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Coronavírus e a infância Um retrato sobre o impacto do isolamento social na aprendizagem e na emoção das crianças.

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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
Centro de Ciências da Saúde – CCS
Curso de Psicologia
Disciplina: Estágio Básico II
Prof. Ana Cláudia Coelho Ferreira
Victória Diniz dos Santos - 2118201
Ana Maria Pordeus de Abreu - 2114530
Coronavírus e a infância: Um retrato sobre o impacto do isolamento social na
aprendizagem e na emoção das crianças.
Resumo
Este trabalho foi construído para a disciplina de Estágio básico II, da Universidade de
Fortaleza - UNIFOR, sob a supervisão da professora Ana Cláudia Coelho Ferreira. Nele
busca-se entender o impacto da pandemia do novo Covid-19 no aprendizado e nas emoções
das crianças por meio de uma pesquisa qualitativa e uma análise bibliográfica, utilizando
pesquisas em periódicos e artigos científicos. Além disso, duas entrevistas foram realizadas
com uma psicóloga clínica e uma psicóloga escolar utilizando o método de entrevista em
profundidade do tipo qualitativa, semiestruturada, semiaberta e com roteiro. No trabalho,
pôde-se perceber que a pandemia teve um grande efeito nas crianças durante o período letivo,
em seus processos de aprendizagem e nas emoções enquanto seres sociáveis, o momento de
readaptação ao modelo remoto e depois ao modelo presencial, dessa maneira, tornou-se um
longo caminho, onde se fez necessária muitas intervenções por parte dos profissionais
atuantes da área de ensino e da saúde psíquica. Finaliza-se destacando a importância do
acompanhamento desses profissionais, e dos pais, para que essas crianças tivessem suporte o
suficiente para driblar tal situação que nos acometeu por esses longos dois anos.
Introdução
O presente trabalho foi desenvolvido em consequência da disciplina Estágio básico II,
do curso de Psicologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) e foi acompanhado pela
professora Ana Cláudia Coelho Ferreira. O mesmo tem como objetivo principal compreender
a atuação do psicólogo clínico e do psicólogo escolar acerca das afetações causadas na
aprendizagem e emoções pelo ensino remoto, no período pandêmico do Covid-19, nas
crianças. Procuramos como objetivo geral analisar os aspectos de intervenção e
enfrentamento dessas áreas da psicologia, bem como sua contribuição para o acesso à
educação e à socialização frente a essas crianças e como isso as impactam. Trazemos também
como objetivos específicos buscar compreender o percurso profissional de tais psicólogos, a
fim de conhecer suas motivações e os passos de sua carreira que o levaram a estar atuando
nesta área hoje.
A motivação para a realização deste artigo encontra-se no fato da importância de
entender e não negligenciar as nossas crianças, pois o cenário do Covid-19 repercutiu
emocionalmente e didaticamente em todos ao redor do mundo, incluindo os pequenos, que
por vezes tem suas necessidades pessoais e seu sentir colocados de lado. Para isso buscamos
responder as questões sobre a dinâmica de aprendizado antes e depois da pandemia e também
como todo esse cenário afetou diretamente o emocional das crianças.
Para compreender as questões apontadas acima, utilizamos de pesquisas bibliográficas
e realizamos entrevistas com dois profissionais das áreas mencionadas para clarificar o
campo de atuação. Estas ocorreram via Google Meet, onde realizamos a gravação das
mesmas e tivemos uma troca com as entrevistadas sobre o tema abordado. Desde o primeiro
contato até a realização das entrevistas, as entrevistadas se mostraram muito solícitas,
engajadas e empolgadas por poderem compartilhar suas experiências conosco.
No decorrer do desenvolvimento do presente trabalho os referenciais teóricos
utilizados foram os seguintes autores da psicologia e de outros campos teóricos: Ana Bock,
Vygotsky, Winnicott, John W. Creswell e autores brasileiros que escreveram artigos
científicos e periódicos acerca da temática da psicologia e do desenvolvimento infantil, bem
como autores que discursaram sobre metodologias e o cenário pandêmico do COVID-19.
