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Autora: Profa. Angeles Treitero García Cônsolo Colaboradoras: Profa. Daniela Menezes da Silva dos Santos Profa. Rachel Niza Comportamento do Consumidor M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 Professora conteudista: Angeles Treitero García Cônsolo Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2014), foi participante do grupo de pesquisa UCA (Um Computador por Aluno) no programa Educação: currículo. Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC de São Paulo (2008) e especialista em Gestão de Processos Comunicacionais pela Universidade de São Paulo (2004). Graduou-se em Comunicação Social pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) em 1985. Atua como professora desde 2000 e é docente universitária na Universidade Paulista (UNIP) nas modalidades presencial e a distância. Tem experiência nas áreas de publicidade, propaganda, marketing, comunicação, educação, metodologia e ciências sociais. Desenvolve pesquisas com temas em dispositivos móveis, comunicação e sociedade. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) C755c Cônsolo, Angeles Treitero Garcia. Comportamento do consumidor. / Angeles Treitero Garcia Cônsolo. – São Paulo: Editora Sol, 2018. 128 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIV, n. 2-006/18, ISSN 1517-9230. 1. Comportamento do consumidor. 2. Influências situacionais. 3. Gerência de marketing. I. Título. CDU 658.89.013 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Fernanda Pereira Rose Castilho M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 Sumário Comportamento do Consumidor APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR E A GERÊNCIA DE MARKETING .................................... 13 1.1 Hábitos de consumo ........................................................................................................................... 14 1.1.1 Mente habitual e mente executiva.................................................................................................. 16 1.2 Manutenção do hábito ...................................................................................................................... 17 1.3 Marketing comportamental ............................................................................................................. 17 1.4 Satisfação do consumidor ................................................................................................................ 21 1.5 Gerência de marketing ....................................................................................................................... 21 2 AS TEORIAS DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR .................................................................. 24 2.1 Os modelos científicos e a noção de ser humano .................................................................. 25 2.1.1 O positivismo: visões filosóficas e científicas do século XIX ................................................. 25 2.1.2 Método dialético ..................................................................................................................................... 26 2.1.3 Visão estruturalista ................................................................................................................................ 29 2.1.4 Visão sistêmica ......................................................................................................................................... 30 2.1.5 Visão fenomenológica .......................................................................................................................... 31 2.2 As teorias racionais sobre o comportamento do consumidor ........................................... 31 2.2.1 Teorias econômicas e racionais ......................................................................................................... 31 2.3 Teorias da motivação do comportamento do consumidor ................................................. 34 2.3.1 Teoria de Freud (teoria psicanalítica) .............................................................................................. 34 2.3.2 Teoria de Maslow e o consumo......................................................................................................... 36 2.4 Teorias comportamentais (behavioristas) sobre o consumo .............................................. 38 2.4.1 Fundamentos da teoria de Skinner ................................................................................................. 38 2.4.2 Relações do behaviorismo com o marketing .............................................................................. 38 2.5 Bases das teorias existenciais sobre o comportamento do consumidor ....................... 39 Unidade II 3 O CONSUMIDOR COMO INDIVÍDUO ........................................................................................................ 44 3.1 Percepção ................................................................................................................................................. 44 3.1.1 Percepção subliminar ............................................................................................................................ 46 3.1.2 Princípios da percepção seletiva ....................................................................................................... 47 3.2 Motivação ................................................................................................................................................ 48 3.2.1 Motivação positiva e negativa .......................................................................................................... 49 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 3.2.2 Motivações racionais versus motivações emocionais .............................................................. 50 3.2.3 Dinâmica da motivação ....................................................................................................................... 50 3.2.4 O despertar das motivações ............................................................................................................... 51 3.3 Consumidores e seus ambientes sociais e culturais ............................................................... 52 3.3.1 Classe social e status social ................................................................................................................53 3.3.2 O comportamento do consumidor inserido em um grupo social ...................................... 54 3.3.3 Os traços emocionais ............................................................................................................................ 60 3.4 As atitudes .............................................................................................................................................. 62 3.4.1 As funções das atitudes ....................................................................................................................... 62 3.4.2 A influência da cultura no comportamento do consumidor ................................................ 63 3.4.3 Cultura ......................................................................................................................................................... 63 3.4.4 As subculturas e o comportamento do consumidor ................................................................ 64 3.5 Consumidor internacional ................................................................................................................ 69 4 INFLUÊNCIAS SITUACIONAIS ...................................................................................................................... 69 4.1 O ambiente físico ................................................................................................................................. 71 4.2 O ambiente social ................................................................................................................................. 72 4.3 O tempo.................................................................................................................................................... 72 4.4 Definição de tarefa .............................................................................................................................. 72 4.5 Estados antecedentes ......................................................................................................................... 73 Unidade III 5 PROCESSOS DE INFORMAÇÃO ................................................................................................................... 77 5.1 O que é processamento de informação? .................................................................................... 79 5.2 O estágio de exposição ...................................................................................................................... 80 5.3 O estágio de atenção .......................................................................................................................... 80 5.4 O estágio de compreensão ............................................................................................................... 80 5.5 Envolvimento do consumidor ......................................................................................................... 81 6 PROCESSOS DE TOMADA DE DECISÃO DO CONSUMIDOR ............................................................. 81 6.1 As expectativas do consumidor ...................................................................................................... 