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Resumo - Farmacologia do trato gastrointestinal

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Farmacologia do trato 
gastrointestinal 
O trato gastrointestinal é dividido em cavidade oral, esôfago, 
estômago, intestino delgado e intestino grosso, órgãos que 
possuem funções específicas e integradas para realizarem os 
processos de ingestão, digestão, absorção e excreção. Além 
disso, esses processos precisam da contribuição de alguns 
órgãos anexos como fígado, pâncreas e glândulas salivares. 
As células epiteliais do trato gastrointestinal são polarizadas, 
tendo diferentes proteínas e transportadores distribuídos nas 
membranas basolateral e apical. As secreções podem ser 
classificadas conforme sítio de liberação em salivar, gástrica, 
pancreática, biliar e entérica. 
A fase gástrica, caracterizada pelo momento em que o 
alimento passa em direção ao estômago, possui regulação 
por reflexos vagais longos e reflexos curtos que ativam 
células efetoras para promover motilidade e liberação de 
secreções importantes para os processos digestórios. 
 As três regiões do estômago possuem 
diferentes secreções luminais. As regiões de 
cárdia e de antro terão produção de muco 
e bicarbonato, enquanto que as regiões de 
fundo e corpo produzem H+, fator 
intrínseco, muco, bicarbonato, pepsinogênio 
e lipase. 
As células enterocromafins like (ECL) produzem histamina, 
as células principais produzem pepsinogênio e lipase 
gástrica, as células D produzem somatostatina e as células G 
produzem gastrina. 
As células parietais ou 
oxínticas são abundantes no 
estômago e produzem HCl e 
fator intrínseco. Quando elas são 
estimuladas a secretar ácido 
clorídrico as membranas 
tubulovesiculares se fundem à 
membrana plasmática dos canalículos secretores. Na 
membrana basolateral tem-se a entrada de Cl- por um 
contratransporte com o bicarbonato. Assim, na membrana 
apical tem-se saída de cloreto por transporte ativo e saída de 
H+ por uma bomba de prótons – H+/K+ ATPase, compondo o 
HCl no lúmen estomacal. Esse processo depende da 
anidrase carbônica para produção do bicarbonato que será 
trocado com o cloreto na membrana basolateral. 
Como estimuladores endógenos da célula parietal tem-se a 
histamina, a acetilcolina e a gastrina, esses que por diferentes 
vias ativam a H+/K+ ATPase: 
▪ Neurais: a acetilcolina age diretamente nas células 
parietais via receptores muscarínicos, enquanto que a 
acetilcolina age indiretamente nas células ECL para 
estimular a liberação de histamina, substância que agirá 
nas células parietais para produção de HCl. 
▪ Parácrina: a histamina produzida nas células ECL 
estimula as células parietais a produzirem HCl. 
▪ Hormonal: as células G são ativadas e liberam gastrina, 
que atua para estimular a célula parietal. 
 
Como inibidores endógenos da célula parietal tem-se a 
somatostatina e as prostaglandinas. As células endócrinas 
(D) na mucosa do antro gástrico percebem a presença de H+ 
e secretam somatostatina. Ela, então, atua sobre receptores 
específicos nas células G, para inibir a liberação da gastrina 
e consequentemente inibição da secreção ácida gástrica. 
As células mucosas produzem muco e bicarbonato para 
proteção do epitélio, em decorrência de um estímulo vagal. A 
mucina é produzida e armazenada em vesículas, sendo 
secretadas por exocitose, enquanto que o HCO3- é produzido 
como um gel pegajoso que adere à superfície do estômago, 
compondo uma barreira química que neutraliza o H+ e a 
pepsina. Essa barreira de muco é sensível a AINEs, 
isquemia, estresse e H. pylori. As prostaglandinas inibem a 
síntese de HCl e estimulam a de muco e bicarbonato, além 
de aumentar o fluxo sanguíneo. 
A fisiopatologia das doenças acidopépticas, como doença do 
refluxo gastroesofágico, úlceras duodenais e gástricas e 
lesão da mucosa por estresse se resume em um desequilíbrio 
entre a produção de ácido e os mecanismos de proteção da 
mucosa. Assim, os fármacos basicamente atuam 
promovendo um equilíbrio entre os fatores agressivos e 
protetores. 