Durante as entrevistas foram tomados os cuidados éticos recomendados:
Explicamos brevemente o motivo da nossa pesquisa e justificamos a escolha da área e do
entrevistado; Asseguramos confidencialidade e anonimato ao entrevistado; explicamos a
necessidade de gravar as entrevistas e quem terá acesso às mesmas. Informamos o tempo da
entrevista; iniciamos e finalizamos as entrevistas com cordialidade e simpatia, além dos
agradecimentos; seguimos os tópicos estabelecidos e nossa pontualidade ao início e final das
entrevistas
Portanto, o seguinte artigo será dividido em cinco partes, as quais serão dadas por
introdução, para apresentar o trabalho; metodologia, onde abordaremos os métodos e as
técnicas utilizadas para a construção do seguinte artigo; resultados e discussões, neste tópico
trataremos do tema escolhido e colocaremos a nossa análise com base nos estudos e
entrevistas realizadas; considerações finais, aqui será realizada a conclusão do presente
trabalho e por fim as referências bibliográficas.
Metodologia
O seguinte artigo tem como objetivo primordial buscar ter a compreensão da atuação
do psicólogo clínico e do psicólogo escolar acerca das afetações causadas na aprendizagem e
emoções pelo ensino remoto, no período pandêmico da Covid-19 nas crianças. Para que essa
construção fosse possível realizamos uma pesquisa qualitativa, que se deu por meio de artigos
e livros, tanto físicos como virtuais, onde todo conteúdo retirado foi analisado e referenciado
com cautela, para assim relacionar, através de citações diretas e indiretas, ao tema escolhido
de forma coesa em conceitos avaliados por pesquisadores experientes.
Seguindo na identificação dos métodos utilizados, foram realizadas duas entrevistas
semiabertas, que segundo John W. Creswell 2007, utiliza-se de coletas de dados com
perguntas abertas, análises de textos ou imagens e de interpretação pessoal dos resultados das
averiguações, todas essas constituem subsídios aos procedimentos qualitativos. Esse método
agrega um valor subjetivo na formação deste trabalho, pois o pesquisador é envolvido em um
processo de descoberta e de exploração do sentir daquele espaço, de acordo com as
informações passadas e analisadas pelo entrevistado. (CRESWELL, 2007)
Dessa maneira foram realizadas entrevistas com um psicólogo de cada área escolhida
para o desenvolvimento deste trabalho. A primeira das duas entrevistas realizadas ocorreu no
dia 26/03/2022, online, via plataforma Google Meet. Na ocasião, a estudante Ana Maria
Pordeus de Abreu realizou uma entrevista com uma Psicóloga Clínica, denominada como
entrevistada A. A estudante Victória Diniz dos Santos acompanhou toda a entrevista e ficou
responsável por gravá-la e fazer anotações necessárias. Depois ocorreu o inverso, a aluna
Victória Diniz dos Santos entrevistou uma Psicóloga Escolar, denominada de entrevistada B,
online, via plataforma Google Meet, no dia 28/03/2022.
Após a realização das entrevistas o objetivo foi concretizado ao ampliar a visão do
tema e aprofundar cada vez mais na pesquisa prática e bibliográfica, construindo o presente
artigo com embasamento e coerência. É importante destacar que serão tomados todos os
cuidados éticos recomendados pela instituição de ensino, assegurando total anonimato ao
entrevistado, e que as informações colhidas serão divulgadas apenas no âmbito acadêmico.
Resultados e Discussão
1 – Coronavírus, isolamento social e a infância.
Por volta de dezembro de 2019 a OMS (Organização Mundial de Saúde) divulgou um
alerta mundial para os casos do novo Coronavírus. Um vírus responsável por causar síndrome
respiratória sendo o quadro mais grave da doença. A doença foi nomeada como COVID-19,
ocasionando uma crise sanitária, pois muitas nações não tinham suporte necessário para
atender a demanda de muitos doentes. O mundo se viu diante de uma ameaça que impactou
todos os setores da economia o que se tornaria em poucos meses uma pandemia. De forma
sucinta é possível evidenciar “o insuficiente conhecimento científico sobre o novo
Coronavírus,sua alta velocidade de disseminação e capacidade de provocar mortes em
populações vulneráveis, geraram incertezas sobre quais seriam as melhores estratégias a
serem utilizadas para o enfrentamento da epidemia em diferentes partes do mundo”
(WERNECK, CARVALHO, 2020).
