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UNIDADe 2 Layout de Instalações Objetivos de aprendizagem � entender questões relativas à localização física dos recursos de transformação. � Identificar os diversos fatores que devem ser levados em consideração quando do projeto de um arranjo físico. � Analisar estratégias alternativas para melhorar a capacidade produtiva de uma organização. � Identificar a natureza dos tipos diferentes de arranjo físico que podem ser usados em operações de produção. Seções de estudo Seção 1 A necessidade de planejar o arranjo físico Seção 2 Tipos básicos de arranjos físicos de instalações Seção 3 Planejando arranjos físicos por processo Seção 4 Planejando arranjos físicos por produto Seção 5 Planejando arranjos físicos de manufatura celular 2 volumes.indb 37 09/09/11 16:33 38 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Talvez você não tenha prestado atenção, mas uma das primeiras coisas com que nos deparamos quando entramos em um local de trabalho, ou em um local de diversão, ou até mesmo em nossa própria casa é a forma como está organizado o espaço físico desses locais. No caso particular da gestão de operações, a maneira como são dispostas as instalações, máquinas, equipamentos e pessoal, determina a maneira como os diferentes insumos, sejam materiais, informações e clientes, circulam nas instalações de uma organização produtiva e que, em última instância, podem afetar a eficiência geral da produção. Em princípio parece simples tomar decisões associadas à localização de máquinas, equipamentos e pessoal no espaço físico de uma fábrica, de uma agência bancária ou de um restaurante, por exemplo. Entretanto, a tarefa mais difícil é prever o impacto futuro que tais decisões terão sobre o sistema produtivo, não somente em relação aos indicadores financeiros, como os custos de produção, mas também sobre indicadores físicos, tais como tempo de fluxo, estoque em processo, índices de qualidade, tempo de fila, entre outros. Então, meu caro aluno, nesta unidade você tomará contato com as principais razões pelas quais as decisões de arranjo físico (também chamados de layouts) são importantes na maioria dos sistemas produtivos; estudará as vantagens, desvantagens e técnicas que podem ser usadas para projetar cada um dos diferentes tipos de arranjo físico. O nosso desejo é que você, ao final da unidade, sinta-se capaz de empregar, da melhor maneira possível, os conteúdos aqui estudados em prol da melhoria da produção e, principalmente, da melhoria das condições humanas de trabalho. Preparado? Então siga em frente e bom estudo! volumes.indb 38 09/09/11 16:33 39 Gestão de Operações e Logística II Unidade 2 Seção 1 - A necessidade de planejar o arranjo físico Como você já viu na unidade anterior, a rápida expansão dos mercados mundiais está levando as empresas a adotarem uma postura mais ampla e global; a rever e melhorar continuamente seus processos produtivos. Atualmente, a fim de sobreviverem nessa aldeia global, as empresas procuram ampliar suas capacidades de competição prestando maior atenção a tudo que envolve o seu processo de transformação e que pode levar à insatisfação do cliente ou a perdas na produção. Atenção! Um dos elementos competitivos, que têm efeito estratégico sobre o desempenho de uma organização produtiva, é a maneira como o espaço do chão da empresa é organizado. O que se quer, em última instância, é ter um espaço organizado de tal forma a tornar as fábricas e as operações de serviço mais flexíveis para produzir produtos e serviços que atendam às necessidades do cliente com mais eficiência. Assim, em empresas industriais e de serviços dos mais diferentes segmentos é relativamente freqüente a necessidade de se tomar decisões sobre a localização física dos diferentes recursos utilizados para transformar insumos nos produtos e serviços da organização. O processo decisório associado à localização de máquinas e equipamentos no espaço físico da fábrica é entendido como planejamento do layout ou projeto do arranjo físico de uma empresa. Planejar o layout da instalação significa planejar a localização de todas as máquinas, utilidades, estações de trabalho, áreas de atendimento aos clientes, áreas de armazenagem de materiais, corredores, banheiros, refeitórios, bebedouros, divisórias internas, escritórios e salas de computadores e, ainda, os padrões de fluxo de materiais e de pessoas que circulam nos prédios (GAITHeR; FRAZIeR, 2001, p. 197). volumes.indb 39 09/09/11 16:33 40 Universidade do Sul de Santa Catarina O estudo do arranjo físico se justifica porque decisões de como organizar a produção têm conseqüências a longo prazo, em função das dimensões físicas dos recursos de transformação envolvidos (instalações, máquinas, equipamentos etc.) e da chamada inércia de decisão. Segundo Corrêa, Gianesi e Coan (2001) a inércia de decisão representa o tempo decorrido entre o momento da tomada de decisão e o momento em que os efeitos da decisão passam a fazer-se sentir. Muitas das decisões sobre o arranjo físico de uma empresa são tomadas ou deveriam ser tomadas no nível estratégico. É nesse nível decisório que a empresa define o produto, a localização, o tamanho da instalação, em termos da sua capacidade de produção, estabelece o tipo de processo utilizado para fazer o produto, projeta as instalações e equipamentos, define fornecedores, entre outros elementos. Essas decisões estratégicas servem para fundamentar os planos táticos e os planos operacionais posteriores e têm impacto direto no planejamento do layout da instalação produtiva. Seus efeitos são sentidos a longo prazo, seja em termos de custos ou em termos da capacidade da empresa em atender a seus clientes. O projeto do arranjo físico das instalações pode ser visto como uma extensão do planejamento do processo produtivo. enquanto que no planejamento do processo são selecionadas as máquinas, é definido o roteiro de produção, são identificadas as características dos materiais que compõem os produtos a serem fabricados, etc., o arranjo físico fornece os elementos para a disposição física dos processos. A esta altura do estudo, você deve estar percebendo como é importante projetar arranjos físicos adequados. Veja que muitas vezes, realizar alterações no layout de uma unidade fabril, quando este está errado ou é ineficiente, pode ser de difícil execução ou requerer grandes volumes de recursos financeiros. volumes.indb 40 09/09/11 16:33 41 Gestão de Operações e Logística II Unidade 2 Atenção! Arranjos físicos mal projetados podem acarretar problemas de atendimento do mercado consumidor da empresa em função da perda ou diminuição da sua capacidade produtiva devido a fluxos excessivamente longos ou confusos, estocagem desnecessária de materiais, formação de filas, aumento dos custos, etc. As razões para planejar o layout de uma instalação podem ser as mais diversas. Qualquer mudança importante nas operações, como por exemplo, introdução de um novo produto, adoção de um novo processo, aumento do volume de produção pela introdução de novas máquinas, mudança na combinação de produtos (mix de produção), pode justificar a revisão de um arranjo físico existente. enfim, compreender a necessidade do re-arranjo físico de uma instalação ou a elaboração de um novo layout pode resultar no aumento da eficácia geral da produção de uma fábrica ou de uma empresa de serviços. Contudo, uma coisa é essencial: deve haver uma clara compreensão do que se pretende que o arranjo físico proporcione, neste caso os objetivos almejados pela organização. Na próxima seção, você estudará em detalhe os diferentes tipos de layout. Então, vamos continuar a aprofundar o assunto? Seção 2 - Tipos básicos de arranjos físicos de instalações Antes de projetar um arranjo físico devemos saber que o tipo de produto a ser produzido determina o tamanho, forma, propriedades químicas e característicasespeciais dos materiais que serão usados na sua manufatura. volumes.indb 41 09/09/11 16:33 42 Universidade do Sul de Santa Catarina Porque o conhecimento sobre isso é importante? Você deve estar se questionando. A resposta é simples. A natureza dos materiais afeta diretamente o layout das instalações, que deve ser projetado para otimizar o manuseio, armazenamento e processamento desses materiais. Considere o exemplo. Saber se serão manuseados materiais grandes, pesados, volumosos, secos, líquidos, granel, paletizados, frágeis, flexíveis, etc., pode ser necessário para projetar o uso de esteiras, fitas metálicas, guindastes, pontes rolantes, elevadores, carrinhos, tratores, enfim, toda sorte dispositivos de transporte, carga, descarga e manuseio. Da mesma maneira, as decisões sobre os equipamentos de movimentação e transporte que serão empregados na produção, tornam-se restrições para o projeto do layout da instalação na medida em que determinam a estrutura do prédio, o espaço de armazenamento, a largura dos corredores, as áreas para acomodar as máquinas, etc. Com a finalidade de garantir o manuseio eficiente de materiais, Gaither e Frazier (2001) e Davis, Aquilano e Chase (2001), relacionam alguns princípios a serem levados em conta no momento de planejar o layout das instalações, os quais são ilustrados no quadro a seguir. 