Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Impresso por Nettzo Ésoj Oztten, E-mail puer_amans@hotmail.com para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 07/07/2022 12:15:26 151 aves notáveis pela percepção, capazes de acusar o intruso na flo- resta. São também conhecidas como: maria farinha, mariaroló etc. 19. Diversas fábulas, de La Fontaine e de outros autores, até mesmo anônimas, dão conta da sabedoria do cancão através de várias estórias, onde o mesmo sempre se sai como vencedor. 20. Ivo Mascena Veras, Lourival Batista Patriota, p. 369. 21. Trecho do poema Procura da Poesia, de Carlos Drummond de Andrade, in A rosa do povo, p. 12. 22. João Batista de Siqueira (Cancão), p. 225. 23. 2000, p. 168. 24. Palavras ao Plenilúnio, p. 197. 25. Augusto Rodrigues Carvalho dos Anjos, Eu e outras poesias, Rio de Janeiro, 1912. 26. P. 228. 27. Dedé Monteiro, Prefácio ao livro Palavras ao Plenilúnio, p. 33. 28. A edificação da sua poesia. Ninguém ainda conseguiu pro- vocar tantos efeitos de admiração, beleza, sentido e eficiência quanto Cancão. Ninguém até a presente data ousou contestar tal produção, na dinâmica artística e indecifrável (por inteiro) da poesia, enquanto escola e alimento para a vida. Impresso por Nettzo Ésoj Oztten, E-mail puer_amans@hotmail.com para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 07/07/2022 12:15:26 152 Referências ALMEIDA, Átila; SOBRINHO, José Alves. Marcos e Vanta- gens /1, Romance Popular Nordestino. Campina Grande: GRAFSET, 1981. ANDRADE, Carlos Drummond. A rosa do povo. São Paulo, 1987. ANJOS, Augusto Rodrigues Carvalho dos. Eu e outras poe- sias. Rio de Janeiro, 1912. CAMPOS, Lindoaldo. ABC da Poesia. Natal: Sebo Vermelho, 2010. JÉLIC, Jordan. . In: LEMOS, M. T.T.B; MORA-Sobre la identidad ES, N. A. de; PARENTE, P. A. L. (Org.). Memória e Identida- de. Letras, 2000. MENDES, Murilo. . São Melhores poemas, Ofício Humano Paulo: Global, 2011. MONTEIRO, Dedé. Prefácio. In: SIQUEIRA, João Batista de. Palavras ao Plenilúnio. Editora Universitária da UFPB, 2007. P. 31-33. NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Quatro Poemas. In: . Obras Incompletas. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Col. Os Pensadores). Impresso por Nettzo Ésoj Oztten, E-mail puer_amans@hotmail.com para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 07/07/2022 12:15:26 153 SILVA, Antônio Gonçalves da (Patativa do Assaré). Cante lá que eu canto cá. Petrópolis: Vozes, 1978. SIQUEIRA, João Batista de. Palavras ao Plenilúnio. João Pes- soa: Editora Universitária da UFPB, 2007. VERAS, Ivo Mascena. Lourival Batista Patriota. Recife: Com- panhia Editora de Pernambuco – CEPE, 2004. Impresso por Nettzo Ésoj Oztten, E-mail puer_amans@hotmail.com para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 07/07/2022 12:15:26 154 Impresso por Nettzo Ésoj Oztten, E-mail puer_amans@hotmail.com para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 07/07/2022 12:15:26 155 Cancão: estrela de primeira grandeza no universo da poesia Vera Lucia Leite Mariano “... Eu vos digo que, se eles se calarem, as pedras clamarão.” Jesus Cristo João Batista de Siqueira, mais conhecido como Cancão, po- eta ímpar, paisagista de verve sertaneja, cuja alma era imbuída de sentimentos que transbordavam no seu olhar. Olhar ter- no, puro e introspectivo. Seu contato direto com a natureza numa relação uníssona e seu espírito aguçado para observar o movimento rítmico do cotidiano campesino, transformando o que há de mais singelo na mais sublime poesia, o fez Osíris da Terra dos Faraós da Poesia , como bem o nomeou