Muitas nações como o Brasil tiveram que agir para conter o avanço do vírus, uma das
táticas adotadas foi o isolamento social que impactou profundamente na vida de muitas
pessoas. O isolamento social afastou as pessoas do convívio dos mais velhos caracterizado
como o grupo de risco para doença, os adultos dos seus trabalhos, as crianças das escolas e
mudou totalmente o estilo de vida que estávamos acostumados. Desse modo toda a população
foi acometida por esse cenário de dúvidas, medos e isolamento, no entanto as crianças, que
são seres sociais em sua construção, serão o objetivo da discussão apresentada
Aqui iremos tratar com mais profundidade a compreensão da atuação do psicólogo
clínico e do psicólogo escolar acerca das afetações causadas na aprendizagem e emoções pelo
ensino remoto nas crianças no período pandêmico, o qual apresentamos um breve resumo
acima.
De acordo com a entrevista realizada com a profissional da área escolar, a mesma nos
trouxe a importância do social enquanto ponto de referência para a construção do indivíduo,
principalmente quando o mesmo ainda está se constituindo enquanto sujeito e se entendendo
no mundo. Ela nos aponta a seguinte colocação:
O lado social também, a criança precisa desse desenvolvimento, desse
contato com outras crianças e outros adultos. Teve um caso de uma criança
já tava no período de infantil 2, de adaptação, e essa criança tinha passado
por muitos abusos e agressões físicas e psicológicas, o que melhorou o
trauma disso foi o contato com pessoas, quando a gente tava conseguindo
obter sucesso nesse caso, regrediu tudo, porque veio a pandemia e ela teve
que se isolar
Podemos destacar em Vygotsky, que construiu sua teoria do aprendizado sob o olhar
da criança como um ser social, essa necessidade clara do desenvolvimento em conjunto e que
age diretamente na autoestima e segurança da criança. Para o psicólogo não seria suficiente
todo o aparato biológico da espécie para que fosse possível realizar uma tarefa, o indivíduo
precisa também participar de espaços que tragam essas tarefas e que propiciem esta
aprendizagem. Dessa maneira se finca a criança como resultado de seu meio social, atrelado
com suas subjetividades. (RABELLO e SILVEIRA, 2018)
Em um olhar da psicologia clínica podemos demarcar o social e o infantil no resgate
da fala da nossa entrevistada, que pontua e traz dificuldades sociais do modelo remoto as
quais a infância foi submetida por conta do vírus e seus riscos.
E essa expressão como é que ela vai fazer isso dentro de uma tela? É, uma
coisa é ela passar o tempo dela onde ela não interage com outras crianças.
Ela está interagindo por exemplo com o Diogo, mas ali é como se ela tivesse
uma barreira. E passou da aula presencial para o celular. O aparelho virou
uma grande barreira para ela poder ter contato com essas crianças, ela estava
impossibilitada de ter esse contato.
Para a Sociedade Brasileira de Pediatria, o uso contínuo de telas na infância e
adolescência amplia o desenvolvimento de transtornos de saúde mental, como a depressão, a
ansiedade, problemas no sono, irritabilidade, falta de concentração que impacta diretamente
no aprendizado. Segundo o Manual menos tela e mais saúde recomenda-se que crianças de 0
a 2 anos o acesso deverá ser evitado. E aqueles que a utilizam o acesso seja limitado e
acompanhado pelos responsáveis. Os pais devem propor alternativas de brincar ao ar livre,
evitar contato com desconhecidos dentre outros. Para Montesorri (1941, p. 124), “deve-se
preparar um ambiente aberto, adequado ao movimento vital, deve surgir espontaneamente a
manifestação psíquica natural e, portanto, a revelação do segredo da criança. Sem este
princípio, é evidente que todos os esforços da educação poderão perder-se num labirinto sem
saída”. Compreende que a criança precisa de um ambiente que facilite e ofereça as
ferramentas necessárias para torná-la independente, dando espaço para ocorrer a
comunicação, e não a dependência das telas que esconde o mundo lúdico que se amplia
quando ocorre a troca e contato com outras crianças.
