Prévia do material em texto
Rafael Venâncio de Souza ➢ Infecções Oportunistas 1. Imunodeficiência Moderada (LT-CD4 200-350) x Imunodeficiência Avançada (LT-CD4 < 200) Rafael Venâncio de Souza 2. Manifestações Clínicas Atribuídas Diretamente ao HIV • NEFROPATIA ASSOCIADA AO HIV (NAHIV) - forma clássica de acometimento glomerular que pode ocorrer com qualquer nível de LT-CD4+ - manifesta-se por proteinúria intensa e hipoalbuminemia, habitualmente sem sinais clínicos de hipertensão arterial ou edema • ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS ATRIBUÍDAS AO HIV - inclui alterações neurocognitivas, como perda da memória, lentificação psicomotora e déficit de atenção - em uma fase inicial da demência associada ao HIV, esses sintomas costumam ser leves, evoluindo para déficits mais graves, tais como distúrbios da marcha, tremor e perda da habilidade motora fina • CARDIOMIOPATIA ASSOCIADA AO HIV - a prevalência de doenças cardiovasculares é maior em PVHIV, em parte relacionadas a um perfil de maior risco cardiovascular, bem como a ação direta da própria infecção pelo HIV - a doença cardíaca nas PVHIV apresenta-se de diversas formas, podendo estar relacionada a outras infecções oportunistas ou ao estagio avançado da infecção pelo HIV, incluindo cardiomiopatia associada ao HIV, pericardite ou hipertensão arterial pulmonar 3. Infecções Respiratórias → Pneumonia Bacteriana - AGENTES MAIS FREQUENTES: Streptococcus pneumoniae (35-70%), Haemophilus influenzae (3-40%), Pseudomonas aeruginosa (3-10%) (não tão comum no indivíduo imunocompetente), Escherichia coli (6-7%), outros Gram negativos (7-9%) - os pacientes com LT-CD4 < 200 apresentam chances aumentadas de doença pneumocócica invasiva (disseminação hematogênica da bactéria, podendo gerar sepse) - o quadro clínico é semelhante ao dos pacientes não HIV, com quadro de instalação aguda que cursa com febre, tosse produtiva e dor torácica pleurítica - TRATAMENTO: é semelhante ao dos pacientes não HIV, podendo utilizar uma quinolona respiratória (p.ex. levofloxacino ou moxifloxacino) OU beta lactâmico (penicilina ou ceftriaxona) associado ao macrolídeo (claritromicina ou azitromicina) OBS: atentar para pacientes com pneumonias bacterianas de repetição em um curto espaço de tempo, devendo investigar o HIV/Aids como a causa Rafael Venâncio de Souza → Pneumocistose - a pneumocistose é a causa mais comum de doença pulmonar oportunista em PVHIV com contagem de LT-CD4+ abaixo de 200 - é causada pelo fungo Pneumocystis jiroveci - o início dos sintomas é tipicamente subagudo, sendo as manifestações clinicas mais comuns: febre baixa (mais de 80% dos casos), tosse seca e dispneia progressiva (pode evoluir em semanas para insuficiência respiratória) • DIAGNÓSTICO - não há características clinicas ou imagem radiológica especificas de pneumocistose, sendo seu diagnostico geralmente presuntivo, baseado em dados clínicos, laboratoriais e de imagem compatíveis – há uma dificuldade no isolamento do fungo em amostras respiratórias - RADIOGRAFIA DE TÓRAX: pode ser normal; quando alterado, apresenta infiltrado reticular difuso bilateral (não há padrão de consolidação como visto na pneumonia) - LDH (LACTATO DESIDROGENASE) AUMENTADA – é um fator diagnóstico, prognóstico e de resposta à terapia - GASOMETRIA ARTERIAL: hipoxemia com PaO2 < 70 - a radiografia de tórax mostra um infiltrado intersticial peri-hilar e simétrico - a TC pode revelar atenuação pulmonar em vidro fosco • TRATAMENTO - o tratamento de primeira escolha é a associação de sulfametoxazol (SMX) + trimetoprim (TMP), com 15-20mg de TMP/kg/dia oral/EV a cada seis ou oito horas, por 21 dias - o esquema alternativo para casos de intolerância à sulfa é clindamicina 300mg oral a cada seis horas + primaquina 15-30mg oral uma vez ao dia, por 21 dias - indica-se a associação de corticosteroides ao tratamento de PCP nos casos de PaO2 <70mmHg em ar ambiente ou gradiente alvéolo-capilar >35mmHg: prednisona 40mg oral duas vezes ao dia por cinco dias, reduzida à metade a cada cinco dias, até completar os 21 dias de tratamento - EFEITOS COLATERAIS: alergia, IRA (deve-se corrigir a dose na insuficiência renal), toxicidade medular e hipercalemia • PROFILAXIA SECUNDÁRIA - a profilaxia secundaria deverá ser instituída após tratamento e deverá ser realizada com SMX-TMP na dose de 160-800mg três vezes por semana ou 80- 400mg/dia até alcançar