Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AULA 4 AUDITORIA DE RISCO Profª Cristiane Aparecida da Silva 2 INTRODUÇÃO Nesta aula, vamos conhecer as falhas na Auditoria Interna. Entender a Contabilidade Criativa, as Fraudes Corporativas e as Práticas e Impactos no uso da Contabilidade Criativa. Esse entendimento reforça a importância da Auditoria Baseada em Riscos. Para tanto, vamos analisar os próximos temas a seguir. TEMA 1 – FALHAS NA AUDITORIA INTERNA Atualmente, pesquisadores nacionais e internacionais, geralmente, seguem a definição do conceito, análise e medidas preventivas para estudar as falhas na auditoria. No entanto, a definição de falha na auditoria, a análise das causas da falha na auditoria e como lidar com a falha na auditoria não chegaram a uma conclusão que todos concordam. Alvin e Ahrens apontaram, em seu livro, a definição do conceito de fala de auditoria como uma abordagem integrada em que tal falha ocorre porque contadores certificadores não seguem os requisitos das normas de auditoria no processo de auditoria. Com isso, emitiu opiniões de auditoria erradas. Alguns pesquisadores acreditam que a falha na auditoria significa que os contadores e certificações cometem erros na prática do curso e, em seguida, formam conclusões de auditoria errada. A segunda condição constitutiva da falha na auditoria é que contadores certificados não cumprem o dever de diligência ou têm comportamentos intencionais no processo de auditoria. A definição de falha na auditoria é discutida principalmente sob dois aspectos: primeiro, a teoria das falhas no resultado da auditoria, e segundo, a teoria das falhas no processo de auditoria. A teoria da falha no resultado da auditoria enfatiza, principalmente, que os contadores certificadores deixam de prestar atenção suficiente ao material de distorção ou omissão nas demonstrações financeiras das declarações de empresas e emitem relatórios de auditoria inconsistentes com os fatos. A teoria de falha de processo de auditoria enfatiza que os auditores deixam de seguir os padrões de auditoria e expressam opiniões de auditoria inadequadas. Ademais, pesquisadores nacionais e internacionais analisam principalmente os motivos da falha na auditoria sob três aspectos: empresas de contabilidade, os auditados e normas de auditoria. Analisar as causas da falha de auditoria a partir da perspectiva de normas de auditoria pode promover o 3 comitê de padrões de auditoria a ser alvo ao formular normas relevantes e reduzir a ocorrência de falha de auditoria. Pesquisas sobre a prevenção de falha de auditoria são discutidas, principalmente, a partir do ângulo de sujeito de auditoria e ambiente de auditoria. 1.1 Exemplo de falhas na Auditoria interna Segundo a Agência de Proteção ambiental dos Estados Unidos (EPA), a Empresa Volkswagen instalou em 482 mil modelos um dispositivo que detecta quando o carro está sendo inspecionado e ajusta o nível de poluentes emitidos pelo motor aos padrões exigidos pela EPA (órgão de fiscalização dos EUA). Contudo, esse dispositivo fica desligado em situações normais de rodagem, fazendo os carros poluírem muito mais do que afirmam os dados divulgados pela montadora. Com isso, os carros têm melhor desempenho e vantagem competitiva no mercado. Tais dispositivo foram instalados em modelos como Jetta, Fusca, Golf, Passat e Audi A3, fabricados entre 2009 e 2015 as descobertas geraram uma crise na Empresa Volkswagen. (The Economist, 2015) Essas crises também esbarram em uma questão cada vez mais recorrente nas grandes organizações: falha na auditoria interna, falha grave na governança corporativa e descuido na área de compliance da empresa. O ato vem ao encontro do que as pesquisas das grandes crises corporativas mostram: a maioria das crises redundam de erros de gestão. A ênfase na auditoria interna aumentou acentuadamente desde 2001, após colapsos corporativos de alto perfil. Esses colapsos desencadearam ações dos criadores de padrões para melhorar a governança corporativa. Embora as respostas passadas aos escândalos de relatórios financeiros não tenham se concentrado no papel dos auditores internos, os normatizadores e os investidores agora estão olhando para os auditores internos como parte da solução crítica para os problemas percebidos de controle, monitoramento e geração de relatórios no setor corporativo. 