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Desigualdades Socioespaciais nas Cidades Brasileiras

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1 
 
CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA 
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
 
 
CURSO: GEOGRAFIA DISCIPLINA: GEOGRAFIA URBANA DO BRASIL 
 
CONTEUDISTAS: MARCUS VINICIUS S. GOMES e MARCELO WERNER DA SILVA 
 
AULA 7 
DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS NAS CIDADES BRASILEIRAS 
 
 
META 
 
Nessa aula você poderá compreender as diferentes maneiras com a qual a 
desigualdade socioespacial se manifesta nas cidades. Isso significa dizer que a 
nossa tarefa também está em construir um olhar geográfico que permita 
identificar as formas espaciais resultantes das próprias desigualdades nas 
cidades brasileiras. A desigualdade se expressa em uma cidade repartida entre 
classes sociais, quadro que a geografia chama de segregação residencial, e que 
será analisado através do conceito de fragmentação do tecido sociopolítico-
espacial, caracterizando seus extremos, qual seja, os condomínios exclusivos e 
os aglomerados subnormais. 
 
OBJETIVOS 
 
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: 
 
1. Compreender as diferentes maneiras com as quais a desigualdade social se 
manifesta; 
2 
 
2. Construir um olhar geográfico sobre os fenômenos decorrentes das 
desigualdades socioespaciais nas cidades; 
3. Analisar a desigualdade socioespacial através do conceito de fragmentação 
do tecido sociopolítico-espacial; 
4. Caracterizar as alternativas residenciais das classes abastadas (Condomínios 
exclusivos) e das classes mais pobres (aglomerados subnormais). 
 
INTRODUÇÃO 
 
Nesta aula teremos contato com uma temática recorrente no imaginário social 
brasileiro: a questão da desigualdade social. Para fomentar o tema nem 
precisaríamos adentrar discussões acadêmicas da geografia, basta vivermos em 
cidades, vivermos no Brasil. 
 
A desigualdade é certamente um dos maiores problemas sociais identificados 
em qualquer momento de nossa história. Se nos reportarmos a um período 
bastante pretérito, veremos que a própria formação territorial brasileira foi 
marcada por desigualdades. Basta lembrar dos primórdios da desigual 
distribuição de terras no Brasil: o processo de doação de sesmarias durante o 
nosso período colonial, assunto desenvolvido na aula 2. Essas sesmarias, 
logicamente, já tinham donos: eram, em verdade, múltiplos territórios indígenas 
das mais de 180 tribos existentes no Brasil de então. 
 
Durante muitos séculos, sob as mais diversas justificativas, o próprio Estado 
(colonial, imperial e/ou republicano) foi o produtor e reprodutor das 
desigualdades, concedendo terras e poderes aos mesmos atores sociais 
influentes política e economicamente. 
 
Para entendermos a gravidade da situação, basta recordarmos que até hoje é 
possível notar que algumas das principais famílias latifundiárias brasileiras são 
as mesmas que receberam quantidades enormes de terras séculos atrás, tal 
3 
 
como nos lembra Raymundo Faoro em “Os donos do poder”, um clássico da 
história social brasileira. 
 
Lembrarmos dessa nossa histórica distribuição desigual de terras ajuda-nos a 
entender uma determinada faceta de nossa desigualdade: a concentração 
fundiária. Concentração que se expressa tanto no campo quanto nas cidades 
brasileiras. 
 
Ao partirmos de um ponto de vista crítico, perceberemos, que uma discussão 
sobre a questão da desigualdade social brasileira não pode ser levada de forma 
a entendermos como natural a injustiça social presente em nossas cidades. 
 
Como você já percebeu, a questão da desigualdade é também tratada nas 
demais áreas disciplinares. A sociologia, por exemplo, nos revela tantos outros 
caminhos importantes para que possamos desconstruir formas naturalizadas de 
se olhar a desigualdade em nossa sociedade. 
 
Uma importante direção apontada por este campo disciplinar está no 
entendimento que a desigualdade de bens entre os indivíduos não só diz respeito 
às posses materiais, mas também a tudo aquilo cujo acesso é mediado pela vida 
social e que podemos desejar ou, ao contrário, querer evitar. 
 
Prestígio, reconhecimento e autoestima são bens imateriais que possuem um 
valor social, por vezes, até maior que certos bens materiais. E foi, talvez, Pierre 
Bordieu, o mais importante sociólogo a desvendar tal faceta da desigualdade 
social. Para o autor, o que chamamos de capital pode ter naturezas diversas, 
não tão só afixadas a questão da renda. O acúmulo de capital social, simbólico 
e cultural conferem ao indivíduo chances privilegiadas de acesso a determinados 
recursos e bens. Quer dizer: o mesmo capital que permite ao sujeito se distanciar 
do que lhe é indesejável, é aquele que o aproxima de coisas desejáveis 
(BORDIEU, 1997, p.164). 
 
 
 
4 
 
Boxe de Explicação 
 
PIERRE BORDIEU: Foi um dos mais importantes sociólogos da segunda 
metade do século XX. Parte considerável da obra do autor francês se remetem 
ao processo de reprodução do capital de ordem simbólica, social e cultural, o 
que acabou por torná-lo em um importante referencial teórico para algumas 
áreas da sociologia, dentre as quais a Sociologia da Educação (um bom exemplo 
é o clássico “A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino”). 
 
Fim do boxe 
 
Tal maneira de se compreender a questão da desigualdade nos faz perceber 
que um desigual acúmulo de capitais de ordem simbólica, social e cultural pode 
variar em função das posições ocupadas pelos indivíduos nas sociedades. 
Assim, entender que o acesso diferenciado à educação e outros bens imateriais 
faz aumentar a própria reprodução da desigualdade social, é, certamente, uma 
das grandes contribuições da sociologia sobre a questão em tela. 
 
Pois bem, até aqui você pôde notar que a questão da desigualdade não só se 
traduz em diferentes dimensões, mas também recebe, há muito tempo, uma 
posição central nas preocupações das ciências humanas. Não tratamos até 
agora da maneira mais recorrente de se compreender a desigualdade, a desigual 
distribuição de renda e riquezas, ou seja: da desigualdade vista sob o ângulo das 
classes sociais. 
 
Boxe de Verbete 
 
CLASSES SOCIAIS: Um ponto em comum de diversas definições de classes 
sociais talvez possa ser simplificado da seguinte forma: classes sociais são 
grupos de indivíduos que não necessariamente moram próximos, tampouco se 
conhecem, mas que vivem sob condições econômicas similares e que, por isso 
mesmo, acabam tendo interesses e comportamentos parecidos. Pertencer a 
5 
 
determinadas classes sociais faz com que algumas pessoas sejam tratadas de 
forma diferente das demais. 
 
