mencionar que segundo Dalmo de Abreu 
Dallari, em sua clássica obra “Elementos de Teoria Geral do Estado”, fala-se 
em um quinto elemento para que se possa falar na existência de um Estado, 
que é a finalidade. O elemento finalidade delimita a forma de atuação do 
Estado, que deve direcionar suas atividades com o objetivo de satisfazer 
suas finalidades. 
 
 
2.1.1 Reconhecimento do Estado 
 
 O reconhecimento de um Estado é feito por parte dos demais, com o 
que o primeiro adquire personalidade jurídica de direito internacional público. 
Para que esse reconhecimento ocorra exige-se o pedido do Estado 
interessado, que se formaliza por meio do instrumento chamado notificação. 
 É controversa a natureza jurídica do ato de reconhecimento da 
personalidade estatal a um Estado, existindo, pois, as seguintes teorias: 
 a) teoria constitutiva; 
 b) teoria declarativa; e 
 c) teoria mista. 
 A teoria constitutiva informa que o Estado adquire personalidade 
estatal após com o ato de reconhecimento, pelos demais Estados. 
 Pela teoria declarativa, diferentemente, reconhece-se que o Estado 
adquire personalidade estatal tão logo preencha os 4 (quatro) elementos 
necessários (supra mencionados), caso em que o ato dos demais Estados 
 
24 
apenas atestam a personalidade que o Estado já possuiu. Essa teoria é 
majoritária no cenário internacional. 
 Já pela teoria mista entende-se que o reconhecimento do novo 
Estado pelos demais atesta a personalidade deste e constitui entre os 
Estados que reconheceram e o Estado reconhecido, uma relação de direitos 
e de obrigações. 
 
 
2.1.2 Reconhecimento de governo 
 
 Se fala em reconhecimento de governo quando, presumivelmente, já 
ocorreu o reconhecimento do Estado, e mais, que esse Estado que já era 
reconhecido suportou uma alteração em sua ordem política. 
 Quando houver a instalação de um novo governo em um Estado, há 
que se operacionalizar o reconhecimento desse governo. Não haverá 
reconhecimento quando, por exemplo, houver golpe de Estado. 
 Acerca do reconhecimento de governo, duas são as teorias 
internacionalmente difundidas: 
 a) doutrina Tobar; e 
 b) doutrina Estrada. 
 Por meio da doutrina Tobar, os demais Estados só devem reconhecer 
o Estado que esteja sob um governo provisório quando ficar demonstrado 
que esse governo conta com apoio e aprovação popular. 
 A doutrina Estrada, por sua vez, informa que os demais Estados não 
devem se pronunciar acerca do reconhecimento ou não do governo 
provisório de um Estado, pois esse reconhecimento fere a soberania desse 
Estado, já que os outros não devem assumir posturas críticas, favoráveis ou 
desfavoráveis, em relação a capacidade desse novo regime. 
 Por derradeiro, há que se salientar que não há que se falar na 
necessidade de reconhecimento quando a alteração da ordem política 
ocorrer de maneira legitima, por meio de eleições democráticas, por 
exemplo. 
 
 
2.2 Coletividades não estatais 
 
 Algumas pessoas jurídicas de direito internacional público não se 
encaixam no conceito de Estado, tão menos no de organização 
internacional. Inobstante, são reconhecidas pelos demais Estados. 
 
 
2.2.1 Beligerantes 
 
 Beligerantes são os movimentos revolucionários de grupos armados 
que comandam parte de um território estatal e objetivam sua independência. 
 Se houver reconhecimento de uma coletividade como beligerante, ela 
passará a gozar de direitos e deveres em relação aos demais Estados, os 
quais se relacionam exclusivamente à guerra. Do mesmo modo que os 
 
25 
grupos beligerantes podem receber ajuda humanitária, podem sofrer 
restrições das mais variadas órbitas. 
 É importante frisar que para que se fale em coletividade beligerante 
há que se falar em movimento armado de grandes proporções e que 
aparentam possuir força para exercer poderes similares ao do Estado. 
 
 
2.2.2 Insurgentes 
 
 Se o movimento armado não tem grandes proporções, não pode ser 
chamado de beligerante, mas pode ser classificado como insurgente. 
 Os movimentos insurgentes assumem motivação política e não 
alcançam características palpáveis de guerra civil. 
 Também pode haver o reconhecimento de coletividades insurgentes 
por outros Estados, mas os direitos e deveres decorrentes desse 
reconhecimento são mais restritos do que os decorrentes do reconhecimento 
dos movimentos beligerantes. 
 
 
2.2.3 Movimentos de libertação nacional 
 
 Como é sugestiva a expressão, os movimentos de libertação nacional 
tem por objetivo alcançar a liberdade de um determinado povo. 
 Reconhecida a personalidade jurídica de direito internacional público 
ao movimento de libertação nacional, ela se manifesta sob três âmbitos: 
 a) nas relações internacionais; 
 b) nos direitos dos tratados; e 
 c) no direito humanitário. 
 
 
2.2.4 Santa Sé 
 
 O Estado da Cidade do Vaticano foi reconhecido como Estado pelos 
acordos de Latrão, em 1929, entre a Santa Sé e a Itália. O tratado de Latrão 
foi incorporado à Constituição Italiana em 1947. 
 A Santa Sé, apesar de não se identificar como um Estado comum, 
possui personalidade jurídica de direito internacional (REZEK, 2010, p. 250 e 
251). Isso ocorre pois embora o Estado da Cidade do Vaticano tenha todos 
os elementos de um Estado (território, povo, governo e soberania), sua 
finalidade é a de governo da Igreja Católica, e não apenas de governo do 
Estado da Cidade do Vaticano. 
 Considerada como detentora de soberania originária, a SantaSé, 
pois, equipara-se aos demais Estados. 
 