82 6.2 Alternativas para escolha do produto ......................................................................................... 84 6.2.1 Aprendizagem do consumidor .......................................................................................................... 84 6.2.2 Memória do consumidor ..................................................................................................................... 87 6.3 Atitudes do consumidor .................................................................................................................... 89 6.3.1 Perspectivas do processo de compra .............................................................................................. 90 6.3.2 Formação de crenças, atitudes e comportamentos .................................................................. 91 Unidade IV 7 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR: PROCESSO DE PÓS-COMPRA ...................................... 98 7.1 A experiência de consumo................................................................................................................ 99 7.1.1 Uso do produto ........................................................................................................................................ 99 7.1.2 O consumo de atuação ......................................................................................................................... 99 7.1.3 Estado de espírito e a experiência de consumo ......................................................................... 99 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 7.2 O desenvolvimento da satisfação e da insatisfação pós-compra ..................................100 7.3 O comportamento de reclamação do consumidor ...............................................................101 7.4 Descarte do produto .........................................................................................................................102 7.5 Fidelidade à marca .............................................................................................................................103 7.5.1 A marca física .........................................................................................................................................104 8 COMUNICAÇÃO E COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ............................................................105 8.1 O remetente ..........................................................................................................................................105 8.2 O destinatário ......................................................................................................................................106 8.3 O meio .....................................................................................................................................................106 8.3.1 O comportamento do consumidor na internet ........................................................................107 8.3.2 O consumidor virtual conforme o modelo de tipologia .......................................................108 8.4 A mensagem .........................................................................................................................................110 8.5 O feedback .............................................................................................................................................111 8.6 O marketing de relacionamento ..................................................................................................111 8.6.1 Medição de satisfação do cliente ...................................................................................................112 9 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 APRESENTAÇÃO O mercado de consumo neste início do século XXI está muito dinâmico e apresenta rápido desenvolvimento. Pensando nisso, para um profissional ou estudante da área alcançar sucesso, ele precisa conhecer as principais influências que o comportamento do consumidor está sofrendo. Estudar, pesquisar e entender o comportamento consumidor de um determinado público é muito importante para alcançar os objetivos almejados de qualquer empresa, isto pode ajudar na compreensão das razões de escolhas por determinadas marcas, em detrimento de outras, além de fornecer, ao profissional de marketing, informações necessárias para formular as estratégias que irão satisfazer as necessidades e vontades de seu mercado-alvo. O conceito de marketing refere-se ao direcionamento do consumidor em todas as decisões dessa área, ou de forma ampliada, em todas as decisões da empresa, as quais visam à satisfação das necessidades e desejos dos consumidores. Desta maneira, compreender o consumidor é uma funçãoessencial do marketing para que ele possa cumprir plenamente seus objetivos no desenvolvimento do mercado de bens, bem como na produção e disponibilização de serviços apropriados e capazes de satisfazer os anseios e desejos dos compradores, contribuindo, assim, efetivamente para o sucesso de qualquer negócio. Entender o comportamento do consumidor não é tarefa fácil, em especial se consideramos a complexidade que envolve o ser humano. Nesse sentido, o presente estudo interliga diversas áreas do conhecimento, a saber: Psicologia, Sociologia, Antropologia, Economia, religião e outras; percebe-se, portanto, que analisar e compreender os diversos fatores que influenciam as pessoas em suas decisões de compra é uma atividade bastante desafiadora para os profissionais de marketing. A escolha do material didático para a elaboração deste livro-texto tem por objetivo oferecer ao aluno, em termos práticos, um estudo atualizado das principais teorias relacionadas ao comportamento do ser humano ligado a seu consumo. Com o objetivo de apresentar um embasamento conceitual, faremos uma exposição das principais teorias sobre o comportamento do consumidor; teremos uma melhor compreensão sobre o consumidor; e saberemos como funciona o processo de decisão na compra do produto. INTRODUÇÃO Quase um bilhão de computadores são ligados todos os dias, e no mundo todo aparece na tela o conhecido ícone do Windows. Mesmo que não tenhamos o sistema operacional da Microsoft, a maioria de nós digita com o Microsoft Word, faz planilhas com o Microsoft Excel e apresentações com o Microsoft PowerPoint. Uma grande parte da população do mundo é usuária dos softwares desenvolvidos por Bill Gates. Bill Gates não foi o inventor de todos os sistemas operacionais originais para os computadores pessoais ou para outros aplicativos de produtividade, mas foi o responsável pela invenção de vários softwares. Os PCs são considerados hoje como equipamentos cruciais para qualquer 10 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 negócio em qualquer parte do planeta. Será essa a razão que faz de Bill Gates um dos homens mais ricos do planeta? A resposta a essa pergunta é a razão de estudarmos o comportamento do consumidor. O sucesso não acontece por ter sido o primeiro produto a ser lançado no mercado ou por criar o melhor ou o mais barato. O sucesso acontece, normalmente, quando a marca se torna uma escolha inconsciente e habitual dos clientes. Quando um profissional de marketing conhece o comportamento de um consumidor e entende o processo de decisão que o leva a finalizar uma compra, compreende como uma marca pode se tornar a escolha habitual de um determinado público-alvo. Mas o que é ser consumidor? Para Karsaklian (2004, p. 11), “ser consumidor é ser humano. Ser consumidor é alimentar-se, vestir-se, divertir-se... é viver”. Segundo a autora, para viver é necessário adquirir bens ou serviços. Já em outra visão, Cobra (1997, p. 59) destaca que “cada consumidor reage de forma diferente sob estímulos iguais, e isso ocorre porque cada um possui uma ‘caixa preta’ diferente”. De acordo com essas definições acerca do que é o consumidor, pode-se afirmar que as pessoas são diferentes umas das outras, porém todas necessitam alimentar-se, vestir-se, divertir-se e até viajar para viver, mas são suas diferenças que irão determinar seus atos de compra e seus comportamentos em relação às outras no mercado de consumo. “Mais do que nunca, compreender o consumidor é reconhecida como uma necessidade vital não apenas para as empresas, mas para toda a organização que se assuma como orientada para o mercado” (DUBOIS, 1998 apud VIEIRA, 2002, p. 2). Assim, pode-se constatar que as ações do comportamento do consumo estão relacionadas com os fatores que levam as pessoas a consumirem, produtos ou serviços, tornando esse hábito essencial à busca de sua própria compreensão. Afinal, o que é o comportamento do consumidor? O estudo do comportamento do consumidor é uma área empolgante, visto que todos nós compramos mercadorias e serviços. Então, vou propor a você, estudante, que aproveite suas experiências diárias no mercado, por exemplo, para compreender na prática as teorias e os conceitos aqui abordados. Comportamento do Consumidor é uma disciplina recente. Foi com o surgimento das teorias de marketing, na década de 1950, que foi reconhecida a necessidade de estudar em profundidade o assunto. 