Fim do boxe 
 
Porém, se a questão da desigualdade social brasileira é tão cara a outras 
ciências humanas, qual seria uma relevante contribuição geográfica sobre o 
tema? Bem, um bom ponto de partida para se responder a tal pergunta se dá por 
meio de uma problematização sobre a pergunta, que deve ser feita. 
 
Vamos explicar melhor: toda e qualquer ciência se diferencia de outra pela 
abordagem que lhe é própria. Isso significa dizer que a pergunta que se faz ao 
fenômeno que define o percurso a se seguir, e não o fenômeno que tem de 
aprisionar o olhar que se quer ter. 
 
Assim, ainda que a questão da desigualdade social suscite amplos debates em 
outros campos disciplinares, uma pergunta geográfica sobre o tema teria de ser 
construída valendo-se de uma especial preocupação sobre a dimensão espacial 
deste fenômeno. 
 
Pois é apontando para este caminho que nessa aula faço um convite a você: 
vamos compreender a desigualdade na cidade sob um ponto de vista geográfico! 
 
1. A construção de um olhar geográfico sobre as desigualdades 
socioespaciais nas cidades brasileiras 
 
Como discutimos na introdução, são diversas as maneiras com a qual a 
desigualdade social se manifesta. Em nosso cotidiano urbano no Brasil, 
vivenciamos uma sociedade extremamente estratificada socialmente. Isso nos 
fica claro nosnossos interesses, comportamentos, tratamentos e até mesmo na 
forma como percebemos a cidade. 
 
6 
 
Nessa parte da aula um exercício reflexivo essencial se dá justamente na 
maneira como enxergamos a desigualdade. Não, não dizemos isso tão somente 
sob o ponto de vista do sujeito comum que todos nós somos, mas sim dos 
geógrafos que nos formaremos, e especialmente do olhar geográfico que 
durante a nossa vida iremos desenvolver. 
 
Boxe de Explicação 
 
OLHAR GEOGRÀFICO: Ao contrário das frequentes buscas da geografia por 
um objeto que lhe fosse próprio e identificador, o olhar geográfico talvez seja a 
marca distintiva fundamental dessa ciência. É esse olhar que nos ensina a 
observar, esse olhar que nos permite construir questões peculiares, é esse olhar 
que nos conforma e nos distingue (GOMES, 2012). 
 
Fim do boxe 
 
Dessa maneira, tem de ficar mais clara agora uma forma geográfica de se olhar 
a questão da desigualdade social: tal fenômeno se manifesta espacialmente, e 
se diferencia nas suas mais diversas escalas. 
 
Um bom primeiro exemplo escalar está em notarmos uma antiga maneira 
geográfica de tratarmos a desigualdade brasileira: as desigualdades regionais. 
 
Foram algumas as regionalizações criadas pelos mais diversos pesquisadores 
que revelavam tal faceta da desigualdade no Brasil. Quase todas tinham como 
denominador comum a ideia de que o eixo sul do país concentrava a maior parte 
da riqueza, enquanto a parte norte conotava uma histórica região de “perdas”. 
 
Mas e as desigualdades nas cidades? Por mais que viver em cidades brasileiras 
nos levem sempre a experiências diárias de desigualdades sociais, temos de ter 
em mente as duas diferentes abordagens geográficas para se entender as 
escalas do urbano. 
7 
 
 
A primeira diz respeito à escala da rede urbana. Cidades que compõe uma 
mesma rede distinguem-se não tão só quanto às suas diferentes funções ou 
mesmo tamanho populacional. Dentro de uma mesma rede urbana há reais 
diferenciações no que se refere à distribuição de riquezas, tornando maior ainda 
as disparidades entre cidades centrais e periféricas. 
 
Já a outra escala é aquela que devemos ter especial interesse nessa aula. 
Estamos falando da escala intra-urbana, a escala que, ao mesmo tempo, é 
passível de nos fazer compreender a organização interna das cidades, e que 
também se configura como a experiência espacial que nos é mais próxima, a 
nossa experiência espacial cotidiana. 
 
Nessa escala percebemos em nosso dia a dia os diversos traços da 
desigualdade social manifestada espacialmente. Andar pelas cidades brasileiras 
nos faz perceber como a desigualdade opera numa realidade capitalista. Em 
outras palavras, o que queremos dizer é que a organização espacial das cidades 
capitalistas, revelam justamente o cerne deste próprio sistema político-
econômico: uma estratificação social complexa, que se materializa na 
distribuição de populações em áreas da cidade de acordo com as suas 
respectivas classes sociais. 
 
Tudo isso nos remete à formação de uma cidade extremamente segregada 
espacialmente, uma cidade tipicamente capitalista, como bem ilustra a figura 
7.1, que revela, na própria paisagem urbana brasileira, a desigualdade social. 
8 
 
 
Figura 7.1 – São Paulo / SP. 
Fonte: https://www.flickr.com/photos/35213420@N05/4083392871 
 
Se até aqui tratamos da desigualdade somente utilizando a adjetivação “social”, 
por que devemos atrela-lo o sufixo “espacial”? 
 
Relembrando: para que analisemos a desigualdade social sob um ponto de vista 
geográfico, é necessário que lancemos um olhar para a sua dimensão espacial. 
Identificar as formas espaciais da desigualdade expressas nas paisagens 
urbanas torna-se, assim, um ótimo caminho para que melhor compreendamos 
tal fenômeno que é também geográfico. 
 
Aliás, desse mesmo jeito podemos a partir de agora compreender o porquê de 
falarmos de uma “desigualdade socioespacial”. Posto que o fenômeno da 
desigualdade social se manifesta espacialmente, é condicionado pelo espaço e 
produz formas espaciais e espacialidades próprias, tal fenômeno tem uma 
natureza notadamente geográfica, e explicitamente espacial. Logo, podemos 
assim dizer: socioespacial. 
9 
 
 
 
Figura 7.2 – Favela Vila Edite – Brooklin Sul. São Paulo/SP. 
Fonte: https://www.flickr.com/photos/artetude/3077658194/in/photostream/ 
 
Como já tanto discutimos até aqui, há inúmeras maneiras de se abordar e 
mesmo de se enxergar a desigualdade socioespacial no Brasil. Por exemplo, 
verificar tal fenômeno a partir das mais diferentes formas espaciais presentes 
nas paisagens urbanas brasileiras (como a favela ou os condomínios exclusivos) 
nos leva a um ponto fundamental. Isto é: para que entendamos a desigualdade 
sob um ponto de vista geográfico, é essencial nos atermos à questão da 
habitação. 
 
Você deve recordar que já discutido, em aulas passadas, o processo de 
urbanização no Brasil durante o século XX. A velocidade com a qual muitas 
cidades se formaram e cresceram resultou em metrópoles extremamente 
inchadas, e numa urbanização macrocéfala, ou seja, concentrada 
espacialmente. 
 
10 
 
É interessante notar que se a explosão das populações residentes nas favelas 
brasileiras cresceu vertiginosamente na segunda metade do século XX, foi nas 
últimas décadas do mesmo século que se revelou um novo fenômeno urbano no 
Brasil: o surgimento dos enclaves fortificados nas médias e grandes cidades. 
 
