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Acidente Vascular Cerebral · São lesões secundárias a um mecanismo vascular, com instalação de um déficit neurológico focal, não convulsivo e repentino, com duração maior que 24 h ou com alterações nos exames de imagem. · A origem do insulto pode ser isquêmica (AVC isquêmico), sendo a maioria dos casos, ou hemorrágica (AVC hemorrágico). AVC isquêmico · É uma entidade neurológica causada por fluxo sanguíneo insuficiente em uma região localizada do sistema nervoso central (SNC) ou nele todo. · Os acidentes vasculares cerebrais focais cursam com déficit decorrente do fluxo sanguíneo cerebral em tempo superior a 24 horas. O fluxo arterial não é restabelecido, o que resulta em infarto e morte neuronal. · Os acidentes vasculares focais cuja duração do déficit neurológico é menor que 24 horas são chamados de ataques isquêmicos transitórios (AIT). A maioria dos AIT cursa com melhora do déficit em menos de 2 horas; em geral, quando o fluxo sanguíneo não é normalizado em menos de 1 hora, já existe dano neuronal estabelecido. · Fatores de Risco AVC hemorrágico · Refere-se a sangramentos intracranianos intraparenquimatosos não traumáticos (espontâneos), relacionados ou não à hipertensão arterial sistêmica (HAS). · A fisiopatologia, a evolução clínica e o manejo terapêutico da hemorragia subaracnóidea (HSA) e sangramentos decorrentes de trauma (contusões, hematomas sub ou extradurais) são bastante distintos · Fatores de Risco Fisiopatologia · Obstrução súbita do fluxo arterial encefálico. · Pode ser de origem: · Embólica: quando o trombo é de outra região fora da artéria que originou o AVC · Trombótica: quando é da própria artéria envolvida no AVC. · Criptogênica: quando a causa ainda não é elucidada. · Quando o fluxo é interrompido, as células presentes no SNC, ficam sem suporte de oxigênio e glicose. Após muito tempo nesse estado, ocorre morte do tecido cerebral dentro da região isquemiada. · Em volta dessa região, encontra-se a área de penumbra, onde a isquemia é parcial e a lesão cerebral é reversível, se o fluxo sanguíneo for restaurado. · A isquemia leva, também, ao edema cerebral. Ele ocorre dias após o AVC e pode causar herniação cerebral · O AVCh ocorre após ruptura de estruturas vasculares cerebrais e possui vários mecanismos envolvidos: · A compressão ou destruição de tecido cerebral ou estruturas vasculares · Pode ser causado por hemorragia intraparenquimatosa o que ocasiona edema nas estruturas locais, levando a lesão neurológica. · Outra causa é a hemorragia subaracnóide, geralmente relacionada à ruptura de aneurisma. Quadro clínico · As manifestações clínicas do AVCI são causadas por conta da paralisação do fluxo sanguíneo em determinado território vascular cerebral. · AVCh: · HIP: déficit neurológico focal súbito, dependente da topografia da hemorragia, muitas vezes acompanhada de cefaleia, náuseas, vômitos, redução do nível de consciência e níveis pressóricos bastantes elevados. · HSA: cefaleia súbita, geralmente intensa e holocraniana, é o sintoma inicial mais frequente. Outros sintomas são: náuseas, vômitos, tonturas e sinais de irritação meníngea. Pode ocorrer perda de consciência e outras manifestações neurológicas como déficits motores, sensitivos, distúrbios da linguagem, crises convulsivas e alterações de nervos cranianos. Distúrbios autonômicos como bradicardia, taquicardia, alterações eletrocardiográficas, alterações da pressão arterial, sudorese profusa, hipertermia e alterações do ritmo respiratório podem ocorrer. Etiologia · AVCi: · EMBÓLICO: a) Cardioembólico: 20% de todos os AVCs isquêmicos. A fonte emboligênica é o coração, na maioria das vezes com fibrilação atrial com formação de trombo no AE, seguida pelo IAM de parede anterior formando trombo no VE e pelas cardiomiopatias dilatadas que formam trombo em VE e/ou AE. b) Ateroembólico: o AVC isquêmico típico dos pacientes hipertensos. A fonte emboligênica geralmente é uma placa aterosclerótica instável (com trombo) na carótida comum ou bifurcação carotídea ou na artéria vertebral. · Trombótico: mais comum é o AVC lacunar, definido por infarto de tamanho inferior a 2 cm, causado pela oclusão de pequenas artérias perfurantes cerebrais · AVCh: · Mais comum é o AVC hemorrágico hipertensivo, causado por lesão crônica de pequenas artérias perfurantes, promovendo fragilidade da parede vascular e formação de pequenos aneurismas, denominados microaneurismas de Charcot- Bouchard. · O rompimento