Se o H+ penetra no epitélio gástrico ele causa danos 
teciduais o que gera liberação de histamina pelos mastócitos 
promovendo uma resposta inflamatória, que se for leve, 
resolve o dano, mas se for extensa pode gerar uma úlcera. 
A H. pylori é uma bactéria Gram negativa rica em urease, em 
que a amônia tampona o ácido clorídrico e permite sua 
sobrevivência sobre as células do estômago. Assim, ela 
produz um quadro de hipergastrinemia por reduzir produção 
de somatostatina, fato que pode levar a lesões de mucosa e 
formação de úlceras gástricas e duodenais. O tratamento da 
infecção por H. pylori é realizado por inibição da secreção 
ácida combinada com dois ou três antibióticos (como 
claritromicina, amoxicilina e metronidazol). 
Além disso, é um microrganismo com fator importante de 
carcinogênese por induzir uma resposta inflamatória 
persistente na mucosa. Assim, tem-se formação ou ativação 
de cancerígenos, danos no DNA e alterações da proliferação 
celular e da apoptose. 
A célula parietal produz ácido através de bomba de prótons 
na membrana luminal, tendo como reguladores positivos 
gastrina, acetilcolina e histamina por aumentar a ação da 
hidrogênio potássio ATPase. A gastrina estimula a célula ECL 
que produzem histamina, agindo indiretamente na produção 
de ácido. O efeito produtor de muco e bicarbonato por 
prostaglandinas auxiliam na proteção da mucosa. 
 
1) Antagonistas dos receptores H2 
A histamina ativa uma via de sinalização dependente do 
AMPc e ativa a bomba de prótons para promover a secreção 
ácida. Os fármacos irão promover uma inibição seletiva, 
reversível e competitiva nos receptores H2 localizados na 
membrana basolateral das células parietais, impedindo que a 
histamina se ligue e ative o receptor. São menos eficazes que 
os IBPs, mas inibem a secreção ácida em 70% durante 24 
horas. 
Os antagonistas dos receptores H2 são absorvidos 
rapidamente após administração oral, em que a absorção 
pode ser aumentada pela presença de alimentos ou 
diminuída por antiácidos. A tolerância aos efeitos 
supressores desses fármacos pode se desenvolver em 3 dias 
após o início do tratamento, podendo não diminuir com o 
aumento da dose, podendo resultar em uma hipergastrinemia 
secundária que estimula a liberação de histamina pelas 
células ECL. Sua eliminação é renal e hepática, de modo que 
a dose deve ser reduzida em pacientes que apresentem 
insuficiência desses órgãos. 
Efeitos adversos: a cimetidina promove a inibição das 
enzimas do citocromo P450, podendo afetar o metabolismo 
de alguns fármacos como a varfarina. São fármacos bem 
tolerados, mas também podem ter efeito de antagonismo do 
receptor de androgênio, gerando galactorreia e ginecomastia 
como efeito colateral. Além disso, podem causar cefaleia, 
diarreia, fadiga, sonolência, entre outros. A cimetidina 
também tem a capacidade de atravessar a placenta. 
Usos clínicos: cicatrização de úlceras gástricas e 
duodenais, tratamento de DRGE, pirose, dispepsia, entre 
outras. 
Fármacos: cimetidina, famotidina, ranitidina e nizatidina. 
2) Inibidores de bomba de prótons 
As inibidores de bomba de prótons (IBPs) são os fármacos 
mais potentes na redução da produção de ácidos, sendo os 
mais eficazes na cicatrização de úlceras pépticas. Irão agir 
inibindo irreversivelmente as bombas de prótons, tendo um 
efeito prolongado na supressão da produção de ácido (24 – 
48h). 
São pró-fármacos que necessitam ser ativados em meio 
ácido. Após sua absorção na circulação sistêmica ele 
difunde-se nas células parietais e se retém nos canalículos 
secretores, não podendo passar novamente pela membrana 
canalicular. A forma ativada do fármaco se liga de forma 
covalente à bomba de prótons H+/K+ ATPase, inativando-a 
irreversivelmente. A secreção de ácido só retorna após a 
síntese de novas moléculas da bomba e sua inserção na 
membrana luminal. Como nem todas as bombas ou nem 
todas as células parietais estão simultaneamente ativas, a 
supressão máxima da secreção ácida requer várias doses de 
IBPs (utilizados por 2 a 5 dias).Esses fármacos possuem revestimento entérico (protege os 
IBP de uma ativação após ingestão), para evitar a ativação 
precoce. A conduta é que sua administração deve ser feita 
aproximadamente 30 minutos antes das refeições, já que a 
administração concomitante com alimentos pode reduzir sua 
absorção e esse é o tempo para ativação ácida do pró-
fármaco. 