4 TEMA 2 – CONTABILIDADE CRIATIVA A expressão contabilidade criativa tem origem anglo-saxônica – tanto em seu uso funcional, quanto em sua estratégia – e já foi objeto de grandes reflexões e investigações, principalmente no Reino Unido (Kraemer, 2005). O termo “contabilidade criativa” vem do inglês “earnings management”, que em outra versão poderia ser administração ou negócio vantajoso, ou seja, pode ser entendida como gerenciamento ou manuseio dos resultados, com a intenção de mostrar uma imagem diferente (estável no tempo, melhor ou pior) da entidade. (Diniz, 2013) No entanto, antes dos maiores escândalos financeiros dos últimos tempos, pouco se ouvia falar em Contabilidade Criativa. Alguns pesquisadores haviam escrito sobre ela, o tema era pouco conhecido, porém muito usado. A Contabilidade Criativa, segundo Jameson (1998, citado por Cordeiro, 2003), “é um processo de uso de normas, onde a flexibilidade e as omissões dentro delas, podem fazer com que os estados contábeis pareçam algo diferente [...] consiste em dar voltas às normas para buscar uma escapatória”. A contabilidade criativa é um tema atual na prática contábil. É utilizada para descobrir o processo mediante o qual os contadores utilizam seu conhecimento sobre as normas contábeis para manipular as cifras refletidas na contabilidade da empresa, sem deixar de cumprir os princípios de contabilidade. Desta maneira, conforme se apliquem os critérios e outros aspectos da contabilidade, os resultados podem variar e ser mais favoráveis para as organizações. (Kraemer, 2005) De uma maneira geral, as práticas de Contabilidade Criativa estão muito próximas à fraude contábil, ficando em uma linha tênue entre a norma e a fraude. O termo Contabilidade Criativa envolve a seleção de caminhos possíveis, válidas segundo os princípios e as normas contábeis, realizadas para que se consiga a apresentação mais favorável da informação contábil de uma empresa, em um momento determinado. Ademais, de acordo com Diniz (2013): Como observado acima, existem duas formas de interpretação da contabilidade criativa, uma delas conceitua como mera estratégia contábil resultante de vasto conhecimento em determinada matéria que permite um gerenciamento de resultados. A outra forma de interpretação, por sua vez, a considera uma manipulação propriamente dita das demonstrações financeiras com a finalidade de transformar os dados contábeis favoravelmente ao interesse dos manipuladores, como exemplo pode-se citar o caso de uma empresa que inflaciona seus lucros e depois os utiliza como atrativos na captação de recursos no mercado de capitais. 5 É muito difícil determinar os limites em que se inicia a manipulação com intuito de fraude e quebra de ética, quando começa aquela utilizada para a boa gestão da empresa, com o propósito de refletir a sua “imagem fiel” (Diniz, 2013). Na verdade, a Contabilidade Criativa é uma maquiagem da realidade patrimonial de uma entidade, decorrente da manipulação dos dados contábeis de forma intencional para se apresentar a imagem desejada pelos gestores da informação contábil. O Quadro 1 traz definições de alguns autores com várias interpretações. Quadro 1 – Definições de Contabilidade Criativa Ian Griffith (1988) Todas as empresas manipulam seus resultados, e as demonstrações contábeis publicadas estão baseadas em livros contábeis que foram “retocados” com mais ou menos delicadeza. Assim, as cifras divulgadas ao público investidor são alteradas para proteger o culpado (escondera culpa), o que é a maior farsa desde o “Cavalo de Tróia” e, na realidade, trata-se de artifícios que não infringem as regras do jogo, sendo considerados totalmente legítimos, e que são denominados como Contabilidade Criativa. Michael Jameson 1988 A Contabilidade Criativa é, essencialmente, um processo de uso das normas contábeis que consiste em dar voltas às legislações para buscar uma escapatória baseada na flexibilidade e nas omissões existentes dentro delas, fazendo com que as demonstrações contábeis pareçam algo diferente ao que estava estabelecido em ditas normas. Terry Smith (1992) A Contabilidade Criativa é uma prática inadequada porque dá a impressão de que grande parte do aparente desenvolvimento empresarial, ocorrido nos anos 80, foi mais um resultado do jogo de mãos contábeis