Boxe de Explicação 
 
ENCLAVES FORTIFICADOS: Termo cunhado pela socióloga Teresa do Pires 
Rio Caldeira (2000) para designar as formas espaciais resultantes de um cada 
crescente processo de formação de espaços auto segregados. Em outras 
palavras, a autora em seus estudos analisa como o surgimento de shopping 
centers e condomínios exclusivos expressa, ao mesmo tempo, o medo cada vez 
maior da violência urbana, e as estratégias que as classes médias e altas 
estabelecem para se afastar dos indesejáveis da cidade, isolando-se junto aos 
seus “semelhantes”. 
 
Fim do boxe 
 
O que queremos dizer é que o surgimento de condomínios exclusivos (ou 
enclaves fortificados, como vimos) nas cidades brasileiras segue a mesma lógica 
comum às classes sociais mais abastadas: a aproximação do que é lhes é 
desejável e o distanciamento do que lhes é absolutamente indesejável. 
 
Há de se considerar que, no presente, existem muitos simbolismos em torno da 
palavra “condomínio”. Além de identificar uma determinada forma de 
propriedade e uma maneira de morar, o termo “condomínio” conota também 
certo estilo de vida que se impõe pelo exclusivismo e segregação do resto da 
cidade. O próprio nome “condomínio exclusivo” é um bom exemplo disso. Ele 
foi cunhado nos anos 1970 por empresas imobiliárias que visavam, sobretudo, 
afastar certos estigmas que as chamadas habitações coletivas historicamente 
carregavam (PECHMAN, 2014, p.264). 
 
11 
 
 
Figura 7.3 – Grades de um condomínio exclusivo no Rio de Janeiro/RJ. 
Fonte: https://www.flickr.com/photos/reverendo/5726147113 
 
Vamos tentar entender melhor isso. Num país como o Brasil onde as formas de 
habitação coletiva (cortiços, casas de cômodo etc) foram sempre desprezadas e 
estigmatizadas, classificar as novas modalidades de moradia (coletiva) de 
condomínio foi, sem a menor sombra de dúvida, um ato para lá de simbólico. 
 
A questão é que o próprio nome “condomínio fechado”, quando criado, afastava 
quaisquer identificações com as antigas formas de habitações coletivas, além de 
acrescentar a ideia de exclusivismo em contraposição à cooperação; de 
individualismo em oposição à solidariedade. Os condomínios fechados que 
surgem crescentemente nos últimos trinta anos promoveram o aparecimento de 
uma nova urbanidade, ao propor a criação de cidadelas isoladas, ainda que 
dentro da própria cidade (PECHMAN, 2014, p. 264). 
 
Como você pode notar, obviamenteos fenômenos dos condomínios fechados 
se revelam como importantíssimas marcas da desigualdade socioespacial na 
nossa paisagem urbana. Mas ao mesmo tempo é importante que nos atentemos 
12 
 
para algo a partir de agora: o surgimento dos mesmos condomínios significa a 
reprodução de determinado padrão de desigualdade das classes mais 
abastadas em contraposição às classes mais baixas. Quer dizer: o afastamento 
do indesejável, é também o afastamento dos grupos indesejados residentes nos 
espaços estigmatizados da cidade. E os cortiços e as favelas se constituem 
perfeitamente em dois estigmas históricos de nossas cidades. 
 
Vejamos o exemplo dos cortiços. Quase sempre evocados quando nos referimos 
a um tempo mais pretérito; ou às cidades de um Brasil do final do século XIX e 
início do século XX, esse tipo de habitação coletiva fora historicamente 
estigmatizada pelas suas condições insalubres (estigma que justificou todo um 
processo de erradicação segundo as diretrizes do higienismo do século XIX), e 
também por sua população residente, geralmente concebidas pela alcunha de 
“classes perigosas”. 
 
 
Figura 7.4 – Habitação coletiva sob a forma de um cortiço contemporâneo. 
Original em: https://www.flickr.com/photos/rmiya/4380495138 
 
 
13 
 
Boxe de Explicação 
 
HIGIENISMO: Com origens ainda na antiguidade e sistematizado no século XVII, 
o pensamento higienista foi amplamente reforçado na Inglaterra durante a 
Revolução Industrial. O início do processo de urbanização e a consequente 
deterioração da qualidade de vida, traduzida nas intensas epidemias que 
assolavam as grandes cidades, foram elementos centrais nas quais os médicos 
se balizaram para associar os diversos elementos do quadro circundante como 
sendo as principais razões para tais mazelas. Os “vilões” detectados pelo saber 
médico iam desde os “ameaçadores” miasmas (vapores oriundos de áreas onde 
se encontra grande volume de matéria orgânica em decomposição, tais como 
pântanos e mangues), até as “causas sociais” da insalubridade, evidenciadas 
por meio da superlotação e dos aspectos insalubres das habitações. E é em 
nome do médico que as cidades não só passam a serem vistas como 
privilegiados objetos de análise e reflexão, mas se tornam, também, palco onde 
se realizariam inúmeras intervenções nos mais diversos contextos urbanos 
(ABREU, 1996). 
 
Fim do boxe 
 
Perceberam como os dois principais aspectos que constroem os estigmas do 
cortiço (insalubridade e classes perigosas residentes) de uma maneira ou de 
outra ainda povoam o imaginário urbano no Brasil? Se falarmos da outra forma 
urbana historicamente estigmatizada, a favela, perceberíamos as mesmas 
permanências de representações negativas. 
 
A favela recebeu diferentes conotações desde o seu surgimento, lá mesmo na 
última década do século XIX. Quase todas as representações sobre a favela se 
constroem num processo intensamente contraditório, que de um lado, revela a 
repulsa de quem quer a sua erradicação, e, de outro, a sua legitimação pelo 
poder público. 
 
14 
 
Dizendo com outras palavras: as mais diferentes campanhas que preconizavam 
as remoções das favelas cariocas durante o século XX povoaram o imaginário 
político da mesma forma que decretos, códigos de obras e até mesmo a 
Constituição de 1988 oficializavam a sua permanência enquanto forma de 
habitação popular legítima. Vide o exemplo daquela que provavelmente foi a 
primeira favela brasileira: o Morro da Providência (figura 7.5). 
 
O grande problema, entretanto, reside em naturalizarmos determinados 
estigmas. É provável que tal processo de tornar natural discursos que 
reproduzem os estigmas sociais sobre favelas e cortiços, por exemplo, sejam a 
pior faceta da desigualdade, pois serve, acima de tudo, como mecanismo de 
reforço da própria desigualdade. 
 