Efeitos adversos: podem causar náuseas, diarreia, dor 
abdominal, constipação e flatulência. Como são 
biotransformados por CYP hepáticas (CYP3A4/CYP2C19) 
podem interferir na eliminação de outros fármacos depurados 
por essa via. 
Usos clínicos: possuem efeito em úlceras gástricas e 
duodenais, na doença do refluxo esofágico, pirose, dispepsia, 
entre outras. 
Fármacos: omeprazol, esomeprazol, lansoprazol, rabeprazol 
e pantoprazol. 
 
3) Antiácidos 
Os antiácidos são fármacos utilizados na neutralização do 
ácido clorídrico por utilização de compostos básicos como 
hidróxido de alumínio e de magnésio. Não são medicamentos 
tão eficazes, mas são muito utilizados pela acessibilidade e 
ação rápida. 
O magnésio aumenta a 
velocidade de esvaziamento 
gástrico e aumenta a motilidade intestinal, podendo causar 
diarreia. Em contraposição, o alumínio causa efeitos 
contrários, podendo causar constipação intestinal. Todavia, 
as combinações de hidróxido de Mg2+ (de reação rápida) e de 
Al3+ (de reação lenta) proporcionam uma capacidade de 
neutralização relativamente equilibrada e mantida, sendo 
preferidas pela maioria dos especialistas. 
O carbonato de cálcio neutraliza o H+ rapidamente e de modo 
eficaz, mas pode liberar CO2 e causar eructação, náuseas, 
distensão abdominal e flatulência. Além disso, o cálcio 
também pode induzir secreção ácida rebote. 
Efeitos adversos: são fármacos de neutralização rápida e 
duradoura, tendo poucos efeitos adversos. Todavia, ao 
alterar o pH gástrico e urinário, os antiácidos podem afetar 
diversos fármacos, alterando as taxas de dissolução, 
absorção, biodisponibilidade e eliminação renal. Os 
antiácidos contendo Al3+ e Mg2+ também são notáveis pela 
sua propensão a quelar outros fármacos presentes no trato 
gastrointestinal, reduzindo assim sua absorção. Com isso, 
devem ser administrados cerca de 2 horas antes ou depois 
de outros fármacos para reduzir a chance de interações 
medicamentosas. 
Uso clínico: úlceras não complicadas, pirose, refluxo 
gastroesofágico, entre outros. Geralmente a administração 
em suspensão é mais eficiente que em comprimido. 
4) Sucralfato 
O sucralfato um fármaco citoprotetor utilizado por criar um 
efeito mucoprotetor gástrico e estimular a produção de 
prostaglandinas por atividade das cicloxigenases. Além 
disso, estimula fatores de crescimento de fibroblastos 
atuando na reparação dos tecidos e aumentando a circulação 
sanguínea que favorecem a cicatrização com absorção 
mínima pelo intestino. 
Possui uma estrutura complexa com uma porção de hidróxido 
de alumínio e outra com um octossulfato de sacarose, essa 
que sofre polimerização em ambiente ácido. Assim, produz 
um polímero viscoso e pegajoso que adere às células 
epiteliais e as crateras das úlceras durante até 6h após uma 
única dose. 
Esse fármaco possui moléculas carregadas negativamente 
que se ligam a carga positiva de proteínas das mucosas e 
das células brancas do sangue presentes na base das 
úlceras. Além disso, atua como uma barreira física a irritantes 
e tem atividade antibacteriana, tendo mais afinidade pela 
mucosa lesada do que pela normal. 
Sua administração deve ser feita em jejum cerca de 30 
minutos a 1 hora antes das refeições. Sua absorção é mínima 
no intestino, de modo que as partículas internalizadas serão 
eliminadas na urina. 
Uso clínico: doença do refluxo gastroesofágico, úlceras 
gástricas e duodenais, gastrite, estomatite aftosa recorrente, 
entre outras. 
