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Tromboembolismo Pulmonar O tromboembolismo pulmonar (TEP) é uma doença subdiagnosticada, cuja mortalidade pode chegar a 30% sem tratamento, estando muito associado a trombose venosa profunda (TVP), sendo esta a causa prevenível mais comum de morte em pacientes hospitalizados. Dessa forma, os fatores de risco são os mesmos para ambas as patologias: fatores que interfiram na tríade de Virchow (lesão endotelial, estase venosa e hipercoagulabilidade). Na maioria dos casos, os eventos tromboembólicos são ocasionados por êmbolos provenientes das veias dos membros inferiores. Porém, é possível que o embolo se forme em qualquer ponto da rede venosa ou do coração direito. Após, há o destacamento desse trombo, que pode caminhar pela veia cava, átrio direito, ventrículo direito até a circulação pulmonar. Em paciente com forame oval patente, é possível que o êmbolo se pare na circulação arterial, gerando a embolização paradoxal. Quando o evento embólico acontece, há alteração da troca gasosa do tipo espaço-morto, uma vez que a área do pulmão é ventilada, mas não recebe perfusão. Porém, nem sempre há dispneia ou insuficiência respiratória. Além disso, o desconforto respiratório também não ocorre somente pela obstrução vascular, mas também pela liberação de citocinas inflamatórias, gerando perda de regulação da vasoconstrição hipóxica pulmonar. Entretanto, a mortalidade não decorre da alteração das trocas gasosas, mas sim do impacto da obstrução vascular sobre a função ventricular direita. Isso ocorre porque um trombo grande faz com que aumente a pressão na artéria pulmonar, fazendo com que aumente o trabalho para o ventrículo direito, onde em alguns casos o ventrículo não consegue manter o trabalho sistólico, podendo se dilatar e comprimir o ventrículo esquerdo, ocasionando redução do débito cardíaco e colapso hemodinâmico. A história natural do tromboembolismo é a resolução da sua ocorrência dentro de 3 a 4 semanas em 97% dos casos, com a maioria reabsorvendo o trombo na primeira semana. Se não resolvido, o TEP se torna crônico, sendo uma das principais causas de hipertensão pulmonar. Quadro Clínico O quadro clínico pode se manifestar de forma muito inespecífica, como uma simples dor torácica localizada, assim como um quadro respiratório agudo em pacientes com fatores de risco para TEP, com dispneia, tosse, dor pleurítica e hemoptise. Ao exame físico, é possível encontrar taquipneia e taquicardia, sendo mais difícil a ocorrência de cianose, sinais de trombose profunda, crepitações e febre. Exames Complementares A radiografia do tórax apresenta utilidade principalmente no diagnóstico de causas diferenciais, sendo que para o TEP ela pode demonstrar algumas anormalidades inespecíficas, como atelectasia laminar (mais comum), derrame pleural e elevação da cúpula diafragmática. Algumas anormalidades são consideradas clássicas de TEP, como o sinal de Hampton (imagem triangular periférica, sugestiva de infarto pulmonar), sinal de Westermark (área de parênquima pulmonar com pobreza vascular focal) e sinal de Fleischner ou Palla (dilatação anormal dos ramos principais das artérias pulmonares). A gasometria arterial pode estar normal em 20% dos pacientes, mas nos anormais pode demonstrar hipoxemia e hipocapnia, principalmente nas embolias mais graves. O eletrocardiograma pode apresentar alterações inespecíficas no segmento ST-T e taquicardia sinusal, assim como pode ser totalmente normal. Há um achado clássico e específico que é o padrão S1Q3T3 (onda S profunda em DI, onda Q e onda T invertida em DIII), sugestivo de sobrecarga de câmaras direitas. Também pode haver padrão strain e isquemia de VD, além de inversão da onda T de V1-V4. O ecocardiograma pode ser solicitado para verificar sinais indiretos do TEP, como hipertensão pulmonar, hipocinesia de VD, entre outros. Também pode ser solicitado para excluir outras causas, como endocardite. O sinal mais importante de embolia é o sinal de McConell que demonstra hipocinesia da parede livre de VD associado à movimentação normal ou hipercinesia do ápice de VD. Já as troponinas e peptídeo natriurético cerebral não apresentam validade para diagnóstico ou exclusão do TEP, mas podem ser úteis para verificar o prognóstico dos pacientes. O D-dímero, por sua vez, é um produto da degradação da fibrina, detectado sempre que o processo de coagulação-fibrinólise está acontecendo em maior intensidade, como no TEP. Apesar disso, muitas patologias podem causar seu aumento, como sepse, infarto, insuficiência renal, entre outros. Portanto, trata-se de um exame pouco específico, mas que pode ser solicitado para excluir a possibilidade de TEP, uma vez que sua negativação fala muito a favor de outras causas devido a sua alta sensibilidade. Dessa