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As principais escolas teóricas: BEHAVIORISMO Nos Estados Unidos no final do século XIX, dois pontos de vista se mostravam fortes na psicologia: o funcionalismo de William James e o estruturalismo de Edward Titchener. As principais universidades de psicologia dos Estados Unidos nessa época eram Cornell e Harvard, onde ensinavam, respectivamente, Titchener e James. Apesar de as propostas de ambos serem conceitualmente diferente, elas se aproximavam em um aspecto: consideravam a consciência como o objeto de estudo da psicologia. Os estudos de Thorndike (da Escola Funcionalista de Columbia) foram de grande influencia para os pensadores da psicologia, principalmente os estadunidenses, na área de educação. Segundo o autor, “assim como a ciência e a agricultura dependem da química e da botânica, a educação depende da psicologia e da filosofia”. O “manifesto behaviorista” e os primórdios de uma ciência do comportamento “O que precisamos fazer é começar a trabalhar na psicologia fazendo do comportamento, e não da consciência, o ponto objetivo do nosso ataque.” O ano de 1913 foi marcado por uma declaração de guerra, uma ruptura intencional com essas duas posições. O movimento de protesto iniciado tinha a intenção de destruir antigos pontos de vista. Seus líderes não desejavam modificar o passado e, menos ainda, manter alguma relação com ele. Esse movimento revolucionário chamava-se behaviorismo (do inglês behavior – comportamento), e foi promovido pelo psicólogo John B. Watson, de 35 anos. As premissas básicas do behaviorismo de Watson eram simples: - A psicologia de Watson buscava uma base científica que lidasse exclusivamente com os atos comportamentais observáveis e passíveis de descrição objetiva - Esta psicologia rejeitava qualquer termo ou conceito mentalista - Palavras como “imagem”, “sensação”, “mente” e “consciência” — adotadas desde a época da filosofia mentalista — não significavam absolutamente nada para a ciência do comportamento, do ponto de vista de Watson. Além disso, alegava que ninguém jamais “havia visto, tocado, cheirado, experimentado ou transferido de um lugar a outro a consciência. A sua definição não passa de mera suposição tão improvável quanto o conceito de alma” Influência para a psicologia behaviorista Positivismo – Auguste Comte: A visão positiva dos fatos abandona a consideração das causas dos fenômenos (procedimento teológico ou metafísico) e torna-se pesquisa de suas leis, entendidos como relações constantes entre fenômenos observáveis O único conhecimento válido é o de natureza social e observável de forma objetiva. Psicologia Funcional: Outro antecedente direto do behaviorismo foi o funcionalismo. Embora não fosse uma escola de pensamento totalmente objetiva, a psicologia funcional na época de Watson apresentava mais objetividade que suas predecessoras. Os psicólogos aplicados não viam muita utilidade na introspecção e na consciência, e suas diversas áreas de especialização constituíam essencialmente uma psicologia funcionalista objetiva. Mecanicismo - Descartes: Explicações mecanicistas para o funcionamento do corpo humano. Psicologia animal: O behaviorismo é o resultado direto dos estudos do comportamento animal. Duas grandes influencias da psicologia animal: Edward Lee Thorndike (1874-1949) - Psicólogo funcionalista da Columbia University Em uma série de experimentos, Thorndike colocava um gato faminto na caixa feita de ripas de madeira e deixava a comida do lado de fora da caixa, como um prêmio por ele conseguir escapar. O gato tinha de puxar uma alavanca ou uma corrente para afrouxar o trinco e conseguir abrir a porta. No início, o gato exibia comportamentos aleatórios, como empurrar, farejar e arranhar com as patas, tentando alcançar a comida; por fim, por tentativa e erro, acabava executando o comportamento correto, destrancando a porta. Na primeira tentativa, esse comportamento ocorria sem querer; nas tentativas subsequentes, os comportamentos aleatórios mostravam‐se menos frequentes, até que a aprendizagem fosse completa. Então, o gato passava a demonstrar o comportamento apropriado assim que era colocado na caixa. Lei do efeito: os atos que produzem satisfação em determinada situação tornam‐se associados a ela; quando a situação ocorre novamente, os atos tendem a se repetir. Lei do exercício: quanto mais um ato (ou resposta) é realizado em uma dada situação, mais forte se torna a associação entre ato e situação. Ivan Petrovich Pavlov (1849 – 1936) - Fisiologista Russo Experimento - colocava-se o sujeito experimental (em geral, cães) sobre uma mesa, preso por correias, dentro de uma sala com isolamento acústico e isenta de estimulação visual externa. Através de uma fístula feita na parte inferior do focinho do animal, introduzia-se um encanamento emborrachado que era ligado às glândulas salivares. Com este encanamento era possível aferir com precisão a quantidade de saliva secretada. Os experimentos iniciais consistiam na apresentação ao cão de um pedaço de pão que logo em seguida era dado ao animal para que o comesse. Com a repetição do procedimento, bastava a visão do alimento para que o cão salivasse. O reflexo salivar eliciado pelo alimento colocado na boca do animal foi denominado reflexo incondicionado, visto que não demandava nenhuma aprendizagem. Era, portanto, inato. Já a secreção salivar obtida com a visão do alimento só foi obtida após algumas tentativas. Logo, o processo demandou uma aprendizagem ou condicionamento, fato que levou Pavlov a denominá-lo REFLEXO CONDICIONADO. Pavlov descobriu que qualquer estímulo não aversivo poderia provocar respostas reflexas em seus sujeitos, desde que condicionadas corretamente. Por exemplo: um som (até então um estímulo neutro) é apresentado ao sujeito. Poucos instantes depois (digamos, 5 segundos), é apresentado o alimento (estímulo incondicionado). É óbvio que o sujeito salivará apenas diante do estímulo incondicionado num momento inicial. Repetindo-se os emparelhamentos entre o estímulo neutro e o estímulo incondicionado, o estímulo neutro será capaz de eliciar a salivação. Quando isto ocorre, o estímulo neutro se torna um estímulo condicionado, passando então a produzir respostas condicionadas. John Broadus Watson (1878-1958) - Matriculou-se, em 1894, na Universidade de Furman. Em 1903, Watson se torna a mais jovem pessoa a se doutorar na Universidade de Chicago. Em 1913, publica o artigo “A psicologia como o behaviorista a vê”, que ficou conhecido como o “manifesto behaviorista” e no qual delimitava o campo onde a psicologia deveria focar seus estudos. Dois anos mais tarde, é eleito presidente da Associação Americana de Psicologia (APA). Obras Comportamento: uma introdução à psicologia comparativa [Behavior: an introduction to comparative psychology], foi lançado em 1914. Defendia a aceitação da psicologia animal e descrevia as vantagens do uso de animais na pesquisa psicológica Behaviorismo , 1924 - o autor contextualiza e define o behaviorismo não como um sistema de psicologia, mas como uma aproximação metodológica aos problemas da mesma. Watson considerava o comportamento como um campo de estudo muito novo, e que concepções como “mente” e “consciência” ainda não haviam sido abolidas de outros campos do saber, como a filosofia, por exemplo Os cuidados psicológicos com a criança, de 1928 – um livro de estrondoso sucesso – Watson apresentava um sistema para a criação de filhos baseado no comportamentalismo. Métodos do Behaviorismo segundo Watson → observação, com e sem o uso de instrumentos, (amostragem do comportamento e não qualidades capacidades mentais); → métodos de teste,(para Watson, o teste não media a inteligência nem a personalidade; ao contrário, simplesmente media as respostas do indivíduo à situação do estímulo de ser submetido ao teste); → método de relato verbal, (“Falaré fazer, ou seja, comportar‐se. Falar abertamente ou para nós mesmos (pensar) é um comportamento tão objetivo quanto jogar beisebol” (Watson, 1930, p. 6) → método do reflexo condicionado, ele escolheu esse tratamento por oferecer um método objetivo de análise do comportamento, de redução em unidades básicas, ou seja, em ligações de estímulo‐resposta (E‐R). Behaviorismo pós-Watson Os neobehavioristas – Tolman, Hull e Skinner. Operacionalismo Burrhus Frederic Skinner (1904‐1990) - “Os homens agem sobre o mundo, modificam- no e, por sua vez, são modificados pelas consequências de suas ações.” Skinner, 1957: 15 (página – 182). Skinner graduou-se em inglês no Hamilton College e decidiu seguir a carreira de escritor. Após algumas tentativas frustradas, a escrita, como atividade profissional, foi deixada de lado. Skinner ingressou no curso de psicologia da Universidade de Harvard em 1928 e doutorou-se em 1931. Em 1947, retornou à Harvard como professor. Permaneceu nessa instituição como professor-pesquisador até sua aposentadoria, em 1974. Obras mais importantes: O comportamento dos organismos (1938), Walden II (1948), Ciência e comportamento humano (1953), O comportamento verbal (1957), Para além da liberdade e da dignidade (1971), Sobre o behaviorismo (1974). O contexto acadêmico da época foi marcado por uma fase conhecida como a “crise da física clássica”, que alterou a maneira de pensar a ciência em todas as suas formas. O sistema determinista, que atribuía relações estritas entre as causas e os efeitos nos fenômenos naturais, sofria várias críticas desde muito antes da crise. Ernst Mach (1838- 1916), físico austríaco, defendia o abandono das explicações de causalidade mecânica utilizadas pela física newtoniana, em favor da adoção de RELAÇÕES FUNCIONAIS entre os fatos. Dessa forma, atribuições mecanicistas de causa e efeito foram gradativamente