Efeitos adversos: podem causar constipação e ligação com 
fármacos, reduzindo sua absorção. 
Os análogos da prostaglandina, como o misoprostol, podem 
ser utilizados como citoprotetores por evitar a lesão gástrica 
pela estimulação da secreção de mucina e bicarbonato, além 
de aumentar o fluxo sanguíneo da mucosa por promoverem 
vasodilatação. Todavia, tal fármaco é contraindicado na 
gravidez por aumentar a contração da musculatura lisa 
uterina, além de poder promover diarreia e exacerbação da 
clínica da doença inflamatória intestinal. 
5) Procinéticos 
Os fármacos procinéticos atuam promovendo a regulação de 
neurotransmissores como dopamina e serotonina com a 
função de estimular a função motora coordenada e melhorar 
o trânsito do material no trato gastrointestinal – tratando 
distúrbios de motilidade como gastroparesias e acalasia do 
esôfago. 
Usos clínicos: agem aumentando a pressão do esfíncter 
esofagiano inferior em casos de DRGE, aumentando o 
esvaziamento gástrico em gastroparesias ou quadros pós-
cirúrgicos com retardo do esvaziamento gástrico, promovem 
o aumento da motilidade do intestino delgado em íleo pós-
operatório e pseudo-obstruções intestinais crônicas, além de 
serem utilizados em casos de constipação ao aumentarem a 
motilidade do intestino grosso. Além disso, promovem alívio 
de náuseas e vômitos que acompanham as síndromes de 
dismotilidade do trato gastrointestinal. 
Certos estímulos – como a presença do bolo alimentar ou 
substâncias irritativas – promovem a liberação de serotonina 
pelas células enterocromafins, de modo que esse receptor 
atua em receptores dos neurônios sensoriais, enviando 
estímulos até interneurônios ascendentes e descendentes do 
sistema nervoso entérico. Assim, tem-se o estímulo de um 
neurônio motor excitatório pela liberação de acetilcolina, esse 
que estimula a contração da região oral. Além disso, tem-se 
também a ativação de um neurônio motor inibitório com 
liberação de peptídeo vasoativo intestinal e óxido nítrico para 
inibir a contração da região caudal – promovendo 
relaxamento. Desse modo tem-se o movimento peristáltico 
para movimentação do bolo alimentar. 
 
Um fármaco procinético promove um aumento da liberação 
de acetilcolina por neurônios motores excitatórios, que 
culmina no aumento das contrações do trato gastrointestinal. 
Esse processo pode ser realizado por duas vias, envolvendo 
dopamina ou serotonina. 
Normalmente o neurônio dopaminérgico libera dopamina, 
essa que se liga ao neurônio motor excitatório através de 
receptores do tipo D2, promovendo uma supressão da 
secreção de acetilcolina, reduzindo a contratilidade do trato 
gastrointestinal. 
Assim, um fármaco procinético deve ser um antagonista 
dopaminérgico por bloquear a ação da dopamina no 
neurônio motor e impedir essa inibição da secreção de 
acetilcolina, estimulando a contratilidade. Como exemplos 
tem-se a metoclopramida e a domperidona. 
A metoclopramida possui capacidade de atravessar a 
barreira hematoencefálica e agir como antagonista de D2 no 
núcleo estriado, processo que culmina em reações 
extrapiramidais com distonias, discinesia e manifestações 
parkinsonianas. Além disso, ela atua como antagonista D2 e 
remove o efeito inibitória da dopamina sobre a prolactina, 
podendo promover galactorreia e ginecomastia. Também 
pode sensibilizar receptores muscarínicos do músculo liso e 
agir como agonista dos receptores 5TH4. Está disponível em 
preparações orais e injetáveis para administração 
intravenosa ou intramuscular. 
A domperidona é um antagonista seletivo de receptores D2 
que não atravessa a barreira hematoencefálica e não causa 
efeitos extrapiramidais, apesar de ainda causar 
hiperprolactinemia. O pH ácido promove redução de sua 
absorção, além de sofrer elevado metabolismo de primeira 
passagem. 
Além disso, o neurônio motor sofre a ação de um neurônio 
serotoninérgico, de modo que a serotonina atua em 
receptores 5HT4 e estimula a liberação de acetilcolina. 