desses aneurismas em geral durante um pico hipertensivo, provoca o AVC hemorrágico intraparenquimatoso hipertensivo. · Os locais mais acometidos: · Putâmen: 30-50% · Tálamo: 15-20% · Cerebelo: 10-30% · Ponte: 10-15% · AVCh por hemorragia subaracnóidea ocorre principalmente por ruptura de aneurismas saculares intracranianos. Ocorrem principalmente em bifurcações arteriais próximas ao polígono de Wills, como na artéria comunicante anterior, artéria comunicante posterior e artéria cerebral média. Diagnóstico · Um aspecto fundamental do histórico do paciente é a capacidade de determinar com segurança o momento do início dos sintomas. Pacientes que relatam melhora completa dos sintomas que os levaram ao hospital não “disparam” o cronômetro da terapia de reperfusão. · Antecedentes cardíacos, doença arterial periférica, medicamentos utilizados habitualmente, uso de drogas ilícitas, convulsões, enxaqueca, trauma e gravidez devem ser investigados durante a anamnese. · Durante o exame físico, observar a responsividade do paciente; manter a via aérea aberta; observar a presença de pulsos em segmentos arteriais centrais; buscar sinais de trauma na região cefálica e cervical, lesões orais, turgência jugular, doenças valvares, sinais de doença arterial coronariana, arritmias, dissecção de aorta, alterações cutâneas (icterícia, petéquias, púrpuras), alterações abdominais e respiratórias. · O exame neurológico deve ser orientado pela National Institutes of Health Stroke Scale (NIHSS). · Os seguintes testes diagnósticos devem ser realizados logo na chegada do paciente com suspeita de AVCI: · Glicemia, eletrólitos, função renal, hemograma, contagem de plaquetas, atividade de protrombina, atividade de tromboplastina parcial, eletrocardiograma, marcadores de necrose miocárdica e radiografia de tórax. · Teste de gravidez, exame toxicológico, enzimas celulares e canaliculares hepáticas devem ser solicitados caso haja algum sinal durante a história ou o exame físico que indique necessidade dessas provas diagnósticas. · Eletroencefalograma é indicado para os pacientes que apresentarem convulsão. · Sugere-se exame de líquido cefalorraquidiano nos casos em que não há sinais de hemorragia subaracnóidea na tomografia computadorizada de crânio, mas o paciente apresente sintomas. Diagnóstico Precoce · A tomografia computadorizada (TC) de crânio permite uma avaliação detalhada do evento, informando a localização, o tamanho, o território vascular e a presença de sangramento, o que possibilita um planejamento a curto e longo prazo do tratamento. · A ressonância nuclear magnética também faz parte do arsenal propedêutico de avaliação inicial do AVCI. · A TC sem contraste é um exame inicial relevante, diagnostica tumores cerebrais, sangramentos meníngeos e parenquimatosos. · A terapia de reperfusão: o tempo ideal entre a chegada do paciente e a realização da TC é de 25 minutos e, em adição, uma análise especializada do exame em mais 20 minutos. · Sempre que houver qualquer deterioração neurológica, um novo exame de imagem deve ser realizado com o intuito de sempre se buscarem sinais de sangramento, ou outros achados que contraindiquem a terapia de reperfusão. Tratamento – AVCi Fase Aguda · SUPORTE CLINICO: Medidas universais de suporte de vida avançado. O atendimento inicial deve avaliar a função respiratória e cardiovascular. Exames laboratoriais para análises bioquímicas, hematológicas e da coagulação, devem ser prontamente obtidos. · TRATAMENTO ESPECÍFICO: Uso de alteplase e a trombectomia mecânica (quando indicados). · PREVENÇÃO E TRATAMENTODAS COMPLICAÇÕES NEUROLÓGICAS E NÃO NEUROLÓGICAS · PROFILAXIA SECUNDÁRIA · INÍCIO PRECOCE DA REABILITAÇÃO · TROMBÓLISE: · Tempo de evolução do quadro neurológico, que não deve ultrapassar o limite de 4,5 horas até o início da infusão do agente. · Rt-PA (alteplase) dose de 0,9 mg/kg (dose máxima de 90 mg) em período de 60 minutos, sendo inicialmente 10% da dose administrada em bolus durante 1 minuto. · Não devem ser administrados anticoagulantes ou antiagregantes nas primeiras 24 horas após procedimento trombolítico. · Monitorização rigorosa devido a possíveis complicações hemorrágicas. · Não deve-se atrasar a trombólise para aguardar resultados de exames laboratoriais. A exceção é paciente que recebeu anticoagulante ou há suspeita de sangramentos ou trombocitopenia. · O único teste mandatório antes da trombólise o de HGT representa CI absoluta se abaixo de 50 mg/dl. · TROMBECTOMIA MECÂNICA: É indicada para