 
 
 
 
 
26 
2.2.5 Comitê Internacional da Cruz Vermelha 
 
 Dentre os vários órgãos que formam a Cruz Vermelha, é apenas o 
Comitê Internacional que possui personalidade jurídica de direito 
internacional público. Com sede em Genebra, na Suíça, o Comitê é uma 
organização humanitária, independente e neutra. 
 A missão do Comitê Internacional da Cruz Vermelha é a de prestar 
assistência às vítimas de conflitos armados e demais situações de violência. 
 
 
2.3 Organizações internacionais 
 
 Organizações internacionais, ou entidades interestatais são o 
resultado da associação volitiva de sujeitos de direito internacional público, 
constituídas mediante um tratado, composta por órgãos próprios e voltada 
para a finalidade comum estabelecida pelos seus membros. 
 A personalidade jurídica de direito internacional público é conferida às 
organizações internacionais em razão da vontade dos Estados que 
participam de seus atos constitutivos. 
 Quanto a composição, “dois órgãos, pelo menos, têm parecido 
indispensáveis na estrutura de toda organização internacional, 
independentemente de seu alcance e finalidade: uma assembléia geral – 
onde todos os Estados-membros tenham voz e voto, em condições 
igualitárias, e que configure o centro de uma possível competência 
'legislativa' da entidade – e uma secretaria, órgão de administração, de 
funcionamento permanente, integrado por servidores neutros em relação à 
política dos Estados-membros – particularmente à de seus próprios Estados 
patriais” (REZEK, 2010, p. 259). 
 
 
2.3.1 Organização das Nações Unidas 
 
 A Organização das Nações Unidas (ONU) foi criada em 26 de junho 
de 1945, por meio da Conferência de São Francisco. O objetivo de criação 
da ONU foi substituir a “Liga das Nações”, que havia sido criada em 1919, 
na França, por meio do Tratado de Versalhes. Enquanto a Liga das Nações 
foi uma criação pós Primeira Guerra Mundial, a ONU é uma criação pós 
Segunda Guerra Mundial. 
 O ato constitutivo da ONU é a Carta das Nações Unidas, e o início 
das suas atividades ocorreu em 24 de outubro de 1945. No total, 51 
(cinquenta e um) países foram signatários da Carta das Nações Unidas, 
dentre os quais estava o Brasil. 
 A sede da ONU é em Nova Iorque, nos Estados Unidos, e a sede 
européia fica situada em Genebra, na Suíça. 
 Os idiomas oficiais da ONU são: 
 a) o inglês; 
 b) o francês; 
 c) o chinês; 
 
27 
 d) o russo; 
 e) o espanhol; e 
 f) o árabe. 
 O financiamento da ONU se dá por meio de contribuições voluntárias 
de seus membros. O maior contribuinte são os Estados Unidos, seguidos do 
Japão, da Alemanha, do Reino Unido e da França. 
 O artigo 2º da Carta das Nações Unidas aponta os seguintes 
princípios adotados pela Organização das Nações Unidas: 
 a) igualdade: a Organização é baseada no princípio da igualdade de 
todos os seus Membros; 
 b) boa-fé: todos os Membros, a fim de assegurarem para todos em 
geral os direitos e vantagens resultantes de sua qualidade de Membros, 
deverão cumprir de boa-fé as obrigações por eles assumidas de acordo com 
a presente Carta; 
 c) solução pacífica dos conflitos: todos os Membros deverão resolver 
suas controvérsias internacionais por meios pacíficos, de modo que não 
sejam ameaçadas a paz, a segurança e a justiça internacionais; 
 d) não agir contra os propósitos da ONU: todos os Membros deverão 
evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a 
integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado, ou 
qualquer outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas; 
 e) prestação de auxílio material: todos os Membros darão às Nações 
toda assistência em qualquer ação a que elas recorrerem de acordo com a 
presente Carta e se absterão de dar auxílio a qual Estado contra o qual as 
Nações Unidas agirem de modo preventivo ou coercitivo; 
 f) observar os princípios da ONU: a Organização fará com que os 
Estados que não são Membros das Nações Unidas ajam de acordo com 
esses Princípios em tudo quanto for necessário à manutenção da paz e da 
segurança internacionais; e 
 g) não-intervenção: nenhum dispositivo da presente Carta autorizará 
as Nações Unidas a intervirem em assuntos que dependam essencialmente 
da jurisdição de qualquer Estado ou obrigará os Membros a submeterem tais 
assuntos a uma solução, nos termos da presente Carta; este princípio, 
porém, não prejudicará a aplicação das medidas coercitivas constantes do 
Capitulo VII da Carta das Nações Unidas. 
 
 
2.3.1.1 Objetivos 
 
 Os principais objetivos da Organização das Nações Unidas são: 
 a) manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, 
coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os 
atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios 
pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito 
internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que 
possam levar a uma perturbação da paz; 
28 
b) desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no 
respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos 
povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz 
universal; 
 c) conseguir uma cooperação internacional para resolver os 
problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou 
humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e 
às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua 
ou religião; e 
 d) ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a 
consecução desses objetivos comuns. 
 
 
2.3.1.2 Órgãos 
 
 São os principais órgãos das Nações Unidas: 
 a) a Assembléia Geral; 
 b) o Conselho de Segurança; 
 c) o Conselho Econômico e Social; 
 d) o Conselho de Tutela; 
 e) o Tribunal Internacional de Justiça; e 
 f) o Secretariado. 
 Todos os órgãos supra mencionados possuem sede em Nova Iorque 
(EUA), exceto o Tribunal Internacional de Justiça, que está situado em Haia, 
Países Baixos. 
 