do que do genuíno crescimento econômico, já que muitas empresas se utilizaram dela para apresentar indicadores de crescimento econômico e financeiro não reais que, em um segundo momento, poderiam se tornar verdadeiros colapsos empresariais. Kamal Naser (1993) Contabilidade Criativa é o resultado da transformação das cifras contábeis de aquilo que realmente são para aquilo que aqueles que a elaboram/desejam que sejam, aproveitando-se do que as existentes proporcionam, ou mesmo ignorando-as. José Juan Blasco lang (1998) O termo Contabilidade Criativa foi introduzido na literatura contábil para descrever o processo mediante o qual se utilizam os conhecimentos das normas contábeis para manipular as cifras das demonstrações contábeis, sendo, na verdade, um eufemismo utilizado para evitar fazer referência a essas práticas pelos seus verdadeiros nomes: artifícios contábeis, manipulações contábeis ou fraudes contábeis. José María A Contabilidade Criativa é uma arte em que os grandes artistas da contabilidade 6 Gay saludas (1999) – os contadores e os auditores – se aproveitam das brechas oferecidas pelas rigorosas normativas para imaginar um enredo fiscal ou financeiro que lhes permita espelhar a imagem fiscal ou societária desejada para suas companhias. Assim, a Contabilidade Criativa pode ser catalogada como uma magnífica falsidade de obras de arte contábil demandadas de estruturas de verdadeira engenharia contábil. Oriol Amat e John Blake (1999) A Contabilidade Criativa é o processo mediante o qual os contadores utilizam seus conhecimentos sobre as normas contábeis para manipular os valores incluídos nas demonstrações contábeis que divulgam. José Laínez Gadea e Susana Callao (1999) A Contabilidade Criativa consiste em aproveitar as possibilidades oferecidas pelas normas (oportunidades, subjetividades, opções de escolha, vazios jurídicos etc.) para apresentar demonstrações contábeis que reflitam a imagem desejada e não necessariamente aquela que seria na realidade. Logo, ela se encontra em um caminho entre as práticas verdadeiramente corretas e éticas e a ilegalidade ou a fraude, se bem que é difícil delimitar onde acaba a ética e inicia a criatividade e onde termina esta e começa a fraude. Fonte: adaptado de Kraemer, 2008. TEMA 3 – CONCEITO DE FRAUDES O conceito de fraude refere-se a qualquer atividade intencional conduzida por uma pessoa ou um grupo de pessoas com o objetivo de enganar outra parte. No século XXI, inúmeras empresas grandes, históricas e bem estabelecidas entraram em colapso por causa dos escândalos de fraude (Kummer; Singh; Best, 2015). A incidência generalizada de escândalos de fraude em todo o mundo tornou o comportamento fraudulento um grande crime comercial deste século. De acordo com a Association of Certified Fraud Examiner (ACFE), uma organização típica perde aproximadamente 5% de sua receita a cada ano. À primeira vista, esse percentual pode parecer insignificante; no entanto, ao aplicar esse percentual de perda a todos dos Estados Unidos da America (EUA), a perda estimada é superior a US $ 3,5tn (ACFE, 2012). Em um estudo semelhante realizado pela KPMG-Malásia, apenas 26% dos entrevistados foram capazes de fornecer o valor exato das perdas sofridas devido à fraude, avaliada em $ 2.047 milhões, e 46% dos entrevistados relataram que suas perdas variaram entre $ 10.001 e 100.000 (KPMG, 2013). Embora esses números sejam apenas uma aproximação das perdas 7 incorridas, pois alguns escândalos de fraude não foram descobertos, eles mostram claramente como a fraude está prejudicando as empresas. Escândalos de fraude não só prejudicam grandes empresas, mas também afetam pequenas empresas. Segundo a ACFE (2012), a perda mediana incorrida por pequenas empresas foi estimada em US $ 147.000, enquanto a perda mediana para grandes organizações foi de US $ 100.000. Além de perdas financeiras, a fraude afeta a reputação da PME e a confidencialidade de seus stakeholders (clientes, acionistas, credores, etc.). Além disso, a fraude representa uma das razões pelas quais as PME fracassam em atividades estratégicas e, em casos extremos, pode colocar toda a empresa fora do negócio. Por exemplo, um empreendedor pode identificar uma boa ideia de negócio para lançar um novo empreendimento e estabelecer seu plano de negócios com a suposição de que