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SÍNDROMES FEBRIS ICTÉRICAS SEMINÁRIO: FEBRE AMARELA · Agente etiológico: Flavivírus · Pode ser transmitida em dois contextos: · Ciclo silvestre: · Vetor: Haemagogus · Hospedeiro: Macaco. Ao serem contaminados, morrem. Funcionam como sentinelas, avisam que ali está presente o vírus amarílico. Não transmitem a doença. · Homem: hospedeiro acidental. É picado pelo Hemagogus. · Ciclo urbano: · Vetor: A. aegypti · Hospedeiro: humano. · Desde 1942 que o Flavivírus não é isolado no A aegypti. Formas clínicas · Leva-se 3 a 6 dias p/ doença se manifestar (incubação). · Há dois polos bem demarcados: · Leve: mais comum, 90% dos casos, geralmente não tem como diferenciar das outras síndromes febris. · Sinal de Faget: dissociação pulso e temperatura. Alguns pacientes apresentam febre com FC normal ou baixa, mas não é exclusiva de febre amarela, mas também está presente na febre tifoide. · Relato de ecoturismo. · Grave: mata 50% dos pacientes. Atinge órgãos característicos, como por exemplo, o fígado, causando icterícia. · Causa necrose hepatocelular: hiperbilirrubinemia direta, aumento de transaminases AST>ALT, diferente das hepatites ABCDE, isso pois ambas tem AST, mas só o fígado tem ALT. · Causa disfunção tubular renal · Tríade: icterícia flavínica (amarelada) + hematêmese (disfunção hepática tendo como principal sítio o TGI) + oligúria. Diagnóstico · Até o 5 dia: isolamento viral. É caro, importante em pesquisas. · A partir do 6 dia ELISA IgM, em geral, esse é o exame de escolha. Conduta · Até hoje não há anti-viral para o vírus amarílico. · Terapia de suporte. AULA 1 – DIP LEPTOSPIROSE Introdução · Zoonose (doença que o homem divide com os animais) de distribuição mundial · Doença infecciosa febril de início abrupto Homem: hospedeiro terminal (não transmite p/ outras pessoas em geral) e acidental (se infecta por acaso) · Importante problema de saúde pública no Br Agente etiológico · Bactéria espiralada: espiroqueta do gênero Leptospira · Aeróbica obrigatória · Helicoidal · Flexível · Móvel (dois flagelos) · Extremidades em forma de gancho · 2 espécies: · Leptospira interrogans (patogênica) · 19 sorogrupos · Mais comuns: · Icterohaemorrahagiae. Causa doença em humanos. · Pamona · Canicola · Grippotyphosa Se imagina que haverá nova taxonomia genotípica: 14 espécies genômicas · 180 sorotipos · Leptospira biflexa (saprófita) · Individualizadas em sorotipos ou sorovares pelas suas características antigênicas · 2 ou mais sorovares antigenicamente relacionados formam um sorogrupo · Pode viver no meio externo por até 180 dias, 6 meses. Principalmente em água doce e solo úmido · Infecta ampla variedade de animais suscetíveis que podem hospedar o microorganismo e podem não adoecer. Epidemiologia · Alta incidência em aglomerados urbanos · Intraestrutura sanitária inadequada · Infestações de roedores (hospedeiro definitivo mais comum) · Estações chuvosas e inundações · A letalidade das formas graves varia de 10-15% · Doença de distribuição endêmica, com ocorrência em todos os meses do ano. · Epidemias urbanas associadas a períodos chuvosos · Surtos em regiões rurais (subnotificados) · Doença de notificação compulsória · 78,6% em homens · 82,9% entre 15-59 anos: jovem · 60% zona urbana · Não se sabe se é um fator de susceptibilidade ou se está relacionado com pessoas que se expõe mais. Prevalência nas regiões brasileiras Regiões com maior índice pluviométrico, maior concentração de cidades... Região nordeste relativamente estável: depende do período de chuvas. · Critério clinico laboratorial: caso suspeito (clínica compatível) com resultado laboratorial reagente de ELISA – IgM, + soroconversão no teste de aglutinação (MAT) (ou seja, dois testes positivos) · Critério clínico epidemiológico: caso suspeito com febre e alterações nas funções hepática, renal