Lindoaldo 1 Campos. Camponês humilde, amável e inocente , desprovido de 2 qualquer intenção de ser grande, porém, o foi sem saber que o era. Corrobora esta afirmativa o poeta Geraldo Amâncio3, quando observou: Cancão às vezes parece não saber quem canta bem Impresso por Nettzo Ésoj Oztten, E-mail puer_amans@hotmail.com para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 07/07/2022 12:15:26 156 Pinto cantando, ele dorme eu vou cantar, ele vem mas todo gênio é ingênuo não sabe o valor que tem Foi um grande pintor da natureza, retratando suas vivên- cias, observações e sentimentos metaforicamente nos quadros da poesia de maneira tal que envolve o leitor numa unicidade de sentimentos com o poeta. Um pássaro cantando para ou- tro pássaro, confirmando esta assertiva, foi o poeta Patativa do Assaré no livro “Cante Lá Que eu Canto Cá” em uma das dez décimas que fez para Cancão: Nos teus versos, caro amigo Que jorram como a nascente A gente sente contigo Tudo que a tua alma sente. Com inspiração divina A tua lira domina O vale, o sertão e a serra Com melodias infindas Colheste as flores mais lindas Que teu Pajeú encerra Parafraseando o versículo bíblico supracitado, com certe- za, se ninguém se erguesse para resgatar a poesia de Cancão, as pedras clamariam. Assim o fez o poeta e escritor Lindoaldo Campos quando presenteou ao universo literário a obra Pala- vras ao Plenilúnio (2007), que compila os versos publicados nos livros Musa Sertaneja Flores do Pajeú Meu Lugarejo (1967), (1969) e (1979), bem como, versos outros inéditos. A poesia do Vale do Pajeú, dada a tradição, tem a oralidade como grande característica, não raro os poetas se encontram Impresso por Nettzo Ésoj Oztten, E-mail puer_amans@hotmail.com para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 07/07/2022 12:15:26 157 nos bares, calçadas e esquinas, numa reunião entre amigos de- clamando poesias e improvisando versos, e, para que não se percam com o tempo, eis a grande importância de trabalhos dos amantes da poesia, admiradores, estudiosos e pesquisado- res como Lindoaldo Campos, que como ele mesmo sentencia acerca dos versos de Cancão que “foram garimpados, durante largo tempo, nas vigiadas gavetas de admiradores desconfia- dos” .4 A engenhosidade poética de Cancão foi por vezes atribuída ao sobrenatural , porém, era sabido que se tratava tão somente 5 de inspiração e genialidade em externar sua sensibilidade, sua visão de mundo e seu encantamento pela natureza com um extraordinário e intrigante vocabulário que não condizia com o seu nível de escolaridade, que segundo pesquisadores, não chegou a concluir o curso primário .6 A dupla natureza da poesia de Cancão, que transita entre o popular e o erudito , singulariza seu estilo. Homem do cam-7 po, simples, que com muita maestria manipulava as palavras e suas metáforas e personificações atribuindo-lhes imensurá- vel força ao sentido a fim de bem expressar seus sentimentos, como esclarece Domício Proença Filho acerca da escolha do vocabulário e das figuras de linguagem no discurso: Ao assumir o discurso, o indivíduo busca es- colher os meios de expressão que melhor con- figurem suas ideias, pensamentos e desejos. Esta escolha é o que caracteriza o [...]estilo Podemos entender o estilo, em sua dimensão individual, e a partir de conceito de Hemut Hatzfield, como aspecto particular que carac- teriza a utilização individual da língua e que se revela no conjunto de traços situados na esco- Impresso por Nettzo Ésoj Oztten, E-mail puer_amans@hotmail.com para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 07/07/2022 12:15:26 