2 – O olhar clínico e escolar sobre os impactos da aprendizagem / emoção das
crianças no cenário pandêmico e medidas de enfrentamento.
É perceptível que houve um comprometimento com o calendário escolar em virtude
do longo período de suspensão das aulas durante a pandemia. Vários fatores contribuíram
para agravar o problema, como falta de estrutura das escolas para disponibilizar ferramentas
ao corpo docente, muitas crianças sem acesso à internet e a não adaptação ao ensino EAD
para aqueles que tiveram oportunidade. Segundo o relato da psicóloga clínica:
[...] algumas crianças tivemos que aumentar os dias de atendimento porque um dia
era insuficiente para dar conta de tanta demanda. Porque elas não eram privadas só
dos colegas [...] algumas crianças pelo relato das mães falaram que o rendimento
escolar foi lá pra baixo, teve pacientes que aos doze anos que não se adaptou de
forma nenhuma, ao ponto de não assistirem aula. Quando tinha prova era coletiva
[...] tenho um filho de doze anos, tá. Então eu vejo o quanto ele saiu prejudicado na
área da matemática porque aprender matemática à distância é muito complicado.
Então, com a idade que ele tem, ele chorava, ele não podia sair [...]
No contexto acima é possível compreender que os desafios foram intensos com
relação ao ensino EAD e com as emoções desenvolvidas pelas crianças. A profissional
enfatizou as dificuldades em algumas matérias e até mesmo o abandono pela falta de
adaptação com o novo processo de ensino, ainda que temporário. O desespero de algumas
crianças que choravam e não aceitavam a nova realidade foi um momento assustador. De
acordo com a psicóloga clínica entrevistada podemos ver mais a fundo tais dificuldades, tanto
para a aprendizagem, quanto para o próprio tratamento psicológico que não continuou.
[...] o infantil foi uma das idades mais afetadas porque a criança é muito cinetésica.
Então, ela precisa pegar, ela precisa do corpo para interagir, a forma como ela se
expressa é muito no corpo [...] o aparelho celular virou uma grande barreira para ela
poder ter contato com essas crianças, ela estava impossibilitada de ter esse contato [...]
nesse período os atendimentos foram suspensos, pois os pais estavam com medo das
crianças adquirirem o vírus. Além das crianças serem pequenas. O que dificultou o
processo do atendimento on- line. Mesmo existindo a necessidade não foi possível
continuar com os atendimentos. As crianças ficaram mais ansiosas porque não
poderiam sair no período [...]
Nota – se que houve um avanço no quadro de ansiedade em algumas crianças, pois
com o isolamento social as escolas físicas foram fechadas dando espaço ao ensino remoto. O
que ocasionou grandes prejuízos no aprendizado, na construção cultural e social dessas
crianças. Além de muitas não terem acesso ao básico para se manter presente com os estudos.
Segundo Ana (1999, p. 124), considera que para Vygotsky “o desenvolvimento é um processo
que se dá de fora para dentro. É no processo de ensino-aprendizagem que ocorre a
apropriação da cultura e o consequentemente desenvolvimento do indivíduo”. Desse modo,
demonstrando a importância do outro, o que foi impossibilitado em virtude do isolamento
social (lockdown).
Nesse contexto, a criança, enquanto ser que exala pulsão de vida, se vê limitada por
esse espaço que são as telas e acaba por não se desenvolver. Em um diálogo com outra
profissional, voltando para o cenário escolar, ela aponta também as dificuldades apresentadas
na inquietação dos pequenos que tentaram acompanhar o EAD e todas as atividades remotas.
[...] tem crianças que até hoje não conseguem e eu percebo que isso
desenvolveuum transtorno de ansiedade muito grande nelas e uma
resistência também ao aprender, ao aprendizado. As crianças se cansavam
muito, se irritavam muito rápido, poucas crianças, a minoria, decidiram
acompanhar o EAD.