LT-CD4+ acima de 200 cels/mm3 por pelo menos três meses → Tuberculose (TB) - sendo a TB uma infecção de alta prevalência entre PVHIV, sua presença deve ser investigada em todas as oportunidades de atendimento as PVHIV, mediante o questionamento sobre a existência de um dos quatro sintomas: febre, tosse, sudorese noturna e emagrecimento - também é necessário realizar o teste para HIV em todas as pessoas com diagnostico de TB - pode cursar com manifestações atípicas, principalmente com LT-CD4 < 200, e pode haver comprometimento extrapulmonar (meníngeo, ganglionar, intestinal etc) • DIAGNÓSTICO Rafael Venâncio de Souza • TRATAMENTO 4. Síndromes Neurológicas - as síndromes neurológicas são reunidas em dois grupos: ① síndrome de cefaleia e meningismo – neurocriptococose e neurotuberculose ② síndrome de déficit focal – neurotoxoplasmose, leucoencefalopatia focal progressiva (LEMP) e linfoma primário do SNC - a síndrome de cefaleia e meningismo cursa com vômitos, febre, rigidez de nuca e confusão mental - a síndrome de déficit focal cursa com hemiparesia, afasia, apraxia, ataxia, déficits sensoriais e acometimento de múltiplos pares cranianos → Neurocriptococose - é causada por um fungo leveduriforme denominado Cryptococcus neoformans - os pacientes podem apresentar-se com meningite ou meningoencefalite, habitualmente de curso subagudo - as manifestações clinicas mais comuns são cefaleia, febre, mal-estar geral, náuseas e/ou vômitos, e rebaixamento do nível de consciência - pode haver hipertensão intracraniana (HIC) devido diminuição da absorção liquórica - a punção lombar diagnostica deve ser sempre realizada na suspeita clínica de meningite criptocócica e na ausência de contraindicações ao procedimento • DIAGNÓSTICO - TOMOGRAFIA DE CRÂNIO – pode se apresentar normal ou com apagamento de sulcos; mais raramente pode apresentar criptococomas - LÍQUOR – aumento discreto da celularidade, aumento da proteinorraquia, teste da tinta da China ou tinta nanquim positivo, teste de aglutinação de látex positivo e cultura de líquor positiva - PRESSÃO DE ABERTURA LIQUÓRICA AUMENTADA NA PUNÇÃO LOMBAR Rafael Venâncio de Souza • TRATAMENTO - INDUÇÃO (PELO MENOS DUAS SEMANAS): anfotericina B desoxicolato 0,7mg a 1mg/kg/dia + flucitosina 100mg/kg/dia dividida em quatro tomadas diárias; na ausência de flucitosina (não disponível no Brasil), pode ser usado fluconazol 800mg/dia dividido em duas tomadas diárias - o controle na fase de indução é feito com LCR e uma cultura negativa é um sinal para prosseguir para a fase de manutenção - CONSOLIDAÇÃO (PELO MENOS OITO SEMANAS): fluconazol 400mg a 800mg/dia - MANUTENÇÃO (PELO MENOS 12 MESES E DUAS CONTAGENS DE LT-CD4 > 200 COM INTERVALO DE SEIS MESES): fluconazol 200mg/dia - o tratamento da HIC é feito com punção lombar recorrente e medida da pressão intracraniana ou realização de uma derivação ventrículo-peritoneal (DVP) - NÃO HÁ BENEFÍCIOS COM O USO DE MANITOL, ACETAZOLAMIDA E GLICOCORTICOIDES NOS PACIENTES COM NEUROCRIPTOCOCOSE • PROGNÓSTICO - o prognóstico está intimamente relacionado com os níveis de hipertensão intracraniana → Neurotoxoplasmose - a toxoplasmose é a causa mais comum de lesões expansivas cerebrais (com efeito de massa) em PVHIV - ocorre devido reativação do Toxoplasma gondii em pacientes com LT-CD4 < 100 - as manifestações clinicas mais comuns são cefaleia e sinais de déficit focal (hemiparesia, disfasia e outras alterações motoras), além de febre, convulsões e alteração do estado mental • DIAGNÓSTICO- TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA: lesões (1-2 cm) múltiplas, hipodensas, com reforço anelar (realce pelo contraste), preferencialmente em gânglios da base, além de edema perilesional OBS: não é necessário punção lombar e está contraindicada se houver lesão com desvio de linha média; TODO PACIENTE HIV+ COM RNC DEVE REALIZAR EXAME DE IMAGEM ANTES DA REALIZAÇÃO DA PUNÇÃO LOMBAR Rafael Venâncio de Souza • TRATAMENTO - sulfadiazina 1.000mg (peso <60kg) a 1.500mg (peso ≥60kg) VO, a cada seis horas + pirimetamina 200mg VO no primeiro dia, seguida de 50mg/dia (peso <60kg) a 75mg/dia (peso ≥60kg) VO + ácido folínico 10mg/dia VO, durante SEIS SEMANAS - esquema alternativo com SMX-TMP na dose de 25mg/kg de SMX, duas vezes por dia, VO ou EV, durante SEIS SEMANAS - após esse período de tratamento, deve-se manter o paciente em profilaxia secundária para