 
2.3.1.2.1 Assembléia Geral 
 
 A Assembléia Geral pode discutir quaisquer questões ou assuntos 
que estejam incluídos nas finalidades da Carta da Nações Unidas, ou que se 
relacionem com as atribuições e funções de qualquer dos órgãos nela 
previstos e, com exceção do estipulado no seu artigo 12 (quando o Conselho 
de Segurança estiver exercendo, em relação a qualquer controvérsia ou 
situação, as funções que lhe são atribuídas na Carta das Nações Unidas, a 
Assembléia Geral não deve fazer nenhuma recomendação a respeito dessa 
controvérsia ou situação, exceto se solicitado pelo próprio Conselho de 
Segurança) poderá fazer recomendações aos Membros das Nações Unidas 
ou ao Conselho de Segurança ou a este e àqueles, conjuntamente, com 
referência a qualquer daquelas questões ou assuntos. 
 A Assembléia Geral pode considerar os princípios gerais de 
cooperação na manutenção da paz e da segurança internacionais, inclusive 
os princípios que disponham sobre o desarmamento e a regulamentação 
dos armamentos, e pode fazer recomendações relativas a tais princípios aos 
Membros ou ao Conselho de Segurança, ou a este e àqueles conjuntamente 
(art. 11, da Carta das Nações Unidas). 
29 
À Assembléia Geral é conferida a possibilidade de discutir quaisquer 
questões relativas à manutenção da paz e da segurança internacionais, que 
a ela forem submetidas por qualquer Membro das Nações Unidas, ou pelo 
Conselho de Segurança, ou por um Estado que não seja Membro das 
Nações unidas, de acordo com o Artigo 35, parágrafo segundo, e, com 
exceção do estipulado no Artigo 12, poderá fazer recomendações relativas a 
quaisquer destas questões ao Estado ou Estados interessados, ou ao 
Conselho de Segurança ou a ambos. Qualquer destas questões, para cuja 
solução for necessária uma ação, deve ser submetida ao Conselho de 
Segurança pela Assembléia Geral, antes ou depois da discussão. 
 Sempre que necessário, a Assembléia Geral pode solicitara atenção 
do Conselho de Segurança para situações que possam constituir ameaça à 
paz e à segurança internacionais. 
 Conforme estipula o artigo 13 da Carta das Nações Unidas, a 
Assembléia Geral deve realizar estudos e fazer recomendações, destinados 
a: 
 a) promover cooperação internacional no terreno político e incentivar 
o desenvolvimento progressivo do direito internacional e a sua codificação; 
 b) promover cooperação internacional nos terrenos econômico, social, 
cultural, educacional e sanitário e favorecer o pleno gozo dos direitos 
humanos e das liberdades fundamentais, por parte de todos os povos, sem 
distinção de raça, sexo, língua ou religião. 
 Também é incumbência da Assembléia Geral receber e examinar os 
relatórios anuais e especiais do Conselho de Segurança. Esses relatórios 
devem incluir uma relação das medidas que o Conselho de Segurança tenha 
adotado ou aplicado com a finalidade manter a paz e a segurança 
internacionais. 
 Além dos relatórios do Conselho de Segurança, a Assembléia Geral 
tem a atribuição de receber e examinar os relatórios de outros órgãos das 
Nações Unidas. 
 Compete a Assembléia Geral, conforme prevê o artigo 17 da Carta 
das Nações Unidas, considerar e aprovar o orçamento da organização. 
 
 
2.3.1.2.1.1 Votação 
 
 Casa Membro da Assembléia Geral tem direito a um voto. 
 As decisões da Assembléia Geral, em questões importantes, serão 
tomadas por quórum qualificado, de maioria de 2/3 (dois terços) dos 
Membros presentes e votantes. Essas questões compreendem: 
 a) recomendações relativas à manutenção da paz e da segurança 
internacionais; 
 b) à eleição dos Membros não permanentes do Conselho de 
Segurança; 
 c) à eleição dos Membros do Conselho Econômico e Social; 
 
30 
 d) à eleição dos Membros dos Conselho de Tutela, de acordo com o 
parágrafo primeiro, alínea “c”, do Artigo 86 da Carta das Nações Unidas; 
 e) à admissão de novos Membros das Nações Unidas; à suspensão 
dos direitos e privilégios de Membros; 
 f) à expulsão dos Membros; 
 g) questões referentes o funcionamento do sistema de tutela; e 
 h) questões orçamentárias. 
 As decisões sobre outras questões exigem apenas a maioria dos 
membros presentes e que votem. 
 O Membro das Nações Unidas que esteja em atraso no pagamento 
de sua contribuição financeira à Organização não terá direito à voto na 
Assembléia Geral, se o total de suas contribuições atrasadas igualar ou 
exceder a soma das contribuições correspondentes aos dois anos anteriores 
completos. A Assembléia Geral pode entretanto, permitir que o referido 
Membro vote, se ficar provado que a falta de pagamento é devida a 
condições independentes de sua vontade. 
 
 
2.3.1.2.1.2 Sessões 
 
 A Assembléia Geral reunir-se-á: 
 a) em sessões anuais regulares; e 
 b) em sessões especiais, exigidas pelas circunstâncias. 
 As sessões especiais devem ser convocadas pelo Secretário-Geral, a 
pedido do Conselho de Segurança ou da maioria dos Membros das Nações 
Unidas. 
 