Vê-se que, nesse momento, apesar da tentativa dos professores de se desdobrarem
para tornarem as aulas atrativas, essas crianças tiveram um déficit no aprendizado, por
estarem reclusas de seu meio de costume, fazendo assim, com que os aparelhos eletrônicos se
tornassem objetos de tortura. A psicóloga escolar entrevistada nos demonstra esse cenário
bem demarcado em sua seguinte fala:
[...] era contado 3 minutos, se passasse desse tempo, a criança já se irritava e
já não queria mais [...] foi muito assustador, isso as crianças sofreram e os
professores também. Em relação a dar as aulas, tinha professor que era uma
tortura, tinham uns que ia de primeira, mas tinham outros que era todo um
processo. A minha admiração pelos professores cresceu muito .
No período de readaptação desses pequenos os professores e psicólogos foram
ferramentas essenciais, pois muitas crianças sequer tinham tido contato físico com o ambiente
escolar. A criatividade foi uma forte aliada nessa conjuntura, como apontado pela profissional
da psicologia escolar que entrevistamos:
Foi a criatividade dos professores [...] muitas aulas práticas [...] uma aula
bem de fantasia, que te convida a estar ali, a querer fazer parte [...] brincar de
estudar com matemática, por exemplo. Contando quantos copos de farinha
eu vou colocar para fazer aquele bolo. Os professores mandavam as crianças
fazerem isso, para quebrar essa dinâmica do desinteresse por parte delas.
Dado esse ponto, podemos salientar que a criança, até certa idade, precisa apenas
brincar, o aprendizado de forma lúdica nos traz a junção da brincadeira e do ensino no
decorrer do desenvolvimento desse ser. Para que possamos entender o desenvolvimento da
criança, precisamos levar em consideração as necessidades dela e de que forma podemos
incentivá-la para que a criança possa colocá-las em ação. O seu avanço está ligado a uma
mudança nessas motivações e incentivos, as fases do crescimento vão demarcando o que cada
criança possui interesse naquele momento. Ela satisfaz certas necessidades no brinquedo, mas
essas necessidades vão mudando no decorrer de sua maturação. Assim, como suas
necessidades vão se modificando, é fundamental conhecê-las para compreender a
singularidade do brinquedo como uma forma de atividade e como podemos realizá-la para
que satisfaça a criança daquela faixa etária (VYGOTSKY, 1998). De acordo com o psicólogo,
podemos referenciar o estudo do brinquedo e sua importância no desenvolvimento da
infância da seguinte maneira.
Frequentemente descrevemos o desenvolvimento da criança como o de suas
funções intelectuais; toda criança se apresenta para nós como um teórico,
caracterizado pelo nível de desenvolvimento intelectual superior ou inferior,
que se desloca de um estágio a outro. Porém, se ignoramos as necessidades
da criança e os incentivos que são eficazes para colocá-la em ação, nunca
seremos capazes de entender seu avanço de um estágio do desenvolvimento
para outro, porque todo avanço está conectado com uma mudança acentuada
nas motivações, tendências e incentivos. (Vygotsky, p. 61, 1998)
A aprendizagem perpassa pelo emocional e ele faz parte de toda a construção, desde
dentro de casa, até às ruas e às instituições, a importância de um lar que promova a
autoestima e a independência da criança também é crucial para o desenvolvimento da mesma,
tanto em questões de aprendizagem, como no social. Durante a entrevista, como ponto de
enfrentamento, a psicóloga escolar pontuou claramente sobre a função do lar enquanto espaço
de promoção desses aspectos.
Essa superproteção, que alguns pais têm com os filhos atrapalha esse
processo, afeta a segurança e a auto estima. Eles perpetuam esse discurso do
meu bebê, mamãe e papai, sempre na terceira pessoa. Então eu fui ajustando
e tenho ajustado o fato de dormir dentro do seu quarto, na sua cama,
fortalecendo essa identidade pessoal e essa segurança. Tudo isso reflete no
no ambiente escolar, junto com o social e com as outras crianças. É onde os
pais mais pecam, por conta das necessidades e medos que eles próprios
possuem.