perdendo espaço para as descrições funcionais entre fatos. Um exemplo disso é a teoria da relatividade geral de Albert Einstein (1879-1955), que, em 1915, formula uma teoria da gravitação mais abrangente que a de Newton. O comportamento dos organismos não seria influenciado apenas por alterações ambientais antecedentes, como proposto pela psicologia estímulo-resposta, baseada no paradigma reflexo. Grande parte do comportamento seria influenciada por suas consequências. Comportamento operante A noção de comportamento operante descreve a ação do organismo sobre o meio do qual emergem as consequências últimas de seu comportamento. Exemplo: Caixa de Skinner ou caixa de condicionamento operante - Quando o rato na caixa de Skinner pressiona a barra, ele recebe comida, mas somente a recebe se pressionar a barra; portanto, ele opera sobre o ambiente. A demonstração da clássica experiência da caixa de Skinner envolvia o ato de pressionar a barra, que fora construída de modo a controlar as variáveis externas. Colocava-se um rato privado de comida na caixa, ficando ele livre para explorar o ambiente. No curso dessa exploração, o rato pressionava uma alavanca ou uma barra, ativando um mecanismo que liberava uma bolinha de ração em uma bandeja. Depois de conseguir algumas bolinhas (os reforços), o condicionamento costumava se estabelecer com rapidez. Observe que o comportamento do rato (pressionar a alavanca) atuou sobre o ambiente e, assim, serviu como instrumento para a obtenção do alimento. Com base nessa experiência básica, Skinner derivou sua lei de aquisição, segundo a qual a força de um comportamento operante aumenta quando ele é seguido pela apresentação de um estimulo reforçador. Alguns conceitos formados por Skinner: Esquema de reforço: Intervalos de reforço – a cada tanto tempo, se a pessoa é reforçada, é igual se ela for reforçada em toda oportunidade? Intervalos fixos (por exemplo, salário) vs intervalos flexíveis, intervalos menores vs intervalos maiores etc. A pesquisa de Skinner demonstrou que, quanto menor o intervalo entre os reforços, mais rápida a resposta do animal. Quando o intervalo aumentava, a taxa de respostas diminuía Aproximação sucessiva: uma explicação para a aquisição de comportamento complexo; comportamentos, como aprender a falar, serão reforçados somente à medida que tendam ao comportamento final desejado ou se aproximem dele Comportamento verbal: Segundo Catania (1999: 392), comportamento verbal “é qualquer comportamento que envolva palavras, independente da modalidade (falada, escrita, gestual); que é adquirido e mantido pelas práticas de reforçamento de uma comunidade verbal, isto é, uma comunidade de falantes e ouvintes”. O organismo humano, portanto, quando se comporta verbalmente, tem as consequências de suas ações providas por outros seres humanos, e não imediatamente pelo ambiente físico que o cerca Behaviorismo Social – o desafio cognitivo Albert Bandura - Professor da Stanford University e psicólogo canadense - criador da teoria social-cognitiva. A teoria social cognitiva de Bandura é uma forma de behaviorismo menos radical que a de Skinner e reflete o espírito dos tempos, o impacto do renovado interesse da psicologia nos fatores cognitivos. Sua pesquisa tinha como meta observar o comportamento dos indivíduos durante a interação. Bandura foi-se afastando mais e mais do behaviorismo ortodoxo vindo a incluir na sua teoria elementos relacionados com processamento de informação, autocontrole e autodireção de pensamentos e ações. A abordagem de Bandura é uma teoria de aprendizagem social porque estuda o comportamento enquanto este é formado e modificado em situações sociais. Bandura criticava Skinner por usar apenas sujeitos individuais (a maioria ratos e pombos) em vez de sujeitos humanos interagindo uns com os outros. Ele destacava que poucas pessoas vivem em isolamento social, e que os psicólogos não podem esperar que descobertas de pesquisas que ignoram as interações sociais sejam relevantes para o mundo moderno. Além de ser uma teoria behaviorista, o sistema de Bandura era cognitivo. Processos para a aprendizagem social Atenção -> Memória -> Produção/execução -> Motivação Conceitos da teoria social cognitiva Reforço vicário: noção de Bandura de que o aprendizado pode ocorrer por observação dos comportamentos de outras pessoas e das consequências deles decorrentes, e não apenas experimentando o reforço diretamente. A aprendizagem ocorre não pelo reforço direto, mas por meio de “modelos”, o que implica observar o comportamento de outras pessoas e nele fundamentar os nossos próprios padrões de comportamento. A tendência do indivíduo é modelar o próprio comportamento com base nas pessoas do mesmo sexo e idade, ou seja, nos nossos semelhantes que conseguiram resolver os problemas similares aos nossos. Há uma propensão também de se deixar impressionar por modelos de prestígio e status superiores ao nosso. Assim, personagens de filmes, de propagandas, figuras históricas etc. podem funcionar como modelos poderosos. Os pais, professores e irmãos mais velhos costumam ser modelos para as crianças. Nos grupos sociais, estamos constantemente imitando atitudes de algumas pessoas e, ao mesmo tempo, somos modelo para outras. Pesquisas realizadas em vários países comprovaram, consistentemente, que as crianças que assistem uma grande quantidade de atos violentos na televisão e em filmes, ou passam horas jogando videogames cheios de ação, demonstram muito mais comportamento violento e agressivo quando se tornam adolescentes e jovens adultos do que as crianças expostas a menos violência. GESTALT Tenerife, localizada a 200 milhas da costa da África, é a ilha mais famosa na história da psicologia, pois foi lá que Wolfgang Köhler estudou macacos. Mas esse não é mais um dos animais que tinham sido treinados ou condicionados a se comportar de determinada maneira. Até Köhler, psicólogo alemão, ir para Tenerife, em 1913,acreditava‐se que a única maneira de animais aprenderem era por meio de tentativa e erro, isto é, tropeçando acidentalmente na resposta correta – aquela que trazia comida como recompensa. A maioria das pesquisas sobre animais citadas até o momento envolve animais ensinados a se comportar da maneira como o experimentador ou treinador desejava. Köhler não tinha interesse em treinar os macacos que encontrou vivendo na ilha. Seu objetivo era observá‐los para ver como eles resolviam problemas. Ele acreditava que eles eram mais inteligentes do que as pessoas imaginavam e que eram capazes de resolver problemas de maneira muito semelhante à dos humanos. Assim, colocou os macacos em gaiolas grandes, colocou os instrumentos que poderiam usar para obter comida bem à vista deles, e sentou‐se para observar o que faziam. As diferenças entre a psicologia da Gestalt e o behaviorismo logo ficaram evidentes. Os psicólogos da Gestalt admitiam o valor da consciência, embora criticassem a tentativa de reduzi‐la a elementos ou átomos, enquanto os psicólogos behavioristas recusavam‐se a reconhecer o valor do conceito de consciência na psicologia científica. Ademais, os psicólogos da Gestalt insistiam no fato de que, quando os elementos sensoriais são combinados, eles formam um novo padrão ou configuração. Se juntarmos um grupo de notas musicais individuais (elementos da música), por exemplo, uma melodia ou um tom surge dessa combinação, formando algo novo, que não existia em nenhuma das notas enquanto elementos individuais. Um modo popular de se afirmar essa noção é a ideia de que o todo é diferente da soma das partes. Gestalt é um termo alemão de difícil tradução. O termo mais próximo em português seria forma ou configuração Fundadores da Gestalt: Max Werheimer (1880-1943), Kurt Koffka (1886-1941) e Wolfgang Kohler (1887-1967) Conceitos gerados por esta escola da psicologia ➔ Fenômeno Phi e a percepção do movimento: A persistência da visão, ou persistência retiniana, nos diz que uma imagem dura um certo tempo em nossa retina, uma fração de segundo, e que, se dispormos imagens estáticas em uma sequência, teremos a sensação de movimento. ➔Proximidade: Partes bem próximas umas das outras no tempo e no espaço parecem unidas e tendem a ser percebidas juntas. Os elementos mais próximos uns dos outros têm maior probabilidade de serem agrupados ➔Continuidade: Há uma tendência de a nossa percepção seguir uma direção para conectar os elementos de modo que eles pareçam contínuos ou fluir em uma direção específica. ➔Semelhança: As partes similares tendem a ser vistas juntas, formando um grupo. Na figura, os círculos e os pontos parecem juntos, e a tendência é perceber fileiras de círculos e de pontos em vez de colunas. ➔Preenchimento: Há uma tendência da nossa percepção em completar as figuras incompletas, de preencher as lacunas. ➔Simplicidade: Há uma tendência de vermos a figura como tendo boa qualidade sob as condições de estímulos; a psicologia da Gestalt chama essa característica de prägnanz ou boa forma. Uma boa Gestalt é simétrica, simples e estável, e não pode ser mais simples nem mais organizada. O quadrado e a bola são boas Gestalts, porque são claramente percebidos como completos e organizados ➔Figura/fundo: Há uma tendência de organizar as percepções do objeto (a figura) que está sendo visto e do fundo (a base) sobre o qual ele aparece. A figura parece ser mais substancial e destacar‐se do seu fundo, dependendo de como a percepção é organizada. Os psicólogos alemães, que fundaram a escola da Gestalt no início do século 20, lançaram a ideia de que os elementos individuais da mente não são os importantes (como sustentavam os estruturalistas), mas a gestalt: a forma ou configuração que esses elementos constituem. A visão de uma árvore, em toda a sua