 
2.3.1.2.2 Conselho de Segurança 
 
 O Conselho de Segurança é composto de 15 (quinze) Membros das 
Nações Unidas, dos quais são membros permanentes : 
 a) a China; 
 b) a França; 
 c) a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas; 
 d) o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte; e 
 e) os Estados Unidos da América. 
 A Assembléia Geral deve eleger, ainda, 10 (dez) outros Membros das 
Nações Unidas para serem Membros não permanentes do Conselho de 
Segurança, tendo especialmente em vista, em primeiro lugar, a contribuição 
dos Membros das Nações Unidas para a manutenção da paz e da 
segurança internacionais e para os outros propósitos da Organização e 
também a distribuição geográfica equitativa. Esses membros não 
permanentes serão eleitos por um período de 2 (dois) anos. 
31 
Cada membro do Conselho de Segurança deve ter um representante. 
Basicamente, a função do Conselho de Segurança é a manutenção 
da paz e da segurança internacionais. Com essa finalidade, o Conselho de 
Segurança deve estabelecer um sistema de regulamentação dos 
armamentos, desviando para estes o menos possível dos recursos humanos 
e econômicos do mundo. 
 Como mencionado, o Conselho de Segurança deve submeter 
relatórios anuais e, quando necessário, especiais à Assembléia Geral para 
sua consideração. 
 Conforme estipula o artigo 25 da Carta das Nações Unidas, os 
membros das Nações Unidas devem concordar sobre a aceitação e 
execução das decisões do Conselho de Segurança. 
 O Conselho de Segurança tem funcionamento contínuo e cada 
membro do Conselho deve ser, em todos os momentos, representado na 
sede da Organização. 
 As reuniões do Conselho de Segurança são periódicas, nas quais 
cada um de seus membros pode, se assim o desejar, ser representado por 
um membro do governo ou por outro representante especialmente 
designado. Admite-se que o Conselho de Segurança reúna-se em outros 
lugares, fora da sede da Organização, desde que para facilitar o seu 
trabalho. 
 Sempre que qualquer membro das Nações Unidas, que não seja 
membro do Conselho de Segurança, ou qualquer Estado que não seja 
membro das Nações Unidas for parte em uma controvérsia submetida ao 
Conselho de Segurança, será convidado a participar da discussão dessa 
controvérsia, mas sem direito a voto, naturalmente. Nesse caso, o Conselho 
de Segurança deve determinar as condições que lhe parecerem justas para 
a participação de um Estado que não seja membro das Nações Unidas. 
 
 
2.3.1.2.2.1 Solução pacífica das controvérsias 
 
 As partes de uma controvérsia, que possa vir a constituir uma ameaça 
à paz e à segurança internacionais, devem procurar, antes de tudo, chegar a 
uma solução por negociação, inquérito, mediação, conciliação, arbitragem, 
solução judicial, recurso a entidades ou acordos regionais, ou a qualquer 
outro meio pacífico à sua escolha. Quando julgar necessário, o Conselho de 
Segurança deve convidar as partes envolvidas em conflito a resolver, por 
tais meios, suas controvérsias. 
 O Conselho de Segurança pode investigar qualquer controvérsia ou 
situação suscetível de provocar atritos entre as Nações ou dar origem a uma 
controvérsia, com a finalidade de determinar se a continuação de tal 
controvérsia ou situação pode constituir ameaça à manutenção da paz e da 
segurança internacionais. 
 Conforme salienta o artigo 35 da Carta das Nações Unidas, qualquer 
membro pode solicitar a atenção do Conselho de Segurança ou da 
Assembléia Geral para qualquer controvérsia, ou qualquer situação capaz de 
constituir ameaça à paz e à segurança internacionais. 
32 
Também o Estado que não for membro das Nações Unidas pode 
solicitar a atenção do Conselho de Segurança ou da Assembléia Geral para 
qualquer controvérsia em que seja parte, uma vez que aceite, previamente, 
em relação a essa controvérsia, as obrigações de solução previstas na Carta 
das Nações Unidas. 
 
 
2.3.1.2.2.2 Ação relativa a ameaças à paz, ruptura da paz e atos de 
agressão 
 
 Sempre que o Conselho identificar a existência de qualquer ameaça à 
paz, ruptura da paz ou ato de agressão, deve fazer recomendações ou 
decidir que medidas devem ser tomadas, com a finalidade de manter ou 
restabelecer a paz e a segurança internacionais. 
 Com o objetivo de evitar que a situação se agrave, o Conselho de 
Segurança pode, antes de fazer quaisquer recomendações ou decidir a 
respeito das medidas que devem ser tomadas, convidar as partes 
interessadas a que aceitem as medidas provisórias que lhe pareçam 
necessárias ou aconselháveis. Tais medidas provisórias não prejudicarão os 
direitos ou pretensões, nem a situação das partes interessadas. 
 Compete ao Conselho de Segurança decidir sobre as medidas que, 
sem envolver o 
emprego de forças armadas, deverão ser tomadas para tornar efetivas suas 
decisões e poderá convidar os Membros das Nações Unidas a aplicarem tais 
medidas. Estas poderão incluir a interrupção completa ou parcial: 
 a) das relações econômicas; 
 b) dos meios de comunicação: 
 b.1) ferroviários;b.2) marítimos; 
 b.3) aéreos; 
 b.4) postais; 
 b.5) telegráficos; 
 b.6) radiofônicos; ou 
 b.7) de outra qualquer espécie; 
 Outra medida que pode ser adotada é o rompimento das relações 
diplomáticas, conforme prevê o artigo 41 da Carta das Nações Unidas. 
 No entanto, caso o Conselho de Segurança considere que as 
medidas supra mencionadas sejam inadequadas, poderá ser levada a efeito, 
por meio de forças aéreas, navais ou terrestres, a ação que for julgada 
necessária para manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais. 
Tal ação poderá compreender demonstrações, bloqueios e outras 
operações, por parte das forças aéreas, navais ou terrestres dos Membros 
das Nações Unidas. 
 Quando o Conselho de Segurança decidir pelo emprego de força, 
deverá, antes de solicitar a um Membro nele não representado, o 
fornecimento de forças armadas em cumprimento das obrigações 
 
 
33 
assumidas, e convidar o referido Membro, se este assim o desejar, a 
participar das decisões do Conselho de Segurança relativas ao emprego de 
contingentes das forças armadas do dito Membro. 
 Prevê o artigo 49 da Carta das Nações Unidas que os membros das 
Nações Unidas prestar-se-ão assistência mútua para a execução das 
medidas determinadas pelo Conselho de Segurança. 
 
 
2.3.1.2.2.3 Acordos regionais 
 
 Prevê o artigo 52 da Carta das Nações Unidas que, nada impede a 
existência de acordos ou de entidades regionais, destinadas a tratar dos 
assuntos relativos à manutenção da paz e da segurança internacionais que 
forem suscetíveis de uma ação regional, desde que tais acordos ou 
entidades regionais e suas atividades sejam compatíveis com os Propósitos 
e Princípios das Nações Unidas. 
 Sendo parte em tais acordos ou constituindo tais entidades, os 
membros das Nações Unidas devem empregar todo o esforço para chegar a 
uma solução pacífica das controvérsias locais por meio desses acordos e 
entidades regionais, antes de as submeter ao Conselho de Segurança. 
 