 
Figura 7.5 – Morro da Providência, Rio de Janeiro/RJ. 
Fonte: 
https://www.flickr.com/photos/quasebart/1471046725/in/photolist-3eZuWz-4vvYVJ-
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15 
 
Portanto, conforme vimos até agora, esses estigmas criados historicamente 
pelas parcelas dominantes da sociedade brasileira, fazem com que os próprios 
habitantes dessas áreas se sintam diminuídos em sua cidadania. 
 
Vimos que o olhar geográfico pode então destacar a questão espacial, 
enfatizando esse ponto. Isso é particularmente importante quando, ao 
trabalharmos no ensino, temos que abordar essas disparidades no interior das 
cidades. Há que ter bastante cuidado para não ver a favelização como um 
“problema”, que a simples imposição de “planejamento” fará com que se resolva. 
Se vc observar com atenção esse é o discurso utilizado para a remoção das 
favelas do espaço urbano e um disseminador do estigma dessas áreas. 
 
Na sequência veremos, com maior detalhe, como se constroem esses dois polos 
da habitação das cidades brasileiras: os condomínios exclusivos (auto 
segregação) e as favelas e outros espaços segregados (aglomerados 
subnormais, segundo o IBGE). 
 
E o faremos lançando mão de um conceito desenvolvido pela geografia, por um 
professor que trabalha na cidade do Rio de Janeiro (Marcelo Lopes de Souza) e 
que procura explicar essa divisão social que marcou a realidade das metrópoles 
brasileiras, mas que já começa a ser observado em cidades menores. Trata-se 
do conceito de fragmentação do tecido sociopolítico espacial. 
 
ATIVIDADE 1 (atende aos objetivos 1 e 2) 
 
Tal como já dito, a construção de um olhar geográfico sobre as desigualdades 
socioespaciais nas cidades pressupõe, primeiramente, identificar as suas 
manifestações nas nossas próprias paisagens urbanas cotidianas. Mas não são 
só as “imagens” as reveladoras das desigualdades. 
Caminhando neste sentido, pedimos para que você selecione ao menos duas 
músicas que tratem da questão da desigualdade socioespacial no Brasil em duas 
diferentes escalas geográficas. Realize, em seguida, o esforço de análise que 
apreenda a maneira como tais desigualdades se expressam nas composições 
16 
 
musicais, discorrendo sobre a própria perspectiva de desigualdade que o artista 
imprime. Faça isso em, no máximo, 20 linhas. 
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Resposta comentada: 
Imagens nos aparecem como meios essenciais para analisarmos paisagens 
carregadas de símbolos e marcas que expressam as desigualdades nas cidades 
brasileiras. Entretanto, entendemos que atualmente tão importante quanto as 
supracitadas construções imagéticas, a música se constitui como o mais 
importante tipo de narrativa que habita o imaginário social de todos aqueles que 
vivem nas cidades. 
Identificar nas composições musicais representações e leituras sobre diversas 
questões sociais, conferem a esse tipo de expressão artística notável relevância 
em muitos estudos geográficos, historiográficos, sociológicos e 
antropológicos. Mas do ponto de vista geográfico, observamos como as 
representações das desigualdades e os seus lugares, tem se tornado temática 
privilegiada nasculturas urbanas contemporâneas, o que inclui o hip hop e o 
funk. 
O caminho proposto pela atividade consistiu, simultaneamente: 
- Identificar a maneira como a desigualdade é representa; 
- Verificar a desigualdade como fenômeno diverso, passível de se observar de 
maneiras distintas em diferentes escalas geográficas. 
 
Fim da resposta comentada 
 
17 
 
 
2 - Fragmentação do tecido sociopolítico espacial 
 
Marcelo Lopes de Souza, ao contrário de outros autores que também 
descreveram uma cidade fragmentada ou dividida, coloca em primeiro plano a 
dimensão política existente no espaço. Como o que se gera é uma fragmentação 
territorial, vê-se o território como um “espaço definido e delimitado por e a partir 
de relações de poder” (SOUZA, 1995, p.78, grifo do autor) 
 
A dimensão política do espaço está sempre presente em qualquer situação 
social. Porém, como acontece como frequência em favelas brasileiras, há um 
domínio por certas organizações ligadas ao tráfico de drogas, gerando a 
formação de poderes paralelos ao Estado, que desta forma “territorializam”, sob 
o seu domínio, estas áreas. Formam-se então, enclaves controlados por essas 
facções criminosas que atuam no varejo do tráfico de drogas, geralmente em 
espaços residenciais já segregados socialmente, como são as favelas 
brasileiras, que passam a representar os nós da rede do tráfego de varejo de 
drogas ilícitas. 
 
Mais que um padrão complexo de segregação isso gera uma espacialidade 
marcada por conflitos e tensões graves. Pelo lado dos criminosos, o desafio ao 
controle territorial estatal e pelo lado das classes favorecidas estratégias 
espaciais defensivas: 
 
A cidade que daí emerge é, ao mesmo tempo, uma unidade espacial 
interna e externamente integrada sob o ângulo econômico - inclusive 
no que tange às atividades ilegais, viabilizadas mediante a 
constituição, o adensamento e a expansão de redes ilícitas articulando 
numerosos pontos - e um espaço local cada vez mais fraturado 
sociopoliticamente e menos vivenciado como um ambiente comum de 
socialização (SOUZA, 2005, p. 217). 
 
Tal estado de coisas colocaria em risco a própria noção de cidade, "como uma 
unidade na diversidade, em que as contradições de classe, as tensões de fundo 
étnico e a segregação residencial daí decorrente não eliminam a percepção da 
cidade como uma entidade geográfica coerente" (SOUZA, 2005, p. 217). 
18 
 
 
Ocorre então o processo de "fechamento" das favelas e outros espaços 
segregados (como loteamentos clandestinos). Já o restante da cidade "cidade 
legal", funcionariam como espaços neutros. O referido autor constatou, através 
de pesquisas, esse fenômeno nas metrópoles do Rio de Janeiro e São Paulo, 
mas o mesmo ocorre, em menor escala, também em cidades menores. 
 
Esse cenário nem sempre foi assim. No final dos anos 1970, o impacto do tráfico 
de drogas ainda era pequeno, com favelas e comunidades funcionando como 
subsistemas abertos (faziam parte da cidade), não ocorrendo a territorialização 
do tráfico de drogas. Já a partir do final dos anos 1990 temos uma realidade 
diferente, com o tráfico de drogas passando a ter uma atuação muito importante 
nas favelas brasileiras (e no caso da cidade de São Paulo também nos 
loteamentos irregulares). Com a territorialização destas áreas pelo tráfico de 
drogas, que passam a funcionar como subsistemas fechados, ilustrando a 
fragmentação de que falamos. De um contexto em que a cidade era una (final 
dos anos 1970) passa-se para a uma cidade fragmentada, em meio a grandes 
áreas neutras (a cidade territorializada pelo poder público) (SOUZA, 2005, p. 
198). 
 