1. Os materiais devem ser movimentar-se por entre a instalação em fluxo lineares. 2. Manter ao mínimo ziguezague ou movimentos para trás. 3. Processos de produção relacionados devem ser organizados a fim de proporcionar fluxos lineares de materiais. 4. Dispositivos mecânicos de manuseio de materiais devem ser projetados e localizados. segue volumes.indb 42 09/09/11 16:33 43 Gestão de Operações e Logística II Unidade 2 5. Locais de armazenagem devem ser escolhidos a fim de que o esforço humano despendido em dobrar, alcançar, levantar e caminhar seja minimizado. 6. Pequena estocagem de materiais entre etapas de produção. 7. Movimento mínimo de materiais. 8. Estações de trabalho próximas uma das outras. 9. Evitar o manuseio de materiais pela segunda vez. Quadro 2.1 - Princípios do manuseio de materiais. Fontes: Gaither; Frazier, 2001. p. 199 e Davis; Aquilano; Chase, 2001. p. 265 Mas, afora esses princípios norteadores, devemos ter em mente que o objetivo central no desenho de um layout é proporcionar um fluxo de trabalho de materiais fluido através das instalações que, ao final, redunde na minimização do custo de processamento, transporte e armazenamento de materiais ao longo do sistema de produção. Todavia, é bom salientar que há outros objetivos não menos importantes que devem ser considerados no momento da elaboração de um arranjo físico, independentemente de se tratar de operações de manufatura ou de serviços. Assim, objetivamente um arranjo físico de instalação deve (GAITHER; FRAZIER, 2001. p. 198): � fornecer suficiente capacidade de produção; � reduzir o custo de manuseio de materiais; � proporcionar melhor utilização da área disponível na empresa; � garantir espaço para os equipamentos e máquinas de produção; � permitir elevada utilização e produtividade da mão de obra, das máquinas e do espaço; volumes.indb 43 09/09/11 16:33 44 Universidade do Sul de Santa Catarina � proporcionar segurança e saúde aos empregados e clientes; � fornecer flexibilidade de volume e produto; � garantir espaço para banheiros e outros cuidados pessoais dos empregados; � permitir facilidade de supervisão; � permitir facilidade de manutenção; � promover carga e descarga eficiente de veículos de transporte; � fornecer eficaz retirada de estoques, atendimento de encomendas e carga inutilizada; � proporcionar flexibilidade em caso de modificações nas tecnologias dos processos; � permitir facilidade de contagem de estoques; � proporcionar um fluxo de comunicação entre as áreas de trabalho de maneira eficiente e eficaz. Nesse ínterim, você deve estar pensando: Por onde eu devo começar o planejamento de um layout? O ponto de partida para o projeto de um arranjo físico acontece no momento da seleção do tipo de processo. Como você já estudou na disciplina de Gestão de Operações e Logística I, os sistemas de produção – classificados em função do fluxo do produto – são agrupados em três grandes categorias: a) sistemas de produção contínua ou de processos contínuos b) sistemas de produção intermitente c) sistema de produção por projetos volumes.indb 44 09/09/11 16:33 45 Gestão de Operações e Logística II Unidade 2 Você está lembrado das características de cada um dos tipos de sistemas de produção? Pois bem, em função da importância do assunto, vamos fazer um pequeno desvio no rumo normal do nosso estudo e relembrar brevemente os conceitos relacionados a cada um desses sistemas de produção. Os sistemas de produção contínua ou de processos contínuos são caracterizados por uma seqüência linear do fluxo de produção. Nas indústrias do tipo de produção contínua, as máquinas e equipamentos executam continuamente as mesmas operações e os produtos se movem de um posto de trabalho para outro com pequenas interrupções ou fluem de forma ininterrupta até chegar ao estoque de produtos acabados. Por exemplo, indústrias do petróleo e seus derivados, energia elétrica, produtos químicos, fabricação de carros, papel, aço, etc. Já nas indústrias do tipo de produção intermitente os equipamentos apresentam variações freqüentes de trabalho, motivadas pela diversidade de produtos fabricados ou pelo reduzido tamanho dos lotes fabricados. Por exemplo, fábrica de móveis, indústria metal-mecânica média e pesada, etc. Por fim, os sistemas de produção por projetos têm como finalidade o atendimento de uma necessidade específica dos clientes, com todas as suas atividades voltadas para esta meta. Na realidade, cada projeto é um produto único, não havendo um fluxo do produto, mas sim, recursos transformadores gravitando em torno dele. Neste caso, tem-se uma seqüência de tarefas ao longo do tempo, geralmente de longa duração, com pouca ou nenhuma repetição. Exemplos deste tipo processo são: produção de navios, aviões, grandes estruturas, prédios etc. Agora, voltando à questão do arranjo físico devemos dizer que, apesar de existirem diversas maneiras pelas quais os recursos produtivos podem ser dispostos em uma instalação, a maioria delas deriva apenas de quatro tipos básicos: � arranjo físico por processo; � arranjo físico por produto; volumes.indb 45 09/09/11 16:33 46 Universidade do Sul de Santa Catarina � arranjo físico de posição fixa, e � arranjo físico de manufatura celular. Embora um tipo de processo não implique necessariamente umtipo de layout, em geral, a seleção do tipo de processo sugere a adoção de um dos quatro tipos básicos de arranjo físico, como veremos a seguir. 1) O arranjo físico por processo, também conhecido como layout funcional ou job shop, é caracterizado pelo agrupamento de equipamentos e funções similares de acordo com o tipo de processo que é executado, como mostra a figura a seguir, 2.1. Por exemplo, toda operação de torneamento de uma peça será feita nos equipamentos localizados em um setor enquanto que todas as operações de soldagem num outro, e assim por diante. Esse tipo de arranjo é projetado para atender processos intermitentes que trabalham com pequenos lotes de uma variedade de produtos. Essa particularidade torna o planejamento do arranjo físico por processo bastante complexo, já que cada produto exigirá um fluxo de produção próprio, como mostra a figura a seguir, 2.1. Torno Torno Torno Torno Limpeza Pintura Limpeza Pintura Matéria Prima Fresadora Fresadora Fresadora Fresadora Furadeira Furadeira FuradeiraFuradeira Produto acabado Figura 2.1 – Arranjo físico por processo. Fonte: Elaboração do autor. Como os layouts por processo, de forma a atender diferentes projetosde produtos, tipicamente empregam máquinas de uso geral que executam variadas operações, na prática, encontrar soluções ótimas para este tipo de arranjo é uma tarefa difícil, volumes.indb 46 09/09/11 16:33 47 Gestão de Operações e Logística II Unidade 2 sendo necessária uma boa dose de intuição, bom senso e técnicas de tentativa e erro. 2) O arranjo físico por produto, denominado também como layout de fluxo ou de linha, é projetado para atender o a produção de um bem que é realizado em um fluxo linear. Neste tipo de arranjo, os materiais ou atividades requeridas pelo produto que é feito, seguem a seqüência contínua nas quais os processos de trabalho ou de equipamento foram organizados fisicamente, conforme pode ser visto na