suas estratégias se moverão sem problemas. No entanto, se houver uma falha na adoção de medidas preventivas contra fraudes, o negócio pode não ter sucesso. Por fim, quando a fraude se torna um custo para os negócios, esta coloca as PME em desvantagem competitiva (Adams; Campbell; Rose, 2006). Um exemplo de Fraude no Brasil seria da Empresa Daslu: A empresa recolhia o imposto devido sobre seus produtos durante o ato de importação, no entanto, repassava um valor bem superior aos seus clientes, angariando uma margem excessivamente alta de lucro. A fraude era realizada por meio de um esquema que iniciava no exterior, onde as empresas exportadoras das mercadorias de luxo trocavam as notas fiscais dos produtos, alterando os valores de deixando-os bem mais baratos, para em seguida enviá-los para as importadoras como forma de nacionalizá-los. Ao passarem na alfândega brasileira, a incidência dos impostos era sobre os valores falsos, o que dava à Daslu a possibilidade de pagar impostos mínimos por uma mercadoria bastante cara (Barros; Dantas, 2020). 3.2 Medidas de Prevenção de Fraudes Segundo Adams et al. (2006, p. 56), “a maneira mais econômica de lidar com perdas financeiras por fraude é a prevenção”. Prevenção de fraude se refere a medidas proativas iniciadas por uma organização para evitar ou interromper a ocorrência de fraude. A prevenção de fraudes fornece um ambiente em que há menos oportunidades de ocorrência de fraudes (Omar; Abu Bakar, 2012). No entanto, a maioria das empresas dá mais comprometimento à sua dissuasão do que à sua prevenção e prefere gerenciar suas ocorrências individualmente (Omar; Abu Bakar, 2012; KPMG, 2013). 8 Além disso, Laufer (2011) argumentou que prevenir fraudes é mais barato que detectar fraudes. Ele elaborou ainda mais, afirmando que a lacuna existente entre a ocorrência de fraude e sua detecção levará as empresas a serem vítimas de fraudes. As perdas incorridas incluem o pagamento de honorários advocatícios, má publicidade para a empresa e baixa produtividade e moral. Embora a vítima de fraude possa incorrer em todas essas taxas adicionais, não é certo que a vítima recupere os fundos roubados ou desviados. Diversas medidas de prevenção à fraude foram usadas pelas empresas para mitigar o risco de fraude em seus negócios. Essas medidas aplicadas incluem controle interno e verificação de antecedentes dos funcionários, além de treinamento e educação dos funcionários acerca das questões de fraude, equipando-os com um sistema de denúncia anônima de fraudes etc. (Shanmugam; Haat; Ali, 2012). De acordo com a PWC (2003), as medidas preventivas de fraude aplicadasdependem da experiência de uma empresa com fraudes. Mais claramente, uma empresa que não tem experiência em fraudes tem maior probabilidade de implementar medidas preventivas intangíveis, como um código de conduta e uma política de denúncia de fraudes. Por outro lado, as empresas que sofreram fraudes dependem de políticas tangíveis, como treinamento e educação dos funcionários em questões de fraude e uma política de denúncia (PWC, 2003). Com base nos programas e controles de gerenciamento antifraude emitidos pelo Instituto Americano de Contadores Públicos, as medidas de prevenção, dissuasão e detecção de fraude requerem três conjuntos de medidas: 1. Construir e preservar uma cultura de honestidade; 2. Avaliar o risco de fraude e implementar processos e procedimentos para mitigar os riscos identificados; e 3. Criar um processo de supervisão apropriado. 3.3 construir e preservar uma cultura de honestidade Construir e preservar uma cultura de honestidade desempenha um papel crucial na sobrevivência das organizações. Barlaup, Drønen e Stuart (2009) argumentaram que apenas empresas com comportamento ético poderão sobreviver a longo prazo, atraindo e mantendo partes interessadas. Por outro 9 lado, o fracasso da alta gerência em promover altos valores de honestidade provavelmente levará os funcionários a cometerem fraudes (Murphy; Dacin, 2011). Ao estabelecer uma cultura de honestidade, a alta gerência identifica os comportamentos éticos aceitáveis e os comunica aos funcionários (Sengur, 2012). A construção de uma cultura de honestidade desempenha um papel crucial na prevenção de fraudes corporativas (Sengur, 2012). Além disso, Moffett e Grant (2011) estudaram a relação