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DIABETES INTRODUÇÃO - IDF: 9,3% dos adultos entre 20-79 anos vivem com DM - Projeções: 2030 (578 milhões com DM); 2045 (700 milhões de indivíduos com DM) - Brasil ocupa o sexto lugar na lista com maior número de diabéticos após China, Índia, EUA, Indonésia e Paquistão CLASSIFICAÇÃO - Diabetes Tipo 1 - Diabetes Tipo 2 - Tipos específicos devido outras causas: neonatal e MODY (relacionados à síndromes monogê- nicas de diabetes); doenças do pâncreas exócrino (associado a um processo inflamatório: fi- brose cística, pancreatite, trauma, pancreatectomia); associado a outras endocrinopatias (Sd Cushing, Feocromocitoma); DM induzido por fármacos (ex: glicocorticóide, antipsicóticos) - Síndrome de Cushing: hipercortisolismo - Feocromocitoma: tumor produtor de adrenalina e noradrenalina, mas pode ainda produzir corticoide e outras substâncias que levam à hiperglicemia - Diabetes melito gestacional • DM tipo 1 - Representa 5 a 10% dos DM - Caracteriza-se por destruição autoimune das células beta pancreáticas (DM tipo 1A) ou mais raramente idiopática (DM tipo 1B) - DM tipo 1A: geralmente associado à presença de auto-anticorpos - Autoanticorpos: anti-ilhotas (ICA), anti-Znt8, Anti-insulina (IAA), anti-GAD. -> avaliados no sangue - Anti-Znt8: anti-transportador de zinco - Anti-GAD: detectado em adultos - Anti-insulina: ao usar o hormônio exógeno, pode aumentar a produção anti- insulina. - Deficiência absoluta de insulina - Tendência à cetose - Complicação: cetoacidose diabética - Predomina em crianças e adolescentes - Hiperglicemia é permanente quando 90% das ilhotas são destruídas - Observação: período da lua de mel -> paciente em hiperglicemia significativa é insuliniza- do e em seguida diminuída a dose de insulina: como se apresentasse certa produção de insulina/viabilidade de célula pancreática. Depois é necessário retornar a uma dose mais elevada. Esse período pode apresentar duração variável. • Diabetes autoimune latente do adulto (LADA) - Apresenta destruição das células pancreáticas é mais lenta do que no DM 1 - “DM 1 tardio” - Geralmente apresenta os autoanticorpos, mas a destruição é mais lenta - Mais comum em pacientes de 30-50 anos - Tem sido visualizada precocidade no seu desenvolvimento, podendo ser associada ao novo estilo de vida (sedentarismo; alimentação inadequada) - Forma híbrida de Diabetes - Apresenta os anticorpos de DM 1, mas ao mesmo tempo não são magros (geralmen- te apresentam excesso de peso e resistência à insulina) - Medicamento para retardar o desenvolvimento de diabete dependente de insuli- na: inibidor de DPP4 - Os níveis de peptídeo C (reserva de insulina) diminuem mais lentamente do que em DM 1 - Positividade para anti-GAD como o marcador mais sensível - Não necessitam de insulina por pelo menos seis meses após o diagnóstico -> inicia o tra- tamento com hipoglicemiante, mas em dado momento o medicamento deixa de ser sufi- ciente. • DM tipo 2 - 85 a 90% de todos os casos de Diabetes - Associado à predisposição genética (herança poligênica) + fatores de risco (principalmen- te relacionados ao estilo de vida [atividade física e alimentação]) - Maioria apresenta sobrepeso ou obesidade - Mais comum após 40 anos - Associação com Sindrome Metabólica (70-90%) - Síndrome metabólica: aumento da gordura abdominal (circunferência abdominal maior que 80 em mulher/90 em homens) associada a duas alterações metabólicas relacionadas à glicemia, pressão ou dislipdemia. - Início insidioso, podendo ser assintomático por longo tempo - DM 2 com tendência à cetose: não é comum - Diabetes atípico -> DM tipo 1,5 (sem classificação pela IDF atual) - Manifestação inicial cetoacidose diabética com evolução para hipoglicemiante oral - Inicia-se com quadro de cetoacidose e não evolui utilizando insulina. Mantém-se com hipoglicemiante oral. - Autoanticorpos negativos (Antígenos HLA classe II DRB103 e 04) - Fisiopatologia não conhecida • DM monogênico - Associado à defeitos genéticos da função da célula beta - MODY - DM adulto jovem - Início < 25 anos de idade em pelo menos um