figura a seguir, 2.2. Torno Torno Matéria Prima Produto acabado Torno FuradeiraFresadora Furadeira Torno Fresadora Limpeza Pintura Fresadora Furadeira Limpeza Fresadora Furadeira Pintura Figura 2.2 – Arranjo físico por produto. Fonte: Elaboração do autor. Este é o motivo pelo qual este tipo de arranjo físico muitas vezes é chamado de “linha de produção” ou “linha de montagem”, onde máquinas especializadas executam uma operação específica durante um longo período de tempo em um tipo de produto, característica básica dos sistemas de produção contínua. São exemplos deste tipo de arranjo físico as instalações das montadoras de automóveis, a manufatura de eletrodomésticos, a fabricação de equipamentos eletrônicos, etc. 3) O arranjo físico de posição fixa é caracterizado pela permanência do produto num local só devido ao seu volume, tamanho, peso ou fragilidade. Neste tipo de arranjo físico, os recursos transformadores (trabalhadores, máquinas e materiais) deslocam-se até o produto, típica característica que distingue os sistemas de produção por projetos. Um canteiro de obra na construção civil é um exemplo típico de arranjo físico de posição fixa. Outros exemplos são: processos cirúrgicos em hospitais, indústria naval, aeronáutica etc. volumes.indb 47 09/09/11 16:33 48 Universidade do Sul de Santa Catarina Figura 2.3 - Fabricação do Embraer-170. Fonte: <http://www.sjc.sp.gov.br/investidor/pqindustrial.asp>. 4) No arranjo físico de manufatura celular, também conhecido como layout de Tecnologia de Grupo, máquinas distintas são agrupadas em células para trabalhar em família de produtos que têm características e necessidades de processamento semelhantes, o que significa dizer que esses produtos exigem as mesmas máquinas e configurações similares. Os produtos, uma vez processados numa célula ou centro de trabalho, podem prosseguir para outra célula onde serão atendidas as outras necessidades específicas de processamento. Os layouts de manufatura celular foram desenvolvidos como uma alternativa de ordenar o fluxo complexo do arranjo físico por processo, associando as vantagens do layout por produto, no sentido das células serem projetadas para atender uma gama limitada de produtos. Em um arranjo físico celular, em primeiro lugar devemos decidir quais produtos agrupar numa célula e quais as máquinas que serão necessárias para atender as necessidades de transformação desses produtos. Posteriormente, as máquinas são organizadas dentro de cada célula, como ilustra a figura 2.4. volumes.indb 48 09/09/11 16:33 49 Gestão de Operações e Logística II Unidade 2 Célula 1 Célula 2 Célula 3 Torno Furadeira Torno Furadeira Fresadora Pintura Fresadora Limpeza Torno Figura 2.4 – Arranjo físico de manufatura celular. Fonte: Elaboração do autor. Embora a idéia de arranjo físico celular em geral seja associada a operações industriais, um exemplo, do setor de serviços, que serve para ilustrar esse tipo básico de layout é o caso do setor de maternidade em um hospital, que constituiria um centro de trabalho onde pacientes, com necessidades similares, formariam um grupo bem definido que pode ser tratado junto. Ainda que a literatura relacione quatro tipos básicos de arranjo físico, que chamaremos de “puros”, é oportuno dizer que a grande maioria das instalações industriais emprega layout híbrido que representa uma combinação dos elementos presentes em alguns ou em todos os tipos básicos de arranjo físico. Atenção Cabe, no entanto, ressaltar que, embora a escolha do tipo básico de layout guie a maneira geral segundo a qual as máquinas e equipamentos podem ser ordenados uns em relação aos outros, ele não define a posição exata de cada elemento da operação, tarefa que é realizada no momento do projeto detalhado do arranjo físico. volumes.indb 49 09/09/11 16:33 50 Universidade do Sul de Santa Catarina Para resumir, podemos dizer que o tipo de layout é em grande parte determinado pelo: � tipo de produto e suas características, isto é, se é um bem ou um serviço, projeto do produto, padrões de qualidade almejados, etc.; � tipo de processo de produção; � volume da produção, isto é, se é uma produção de grande volume ou de pequeno volume. Um bom arranjo físico permitirá que os materiais, o pessoal e as informações fluam pelo sistema de produção de uma forma eficiente e segura. Nas próximas seções, abordaremos os métodos mais comumente empregados para desenvolver o projeto detalhado dos diferentes tipos de arranjo físico de instalações, com exceção do layout por posição fixa onde cada produto constitui um projeto único, como por exemplo, planejar o layout de um canteiro de obra para a construção de um prédio. Seção 3 - Planejando arranjos físicos por processo Inicialmente devemos dizer que, devido ao planejamento de arranjos físicos de instalações envolverem a análise e integração de numerosas variáveis – equipamentos para o manuseio de materiais, localização das áreas de trabalho, espaços de armazenagem, oficinas, sanitários, escritórios, etc. – poderá ser que nenhuma técnica isolada seja tão boa para produzir um layout ótimo (escolha do melhor entre todas as possíveis alternativas), como veremos a seguir. O projeto detalhado de layout por processo, na maioria das vezes, busca arranjar centros de trabalhos com grandes quantidades de tráfego interdepartamental adjacentes um ao outro. A meta é minimizar os custos de manuseio dos materiais (ou minimizar o tempo de deslocamento de pessoas, no caso de organizações de serviço). volumes.indb 50 09/09/11 16:33 51 Gestão de Operações e Logística II Unidade 2 Entretanto, essa aparentemente simples tarefa de organizar centros de trabalhos pode ser extremamente complexa em função da relação fatorial existente nesse processo combinatório. Senão, vejamos! Para N centros de trabalho há N! (N fatorial) maneiras diferentes de arranjá-los. Assim, por exemplo, enquanto existem 120 maneiras potenciais de arranjar cinco centros, temos mais de 3 milhões (10!) disposições possíveis para o arranjo de 10 centros de trabalhos. Isso nos leva a deduzir que métodos simplificados de tentativa e erro ou mesmo procedimentos mais sofisticados de Pesquisa Operacional tem pequenas chances de encontrar uma combinação ótima (a melhor das soluções) em um número razoável de tentativas. Os diversos métodos desenvolvidos para projetar os arranjos físicos por processo – que aliam abordagens heurísticas, bom senso e tentativa e erro – procuram minimizar os custos de manuseio dos materiais, otimizando a quantidade de material deslocado e a distância por este percorrida. Para empregar qualquer método de solução não é essencial levantar dados e informações? A resposta é: com certeza! Atenção! Antes de aplicar qualquer método para desenvolver o projeto detalhado de um arranjo físico por processo, é necessário que se tenha o conhecimento prévio de informações que podem tornar-se restrições ou fatores condicionantes para determinada estratégia de solução. A primeira coisa que o projetista deve saber é a natureza (volume, número de jornadas, número de carregamento, custo por unidade de distância percorrida)e a direção do fluxo entre cada par de departamentos e a maneira como o material é transportado. volumes.indb 51 09/09/11 16:33 52 Universidade do Sul de Santa Catarina Esse tipo de informação pode ser obtido a partir de registros estatísticos de produtos similares ou, caso seja um produto novo, a partir de estimativas dos engenheiros projetistas. Outra informação importante é conhecer as dimensões mínimas e a forma da área requerida por cada centro de trabalho. Esses dados permitem que sejam calculadas as distâncias reais entre os diferentes departamentos, assim como também ajudam desenvolver uma análise de arranjo físico para definir a configuração do prédio. Entretanto, na maioria das vezes iniciamos o projeto de um layout conhecendo as dimensões do prédio, isso porque algumas vezes optar por desenvolver um layout para definir a forma do prédio pode levar a conformações inexeqüíveis. Ainda há outras questões não menos importantes que devem ser levantadas, como a necessidade de manter centros próximos entre si ou próximos de algum ponto fixo do arranjo físico, seqüência de processamento dos produtos nos centros de trabalho, volume de cada família de produtos fabricados, etc. Essas informações também condicionam a decisão final sobre o layout. Três são os métodos mais usados para desenvolver arranjos físicos por processo: 1) análise da seqüência de operações, 2) análise da distância da carga e 3) planejamento sistemático de layout (SLP – Systematic Layout Planning). Conheça-as em detalhes. 