grandeza, é muito mais do que uma mera combinação de manchas de luz, sombra e formas separadas. PSICANÁLISE A psicologia do século XX foi profundamente influenciada por um de seus pensadores mais famosos, Sigmund Freud. Sigmund Freud (1856-1939) Freiberg – República Tcheca Com quatro anos sua família mudou-se para Viena (Áustria) Concluiu medicina na Universidade de Viena, dedicando-se a neurologia. Foi professor de neuropatologia. Freud alterou, radicalmente, o modo de pensar a vida psíquica. Freud foi treinado em medicina e começou sua carreira trabalhando com pessoas portadoras de transtornos neurológicos, como paralisia de várias partes do corpo. Ele constatou que alguns de seus pacientes tinham poucos motivos médicos que explicassem suas paralisias. Em pouco tempo, passou a crer que as condições desses pacientes eram causadas por fatores psicológicos. Os Estudos sobre a histeria (1895), publicação em co-autoria com o JOSEPH BREUER, trazem relatos sobre vários tratamentos conduzidos pelos autores, em geral com pacientes histéricas atormentadas por múltiplos sintomas, inclusive corporais (como paralisias). Deduz-se que tais sintomas são formados a partir da repressão de certas lembranças que, não podendo ser integradas na história dessas mulheres, “retornam” no corpo, simbolizadas nos e pelos sintomas. Nessa época, Freud e Breuer empregavam a hipnose para obter acesso a materiais que pudessem estar na origem dos sintomas. Durante o transe hipnótico surgiam lembranças que, uma vez relatadas e revividas afetivamente, auxiliavam na elucidação e mesmo na eliminação de certos sintomas. É o que se chama de “método catártico” : sob hipnose, o paciente recorda e revive um evento que lhe foi traumático, externalizando e descarregando afetos não manifestados por ocasião do trauma; tal descarga emocional é denominada ab-reação. Freud, porém, tinha algumas ressalvas em relação ao uso da hipnose: nem todos os pacientes eram hipnotizáveis e a eliminação dos sintomas revelara-se apenas provisória ou parcial. Mas o principal motivo que o leva a abandonar definitivamente esse método é o fato de considerá-lo um meio artificial de neutralizar a resistência. Ou seja, a hipnose encobre a existência de uma força/barreira que ativamente impede o acesso aos conteúdos reprimidos. Para Freud, é preciso encontrar um meio que permita a dissolução gradual das resistências. A psicologia estava ainda nos primórdios, ao final do século XIX, quando Freud especulou que grande parte do comportamento humano é determinada pelos processos mentais que operam abaixo do nível da consciência. Esse nível subconsciente é chamado inconsciente. Contrariando a crença popular, Freud não foi o primeiro a elaborar uma hipótese da existência de um inconsciente – o primo de Darwin, Sir Francis Galton, propôs a ideia antes. Freud acreditava que forças mentais inconscientes, muitas vezes sexuais e conflituosas, produzem desconforto psicológico e, em alguns casos, chegam a causar transtornos mentais. De acordo com o pensamento freudiano, muitos desses conflitos inconscientes surgem de experiências vivenciadas na infância e que a pessoa está bloqueando na memória. Inconsciente - pensamentos, atitudes, impulsos, desejos, motivações e emoções dos quais não estamos cientes. A partir de suas teorias, Freud foi pioneiro na abordagem por estudo de caso clínico e desenvolveu a psicanálise. Um estudo de caso consiste no exame intensivo de um indivíduo incomum. →observação →registro →descrição A meta de um estudo de caso é descrever os eventos ou experiências que levam a ou resultam de um determinado aspecto excepcional. Psicanálise: Nesse método terapêutico, terapeuta e paciente trabalham juntos para trazer os conteúdos do inconsciente do paciente para sua percepção consciente. Uma vez revelados os conflitos inconscientes do indivíduo, o terapeuta o ajuda a lidar com eles de maneira construtiva. Exemplificando, Freud analisava o conteúdo simbólico evidente dos sonhos de um paciente, buscando encontrarconflitos ocultos. Ele também usava a associação livre, em que um paciente falaria sobre qualquer coisa que quisesse e pelo tempo que desejasse. Freud acreditava que, por meio da associação livre, uma pessoa eventualmente revelava os conflitos inconscientes que causaram os problemas psicológicos. Primeira tópica – primeira fase da teoria psicanalítica The Conscious Mind: Sistema do aparelho psíquico que recebe ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e as do mundo interior. Na consciência, destaca-se o fenômeno da percepção, principalmente a percepção do mundo exterior, a atenção, o raciocínio. The Preconscious Mind: Refere-se ao sistema onde permanecem aqueles conteúdos acessíveis à consciência. É aquilo que não está na consciência, neste momento, e no momento seguinte pode estar. O pré-consciente funciona como uma espécie de barreira que seleciona aquilo que pode ou não passar para o consciente. The Unconscious Mind: É constituído por conteúdos reprimidos, que não têm acesso aos sistemas pré-consciente/consciente, pela ação de censuras internas. Estes conteúdos podem ter sido conscientes, em algum momento, e ter sido reprimidos, isto é, “foram” para o inconsciente, ou podem ser genuinamente inconscientes. O inconsciente é um sistema do aparelho psíquico regido por leis próprias de funcionamento. Interpretação dos Sonhos (1900) – marca de fato o início da psicanálise Primeiro grande modelo de aparelho psíquico (ou “primeira tópica”) vinha sendo delineado ao longo dos anos 1890, mas só no capítulo VII de A interpretação dos sonhos foi oficialmente formalizado É composto por dois grandes sistemas – inconsciente e pré-consciente/consciente –, separados por uma barreira (censura) que exerce ativamente uma força (repressão) no sentido de expulsar certas representações (ideias, lembranças, fantasias) do sistema pré-consciente/consciente e mantê-las no sistema inconsciente. Essa operação se faz necessária porque tais representações causam angústia e dor quando disponíveis na consciência do sujeito. Porém, a repressão não destrói a representação dolorosa: mesmo mantida em estado inconsciente, ela permanece ativa, tentando retornar ao sistema consciente. O resultado desse conflito, que envolve um verdadeiro jogo de forças, é a produção das chamadas “formações do inconsciente: os sintomas, sonhos, lapsos (ou atos falhos) e chistes (piadas e ditos de espírito)” que seriam frutos de uma espécie de “negociação” entre os sistemas. É por esse motivo que as formações do inconsciente solicitam procedimentos interpretativos: enigmáticas para o próprio sujeito (que as considera insignificantes, bizarras ou simplesmente incompreensíveis), são produções que encobrem outros sentidos, a serem construídos ou reconstruídos por meio da interpretação psicanalítica. Em última instância, o trabalho da interpretação é desfazer a deformação a que foram submetidos os conteúdos reprimidos. Tentar dar sentido a esses sonhos, sintomas, lapsos etc. Segunda tópica A década de 1920 traz uma novidade: a chamada “segunda tópica”, que descreve o aparelho psíquico como sendo constituído por três instâncias, denominadas ID, EGO e SUPEREGO. A nova divisão não corresponde ponto por ponto à tópica anterior (como vimos: inconsciente, consciente e pré-consciente), pois o EGO e o SUPEREGO têm partes inconscientes (como mostra, por exemplo, o uso dos mecanismos de defesa por parte do ego). Ou ainda, o ID é totalmente inconsciente, mas concebido em termos mais amplos do que o sistema inconsciente da primeira tópica (que coincidia, em grande parte, com os conteúdos reprimidos); o id é o substrato pulsional do psiquismo e contém outras coisas além do material recalcado, como algumas fantasias herdadas que nunca sofreram repressão e jamais se tornarão conscientes. Desenvolvimento infantil segundo Freud A criança que Freud descortina sente tristeza, solidão, raiva, desejos destrutivos, vive conflitos e contradições, é portadora de sexualidade, escapa ao controle da educação. Nesse período, final do século XIX e início do século XX, Freud com a Psicanálise abre um campo de investigação antes desconhecido. Introduz a noção de inconsciente e abala a confiança que a cultura ocidental deposita na razão. “Descobre” a sexualidade infantil e contesta a ideia da “inocência” da criança, o que também provoca abalos na concepção que o ser humano tem dele mesmo. A Psicanálise, então, traz um novo discurso sobre o ser humano, não como indivíduo (objeto da ciência), mas como marcado pelo inconsciente, por essa “outra cena” ao mesmo tempo inquietante e familiar, um ser humano passível de sonhar, amar, desejar, construir crenças, odiar, culpar-se, etc. Psicanálise pós-Freud: Wilhelm Reich (1897-1957), Carl Gustav Jung (1875-1961), Alfred Adler (1870-1937), Anna Freud (1895-1982), Melanie Klein (1882-1960), Erick Fromm (1900-1980), Erik Erikson (1875-1942), Wilfried Bion (1897-1979), Donald W. Winnicott (1896-1971), E Jacques Lacan (1901-1981). HUMANISMO O termo “humanismo” surgiu no Renascimento entre o final do século XIV e o início do século XV, e denominava tanto um aspecto literário, os escritores clássicos, quanto um viés filosófico, preocupando-se com o valor do homem e a tentativa de compreendê-lo em seu mundo A psicologia Humanista tomou forma e ganhou força na década de 1960, e como o Behaviorismo, foi desenvolvida nos Estados Unidos. Conhecido como “terceira força”, o sistema da Psicologia Humanista pretendeu opor-se tanto ao Behaviorismo quanto a Psicanálise A psicologia humanista refletia o sentimento de descontentamento manifestado na década de 1960 contra os aspectos mecanicistas e materialistas da cultura ocidental. A contracultura da época era constituída pelos