entre controle interno e prevenção de fraudes e concluíram que, embora o controle interno seja crucial para a prevenção de fraudes, as maneiras pelas quais a alta gerência interage com esse controle interno a fortalecem ou enfraquecem. Esse estudo mostrou que o controle da alta gerência não é suficiente para evitar fraudes, mas a gerência deve “andar a pé” e gerenciar pelo exemplo. Da mesma forma, as conclusões de um estudo realizado sobre experiências, observações e percepções do auditor para determinar os controles mitigadores mais importantes mostraram que a prevenção da fraude ocorre quando “o controle mitigador das atitudes da gerência é mais importante que os incentivos e oportunidades de fraude, na identificação de risco de fraude” (Hernandez; Groot, 2007). TEMA 4 – CONTABILIDADE CRIATIVA VERSUS FRAUDES A Contabilidade Criativa, é uma prática que não infringe os atos regulatórios, contudo, fere princípios éticos da Ciência Contábil, além de induzir os usuários das demonstrações financeiras a erros de avaliação da real situação patrimonial da empresa. (Sulzbach, 2014) Com a utilização da criatividade proporcionada pela Contabilidade Criativa, é provável que uma determinada empresa apresente um resultado positivo nas demonstrações financeiras, sendo que a realidade da empresa é totalmente contraria. Essa ação pode, por exemplo, trazer investidores para a entidade, além de melhorar o valor de suas ações no mercado. Outra situação é a empresa apresentar um resultado negativo com o propósito de reduzir a carga tributária e pagar menos tributos ou distribuir menos dividendos (Sulzbach, 2014). Para Sá (1995, p. 225), são exemplos de fraudes e falta de procedimentos de controle interno, podendo levar ao uso da contabilidade criativa: https://www.contabeis.com.br/contabil/contabilidade/ https://www.contabeis.com.br/contabil/contabilidade/ 10 1. Fraudar vendas à vista (que deveriam constar como sendo a vista), passando, então, a constar como vendas a prazo, para clientes inexistentes e depois protestar as duplicatas, lançando tais títulos em devedores duvidosos, diminuindo o lucro e, consequentemente, a tributação do Imposto de Renda. 2. Diminuir o valor dos estoques, apresentando um inventário de valor inferior à realidade, ou seja, um estoque fictício, menor que o real. 3. Aumentar as despesas, como, por exemplo, as despesas de viagem, onde muitas provas podem ser indiretas, como faculta a legislação, diminuindo o lucro e a tributação. 4. Comprar a dinheiro sem dar a entrada da compra; isto diminui as possibilidades de controle de estoque e possibilitam também as vendas à vista sem nota ou com a nota em branco, deixando de registrar a receita. 5. Lançar como despesa a compra de bens móveis, ou instalações, diminuindo o resultado e a tributação. 6. Adquirir recibos graciosos de comissões, transportes e etc., e lançá- los como despesa, diminuindo o lucro e evitando a taxação do Imposto de Renda. 7. Fazer pagamentos de salários a empregados inexistentes, pagado o INPS, o que representa menor taxa que a do Imposto de Renda. 8. Subfaturamento nas vendas realizadas. 9. Admitir dívidas fictícias, com Notas Promissórias fictícias e pagamentos de juros fictícios. 10. Admitir sócios fictícios só para usufruírem de retiradas, gratificações e etc. Em observação aos exemplos acima, percebe-se que muitos são os caminhos para se chegar à prática da contabilidade criativa. Conhecida como uma das maiores e mais admiradas empresas de reputação internacional, a Enron, líder em distribuição de energia e comunicação, foi alvo de fraudes contábeis e fiscais. O escândalo envolvendo a Enron foi só a ponta do iceberg para os muitos outros que viriam a seguir. A imagem de ética e moral inabalável do continente norte-americano foi por “água abaixo”, logo se deu o escândalo em meados de 2001, em pouco tempo o mercado financeiro do grande império ruiu dando lugar às desconfianças e incertezas dos investidores. (Kotaira; De Souza, 2017) Veja, a seguir, exemplos de empresas americanas que fizeram uso da contabilidade criativa, segundo Cordeiro (2003): Bristol-Meyers Squibb: inflou receitas com vendas, “empurrando” seus produtos para distribuidoras através de campanhas de incentivos e descontos. ImClone Systems: fez uso de informação privilegiada, anunciando o lançamento de um medicamento sem que o mesmo fosse autorizado por órgão regulador. A Merck: do ramo farmacêutico, manipulou custos e receitas, inflando-os na mesma proporção, afetando as vendas, levando o investidor a acreditar no crescimento da empresa. 