1) Análise de Seqüência de operações A Análise de Seqüência de operações é um processo de tentativa e erro que, a partir da representação esquemática gráfica dos departamentos e do fluxo que ocorre entre eles, desenvolve um plano para a organização dos centros de trabalho, procurando colocar o mais próximo possível os pares de departamentos mais ativos. volumes.indb 52 09/09/11 16:33 53 Gestão de Operações e Logística II Unidade 2 O processo para determinar a localização de centros de trabalho, em arranjo físico por processo pela abordagem da análise de seqüência de operações, é o seguinte: Passo 1 – a partir das informações de registros históricos de padrões de fluxo, ou estimativas de pessoal confiável, elabore uma matriz que relacione o número de deslocamentos por período de tempo entre os departamentos. As linhas representam os departamentos de origem (de) e as colunas os departamentos destino (para). Passo 2 – use a abordagem da identificação dos departamentos mais ativos para desenvolver um diagrama esquemático inicial. Para determinar quais departamentos têm ligações mais freqüentes com outros departamentos, some o número de entradas em cada linha e coluna da matriz de deslocamentos. Passo 3 – Em seguida, desenhe o diagrama esquemático inicial de fluxo para mostrar o número de deslocamentos entre os departamentos e para identificar os departamentos ativos. Para isso, construa um gráfico com círculos representando os departamentos e linhas representando o fluxo interdepartamental. Sobre as linhas escreva as cargas ou número de produtos transportados por período de tempo, de um departamento para outro. Tente localizar os departamentos mais ativos (isto é, com maior número de entradas) em posições centrais do esquema. Passo 4 – para localizar os outros departamentos desenvolva uma solução por tentativa e erro, movendo os departamentos para mais perto um do outro quando o número de movimentos de produto entre eles for elevado. Trate de mover os departamentos de maneira a formar uma figura retangular ou o mais próximo possível da forma final do prédio. Passo 5 – caso as dimensões do prédio sejam conhecidas, desenhe o diagrama esquemático dele, considerando as suas dimensões reais e as áreas necessárias para cada departamento. Passo 6 – ajuste o arranjo físico desenvolvido no passo 4 de forma a levar em consideração as restrições de área dentro da qual o arranjo deve caber. Para tanto, coloque cada círculo que represente um departamento no centro de uma figura que exprima a sua área relativa. Esse procedimento, denominado volumes.indb 53 09/09/11 16:33 54 Universidade do Sul de Santa Catarina por Gaither e Frazier (2001) de análise de diagrama de blocos, define a forma e as dimensões do prédio e a localização das fronteiras departamentais. Passo 7 – analise se a troca de localização de quaisquer dos centros permite acomodar o arranjo físico dentro de um prédio com a forma de uma figura retangular, mantendo as áreas necessárias de cada departamento e as relações entre eles. Se houver melhorias, faça as trocas. Senão, faça do último esquema o arranjo físico final. Veja um exemplo: A fábrica Toys&Games está projetando a construção de uma nova unidade com 20 x 60 m de área útil para acomodar uma nova linha para a fabricação de quatro modelos de brinquedos: brinca1, brinca2, brinca3 e brinca4. A nova planta deve abrigar 6 centros de trabalho, todos com mesma área. É dada a você, como gerente de operações, a tarefa de elaborar o layout para esse novo empreendimento. As estimativas do número de viagens dos lotes de montagens dos produtos entre os centros de trabalho por mês são mostradas a seguir: Tabela 2.1 – Estimativa de viagem dos lotes por centro de trabalho. Para: Centro de Trabalho C1 C2 C3 C4 C5 C6 De : C en tro de Tr ab alh o C1 700 1200 1000 800 C2 1900 C3 1000 1200 800 C4 700 C5 1000 C6 800 segue volumes.indb 54 09/09/11 16:33 55 Gestão de Operações e Logística II Unidade 2 60,0 20 ,0 21 3 4 5 6 Figura 2.5 – Dimensões do prédio e posições a serem ocupadas pelos centros de trabalho. Fonte: Elaboração do autor. Para solucionar esse problema primeiro, determine quais centros de trabalho têm ligações mais freqüentes com outros centros de trabalho, totalizando o número de entradas em cada linha e coluna: Tabela 2.2 – Número de entrada dos lotes por centro de trabalho. Centros de trabalho C1 C2 C3 C4 C5 C6 No. de entradas na linha 4 1 3 1 1 1 No. de entradas na coluna 1 2 3 2 1 2 No. total de entradas 5 3 6 3 2 3 Em seguida, desenhe o diagrama esquemático inicial com círculos representado os departamentos e arcos representando os deslocamentos dos produtos entre os centros de trabalho. Localize os departamentos mais ativos (C1 e C3) nas posições centrais do gráfico (posições 2 e 5 do prédio). Use o método de tentativa e erro para localizar os outros departamentos e gerar uma primeira solução: segue volumes.indb 55 09/09/11 16:33 56 Universidade do Sul de Santa Catarina C2 C1 C5 C4 C3 C6 700 8001.200 1.900 800 1 .2 0 0 1 .0 0 0 1.000 700 800 1.000 C2 C1 C5 C4 C3 C6 700 8001.200 1.900 800 1 .2 0 0 1 .0 0 0 1.000 700 800 1.000 Figura 2.6 – Diagrama esquemático inicial. Fonte: Elaboração do autor. A seguir, se o esquema gerado não for considerado uma boa solução, reestruture o diagrama de forma a minimizar o fluxo de produtos para centros de trabalhos não-adjacentes. Por exemplo, no diagrama acima, o centro de trabalho C4 poderia ser movido para mais perto de C2. Mova os departamentos mantendo o diagrama dentro da forma do prédio. C2 C1 C4 C6 C3 C5 700 800 1.200 1 .9 0 0 700 1 .2 0 0 1 .0 0 0 1.000 800 1 .0 0 0 800 C2 C1 C4 C6 C3 C5 700 800 1.200 1 .9 0 0 700 1 .2 0 0 1 .0 0 0 1.000 800 1 .0 0 0 800 Figura 2.7 – Diagrama esquemático reestruturado. Fonte: Elaboração do autor. segue volumes.indb 56 09/09/11 16:33 57 Gestão de Operações e Logística II Unidade 2 Finalmente, encaixe o diagrama esquemático final na área do prédio para determinar as fronteiras departamentais. C2 C1 C4 C6 C3 C5 700 800 1.200 1 .9 0 0 700 1 .2 0 0 1 .0 0 0 1.000 800 1 .0 0 0 800 C2 C1 C4 C6 C3 C5 700 800 1.200 1 .9 0 0 700 1 .2 0 0 1 .0 0 0 1.000 800 1 .0 0 0 800 Figura 2.8 – Diagrama esquemático final.Fonte: Elaboração do autor. A abordagem de tentativa e erro produz esquemas onde os “movimentos óbvios” para melhorar uma solução, muitas vezes, não são simples de serem identificados. Por isso, torna-se importante analisar as diversas soluções geradas em relação a algum critério de seleção, como por exemplo, o layout que produz o menor número de viagens por período ou que minimiza o custo total de manuseio dos materiais. 