11 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 Nas décadas de 1960, mais precisamente em 1968, através da influência de escritores como Engel, Blackweel e Miniard – que visavam identificar as variáveis que envolvem o consumidor – surgem as pesquisas nesta área como um campo de estudo específico. Schiffman e Kanuk (2000) definem o comportamento do consumidor como conduta esperada na expectativa de atender às necessidades quando se realiza uma compra de produtos, serviços ou ideias. Segundo Solomon (2002, p. 24), o comportamento do consumidor é entendido como o “estudo dos processos envolvidos quando indivíduos ou grupos selecionam, compram, usam ou dispõem de produtos, serviços, ideias ou experiências para satisfazer necessidades e desejos”. No início desta nova década, já percebemos a multiplicação de estudos e debates sobre alguns temas inéditos, tais como a customização em massa, o que implica atender à personalização de um grande número de consumidores; o comportamento do consumidor da internet; a antropologia do consumo; o consumidor consciente, entre outros. Pelo fato de ser um tema bastante complexo, o comportamento do consumidor é uma área que envolve conceitos e ferramentas metodológicas de várias áreas do conhecimento, como comentamos previamente. Nossa proposta de estudo é que cada profissional de marketing se transforme em um teórico consciente, construindo suas próprias análises sobre o comprador/usuário. Não queremos enquadrar de antemão o consumidor e algumas das teorias que iremos estudar, mas aprender a recolher sinais que permitam entender as teorias atuais. A grande questão e o mais importante é prever para onde os clientes estão indo e chegar lá primeiro (KOTLER, 2000, p. 181). Como todos sabemos, um grande centro comercial é o lugar onde, em certa medida, é possível encontrar a mais variada quantidade de produtos ou serviços. A variedade de lojas é enorme, é possível encontrar uma praça de alimentação imensa, uma infinidade de estabelecimentos de eletrodomésticos, calçados, roupas; livrarias, perfumarias, cinemas, teatros e mais uma batelada de outros tipos de lojas e serviços, cujo propósito presume o mesmo ideal: satisfazer toda e qualquer necessidade que o consumidor manifeste. Não é acidental que um shopping center possua ar totalmente climatizado e temperaturas muito agradáveis, o objetivo é fazer com que a pessoa permaneça o maior tempo possível dentro de suas dependências. Considera-se que quanto maior for o tempo de permanência do indivíduo, maior será seu consumo. O que não é nada ruim para os lojistas, não é mesmo? 13 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Unidade I 1 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR E A GERÊNCIA DE MARKETING Antes de começarmos a estudar as teorias do comportamento do consumidor, vamos entender um pouco algumas questões que estão diretamente relacionadas com o processo de compra. Uma das primeiras questões a serem entendidas em relação ao comportamento do consumidor é a motivação. Dificilmente um indivíduo consumirá alguma coisa se não tiver motivação para comprá-la. A motivação leva o ser humano a um objetivo almejado. Esse estímulo pode ser de caráter interno ou externo, como também pode ser de cunho fisiológico, psicológico ou social. O corpo humano é composto de uma grande quantidade de água, que varia entre 70% a 75%, se ficarmos semtomar água por muito tempo, nosso organismo iniciará uma série de reações que nos fará sentir uma vontade incontrolável de saciar a nossa sede, com isso, podemos observar que o comportamento é estimulado ou motivado até que nosso objetivo seja alcançado. Quando se atinge o objetivo, o incômodo ou a vontade é saciada, acaba a tensão que foi produzida em nosso organismo. Neste caso, não há dúvidas que se trata de uma questão fisiológica. Em certos momentos, tenta-se enganar as necessidades com algum subterfúgio. Por exemplo, se uma pessoa está com muito sono, todo seu comportamento se voltará para acabar com ele, ou seja, ela fará de tudo para dormir. Porém, se alguma outra coisa mais interessante motivá-la, como assistir a um filme ou comparecer a uma reunião com amigos, seu comportamento fará com que os sintomas de sono sejam temporariamente esquecidos, ainda que não anulados. A motivação pode ser interna, por exemplo, quando um indivíduo se volta para a realização de fantasias, isto é, este, mesmo sem estar com sede, ao imaginar uma garrafa de refrigerante bem gelado num dia de calor, pode sentir todos os sintomas que a sede provoca, desta vez não porque o organismo necessite de água, mas porque a fantasia ou a imaginação ativou os mecanismos do corpo que fariam sentir os mesmos estímulos. A motivação pode, igualmente, ser provocada pelo ambiente externo, por exemplo, se visualizamos um grupo de amigos reunidos, todos muito contentes, tomando cerveja, esta cena pode provocar os mesmos sintomas de quando se sente a real necessidade de beber água ou ainda de saciar a vontade de tomar uma cerveja com os amigos. Nestes três exemplos, há um formato próprio para a satisfação da sede. Há um anseio que se manifesta de forma física, que leva o indivíduo a uma determinada compra, no caso, de água, refrigerante ou cerveja. São estímulos que se manifestam de forma fisiológica. Grande parte das motivações leva a satisfazer as necessidades dessa ordem: a sede, o sono, a fome ou a proteção do corpo contra o frio ou calor, ou seja, são as consideradas necessidades primárias. 14 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 Unidade I Os estudos de comportamento do consumidor se voltam, em especial, para descobrir as necessidades secundárias. Quer dizer, essa ciência analisa em profundidade não apenas o que se come, bebe ou veste, mas busca entender quais foram os motivos que levaram uma pessoa a escolher um determinado produto em detrimento do outro. Estas são as chamadas necessidades secundárias, que englobam hábitos orientados por normas, princípios ou valores de uma sociedade ou grupo social. Por exemplo, comprar um casaco no frio é uma necessidade básica, entretanto, comprar um cuja marca é famosa no mercado e que custa mais de 20 mil reais é uma necessidade secundária, de cunho psicológico e/ou social. 1.1 Hábitos de consumo Visualizemos a seguinte realidade: uma pessoa acorda, se levanta, toma banho, vai à cozinha, faz um café, se arruma e sai para trabalhar. Pois bem, esta sequência de ações, em certa medida, acontece mecanicamente, diz-se que o “piloto automático” foi ligado, não é mesmo? Estas ações não requerem, em regra, nenhuma reflexão do que está sendo feito. Em contraste, podemos imaginar um intelectual diante de um computador escrevendo um artigo ou uma pessoa jogando uma partida de xadrez bastante complexa por mais de 4 horas. Estas duas últimas atividades requerem alta concentração, diferentemente do primeiro exemplo que ilustramos, em que o indivíduo age automaticamente, sem muita reflexão. Estas são demonstrações de atitudes aprendidas, que normalmente ocorrem lentamente por meio de repetição. Uma vez aprendido, o hábito é ativado por um indutor, associado a um estímulo e a um contexto. Se o telefone toca, você atende. Se alguém estende a mão, você cumprimenta. Quando um hábito é formado, pode ser executado com pouca ou nenhuma intervenção consciente, isto é, as atitudes são realizadas automaticamente. Na verdade, o que qualquer empresa deseja é que seus consumidores comprem seu produto automaticamente, ou seja, levar o produto para casa sem reparar muito o que está comprando e levando para casa, nem fazer nenhuma comparação com outros produtos ou marcas, pois este consumidor está totalmente habituado a consumir aquela marca. Essa automatização é o que mais interessa aos empresários. Por um indivíduo repetir tantas vezes determinada ação (a aquisição de determinada marca), entra no “piloto automático” também no ato da compra. Alguns produtos de marca famosa tradicionalmente representam e podem estar inseridos em um processo de hábito automático. Ao saber que os consumidores podem chegar a automatizar suas compras, os gerentes de produto precisam identificar os elementos que tornarão isso mais fácil. Nesse sentido, ajuda a explicar por que as grandes marcas são tão dominantes. É uma questão de inércia do mercado. Os consumidores compram seguindo uma rotina. Quando os mercados começam a mudar, o que em geral acontece de forma relativamente lenta, levam anos até que líderes de mercado sejam substituídos. 15 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Como já foi dito anteriormente, são hábitos aprendidos lentamente por meio de repetição. Segundo os estudiosos norte-americanos Kotler e Armstrong (2007), os fabricantes de café descobriram que quem consome seu produto em demasia tende a ser altamente sociável. Desta forma, para atrair clientes, o Starbucks e outras cafeterias criaram um ambiente para as pessoas se socializarem entre um café e outro. O grande consumo no Starbucks também se deu por conta da distribuição e quantidade de lojas em todo o Brasil. Segundo o Guia do Profissional de Hotelaria e Restaurantes (GPHR), hoje existem quase cem estabelecimentos em todo o território nacional e mais de 20 mil em todo o mundo, o que, consequentemente, leva o consumidor a adquirir certa confiança na marca, pois a encontra em muitos lugares dentro e fora do País. Saiba mais Para uma interessante pesquisa sobre os fornecedores das áreas de hotelaria, gastronomia e vinhos, acesse o site oficial do Guia do Profissional de Hotelaria e Restaurantes: <http://www.guiagphr.com.br/>. Em certa medida, entrar em uma loja do Starbucks, para alguns consumidores, já se tornou um hábito, sem questionamentos, estas pessoas acreditam que se trata de um lugar apropriado para tomar um café, um lugar que sempre está perto e acessível a muitas pessoas, além de oferecer um serviço personalizado. Estes são alguns dos fatores que contribuíram para que esta marca se tornasse reconhecida pelos frequentadores da loja e até mesmo por pessoas que não têm o mesmo hábito. Figura 1 – Fidelidade fornecedor-cliente. 