11 A Xerox: do ramo de equipamentos eletrônicos, essa empresa lançou como receitas de vendas contratos de aluguel de equipamentos, declarando erroneamente vendas de equipamentos e contratos de serviços, ajudando a companhia a cumprir previsões de lucros. WorlCom: foi autuada por ativação indevida de gastos, lançando como investimentos o que na verdade eram despesas, influenciando diretamente na depreciação. Enron: do ramo de energia e telecomunicações, a empresa desviou dívidas e superestimou lucros, escondeu dívidas e criou falsas receitas. A Tyco: foi investigada por sonegação fiscal. Ademais, a holding mudou várias vezes para paraísos fiscais. Após todos esses escândalos, a confiança pública foi corroída pela falta de ética dos administradores envolvidos. Motivada por tais escândalos financeiros corporativos, foi criada a Lei Sarbanes-Oxley, em inglês, Sarbanes- Oxley Act (SOX), Lei dos Estados Unidos, assinada em 30 de julho de 2002. A criação da SOX teve, como objetivo principal, o resgate da confiança dos investidores e usuários da informação contábil, além da redução de práticas contábeis de caráter um tanto duvidosa (contabilidade criativa). Com a SOX, houve um aumento significativo da vigilância e normas de punição aos executivos financeiros (Borgeth, 2007). A Seção 302 da SOX exige que as demonstrações apresentem, de forma justa, a condição financeira da empresa (Borgeth, 2007). Embora a Lei proponha mudanças radicais quanto à forma de demonstrações fidedignas e transparentes das empresas,ainda faltam dados para comprovar que tais ações tenham surtido o efeito esperado, uma vez que a lei espera que aconteça, mas não garante. De acordo com Sousa (2011): Existe uma pergunta que não quer calar, afinal se a Contabilidade Criativa fere princípios e o código de ética profissional, distorce as demonstrações e induz o usuário das informações contábeis a erros de avaliação, afinal isso não é fraude contábil? Não. Sob a lente jurídica, a prática é legal; não viola a legislação, aproveita suas lacunas jurídicas. No entanto, é condenada por autores da Ciência Contábil que pesquisam a prática em todo mundo (Sousa, 2011). Ressalta-se que a prática é um malefício para a Ciência Contábil e pode ser impulsionadora de escândalos financeiros. É nesse sentido que a prática 12 se confunde com fraude e traz à tona reflexões acerca da conduta ética adotada por quem se utiliza da Contabilidade Criativa (Sousa, 2011). TEMA 5 – PRATICAS E IMPACTOS NO USO DA CONTABILIDADE CRIATIVA 5.1 Impactos no uso da Contabilidade Criativa Quadro 2 – Impactos da Contabilidade Criativa IMPACTOS DESCRIÇÃO Estabilização dos Resultados As empresas preferem, geralmente, refletir uma tendência estável no crescimento do lucro, em vez de mostrar lucros voláteis com séries de dramáticas subidas e descidas. Isso se consegue criando elevadas e desnecessárias provisões que atuam nos resultados dos anos bons, de forma a que essas provisões possam reduzir-se, melhorando os resultados dos anos maus. Manutenção ou aumento dos preços de cotação Trata-se, nesse caso, de reduzir, aparentemente, os níveis de endividamento (fazendo crer que a empresa está exposta a um menor risco), ou criando uma favorável tendência dos resultados (fenómeno que aumentará a atratividade de novos investidores). Retardamento da chegada de informação ao mercado Os gestores, beneficiando-se de informação privilegiada, podem diferir a divulgação de dados cujo conhecimento público não seja oportuno. Fonte: adaptado Duarte e Ribeiro, 2007. Perante a competitividade existente no mundo business, no qual as organizações disputam fatias de mercado, posição nas bolsas de valores, sobrevivência e diversas outras coisas, o gerenciamento de tais entidades se tornou cada vez mais complexo e difícil, exigindo, dos seus gestores, resultados em tempo recorde (Frota; Vieira, 2014). “Com isso, a grande maioria deles passaram a fazer uso da contabilidade criativa para facilitar seu trabalho e atingir a qualquer custo as metas e objetivos estabelecidos” (Frota; Vieira, 2014). Observa-se que