 
2.3.1.2.2.4 Cooperação internacional econômica e social 
 
 Com a finalidade de criar condições de estabilidade e bem estar, 
necessárias às relações pacíficas e amistosas entre as Nações, baseadas 
no respeito ao princípio da igualdade de direitos e da autodeterminação dos 
povos, as Nações Unidas devem favorecer: 
 a) níveis mais altos de vida, trabalho efetivo e condições de progresso 
e desenvolvimento econômico e social; 
 b) a solução dos problemas internacionais econômicos, sociais, 
sanitários e conexos; a cooperação internacional, de caráter cultural e 
educacional; e 
 c) o respeito universal e efetivo dos direitos humanos e das liberdades 
fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião. 
 Para a realização desses propósitos, todos os membros da 
Organização das Nações Unidas se comprometeram a agir com esta, em 
conjunto ou separadamente, conforme previsão do artigo 56 da Carta das 
Nações Unidas. 
 
 
2.3.1.2.3 Conselho Econômico e Social 
 
 O Conselho Econômico e Social compõe-se por 54 (cinquenta e 
quatro) membros das Nações Unidas eleitos pela Assembléia Geral. 
 A função do Conselho Econômico e Social é realizar ou indicar 
estudos e elaborar relatórios sobre assuntos internacionais de caráter 
econômico, social, cultural, educacional, sanitário e conexos. Poderá, 
 
34 
igualmente, fazer recomendações destinadas a promover o respeito e a 
observância dos direitos humanos e das liberdades fundamentais para 
todos. 
 Também no Conselho Econômico e Social cada membro tem direito a 
um voto, sendo que as decisões são tomadas pelo voto da maioria dos 
membros presentes e votantes. 
 
 
2.3.1.2.3.1 Declaração relativa a territórios sem governo próprio 
 
 Prevê o artigo 73 da Carta das Nações Unidas, que qualquer membro 
das Nações Unidas, que assuma responsabilidades pela administração de 
territórios cujos povos não tenham atingido a plena capacidade de se 
autogovernarem, devem reconhecer o princípio de que os interesses dos 
habitantes desses territórios são da mais alta importância, e deve aceitar, 
como missão sagrada, a obrigação de promover no mais alto grau, dentro do 
sistema de paz e segurança internacionais estabelecido na Carta das 
Nações Unidas, o bem-estar dos habitantes desses territórios e, para tal fim, 
se obrigam a: 
 a) assegurar, com o devido respeito à cultura dos povos interessados, 
o seu progresso político, econômico, social e educacional, o seu tratamento 
equitativo e a sua proteção contra todo abuso; 
 b) desenvolver sua capacidade de governo próprio, tomar devida nota 
das aspirações políticas dos povos e auxiliá-los no desenvolvimento 
progressivo de suas instituições políticas livres, de acordo com as 
circunstâncias peculiares a cada território e seus habitantes e os diferentes 
graus de seu adiantamento; 
 c) consolidar a paz e a segurança internacionais; 
 d) promover medidas construtivas de desenvolvimento, estimular 
pesquisas, cooperar uns com os outros e, quando for o caso, com entidades 
internacionais especializadas, com vistas à realização prática dos propósitos 
de ordem social, econômica ou científica enumerados neste artigo; e 
 e) transmitir regularmente ao Secretário-Geral, para fins de 
informação, sujeitas às reservas impostas por considerações de segurança e 
de ordem constitucional, informações estatísticas ou de outro caráter 
técnico, relativas às condições econômicas, sociais e educacionais dos 
territórios pelos quais são respectivamente responsáveis e que não estejam 
compreendido entre aqueles a que se referem os Capítulos XII e XIII da 
Carta. 
 Os membros das Nações Unidas que venham a atuar nessas 
condições também devem embasar sua atuação com vistas à política 
seguida nos respectivos territórios metropolitanos, no princípio geral de boa 
vizinhança, tendo sempre em vista os interesses e o bem-estar do resto do 
mundo no que se refere às questões sociais, econômicas e comerciais. 
 
 
 
 
35 
2.3.1.2.4 Conselho de Tutela 
 
 A função do Conselho de Tutela é administrar e fiscalizar os territórios 
que estejam sem um governo próprio. 
 A finalidade do Conselho é assegurar e garantir a paz e a segurança 
internacionais, fomentar o progresso econômico, social, político e 
educacional dos habitantes dos territórios tutelados, estimular o respeito dos 
direitos humanos e às liberdades fundamentais e garantir o respeito à 
igualdade. 
 Cada membro do Conselho de Tutela tem direito a um voto. As 
decisões do Conselho serão tomadas pela maioria dos membros presentes 
e votantes, conforme prevê o artigo 89 da Carta das Nações Unidas. 
 