denominados hippies, principalmente estudantes universitários os que abandonavam os estudos, alguns dos quais usavam drogas alucinógenas para estimular e expandir suas experiências conscientes. Como grupo, compartilhavam ideais compatíveis com a abordagem humanista da psicologia, ou seja, o enfoque na realização pessoal, a crença na perfeição humana, a ênfase no presente, a tendência à exteriorização do self (dar vazão ao conteúdo da mente) e a valorização dos sentimentos em detrimento da razão e do intelecto. As contribuições vieram de duas escolas da filosofia: Fenomenologia e Existencialismo Sobre influência dessas duas escolas, o centro da psicologia humanista é a pessoa em um contexto único, e que tem o potencial de transformar a vida dentro de si, de maneira continuada e infinita. O homem, na perspectiva humanista, é percebido como um ser livre, capaz de se recriar independentemente dos condicionamentos, pois a própria realidade é percebida de maneira pessoal e está impregnada de significados ligados a consciência pessoal. A vida interior é soberana Para a Psicologia Humanista: A psicologia comportamental consistia em uma abordagem limitada, artificial e improdutiva da natureza humana. Eles consideravam que o foco no comportamento manifesto era desumanizador e que essa visão reduzia o ser humano ao status de simples animal ou máquina. Discordavam da visão de comportamento do homem como uma forma predeterminada em resposta aos fatos de estímulo da vida. E, ainda, consideravam o homem um ser muito mais complexo do que ratos de laboratório. Se opunham às tendências deterministas da psicanálise freudiana e à forma como se minimizava o papel da consciência, além de criticarem Freud por estudar apenas indivíduos neuróticos e psicóticos. Eles argumentavam que, se os psicólogos se concentravam apenas no estudo da disfunção mental, como seria possível compreender a natureza da saúde emocional e de outras qualidades positivas do homem? Ao abrir mão de analisar prazer, alegria, êxtase, bondade, generosidade, por exemplo, para estudar o lado obscuro da personalidadehumana, a psicologia estava ignorando as virtudes e as forças exclusivamente humanas. Abraham Maslow (1908‐1970) - Considerado o pai espiritual da psicologia humanista, provavelmente foi quem mais contribuiu para incentivar o movimento e conferir-lhe certo grau de respeitabilidade acadêmica. Primeiramente estudou psicologia na Cornell University com E. B. Titchener. Na Cornell a experiência teria sido negativa. Segundo Maslow, o curso foi “horrível e desanimador e não tinha nada a ver com pessoas, por isso, fiquei horrorizado e me afastei do curso”. Maslow transferiu-se para a University of Wisconsin, onde encontrou uma abordagem diferente em psicologia, e obteve o Ph.D. em 1934. Maslow tornou‐se um entusiasta behaviorista watsoniano, convencido de que a abordagem científica natural mecanicista proporcionava todas as respostas para os problemas do mundo. Então, uma série de experiências pessoais levou-o a perceber que o behaviorismo era limitado demais para lidar com os persistentes problemas do homem. Decidiu dedicar‐se ao desenvolvimento de uma psicologia que lidasse com os mais elevados ideais humanos. Trabalharia para melhorar a personalidade humana e mostrar que as pessoas eram capazes de comportamentos mais nobres que o ódio, o preconceito e a guerra. Suas principais obras publicadas são: A psicologia da ciencia (1966) A psicologia do ser (1962) Motivação e personalidade (1954) Autorrealização Na visão de Maslow, cada indivíduo é dotado de propensão inata à autorrealização. Esse estado, o mais elevado das necessidades humanas, envolve o uso ativo de todas as qualidades e habilidades, além do desenvolvimento e da aplicação plena do potencial individual. Para o indivíduo sentir‐se autorrealizado, primeiro é necessário satisfazer as necessidades mais inferiores na hierarquia inata, e cada uma delas deve ser satisfeita antes que a próxima possa nos motivar. As necessidades propostas por Maslow, na ordem de prioridade de satisfação, são: fisiológicas, de segurança, de pertinência e amor, de estima e de autorrealização. Carl Rogers (1902-1987) Quando Rogers tinha 12 anos, a família se mudou para uma fazenda, onde ele desenvolveu um grande interesse pela natureza. Lia sobre as experiências agrícolas e sobre a abordagem científica na solução dos problemas. Embora a leitura o ajudasse a canalizar a vida intelectual, sua vida emocional estava em constante turbulência. Ele afirmou: “Minhas fantasias durante esse período eram realmente bizarras e, provavelmente, seriam classificadas como esquizofrênicas por um especialista, mas, felizmente, jamais tive contato com um psicólogo” Aos 22 anos – Convencera-se de que as próprias pessoas deviam dar rumo às suas vidas com base na própria interpretação dos acontecimentos e não dependerem da visão dos outros. Convencera-se, ainda, de que cada um deve empenhar esforços para tornar-se uma pessoa melhor. Esses conceitos tornaram-se a base da sua teoria da personalidade. Rogers recebeu o Ph.D. em psicologia clínica e educacional, em 1931, da Teacher College da Columbia University. Em 1940, iniciou a carreira acadêmica, lecionando na Ohio State University, University of Chicago e University of Wisconsin. Durante esses anos, desenvolveu e aprimorou a sua teoria e o seu método de psicoterapia. Carl Rogers é mais conhecido por sua abordagem popular da psicoterapia, chamada terapia centrada na pessoa. O nome da terapia de Rogers expressa sua visão da personalidade humana. Ao colocar a responsabilidade pela melhora na pessoa ou no paciente, e não no terapeuta (como ocorre na terapia ortodoxa), Rogers assumia que as pessoas seriam capazes, consciente e racionalmente, de mudar os próprios pensamentos e comportamentos do indesejável para o desejável. Ele não acreditava no indivíduo permanentemente reprimido por forças inconscientes ou por experiências da infância. A personalidade é moldada pelo presente e pela maneira como o indivíduo percebe a circunstância. Rogers descrevia as pessoas plenamente funcionais como realizadoras, em vez de realizadas, para indicar que a evolução do self está em constante andamento. Essa ênfase na espontaneidade, na flexibilidade e na capacidade contínua de crescimento está perfeitamente expressa no título do livro mais famoso de Rogers: Tornar-se pessoa [On becoming a person] (1961) PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA Wundt sugeriu duas psicologias: uma Psicologia Experimental e uma Psicologia Social, de modo a resolver as dicotomias natural e social; autonomia e determinação; interno e externo. Seus seguidores enfrentarão esses pêndulos, escolhendo um dos polos da dicotomia: → Titchener concebeu o homem como dotado de uma estrutura que permite que a experiência se torne consciente; → James, ao contrário, pensou o homem como um organismo que funciona em um ambiente e a ele se adapta; → o Comportamentalismo pensou o homem como produto de condicionamentos; → a Gestalt valorizou as experiências vividas; → a Psicanálise enfatizou as forças que o homem não domina e não conhece, mas que o constituem Todas as abordagens se constituíram como esforços para que a ciência psicológica pudesse dar conta de compreender o homem e seu contato com o mundo real. Nenhuma delas, no entanto, superou as perspectivas mecanicista e determinista presentes já em Wundt. Mecanicista por pressupor uma regularidade no humano, como se fosse uma máquina dotada de funcionamento próprio, que, por ser natural, pode ser desvendado e conhecido. O homem pensado como máquina. Não podemos nos esquecer de que o pensamento moderno é impregnado dessa perspectiva mecanicista. Determinista, por pressupor causas para o “efeito homem” que observamos. Além disso, há marcadamente a perspectiva do homem apriorístico, com estruturas ou mecanismos prontos que permitem seu funcionamento regular enquanto ser humano. A discussão estava sempre entre - interno/externo; psíquico/orgânico; comportamento/vivências subjetivas; natural/social; autonomia/determinação. A Psicologia Sócio-Histórica, que toma como base a Psicologia Histórico-Cultural de Vygotsky (1896-1934), apresenta-se desde seus primórdios como uma possibilidade de superação dessas visões dicotômicas. Lev Semenovitch Vygolsky (1896-1934) Nasceu em Orsha, pequena cidade perto de Minsk, a capital da Bielo-Rússia Com 18 anos, Lev Vygotsky matriculou-se no curso de Medicina, mas em seguida transferiu-se para o curso de Direito a Universidade de Moscou. Paralelamente ao curso de Direito estudou Literatura e História da Arte. Em 1917, ano da Revolução Russa, graduou-se em Direito e apresentou um trabalho intitulado “Psicologia da Arte”, que só foi publicado na Rússia em 1965. Em 1924, após uma brilhante participação no II Congresso de Psicologia em Leningrado, foi convidado a trabalhar no Instituto de Psicologia de Moscou. Nessa época, escreveu o trabalho “Problemas da Educação de Crianças Cegas, Surdas-mudas e Retardadas”. Morreu aos 38 anos de tuberculose. Entre outros trabalhos de Lev Vygotsky destacam-se: “A Pedologia de Crianças em Idade Escolar” (1928) “Estudos Sobre a História do Comportamento” (1930) “Lições de Psicologia” (1932), “Fundamentos da Pedologia” (1934), “Pensamento e Linguagem” (1934), “Desenvolvimento da Criança Durante a Educação” (1935) e “A Criança Retardada” (1935) Diante de tal quadro (mecanicista e determinista), ele propôs, então, uma nova psicologia que, baseada no método e nos princípios do materialismo (afirma a existência do mundo, do real, como primário em relação a qualquer tipo de produção humana) dialético (tese, antítese e síntese), compreendesse o aspecto cognitivo a partir da descrição e explicação