Assim, o procinético deve ser um agonista de receptores 
5HT4. Como exemplos tem-se a cisaprida e a prucaloprida. 
 
6) Antieméticos 
São fármacos que atuarão em quadrosde náuseas e vômitos. 
O estímulo do vômito depende do centro emético no bulbo, 
local que recebe inúmeras informações de regiões como: 
▪ Córtex cerebral: geralmente relacionados com vômitos 
de origem psicológica e aqueles preventivos. 
▪ Aparelho vestibular: relacionado com distúrbios do 
movimento (cinetose), de modo que envolve histamina e 
acetilcolina, em que a informação é encaminhada ao 
cerebelo e segue até o centro emético. 
▪ Zona do gatilho quimiorreceptora: localizada na zona 
postrema do quarto ventrículo, em que seus vasos são 
fenestrados, permitindo o contato e o monitoramento de 
substâncias eméticas presentes no sangue. Envolverá 
serotonina (5HT3), dopamina (D2) e acetilcolina (atua em 
receptores muscarínicos). 
▪ Estímulos periféricos do trato gastrointestinal: 
quando existe um irritante local ou uma substância 
emética tem-se a liberação de serotonina que atua no 
receptor 5HT3, em que a informação via nervo vago 
passa pelo núcleo do trato solitário e é encaminhada ao 
centro emético. O NTS possui receptores para histamina, 
acetilcolina e do tipo 5HT3. 
Assim, como principais neurotransmissores envolvidos no 
estímulo do vômito tem-se de acetilcolina, serotonina e 
dopamina, de modo que os fármacos antieméticos devem 
atuar na regulação dessas moléculas e de seus receptores. 
 
Os antagonistas seletivos de receptores 5HT3 estão 
presentes na zona do gatilho quimiorreceptora, no núcleo do 
trato solitário e no trato gastrointestinal (liberação de 
serotonina pelas células enterocromafins), de modo que 
bloqueiam o estímulo do vômito pela serotonina a nível 
central e periférico. 
Os efeitos colaterais desses fármacos geralmente são 
brandos, mas alguns podem causar prolongamento do 
intervalo QT, devendo ser usado com cautela nas arritmias. 
Além disso, podem causar constipação, diarreia, cefaleia e 
tontura. 
Podem ser utilizados em náuseas e vômitos induzidos por 
quimioterapia, radioterapia e pós-operatório, além de 
controlar náuseas, vômitos, hiperêmese gestacional, entre 
outros. Não possuem eficácia na cinetose (distúrbios do 
movimento), já que não se tem receptores serotoninérgicos 
no aparelho vestibular. Como exemplo de fármacos tem-se 
ondansetrona, palonosetrona e dolasetrona. 
Anteriormente os anti-histamínicos eram classificados como 
antagonistas competitivos e reversíveis do receptor H1 –
envolvido principalmente em vômitos induzidos por distúrbios 
do movimento. Atualmente são considerados agonistas 
inversos, bloqueando o efeito da histamina. 
Os anti-histamínicos de primeira geração são mais 
lipossolúveis em pH fisiológico, de modo que atravessam a 
barreira hematoencefálica e causam sedação. Além disso, 
eles não são tão seletivos para receptores H1, em que atuam 
nos receptores de acetilcolina e causam efeitos 
anticolinérgicos como boca seca, retenção urinária e 
ressecamento de vias respiratórias. Como exemplos tem-se 
a difenidramina e a prometazina. 
Os de segunda geração não atravessam tanto a barreira 
hematoencefálica, tendo menores efeitos de sedação. Além 
disso, são mais seletivos e não causam efeitos 
anticolinérgicos. Como exemplo tem-se a meclizina. 
Os anticolinérgicos possuem papel como antieméticos pelo 
fato de funcionarem como antagonistas seletivos de 
receptores muscarínicos no núcleo do trato solitário, na zona 
do gatilho quimiorreceptora e no aparelho vestibular. Como 
exemplo de fármaco tem-se a escopolamina (Hioscina), essa 
que é derivada da Atropa belladona e é utilizada na 
prevenção e tratamento da cinetose. Causa efeitos adversos 
centrais pela inibição a serotonina, como sonolência, 
amnésia e fadiga, além de efeitos periféricos como boca 
seca, retenção urinária e aumento da pressão intraocular. 