 
2.3.1.2.5 Corte Internacional de Justiça 
 
 A Corte Internacional de Justiça é o principal órgão judiciário das 
Nações Unidas e tem sede em Haia, Países Baixos. 
 O funcionamento da Corte Internacional de Justiça, também chamada 
de Tribunal Internacional de Justiça é disciplinado por estatuto. 
 A composição da Corte Internacional de Justiça é feita por todos os 
membros da Organização das Nações Unidas. Ademais, prevê o artigo 93 
da Carta das Nações Unidas, que um Estado que não for Membro das 
Nações Unidas poderá tornar-se parte no Estatuto da Corte Internacional de 
Justiça, em condições que serão determinadas, em cada caso, pela 
Assembléia Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança. 
 É importante conhecer a redação do artigo 94 da Carta das Nações 
Unidas: “1. cada Membro das Nações Unidas se compromete a conformar-
se com a decisão da Corte Internacional de Justiça em qualquer caso em 
que for parte. 2. Se uma das partes num caso deixar de cumprir as 
obrigações que lhe incumbem em virtude de sentença proferida pela Corte, 
a outra terá direito de recorrer ao Conselho de Segurança que poderá, se 
julgar necessário, fazer recomendações ou decidir sobre medidas a serem 
tomadas para o cumprimento da sentença”. 
 A Carta das Nações Unidas não impede, contudo, que os membros 
das Nações Unidas confiem a solução de suas divergências a outros 
tribunais, seja em razãode acordos vigentes em momento anterior ou 
posterior à Carta. 
 Por derradeiro, é também importante mencionar que a Assembléia 
Geral e o Conselho de Segurança podem solicitar parecer consultivo da 
Corte Internacional de Justiça, sobre qualquer questão de ordem jurídica. 
Mas não apenas, já que outros órgãos das Nações Unidas e entidades 
especializadas, que forem em qualquer época devidamente autorizados pela 
Assembléia Geral, poderão também solicitar pareceres consultivos da Corte 
sobre questões jurídicas surgidas dentro da esfera de suas atividades. 
 É importante, ainda, não confundir a Corte Internacional de Justiça 
com o Tribunal Penal Internacional, estabelecido em 2002, também em Haia, 
Países Baixos. O objetivo do Tribunal Penal Internacional (ou Corte Penal 
Internacional) é julgar indivíduos e não Estados, como a Corte Internacional 
 
 
36 
de Justiça. O Tribunal Penal Internacional é competente para processar e 
julgar crimes como genocídios, crimes de guerra e crimes contra a 
humanidade, conforme definição do Estatuto de Roma. 
 
 
Entrada – Tribunal Penal Internacional Corte Internacional de Justiça 
 Haia – Países Baixos Haia – Países Baixos 
 
 
2.3.1.2.6 Secretariado 
 
 O Secretariado é composto de um Secretário-Geral e do pessoal 
exigido pela Organização. Esse Secretário-Geral deve ser indicado pela 
Assembléia Geral mediante a recomendação do Conselho de Segurança. 
 O Secretário-Geral, conforme dispõe o artigo 97 da Carta das Nações 
Unidas, é o principal funcionário administrativo da Organização. 
 Incumbe ao Secretário-Geral atuar em todas as reuniões da 
Assembléia Geral, do Conselho de Segurança, do Conselho Econômico e 
Social e do Conselho de Tutela e desempenhar outras funções que lhe 
forem atribuídas por estes órgãos. O Secretário-Geral deve elaborar, ainda, 
um relatório anual à Assembléia Geral sobre os trabalhos da Organização. 
 O Secretário-Geral tem autonomia para chamar a atenção do 
Conselho de Segurança para qualquer assunto que em sua opinião possa 
ameaçar a manutenção da paz e da segurança internacionais (art. 99 da 
Carta das Nações Unidas). 
 Para o desempenho de seus deveres, o Secretário-Geral e o pessoal 
do Secretariado não podem solicitar nem receber instruções de qualquer 
governo ou de qualquer autoridade estranha à Organização. Eles também 
tem o dever de se abster de qualquer ação que seja incompatível com a sua 
posição de funcionários internacionais responsáveis somente perante a 
Organização. 
 Cada membro das Nações Unidas tem o dever de respeitar o caráter 
exclusivamente internacional das atribuições do Secretário-Geral e do 
pessoal do Secretariado e não deve procurar exercer qualquer influência 
sobre eles, no desempenho de suas funções. 
 Conforme previsão do artigo 101 da Carta das Nações Unidas, o 
pessoal do Secretariado deve ser nomeado pelo Secretário Geral, de acordo 
com as regras estabelecidas pela Assembléia Geral. Também deve ser 
nomeado, em caráter permanente, o pessoal adequado para o Conselho 
Econômico e Social, o Conselho de Tutela e, quando for necessário, para 
outros órgãos das Nações Unidas. Esses funcionários, conforme estipulação 
do mencionado artigo, farão parte do Secretariado. A consideração principal 
 
 
37 
que deve prevalecer na escolha do pessoal e na determinação das 
condições de serviço será a da necessidade de assegurar o mais alto grau 
de eficiência, competência e integridade. 
 
 
2.3.2 Organizações regionais 
 
 As organizações regionais, como é sugestiva a expressão, atuam em 
âmbito regional, cujo objetivo é de cooperação nesse âmbito. As 
organizações regionais também são organizações internacionais. São 
exemplos de organizações regionais: 
 a) o MERCOSUL (Mercado Comum do Sul), na América do Sul; 
 b) a União Africana, na África; 
 c) a União Européia, na Europa; 
 d) a OEA (Organização dos Estados Americanos). 
 Naquilo que interessa ao presente estudo, passa-se à análise do 
Mercado Comum do Sul. 
 
 
2.3.2.1 Mercosul 
 
 O Mercado Comum do Sul foi criado pelo Tratado de Assunção, em 
26 de março de 1991. O Objetivo foi de integrar economicamente a 
Argentina, o Brasil, o Paraguai e o Uruguai, de modo a acelerar o 
desenvolvimento econômico com justiça social para esses países e 
entendendo que esse objetivo deve ser alcançado mediante o 
aproveitamento mais eficaz dos recursos disponíveis, a preservação do meio 
ambiente, o melhoramento das interconexões físicas, a coordenação de 
políticas macroeconômicas e a complementação dos diferentes setores da 
economia, com base nos princípios da gradualidade, flexibilidade e 
equilíbrio. 
 Em dezembro de 1994, na cidade mineira de Ouro Preto foi assinado 
um protocolo adicional ao Tratado de Assunção, que estabeleceu a estrutura 
institucional do Mercosul e lhe atribuiu personalidade jurídica internacional. 
Além disso, esse protocolo adicional cuidou de adotar instrumentos de 
política comercial que caracterizam a União Aduaneira. 
 O Mercosul tem como países membros: 
 a) o Brasil; 
 b) a Argentina; 
 c) o Paraguai; e 
 d) o Uruguai. 
 E são Estados associados: 
 a) a Bolívia; 
 b) o Chile; 
 