A consequência espacial é que no primeiro momento predominavam as favelas 
e espaços segregados como subsistemas abertos. Já no segundo, com a 
territorialização imposta pelo tráfico, passaram a predominar os subsistemas 
fechados. 
 
Por outro lado, como já apontamos, o mesmo acontece com as classes mais 
favorecidas, que reforçam a tendência de morar em condomínios exclusivos, que 
até os anos 1970 ainda era embrionária. Já no final dos anos 1990, há um 
aumento na importância dessa forma de moradia, que se articula ao consumo, 
que passa a ser realizado em shopping centers, espaços também segregados. 
No caso do Rio de janeiro, o fenômeno é percebido sobretudo na Barra da Tijuca, 
bairro projetado para servir de moradia para as classes privilegiadas, que não 
queriam mais conviver com os diversos problemas de violência da metrópole 
(SOUZA, 2005, p. 210-211). 
19 
 
 
Apesar das diferenças entre as duas metrópoles não serem tão significativas, o 
fenômeno do “fechamento” das favelas por facções criminosas é mais acentuado 
no Rio de Janeiro. Por outro lado, o fenômeno da auto-segregação é mais 
intenso na capital paulista (SOUZA, 2005, p. 209). 
 
Essa segregação dos espaços da cidade tem ocorrido inclusive em espaços 
públicos, como as praias da zona sul do Rio de Janeiro. Para os frequentadores 
das classes privilegiadas e inclusive a cobertura realizada pela mídia, qualquer 
ocorrência de furto nas praias é vista como um “arrastão”. Vozes então se 
levantam defendendo que as linhas de ônibus que ligam a zona norte à zona sul 
sejam eliminadas (principalmente nos finais de semana) e agora uma política 
estatal de segurança de prender preventivamente jovens pobres e negros e a 
ocorrência de grupos de justiceiros (brancos). Poderíamos chamar isso de crise 
civilizatória e um bom exemplo da fragmentação da cidade e da segregação 
(física) que se pretende. 
 
Boxe multimídia 
 
Os “arrastões” nas praias da zona sul carioca obtiveram grande repercussão 
midiática e propostas de mais fechamento aconteceram, conforme pode-se ver 
nos link abaixo, que demonstram o tom do debate gerado em ocasião de 
detenções, em 2015, de jovens pobres que iam para a praia. 
 
http://extra.globo.com/noticias/rio/pm-aborda-onibus-recolhe-adolescentes-
caminho-das-praias-da-zona-sul-do-rio-17279753.html 
 
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/na-praia-rio-se-confronta-com-velhas-
divisoes-9924.html 
 
Fim do boxe 
 
 
 
20 
 
Atividade 2 (Atende ao objetivo 3) 
 
Ao estudar o conceito de fragmentação do tecido sociopolítico-espacial, vemos 
que não há mais uma unidade nessa cidade, de que não existe mais uma lei 
única a permear todos os espaços urbanos. É como se a cidade tivesse espaços 
autônomos, com leis próprias. Dê alguns exemplos da ocorrência desse 
fenômeno, tanto do lado das favelas, quanto dos condomínios exclusivos. Os 
exemplos podem ser de sua experiência pessoal, ou da leitura de livros, jornais 
ou revistas. 
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Resposta comentada 
 
Aos moradores em centros urbanos não faltam exemplos do estigma com que 
são tratadas as classes menos favorecidas. Desde ter que deixar um endereço 
diferente do que o da favela, para conseguir um emprego, a “proibição” informal 
da circulação de pobres nos shopping centers e a associação (que vemos 
inclusive na mídia) entre moradores de favelas e criminalidade. Por outro lado 
essa visão leva a que as classes ricas criem espaços exclusivos para morar 
(condomínios exclusivos), para consumir (shoppings centers e lojas, em que a 
garantia de exclusividade é dada pelo preço). 
 
Fim da resposta comentada 
 
 
 
 
 
21 
 
3 - A auto-segregação dos condomínios exclusivos 
 
Para ilustrar a auto-segregação das classes ricas em condomínios fechados, 
vamos utilizar como exemplo o Complexo de Alphaville, o principalcondomínio 
exclusivo do país, tanto por ser o primeiro, como por ser o maior até hoje 
construído no país e que se tornou um modelo replicado em outras cidades 
brasileiras. 
 
Surgiu em 1973, pela necessidade de fornecer residências a executivos do 
Alphaville Centro Industrial, grande loteamento em Barueri/SP para indústrias 
não poluentes que procuravam espaço nas cercanias de São Paulo. Esses 
primeiros empreendimentos foram de responsabilidade da Construtora 
Albuquerque &Takaoka (GUERRA, 2013). 
 
Com grandes quantidades de terras compradas a baixo preço a construtora foi 
construindo diversos condomínios residenciais na grande área disponível na 
região. Na figura 7.6 vemos a proporção da área do Alphaville em relação aos 
municípios de Santana de Parnaíba, Barueri e Osasco, pertencentes à Região 
Metropolitana de São Paulo. Também se observa a renda por domicílio. É 
bastante perceptível a concentração de renda na área do Alphaville em 
comparação com o entorno. 
 
22 
 
 
Figura 7.6 – Complexo de Alphaville e a renda por domicílio dos municípios 
de Santana de Parnaíba, Barueri e Osasco 
Fonte: GUERRA, 2013, p. 76. 
 
O Complexo Alphaville e Tamboré (outra área em que também foram construídos 
condomínios residenciais de alto luxo) é imenso, compreendendo 25 
residenciais: 
 
Todos são cercados por muros de 3,5 m de altura, 
montados com painéis pré–moldados de concreto. O 
acesso é feito pela portaria, onde é controlado. Os 
residenciais são independentes uns dos outros, com 
portaria, administração e serviços de segurança próprios. 
As associações de moradores contratam e controlam os 
serviços terceirizados de segurança, manutenção de vias 
e equipamentos públicos, paisagismo, coleta de lixo etc. 
Dentro deles não é permitida a instalação de nenhum tipo 
de abastecimento comercial ou prestador de serviços 
(GUERRA, 2013, p. 129). 
 
Esse detalhamento mostra realmente uma “cidade dentro da cidade”, isolada por 
altos muros da pobreza do entorno. Os setores empresarial e industrial 
desenvolveram-se de forma expressiva, não só pela população de alta renda 
que foi aí morar, mas também por incentivos fiscais para a atração de escritórios 
23 
 
e empresas que aí instalam suas sedes administrativas. Para efeito comparativo 
o Imposto sobre Serviços (ISS) que em São Paulo é de 5%, foi reduzido para 
0,5% em Barueri, no que foi acompanhado por Santana de Parnaíba (GUERRA, 
2013, p. 117). Essa expressiva concentração de escritórios pode ser vista na 
figura 7.7, que mostra o Centro Comercial de Alphaville. 
 