2) Análise de Distância da Carga A Análise de Distância da Carga é uma abordagem usada para comparar alternativas de layouts. O procedimento é baseado na soma da distância real multiplicada pela carga de produtos processados por período. Uma variante do método consiste na multiplicação de custos de manuseio de material por carga, pelo número de cargas movimentadas entre cada departamento. O layout com a menor distância total percorrida por período ao longo das instalações, ou a carga vezes o custo total, é a melhor escolha. Observe o exemplo: volumes.indb 57 09/09/11 16:33 58 Universidade do Sul de Santa Catarina O gerente de projeto responsável pela nova fábrica Toys&Games, analisando as duas alternativas de layout geradas no exemplo anterior, considera ambas aparentemente boas. Nesta incerteza, ele lhe pergunta: qual das alternativas minimiza a viagem de produtos ao longo da instalação? Opção A Opção B C2 C1 C4 C2 C1 C6 C5 C3 C6 C4 C3 C5 Para responder a esse questionamento, você levanta informações sobre os produtos que circularam na instalação, a distância entre os departamentos para cada alternativa, a seqüência de processamento nos centros de trabalho e o número de produtos processados por mês. Tabela 2.3 – Levantamento dos produtos. Modelo do produto Seqüência de processamento nos centros de trabalho Produtos processados por mês Brinca1 C1 – C2 – C4 – C3 700 Brinca2 C3 – C1 – C5 – C6 1.000 Brinca3 C1 – C3 – C2 – C4 1.200 Brinca4 C1 – C6 – C3 – C4 800 segue volumes.indb 58 09/09/11 16:33 59 Gestão de Operações e Logística II Unidade 2 4 1 2 5 3 6 10 m 20 m 22, 4 m 60 m 20 m Figura 2.9 – Dimensões do prédio e distância entre posições dos centros de trabalho. Fonte: Elaboração do autor. As distâncias de deslocamento entre os departamentos são calculadas a partir da planta do prédio e resumidas no quadro a seguir: Tabela 2.4 – Distância entre departamentos. Viagem entre departamentos Distância entre departamentos (m) Viagem entre departamentos Distância entre departamentos (m) Opção A Opção B Opção A Opção B C1 – C2 20 20 C3 – C2 22,4 22,4 C1 – C3 10 10 C3 – C4 22,4 20 C1 – C5 22,4 22,4 C4 – C3 22,4 20 C1 – C6 22,4 20 C5 – C6 40 10 C2 – C4 40 10 C6 – C3 20 22,4 C3 – C1 10 10 A seguir são calculadas as distâncias totais que cada produto percorre em cada opção de arranjo físico. Para isso, é realizada a multiplicação das distâncias percorridas por cada produto ao longo do seu roteiro de produção vezes o número de produtos processados por mês: segue volumes.indb 59 09/09/11 16:33 60 Universidade do Sul de Santa Catarina Tabela 2.5 – Cálculo da distância de cada produto. Produto Produtos processados por mês Roteiro de produção Distância percorrida por produto (m) Distância total percorrida por produto Opção A Opção B Opção A Opção B Brinca1 700 C1 – C2 – C4 – C3 20+40+22,4 = 82,4 20+10+20 = 50 700 x 82,4 = 57.680 700 x 50 = 35.000 Brinca2 1.000 C3 – C1 – C5 – C6 10+22,4+40 = 72,4 10+22,4 +10 = 42,4 1.000 x 72,4 = 72.400 1.000 x 42,4 = 42.400 Brinca3 1.200 C1 – C3 – C2 – C4 10+22,4+40 = 72,4 10+22,4 +10 = 42,4 1.200 x 72,4 = 86.880 1.200 x 42,4 = 50.880 Brinca4 800 C1 – C6 – C3 – C4 22,4+20+ 22,4 = 64,8 20+22,4 +20 = 62,4 800 x 64,8 = 51.840 800 x 62,4 = 49.920 Total 268.800 178.200 A opção B, com uma distância total percorrida pelos produtos por mês de 178.200 metros, seria a selecionada. Entretanto, cabe ressaltar que foi feita a análise de somente 2 alternativas dentre as 24 opções possíveis (4x3x2x1 = 24 ou 4!), e que poderíamos encontrar um arranjo físico que resultasse numa distância menor. volumes.indb 60 09/09/11 16:33 61 Gestão de Operações e Logística II Unidade 2 3) Planejamento Sistemáticos de Layout (SLP – Systematic Layout Planning) O terceiro método usado para projetar arranjos físicos por processo é o Planejamento Sistemáticos de Layout (SLP – Systematic Layout Planning), uma abordagem desenvolvida por Richard Muther (1978), que consiste em uma estruturação de fases, de um modelo de procedimentos e uma série de convenções para identificação, avaliação e visualização dos elementos e das áreas envolvidas no planejamento. Para Muther, todo o planejamento sistemático de layout baseia-se em três conceitos fundamentais: a) as inter-relações que estabelecem o grau relativo de dependência ou proximidade entre as atividades; b) o espaço que analisa a quantidade, tipo e forma da configuração dos itens a serem posicionados; e c) o ajuste das áreas e equipamentos para dispô-los de melhor maneira possível. A ferramenta emprega uma matriz triangular, denominada de carta de relacionamentos, para indicar o peso da importância relativa das relações entre centros de trabalho. Os pesos são referenciados por código (a, e, i, o, u, x) na matriz, e vão do absolutamente necessário até o indesejável. Em outras palavras, uma carta de relacionamento indica o quão desejável é manter pares de centros juntos um dos outros. Por exemplo, numa indústria eletro-mecânica pode ser que seja particularmente desejável manter juntos os setores de usinagem em máquinas convencionais (tornos e furadeiras) e de usinagem em máquinas com controle numérico computadorizado (CNC), enquanto que outros setores devem ser mantidos o mais distantes possível, como os setores de recebimento de matérias-prima e o de expedição de produtos acabados. Um código de motivo (em geral um número entre 1 e 9) também pode ser atribuído para justificar a razão do grau de proximidade. Por exemplo, o motivo 1 pode ser contato pessoal, 2 barulho ou perturbação, 3 luz e iluminação, 4 higiene e segurança e assim por diante. volumes.indb 61 09/09/11 16:33 62 Universidade do Sul de Santa Catarina A figura 2.10 mostra uma carta de relacionamento para um laboratório de testes (SLACK et al. 1997). Código Grau de importância A Absolutamente necessária E Muito importante I Importante O OK, importância normal U Sem importância X Indesejável Figura 2.10 – Diagrama de relacionamento. Fonte: Adaptação de Slack et al. 1997, p. 230. Depois de construída a carta de relacionamento, diversas técnicas podem ser empregadas para construir o diagrama de fluxo. Em geral, inicia-se o processo pelas relações mais importante, seguindo-se para as de menor importância. O resultado desse procedimento é um esboço da localização de cada área de forma a refletir as informações sobre a seqüência de atividades e as proximidades relativas. Como você deve ter percebido, não é simples fazer o planejamento manual de arranjos físicos por processo. Assim, várias abordagens computadorizadas têm sido desenvolvidas para criar e analisar layouts de processo. A maioria dos programas de computador escritos com essa finalidade usa procedimentos heurísticos e métodos interativos de passo a passo na busca de uma solução razoável, não necessariamente a solução ótima (ainda que eventualmente possa ser encontrada). Os procedimentos heurísticos baseados em computador mais conhecidos são os Programas Automatizados de Projeto de Layout – ALDEP (Automated Layout Design Program), Planejamento Computadorizado de Layout de Relação – CORELAP (Computerized Relationship Layout Planning) e a volumes.indb 62 09/09/11 16:33 63 Gestão de Operações e Logística II Unidade 2 Técnica Computadorizada para Alocação Relativa de Instalações – CRAFT (Computerized Relative AllocationFaciloities Technique). Para finalizar, devemos ressaltar que os arranjos físicos produzidos com o auxílio do computador, dados que representam soluções aproximadas, devem ser aprimorados manualmente antes que uma solução definitiva venha a ser adotada. Seção 4 - Planejando arranjos físicos por produto Como já foi visto anteriormente, o arranjo físico por produto é caracterizado pelo processo de produção contínuo, onde os equipamentos, dispostos ao longo de uma linha, são definidos pela seqüência de operações necessárias para fazer o produto. Devido a esses atributos, esse tipo de layout frequentemente é chamado de linha de montagem. Até certo ponto, praticamente todo produto com múltiplas peças e produzidos em grande volume utiliza linha de montagem. Uma linha de montagem é um conjunto de estações de trabalho, cada uma com um intervalo de tempo uniforme chamado de tempo de ciclo (TC). O tempo de ciclo representa a duração do trabalho (ou tempo de operação) em que um componente permanece em cada posto de trabalho. Acompanhe a fórmula de cálculo do tempo de ciclo. = períodonoprocessadaseraQuantidade períodonoprodutivoTempo TC O tempo de ciclo é também o intervalo de tempo entre produtos acabados sucessivos que saem do final da linha de produção. Para Gaither e Frazier (2001), uma estação de trabalho é uma área física onde um trabalhador com ferramentas, ou um trabalhador com uma ou mais máquinas, ou uma máquina não assistida, como um robô, executa um dado conjunto de tarefas. Um centro de trabalho é um pequeno agrupamento de estações volumes.indb 63 09/09/11 16:33 64 Universidade do Sul de Santa Catarina de trabalhos idênticas, com cada estação de trabalho executando o mesmo conjunto de tarefas. O trabalho total a ser executado em uma estação de trabalho é dado pela soma das tarefas designada àquela estação de trabalho. Nesse sentido, a decisão sobre quantas estações de trabalho ter e quais tarefas delegar a elas de forma que o tempo necessário para realizar o trabalho em cada estação não exceda o tempo de ciclo e, ao mesmo tempo, o tempo ocioso em todas as estações de trabalho seja