das funções psicológicas superiores, as quais, na sua visão, eram determinadas histórica e culturalmente. Ou seja, propõe uma teoria marxista do funcionamentointelectual humano que inclui tanto a identificação dos mecanismos cerebrais subjacentes à formação e desenvolvimento das funções psicológicas, como a especificação do contexto social em que ocorreu tal desenvolvimento. Os objetivos de sua teoria são: “caracterizar os aspectos tipicamente humanos do comportamento e elaborar hipóteses de como essas características se formam ao longo da história humana e de como se desenvolvem durante a vida do indivíduo.” (Vygotsky, 1996:25) Alguns pontos desta teoria: - O homem é um ser histórico-social ou, mais abrangentemente, um ser histórico- cultural; o homem é moldado pela cultura que ele próprio cria; - O indivíduo é determinado nas interações sociais - sujeito interativo, isto é, aquele que não é nem ativo e nem passivo, e que é constituído na e pela relação interpessoal - É na linguagem e por ela própria que o indivíduo é determinado - sujeito semiótico, sujeito constituído na e pela linguagem, sendo que apareceu como sujeito resultante da relação (...), e como sujeito constituído na relação constitutiva EU-OUTRO, numa relação dialética - A atividade mental é exclusivamente humana e é resultante da aprendizagem social, da interiorização da cultura e das relações sociais; - A linguagem é o principal mediador na formação e no desenvolvimento das funções psicológicas superiores; - O processo de interiorização das funções psicológicas superiores é histórico, e as estruturas de percepção, a atenção voluntária, a memória, as emoções, o pensamento, a linguagem, a resolução de problemas e o comportamento assumem diferentes formas, de acordo com o contexto histórico da cultura Para Vygotsky: a) a psicologia é uma ciência do homem histórico e não do homem abstrato e universal; b) a origem e o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores é social; c) há três classes de mediadores: signos e instrumentos; atividades individuais e relações interpessoais; d) o desenvolvimento de habilidades e funções específicas, bem como a origem da sociedade, são resultantes do surgimento do trabalho - este entendido como ação/movimento de transformação - e que é pelo trabalho que o homem, ao mesmo tempo em que transforma a natureza para satisfazer as suas necessidades, se transforma também; e) existe uma unidade entre corpo e alma, ou seja, o homem é um ser total. A teoria histórico-cultural ou sociocultural do psiquismo humano de Vygotsky, também conhecida como abordagem sociointeracionista, toma como ponto de partida as funções psicológicas dos indivíduos, as quais classificou de elementares e superiores, para explicar o objeto de estudo da sua psicologia: a consciência Funções psicológicas elementares - são de origem biológica; estão presentes nas crianças e nos animais; caracterizam-se pelas ações involuntárias (ou reflexas); pelas reações imediatas (ou automáticas) e sofrem controle do ambiente externo Funções psicológicas superiores são de origem social; estão presentes somente no homem; caracterizam-se pela intencionalidade das ações, que são mediadas. Elas resultam da interação entre os fatores biológicos (funções psicológicas elementares) e os culturais, que evoluíram no decorrer da história humana. Dessa forma, Vygotsky considera que as funções psíquicas são de origem sociocultural, pois resultaram da interação do indivíduo com seu contexto cultural e social. Vygotsky considerava que a aquisição da linguagem constitui o momento mais significativo no desenvolvimento cognitivo. Ela, a linguagem, representa um salto de qualidade nas funções superiores; quando ela começa a servir de instrumento psicológico para: → regulação do comportamento; → percepção muda de forma radical; → novas memórias são formadas; → novos processos de pensamento são criados PSICOLOGIA COGNITIVA Estamos agora entrando no terceiro milênio, e há mais interesse do que nunca em tentar descobrir os mistérios do cérebro e da mente humana. Esse interesse reflete-se na recente explosão da pesquisa científica no campo da psicologia cognitiva e da neurociência cognitiva. É surpreendente que a abordagem cognitiva esteja se tornando cada vez mais importante no campo da psicologia clínica. Nessa área, reconhece-se que os processos cognitivos (especialmente os vieses cognitivos) desempenham um papel importante no desenvolvimento e no sucesso do tratamento dos transtornos mentais. De forma similar, os psicólogos sociais assumem, cada vez mais, que os processos cognitivos ajudam a explicar muitos aspectos da comunicação social. Este campo da Psicologia surgiu com o intuito de estudar os processos internos envolvidos em extrair sentido do ambiente e decidir que ação deve ser apropriada. Esses processos incluem atenção, percepção, aprendizagem, memória, linguagem, resolução de problemas, raciocínio e pensamento. Influências históricas: O campeão de xadrez se rende ao computador engenhoso. Garry Kasparov, considerado o maior jogador de xadrez da história, na primavera de 1997, aos 34 anos, começou uma disputa de melhor de 6 jogos contra um computador. Resultado: vitória da máquina. A dramática e altamente divulgada vitória de um computador sobre o homem já simbolizava e refletia as grandes mudanças que já estavam a caminho, tanto na psicologia quanto na cultura como um todo. Avanços na psicologia com as escolas estruturalistas, funcionalistas e da Gestalt Estruturalismo: Não existem mais estruturalistas como Titchener na psicologia moderna, e isso ocorre há mais de um século. No entanto, o estruturalismo obteve enorme sucesso em promover a empreitada iniciada por Wundt, estabelecendo uma ciência da psicologia independente e livre das limitações da filosofia. A primeira escola de pensamento da nova ciência e a fonte vital de oposição para os sistemas seguintes. Funcionalismo: Os funcionalistas buscavam apenas impor uma atitude ou um ponto de vista e, nesse aspecto, o funcionalismo obteve êxito em penetrar no pensamento psicológico norte‐americano. Na medida em que a psicologia norte‐americana atual é vista mais como uma profissão científica e suas descobertas são aplicadas praticamente em todos os aspectos da vida, a atitude funcional e utilitária, de fato, mudou a natureza da psicologia. Gestalt: A oposição ao elementarismo, o apoio à abordagem da “totalidade” e o interesse na consciência influenciaram os psicólogos da psicologia clínica, da aprendizagem, da percepção, da psicologia social e do pensamento. Embora a escola da Gestalt não tenha transformado a psicologia da maneira como esperavam seus fundadores, ela exerceu considerável impacto e deve ser considerada um sucesso. Behaviorismo e Psicanálise Mesmo que as realizações do estruturalismo, do funcionalismo e da psicologia da Gestalt mereçam o devido destaque, esses movimentos ocupam o segundo lugar em comparação com o impacto fenomenal do behaviorismo e da psicanálise. Os efeitos desses movimentos foram profundos, mantendo identidades próprias e independentes como escolas únicas de pensamento. Passada a época de seus fundadores, Watson e Freud, tanto o behaviorismo como a psicanálise dividiram‐se internamente em várias posições. O surgimento de subescolas dividiu os sistemas em facções concorrentes, cada uma com o próprio mapa para o caminho da verdade. No entanto, apesar dessa diversidade interna, tanto os behavioristas quanto os psicanalistas mantêm‐se firmes na oposição, uns contra os outros, em relação às suas visões sobre a psicologia. Psicologia cognitiva Em 1913, em seu manifesto behaviorista, Watson insistia que se eliminasse da psicologia qualquer referência à mente, à consciência ou aos processos conscientes. E, de fato, os psicólogos seguidores dos mandamentos de Watson eliminaram a menção a conceitos e baniram toda a terminologia mentalista. Durante décadas, os livros básicos de introdução àpsicologia apresentavam descrições sobre o funcionamento do cérebro, mas não proporcionavam discussões sobre qualquer conceito relacionado à mente. As pessoas comentavam, em tom de piada, que a psicologia tinha “perdido a consciência” ou “perdido a cabeça”, aparentemente para sempre. No entanto, de repente (embora a tendência já estivesse se formando há algum tempo), a psicologia resgatou a consciência. Palavras que antes eram consideradas politicamente incorretas, então eram pronunciadas em alto e bom tom em encontros e utilizadas em trabalhos escritos. Em 1979, a publicação American Psychologist apresentou um artigo intitulado “O behaviorismo e a mente: um apelo (limitado) para a retomada da introspecção” (Lieber‐man, 1979), resgatando não apenas a mente, como também a suspeita técnica de introspecção. Alguns meses antes, a revista publicara um artigo com um título bem simples: “Consciência”. Seu autor escreveu: “Depois de décadas de descaso proposital, a consciência passa novamente a ser alvo da investigação científica, com discussões sobre o tópico surgindo por toda parte na respeitada literatura da psicologia” (Natsoulas, 1978, p. 906). Influências sobre a Psicologia Cognitiva As obras dos filósofos gregos Platão e Aristóteles mencionavam os processos de pensamento, como também o faziam as teorias dos associacionistas e empiristas britânicos. As escolas de pensamento estruturalista e funcionalista abordavam a consciência, estudando seus elementos e suas funções. O behaviorismo intencional de E. C. Tolman foi outro precursor do movimento cognitivo. Sua forma de behaviorismo reconhecia a importância das variáveis cognitivas e contribuiu para o declínio da visão de estímulo‐resposta.] A psicologia da Gestalt também influenciou a psicologia cognitiva por