16 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 Unidade I No livro Hábitos de Consumo: o Comportamento do Consumidor que a Maioria dos Profissionais de Marketing Ignora, de Neale Martin (2009), o autor comenta que apesar de todas as notáveis habilidades de nosso consciente, os neurobiólogos e psicólogos cognitivos sustentam que o inconsciente controla até 95% do comportamento humano. Observação A compra coletiva on-line se tornou um hábito de consumo entre os brasileiros. Durante o ano de 2010, as vendas de bens de consumo por meio da internet tiveram um crescimento de 40%, movimentando um capital de 14,8 bilhões de reais. Os dados foram divulgados pelo relatório da Ebit, empresa especializada em monitorar o comércio eletrônico. 1.1.1 Mente habitual e mente executiva Mente habitual e mente executiva são conceitos abordados no livro de Neale Martin que foi mencionado previamente. Basicamente, a primeira diz respeito ao nosso inconsciente e a segunda sobre a nossa capacidade de racionalização. E como elas atuam? Imagine o trajetofeito de carro todo dia ao trabalho. Quando é feito da mesma maneira, as coisas ficam “automáticas”. Costumamos dizer que nem pensamos no que fazemos. Essa é a mente habitual trabalhando. É ela que comanda os hábitos, sejam eles diários, sejam de consumo, ou ainda os relacionados às nossas emoções. Imaginemos que um dia, durante o trajeto habitual, deparamo-nos com uma obra da prefeitura. Nesse exato momento em que o hábito é rompido devido à necessidade de encontrar uma nova rota de chegada ao trabalho, a mente executiva começa a trabalhar. Isso não significa que a mente habitual se desliga completamente, mas as “energias” são voltadas ao raciocínio, portanto, é hora de parar para pensar na melhor alternativa de chegada. Podemos afirmar que na hora de comprar o processo é o mesmo, tendo em vista, em particular, que vivemos a era das informações, que são inúmeras e as mais variadas possíveis, referem-se a produtos, bens e serviços, envolvendo marcas, qualidade, disponibilidade, excelência, localização e uma série de dados sobre aquele item. Ou seja, sem muitos reconhecerem, os gestores de marketing atuam nos processos decisórios com o objetivo de manter a mente habitual ou a executiva funcionando para que haja maior consumo. Comumente, alguns consumidores fazem suas compras num shopping ou supermercado da mesma forma. A mente habitual está agindo sobre as decisões de compra até que surja um fato novo que exija uma mudança de comportamento. Em geral, marcas tradicionais, como Omo, Nescau e Coca-Cola, são adquiridas de forma automatizada ou até que surja uma oferta de valores que rompa esse paradigma. A oferta pode ser o anúncio de 17 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR melhor preço, uma promoção (ou liquidação), um merchandising ou até mesmo a degustação de um produto que acionará a mente executiva do consumidor. 1.2 Manutenção do hábito Qualquer mudança em um produto, incluindo características, aparência, preço ou canal de distribuição, pode correr o risco de levar um hábito a uma nova análise. Entretanto, não manter o produto atualizado também poderá transformar o comportamento habitual, tendo em vista as comparações que o consumidor poderá fazer em relação à concorrência, bem como um aumento de preços, invariavelmente corre-se o risco de levar o consumidor a uma nova avaliação de suas escolhas na hora de comprar. É preciso permanecer abaixo da faixa de indiferença ou, então, articular com clareza a razão para o aumento de preço. Um ramo de atividade sobre o qual o consumidor tem que fazer muitas pesquisas diz respeito à reserva de um quarto de hotel, dado que pequenos detalhes de disponibilização de serviços no quarto são suficientes para variar consideravelmente o valor de algumas acomodações. Observação A ACNielsen, uma das principais empresas de pesquisa de mercado do País, aponta para dados de pesquisa que mostram que quando um cliente adquire uma mesma marca oito vezes, a probabilidade de que ele a compre pela nona vez é de 97%. 1.3 Marketing comportamental No mundo dos negócios o que permanece constantemente é a intensidade competitiva. Como já mencionamos, os consumidores recebem diariamente uma avalanche de mensagens comerciais referentes a uma imensa quantidade de produtos e/ou serviços. Além disso, há uma constante mutação nos ambientes de canais de distribuição tanto físicos quanto virtuais. Nesse contexto, criar uma vantagem competitiva que se sustente e que permaneça em um ambiente com essas características se tornou cada vez mais difícil, porque todas as empresas lutam pelo mesmo consumidor. O que exige das pessoas envolvidas no ramo uma posição constante naquilo que foi denominado por Neale Martin de mente executiva, tal como estudamos. As empresas, por sua vez, almejam que seus consumidores usem a mente habitual, como já foi discutido, fazendo com que as pessoas ajam automaticamente quando efetuam uma determinada compra, ativando o “piloto automático”, sem fazer nenhum questionamento, de preferência. Processo esse que Neale Martin chama de marketing comportamental. Dessa forma, para formar um hábito, o indivíduo deve repetir três itens de comportamento: descoberta, compra e uso. Vamos analisar cada um deles. 18 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 Unidade I • Descoberta: é propriamente a descoberta do produto em si. Este é o primeiro passo, e é muito importante para começar a criar essa mente habitual nos consumidores. A empresa necessita pensar onde colocar e como distribuir seu produto para que um consumidor tenha maior acesso. Nessa fase inicial a marca ou o produto deverá ter algum apelo que chame a atenção do indivíduo no sentido de levá-lo a comprar. Esse apelo pode ser de ordem emocional, de percepção, de necessidade, de qualidade, de confiabilidade ou de preço. Ou seja, levar o consumidor à compra final. É o marketing que terá que descobrir qual é a melhor forma para envolver o potencial cliente. • Compra: pode-se dizer que a compra é um marco de êxito. Se houver o impacto positivo, a probabilidade de haver uma segunda compra é bastante grande, dado que todas as empresas desejam que o consumidor compre uma primeira vez e, em seguida, crie o hábito de comprar aquele produto. Entretanto, para alguns consumidores, a primeira compra de um determinado produto pode ser suficiente para não fazê-la novamente, ou seja, uma segunda ou terceira vez. Desta maneira, o marketing tem que criar estratégias para fazer com que seu grupo-alvo identifique a necessidade de permanecer adquirindo aquele determinado produto. É esse marco que vai dar procedimento ao que foi denominado de mente habitual. Se o consumidor não gostar do produto esse processo é finalizado. • Uso: está claro que não adianta nada se o consumidor comprar e não usar o produto. Ou seja, além de fazer os clientes automatizarem o processo de compra, as empresas precisam desenvolver hábitos de uso. A conveniência ou a necessidade é parte integral da formação de hábito. Assim, a constância das ações de marketing voltadas para esses três itens – a descoberta, a compra e o uso do produto – é o que irá desenvolver e formar a mente habitual nos consumidores, é a automatização. Se alguma coisa for alterada, entrará em atividade a mente executiva, ou seja, o almejado freguês passará a racionalizar sua compra. Consequentemente, é possível que a sequência de um determinado comportamento seja rompida. Não nos esqueçamos, o marketing precisa descobrir o comportamento do consumidor. Ainda analisando Neale Martin (2009), ele subdivide o marketing comportamental em quatro estágios críticos: contexto, treinamento, reforço e indutor. Quando essas fases se interligam é criada a força do hábito. Contexto O contexto do hábito é o porquê e onde o comportamento pode acontecer. No contexto atual, as pessoas podem ter acesso à música de várias maneiras. Pode ser pela rádio, internet, televisão, pelo celular ou por um tocador móvel. O indivíduo pode ouvir sua música preferida usando apenas um dispositivo ou todos ao longo de seu dia, isso apenas dependerá do contexto. Caso a pessoa esteja trafegando pela cidade em algum transporte público, o mais viável é que venha a utilizar um celular ou um tocador móvel. Entretanto, se ela estiver em um automóvel, poderá ouvir a música por meio do rádio, de seu disk player ou ainda por gravações armazenadas em um pen drive. Ou seja, cada uma dessas escolhas é um hábito que pode ser criado a partir de um contexto. 19 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Portanto, para que os consumidores passassem a ouvir música por meio dos celulares, tanto operadoras de telefonia quanto os fabricantes de celulares necessitaram desenvolver tecnologia para que os usuários pudessemescutá-la usando esse dispositivo. Desta forma, pode-se afirmar que o hábito pode ser criado com objetivo de levar as pessoas a consumirem determinados produtos, o que irá depender dos objetivos das empresas ou do planejamento de marketing. Figura 2 – Dispositivos auditivos: hábito criado a partir de um contexto Treinamento Quando um hábito se estabelece em um determinado contexto, o comportamento deve ser treinado. Isso significa que o comportamento deve ser repetido um número de vezes suficiente para que o uso automático se desenvolva dentro de determinado contexto. Por exemplo, quando surgiram os aparelhos celulares nos anos 1990, as pessoas só os usavam para fazer chamadas via voz ou em casos de eventualidades, inclusive porque os serviços eram muito caros. Nessa época, as pessoas preferiam utilizar os telefones fixos. Posteriormente, foram desenvolvidos outros aplicativos e as pessoas passaram a usar os aparelhos celulares para realizar outras atividades, além da chamada por voz, tais como: enviar ou receber mensagens de texto, fazer fotos ou vídeos, usar a agenda, ouvir música etc. Hoje em dia, muitas pessoas utilizam os celulares para fazer transações bancárias, fazer compras via internet e uma infinidade de outras atividades, isto é, a utilização desses aparelhos é um hábito que está muito presente na vida de milhares pessoas na sociedade atual. 