a Contabilidade Criativa é um fenômeno de difícil eliminação, pois além de não configurar crime, sua existência é possível devido à complexidade cada vez maior das relações organizacionais, devido também às lacunas, às omissões e à flexibilização existente na legislação que serão difíceis de ser exterminadas por completo, à subjetividade existente e, principalmente, 13 aos benefícios de recompensa envolvidos no processo de manipulação dos dados contábeis que se tornam atrativos e sedutores para os profissionais com princípios éticos duvidosos, sem contar a ausência de punições específicas para os que a pratiquem (Frota; Vieira, 2014). A questão principal para a existência da contabilidade criativa vai além dos fatores técnicos e legais, ela está em volta dos aspectos morais e éticos do indivíduo e da sociedade. Pois se cada profissional seguisse seu código de ética e tivesse uma conduta moral respeitando os princípios sociais pré-estabelecidos, não haveria motivo algum ou justificativa suficiente para desviá-lo de sua conduta (Frota; Vieira, 2014) Nesse contexto, o auditor, por sua vez, deve ajustar o desempenho de suas atividades visando atender às necessidades atuais, uma vez que o seu relatório, hoje, não abrange a contabilidade criativa. Dessa forma, é seu papel enfrentar as dificuldades existentes impostas por tal prática e buscar resgatar a confiança dos usuários da informação contábil, recuperando, assim, a credibilidade da sua função, sob pena de cair de vez em descrédito, frustrar as expectativas dos interessados no resultado de seu trabalho e, pior, sofrer processos judiciais para assumir sua responsabilidade por danos causados, frutos da contabilidade criativa (Frota; Vieira, 2014). 5.2 Prática de Contabilidade Criativa Figura 1 – Práticas de Contabilidade Criativa e os efeitos que produzem Fonte: Salas, Blake & Gutiérrez, 2005, p. 10. 14 5.2.1 Casos de Contabilidade Criativa no Brasil São enfatizados casos de criatividade contábil no setor bancário brasileiro, como exemplo: Banco Nacional, considerado o segundo mais lucrativo do Brasil em 1994, fazia uso da maquiagem de balanços, com vistas à captação de recursos de terceiros, embora não possuísse liquidez suficiente. Essa criatividade se iniciou em 1986, mas sua liquidação extrajudicial foi decretada apenas em 2005. Milhões de reais foram envolvidos na farsa enquanto acionistas, fisco e demais bancos foram induzidos ao erro [...] Banco Panamericano em 2010, ocorreu a maior crise envolvendo uma instituição financeira. Nas demonstrações financeiras do banco Panamericano foram encontradas inconsistências contábeis que não permitiam que os demonstrativos refletissem a real situação patrimonial da entidade. (Barros; Dantas, 2020) Saiba mais Você quer saber um pouco mais sobre a Práticas De Contabilidade Criativa? Leia o artigo a seguir intitulado Existe práticas de contabilidade criativa na Petrobras? Uma análise de conteúdo nos principais meios de comunicação: <https://revista.ufrr.br/adminrr/article/view/248570772002000100001&script=sci_ arttext&tlng=pt>. FINALIZANDO O estudo acerca das falhas na auditoria, tanto no que concerne às fraudes nas grandes corporações quanto à contabilidade criativa é muito importante, pois as consequências da utilização de práticas dessa natureza afetam diretamente todas as partes interessadas nas informações geradas pela contabilidade, podendo vir a trazer distorções significativas na interpretação dos dados pelos usuários. Com base no que foi apresentado até aqui, podemos ver como a auditoria de risco é fundamental com o propósito de prevenir e, por conseguinte, mitigar riscos futuros que as grandes corporações possam vir a sofrer. 15 REFERÊNCIAS ACFE. Report to the nations on occupational fraud and abuse, 2012. Disponível em: <www.acfe.com/uploadedfiles/acfe_website/content/rttn/2012- report-to-nations.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2020. ADAMS, G. W. et al. Fraud Prevention. The Cpa Journal, v. 7, n. 1, p. 56-59, 2006. BARLAUP, K.; DRØNEN, H. I.; STUART, I. Restoring trust in auditing: ethical discernment and the Adelphia scandal. Managerial Auditing Journal, v. 24, n. 2, p. 183-203, 2009. BARROS, A.; DANTAS, R. Q. Para entender a Contabilidade Criativa. Disponível em: <https://www.passeidireto.com/arquivo/23214690/artigo- contabilidade-criativa-doc>. Acesso em: 24 abr. 2020. BIERSTAKER, J. L.; BRODY, R. G; PACINI, C. Accountants’ perceptions regarding fraud detection and prevention methods. Managerial Auditing Journal, v. 21, n. 5, p. 520-535, 2006. BORGERTH, V. M. C. Sox: Entendendo a Lei Sarbanes-Oxley: um caminho para a informação transparente. São Paulo: Thomson Learning, 2007. CORDEIRO, C. M. R. Contabilidade criativa: um estudo sobre a sua caracterização. 