causa do enfoque “na organização, na estrutura, nas relações, no papel ativo do objeto e na participação importante da percepção na aprendizagem e na memória” Outro precursor da psicologia cognitiva foi o psicólogo suíço Jean Piaget (1896 ‐1980), escreveu seu primeiro estudo científico aos dez anos de idade e, mais tarde, estudou com Carl Jung. Também trabalhou com Théodore Simon, que, juntamente com Alfred Binet, desenvolveu o primeiro teste psicológico de habilidade mental. Mais tarde, Piaget se tornou importante por seu trabalho sobre o desenvolvimento infantil, não com base nos estágios psicossexuais, conforme propunha Freud, mas em razão dos estágios cognitivos. Mais uma vez, observa‐se aqui o Zeitgeist da física, modelo para a psicologia há bastante tempo, e que tem influenciado a área desde o seu início como ciência. No início do século XX, surge uma nova visão desenvolvida pelos trabalhos de Albert Einstein, Neils Bohr e Werner Heisenberg. Eles rejeitavam o modelo mecanicista do universo, originário da época de Galileu e Newton e protótipo para a visão mecanicista, reducionista e determinista da natureza humana adotada pelos psicólogos desde Wundt até Skinner. A nova perspectiva da física descartava a necessidade de total objetividade e a completa separação entre o universo externo e o observador. Os físicos reconheciam a provável interferência de qualquer tipo de observação feita sobre o universo natural. Seria necessário tentar estabelecer uma relação na lacuna artificial entre: - observador e observado, - interior e o exterior, - mental e o material. Desse modo, a investigação científica passou do universo independente, identificável objetivamente, para a observação do universo pelo indivíduo. Os cientistas modernos não podem mais permanecer tão distantes do foco da observação. Em certo sentido, devem se tornar “observadores participativos”. Como resultado o ideal da realidade totalmente objetiva não era mais considerado inatingível. A física passou a ser caracterizada pela crença de que aquilo que se considerava conhecimento objetivo é, na verdade, subjetivo, e, portanto, altamente dependente do observador. Essa ideia de que todo conhecimento é pessoal é suspeitamente parecida com o que George Berkeley propôs há 300 anos: que todo conhecimento é subjetivo porque depende da natureza do observador. A rejeição pelos físicos do objeto de estudo mecanicista e objetivo e, ao mesmo tempo, o reconhecimento da subjetividade restabeleceram o papel vital da experiência consciente como uma forma de obter informações sobre o mundo real. Psicólogos que abriram as portas para a Psicologia Cognitiva: George Miller (1920- 2012) Mágico numero 7 – memória de curto prazo e Ulric Neisser (1928-2012) Psicologia Cognitiva – 1967 Podemos definir psicologia cognitiva como o objetivo de compreender a cognição humana por meio da observação do comportamento das pessoas enquanto executam várias tarefas cognitivas. Observe, no entanto, que o termo psicologia cognitiva pode ser utilizado de forma mais abrangente para incluir atividade e estrutura cerebral como informações relevantes para a compreensão da cognição humana. Os objetivos dos neurocientistas cognitivos coincidem com os dos psicólogos cognitivos. Marco na história: Ano de 1956 foi de importância fundamental. Em um encontro no Massachusetts Institute of Technology (MIT): Noam Chomsky fez uma exposição sobre sua teoria da linguagem, George Miller discutiu o mágico número sete na memória de curto prazo, Newell e Simon explanaram a respeito de seu modelo extremamente influente denominado Solucionador Geral dos Problemas Além disso, foi feita a primeira tentativa sistemática de estudar a formação de conceitos a partir da perspectiva cognitiva (Bruner et al., 1956). Funções Cognitivas Habilidades cognitivas são propriedades funcionais de um indivíduo que descrevem as diferentes maneiras pelas quais as pessoas pensam, detectam estímulos, reagem a eles, bem como o que conhecem e como usam conhecimentos (Corr, 2010; Palmese, 2011). Estas funções incluem atenção, percepção, respostas psicomotoras (ex. tempo de reação), tomada de decisão, formação de conceitos, velocidade de processamento, memória, aprendizagem, linguagem, habilidades visoespaciais, funções executivas, entre outras (Corr, 2010; Palmese, 2011). Embora diferentes funções cognitivas envolvam ativação de diferentes sistemas e regiões cerebrais (Palmese, 2011), elas não são diretamente observáveis, sendo inferidas somente a partir do comportamento (Sivan & Benton, 1999). Ao mesmo tempo, a maioria dos psicólogos cognitivos adotou a abordagem do processamento da informação a partir de uma analogia entre a mente e o computador ➔ Um estímulo (um evento ambiental, como um problema ou uma tarefa) é apresentado, ➔ Isso provoca a ocorrência de determinados processos cognitivos, e esses processos, finalmente, produzem a reação ou a resposta desejada. Processo Cognitivos: ESTÍMULO ➔ATENÇÃO ➔ PERCERPÇÃO ➔ PROCESSO DE PENSAMENTOS ➔DECISÃO ➔RESPOSTA OU AÇÃO Os psicólogos cognitivos desenvolveram várias formas de compreender os processos envolvidos em tarefas complexas. Apresentaremos aqui um breve exemplo. Cinco palavras são apresentadas visualmente aos participantes, e eles devem repeti-las. O desempenho é pior quando as palavras são longas em relação a quando são curtas. Provavelmente, isso ocorre porque os participantes fazem um ensaio verbal (repetindo as palavras para si mesmos) durante a apresentação das palavras, e isso leva mais tempo com palavras longas do que com palavras curtas. Principais ideias da Psicologia Cognitiva: → Os dados na Psicologia Cognitiva só podem ser completamente compreendidos no contexto de uma teoria explanatória, porém de nada valem as teorias sem dados empíricos → A cognição é, geralmente, adaptativa, mas não em todas as instâncias específicas → Os processos cognitivos interagem uns com os outros e também com processos não- cognitivos → A cognição deve ser estudada por meio de uma variedade de métodoscientíficos → Toda a pesquisa básica em Psicologia Cognitiva poderá levar a aplicações e toda pesquisa aplicada poderá levar a conhecimentos básicos NEUROPSICOLOGIA A Neuropsicologia preocupa-se com a complexa organização cerebral e suas relações com o comportamento e a cognição, tanto em quadros de doenças como no desenvolvimento normal, conforme concordam as definições de vários autores. Lezak e colaboradores (1983, 1995, 2004) definem a Neuropsicologia Clínica como a ciência aplicada que estuda a expressão comportamental das disfunções cerebrais. J. Odgen (1996, p. 96) aborda o tema como o “estudo do comportamento, das emoções e dos pensamentos humanos e como eles se relacionam com o cérebro, particularmente o cérebro lesado”. Sob esse ângulo, a Neuropsicologia Clínica está mais voltada para o desenvolvimento de técnicas de exame e diagnóstico de alterações, enfocando principalmente as doenças que afetam o comportamento e a cognição (Stuss e Levine, 2002). McCarthy e Warrington (1990) enfocam a Neuropsicologia Cognitiva, como um campo interdisciplinar drenando informações tanto da Neurologia como da Psicologia Cognitiva, investigando a organização cerebral das habilidades cognitivas. O termo “função cognitiva” significa para essas autoras a integração das capacidades de percepção, de ação, de linguagem, de memória e de pensamento. Pressuposto materialista = todo comportamento, processo cognitivo, ou reação emocional tem como base a atividade de sistemas neurais específicos Indiscutivelmente, a maior contribuição para a neuropsicologia foi dada por Alexander Luria (1966), que, partindo de uma base clínica e experimental, examinou pacientes com lesões cerebrais adquiridas na Segunda Guerra Mundial, no curso de trabalho de reabilitação. Suas observações meticulosas e seus estudos experimentais propiciaram o desenvolvimento de uma teoria das funções cerebrais e um método de investigação extremamente útil e eficaz para o diagnóstico localizatório e a reabilitação. O estudo das relações cérebro-comportamento definiu, portanto, o campo da neuropsicologia, e as descobertas e descrições providas por essa abordagem foram validadas pelos métodos de investigação estrutural e funcional nas três últimas décadas A avaliação não mais concentra seu interesse na localização, mas no estabelecimento da extensão, do impacto e das consequências cognitivas, comportamentais e na adaptação emocional e social que lesões ou disfunções cerebrais podem promover nas pessoas. Área de Broca: Formação de palavras; Área Associativa Límbica: Comportamentos, emoções e motivação; Área de Wernicke: Compreensão de linguagem e inteligência. Avaliação Neuropsicológica A Avaliação Neuropsicológica consiste no método de investigar as funções cognitivas e o comportamento. Trata-se da aplicação de técnicas de entrevistas, exames quantitativos e qualitativos das funções que compõem a cognição abrangendo processos de atenção, percepção, memória, linguagem e raciocínio. Há métodos considerados clássicos e outros ainda em construção. Neurociência Cognitiva A neurociência cognitiva é crítica para nossa compreensão dessa ligação entre cérebro e mente. A neurociência cognitiva compreende investigações de todas as funções mentais vinculadas a processos neurais, desde investigações em animais a humanos e desde experimentos realizados em laboratório a simulações de computador. É o campo de estudo com foco nos substratos neurais dos processos mentais. É a intersecção da psicologia e da neurociência, mas também se sobrepõe à psicologia fisiológica, psicologia cognitiva e neuropsicologia. Ele combina as teorias da psicologia cognitiva e modelagem computacional com dados experimentais sobre o