20 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 Unidade I Ou seja, com o passar do tempo, os consumidores foram sendo treinados pouco a pouco a utilizar essa tecnologia, gerando, inclusive, um grande consumo da telefonia móvel. No Brasil existem pessoas que possuem mais de um celular! Outro exemplo é a utilização do aplicativo denominado GPS (Global Positioning System) que já se tornou um hábito bastante comum entre os motoristas, principalmente nas grandes cidades. Entretanto, quando esse aplicativo foi lançado, as pessoas tinham muitos problemas para acessá-lo e reclamavam muito, porém, com a melhoria da navegação, passou-se a fazer uso constante do aplicativo, ou seja, tornou-se um hábito para muitos. Assim, alguns motoristas, antes de sair com o automóvel, ligam seu GPS para verificar as condições de tráfego e os problemas que podem encontrar. Lembrete Um treinamento é um aprendizado que vai acontecendo aos poucos, em certa medida, os hábitos são inseridos cotidianamente. Ao estabelecer um contexto consistente para uso do produto, por meio de reforços, as empresas passam a transferir comportamentos intermitentes para o comportamento habitual. Treinar clientes significa se assegurar de que comportamentos específicos estão sendo reforçados positivamente. Reforço Segundo Martin (2009), depois de adquirido o hábito é necessário o reforço. Normalmente os comportamentos são repetidos porque sofrem reforços, isto é, ocorre um incentivo, o que provoca o comportamento constante, o que pode gerar um hábito. Esse processo tem que ser contínuo, geralmente acontece em nível inconsciente. Alguns itens, no ato da compra, podem ser reforçadores, por exemplo: a forma de comunicação, uma agradável transação comercial ou a forma de serviços amigáveis. Outro reforço pode aparecer em forma oferta ou por meio de um atendimento rápido e eficiente facilitado por algumas empresas. Todos esses pontos podem ser incentivadores para os consumidores se tornarem compradores assíduos, gerando, ainda, o estudado hábito de consumo. Indutores Como a própria palavra diz, induzir a algo. Um indutor, ainda segundo Martin (2009), ativa um hábito, e seu efeito é semelhante à força produzida na primeira peça de um jogo de dominó para que ela siga derrubando as demais. Um indutor pode estar associado a todos os sentidos do ser humano: visão, audição, tato, som ou olfato. Assim, do sentir um aroma até o apalpar para sentir a suavidade ou a aspereza pode ser um grande indutor. Por exemplo: sentir o aroma de uma determinada comida pode induzir o consumidor a querer fazer uma refeição naquele restaurante ou querer comprar algo que supra aquele desejo. Ou ainda comprar um determinado perfume que o recorde de um dado momento. 21 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Desta forma, a introdução de indutores ao comportamento dos consumidores é muito importante na formação dos hábitos, bem como a combinação de estímulos também pode ativar uma resposta, como aromas de um restaurante de fast-food, que influenciam a escolha de um hambúrguer com fritas. Relacionar indutores a comportamentos acelera a formação de hábitos. As mídias tradicionais de comunicação, tais como cinema, rádio, revista, jornal e, em especial, a televisão, podem ser consideradas um recurso que atinge as massas, por meio das propagandas e das novelas, as quais foram, por muito tempo, as responsáveis por passar informações com objetivos de moldar comportamentos dos consumidores e que muitas vezes conseguiram. Porém, com o desenvolvimento das tecnologias e a distribuição indiscriminada de informação pelas mais variadas mídias, a modulação de comportamento vai acontecendo de forma diferente. O consumidor é influenciado de várias formas para moldar suas práticas de compra. Isso ainda ocorre por meio das mídias tradicionais, mas também pela opinião de pessoas que se pronunciam nas redes sociais, pelas vestimentas ou penteados de artistas que se apresentam em shows, ou pela indumentária de um jogador importante de futebol. Todas essas modulações podem ocorrer em âmbito nacional ou internacional e o consumidor poderá ser influenciado para agir da forma como visualizou seu ídolo. 1.4 Satisfação do consumidor Como estudamos até o momento, para entender o comportamento do consumidor, é necessário envolver várias áreas de conhecimento: cultura, sociedade, psicologia e até a religião, a fim de desenvolver uma boa estratégia de marketing. Desta forma, antes de os consumidores comprarem um produto, eles formam uma expectativa. Se o produto não atender às expectativas, o resultado será insatisfatório. Se o produto atender às expectativas, haverá uma reação neutra. Somente quando o produto supera as expectativas é que os níveis de satisfação ficam bastante claros por parte dos consumidores. Assim, os profissionais de marketing que projetam as metas voltadas à satisfação com base em expectativas se deparam com um dilema. É preciso prometer mundos e fundos para conseguir uma venda, no entanto, para produzir satisfação, a empresa deve prometer pouco e entregar muito. 1.5 Gerência de marketing Para entender o gerenciamento de marketing é preciso estudar as cinco áreas de aplicação no conceito do comportamento do consumidor, a saber: posicionamento do produto, análise do ambiente, pesquisa de mercado, estratégia de mix de marketing e segmentação. Posicionamento do produto Um item bastante importante que pode influenciar o consumidor é a posição que o produto ocupa no mercado. Se ocupar uma posição privilegiada chamará mais atenção e o inverso também é verdadeiro. 22 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 Unidade I É o ato de fazer o projeto da oferta e imagem da empresa de forma que ela ocupe uma posição competitiva significativa e distrital nas mentes dos clientes-alvo (KOTLER, 2000, p. 321). É importante considerar que o posicionamento pode ser aplicado a qualquer um desses níveis: empresa; produto/ serviço; ou marcas (por exemplo, Coca-Cola versus Pepsi). Ainda falando em posicionamento, outro item que pode ser destacado é o desenvolvimento do produto em si, quanto mais modernizado e atualizado, mais atraídos se sentirão os consumidores. Sendo assim, características específicas podem diferenciar um determinado produto com relação ao de seus concorrentes. Por meio do posicionamento do produto, uma empresa influencia o modo como os consumidorespercebem as características de uma marca, desta maneira os compradores podem identificar, avaliar e memorizar as marcas como também fazer associações com o nome da empresa. Podemos citar, a título de exemplo, a marca Coca-Cola, que desde o final de 2016 até meados de 2017 vem mostrando uma variedade bastante grande de sabores do refrigerante Coca-Cola. Em seus comerciais apresenta coca light, coca zero, a tradicional, a com o adoçante stevia e a com 50% menos açúcares. Uma marca líder de mercado com direcionamento para todos os públicos, ou seja, posicionamento bem definido. Análise do ambiente Para implantar um plano de marketing, primeiramente deve ser feita uma análise ambiental importando os conceitos e ferramentas do planejamento estratégico, esta fase tem como objetivo conhecer o ambiente em que está a organização, mapeando as ameaças e as oportunidades que podem ser vislumbradas no mercado, bem como fazer uma análise dos pontos fortes e fracos da empresa diante das realidades detectadas. A análise ambiental é composta de diversas etapas. A análise do macroambiente, que envolve variáveis incontroláveis, tais como a política, a economia ou a cultura do país; e a análise do microambiente, que envolve variáveis controláveis, como fornecedores, consumidores ou concorrentes. O principal objetivo para fazer esta análise é detectar e prever futuras mudanças que possam ocorrer e de que maneira isto pode influenciar o consumidor. Pesquisa de mercado Segundo Kotler e Armstrong (2007, p. 87), “a pesquisa é o planejamento, coleta, análise e apresentação sistemática de dados e descobertas relevantes sobre uma situação específica de marketing enfrentada por uma empresa”. A pesquisa de mercado é um conjunto de ações, propostas para encontrar a solução para um determinado problema, que têm por base procedimentos racionais e sistemáticos. A pesquisa é realizada quando se tem um problema e não se tem informações para solucioná-lo. Por exemplo, quais são as razões que levam um consumidor a comprar uma marca e não outra. É uma ferramenta para tornar as decisões a respeito do mix de marketing mais seguras. 