Os antagonistas do receptor da substância P, como o 
aprepitanto, têm efeito antiemético nas náuseas tardias e 
melhoram a eficácia dos regimes antieméticos padrão em 
pacientes que recebem sessões múltiplas de quimioterapia. 
O aprepitanto é contraindicado para pacientes que recebem 
cisaprida ou pimozida, nos quais se detectou prolongamento 
do segmento QT com risco à vida. 
O dronabinol é um agonista de receptores CB1 altamente 
lipossolúvel e com rápida absorção oral. Será útil em 
pacientes que fazem quimioterapia e não respondem aos 
outros fármacos. Poderá ter como efeitos adversos euforia, 
tontura, hiperatividade simpática, palpitações, taquicardia, 
entre outros. 
Classe do 
antiemético 
Exemplos 
Tipo de vômito 
com mais 
eficácia 
Antagonistas 
dos receptores 
dopaminérgicos 
de ação central 
Metoclopramida 
Induzidos por 
substâncias 
citotóxicas 
Antagonistas de 
receptor 5HT3 
Ondansetrona 
Induzidos por 
substâncias 
citotóxicas 
Antagonistas de 
receptor H1 
Prometazina Cinetose 
Antagonistas 
muscarínicos 
Escopolamina Cinetose 
Antagonistas do 
receptor da 
neurocinina 
Aprepitanto 
Vômitos tardios 
induzidos por 
substâncias 
citotóxicas 
Antagonistas do 
receptor 
canabinoide 
Dronabinol 
Induzidos por 
substâncias 
citotóxicas 
 
7) Laxantes 
Por dia entra cerca de 9L de água – 2L da dieta e 7L das 
secreções – no intestino delgado, local que também absorve 
nutrientes, sendo que 1,5L atravessa a válvula ileocecal para 
ser absorvido pelo intestino grosso. Desse modo, apenas 
cerca de 0,1L de água será eliminado nas fezes por dia, 
porcentagem que pode ser afetada por fatores como por 
mecanismos neuro-humorais, fármacos, patógenos e 
alterações da motilidade. 
 
A redução da motilidade causa absorção excessiva de 
líquidos, fato que culmina na produção de fezes endurecidas 
e impactadas características da constipação – redução da 
frequência ou dificuldade para evacuar, eliminação de fezes 
duras ou poucas, ou a sensação de evacuação incompleta. 
Os opioides são exemplos de fármacos que possuem como 
efeito adverso a constipação intestinal grave. Laxantes e 
estratégias na dieta são, com frequência, ineficazes no 
controle da constipação pelos opioides. Uma estratégia 
promissora é a prevenção da constipação causada pelo 
opioide com antagonistas de receptor opioide-μ que atuem na 
periferia (MOR), origem específica da constipação, sem 
limitar a analgesia produzida por ação central – como a 
metilnaltrexona. 
Inicialmente a constipação pode ser resolvida por aumento 
da ingestão de fibras, realização de atividade física, maior 
ingestão de água e criação de hábito para evacuação. 
Todavia, caso essas ações sejam ineficazes, os laxantes 
podem ser utilizados no tratamento farmacológico, tendo 
como mecanismos de ação: 
▪ Aumento da retenção de líquidos intraluminais através de 
mecanismos hidrofílicos ou osmóticos, fato que aumenta 
o peristaltismo e facilita a evacuação. 
▪ Redução da absorção global de líquidos por ações no 
transporte de líquidos e eletrólitos nos intestinos delgado 
e grosso atuando nas células absortivas e secretoras. 
▪ Alteração da motilidade por inibição das contrações 
segmentares ou estímulo das contrações propulsoras. 
De modo geral, os laxantes também podem ser divididos 
naqueles que são ativos no lúmen intestinal, os estimulantes 
ou irritantes específicos – que desencadeiam uma reação 
inflamatória – e os procinéticos. 
Os laxantes formadores do bolo fecal – como as fibras 
dietéticas – são porções do alimento que resistem à digestão 
e chegam inalteradas no intestino grosso. As fibras 
hidrossolúveis serão fermentadas pelas bactérias colônicas 
e formarão ácidos graxos de cadeia curta, esses que 
possuem um efeito procinético para estimular as contrações 
e um efeito trófico para o epitélio do intestino grosso. Além 
disso, eles fornecem energia para as bactérias, aumentando 
a massa bacteriana e o volume do bolo fecal, fato que 
estimula a evacuação. 