pacientes com AVCi devido a uma oclusão de artéria calibrosa na circulação anterior que podem ser tratados dentro de 24 horas do início dos sintomas ou do último momento que foram vistos sem sintomas. · CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL: · É comum que haja aumento da PA como um mecanismo protetor para garantir a perfusão cerebral. · Para pacientes que foram submetidos à trombólise é recomendada que a PA esteja 220/120 mmHg ou o paciente tenha uma doença coronária ativa, eclâmpsia, dissecção de aorta ou encefalopatia hipertensiva. Quando o tratamento é indicado deve-se reduzir cerca de 15% nas primeiras 24h. · Os medicamentos de primeira escolha são labetalol IV porém não disponível no Brasil. Usa-se o nitroprussiato intravenoso · CONTROLE DA HIPOGLICEMIA: Pode causar déficits neurológicos focais mimetizando um AVC. · CONTROLE DA HIPERGLICEMIA: Pode aumentar a lesão cerebral. Deve ser mantida na faixa de 140-180 mg/dl. · TERAPIA ANTITROMBÓTICA: É indicado o início do uso de aspirina dentro de 48 horas do início dos sintomas. · DEGLUTIÇÃO: Disfagia é comum após um AVC e constitui um importante fator de risco para pneumonias por broncoaspiração. · ELEVAÇÃO DA CABECEIRA: Manter a cabeceira elevada a 30º na fase aguda do AVC para evitar aumento da pressão intracraniana e broncoaspiração. · FEBRE: A etiologia da febre deve ser investigada e tratada. Antipiréticos devem ser usados para redução da temperatura em pacientes febris. Tratamento – AVCh Fase Aguda · HIP é tratamento de suporte. · Deve ser feito o controle da PA para valores < 140 mmHg. · Deve-se investigar a causa do sangramento (hipertensivo, coagulopatias, malformações venosas, ruptura de aneurismas, neoplasias). · O sítio do sangramento na TC pode auxiliar no diagnóstico. · O AVCh hipertensivo costuma ocorrer em núcleos da base, tálamo, cerebelo e ponte. · Deve-se evitar hipo/hiperglicemia, tratando com insulina se > 180 mg/dl. · Evitar a hipo/hipertermia. · Prevenção para TEP/TVP e úlceras de decúbito com meias de compressão pneumática intermitente e mobilização precoce. · Não são usados antiepilépticos profiláticos. · Em pacientes com monitorização da pressão intracraniana, a pressão de perfusão cerebral deve ser mantida acima de 70 mmHg. · Após drenagem cirúrgica, a PAM não deve ficar acima de 110 mmHg · HSA: · SUPORTE CLÍNICO · TRATAMENTO DAS COMPLICAÇÕES neurológicas (ressangramento, vasoespasmo, hidrocefalia, convulsões). · TRATAMENTO DO ANEURISMA PROPRIAMENTE DITO (neurocirúrgico x vascular): a escolha do método terapêutico depende de: estado clínico do paciente, a localização e características anatômicas do aneurisma roto, a experiência do médico assistente. Recomenda-se o tratamento precoce do aneurisma roto, a fim de se prevenir ressangramento e facilitar, posteriormente, o tratamento de uma eventual situação de vasoespasmo. Prevenção Secundária do AVC · ANTIAGREGAÇÃO PLAQUETÁRIA · AVCi: AAS 100-300 mg/dia e/ou clopidogrel 75 mg/dia (se houver intolerância ao AAS ou recorrência do AVC com fatores de risco controlados). · HIPERTENSÃO: Iniciar tratamento após a fase aguda. Pressão-alvo a ser atingida: 120/80 mmHg. A primeira escolha é diurético ou a combinação de diurético e IECA. · DIABETES: Pacientes com diabetes devem ter um controle rigoroso de pressão arterial (com IECA ou com os bloqueadores do receptor da angiotensina) e lipídios (alvo de LDL < 70 mg/dl). A glicemia deve ser normal ou próxima do normal (alvo de hemoglobina glicosada. · LIPÍDIOS: · Utilizar estatina em pacientes com AVCi com hipercolesterolemia (alvo LDL < 100 mg/dl). Em pacientes com alto risco vascular, o alvo é de LDL < 70 mg/dl. · Pacientes com AVCi de origem presumivelmente aterotrombótica devem usar estatina, mesmo que apresentem o colesterol normal. · FIBRILAÇÃO ATRIAL: · Iniciar profilaxia com anticoagulação oral com ajuste da dose de warfarina (INR entre 2-3 – alvo 2,5). Depois de AIT ou AVC menor, a anticoagulaçao pode ser iniciada imediatamente. Casos moderados podem ser iniciados em 5 a 7 dias e, quando a área infartada é extensa, o tempo mínimo para o início da anticoagulação pós-AVC é de algumas semanas (2 semanas). · Em pacientes com contraindicação social à anticoagulação oral, a profilaxia deve ser feita com AAS 100 mg + clopidogrel 75 mg/dia. Em pacientes com contraindicação à anticoagulação oral, devido a um maior risco de sangramento cerebral, é recomendado AAS (300mg/dia). 10
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