38 
 c) o Peru; e 
 d) a Venezuela. 
 Em relação à Bolívia, ela foi admitida após aprovação de um protocolo 
em 4 de junho de 2006. 
 Dispõe o artigo 1º do Tratado de Assunção, que o Mercado Comum 
do Sul implica: 
 a) a livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos entre os 
países, através, entre outros, da eliminação dos direitos alfandegários e 
restrições não tarifárias à circulação de mercadorias e de qualquer outra 
medida de efeito equivalente; 
 b) o estabelecimento de uma tarifa externa comum e a adoção de 
uma política comercial comum e relação a terceiros Estados ou 
agrupamentos de Estados e a coordenação de posições em foros 
econômico-comerciais regionais e internacionais; 
 c) a coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais entre os 
Estados Partes – de comércio exterior, agrícola, industrial, fiscal, monetária, 
cambial e de capitais, de outras que se acordem -, a fim de assegurar 
condições adequadas de concorrência entre os Estados Partes, e 
 d) o compromisso dos Estados Partes de harmonizar suas 
legislações, nas áreas pertinentes, para lograr o fortalecimento do processo 
de integração. 
 E consoante expõe o artigo 2º do mencionado Tratado, o Mercado 
comum está fundado na reciprocidade de direitos e obrigações entre os 
Estados Partes. 
 
 
2.3.2.1.1 Estrutura do Mercosul 
 
 A estrutura institucional do Mercosul conta com os seguintes órgãos: 
 a) o Conselho do Mercado Comum (CMC); 
 b) o Grupo Mercado Comum (GMC); 
 c) a Comissão de Comércio do Mercosul (CCM); 
 d) a Comissão Parlamentar Conjunta (CPC); 
 e) o Foro Consultivo Econômico-Social (FCES); 
 f) a Secretaria Administrativa do Mercosul (SAM). 
 Além destes, o artigo 1º, parágrafo único do Protocolo Adicional ao 
Tratado de Assunção sobre a Estrutura Institucional do Mercosul, conhecido 
como Protocolo de Ouro Preto, previu a possibilidade de criação de órgãos 
auxiliares que se mostrem necessários à consecução dos objetivos do 
processo de integração. 
 Dentre os órgãos mencionados, possuem capacidade decisória, de 
natureza intergovernamental: 
 a) o Conselho do Mercado Comum (CMC); 
 
39 
 b) o Grupo Mercado Comum (GMC); e 
 c) Comissão de Comércio do Mercosul (CCM). 
 A seguir serão abordados individualmente cada um dos órgãos do 
Mercosul, para melhor estudo das suas respectivas peculiaridades. 
 
 
2.3.2.1.1.1 Conselho do Mercado Comum (CMC) 
 
 O Conselho do Mercado Comum (CMC) é o órgão superior do 
Mercosul, ao qual incumbe a condução política do processo de integração e 
a tomada de decisões para assegurar o cumprimento dos objetivos 
estabelecidos pelo Tratado de Assunção e para lograr a constituição final do 
mercado comum, conforme dispõe o artigo 3º do Protocolo de Ouro Preto. 
 Prevê o artigo 4º do Protocolo de OuroPreto, que o Conselho do 
Mercado Comum é integrado pelos Ministros das Relações Exteriores e 
pelos Ministros da Economia, ou seus equivalentes, dos Estados Partes. 
 A presidência do Conselho do Mercado Comum deve ser exercida por 
rotação dos Estados Partes, em ordem alfabética, pelo período de 6 (seis) 
meses cada, (art. 5º do Protocolo de Ouro Preto). 
 Quanto às reuniões, o Conselho do Mercado Comum pode se reunir 
quantas vezes estime oportuno, devendo fazê-lo ao menos uma vez por 
semestre com a participação dos Presidentes dos Estados Partes. As 
reuniões do Conselho do Mercado Comum devem ser coordenadas pelos 
Ministérios das Relações Exteriores e podem ser convidados a delas 
participar outros Ministros ou autoridades de nível ministerial. 
 Conforme determina o artigo 8º do Protocolo de Ouro Preto, são 
funções e atribuições do Conselho do Mercado Comum: 
 a) velar pelo cumprimento do Tratado de Assunção, de seus 
Protocolos e dos acordos firmados em seu âmbito; 
 b) formular políticas e promover as ações necessárias à conformação 
do mercado comum; 
 c) exercer a titularidade da personalidade jurídica do Mercosul. 
 d) negociar e assinar acordos em nome do Mercosul com terceiros 
países, grupos de países e organizações internacionais. Estas funções 
podem ser delegadas ao Grupo Mercado Comum por mandato expresso, 
nas condições estipuladas no inciso VII do artigo 14; 
 e) manifestar-se sobre as propostas que lhe sejam elevadas pelo 
Grupo Mercado Comum; 
 f) criar reuniões de ministros e pronunciar-se sobre os acordos que 
lhe sejam remetidos pelas mesmas; 
 g) criar os órgãos que estime pertinentes, assim como modificá-los ou 
extingui-los; 
 h) esclarecer, quando estime necessário, o conteúdo e o alcance de 
suas Decisões; 
 i) designar o Diretor da Secretaria Administrativa do Mercosul. 
 j) adotar Decisões em matéria financeira e orçamentária; e 
 
40 
 k) homologar o Regimento Interno do Grupo Mercado Comum. 
 A manifestação do Conselho do Mercado Comum ocorre mediante a 
prolação de decisões, as quais assumem o caráter de obrigatoriedade para 
os Estados Partes, consoante previsão do artigo 9º do Protocolo de Ouro 
Preto. 
 