As fibras insolúveis – como a lignina encontrada no farelo 
de trigo – são pouco fermentáveis, de modo que aumentam o 
volume das fezes principalmente por atrair água. Desse 
modo, fibras determinam o volume, consistência e hidratação 
das fezes.Os laxantes osmóticos possuem o papel de reter água no 
lúmen e aumentar o peristaltismo. Como exemplo tem-se os 
sais de magnésio e fosfato, açúcares não absorvíveis e 
soluções eletrolíticas do polímero polietilenoglicol (PEG). O 
PEG pode causar a perda de eletrólitos, de modo que é 
comercializado em associação com eletrólitos. Os sais 
atraem a água e promovem a liberação de mediadores 
inflamatórios como a CCK, aumentando a motilidade por 
estímulo da peristalse. 
Os laxantes estimulantes promovem irritação e efeito direto 
em enterócitos, neurônios intestinais e células da 
musculatura lisa gastrointestinal, causando uma inflamação 
branda e limitada. Desse modo, tem-se acúmulo de exsudato 
inflamatório e absorção água e eletrólitos, aumentando a 
motilidade. Como exemplos tem-se derivados do 
difenilmetano (bisacodil), antraquinonas e o ácido ricinoleico. 
O uso a longo prazo desses laxantes é questionável pelo 
risco de atonia do cólon (cólon catártico) e de efeitos 
carcinogênicos. 
Os agentes umectantes e emolientes fecais – como sais de 
docusato – irão reduzir a tensão superficial das fezes e 
favorecer uma melhor mistura entre gordura e água, deixando 
as fezes menos endurecidas. O óleo mineral é uma mistura 
de hidrocarbonetos alifáticos retirados da vaselina. O óleo é 
indigerível e absorvido apenas em pequenas quantidades. 
Quando o óleo mineral é administrado por via oral durante 
2 ou 3 dias, ele penetra e amacia as fezes, podendo interferir 
na reabsorção da água. 
Os fármacos procinéticos poderão ser utilizados em casos 
de constipação crônica e causar aumento do trânsito 
colônico. Os agonistas do receptor 5HT4, como o tegaserode 
(parcial) e a prucaloprida (específico), irão estimular a 
liberação da acetilcolina e aumentar a motilidade intestinal. 
8) Antidiarreicos 
A diarreia é caracterizada pela alteração no transporte 
intestinal de água e eletrólitos, por aumento na secreção 
dessas moléculas. Poderá ser classificada em: 
▪ Secretora: o fluido luminal é isotônico, sendo causada 
geralmente por toxinas. 
▪ Osmótica: terá fluido luminal hipertônico e geralmente 
será causada por uma má absorção intestinal, em que o 
conteúdo do lúmen atrai água. 
▪ Exsudativa: geralmente desencadeada por um processo 
inflamatório. 
▪ Por aumento da motilidade: ocasionada por aumento 
do trânsito intestinal, reduzindo a absorção de água e de 
eletrólitos. 
▪ Congênita por excreção de cloreto: ausência de 
atividade do trocador Cl/HCO3. 
No intestino tem-se células absortivas para, principalmente, 
absorver sódio e cloreto do lúmen para o interstício. Na 
membrana basolateral tem-se a Na+/K+ ATPase, em que o 
sódio é jogado para fora da célula e cria um gradiente para 
que o sódio entre por canais ENaC e por outros 
transportadores como o SGLT1 e o NHE3 (entra sódio e sai 
H+). Além disso, o transportador DRA será importante para 
saída de bicarbonato para o lúmen e internalização de 
cloreto. Desse modo, nota-se a importância da anidrase 
carbônica, já que esses processos são dependentes da 
clivagem do ácido carbônico em H+ e HCO3-. 
Na diarreia não ocorre a absorção do sódio e do cloreto, fato 
que ocasiona a saída da água para o lúmen. Sabe-se que o 
AMPc inibe os transportadores NHE3 e o DRA, de modo que 
o sódio e o cloreto permanecem no lúmen. Assim, algumas 
toxinas – como do cólera e da E. coli – irão aumentar as 
concentrações de AMPc, causando diarreia. 