ou vascular, com antecedentes epidemiológicos e não tenha coletado material para exames específicos, ou estes sejam negativos com amostra única coletada antes do 7º dia de início de sintomas. (exames sorológicos: ou seja, se colhidos muito precocemente podem se apresentar negativos) Transmissão · Principal reservatório: roedores sinantrópicos das espécies Rattus norvegicus (ratazana ou rato de esgoto), Rattus rattus (ratos de telhado ou rato preto) ou Mus musculus (camundongo ou catita). · Ao se infectarem, não desenvolve a doença e tornam-se portadores, albergando a leptospira nos rins, eliminando-a viva no meio ambiente e contaminando água, solo e alimentos. (podendo durar até 180 dias a depender dos fatores do solo). · Outros reservatórios de importância são: caninos, suínos, bovinos, equinos, ovinos, caprinos, animais silvestres. (praticamente todos os animais, mas os ratos são os principais reservatórios) · Os seres humanos são apenas hospedeiros acidentais e terminais (a urina humana não é infectante, embora haja a presença da forma infectante nessa e é viável, a questão é que o pH urinário humano é ácido o que inativa essas leptospiras, é um meio não favorável para a multiplicação desse M.O.) dentro da cadeia de transmissão · Infecção humana · Exposição direta ou indireta (quando não estava no momento que urinou, mas essa fiou ali... multiplicou) a urina de animais infectados · Penetração do M.O. em pele lesada (podem ser pequenas lesões) ou mucosa da boca, narinas e olhos. · Pele íntegra quando imersa em água por longo tempo. (ex: bombeiros fazendo resgate no canal da Agamenon). Ou seja, não precisa que haja lesão, necessariamente. · Contato com sangue, tecidos e órgãos de animais infectados ou pessoas infectadas (não deixa de ser terminal, mas por ser incomum não somos considerados como transmissores potenciais). · Ingestão de água e alimentos contaminados · Transmissão acidental em laboratórios · O contato com urina ou agua contaminada pode se dar em locais de trabalho, lazer ou enchentes. · Período de transmissibilidade · Os animais podem eliminar e leptospira através da urina durante meses, anos ou por toda a vida, segundo a espécie animal e sororvar envolvido. Fisiopatogenia · A penetração da Leptospira ocorre através das mucosas, pele, ingestão ou aerossol (Muito raro: inalação de urina de rato. Não precisa isolar pacientes com leptospirose que estão hospitalizados, por exemplo. Só é necessário o uso de luvas p/ o manuseia do paciente, por exemplo). A multiplicação é rápida. · Após invasão dissemina através do sangue para todos os órgãos, incluindo SNC · Lesão multiorgânica em casos graves · Rim, coração, fígado, pulmão, SNC, SME. Embora passe por esses locais, pode ou não causar consequências: por isso o melhor exame é a cultura de sangue contendo leptospira, mas isso é de difícil acesso. · Após a entrada da bactéria, a debelação dessa infecção depende da agressividade da bactéria e defesa do hospedeiro · Fatores de virulência: · Produção de endotoxinas (LPS): sistema imune inato reconhece mal a LPS da leptospira · Toxinas hemolíticas · Superantígenos – causa ativação de células T · Adesinas · Hialuronidade · Hospedeiro: · Fatores genéticos – HLA DQ8 (susceptibilidade) · Liberação de citocinas · Imunocomplexos · Resultado · Vasculite sistêmica infecciosa mediada por citocinas e resposta inflamatória · Susceptibilidade e imunidade · A imunidade adquirida pós-infecção é sorovar-específica Manifestações clínicas · Formas sintomáticas ou oligossintomáticas são a maioria dos casos. · 5-10%: formas graves Formas clínicas Anictérica/Leve (mais comum) Ictérica Febre Primeiro estádio: 3-7 dias. Septicêmico: leptospiremia. Segundo estádio: 0-1 mês. Imune: pode ou não acontecer. Primeiro estádio 3-7 dias. Septiêmico. Início semelhante, mas que pode evoluir... Segundo