membro da família - Muitas vezes visualizado histórico de DM em duas gerações consecutivas - Autoanticorpos negativos - Sem sinais de resistência insulínica (apresentam secreção de insulina: peptídeo C 0,6 após 5 anos do diagnóstico de DM) - Diabetes é controlado com hipoglicemiante oral e mesmo após 5 anos o peptí- deo C é viável, evidenciando que apresentam produção insulínica. - Utilização de sulfa (hipoglicemiante; ex gliclazida, glimepirida) no tratamento -> esti- mulam a produção de insulina pela célula beta - Há 14 subtipos de MODY (com variação na idade de início e padrão de hiperglicemia) - Prevalência 3,6% (DM em < 30 anos) - Diagnóstico: testes genéticos com sequenciamento - Características clínicas: - Maioria dos pacientes com peso normal - MODY 1 (HNF4A) e 3 (HNF1A): defeito secretório de insulina com evolução - MODY 2 (GCK): hiperglicemia leve/assintomática - MODY 2 e 3 são os mais comuns no Brasil -> tratamento geralmente com sulfas (estimulam pâncreas a produzir insulina) • DM induzido por drogas - Medicamentos normalmente envolvidos: glicocorticóides, clozapina, olanzapina, inibido- res de proteases (antiretrovirais -> paciente HIV+), interferon-alfa - São medicações que interferem na resistência à insulina: altera a sensibilidade à in- sulina. - Uso de metformina, que aumenta a sensibilidade à insulina, geralmente é suficiente para o tratamento. Retirada ou redução de dose dos medicamentos citados também é uma alternativa. - O indivíduo é capaz de secretar a insulina, mas de forma errática. Respondem bem à sulfa e geralmente não progride. • DM gestacional - Principal complicação metabólica da gravidez - Prevalência de 3-25% das gestações - Fatores de risco: - Idade materna avançada - Sobrepeso ou obesidade no início da gestação - SOP - História familiar de DM 2 em parentes de primeiro grau - HbA1c (hemoglobina glicada) maior ou igual à 5,9% no início da gestação - Como se tivesse um pré-diabetes - Crescimento fetal excessivo, bebê macrossômico (mais de 4kg), polidrâmnio - Observação: glicemia normal na gestação é diferente da normal na população: - Gestação: < 92 - Glicemia acima de 126 apresenta diabetes -> provavelmente a mãe já apresen- tava diabetes/alteração metabólica - Glicemia entre 92 e 125: possibilidade de diabetes gestacional. Necessidade de complementação do teste (TOTG: dosagem de glicose basal e depois de inges- tão de 75g de dextrosol [após 1 e 2 horas]) - População: < 99 DIAGNÓSTICO - Critérios diagnósticos para população geral: que confirmam o diagnóstico de diabetes - Glicemia de jejum maior ou igual à 126, realizada duas vezes (duas medidas, realizadas com pelo menos 24h de diferença) - Dosagem glicose pode ser realizada com jejum de 8h, sem necessidade de 12h de jejum. - TOTG (teste de tolerância à glicose): dosagem de glicose basal e após ingestão de 75g de dextrosol após duas horas (deve ficar em repouso durante esse período para evitar o con- sumo da glicose). - Após 2 horas: - Normal: glicose menor que 140 - Pré-diabetes: 140-199 - Diabetes: acima de 200 - Glicada maior ou igual à 6,5% - Glicemia plasmática aleatória (sem jejum) maior que 200, 1 vezes apenas, com apresenta- ção de sintomas (nictúria, poliúria, polaciúria, polidipsia, polifagia, perda ponderal signifi- cativa) - Observações: - Após a primeira hora de alimentação, o normal é apresentar glicemia abaixo de 180. - Glicada acima de 9%: insulinização necessária - Diagnóstico pré-DM - Glicemia em jejum entre 100 e 125 - TOTG: 140-199 após 2h do uso de dextro- sol - Clicada entre 5,7 e 6,4% - Observação: pré-diabetes já deve ser trata- da com medicação. - Critérios para investigação (assintomáticos): - Adultos com sobrepeso ou obesidade, que têm um ou mais dos seguintes fatores de ris- co: - Parente de primeiro grau comdiabetes - História de doença cardiovascular (IAM, AVC, etc) - Hipertensão (≥ 140/90 mmHg ou em terapia) - Dislipidemia (HDL baixo ou triglicerídeo elevado) - HDL baixo: padrão sedentário, pois atividade física aumenta HDL - Triglicerídeo elevado: padrão de quem ingere mais carboidrato - SOP - Sedentarismo - Acantose nigricans (hiperpigmentação em região axilar, cervical ou inguinal, típica de quem apresenta aumento de insulina) - Observação: insulina basal normal é menor do que 13. É importante dosar glico- se e insulina, para que seja verificada possível resistência à insulina. No entanto, dosagem de insulina não confirma diagnóstico de diabetes. - Pacientes com pré-diabetes (devem ser testados anualmente) - As mulheres que foram diagnosticadas com DM gestacional devem fazer o teste ao longo da vida, pelo menos a cada 3 anos - Para todos os outros pacientes, o teste deve começar aos 45 anos - Se os resultados forem normais, o teste deve ser repetido em intervalos mínimos de 3 anos, com consideração de testes mais frequentes, dependendo dos resul- tados iniciais e do status de risco. - HIV+: pacientes podem apresentar lipodistrofia e fazem uso de medicações antirre- trovirais que aumentam a resistência à insulina - Interpretação HbA1C: - O jejum não é necessário e a amostra pode ser coleta- da em qualquer horário do dia - Apresenta baixa variabilidade biológica individual e não é afetada por estresse agudo - Kit que fornece a média das glicemias dos últimos 2 a 3 meses (tempo de sobrevida das hemácias) - Nível da glicada está relacionado com complicações crônicas -> sua elevação aumenta o risco de complicações micro e macrovasculares. - Valores: - Falsamente baixos: anemia hemolítica; estados hemorrágicos; gravidez; altas doses de vitamina C e E; hemoglobinopatias - Falsamente altos: uremia; hipertrigliceridemia; álcool; uso de AAS e opiáceos - Portanto, a quantidade de hemoglobina e a alteração do processo de glicação po- dem gerar alterações nos valores - Há diferenças étnicas e raciais que influenciam a capacidade de glicação da hemoglobina. Alguns estudos indicam que níveis de HbA1C são menores em brancos do que em negros e hispânicos. - Outros exames: - Frutosamina: - Proteína glicada (constituída principalmente de albumina) - Kit que reflete glicose de 7 a 14 dias - Pode ser solicitada para verificar a evolução de um paciente insulinizado, por exemplo, já que a glicada em 15 dias não irá evidenciar alterações. - Boa correlação com HbA1C - Se a frutosamina está diminuindo, provavelmente a glicada também está. - Não é válida para diagnóstico de DM -> é um exame para acompanhamento do dia- bético - Pesquisa de corpos cetônicos - Característicos de CAD - Maioria pelo método nitroprussiato (dosagem do acetoacetato e acetona) -> disponí- vel no SUS - Não reconhece o beta-hidroxibutirato (principal corpo cetônico) - Dosagem de peptídeo C - Avalia a capacidade secretória do pâncreas - Reserva insulina ainda viável: acima de 0,6 ng/dL - Deve ser realizada, de preferência, fora do jejum em qualquer horário do dia. - Autoanticorpos contra célula beta - Solicitar quando há suspeita de DM1A ou LADA - Principal: anti-GAD (anticorpo tardio) -> 80% dos casos DM1 - ICA, IAA, anti Znt8A: tendem a desaparecer após 2 a 3 anos de duração da doença MONITORIZAÇÃO - Glicosímetro - FreeStyle (Libre) - I-port COMPLICAÇÕES DA DIABETES - Alterações microvasculares: neuropatia, nefropatia e retinopatia • Nefropatia - Alterações precoces - Hiperfiltração mediada por SGLT2 - Observação: há medicamento inibidor de SGLT2 (Jardiance, Forxiga, Ebymect, etc) utilizado na DM2, atuando no controle glicêmico e na redução da progres- são renal - Aumento de reabsorção de glicose e NaCl no túbulo proximal - Paciente diabético já reabsorve muita glicose - Hipertrofia glomerular e de túbulos renais - Alterações tardias -> doença renal instalada - Espessamento da membrana basal glomerular e esclerose mesangial - Liberação de citocinas e moléculas de adesão - Lesão e apoptose dos podócitos - Perda de néfrons e progressão de DRC - DRC ocorre em 20 a 40% dos pacientes com DM - Definição pelo KDIGO: progressão rápida da queda da taxa de filtração glomerular = per- da superior a 5 ml/min/ano - Diagnóstico: utilização de 2 parâmetros - Albuminúria: relação albumina-creatinina em amostra urinária isolada - Taxa de filtração glomerular - Recomendações e tratamento: - Albumina urinária: Spot (1x/ano) - Atenção: exercícios dentro de 24 horas, infecção, febre, insuficiência cardíaca congestiva, hiperglicemia acentuada (paciente descontrolado), menstruação e acentuada hipertensão pode elevar independentemente do dano renal - Taxa de filtração glomerular (1x/ano) - Caso albumina urinária > 30 mg/g e/ou e-IFG < 60 mL/min: monitorização 2x/ano - Albumina urinária normal: < 30 mg/g - Microalbuminúria: 30 a 200 mg/g - Macroalbuminúria: > 300 mg/g - Manter PA estável (ECA e Bra) - Inibidor de ECA: ex enalapril, captopril - BRA: ex losartan, olmesartan, candesartan - Restrição de Sódio (<1500mg/dia) - Controle glicêmico - iSGLT2 e aGLP1: opções para tratamento de DM2 - iSGLT2: inibidor de GLT2 - aGLP1: análogo de GLP1 - Restrição da ingestão proteica: Ingestão diária 0,8g/Kg peso - Encaminhamento para nefrologista quando: 30 mL/min/1.73 m2 - Terapia de substituição renal: hemodiálise, diálise peritoneal e transplante - Tabela: quais medicações devem ter dose diminuída ou ser realizada a retirada completa - iSGLT2: retirada quando TFG < 30 - aGLP1: retirada quando TFG < 15 (no caso da Semaglutida) • Retinopatia diabética: - Mais frequente causa de novos casos de cegueira entre adultos com idade entre 20-74 anos - Glaucoma, catarata e outros distúrbios do olho ocorrem mais cedo e mais frequentemente em pessoas com DM - Além da duração do diabetes, fatores que aumentam o risco ou são associados a retino- patia: hiperglicemia crônica, nefropatia, hipertensão e dislipidemia - Paciente com microalbuminúria e alteração de função renal provavelmente já apre- senta alteração no fundo de olho - Quando avaliar: - DM1: exame com 5 anos de doença - DM2: investigação já no diagnóstico - Opções de tratamento: - Fotocoagulação a laser - Injeções intravítreas de fator anti-crescimento endotelial - Avaliação oftalmológica • Neuropatia diabética - Os sintomas variam de acordo com a classe de fibras sensoriais envolvidas. - Os sintomas iniciais mais comuns são induzidos pelo envolvimento de pequenas fibras e incluem dor e disestesia (sensações desagradáveis de queimação e formigamento - em bota e luva). - O envolvimento de grandes fibras podem causar dormência e perda de sensação proteto- ra. Fator de risco para ulceração do pé diabético - Testes clínicos para avaliar a função das fibras pequenas e grandes: - Função da fibra pequena: picada e sensação de temperatura - Função da fibra grande: vibração por percepção e monofilamento de 10g - Neuropatia autonômica: geralmente no paciente diabético de longa data com doença não controlada. - Desconhecimento da hipoglicemia - Taquicardia em repouso - Hipotensão ortostática - Tratamento: ingestão adequada de sal, evitar medicamentos que agravam a hi- potensão ou usar roupas compressivas sobre as pemas, exercício físico - Gastroparesia - Tratamento: desafiador, baixa ingestão de fibra, retirando dragas com efeitos adversos na mobilidade gastrointestinal, incluindo opióides, antidepressivo tricí- clicos. Pró-cinéticos são uma opção. - Constipação - Diarréia, incontinência fecal - Disfunção erétil - Tratamento: inibidores da fosfodiesterase tipo 5 - Bexiga neurogênica (vai retendo urina) - Tratamento: - Controle glicêmico - Uso de analgésicos para dor (pregabalina, duloxetina ou gabapentina) - Pregabalina é um medicamento da classe dos anticonvulsivantes que age ligan- do-se à subunidade alfa-2-deltados canais de cálcio dependentes de voltagem no SNC e modulando o influxo de cálcio nos terminais nervosos, inibindo assim a liberação excitatória de neurotransmissores -> favorece o controle da sensibi- lidade do paciente. - Duloxetina: antidepressivo; provavelmente age alterando o limiar da dor. - A dor neuropática pode ser severa e pode impactar a qualidade de vida, limitar a mobilidade e contribuir para a depressão e disfunção social - Antidepressivos tricíclicos (amitriptilina), venlafaxina, carbamazepina e capsaicina tó- pica, embora não seja aprovado para tratamento de neuropatia diabética dolorosa, pode ser eficaz
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