23 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR A pesquisa de mercado é feita com o objetivo de fornecer informações sobre fatores que influenciam a aquisição, o consumo de determinados produtos, serviços ou ideias. A pesquisa de mercado faz-se necessária para se medir as tendências motivacionais dominantes no mercado-alvo. Estratégia de mix de marketing A estratégia de mix de marketing é a coordenação das atividades de marketing que abrangem desenvolvimento, promoção, formação de preço e distribuição de produto. A partir da determinação do conhecimento e do nível de envolvimento do público-alvo, os profissionais de marketing terão em mãos informações importantes, por exemplo, para decidir quanto ao design do produto e à criação de mensagens promocionais. Segmentação É a divisão do mercado em subconjuntos distintos de clientes com vontades e necessidades semelhantes. Cada subconjunto deverá ser atingido por um mix de marketing diferente. O nível de conhecimento dos consumidores pode ser usado como uma importante variável de segmentação. Ou seja, mensagens diferentes e até mesmo produtos diferentes podem ser dirigidos a consumidores com níveis de conhecimento distintos. Se tomarmos como exemplo os relógios de pulso, é possível fazer a segmentação de diversas formas, em especial, com relação a relógios de marca reconhecida mundialmente ou aplicativos que o relógio possa ter. O potencial total de mercado para relógios de pulso cresceu quando as empresas identificaram necessidades e vontades específicas dos consumidores deste produto, a saber: esportivos, casuais, clássicos, de bolso, a prova d’água ou conectados à internet. Se fosse oferecido apenas um tipo de relógio para todos os tipos de mercados, as vendas totais seriam muito inferiores do que são atualmente. Com o desenvolvimento de relógios para segmentos específicos, o número total e a variedade de relógios vendidos aumentaram tanto em âmbito nacional como internacional. Para uma empresa ser competitiva na atualidade, ela precisa pensar de modo global, mesmo que atue de forma local, ou seja, ela necessita pensar global e agir localmente. Isso significa adaptar seus produtos ou serviços em níveis locais e talvez com especificações dos mercados mundiais. Assim, com o crescimento do mercado e-commerce (virtual) é fácil para uma empresa regional se tornar global. Atualmente, muitas empresas no mundo disponibilizam seus sites em inglês, mesmo que no país de origem não se fale esse idioma, entretanto o mercado virtual amplia as possibilidades de vendas no amplo mercado que é a web. Por fim, é importante o profissional de marketing lembrar também que antes da década de 1960 se acreditava que o objetivo principal de uma empresa era obter lucro econômico. Entretanto, esse pensamento começou a mudar à medida que mudaram os valores sociais. Hoje, 95% das empresas, principalmente as multinacionais, acreditam que, além de gerar lucros, as organizações têm responsabilidades para com os funcionários e a comunidade. 24 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 Unidade I Muitas empresas empregam energia, tempo e dinheiro para demonstrar que agem com responsabilidade social, o que quer dizer que elas têm por obrigação ajudar a comunidade na qual estão inseridas. Muitos projetos são arquitetados visando melhorar o meio ambiente ou a conscientização dos colaboradores com relação a essas questões. Nesse sentido, algumas empresas oferecem à sociedade alguns de seus recursos com o objetivo de ajudar o próximo. Para concluir, vários argumentos apoiam a noção de que desenvolver uma imagem positiva em termos de responsabilidade social é importante para as organizações. Saiba mais Para saber mais sobre os hábitos de consumo, leia: MARTIN, N. Hábitos de consumo: o comportamento do consumidor que a maioria dos profissionais de marketing ignora. São Paulo: Elsevier, 2009. 2 AS TEORIAS DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Como já falamos anteriormente, o comportamento do consumidor é um tema que envolve várias áreas do conhecimento, como: psicologia, economia, sociologia, antropologia cultural, comunicação, história, política, entre outras. Existem algumas correntes de pensamentos que fundamentam a ciência e dão suporte ao estudo do consumidor. Vamos estudar agora algumas dessas correntes, conhecidas como: método positivista, método dialético, visão estruturalista, visão sistêmica e visão fenomenológica. Essas correntes de pensamentos fornecem as bases para diferentes teorias gerais da psicologia e sociologia, as quais acabaram gerando diferentes estudos sobre o comportamento do consumidor. Serão apresentadas: teorias racionais, de motivação e existenciais sobre o comportamento do consumidor. Lembrete A corrente de pensamento pode ser entendida como laços que se constroem para criar e propagar ideias novas. 25 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 2.1 Os modelos científicos e a noção de ser humano Quando falamos de modelos científicos, significa que iremos aprender sobre algumas correntes de pensamento que fundamentam as ciências e dão suporte ao estudo do consumidor. 2.1.1 O positivismo: visões filosóficas e científicas do século XIX O positivismo é uma visão filosófica e científica que se inicia no século XIX com Auguste Comte. Para este filósofo, era uma doutrina de características voltadas à sociologia, filosofia e política que surgiu com o desenvolvimento do movimento iluminista, das crises sociais e morais do fim da Idade Média, e com o aparecimento da sociedade industrial, que igualmente foi marcada pelas ideias defendidas pela Revolução Francesa.O positivismo de Comte consistia na observação dos fenômenos, opondo-se ao racionalismo e idealismo, através da promoção do primado da experiência sensível. A doutrina negava à ciência qualquer possibilidade de investigação das causas dos fenômenos naturais e sociais, pois considerava esse tipo de pesquisa inacessível e sem utilidade, era mais válido voltar-se ao estudo e à descoberta das leis. A visão positivista sofreu com a falta de apoio da sociedade científica, principalmente por pregar que a teologia e a metafísica não deveriam ser consideradas ciências dignas de estudo. O positivismo de Comte defendia a Lei dos Três Estados, que afirmava que o homem passou por três estágios em suas concepções, sendo eles: • Teológico: dizia que o homem explicava sua realidade por meios sobrenaturais, procura responder questões como “de onde viemos?” e “para onde vamos?”. É o estágio em que a imaginação se sobrepõe à razão. • Metafísico ou abstrato: é um período em que o homem procura o abstrato para responder as suas questões. • Positivo: última e definitiva etapa. Não se buscava mais o porquê das coisas, mas o como as coisas aconteciam. A imaginação é subordinada à observação e se busca somente o visível e concreto. 2.1.1.1 Ideias empiristas Já segundo a concepção da escola inglesa de ideias empiristas, representada por Bacon, Locke, Mill e Hume – filósofos que influenciaram no desenvolvimento das concepções positivistas – afirma- se que apenas é científico o que é empírico, isto é, aquilo que obedece aos critérios de observação, mensuração, previsão e repetição. Tudo que é científico deve de ser controlado e experimentado. Ao trazermos essa teoria ao nosso presente estudo, o comportamento de consumo deve ser analisado por meio de fenômenos observáveis. 26 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 Unidade I Vamos a uma análise mais compreensível. A ideologia empirista requer a experiência, que, por sua vez, tem como princípio a indução. Primeiro, vamos compreender sobre a questão da indução. É um princípio lógico segundo o qual se deve partir das partes para o todo, ou seja, ao fazer uma pesquisa, devem-se coletar casos particulares e, posteriormente, generalizar, chegando-se à conclusão que em situações repetidas o resultado será o mesmo. Dessa maneira, pode-se afirmar, através de estudos e observações por parte dos estudiosos do mercado consumidor, que alguns supermercados expõem seus produtos de forma estratégica com objetivo de fazer com que o público-alvo compre o produto, isto é, seja induzido ao consumo. Um exemplo clássico é a disposição estratégica em prateleiras mais baixas de produtos voltados ao público infantil, o qual é de fácil convencimento. Essa disposição não é aleatória, mas bastante estudada; assim, não seria vantajoso que esses produtos fossem dispostos em prateleiras mais altas. Igualmente, não é por acaso que os supermercados colocam alimentos frescos e recém-saídos do forno logo na entrada do estabelecimento. Após muita observação e experimentação, chegou-se à conclusão que dispor um alimento como um frango assado ou outros produtos de rotisserie, como pães e tortas, à frente da loja seria algo muito atraente, dado que o cheiro do alimento atrai o consumidor, sobretudo aquele que vai comprar com fome. Geralmente, o indivíduo não tem somente vontade de comprar esses alimentos, como também a fome irá aumentar seu desejo e, obviamente, o fará comprar o produto. Esse modelo é amplamente utilizado nos estudos de comportamento do consumidor, seja no âmbito acadêmico, seja no profissional, porque ele apresenta soluções de controle e previsão de nosso próprio comportamento e, consequentemente, de nossa postura com relação à compra. Uma reflexão que propomos é: podemos criar previsões sobre o comportamento humano voltado para o consumo? 