minimizado, é o foco central do planejamento de arranjos físicos por produto. Esse problema é conhecido como balanceamento de linha. O balanceamento de linha é a análise de linhas de produção que divide igualmente o trabalho a ser feito entre estações de trabalho, a fim de que o número de estações de trabalho necessário na linha de produção seja minimizado (GAITHeR; FRAZIeR, 2001, p. 209). Para determinar o número mínimo teórico de estações de trabalho (Nmin) necessárias para atender a produção exigida, calculamos a relação entre a soma das durações das tarefas e tempo de ciclo, como mostrado na seguinte equação: = CiclodeTempo tarefasdetemposostodosdeSoma Nmin O quadro a seguir resume as principais definições utilizadas no problema de balanceamento de linha. volumes.indb 64 09/09/11 16:33 65 Gestão de Operações e Logística II Unidade 2 Terminologia do balanceamento de linha de produção Estação de trabalho posto de trabalho de uma linha N número de estações ao longo da linha TC tempo de ciclo tempo máximo permitido em cada estação tempo entre a produção de unidades sucessivas à saída da linha Ti tempo de operação para a i-ésima operação ΣTi tempo total necessário para a produção de uma unidade soma das durações de todas as operações Nmin corresponde ao número mínimo de estações de trabalho requeridas para satisfazer a restrição de tempo de ciclo Na corresponde ao número real de estações de trabalho necessárias na linha de produção inteira, calculadas como o próximo valor inteiro mais alto de número de estações de trabalho em funcionamento Ef Eficiência do balanceamento Há diversos métodos que podem ser usados para realizar o balanceamento de linha de produção. Entre esses métodos, a técnica de balanceamento com a regra heurística da tarefa de mais longa duração é uma das mais utilizadas. Entretanto esta regra somente é aplicável quando cada uma das durações das tarefas for inferior ou igual ao tempo do ciclo. No caso, quando há tarefas com duração maior que o tempo de ciclo, outras técnicas devem ser empregadas, como por exemplo, a regra heurística da utilização incremental (GAITHER, N; FRAZIER, G. 2001). volumes.indb 65 09/09/11 16:33 66 Universidade do Sul de Santa Catarina O procedimento para analisar problemas de balanceamento de linhas, usando a regra heurística da tarefa de mais longa duração, pode ser resumido nos seguintes passos: Passo 1 - Determine as tarefas que devem ser executadas na montagem de um produto em particular. Represente as tarefas na forma de um diagrama de precedência composto de círculos conectados por setas. Os círculos representam tarefas individuais e as setas indicam a ordem de execução das tarefas; Passo 2 - Estime as durações das tarefas; Passo 3 - Calcule o tempo de ciclo necessário (TC); Passo 4 - Determine o número mínimo teórico de estações de trabalho (Nmin); Passo 5 - Atribua tarefas a estações de trabalho usando regra heurística da tarefa de mais longa duração, de forma que a linha de produção seja balanceada. A regra consiste em alocar tarefas em ordem de precedência, uma de cada vez, à primeira estação de trabalho até que a quantidade de trabalho alocado esteja próxima, mas não superior ao tempo de ciclo. O procedimento é repetido na segunda estação de trabalho e nas seguintes, até que todas as tarefas sejam designadas. Se duas ou mais tarefas têm a mesma ordem de precedência, simplesmente escolha a tarefa duração mais longa que “caiba” no tempo remanescente da estação de trabalho em análise. Uma segunda regra heurística que pode ser usada para desempatar consiste em selecionar a tarefa com o maior número de tarefas sucessoras. Passo 6 - Resuma em um quadro a designação de tarefas a estações na linha de produção; Passo 7 - Avalie a eficiência da linha de montagem resultante, calculada por: Σ (TC)ciclodeTempo)(NtrabalhodeestaçõesderealNúmero )T(tarefasdastemposdosSoma )Eficiência(E a i f = x volumes.indb 66 09/09/11 16:33 67 Gestão de Operações e Logística II Unidade 2 ou, através da equação: = )(NtrabalhodeestaçõesderealNúmero )(NtrabalhodeestaçõesdemínimoNúmero E a min f Passo 8 - Se a eficiência é insatisfatória, rebalancear a linha usando uma regra heurística diferente. Acompanhe, a seguir, um exemplo que ilustra a aplicação do algoritmo. Observe o exemplo: A fábrica de brinquedos Toys&Games produz 7.500 unidades do modelo de um console de videogame, cujas peças são montadas e transportadas por correias transportadoras entre diferentes estações de trabalho. A empresa atualmente opera com jornada de 25 dias de 8 horas/dia e paradas equivalentes a 15% da jornada para almoço e outros problemas inevitáveis do sistema (manutenção, falta de energia etc.). As tarefas e os tempos de montagem para o produto, levantados pelo departamento de engenharia, são mostrados na tabela a seguir. segue volumes.indb 67 09/09/11 16:33 68 Universidade do Sul de Santa Catarina Tabela 2.6 – Tarefas e os tempos de montagem. Tarefa Duração da tarefa (minutos) Tarefas antecessoras 1 A 0,20 - 2 B 0,40 - 3 C 0,70 A 4 D 0,10 A, B 5 E 0,30 B 6 F 0,11 C 7 G 0,32 C 8 H 0,60 C, D 9 I 0,27 F, G, H 10 J 0,38 E, H 11 K 0,50 I, J 12 L 0,12 K Total 4,00 Usando as informações acima, determine: a) o tempo de ciclo em minutos; b) o número mínimo teórico de estações de trabalho; c) o balanceamento da linha que minimize o número de estações de trabalho, sujeitas às restrições de precedência; d) o número real de estações de trabalho; e) a eficiência do balanceamento. segue volumes.indb 68 09/09/11 16:33 69 Gestão de Operações e Logística II Unidade 2 Acompanhe a solução. Para iniciar a solução do problema, primeiro desenhamos um diagrama de precedência para representar as relaçõesseqüenciais entre as tarefas. A 0,20 C 0,70 B 0,40 D 0,10 E 0,30 G 0,32 F 0,11 H 0,60 I 0,27 J 0,38 K 0,50 L 0,12 A 0,20A 0,20A 0,20 C 0,70C 0,70C 0,70 B 0,40B 0,40B 0,40 D 0,10D 0,10D 0,10 E 0,30E 0,30E 0,30 G 0,32G 0,32G 0,32 F 0,11F 0,11F 0,11 H 0,60H 0,60H 0,60 I 0,27I 0,27I 0,27 J 0,38J 0,38J 0,38 K 0,50K 0,50K 0,50 L 0,12L 0,12L 0,12 Figura 2.11 – Diagrama de precedências. Fonte: Elaboração do autor. Em seguida, calculamos o tempo de ciclo do produto. Para isso é necessário realizar a conversão da unidade de tempo para minutos, uma vez que as durações das tarefas estão em minutos. O tempo disponível para a jornada é igual a: 25 dias x 8 horas/dia x 60 min/hora = 12.000 min Entretanto, para calcularmos o tempo produtivo devemos considerar um desconto de 15% referentes às paradas, logo: Tempo produtivo = 12.000 min x 0,85 = 10.200 min Então, o tempo de ciclo é calculado como: idademinutos/un36,1 unidades7.500 min200.10 períodonoprocessadaseraQuantidade períodonoprodutivoTempo TC= = = segue volumes.indb 69 09/09/11 16:33 70 Universidade do Sul de Santa Catarina O número teórico mínimo de estações de trabalho necessário para atender à demanda pode ser computado como: trabalhodeestações94,2 min/un1,36 min/un00,4 CiclodeTempo tarefasdetemposostodosdeSomaNmin = = = Como as estações de trabalho não podem ser fracionadas, sempre arredondamos para o número inteiro imediatamente superior, neste caso 3 estações de trabalho. O número de estações reais pode ser maior. A seguir, atribua tarefas a estações de trabalho, em ordem de precedência, usando a regra heurística da tarefa de duração mais longa. Isso é feito seguindo- se a seqüência de execução das tarefas. Por exemplo, acompanhe no diagrama de precedência que C deve ser atribuída depois de A, E depois de B, D somente pode ser alocada depois que A e B tenham ido atribuídas e assim por diante. Para iniciar o agrupamento de tarefas para formar a primeira estação de trabalho devemos, inicialmente, compor uma lista com todas as tarefas candidatas a serem designadas a essa primeira estação. Note, no quadro de solução a seguir, que no primeiro instante A e B são as únicas tarefas que formam a lista de candidatas porque não tem tarefas antecessoras. A tarefa B é selecionada porque possui a duração mais longa. Como B já foi alocada, no passo seguinte, a lista de candidatas é formada pelas tarefas A (ainda não alocada) e pela tarefa E que é a única atividade, que sucede B, que pode ser atribuída. A tarefa D, apesar de B já ter sido alocada, ainda não pode