Além das células absortivas tem-se células secretoras do 
intestino, essas que serão importantes para secretar cloreto 
por meio de canais de cloreto (CFTR), juntamente com a 
secreção de água por aquaporinas. O AMPc também 
estimula a atividade do 
CFTR para saída de 
cloreto em direção ao 
lúmen. 
Para tratamento da 
diarreia pode-se tentar 
reduzir a produção de AMPc, como pela utilização de 
opioides, esses que estimulam indiretamente o NHE3 por 
tirar a inibição causada pelo AMPc. Eles atuam em receptores 
presentes nos nervos entéricos, nas células epiteliais e nos 
músculos promovendo alterações da motilidade intestinal 
(receptores μ), da secreção intestinal (receptores δ) ou da 
absorção (receptores μ e δ). 
Como exemplo de opioides tem-se a loperamida (atividade 
MOR), essa que reduz a produção de AMPc causada por 
toxinas e ativa o NHE3, além de aumentar o tônus do 
esfíncter anal, tendo ação antissecretora e podendo ser 
utilizada em casos de diarreia crônica ou aguda de causa 
inespecífica. É um fármaco que não atravessará a barreira 
hematoencefálica, sendo seguro para usar em casos de 
diarreia, apesar de poder ter efeitos adversos como distensão 
abdominal, reações de hipersensibilidade, náuseas, vômitos 
e constipação intestinal. Em casos de Doença de Crohn, DII 
e SII pode-se ter risco de megacólon. 
O difenoxilato é um agonista opioide que será transformado 
em difenoxina, todavia, atravessará a barreira 
hematoencefálica e poderá gerar efeitos abusivos. Assim, ele 
é associado com a atropina para garantir que não tenha 
dependência. Além disso, a trimebutina e o elixir paregórico 
funcionam como antidiarreicos opioides. 
A somatostatina também estimula o receptor NHE3, 
facilitando a absorção do NaCl e da água. A octreotida – um 
análogo da somatostatina – poderá ser usada na inibição 
da diarreia secretora grave associada aos tumores secretores 
de hormônios do pâncreas e do trato gastrointestinal. Tem 
curta meia vida (1-2h), que poderá ser prolongada na 
administração intramuscular do acetato de octreotida. Como 
efeitos colaterais pode causar náuseas, flatulência, dor no 
local da injeção, esteatorreia e bradicardia. 
Os agonistas 2 adrenérgicos estimulam diretamente o 
NHE3 para melhorar a absorção de sódio. Além disso, agem 
nos receptores de mesmo nome no músculo liso intestinal, 
nas células epiteliais e nos neurônios colinérgicos do plexo 
mioentérico, reduzindo a motilidade e a secreção de fluidos e 
eletrólitos. Como exemplos tem-se a clonidina, administrada 
por via oral e tópica (adesivo transdérmico), podendo ter 
como efeitos adversos hipotensão, depressão e sensação de 
fadiga. 
A caboximetilcelulose é um exemplo de fármaco 
higroscópico, sendo um polímero hidrofílico pouco 
fermentável que aumenta absorção de água por aumentar o 
bolo fecal, modificando a 
consistência e a 
viscosidade das fezes, 
reduzindo a sensação de 
fluidez em quadros de 
diarreia. Além disso, 
podem se ligar às 
toxinas bacterianas e 
aos sais biliares. 
O salicilato de bismuto será utilizado por sua ação 
antissecretora, anti-inflamatória e antimicrobiana. Em pH 
ácido do estômago será convertido em oxicloreto de bismuto, 
que é inalterado e não absorvível, de modo que aumenta a 
massa do bolo fecal e a absorção de água. Todavia, com a 
clivagem o salicilato terá formação de ácido salicílico, esse 
que será absorvido e terá efeito anti-inflamatório, mas pode 
causar síndrome de Reye em grandes quantidades. 
O trato gastrointestinal contém ampla flora comensal 
necessária para a saúde. Alterações no equilíbrio ou 
composição desta flora são responsáveis pelas diarreias 
associadas ao uso de antibióticos e possivelmente outras 
doenças. Preparações probióticas contendo uma variedade 
de cepas bacterianas mostraram algum grau de benefício nas 
diarreias agudas, diarreias associadas a antibióticos e 
diarreias infecciosas.

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