 
Figura 7.7 – Centro Comercial de Alphaville 
Fonte: Foto de Fernando Stankuns. 
Original em: https://www.flickr.com/photos/stankuns/albums/72157647529345770 
(https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.0/) 
 
Na figura 7.8 podemos visualizar as diferentes áreas de Alphaville/Tamboré: os 
diversos loteamentos e condomínios murados, as áreas de comércio e serviços, 
as áreas industriais e o canal de ligação com a metrópole paulistana, a Rodovia 
Presidente Castello Branco. 
 
24 
 
 
Figura 7.8 - Planta de Alphaville/Tamboré com a distribuição de seus 
diversos setores 
Fonte: GUERRA, 2013, p. 126 
 
Em 1995 a construtora que iniciou o empreendimento é transformada em 
Alphaville Urbanismo S/A, com a missão de expandir o modelo para todo o país. 
Em 1997 é implantado um conjunto em Campinas e hoje a empresa possui 64 
condomínios já implantados, 41 em implantação e 93 em projeto em 21 estados 
e no distrito federal (ALPHAVILLE URBANISMO, 2015). 
 
O modelo de condomínios fechados tem se expandido para todo o país. A 
empresa Alphaville Urbanismo, criadora do Complexo Alphaville da cidade de 
Barueri/SP, transformou a marca “Alphaville” em um conceito de habitação 
exclusiva, vendido em todo o Brasil. 
 
 
 
25 
 
Boxe multimídia 
 
Para saber mais sobre esse modelo de condomínio exclusivo que tem se 
espalhado por todo o país, consulte um canal da construtora Alphaville 
Urbanismo no youtube, com filmes publicitários que mostram os apelos de venda 
e ilustram uma realidade que a maioria da população brasileira desconhece ou 
conhece apenas os muros ou como empregado: 
 
CANAL DA CONSTRUTORA NO YOUTUBE: 
https://www.youtube.com/channel/UCS0hkUe3WJfky5eDElzjvnA 
 
Alphaville Linha do Tempo conta a história da construtora 
https://www.youtube.com/watch?v=JhKJ7Uj7Cyc 
 
Fim do boxe 
 
Atividade 3 (Atende ao objetivo 4) 
 
Leia a crônica abaixo e a partir dela faça uma reflexão sobre a tendência de 
construção de condomínios exclusivos, qual seu significado para a vida social. 
Tente pensar em aspectos como: 
 
1) Esses condomínios são uma solução para o problema da violência nas 
cidades? 
2) Quais as implicações com relação às liberdades dos cidadãos que esses 
condomínios trazem. 
3) Como esses condomínios influenciam na segregação espacial? 
 
Segurança 
 
Luís Fernando Veríssimo 
 
O ponto de venda mais forte do condomínio era a sua 
segurança. 
Havia as belas casas, os jardins, os playgrounds, as 
piscinas, mas havia, acima de tudo, segurança. 
26 
 
Toda a área era cercada por um muro alto. Havia um portão 
principal com muitos guardas que controlavam tudo por um 
circuito fechado de TV. Só entravam no condomínio os 
proprietários e visitantes devidamente identificados e 
crachados. 
Mas os assaltos começaram assim mesmo. Ladrões 
pulavam os muros e assaltavam as casas. 
Os condôminos decidiram colocar torres com guardas ao 
longo do muro alto. 
Nos quatro lados. As inspeções tornaram-se mais 
rigorosas no portão de entrada. 
Agora não só os visitantes eram obrigados a usar crachá. 
Os proprietários e seus familiares também. Não passava 
ninguém pelo portão sem se identificar para a guarda. Nem 
as babás. Nem os bebês. 
Mas os assaltos continuaram. 
Decidiram eletrificar os muros. 
Houve protestos, mas no fim todos concordaram. O mais 
importante era a segurança. 
Quem tocasse no fio de alta tensão em cima do muro 
morreria eletrocutado. Se não morresse, atrairia para o 
local um batalhão de guardas com ordens de atirar para 
matar. 
Mas os assaltos continuaram. 
Grades nas janelas de todas as casas. Era o jeito. Mesmo 
se os ladrões ultrapassassem os altos muros, e o fio de alta 
tensão, e as patrulhas, e os cachorros, e a segunda cerca, 
de arame farpado, erguida dentro do perímetro, não 
conseguiriam entrar nas casas. 
Todas as janelas foram engradadas. 
Mas os assaltos continuaram. 
Foi feito um apelo para que as pessoas saíssem de casa o 
mínimo possível. 
Dois assaltantes tinham entrado no condomínio no banco 
de trás do carro de um proprietário, com um revólver 
apontado para a sua nuca. Assaltaram a casa, depois 
saíram no carro roubado, com crachás roubados. Além do 
controle das entradas, passou a ser feito um rigoroso 
controle das saídas. 
Para sair, só com um exame demorado do crachá e com 
autorização expressa da guarda, que não queria conversa 
nem aceitava suborno. 
Mas os assaltos continuaram. 
Foi reforçada a guarda. Construíram uma terceira cerca. As 
famílias de mais posses, com mais coisas para serem 
roubadas, mudaram-se para uma chamada área de 
segurança máxima. E foi tomada uma medida extrema. 
Ninguém pode entrar no condomínio. Ninguém. Visitas, só 
num local predeterminado pela guarda, sob sua severa 
vigilância e por curtos períodos. 
27 
 
E ninguém pode sair. 
Agora, a segurança é completa. 
Não tem havido mais assaltos. 
Ninguém precisa temer pelo seu patrimônio. Os ladrões 
que passam pela calçada só conseguem espiar através do 
grande portão de ferro e talvez avistar um ou outro 
condômino agarrado às grades da sua casa, olhando 
melancolicamente para a rua. 
Mas surgiu outro problema. 
As tentativas de fuga. E há motins constantes de 
condôminos que tentam de qualquer maneira atingir a 
liberdade. 
A guarda tem sido obrigada a agir com energia (GUERRA, 
2013). 
 
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Resposta comentada 
 
A crônica mostra que a busca pela proteção que geram os condomínios 
fechados, na verdade potencializa o medo e a sensação de insegurança que foi 
o fator motivador para morar nesse tipo de habitação. Que a aparente proteção 
vai transformando o buscado paraíso em uma prisão. Portanto não pode ser uma 
solução para a violência urbana, reforçando o que se pretende evitar. As 
implicações quanto à cidadania são graves, pois os condomínios passam a ser 
prisioneiros em seus condomínios e os demais cidadãos não podem adentrar a 
esse espaço, que deixa de fazer parte da cidade. Portanto visto tudo isso são 
um dos grandes fatores da fragmentação do tecido sociopolítico-espacial. 
 