 
2.3.2.1.1.2 Grupo Mercado Comum (GMC) 
 
 O Grupo Mercado Comum (GMC) é o órgão executivo do Mercosul. 
Ele é integrado por 4 (quatro) membros titulares e 4 (quatro) membros 
alternos por país, designados pelos respectivos Governos, dentre os quais 
devem constar necessariamente representantes dos Ministérios das 
Relações Exteriores, dos Ministérios da Economia (ou equivalentes) e dos 
Bancos Centrais. A coordenação do Grupo Mercado Comum é exercida 
pelos Ministérios das Relações Exteriores (art. 11 do Protocolo de Ouro 
Preto). 
 Quando o Grupo Mercado Comum elaborar e propor medidas 
concretas no desenvolvimento de seus trabalhos, ele pode convocar, se 
julgar conveniente, representantes de outros órgãos da Administração 
Pública ou da estrutura institucional do Mercosul. 
 As reuniões do Grupo Mercado Comum são ordinárias ou 
extraordinárias, quantas vezes forem necessárias, nas condições em que 
estipuladas por seu Regimento Interno (art. 13 do Protocolo de Ouro Preto). 
 Conforme dispõe o artigo 14 do Protocolo de Ouro Preto, são funções 
e atribuições do Grupo Mercado Comum: 
 a) velar, nos limites de suas competências, pelo cumprimento do 
Tratado de Assunção, de seus Protocolos e dos acordos firmados em seu 
âmbito; 
 b) propor projetos de Decisão ao Conselho do Mercado Comum; 
 c) tomar as medidas necessárias ao cumprimento das Decisões 
adotadas pelo Conselho do Mercado Comum; 
 d) fixar programas de trabalho que assegurem avanços para o 
estabelecimento do mercado comum; 
 e) criar, modificar ou extinguir órgãos tais como subgrupos de trabalho 
e reuniões especializadas, para o cumprimento de seus objetivos; 
 f) manifestar-se sobre as propostas ou recomendações que lhe forem 
submetidas pelos demais órgãos do Mercosul no âmbito de suas 
competências; 
 g) negociar, com a participação de representantes de todos os 
Estados Partes, por delegação expressa do Conselho do Mercado Comum e 
dentro dos limites estabelecidos em mandatos específicos concedidos para 
esse fim, acordos em nome do Mercosul com terceiros países, grupos de 
países e organismos internacionais. O Grupo Mercado Comum, quando 
dispuser de mandato para tal fim, procederá à assinatura dos mencionados 
acordos. O Grupo Mercado Comum, quando autorizado pelo Conselho do 
 
41 
Mercado Comum, poderá delegar os referidos poderes à Comissão de 
Comércio do Mercosul; 
 h) aprovar o orçamento e a prestação de contas anual apresentada 
pela Secretaria Administrativa do Mercosul; 
 i) adotar Resoluções em matéria financeira e orçamentária, com base 
nas orientações emanadas do Conselho do Mercado Comum; 
 j) submeter ao Conselho do Mercado Comum seu Regimento Interno; 
 k) organizar as reuniões do Conselho do Mercado Comum e preparar 
os relatórios e estudos que este lhe solicitar. 
 l) eleger o Diretor da Secretaria Administrativa do Mercosul; 
 m) supervisionar as atividades da Secretaria Administrativa do 
Mercosul; e 
 n) homologar os Regimentos Internos da Comissão de Comércio e do 
Foro Consultivo Econômico-Social. 
 A manifestação do Grupo de Mercado Comum ocorre mediante 
resoluções, as quais assumem caráter de obrigatoriedade para os Estados 
Partes, conforme previsão do artigo 15 do Protocolo de Ouro Preto. 
 
 
2.3.2.1.1.3 Comissão de Comércio do Mercosul (CCM) 
 
 A Comissão de Comércio do Mercosul (CCM) é o órgão incumbido de 
assistir o Grupo Mercado Comum (GMC), e a ela compete velar pela 
aplicação dos instrumentos de política comercial comum acordados pelos 
Estados Partes para o funcionamento da união aduaneira, bem como 
acompanhar e revisar os temas e matérias relacionados com as políticas 
comerciais comuns, com o comércio intra-Mercosul e com terceiros países 
(art. 16 do Protocolo de Ouro Preto). 
 A Comissão de Comércio do Mercosul é integrada por 4 (quatro) 
membros titulares e 4 (quatro) membros alternos por Estado Parte e é 
coordenada pelos Ministérios das Relações Exteriores. 
 A Comissão de Comércio do Mercosul deve se reunir pelo menos 
uma vez por mês ou sempre que solicitado pelo Grupo Mercado Comum 
(GMC) ou por qualquer dos Estados Partes (art. 18 do Protocolo de Ouro 
Preto). 
 Conforme prevê o artigo 19 do Protocolo de Ouro Preto, são funções 
e atribuições da Comissão de Comércio do Mercosul: 
 a) velar pela aplicação dos instrumentos comuns de política comercial 
intra-Mercosul e com terceiros países, organismos internacionais e acordos 
de comércio; 
 b) considerar e pronunciar-se sobre as solicitações apresentadas 
pelos Estados Partes com respeito à aplicação e ao cumprimento da tarifa 
externa comum e dos demais instrumentos de política comercial comum; 
 c) acompanhar a aplicação dos instrumentos de política comercial 
comum nos Estados Partes; 
 
42 
 d) analisar a evolução dos instrumentos de política comercial comum 
para o funcionamento da união aduaneira e formular Propostas a respeito ao 
Grupo Mercado Comum; 
 e) tomar as decisões vinculadas à administração e à aplicação da 
tarifa externa comum e dos instrumentos de política comercial comum 
acordados pelos Estados Partes; 
 f) informar ao Grupo Mercado Comum sobre a evolução e a aplicação 
dos instrumentos de política comercial comum, sobre o trâmite das 
solicitações recebidas e sobre as decisões adotadas a respeito delas; 
 g) propor ao Grupo Mercado Comum novas normas ou modificações 
às normas existentes referentes à matéria comercial e aduaneira do 
Mercosul; 
 h) propor a revisão das alíquotas tarifárias de itens específicos da 
tarifa externa comum, inclusive para contemplar casos referentes a novas 
atividades produtivas no âmbito do Mercosul; 
 i) estabelecer os comitês técnicos necessários ao adequado 
cumprimento de suas funções, bem como dirigir e supervisionar as 
atividades dos mesmos; 
 j) desempenhar as tarefas vinculadas

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