2.1.2 Método dialético Outra corrente importante que aparece para alicerçar as ciências humanas é composta pelos estudos dos sociólogos Marx, Engels e Hegel, conhecidos como estudos dialéticos. Cada um desses filósofos vai estudar a dialética por uma dada vertente. A dialética marxista é um método de análise da realidade, que vai do concreto ao abstrato e que oferece um papel fundamental para o processo de abstração. Friedrich Engels escreveu um livro intitulado A Dialética da Natureza (1883); já Hegel concebe a dialética como sendo formada por leis. A dialética é um método de diálogo cujo foco é a contraposição e a contradição de ideias que levam a outras ideias, ela tem sido tema central na filosofia ocidental e oriental desde os tempos antigos. A tradução literal de dialética significa “caminho entre as ideias”. Segundo os mencionados sociólogos, o método dialético tem como objetivo de investigação a formação social e não o ser humano de forma isolada, considerando que faz parte do comportamento humano ter condições objetivas e subjetivas, em um processo de tese e antítese. Essas condições se entrelaçam na história, por isso a dialética é basicamente historicista. 27 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR A tese é uma afirmação ou situação inicialmente dada. A antítese é uma oposição à tese. Do conflito entre tese e antítese surge a síntese, que é uma situação nova que carrega dentro de si elementos resultantes desse embate. A síntese, então, torna-se uma nova tese, que contrasta com uma nova antítese, gerando uma nova síntese, em um processo em cadeia infinito. Como sua condição básica é a historicidade, e sua principal suposição é o conflito, a oposição, no movimento eterno de tese-antítese-síntese, faz do método dialético um parceiro perfeito para o estudo do comportamento humano. Para Giglio (2005, p. 12), “a síntese é, na verdade, uma nova tese que realimenta o processo; a antítese é a alma da dialética, pois nela se encontram as condições de mudança”. O método dialético possui várias definições, tal como a hegeliana, a marxista, entre outras. Para alguns, ele consiste em um modo esquemático de explicação da realidade que se baseia em oposições e em choques entre situações diversas ou opostas. Por exemplo, uma discussão entre marido e mulher: existe a tese do marido, a antítese da mulher e a síntese do casal. Ou seja, a conclusão que se chega após um acordo. Daí surge uma nova tese que se conclui da discussão. O modo dialético busca elementos conflitantes entre dois ou mais fatos para explicar uma nova situação decorrente desse conflito. De acordo com o método dialético, o condicionamento da realidade social é um ponto importante. A realidade seria formada pelas condições que o ser humano cria, portanto, podem ser modificadas e, de certa forma, controladas e previstas, afirma Giglio (2005). Temos as condições objetivas, das quais o sujeito não tem controle, e as subjetivas, que podem ser controladas. Pode-se afirmar que, mais discreta que o positivismo e empirismo, a postura dialética tem originado raciocínios na área de consumo, principalmente na época atual, em que se torna evidente a degradação ambiental causada pela utilização e pelo consumo desenfreado dos recursos naturais. Essa incoerência, entre produção e consumo, leva-nos à conclusão que quanto mais o ser humano busca felicidade e qualidade de vida, menos parece obtê-la. Assim, existe uma emergência do marketing social, dos estudos sobre consumismo e dos movimentos de consciência conhecidos como consumerismo, os quais apontam para essa direção. 2.1.2.1 Consumismo Uma explicação ou definição para a palavra consumismo está associada a variáveis psicológicas (ou psicográficas), de acordo com a Psicologia, que podem abarcar desde um comportamento fútil relacionado ao estilo de vida até doenças graves como a falta de controle (compulsão, TOC etc.). Alguns filmes, como o clássico As Patricinhas de Beverly Hills (1995) – alusão à expressão que se tornousinônimo de moça rica e fútil –, mostram claramente essa futilidade no estilo de vida, associada ao consumismo desnecessário, como enviar mensagens pelo celular a uma pessoa que está ao seu lado. Exageros à parte, a teoria do consumismo examina a falta de controle de algumas pessoas ao adquirir produtos e/ou serviços, encontrando corpus em reportagens, estudos e pesquisas que 28 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 Unidade I mostram pessoas que adquirem coleções de sapatos, roupas e acessórios quando não têm a real necessidade dessas aquisições. Muitas dessas pessoas nem sequer usam os produtos adquiridos, e para agravar o caso, muitas delas têm consciência de seu comportamento, mas alegam não terem controle sobre seus atos. 2.1.2.2 Consumerismo A palavra consumerismo refere-se a todas as ações de indivíduos ou grupos buscando desenvolver a consciência sobre os males do consumismo. Na internet, basta digitar a palavra consumerismo para encontrar várias páginas sobre os mais diversos assuntos, desde o mais óbvio, como associações de proteção aos alcoólatras, até os menos evidentes, como páginas sobre os males do protetor solar. Ao pesquisar pela web, notamos que o termo consumerismo aparece com dois significados diferentes. Alguns o utilizam como sinônimo de consumismo, sendo possível encontrar títulos como “Chega de consumerismo”; outros o apresentam como foi aqui definido: como a tomada de consciência sobre o consumismo. Portanto, para os objetivos de nosso presente estudo, adotaremos que consumerismo é o oposto de consumismo. Entretanto, algumas propagandas utilizam explicitamente suas mensagens com o intuito de estimular diferenças sociais. É uma comunicação que normalmente trabalha as condições objetivas e subjetivas dos indivíduos, levando as pessoas a consumirem produtos sem necessidade, pois articula com o aspecto psicológico. Alguns dos produtos que mais exercem o efeito de convencimento são os automóveis, produtos de marcas e outros produtos caros. Figura 3 – Carro conversível: o produto e seu poder de convencimento 29 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 2.1.3 Visão estruturalista O estruturalismo é a corrente de pensamento nas ciências humanas que se inspirou no modelo da linguística e apreende a realidade social como um conjunto formal de relações. A abordagem estruturalista se tornou um dos métodos mais extensamente utilizados para analisar a língua, a cultura, a filosofia da matemática e a sociedade na segunda metade do século XX. A visão estruturalista tem em Lévi-Strauss um de seus fundadores. Para o pensador, o homem é essencialmente criador de linguagens que lhe permitem dominar todas as estruturas sociais. 2.1.3.1 Modelo estrutural‑funcionalismo O teórico inglês Radcliffe-Brown fundou a abordagem teórica antropológica chamada estrutural-funcionalismo. Essa teoria parte da crítica ao método evolucionista por entender que as organizações sociais do presente existem por serem funcionais às necessidades da sociedade atual, e não por serem remanescentes de um passado em que ela se originou. O estrutural-funcionalismo tem a antropologia social como uma ciência que deve ser desenvolvida nos moldes das ciências naturais, pois defende que a sociedade funcionava de acordo com leis que podiam ser identificadas. Para essa abordagem, cada sociedade estudada era considerada como um todo, como um organismo cujas partes eram integradas e funcionavam de um modo mecânico a fim de manter a estabilidade social. Buscavam-se princípios em comum entre as estruturas sociais para compreender a função que aqueles elementos em comum exerciam para a manutenção e coesão da sociedade. Assim, para a sociedade funcionar é necessário que tudo seja regulado. E uma estrutura depende da outra. Podemos dizer que, quando pensamos na visão dos estruturalistas dentro do conceito de globalização, e no que concerne ao consumidor, os desejos e as expectativas são praticamente os mesmos em todo o mundo, o que altera é somente a forma de expressão em cada sociedade. Oyakawa (1994) afirma que com a globalização o consumidor está desejando para além da variedade de consumo, ou da busca da moda, das viagens, do novo, do inusitado e do prazer do corpo. O que se observa é a luta pela diferenciação que caracteriza as sociedades econômicas modernas. Essa estrutura dá sentido ao consumo, pois, segundo o autor, estamos diante do velho desejo de distinção heroica, que é o pano de fundo pelo qual as mercadorias são desejadas e lançadas ao seu universo simbólico específico. Nas mensagens publicitárias tem surgido uma valorização da teoria do inconsciente coletivo, teoria criada pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung. “O inconsciente coletivo indica diretamente a psique universal, grande parte da qual não pode nem mesmo tornar-se consciente” (JUNG apud FROMM, 1979, p. 109), que tem matrizes estruturais claras. Temos visto exemplos do uso de símbolos universais, tais 30 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 Unidade I como super-homens e o círculo perfeito (especialmente uma empresa multinacional de calçados, e da área esportiva, tem utilizado esse recurso das imagens universais). 