Fim da resposta comentada 
 
28 
 
 
4 - Caracterização dos aglomerados subnormais pelo IBGE 
 
Mas como são as moradias da população mais pobre do país? Apesar de 
facilmente identificáveis na paisagem urbana, devemos nos guiar por uma 
definição formal. Como aglomerados subnormais o IBGE engloba “áreas 
conhecidas ao longo do País por diversos nomes, como: favela, comunidade, 
grotão, vila, mocambo, entre outros”. Para o IBGE o aglomerado subnormal: 
 
É um conjunto constituído de, no mínimo, 51 unidades habitacionais 
(barracos, casas etc.) carentes, em sua maioria frase de serviços 
públicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, 
terreno de propriedade alheia (pública ou particular) e estando 
dispostas, em geral, de forma desordenada e densa. A identificação 
dos aglomerados subnormais deve ser feita com base nos seguintes 
critérios: 
a) Ocupação ilegal da terra, ou seja, construção em terrenos de 
propriedade alheia (pública ou particular) no momento atual ou em 
período recente (obtenção do título de propriedade do terreno há 10 
anos ou menos); e 
b) Possuírem pelo menos uma das seguintes características: 
• urbanização fora dos padrões vigentes - refletido por vias de 
circulação estreitas e de alinhamento irregular, lotes de tamanhos e 
formas desiguais e construções não regularizadas por órgãos 
públicos; ou 
• precariedade de serviços públicos essenciais. 
Os aglomerados subnormais podem se enquadrar, observados os 
critérios de padrões de urbanização e/ou de precariedade de serviços 
públicos essenciais, nas seguintes categorias: invasão, loteamento 
irregular ou clandestino, e áreas invadidas e loteamentos irregulares e 
clandestinos regularizados em período recente (IBGE, 2011, p. 19). 
 
Essa classificação é utilizada pelo IBGE desde o Censo de 1991. Levou em 
consideração o Levantamento de Informações Territoriais (LIT), que coletou 
informações sobre os aglomerados subnormais identificados no País. Foram 
consideradas informações sobre as características e localização do sítio urbano, 
quanto à topografia e se estavam localizados em locais inadequados, como a 
localização em margem de córregos, rios ou lagos/lagoas, se estavam sobre rios, 
córregos, lagos ou mar (palafitas); praia/dunas; manguezal e unidades de 
conservação. Também a localização em aterros sanitários, lixões e outras áreas 
contaminadas e em faixa de domínio de rodovias, ferrovias, gasodutos, 
29 
 
oleodutos e de linhas de transmissão de alta tensão. Em relação à aclividade foi 
se estão em encosta; colina suave ou terreno plano (IBGE, 2013). 
 
Também foram considerados padrões urbanísticos, o grau de regularidade do 
arruamento e dos lotes. Também classificaram-se as vias internas e externas de 
circulação e que tipos de veículos aí trafegam. Também foi mensurada a 
possibilidade de identificação de face da quadra e se existe a padronização 
necessária para a inclusão de endereço no Cadastro Nacional de Endereços 
para Fins Estatísticos (CNEFE). 
 
Boxe Explicativo 
 
“O Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos – CNEFE apresenta 
uma lista com 78.056.411 endereços urbanos e rurais, distribuídos pelos 316 
574 setores censitários, classificados por tipo: unidades residenciais, unidades 
de ensino, unidades de saúde e outros. A listagem contém, apenas, os 
endereços com identificação do nome do logradouro, número, complemento e 
coordenadas nos setores rurais, sem mencionar informação econômica ou social 
correspondente àquele endereço” (IBGE, 2015). 
 
Fim do Boxe Explicativo 
 
Por último o Levantamento de Informações Territoriais sobre os aglomerados 
subnormais considerou a densidade de ocupação dos aglomerados, 
mensurando a verticalização da área, ou seja, a quantidade de pavimentos e o 
espaçamento entre as construções (IBGE, 2013). 
 
O levantamento particularizado de dados para os aglomerados subnormais leva 
a um maior conhecimento dessas áreas, sabidamente instaladas em áreas com 
carências de infraestrutura as mais diversas, contribuindo para a implementação 
de políticas públicas específicas para essas áreas. 
 
Na tabela 7.1 vemos a população dos aglomerados subnormais brasileiros. 
Como podemos ver na tabela, 6% da população brasileira vivia em aglomerados 
30 
 
subnormais em 2010, distribuídos em 3.224529 domicílios particulares (5,6% do 
país). 
 
 
Tabela 7.1 - Número de aglomerados subnormais, de municípios com 
aglomerados subnormais e de domicílios particulares ocupados em 
aglomerados subnormais e população residente em domicílios particulares 
ocupados em aglomerados subnormais, segundo as Unidades da 
Federação - 2010 
Fonte: IBGE, 2011, IBGE, Censo Demográfico 2010. 
 
A concentração maior de domicílios era na região Sudeste, com 49,8% do total, 
com destaque para o Estado de São Paulo, com 23,2% e o Estado do Rio de 
Janeiro, com 19,1%. Das demais regiões o Nordeste tinha 28,7% do total, o 
Norte (14,4%), o Sul com 5,3% e o Centro-Oeste com apenas 1,8% dos 
domicílios subnormais (IBGE, 2011). 
 
31 
 
Vemos então um aparente paradoxo da maior parte dos domicílios subnormais 
se concentrarem na parte mais rica do território nacional. Tendo em vista essa 
concentração nas metrópoles, vale verificar a distribuição nas metrópoles e em 
suas regiões metropolitanas. Na figura 7.9 vemos a distribuição da população 
em aglomerados subnormais segundo as principais regiões metropolitanas. 
Nesse gráfico vemos que não só a população absoluta é grande, assim como a 
relativa. Se no Brasil como um todo, 6% da população vivem de aglomerados 
subnormais, nas regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro temos 
18,9% e 14,9% da população, respectivamente. Essa proporção vai caindo nas 
demais regiões metropolitanas até chegar a valores baixos na Região 
Metropolitana de Porto Alegre (2,1% da população) e Curitiba (1,6% da 
população). 
 
 
Figura 7.9 – Total da população em aglomerados subnormais e proporção em 
relação a população total, segundo as Regiões Metropolitanas – 2010 
Fonte: IBGE, 2013, IBGE, Censo Demográfico 2010. 
 
32 
 
Ou seja, é um fenômeno que afeta, de maneira mais efetiva, as grandes 
metrópoles de São Paulo e do Rio de Janeiro. Na figura 7.10 vemos a 
distribuição espacial dos aglomerados subnormais na Região Metropolitana do 
Rio de Janeiro em 2010. Nela podemos perceber a grande concentração 
existente na Baixada Fluminense, particularmente nos municípios de Duque de 
Caxias, SãoJoão de Meriti e Belford Roxo. Também outros municípios contam 
com grande concentração, como Niteroi, Paracambi, Seropédica e Itaguaí. 
No Município do Rio de Janeiro, 
 
...as ocupações mais antigas situavam-se na área central, nos bairros 
da grande Tijuca e na porção sul da cidade, onde o metro quadrado é 
mais valorizado e onde se concentram asmaiores ofertas de trabalho 
e emprego. Com efeito, grande parte dos aglomerados subnormais 
identificados nestas áreas era de pequeno porte, com exceções para a 
Rocinha, o Vidigal, o Borel e o conjunto de aglomerados contíguos 
localizados entre os bairros do Catumbi e Estácio que são aglomerados 
subnormais de grande porte (IBGE, 2013). 
 