cérebro. HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL No ano que vem (2022) comemoram-se 60 anos da regulamentação da profissão de psicólogo no Brasil. Comemorar significa lembrar, trazer à memória, recordar, o que remete à reflexão sobre a constituição da Psicologia: suas raízes, seu estado atual e seus anseios e projetos para o futuro. Assim, aos seus quase 60 anos da Lei 4119, de 27 de agosto de 1962, que regulamentou a profissão de psicólogo e estabeleceu os cursos para sua formação no Brasil, muitas têm sido as iniciativas para se refletir sobre a psicologia em seus múltiplos aspectos: Produção de conhecimento, Atuação profissional, Ensino, Organização, ....entre outros. A produção de saberes psicológicos no período colonial e no século XIX Deve-se entender que o período colonial no Brasil está articulado à expansão comercial europeia, uma das condições para o desenvolvimento do modo de produção capitalista. Mais especificamente, o Brasil, sob o domínio dos portugueses, constituiu-se como colônia de exploração. A espoliação das riquezas coloniais baseava-se no monopólio da metrópole, que determinava o que deveria ser produzido, a maneira de fazê-lo e a apropriação de seus produtos. A imensa riqueza obtida pela força de trabalho escrava na agricultura (baseada em latifúndios) ou na mineração garantiu às classes dominantes das metrópoles uma vida de luxo. A organização da empresa colonial exigia: → de um lado, um forte aparato repressivo (seja para a contenção de revoltas internas, seja para a defesa do território contra a invasão de outros países europeus), → de outro lado, um sólido aparato de ordem ideológica, com a finalidade de transmitir, impor e manter ideologias que, em última instância, justificavam e legitimavam a exploração colonial. Um exemplo: Catequização: Além do aparato repressivo e administrativo da metrópole, não havia instituições no Brasil. Até o século XVIII, a Companhia de Jesus ocupava a função de aparato ideológico, como braço intelectual da metrópole, atuando, sobretudo, na catequização dos indígenas e na educação dos filhos dos colonos. O processo catequético e a educação das primeiras letras para os indígenas têm sido vistos como expressão de uma pedagogia repressiva, baseada em castigos, com vistas à disciplinarização e controle, com base na psicologia moral da época. Segundo Priore essa era uma psicologia de fundamento moral e religioso. Saberes psicológicos: Religiosos, políticos, educadores, filósofos e moralistas foram os primeiros a abordar questões psicológicas no Brasil colonial, abordando temas como emoções, sentidos, autoconhecimento, educação, personalidade, controle do comportamento, aprendizagem, influência paterna, educação feminina, trabalho, adaptação ao meio, processos psicológicos, práticas médicas, controle político, diferenças raciais e étnicas e persuasão de “selvagens”. Principais autores da época colonial – Defendiam a instrução feminina Alexandre de Gusmão (pedagogo, jesuíta) Manoel de Andrade Figueiredo (calígrafo, de formação jesuítica) Azeredo Coutinho (bispo e economista) – Propôs metodologia específica para a instrução feminina, nos Estatutos do Recolhimento de Nossa Senhora da Glória, primeiro colégio feminino brasileiro, fundado em 1802 (fechado em seguida), e que custou a seu idealizador a retirada compulsória para Portugal. Fim da condição colonial Com o fim da condição colonial, o Brasil sofreu, a partir do início do século XIX , profundas transformações econômicas, políticas e sociais com a instalação da Corte no Rio de Janeiro, e, posteriormente, à guisa de independência em relação à coroa portuguesa, com a instauração da condição imperial. Com isso, houve a necessidade de formação de quadros para o aparato repressivo e administrativo, este último implicando maior preocupação com a educação e o ensino. A criação de cursos superiores, a impressão de livros e a instalação de várias instituições são exemplos das mudanças ocorridas no Brasil, pelo menos em seus núcleos urbanos. O século XIX foi profícuo na produção de saberes psicológicos, mantendo muitas das preocupaçõesdo período colonial, porém, assumindo um caráter mais sistemático pela gradativa vinculação institucional e pela melhor elaboração dos conteúdos. As questões sociais tornaram-se o principal foco de interesse médico ou pedagógico, fonte das preocupações com o fenômeno psicológico, o que não lhes conferiu um caráter de compromisso social com os interesses da maioria da população, mas não livres de contradições. Século XIX Saberes psicológicos produzidos em outras áreas de conhecimento Os saberes psicológicos, no século XIX, foram produzidos principalmente no interior da medicina e da educação; na medicina, em teses de doutorado que os formandos do curso de medicina deveriam defender para obter o título de doutor e nas práticas dos hospícios. Grande parte dos assuntos psicológicos tratados referem-se à: →Paixões ou Emoções, →Diagnóstico e Tratamento das alucinações mentais, →Epilepsia, →Histeria A primeira tese que trata do fenômeno psicológico foi defendida por Manoel Ignacio de Figueiredo Jaime, em 1836, com o título: “As paixões e afetos d’alma em geral e em particular sobre o amor, a amizade, a gratidão e o amor da pátria.” Há, nesse momento, um incremento do processo de urbanização, principalmente no Rio de Janeiro e em Salvador, caracterizado pela precariedade das condições de saneamento, o que produziu graves problemas de saúde, uma das manifestações dos profundos problemas de natureza social. As elites letradas referiam-se às imundícies físicas e morais, estas relacionadas às várias personagens urbanas, como “leprosos, loucos, prostitutas, mendigos, vadios, crianças abandonadas, alcoólatras”. Foi nessa situação que surgiu a Medicina social → Mais preocupada com a saúde do que com a doença → Com a prevenção do que com a cura → Pautando-se nos ideais de normalização e higienização social, com vistas à eliminação da desordem e dos desvios, sendo proposta, nesse sentido, a higienização de hospitais, cemitérios, quartéis, bordéis, prisões, fábricas e escolas. Muitos dos quais ex-escravos que, já não mais produtivos, eram abandonados à própria sorte e se tornavam alvos de práticas higienistas, como a reclusão em prisões e hospícios, respaldada pelo discurso médico. A partir da década de 1840 foram criados os primeiros hospícios no Brasil, baseando-se na necessidade de oferecer tratamento adequado aos “loucos”, que até então viviam nas ruas, prisões e nas “casinhas de doudos” das Santas Casas de Misericórdia. O primeiro hospício do Brasil Inaugurado em 1852 para abrigar os alienados da Corte e demais províncias do Império, o Hospício de Pedro II foi a primeira instituição dessa natureza a funcionar no Brasil. Seu nome homenageava o próprio imperador, responsável pelo decreto fundador do estabelecimento, que nascia vinculado à Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, principal destino de alienados até então. Na educação, conteúdos psicológicos que abordavam as faculdades psíquicas – inteligência, sensações e vontade - a aprendizagem e os métodos e instrumentos educativos são encontrados no ensino secundário e, sobretudo, nas Escolas Normais, com a crescente preocupação com o fenômeno psicológico, fundamentando principalmente a metodologia de ensino, com foco no educando e na formação do educador. Conteúdos psicológicos são encontrados nas disciplinas - “Filosofia, “Psicologia Lógica”, “Pedagogia” e “Pedagogia e Psicologia”. Foi possível observar uma mudança em relação ao período anterior, no qual os indígenas eram o principal foco dos autores da época e nesse novo período, no século XIX, a preocupação passa a ser com os afrodescendentes Uma das possíveis explicações para isso é o fato de que, no período colonial, o indígena constituía um problema para o colonizador, uma vez que aquele não se dobrava às condições necessárias impostas pela empresa colonial, particularmente a submissão ao trabalho escravo. Nativo desta terra, tendo sobre ela o domínio e não podendo ser apartado de sua cultura, o indígena podia resistir mais fortemente às investidas dos colonos portugueses. Diferente foi, porém, a condição dos africanos e afrodescendentes, que, apartados de sua terra, cultura, língua, tribo, estavam fragilizados não apenas pela força física, mas, sobretudo, pela força do impedimento de suas expressões socioculturais . A solução do colonizador para o indígena foi sua eliminação física . A solução dos escravos africanos para a escravidão foi construir lenta e gradativamente uma forte base de resistência . Em outras palavras, no século XIX , o indígena já não mais representava um problema para o colonizador. O problema era, então, o afrodescendente, que, livre ou sujeitado ainda à escravidão, já não mais correspondia às necessidades de força de trabalho para o novo ciclo econômico, agora deslocado para o sudeste do País, para a cafeicultura. A isso somam-se as ideias racistas, cada vez mais fortes e elaboradas, preocupadas em garantir não só a supremacia étnica de base europeia mas também em segregar ou eliminar a presença de outras origens étnicas e raciais na formação social brasileira. Coube ao pensamento científico, representado principalmente pelo poder médico, construir o discurso que sustentava tais ideias, dentre estas, muitas relacionadas ao fenômeno psicológico. Percebe-se, pois, que o Brasil do século XIX , embora tivesse deixado a condição colonial, seguia imerso em profundos e graves problemas de diversas ordens, particularmente de caráter social. Por outro lado, nesse momento, o Brasil, agora nação formalmente considerada autônoma, adquiria maior facilidade de contato com outros países, o que facilitava a penetração de ideias correntes na Europa, especialmente na França, indiscutível centro intelectual da época. Por isso, o desenvolvimento do pensamento psicológico no Brasil, no século XIX , deve ser visto também a partir dos intercâmbios intelectuais com países estrangeiros. 