forma, trata-se como um exame de triagem, podendo ser solicitado quando o TEP for um diagnóstico diferencial, de modo que sua positividade indica realização de exame de imagem complementar, enquanto sua negatividade faz com que a doença seja afastada (alto valor preditivo negativo). A cintilografia de ventilação-perfusão (V/Q) usa como princípio a comparação da viabilidade das vias aéreas com a dos vasos pulmonares pela administração de um marcador nuclear. Dessa forma, um paciente com TEP vai apresentar falha na perfusão localizada em um segmento pulmonar com ventilação normal. Vale ressaltar que os pacientes com lesão pulmonar parenquimatosa devem evitar a realização desse exame, uma vez que pode resultar em falso positivo. A angiotomografia de tórax é um excelente exame para avaliação do TEP, com alta acurácia para o diagnóstico e com disponibilidade de realização maior que a cintilografia, bem como também pode apontar diagnósticos diferenciais. O doppler de membros inferiores apresenta boa acurácia para identificação de TVP, principalmente do território iliofemoral (principal local de formação de trombos). A detecção de trombo na TVP associado a um quadro compatível de TEP por si só já indica o início do tratamento para TEP. A visualização da perda de compressibilidade venosa pode indicar o diagnóstico, mas sua acurácia é maior quando o trombo é visualizado. Probabilidade Pré-Teste Devido a dificuldade diagnóstica e os diversos exames e suas peculiaridades, foram criados diversos escores para estimar a probabilidade pré-teste, como o de Wells, PISA-PED e GENEVA. Entre os escores, o de Wells é o mais utilizado. Nele, são avaliados diversos critérios, os quais devem ser somados para verificar a probabilidade de TEP. • Sinais e sintomas de TVP +3. • Ausência de diagnóstico alternativo mais provável +3. • Antecedente de TVP ou TEP +1.5. • Taquicardia +1.5. • Imobilização ou cirurgia recente (< 4 semanas) +1,5. • Hemoptise +1. • Neoplasia diagnosticada ou em tratamento (< 6 meses) +1. No escore original, define-se como baixa probabilidade de TEP quando a soma é < 2, intermediária quando entre 2 e 6 e alta quando > 6. Já no escore modificado, define-se como TEP improvável se ≤ 4 e TEP provável se > 4. Já o score simplificado, os mesmos valores acima pontuam apenas 1 ponto cada, caracterizando o TEP como improvável se 0 a 1 pontos ou TEP provável se 2 ou mais pontos. Vale ressaltar que os pacientes classificados como baixa ou média probabilidade ou TEP improvável são candidatos à D-Dímero antes da realização de exame de imagem. Já em caso de média ou alta probabilidade ou TEP provável, a anti-coagulação deve ser iniciada de imediato. Estratificação de Risco A estratificação de risco é de suma importância nos pacientes com TEP, uma vez que auxilia no tratamento. Atualmente, a classificação é feita de acordo com o risco de evolução desfavorável. Nela, são classificados como risco elevado os pacientes com PAS <90 mmHg ou queda sustentada da PAS em mais de 40 mmHg (em relação ao basal). Já os pacientes de risco intermediário são os que não possuem hipotensão, mas que apresentam exames laboratoriais (troponina ou BNP) ou de imagem (ecocardiografia ou tomografia) sugestivos de sobrecarga de VD. Por fim, de baixo risco são os pacientes sem hipotensão ou marcadores sugestivos de sobrecarga de VD. Outra possibilidade de estratificação de risco é o score de PESI (original ou simplificada) o qual avalia o risco de morte nos primeiros 30 dias. Tratamento O tratamento deve ser realizado conforme a estratificação de risco. Dessa forma, pacientes caracterizados como alto risco (choque ou hipotensão) devem ser tratados com trombolíticos, podendo ser realizada até o 14º dia após o evento, desde que não apresentem contraindicações. Em casos de contraindicação ou em piora clínica apesar do tratamento, pode-se optar pela realização trombólise guiada por cateter ou pela remoção do trombo de forma mecânica. Pacientes com risco intermediário-alto (sem choque ou hipotensão, mas com alto risco de mortalidade – PESI III-V ou sPESI ≥ 1) devem receber anti- coagulação plena com HNF e monitorização em unidade de terapia intensiva. Já nos pacientes com risco intermediário-baixo (sem choque ou hipotensão, mas com moderado risco de mortalidade – PESI III-V ou sPESI = 0) devem iniciar o tratamento, preferencialmente, com heparina e, caso mantenha estabilidade clínica, pode-se utilizar anticoagulantes orais. Os novos anticoagulantes (NOACs) ou inibidores diretos dos fatores de coagulação também podem ser utilizados. Por fim, os pacientes com baixo risco devem receber anti-coagulação plena, onde os NOACs são os medicamentos de escolha. O tratamento pode ser feito em domicílio.
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