2.1.4 Visão sistêmica O pensador Talcott Parsons (1951), um estudioso voltado para as investigações da Sociologia, considera a sociedade como um grande organismo, por isso a ideia de sistema. Nesse sentido, Parsons entende que tudo na sociedade funciona por meio de sistemas e subsistemas; é a mesma ideia de que uma parte depende da outra. A preocupação do teórico com relação à sociedade sistêmica é que os indivíduos são partes ou peças dessa grande engrenagem social. Desse modo, a sociedade, para Parsons, é um sistema estruturado baseado em quatro subsistemas: cultural, social, econômico e político. Na opinião de Parsons, os sistemas sociais agem sobre o indivíduo. Nesse sentido, ele considera que, embora os indivíduos tenham ações, estas só acontecem em função dos sistemas. Tal pensamento foi importante para o desenvolvimento da sociedade industrial, uma vez que nessa sociedade esperava-se que as pessoas seguissem atentamente as regras e as normas estabelecidas pela lógica do sistema capitalista. Nesse caso, cabe a todos somente seguir o curso da realidade instituída pelo mercado. Parsons não deixa de considerar as necessidades e os valores individuais, mas percebe que somente a partir do sistema é que os indivíduos encontrão respostas para os seus anseios. Esse teórico também considera os seguintes componentes estruturais para o funcionamento da sociedade: os papéis, as coletividades, as normas e os valores. Compreende também que os objetos que constituem as diferentes situações da ação humana são classificados em: sociais, físicos e culturais. A teoria sistêmica tem sua importância, conforme foi visto, para entender um pouco como são os sistemas da sociedade. A crítica que se faz ao modelo sistêmico de Parsons é quanto à postura excessivamente positivista, o modo que define o indivíduo – aparentemente o observa apenas como uma peça do sistema – como se este não fosse capaz de criar, problematizar e transformar. Para utilizarmos a visão sistêmica na explicação do comportamento de consumo, temos que compreender todos os mecanismos que levam uma pessoa a comprar, ou seja, todo o processo de compra, o modo de organização dos elementos participantes (o comprador, o usuário e o vendedor) e as regras do sistema (prazos de entrega, de pagamento etc.). São raras as teorias sobre o comportamento de consumo que desenvolvem uma visão sistêmica, parte da explicação do fato talvez resida na complexidade da tarefa. 31 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 2.1.5Visão fenomenológica Edmund Husserl (1859-1938) – filósofo, matemático e lógico – é o fundador da fenomenologia como método de investigação filosófica, e estabeleceu os principais conceitos e métodos que seriam amplamente usados pelos filósofos dessa tradição. Uma dura crítica ao positivismo, ao historicismo e ao estruturalismo foi realizada por Husserl em seu livro A filosofia como ciência do rigor (1975). Fenomenologia (do grego phainesthai – aquilo que se apresenta ou que se mostra – e logos – explicação, estudo) afirma a importância dos fenômenos da consciência, os quais devem ser estudados em si mesmos – tudo que podemos saber do mundo resume-se a esses fenômenos, a esses objetos ideais que existem na mente, cada um designado por uma palavra que representa a sua essência, sua significação. Dos escritos de Husserl, surgiram um método (o fenomenológico) e uma teoria (existencialista – que ainda não gerou teorias sobre o comportamento do consumidor) sobre o comportamento humano. Segundo tal teoria, o comportamento é imprevisível, embora seja compreendido e descrito dentro de alguns parâmetros mais amplos. Segundo Keen (1979, p. 84), o comportamento humano deriva basicamente dos horizontes do corpo, das ideias, das relações com os outros, com os objetos e a natureza, com o tempo e com o simbólico. 2.2 As teorias racionais sobre o comportamento do consumidor A respeito das teorias racionais, podemos dizer que foram os primeiros estudos voltados para o comportamento do consumidor, e surgem no período das duas grandes Guerras Mundiais. Nestas teorias os questionamentos estão concentrados apenas na área econômica, mesmo porque o marketing vai surgir, como já foi dito, nos anos 1950. Assim, essas teorias somente se preocupam e analisam a questão financeira do indivíduo. Problemas sentimentais ou os afetos humanos são secundários, logo, para esses estudiosos, somente seria possível analisar e controlar o comportamento do consumidor no que se referia à parte financeira. Uma das teorias racionais mais conhecidas sobre o comportamento de consumo está voltada para a economia. 2.2.1 Teorias econômicas e racionais Segundo essa visão, o consumo é ditado por escolhas racionais sobre a disponibilidade dos produtos e dos recursos necessários para obtê-los. Essa teoria se baseia no comportamento do consumidor apoiada na racionalidade econômica, isto é, o quanto o indivíduo possui de dinheiro. Neste caso, as escolhas são pautadas pela busca do maior benefício ao menor custo possível. O fator renda é o único item estudado na teoria. Pesquisas demonstram uma relação direta entre a renda das famílias e o consumo de certas categorias de produtos. É a lógica de que quem ganha mais compra produtos mais sofisticados. E quem ganha menos compra produtos mais baratos. Nesse sentido, conforme a renda aumenta, consome-se muito mais os chamados produtos supérfluos. 32 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 Unidade I As teorias racionais e econômicas sobre o comportamento do consumidor têm uma ampla aceitação em função de sua simplicidade teórica, de suas facilidades metodológicas, de seu apoio nos relatos dos consumidores e de suas consequências práticas, criando medidas e previsões de comportamento. Figura 4 – As teorias racionais se pautam em aspectos econômicos As críticas, porém, não são poucas; uma delas refere-se ao fato de que essas teorias utilizam amostras que permitem generalização. Bastante simples: quem possui capital compra, quem não possui, não compra. Outra crítica refere-se à porcentagem de pessoas que realmente são tão racionais e conscientes de suas necessidades e dos caminhos que seguem até chegar a comprar ou não. Que existem pessoas que se utilizam dessa racionalidade existem, mas em que categoria de compra este indivíduo aplica essa lógica? Para descobrir isso seria necessário fazer uma pesquisa em profundidade para chegar a essas conclusões. Para esse tipo de público, o gerente de marketing tem que traçar um plano com o objetivo de atingi-lo e levá-lo a comprar. Observação Mais de um bilhão de pessoas ao redor do mundo sobrevivem com uma renda de um dólar por dia. Esse tipo de público, certamente, apenas se preocupa com o suprir das necessidades mais básicas: alimentação, hidratação e repouso. Os produtos considerados supérfluos ficam em segundo plano. 2.2.1.1 Teoria do valor esperado Uma das teorias mais simples dentro do modelo econômico é a chamada teoria do valor esperado. Ou seja, após o consumidor ter definido o produto que será adquirido, ele irá considerar todas as alternativas financeiras, físicas e sociais. A pessoa irá buscar todas as informações sobre os gastos, sobre os esforços para comprar o produto até seu uso (por exemplo, a distância das lojas até sua casa) e os esforços que implicam a compra (fazer um crediário ou usar o cartão de crédito e os juros recorrentes). Assim, o consumidor constrói uma árvore de decisão para escolher a melhor opção pensando somente no aspecto financeiro. 33 M KT - R ev isã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 1 9/ 07 /2 01 7 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 2.2.1.2 Teoria do processo de diminuição de incertezas Ainda no campo das escolhas racionais, mas não de forma tão reducionista quanto na abordagem anterior, encontramos autores como Olivier Mongin, que afirma haver, em muitas situações, a possibilidade de não obter o preço final exato de um produto ou de um serviço (MONGIN, 2009, p. 230). Por exemplo, no caso da contratação de uma consultoria, em que não se sabe exatamente quanto tempo irá durar e quanto será seu preço final (o orçamento pode sofrer variações). Nesse caso, a teoria anterior (do valor esperado) não é aplicável, pois não há o preço final. Nesta situação, os processos lógicos da conduta humana irão guiar os passos decisórios, isto é, quando o consumidor tenta diminuir as dúvidas e as incertezas sobre o resultado final. Outro exemplo, vamos supor que um aluno deva escolher entre duas universidades para as quais foi aprovado. No modelo simples das teorias econômicas e racionais, o raciocínio seria apenas comparar as mensalidades e decidir pelo menor custo. Já na teoria do processo de diminuição de incertezas, é necessário fazer um comparativo entre vários itens, tais como: os custos de transporte, livros, refeições, moradia, material escolar, inflação por ano para analisar quanto irão aumentar as mensalidades, ou seja, fazer todo um processo de levantamento de dados com relação aos gastos no período em que cursar a faculdade e não um simples comparativo entre as mensalidades de uma faculdade e outra. Nessa teoria, portanto, buscar-se-á esclarecer os passos racionais que guiarão o consumidor na tomada de decisão, diminuindo as incertezas. 2.2.1.3 Teorias psicoeconômicas que admitem influências econômicas As duas linhas teóricas analisadas anteriormente valorizam a racionalidade do consumidor e sua maior preocupação é a questão econômica ou financeira. A psicoeconômica segue a linha de teorias econômicas, entretanto, considera imprescindível a relação dos processos racionais com os aspectos macros e microeconômicos que cercam a pessoa. É uma abordagem mais complexa, que incorpora o meio social, com suas regras e seus valores, e o meio econômico como variáveis causais no processo racional do consumidor. Nesse caso, o consumo não é uma mera questão do valor envolvido, nem um processo puramente racional, mas que envolve situações externas à pessoa que pressionam e até mesmo condicionam seu raciocínio. Por exemplo, na década de 1990, na cidade de São Paulo, houve um aumento muito grande de construção de flats: um edifício que funciona até hoje como uma espécie de hotel. No contexto comercial, o dono pode utilizá-lo em seu benefício como moradia ou alugá-lo para terceiros. Normalmente, aluga-se o flat e se recebe uma quantia correspondente à taxa de ocupação de todo
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