158 lha do vocabulário (grifo meu), na ênfase nos termos concretos e abstratos, na preferência por formas verbais ou nominais, na propensão para determinadasfiguras de linguagem (grifo meu), tudo isso estritamente vinculado à orga- nização do que se diz ou escreve a intento de expressividade. (A Linguagem Literária, Série Princípios, Ed. Áti- ca,1987, pp. 23-24) Cancão trazia consigo a condição de semianalfabeto , con-8 siderando o modelo tradicional escolar da aprendizagem, toda- via, dominava perfeitamente a leitura e a escrita, como se pode verificar através de seus poemas construções linguísticas de um nível de letramento para além do sujeito semianalfabeto. 9 Sobre letramento, Magda Soares preceitua: [...] o indivíduo que vive em estado de letra- mento, não é só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas sociais de leitura e de escrita. (Magda Soares, Letramento: Um tema em três gê- neros, 2ª ed., Autêntica. 2001, p. 40.) Em se tratando de leitura, sabe-se que Cancão teve conta- to, segundo vários pesquisadores, com Cassimiro de Abreu, Castro Alves e Fagundes Varela, vale salientar que tais leituras não davam subsídios suficientes para versar sobre temas que atravessam muito além das fronteiras do Sítio Queimadas, lu- gar onde nasceu, na cidade de São José do Egito, Vale do Pajeú. No verso “Finge a fumaça um Vesúvio / Sempre ativo a toda Impresso por Nettzo Ésoj Oztten, E-mail puer_amans@hotmail.com para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 07/07/2022 12:15:26 159 hora”, do poema Paulo Afonso, o vate egipciense aborda a geo- grafia italiana com precisão, visto que o Vesúvio é um vulcão situado em Nápoles, na Itália, e, ainda considerado ativo ape- sar de não entrar em erupção desde 1944. No poema Visão de um Sonho, cita “Ramaiana”, um dos grandes épicos da literatura indiana, nos versos “Chegou-me logo o sentido / Das lendas de Ramaiana”. O uso de figuras da mitologia grega é outro fato curioso, pairando no ar mais um mistério em torno da poesia de Cancão que em alguns poemas as evocam, como o poema Mata Rude Teus Vinte Anos e Tua onde cita “Hércules” ou o poema Beleza onde menciona “Diana” e “Castália”, também discorreu com grande trato a mitologia grega ao glosar o mote dado 10 numa roda de poetas: Eu vi a noite chorando se despedindo do dia Cancão glosou: Vi muito triste Eolo vir lá dos montes azuis beijar os braços da cruz da sepultura de Apolo. Minerva baixando ao solo mostrando sabedoria a linda deusa Urania no espaço soluçando eu vi a noite chorando se despedindo do dia Ainda sobre os poetas com os quais Cancão teve contato e bebeu do mesmo cálice, é interessante notar as marcas que Impresso por Nettzo Ésoj Oztten, E-mail puer_amans@hotmail.com para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 07/07/2022 12:15:26 160 deixaram, como é possível observar a primeira estrofe do po- ema As Duas Flores de Castro Alves e as décimas seguintes de Cancão: São duas flores unidas São duas rosas nascidas Talvez no mesmo arrebol, Vivendo no mesmo galho, Da mesma gota de orvalho Do mesmo raio de sol (Castro Alves) Com prazeres recebiam O pequeno rouxinol Eram os primeiros que viam A face alegre do sol Sentiam as mesmas mágoas Beberam das mesmas águas Queimadas do mesmo pó Colheram o mesmo sereno Viveram num só terreno Nasceram num dia só (Cancão) E Duas almas bem unidas São duas gotas de orvalho São duas rosas num galho Das brisas favorecidas São duas plantas erguidas No campo das ilusões Duas imaginações Que numa só senda trilham Duas auroras que brilham No céu de dois corações (Cancão)
Compartilhar