aparecer na lista porque necessita que A também tenha sido anteriormente atribuída à primeira estação de trabalho. segue volumes.indb 70 09/09/11 16:33 71 Gestão de Operações e Logística II Unidade 2 Nesse método as tarefas são combinadas em seqüência até que a diferença entre a soma das durações das tarefas já alocadas ao centro de trabalho em formação e o tempo de ciclo seja menor do que a duração da próxima tarefa a ser atribuída. Isso quer dizer que a tarefa em análise não “cabe” no tempo que o centro ainda dispõe. Então um novo centro é iniciado e o procedimento repetido. Acompanhe no quadro a seguir o desenvolvimento da solução. Tabela 2.7 – Atribuição de tarefas a estações de trabalho. Estação de traba- lho (1) Tarefas candi- datas (2) Tarefa com duração mais longa (3) Tarefa atribuída Soma das durações de tarefas (6) Tempo não alocado (ocioso) TC – (6) Obs.Tarefa (4) Duração da tarefa (5) 1 A, B B B 0,40 0,40 0,96 1 A, E E E 0,30 0,70 0,66 1 A A 0,20 0,90 0,46 1 C, D C C 0,70 Duração da tarefa > tempo ainda não alocado Próxima estação 2 C, D C C 0,70 0,70 0,66 2 D, F, G G G 0,32 1,02 0,34 2 D, F F F 0,11 1,13 0,23 2 D D 0,10 1,23 0,13 2 H H 0,60 Duração da tarefa > tempo ainda não alocado Próxima estação 3 H H 0,60 0,60 0,76 3 I, J J J 0,38 0,98 0,38 3 I I 0,27 0,27 0,11 3 K K 0,50 Duração da tarefa > tempo ainda não alocado Próxima estação 4 K K 0,50 0,50 0,86 4 L L 0,12 0,62 0,38 Fontes: Elaboração do autor. segue volumes.indb 71 09/09/11 16:33 72 Universidade do Sul de Santa Catarina segue Depois que todas as tarefas foram agrupadas, resuma a alocação das tarefas a estações de trabalho na linha de produção, como mostrado a seguir: Tarefas alocadas às estações de trabalho Estação de trabalho A, B, E 1 C, D, F, G 2 H, I, J 3 K, L 4 Tarefas A, B, E Estação 1 Tarefas C, D, F, G Estação 2 Tarefas H, I, J Estação 3 Tarefas K, L Estação 4 FLUXO Tarefas A, B, E Estação 1 Tarefas A, B, E Estação 1 Tarefas C, D, F, G Estação 2 Tarefas C, D, F, G Estação 2 Tarefas H, I, J Estação 3 Tarefas H, I, J Estação 3 Tarefas K, L Estação 4 Tarefas K, L Estação 4 FLUXO Figura 2.12 – Alocação final das tarefas as estações. Fontes: Elaboração do autor. Para finalizar, realizamos o cálculo da eficiência do balanceamento: 73,5%ou735,0 4 2,94 )(NtrabalhodeestaçõesderealNúmero )(NtrabalhodeestaçõesdemínimoNúmero E a min f = = = A eficiência calculada dá um claro sinal de que a linha de produção não está bem balanceada, pois o tempo ocioso em toda a linha é de 26,5% (100% - 73,5%). Isso indica que é possível encontrar um balanceamento melhor aplicado a uma regra heurística básica diferente para fazer a alocação e uma regra secundária para desempatar. Isso tudo porque pesquisas têm mostrado que algumas regras são melhores que outras para certas condições de contorno do problema. Por exemplo, para o presente problema, dentre as operações alocáveis à estação de trabalho em formação podemos usar como regra básica escolher a tarefa de volumes.indb 72 09/09/11 16:33 73 Gestão de Operações e Logística II Unidade 2 maior número de tarefas seguintes (a tarefa A tem 9 tarefas seguintes: C, D, G, F, H, I, J, K e L; enquanto que para a tarefa B são 7: D, E, H, I, J, K e L). Em caso de empate optar por escolher a tarefa de maior tempo. Se o empate persistir, selecionar uma tarefa aleatoriamente. A primeira regra procura aumentar o número futuro de operações alocáveis e a segunda busca aumentar a flexibilidade futura de combinações, alocando as operações com tempos maiores antes. Realizar o balanceamento de linha é apenas uma das decisões envolvidas no projeto detalhado de arranjo físico por produto, embora seja, com freqüência, a mais difícil. Além das relações de precedência entre as tarefas impostas pelo projeto do produto e pelas tecnologias de processo, que determinam a ordem na qual as tarefas devem ser executadas no processo de montagem, outras restrições tornam o problema de balanceamento mais complexo. Estas se referem a decisões como: restrições de área; restrição de posição; definição do tipo de dispositivos de manuseio de materiais; configuração de linha (em forma de U, reta, ramificada); andamento (máquina, humano); mix de produtos (um ou múltiplos produtos – problema de balanceamento de linha de modelo misto); características das estações de trabalho e o comprimento da linha (poucos ou muito trabalhadores). Seção 5 - Planejando arranjos físicos de manufatura celular Conforme discutimos anteriormente, células representam uma tentativa de solucionar o problema de produção, aliando as características da flexibilidade do arranjo físico por processo e a simplicidade do arranjo físico por produto. É uma filosofia de produção que se preocupa com a racionalização da manufatura volumes.indb 73 09/09/11 16:33 74 Universidade do Sul de Santa Catarina através da formação das “famílias de peças” e das “células de manufatura” através das similaridades. Uma célula de produção pode ser entendida como a reunião de dois ou mais postos de trabalho distintos em localizações próximas um do outro, onde um número limitado de peças ou modelos será processado utilizando fluxos lineares. A decisão principal no planejamento de arranjos físicosde manufatura celular (ou de Tecnologia de Grupo – TG) passa pela busca de respostas para três questões básicas: Qual o porte e a natureza das células que serão adotadas? Quais máquinas serão designadas a células de manufatura? Quais peças serão produzidas em cada célula? Responder à primeira pergunta implica na análise da quantidade de recursos diretos responsáveis pelos processos de transformação e da quantidade de recursos indiretos necessários para apoiar os recursos diretos em suas atividades de transformação. De acordo com Slack et al (1997), para responder à segunda pergunta e para simplificar a tarefa é, às vezes, necessário se concentrar no aspecto processo ou no aspecto produto para realizar o projeto da célula. Para esses autores, se o viés adotado for o aspecto processo, pode-se usar a técnica de análise de cluster para identificar quais grupos de processos podem ser agrupados naturalmente. Por exemplo, se numa fábrica de móveis, todas as peças que necessitam de furação também necessitarem de rosqueamento, então poderá ser decidido que as máquinas de furação e rosqueamento devem ficar juntas na mesma célula. Ainda, na visão desses mesmos autores, se no projeto das células forem focados os produtos, uma opção será a adoção de um dos sistemas de codificação e classificação de peças comercialmente volumes.indb 74 09/09/11 16:33 75 Gestão de Operações e Logística II Unidade 2 disponíveis, como por exemplo, o sistema Brich do Reino Unido, o sistema Opitz da Alemanha ou o sistema MICLASS da Holanda. Os códigos indicam características das peças ou produtos como forma, tamanho, material usado, e outros fatores que definem algumas das necessidades de processamento. A resposta da terceira pergunta, ou seja, para descobrir quais peças serão feitas nas diferentes células, como Gaither e Frazier (2001) colocam, requer o preenchimento de duas exigências fundamentais: 1. A demanda das peças deve ser suficientemente elevada e estável, de forma que tamanhos de lotes moderados das peças possam ser produzidos periodicamente. 2. As peças devem ser capazes de ser agrupadas em famílias de peças com características físicas semelhantes e que, dessa maneira, exijam operações de produção similares. O projeto de arranjos físicos celulares é particularmente difícil porque representa a tentativa de encontrar uma solução híbrida entre os arranjos físicos por processo e por produto. Como já estudamos nas seções anteriores, o foco do arranjo físico por processo é localizar os vários recursos dentro de uma operação, enquanto que o foco do arranjo físico por produto é atender os requisitos do produto (SLACK, N. et al., 1997). Segundo Davis, Aquilano e Chase (2001) o objetivo de um projeto de layout de Tecnologia de Grupo é obter benefícios que incluem: 1. Melhores relações humanas. As células são compostas por uma equipe de trabalho com poucos operários que produz unidades completas de trabalho. 2. Maior especialização do operador, obtida a partir da repetição de operações em um número limitado de peças diferentes em um ciclo finito de produção. 