2003. Disponível em: <http://www.crcpr.org.br/new/content/publicacao/revista/revista136/contabilidade _criativa.htm> Acesso em: 24 abr. 2020. DIRTY Secrets of The Car. The Economist, 2015. Disponível em: <https://www.economist.com/printedition/2015-09-26>. Acesso em: 26 abr. 2020. DINIZ, F. O fenômeno da Contabilidade Criativa. Ciências Contábeis, 12 dez. 2013. Disponível em: <http://www.cienciascontabeis.com.br/fenomeno- contabilidade-criativa/>. Acessoem: 24 abr. 2020. FROTA, V. X.; VIEIRA, E. T. V. A Influência da Contabilidade Criativa no Resultado do Trabalho do Auditor Independente. Revista GEDECON-Gestão e Desenvolvimento em Contexto, v. 2, n. 1, p. 49-68, 2014. 16 HALBOUNI, S. S. et al. Corporate governance and information technology in fraud prevention and detection: evidence from the UAE. Managerial Auditing Journal, v. 31, n. 6-7, p. 589-628, 2016. HERNANDEZ, J. R.; GROOT, T. Corporate fraud: preventive controls which lower fraud risk, 2007. Disponível em: <www.researchgate.net/publication/229022495_Corporate_Fraud_Preventiv e_Controls_which_Lower_Fraud_Risk/file/d912f50c3acca0eae3.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2020. KOTAIRA, J. M.; DE SOUZA, W. C. Controle Interno e Falhas na Auditoria: Um Gap para a Contabilidade Criativa. 71 f. TCC (Graduação em Ciências Contábeis) – Universidade Federal Fluminense, Volta Redonda, 2017. KPMG – KPMG Malaysia fraud, bribery and corruption survey 2013. Disponível em: <www.kpmg.com/MY/en/IssuesAndInsights/ArticlesPublications/Documents/ 2013/fraud-survey-report.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2020. KRAEMER, M. E. A Maquiagem das Demonstrações Contábeis com a Contabilidade Criativa. Gestiopolis, 17 set. 2005. Disponível em: <https://www.gestiopolis.com/a-maquiagem-das-demonstracoes-contabeis-com- a-contabilidade-criativa/>. Acesso em: 24 abr. 2020. KRAEMER, M. E. P. Contabilidade criativa: maquiando as demonstrações contábeis. Pensar Contábil, v. 7, n. 28, 2008. KUMMER, T. F.; SINGH, K.; BEST, P. The effectiveness of fraud detection instruments in not-for-profit organizations. Managerial Auditing Journal, v. 30, n. 4-5, p. 435-455, 2015. LAUFER, D. Small entrepreneurs: a focus on fraud risk and prevention. American Journal of Economies and Business Administration, v. 3, n. 2, p. 401-404, 2011. MOFFETT, R. C.; GRANT, G. H. Internal control and fraud prevention. Internal Auditing, v. 26 n. 2, p. 3-12, 2011. MURPHY, P. R.; DACIN, M. T. Psychological pathways to fraud: understanding and preventing fraud in organizations. Journal of Business Ethics, v. 101, p. 601-618, 2011. 17 OMAR, N.; ABU BAKAR, K. M. Fraud prevention mechanisms of Malaysian government-linked companies: an assessment of existence and effectiveness. Journal of Modern Accounting and Auditing, v. 8, n. 1, p. 15- 31, 2012. PWC. Economic crime survey 2003. Disponível em: <www.pwc.com/gx/en/economic-crime-survey/pdf/pwc_2003gecs.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2020. SÁ, A. L.; HOOG, W. A. Z.; Corrupção, Fraude e Contabilidade. Curitiba: Juruá, 2010. SENGUR, E. D. Auditors’ perception of fraud prevention measures: evidence from Turkey. Annales Universitatis Apulensis Series Oeconomica, v. 14, n. 1, p. 128-139, 2012. SHANMUGAM, J. K.; HAAT, M. H. C; ALI, A. An exploratory study of internal control and fraud prevention measures in SMEs. International Journal of Business Research and Management, v. 3, n. 2, p. 90-99, 2012. SOUSA W. D. Contabilidade Criativa: Criatividade ou Fraude Contábil? Contábeis, 17 dez. 2011. Disponível em: <https://www.contabeis.com.br/artigos/634/contabilidade-criativa-criatividade-ou- fraude-contabil/>. Acesso em: 24 abr. 2020. SULZBACH J. M. Contabilidade Criativa e seus limites. TCC (Graduação em Ciências Contábeis) – Faculdade de Ciências Contábeis e Administração do Vale do Juruena, Juína-MT, 2014.
Compartilhar