estádio: 10-30 dias. Imune. Como elas se continuam, muitas vezes não é possível separar muito bem. Clínica Mialgia, cefaleia, dor abdominal , vômitos, infec conjuntival*, febre. Meningite, uveíte, exantema, febre Icterícia, hemorragia, IR, miocardite. Ao atender o paciente na forma anictérica, não se sabe se sabese o paciente se manterá nessa 1ª apresentação mais branda ou se evoluirá. A leptospira é uma bactéria bem sensível, ou seja, a chave p/ evitar a evolução dentro da fase anictérica é tratar. Leptospirose – forma anictérica · Período de incubação 3-14 dias · Evolução geralmente bifásica (gravidade variável) · Fase de leptospirosemia: 3-7 dias · Febre, calafrios, cefaleia, mialgia, artralgia, náuseas e vômitos, tosse seca ou produtiva, sufusão conjuntival (sinal de vasculite: há hemorragia na conjuntiva) · Defervecência em lise (febre cai rapidamente): 1-2 dias. A maioria dos pacientes ficam nessa fase. Geralmente há período de melhora e depois piora. · Fase imune: 4-30 dias · Febre, meningismo, uveite anterior e/ou posterior, paralisia de nervos cranianos, detecção de Ac específicos, leptospiúria. · Duração de 1-4 semanas Leptospirose – forma ictérica · Evolução monofásica (não tem quadro de melhora, é progressivo). Gravidade é elevada · Sintomas descritos anteriormente · Maior intensidade · Mais icterícia rubínica (coloração alaranjada). · Icterícia + vasculite.. · Sinais de gravidade comuns: · IR · Manifestações hemorrágicas · Duração de 3-4 semanas Síndrome de Weil Manifestações têm como grande alvo principal os vasos. Manifestações em órgãos com maiores redes de capilares do corpo (pulmão e rins) Forma icterohemorrágica Tríade de icterícia por colestase + IR + hemorragia alveolar (pulmonar) · Icterícia rubínica, alaranjada. É causado por colestase. Nesse caso a função do fígado não está tão alterada, não há aumento de transaminases. A icterícia está relacionada com a coletase, é uma problema canalicular, há aumento de BD com elevação de enzimas canaliculares: aumento de FA e GGT. · IRA (nefrite tubulointersticial): o normal é que haja hiperpotassemia e poucas são as etiologias que não cursam desse modo, como é o caso da leptospirose, que cursa com hipopotassemia. · Fenômenos hemorrágicos: devido a vasculite sistêmica, agravada pela plaquetopenia · Petéquias e equimoses em pele e mucosa · Hemorragia pulmonar: principal causa de morte! · Hemorragia de TGI alta e baixa: hematêmese, melena, enterorragia Vasculite pulmonar: não há leptospira no pulmão. Tem RI exacerbada com vasculite e extravasamento de líquido eu depois passa a ser sangue. Para reduzir isso: faz-se corticoide. Além disso, pode fazer ventilação mecânica · Comprometimento cardíaco · Miocardite · Alteração no ECG Rim · Lesão pré-renal (paciente febril, vomitando, desitradado) · Nefrite tubular intersticial pela leptospira · Necrose tubular aguda pela leptospira e por lesão muscular (mioglobinúria) · Maior acometimento de túbulos proximais Mecanismo de LR · A lesão no TP leva a diminuição na reabsorção proximal de sódio · A resistência do ducto coletor medular a vasopressina leva a defeito na concentração urinária, causando poliúria · O aumento de secreção de K no TD parece ser determinado pelo aumento do fluxo urinário e pelo elevado aporte de Na ao TD, e parece ser potencializado por níveis elevados de aldosterona e cortisol. · Esses achados mostram haver predomínio da disfunção do TP e uma integridade relativa dos segmentos distais do néfron quanto à manipulação tubular de Na e K. A IRA da leptospirose caracteriza-se por não ser oligúrica, com níveis séricos de K normais ou diminuídos. Sinais clínicos de alerta Indicam gravidade e internação hospitalar · Dispneia, tosse e taquicardia · Alterações urinárias, geralmente oligúria · Fenômenos hemorrágicos, incluindo hemoptise e escarros hemoptoicos · Hipotensão · Alteração no NC · Vômitos frequentes · Arritmias · Icterícia Perfil laboratorial · Hemorragia: anemia, leucocitose (diferença das demais, que apresentam leucopenia) com desvio a E, plaquetopenia · Transaminases normais ou pouco elevadas (dano ao hepatócito é pequeno) · Aumento de bilirrubinas (direta) · CPK elevada (mas outras doenças podem aumentar a CPK, mas diante de um quadro suspeito ajuda a pensar em leptospirose) · Aumento de uréia e CR · K sérico normal ou diminuído · Reduzida absorção de Na (perda de canais de Na no epitélio tubular proximal), aumento do aporte distal, perda de K · INR alargado (vasculite leva a dano de coagulação, não tem a haver com o fígado) , fibrinogênio elevado · Ureia de rotina: · Leucocitúria, proteinúria, cilindrúria Gasometria arterial: acidose metabólica e hipoxemia Diagnóstico Suspeição clínica e epidemiológica · Antecedente de contato com ratos · Exposição a enchentes ou animais · Icterícia rubínica · Mialgia na panturrilha (pode ser difusa, mas essa é uma apresentação mais típica; aparece nesse local dado que essa altura é muito comum de estar emergida pela água e a leptospira tem tropismo por grupos musculares.) · Petéquias conjutivais Exames gerais · BD muito elevadas e TGO/TGP pouco elevadas/normal · Ureia e CR elevadas com K baixo · Plaquetopenia · Leucocitose com desvio a E · INR aumentado Exames confirmatórios Depende da fase evolutiva: Na fase precoce: leptospira podem ser visualizadas no sangue por meio de exame direto, cultura em meios apropriados, PCR. Na fase tardia: leptospiras podem ser encontradas na urina, cultivadas ou inoculadas. · Métodos sorológicos: melhor alternativa, mais fáceis e mais disponíveis. · Teste de ELISA IgM: mais utilizado. · Detecção a partir do 7º dia de doença. · Permanece positivo por 1-2 meses. · Reação de microagluticação: padrão ouro · Detecta sorovares. O aumento de 4x ou mais nos títulos de Ac confirma o diagnóstico. · Tem alta sensibilidade · Títulos maiores 1:800 · Mas o problema é que precisa de uma adesão para que o exame seja repetido em semanas. · Reação de macroaglutinação – mais acessível · Ideal coletar a partir do 7º dia de doença · Menos sensível, rápida execução Resposta dos Ac na leptospirose Microaglutinação age verificando o IgG, que é mais tardio. Melhor o IgM com o ELISA. DD importante! · Formas anictéricas · Dengue · Influenza (Síndrome gripal) · Malária · Riquetsioses · Doença de chagas aguda · Toxoplasmose · Febre tifoide · Meningite · Formas ictéricas/graves · Hepatites virais agudas · Febre amarela · Sepse · Dengue (FHD) · Colangites · Malária (formas graves) Tratamento ATB está indicada em qualquer período da doença, mas sua eficácia é maior na primeira semana do início dos sintomas. · Formas moderadas · Doxiciclina · Amoxicilina · Formas graves · Penicilina G cristalina (escolha pelo MS, mas se não disponível) · Ampicilina · Ceftriaxone (alternativa) O tempo de tratamento é de 7-10 dias · Hidratação vigorosa EV (SF: 0,9% ou ringer) · Furosemida se disfunção renal oligúrica · Reposição de K se hipocalemia · Terapia renal substitutiva, se necessário. Hemodiálise é a terapêutica de escolha na leptospirose. · Assistência ventilatória, se necessário · Transfusão de hemácias e plaquetas, se necessário Prevenção · Controle de reservatórios · Melhora de infraestrutura · Educação em saúde · EPI para profissionais expostos · Vacinação de animais · Profilaxia · Pós exposição · Doxiciclina 100mg VO 12/12h por 5-7 dias · Pré-exposição: na prática não é feito. · Doxiciclina 200mg VO 1x na semana se exposição de risco. Vacina · Animais · Imunogenicamente limitada a alguns meses (2doses/ano) · Previne a doença e não o estado de portador · Humanos · Imunidade serovar-específica dificulta o desenvolvimento de vacinas para humanos Iasmyn Paixão Referência: Aula Heloísa R Lacerda + Medcurso