toxoplasmose com SMX-TMP ou sulfadiazina + pirimetamina - após 2 semanas do tratamento deve-se repetir o exame de imagem e, se lesão não estiver involuindo, deve-se pensar em diagnósticos diferenciais como linfoma de SNC, criptococoma etc; caso seja necessário, solicitar biópsia cerebral → Leucoencefalopatia Multifocal Progressiva (LEMP) - é causada pelo vírus JC (polyomavirus) - geralmente se manifesta em pacientes com LT-CD4 < 50 (imunossupressão grave) - se manifesta com sinais de déficit focal como afasia, paresia e amaurose, porém pode deixar sequelas graves ao paciente como síndrome demencial - o diagnóstico é feito com achados de RNM de crânio com comprometimento focal ou multifocal da substância branca OU pesquisa do vírus JC no líquor - não há tratamento específico, logo depende da melhora imunológica com a TARV - a RNM abaixo é de um paciente com LEMP e apresenta a substância branca com o “sinal em dedo de luva” 5. Citomegalovírus (CMV) - vírus da família herpes vírus, causa síndrome de mononucleose infeciosa quando adquirido na infância e adolescência, e pode se reativar em pacientes imunossuprimidos - doenças em órgãos causadas pelo CMV ocorrem em pacientes com avançada imunossupressão, tipicamente naqueles com contagem LTCD4+ abaixo de 50 cels/mm3 - os principais sítios de infecção são retina e aparelho digestivo, podendo ser acometidos também pulmões, fígado, vias biliares e SNC (demência, ventriculoencefalite e polirradiculomielite) → Retinite por CMV - de maneira geral, o comprometimento ocular inicia-se em um dos olhos, porém, sem tratamento sistêmico especifico ou reconstituição imune, pode se estender ao olho contralateral - os sintomas incluem escotomas, redução da acuidade visual e, menos frequentemente, perda visual súbita - o diagnóstico é clinico e baseia-se no aspecto da lesão retiniana, bem como em dados clínicos e laboratoriais de imunodepressão avançada; recomenda- se fundoscopia sob dilatação pupilar para a detecção de lesões periféricas a Rafael Venâncio de Souza → CMV no Aparelho Digestivo - os sítios mais comuns de acometimento são esôfago e cólon - o diagnóstico é sugerido pelo aspecto endoscópico de ulceração clássica da mucosa, mediante biópsia identificando células com inclusão intranuclear (“olhos de coruja”), bem como dados clínicos e laboratoriais de imunodepressão avançada → Tratamento - o tratamento de primeira escolha é ganciclovir 5mg/kg EV 12/12h, por 14 a 21 dias - recomenda-se profilaxia secundária com ganciclovir 5mg/kg/dia até atingir LT-CD4 > 100 durante 3-6 meses, nos pacientes em uso regular de TARV - o principal efeito colateral do ganciclovir é a mielotoxicidade 6. Candidíase Esofágica - é muito comum em pacientes com imunossupressão pelo HIV, sendo observada, geralmente, em pacientes com LT-CD4 < 200 - o principal agente da candidíase é a Candida albicans - os sintomas típicos de candidíase esofágica incluem dor retroesternal difusa, disfagia e/ou odinofagia, geralmente sem febre - a candidíase oral está presente na grande maioria dos casos e, geralmente, os pacientes apresentam LT-CD4 ainda mais baixos (inferiores a 100) - na EDA, observa-se placas esbranquiçadas na mucosa esofágica → Tratamento - CANDIDÍASE ORAL: fluconazol 100mg/dia por 7-14 dias OU nistatina suspensão oral 5mL, gargarejar e engolir 4-5 vezes ao dia - CANDIDÍASE ESOFÁGICA: fluconazol 200-400mg/dia VO OU 400mg/dia EV nos casos de disfagia importante - a grande maioria dos casos de candidíase esofágica responde clinicamente em 7-14 dias de tratamento antifúngico sistêmico e, na ausência de resposta clinica após esse período, deve-se levantar a suspeita de um diagnostico alternativo para o sintoma esofágico (p.ex. ulceração por CMV) 7. Sarcoma de Kaposi - é um câncer angiogênico causado pelo herpes vírus 8 - causa lesões na pele (principalmente pernas e face), mas também podem surgir outras lesões semelhantes nos gânglios, no fígado, nos pulmões e por toda a extensão da mucosa intestinal (provocando sangramentos digestivos) e brônquica - se for um tumor localizado ou poucas lesões presentes, apenas a TARV trata o sarcoma de Kaposi; na presença de lesões viscerais, é necessário também quimioterapia para o tratamento das lesões https://drauziovarella.uol.com.br/corpo-humano/figado/ https://drauziovarella.uol.com.br/corpo-humano/figado/ https://drauziovarella.uol.com.br/corpo-humano/pulmao/