3. Menor formação de estoques intermediários e manuseio de material devido ao agrupamento de diversas etapas do processo produtivo em uma única célula que leva, conseqüentemente, a que menos peças sejam deslocadas entre as seções. volumes.indb 75 09/09/11 16:33 76 Universidade do Sul de Santa Catarina 4. Redução do tempo de preparação (setup) de máquinas, propiciado pelo menor número de tarefas que representa menos troca de ferramentas e, por conseguinte, trocas mais rápidas. Para desenvolver um arranjo físico de manufatura celular, Davis, Aquilano e Chase (2001) propõem estruturar o estudo em três etapas: 1. Primeiro deve-se agrupar peças em famílias que possuam uma seqüência comum de operações. Essa etapa requer o desenvolvimento ou a adoção de um sistema computadorizado para a classificação e a codificação de peças. 2. Na segunda etapa, os padrões de fluxo dominante de família de peças devem ser identificados para ser empregados como base para a locação ou realocação de processos. 3. Por fim, na terceira etapa, máquinas e processos devem ser agrupados fisicamente em células. No caso em que algumas peças não possam ser associadas a uma família ou máquinas especializadas não puderem ser colocadas em célula devido ao seu uso geral, então essas peças e máquinas devem ser colocadas em uma “célula de sobras”. Acabamos de discutir diversas técnicas para desenvolver arranjos físicos para sistemas de manufatura. Atenção! Mas, antes de finalizar vamos tecer algumas curtas considerações sobre o planejamento de layout de serviços para uma diversidade de empresas como, por exemplo, empresas aéreas, restaurantes, supermercados, hospitais, bancos, empresas de serviço público etc. Devemos lembrar que uma característica que diferencia as operações de serviço das operações de manufatura é o fato do cliente fazer parte do processo de produção. Essa característica coloca questões adicionais, relativas apenas a serviços, no planejamento de layouts de instalações de serviço, principalmente volumes.indb 76 09/09/11 16:33 77 Gestão de Operações e Logística II Unidade 2 no que tange à importância que a apresentação das operações de serviço assume na determinação da satisfação do cliente final. Embora, para muitas instalações de serviço, as técnicas para o layout de manufaturas possam ser aplicadas diretamente, o grau com que as instalações de serviço oferecem recursos relacionados com o cliente afeta drasticamente o projeto do arranjo físico. No projeto de um arranjo de instalações de serviço, dependendo se a ênfase é no cliente, na eficiência de produção, na tecnologia ou na combinação desses três elementos, deve-se dar especial atenção à quantidade de espaço para os balcões de atendimento, à previsão de filas de espera, ao conforto ambiental, às operações de apoio, às operações de manutenção, etc. Essas questões são de importância crucial para o planejamento desse tipo de layout. Para concluir podemos dizer que a decisão de projetar ou alterar o arranjo físico de um sistema de produção é especialmente importante porque, em geral, é uma tarefa longa e difícil que, com freqüência, afeta os custos e a eficiência geral da produção. volumes.indb 77 09/09/11 16:33 78 Universidade do Sul de Santa Catarina Síntese Na primeira seção desta unidade foram discutidas razões pelas quais as decisões de arranjo físico são importantes na maioria dos sistemas produtivos. Foi dada especial ênfase à compreensão da necessidade da elaboração de bons layouts com opção importante para o aumento da eficácia geral da produção de uma fábrica ou de uma empresa de serviços. Em seguida, você estudou os diversos fatores que devem ser levados em consideração quando do projeto de um arranjo físico, assim como aprendeu a identificar as técnicas que podem ser usadas para projetar cada um dos diferentes tipos de arranjo físico. Por fim, você estudou cada um dos métodos empregados para planejar arranjos físicos por processo, por produto e de tecnologia de grupo. Para ilustrar a aplicação dessas técnicas você conheceu diversos exemplos. Na próxima unidade você vai estudar a concepção de projeto de produtos e processos, assim como as etapas do projeto e a tecnologia em produtos e processos. Enquanto isso, reveja os conceitos vistos até aqui, amplie o seu conhecimento com as referências indicadas e resolva as atividades de auto-avaliação. Se não houver dúvidas em relação aos temas até aqui apresentados, fica o convite para iniciar a leitura da próxima unidade. volumes.indb 78 09/09/11 16:33 79 Gestão de Operações e Logística II Unidade 2 Atividades de auto-avaliação Ao final de cada unidade, você realizará atividades de auto-avaliação. O gabarito está disponível no final do livro-didático. Mas, esforce-se para resolver as atividadessem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará promovendo (estimulando) a sua aprendizagem. 1) Pesquise e identifique o tipo de arranjo físico empregado nas seguintes organizações justificando: � Uma lanchonete de fast-food � Uma malharia � Uma fábrica de cerveja volumes.indb 79 09/09/11 16:33 80 Universidade do Sul de Santa Catarina 2) Observe, pesquise e responda: que tipo de layout é utilizado em uma academia de ginástica? Justifique a sua resposta. 3) Zé Sabido, da Três Produtos, S.A., recebeu a missão de analisar duas alternativas para a mudança de layout para a instalação usada na produção de três produtos. Dependendo do produto, o roteiro da movimentação das matérias primas é diferente. Duas alternativas de arranjo físico foram propostas para a instalação. Os produtos fabricados, o deslocamento deles por entre os departamentos e o volume produzido é mostrado a seguir. Produto Seqüência de processamento nos centros de trabalho Produtos processados por mês P1 1-3-4 15.520 P2 1-2-3-4 7.300 P3 1-2-4 9.250 volumes.indb 80 09/09/11 16:33 81 Gestão de Operações e Logística II Unidade 2 Zé deseja usar a análise da distância de carga para determinar a melhor alternativa. As distâncias entre departamentos, para cada alternativa de layout, é resumida no quadro abaixo. Qual a opção que Zé Sabido deve escolher? Viagem entre departamentos Distância entre departamentos (m) Layout A Layout B 1-2 40 40 1-3 65 90 2-3 90 40 2-4 140 65 3-4 15 40 4) Uma fábrica emprega uma linha de montagem para produzir um produto único. A linha produz 300 unidades por dia e opera oito horas diariamente. O tempo para executar as tarefas e as tarefas precedentes para montar o produto é mostrado no quadro a seguir. Tarefa Tempo para executar a tarefa (segundos) Tarefas precedentes A 60 - B 50 - C 30 A D 55 C E 30 C F 35 D G 20 E H 45 B, F, G a) Desenhe o diagrama de relações de precedência. b) Calcule a duração do ciclo por produto. c) Compute o número mínimo teórico de estações exigidas para satisfazer a demanda. d) Use a regra heurística da tarefa mais longa para balancear a linha de produção. e) Calcule a eficiência do sistema. volumes.indb 81 09/09/11 16:33 82 Universidade do Sul de Santa Catarina Saiba Mais Para ampliar um pouco mais o tema, sugere-se a leitura e consulta das seguintes referências: BLACK, J. T. O projeto da fábrica com futuro. Porto Alegre: Bookman, 1998. HARMON, Roy L.; PETERSON, Leroy D. Reinventando a fábrica. Rio de Janeiro: Campus, 1991. MUTHER, Richard. Planejamento do layout: sistema SLP. São Paulo: E. Blücher, 1986. MUTHER, Richard; WHEELER, J.D. Planejamento sistemático e simplificado de layout. São Paulo: INAM, 2000. PEMBERTON, A. W. Arranjo físico industrial e movimentação de materiais. Rio de Janeiro: Interciência, 1977. VALLE, Cyro Eyer do. Implantação de indústrias. Rio de Janeiro: LTC, 1975. Um filme que vale a pena rever é Tempos Modernos (Modern Times, EUA 1936), dirigido e estrelado por Charles Chaplin. O filme focaliza a vida na sociedade industrial caracterizada pela produção com base no sistema de linha de montagem e especialização do trabalho. É uma crítica à “modernidade” e ao capitalismo representado pelo modelo de industrialização, onde o operário é engolido pelo poder do capital e perseguido por suas idéias “subversivas”. volumes.indb 82 09/09/11 16:33
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