Conforme a visão de Winnicott, o mesmo pontuava que transtornos e mudanças no
comportamento se originavam de conflitos inconscientes, que possivelmente tinham um fator
ambiental envolvido. Desde então, o autor considera a necessidade de um ambiente seguro e
estável durante a infância. Sendo assim, Winnicott faz a seguinte afirmação sobre o lar e a
relação parental.
Bons pais constroem um lar e mantêm-se juntos, mantendo a casa e um
contexto em que cada criança encontra gradualmente a si mesma (seu self) e
ao mundo, numa relação operativa entre ela e o mundo” (WINNICOTT,
1996, p. 98).
Demonstra-se, então, que a promoção da autoestima e da segurança na criança é
fundamental para que ela se encontre em seu caminhar e se desenvolva plenamente em suas
atividades escolares, extracurriculares e relacionais. Trazendo a toda para esses espaços sobre
si, desse modo agregando estes locais, e se reconhecendo neles.
Considerações Finais
Diante do cenário do novo COVID-19 que acometeu a todos nós e trouxe severas
dificuldades, com situações de mortes e isolamento, fez-se necessário compreender como
esse processo nos afetou. No percurso do seguinte trabalho procuramos identificar como o
cenário pandêmico afetou nossas crianças em seu processo de desenvolvimento como
indivíduo, levando em consideração que o contexto escolar é uma parte fundamental desse
processo da infância.
Para a compreensão dessa temática buscou-se explicações acerca do processo de
aprendizagem das crianças e como isso as impactou emocionalmente, em seu cotidiano,
sendo possível notar que a pandemia trouxe grandes danos a esse caminho trilhado pelos
pequenos. Pode-se perceber que a temática, haja vista que esta mexe com a dinamicidade da
vida como um todo, é bem discutida e há uma preocupação genuína dos profissionais para
que a mesma consiga ser levada da melhor forma possível.
Podemos verificar após os depoimentos recebidos nas entrevistas a importância do
trabalho de toda a equipe educacional e o quanto se faz necessário investir nesses
profissionais, que são responsáveis pelo desenvolvimento de cada pequeno indivíduo, até o
final da educação infantil quando estes se constituem enquanto sujeitos no mundo. Enquanto
seres sociais e cinestésicos, as crianças foram o público mais afetado pela pandemia e suas
medidas sanitárias, como o isolamento.
Conclui-se que é fundamental uma intervenção lúdica e criativa por parte dos
profissionais da equipe escolar, para que a criança consiga retornar e se adaptar ao espaço que
a mesma foi retirada tão abruptamente, ou nem sequer esteve. É imprescindível que os pais
auxiliem nesse processo de construção dentro de seus lares, deixando com que seus filhos
possuam um espaço para si, onde possam construir seu self (eu) e se identificarem com seus
desejos, assim a autoestima e a segurança da criança será favorecida, ajudando no processo
social e nas atividades escolares. Bem como o acompanhamento psicológico nos espaços
clínicos e escolares é essencial para a criança e seu desenvolvimento enquanto ser atuante de
sua história.
Referências
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Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 14° edição. São Paulo: Saraiva, 2008.
CRESWELL, John W.. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 2. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2007. 126 p. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/696271/mod_resource/content/1/Creswell.pdf.
Acesso em: 15 abr. 2021.
COVID-19 na saúde mental e no comportamento das crianças. Resid Pediart. 2020;10
(3):1-5. DOI: 10.25060/residpediatr-2020.10n3-377.
MATA IRS, Dias LSC, Saldanha CT, Picanço MRA. Asimplicações da pandemia da
Covid-19 na saúde mental e no comportamento das crianças.
MONTESSORI, Maria. A criança. 3° edição.São Paulo: Círculo do Livro, 1988.
RABELLO, E.T. e PASSOS, J. S. Vygotsky e o desenvolvimento humano. Disponível em
<www.josesilveira.com>
VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente. 6. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1998.
WERNECK, Guilherme Loureiro e Carvalho, Marilia Sá. A pandemia de COVID-19 no
Brasil: crônica de uma crise sanitária anunciada. Cadernos de Saúde Pública [online]. v. 36,
n. 5 [Acessado 15 Maio 2022], e00068820. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/0102-311X00068820>. ISSN 1678-4464.
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WINNICOTT, D. W.Tudo começa em casa. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
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