1890 – 1930 Autonomização da psicologia Esse período, que vai do final do século XIX ao início dos anos 30, deve ser visto necessariamente como processo que vai gradativamente se engendrando ao longo do tempo, iniciando com ideias e práticas que se dão no interior de outras áreas do conhecimento e que, aos poucos, vão se conformando como uma área autônoma, a Psicologia, tal como considerada na Europa e nos Estados Unidos. Antes disso, pode-se falar em saberes psicológicos, mas não se pode afirmar que se trate propriamente de Psicologia. Esta gradativamente conquista a condição de área específica de conhecimento e, mais tarde e como consequência, a de campo de intervenção prática. Nesse período, já era profícua a produção da ciência psicológica. França, Alemanha, Rússia e Estados Unidos, entre outros países, produziam relevantes pesquisas em Psicologia, assim como surgiam várias perspectivas teóricas e ampliavam-se as possibilidades de intervenção. Muitas dessas ideias foram trazidas para o Brasil por brasileiros que iam estudar e se aperfeiçoar principalmente na Europa ou por estrangeiros que vieram ministrar cursos, dar conferências ou prestar assessoria, alguns dos quais aqui se radicaram. Nesse período, já era profícua a produção da ciência psicológica. França, Alemanha, Rússia e Estados Unidos, entre outros países, produziam relevantes pesquisas em Psicologia, assim como surgiam várias perspectivas teóricas e ampliavam-se as possibilidades de intervenção. Muitas dessas ideias foram trazidas para o Brasil por brasileiros que iam estudar e se aperfeiçoar principalmente na Europa ou por estrangeiros que vieram ministrar cursos, dar conferências ou prestar assessoria, alguns dos quais aqui se radicaram. Foram os movimentos dos setores intelectuais, portanto, das camadas médias, que formaram um substrato que permitiu a gradativa conformação da Psicologia como área específica de conhecimento,base necessária para as intervenções sociais articuladas a seus projetos. Percebe-se que, nesse momento, ainda que produzida no interior de outras áreas do saber, é a Psicologia Científica que, de fato, encontra solo fértil para desenvolver-se no Brasil. Gradativamente, portanto, a Psicologia vai sendo reconhecida como uma ciência autônoma, ocupando um lugar significativo no âmbito do ensino, da pesquisa e da prática. Destaca-se a obra: Attentados ao pudor: estudo sobre as aberrações do instinto sexual, de Viveiros de Castro (1895), publicada em Recife e no Rio de Janeiro por duas editoras. Datam da década de 1920 as primeiras aplicações sistemáticas da Psicologia às questões relativas ao trabalho, embora seu desenvolvimento venha a ocorrer de fato após os anos 1930, sobretudo relacionado às novas perspectivas de industrialização do país. 1930 – 1962 A consolidação da Psicologia Ensino, pesquisa, publicações, congressos, organização e atuação prática: o processo de consolidação da psicologia rumo á regulamentação profissional. A Psicologia se consolida como uma ciência capaz de formular teorias, técnicas e práticas para orientar e integrar o processo de desenvolvimento demandado pela nova ordem política e social. Consolidam-se os campos de atuação: educação, trabalho e clínica. Testes e métodos de avaliação psicológicos são utilizados nos serviços públicos de orientação infantil implantados em São Paulo e no Rio de Janeiro. Estes também são a base do trabalho de institutos como o IDORT/SP, ISOP/RJ, IDOV/BA e SOSP/MG, voltados para a seleção e orientação de pessoal e organização do trabalho. Os Serviços Nacionais da Indústria e do Comércio adotam abordagens psicológicas para a qualificação profissional. A Psicologia desvincula-se gradativamente da psiquiatria, ganhando status de disciplina independente nos cursos de pedagogia, ciências sociais e filosofia. Cresce o intercâmbio com o exterior: profissionais estrangeiros vêm ao Brasil ministrar cursos e dirigir grupos de estudos. Ao mesmo tempo, aumentam as publicações de Psicologia. No plano institucional, psicólogos se organizam em associações que reivindicam a regulamentação da profissão. Nos anos 1950 uma sucessão de fatos amadurece a luta: Primeiro pedido de registro de um consultório de psicopedagogia no Ministério da Educação; Primeiro Congresso Brasileiro de Psicologia, em Curitiba; Primeiro anteprojeto sobre a formação e regulamentação da profissão, apresentado pela Associação Brasileira de Psicotécnica; Criação dos cursos de Psicologia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP e na PUC de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Em 1958 é apresentado o Projeto de Lei 3825 que dispõe sobre a regulamentação da profissão de psicologista. A Lei 4119 de 27 de agosto de 1962 reconhece a profissão de psicólogo, fixa normas para a atuação profissional e estabelece um currículo mínimo para sua formação. Os campos de atuação são aqueles que se consolidaram como prática no período anterior: clínica, escolar-educacional e organização do trabalho. 1962 – 1980 A regulamentação e os tempos da Ditadura A ditadura militar e as condições por ela imposta criam problemas para o desenvolvimento da profissão. É criada uma lei que retira a disciplina Psicologia do currículo do então ensino de 2º Grau. A Reforma Universitária de 1968, em nome da democratização do ensino superior, possibilita a proliferação de faculdades privadas, formando grande contingente de profissionais sem possibilidade de ingresso no mercado de trabalho, que se retrai para áreas como a Psicologia. Ao mesmo tempo, essas escolas tornam a docência uma alternativa de trabalho para psicólogos, muitos dos quais fazem desse espaço o lócus para a resistência política e para a produção de uma Psicologia crítica, discutindo e divulgando, entre outras, ideias libertárias inspiradas na antipsiquiatria e nos grupos operativos, críticas e elaboração de novas possibilidades de atuação na educação e no trabalho, assim como a busca de novos aportes teóricos, sobretudo no âmbito da Psicologia Social. A Psicologia Clínica, praticada nos consultórios particulares, torna-se o sonho de muitos profissionais, embora reforce a elitização da profissão e seja restrita como campo de trabalho. O clima de restrição ao livre pensamento e liberdades individuais, favorece perspectivas idealistas e tecnicistas na área, mas isso não foi suficiente para que, já na década de 1970, a crítica à esta Psicologia e a busca de alternativas teóricas e práticas não começassem a se concretizar. O discurso intimista forjado nesses anos é aceito pelas famílias que culpam os filhos e a si mesmas por sua “desestruturação”, “crises” e “desvios”, sem perceber as relações de determinação sociohistórica na constituição do psiquismo. A exclusão social é explicada com argumentos psicológicos. Alguns psicólogos apoiam práticas repressivas da época, encobrindo, ignorando ou justificando a violência do Estado. A Psicologia brasileira passou a criticar suas referências teóricas e práticas na medida em que profissionais, professores, pesquisadores e estudantes passaram a responder às demandas dos diversos segmentos da sociedade com os quais trabalhavam. Buscam compreender, no cenário estrutural da desigualdade socioeconômica, a fala dos sujeitos imersos em práticas e discursos instituídos que legitimavam a segregação e a exclusão. O sistema de conselhos de psicologia e a redemocratização A psicologia assume compromissos com a sociedade brasileira. O Conselho Federal de Psicologia foi criado em 1971 durante o período mais duro da ditadura militar, sob o controle do Ministério do Trabalho. Somente dois anos depois o Ministério do Trabalho convoca as associações de psicologia para elegerem o Primeiro Plenário. Em processo de organização, o CFP oficializa em 1975 o primeiro Código de Ética Profissional, reformulado em 1979. Neste mesmo ano, publica o número zero da Revista Psicologia, Ciência e Profissão, em que começa a tornar pública a adesão ao movimento contra a ditadura. Em dez anos de existência, o CFP passa de 850 para 50 mil inscritos, passando a atuar politicamente junto aos órgãos relacionados à Psicologia. Luta antimanicominal O Movimento da Luta Antimanicomial no Brasil teve início em dezembro de 1987, durante o II Congresso Nacional dos Trabalhadores em Saúde Mental, que foi realizado na cidade de Bauru - SP. Em dezembro daquele ano, manifestantes, dentre usuários e trabalhadores da saúde mental foram às ruas, clamando por uma sociedade sem manicômios. Dentre os resultados do Movimento da Luta Antimanicomial, destacam-se a instituição do dia 18 de maio como Dia Nacional da Luta Antimanicomial e a aprovação da Lei 10.216/2001. Esta lei, aprovada em abril de 2001, garante aos portadores de sofrimento psíquico direitos e proteção, como: assistência integral, incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer e outros; foco no tratamento em serviços comunitários; tratamento com humanidade e respeito, visando a recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade; proteção contra qualquer forma de abuso e exploração; acesso a informações a respeito da doença e de seu tratamento, com garantia de sigilo nas informações prestadas; livre acesso aos meios de comunicação disponíveis; tratamento em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis; proibição da internação em instituições com características asilares e que não assegurem os direitos supracitados.
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