 
Figura 7.10 – Aglomerados subnormais na Região Metropolitana do Rio de 
Janeiro 
Fonte: IBGE, 2013, IBGE, Censo Demográfico 2010. 
 
33 
 
Na figura 7.11 vemos uma imagem dos aglomerados subnormais da Rocinha 
(mais acima na imagem) e do Vidigal, aglomerados de grande porte e com 
grande impacto nas áreas nobres dos bairros de São Conrado, Leblon e Gávea. 
 
 
 
Figura 7.11 – Imagem aérea dos aglomerados subnormais de grande porte da 
Rocinha e Vidigal, Rio de Janeiro/RJ. 
Fonte: IBGE, 2013. 
 
Como vimos, na cidade de São Paulo temos bairros nobres e a periferia mais 
separados, com a exceção da grande favela de Paraisópolis localizada em área 
nobre do bairro de Morumbi. Esse fato diminui a ocorrência da territorialização 
pelo tráfico de drogas das favelas centrais, pois estas se localizam nas extensas 
periferias da cidade. 
 
Já no caso da cidade do Rio de Janeiro, não se vê o padrão clássico de 
segregação, a partir do modelo de centro-periferia. Vemos a existência, 
sobretudo nos bairros da zona sul carioca, de aglomerados subnormais, muito 
próximos de áreas elitizadas. Claro que também vemos a existência de muitos 
outros aglomerados subnormais em áreas da periferia da região metropolitana 
do Rio de Janeiro. 
 
 
34 
 
O importante a destacar é que o IBGE, com o conceito de aglomerado 
subnormal, institucionaliza uma ferramenta conceitual para tratar dessas áreas 
habitacionais abaixo de um padrão de habitabilidade que se consideraria mínimo 
e necessário para todas as famílias brasileiras. 
 
 
ATIVIDADE FINAL (Atende a todos os objetivos) 
 
“Interessantes soluções habitacionais têm surgido nas cidades brasileiras. Em 
Porto Alegre, 7 garotos compartilham um novo tipo de condomínio. (...) Diferente 
de outros condomínios do gênero, este é central; está a um passo de bancos, 
lojas, escritórios.” (Moacyr Scliar, "Folha de S. Paulo", 09/05/93) 
 
Para que se compreenda as diferentes maneiras com as quais as desigualdades 
sociais se manifestam é necessário nos atermos aos vestígios encontrados nas 
paisagens das nossas próprias cidades. 
Num exercício de reflexão geográfica, pedimos para que você discuta (em até 
vinte linhas) as marcas das desigualdades nas paisagens da cidade onde você 
vive, comparando tanto as diferentes soluções habitacionais que aí coexistem, 
quanto a desigual distribuição de equipamentos públicos e/ou culturais entre os 
bairros, traçando uma relação com as classes sociais respectivamente 
residentes. 
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35 
 
 
Resposta comentada: 
Dentre as muitas perspectivas geográficas de se tratar as desigualdades em 
nossas cidades, a análise da paisagem é especialmente importante. Marcas e 
símbolos podem se configurar em vestígios da desigualdade, tal qual a ausência 
e/ou concentração de certos equipamentos públicos e/ou culturais evidenciam, 
numa mesma cidade, tanta dessemelhança de paisagens. Desnaturalizar o olhar 
a fim de identificar as formas espaciais que revelam a desigualdade social 
cotidiana que habita o nosso espaço banal é a primeira das tantas tarefas de 
construção do olhar geográfico por parte d’um profissional de geografia. Favelas, 
cortiços e condomínios fechados se traduzem como diferentes soluções 
habitacionais que coexistem nas grandes e médias cidades no Brasil. Por outro 
lado, a desigual distribuição de equipamentos públicos e/ou culturais dentre os 
bairros de uma mesma cidade (por vezes tão próximos espacialmente), 
produzem paisagens absolutamente desiguais, reforçando a própria 
desigualdade socioespacial numa escala intra-urbana. 
Fim da resposta comentada 
 
 
CONCLUSÃO 
A desigualdade social é tema de frequente preocupação no imaginário social 
brasileiro. Seja em diversas composições musicais ou nos variados campos 
disciplinares, a questão da desigualdade pode ser compreendida através de 
múltiplas abordagens. Mas um olhar geográfico sobre a desigualdade nas 
cidades confere analisá-la sob um ponto de vista socioespacial, à maneira de 
identificar como as formas espaciais resultantes surgiram e se mantiveram em 
nossas paisagens urbanas. Um dos caminhos geográficos para pensar as 
desigualdades socioespaciais das cidades brasileiras foi o conceito de 
fragmentação do tecido sociopolítico espacial, através do qual refletimos sobre 
as desigualdades de um ponto de vista geográfico, destacando as formas de 
habitação das camadas mais excluídas da população urbana, os aglomerados 
subnormais, e por outro a defesa das classes ricas contra o que consideraram 
uma excessiva violência urbana, através dos condomínios exclusivos. 
36 
 
Destacamos que, compreender e desvelar a dimensão espacial dos mais 
variados fenômenos à maneira de desnaturalizar processos que reproduzem a 
própria desigualdade é a prerrogativa básica da perspectiva geográfica que aqui 
fazemos valer. 
 
RESUMO 
Nessa aula, podemos compreender, inicialmente, algumas das diferentes 
abordagens possíveis à temática da desigualdade social. Identificar a maneira 
com a qual este fenômeno se manifesta espacialmente, inclusive sob um ponto 
de vista multiescalar é a tarefa geográfica essencial. Assim, a construção de um 
olhar geográfico sobre a desigualdade nos faz entendê-la como um fenômeno 
socioespacial expresso tanto na escala da rede urbana quanto na escala intra-
urbana. Desvendar na paisagem urbana a natureza das formas espaciais 
resultantes da desigualdade foi, nessa aula, a via privilegiada para compreender 
as desigualdades socioespaciais nas cidades brasileiras. 
Para entendermos a cidade dos países subdesenvolvidos há que lançar mão da 
produção da geografia brasileira que nos mostram a fragmentação das cidades 
e de seu tecido sociopolítico-espacial. De um lado a produção de condomínios 
exclusivos que auto-segregam, atrás de muros altos uma população que vive 
com medo da violência urbana que a mídia amplifica. De outro a produção de 
aglomerados subnormais, residências muitas vezes precárias da população 
mais pobre. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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CASTRO, Iná et al. (orgs.): Brasil: questões atuais da reorganização do 
território. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. 
 
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sistema de ensino. Rio de Janeiro. Petrópolis. Vozes. 5. ed. 2012. 
 
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CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidades de muros: Crime, segregação e 
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