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1 Ana Catarina Rios – Odontologia - UFAL Acesso Coronário O acesso coronário, o preparo químico-mecânico e a obturação do sistema de canais radiculares constituem as três etapas operatórias básicas do tratamento endodôntico. Portanto, a realização de um correto acesso coronário está intimamente relacionada ao sucesso da terapia endodôntica. O acesso coronário é o “ponto de partida” para iniciar o tratamento endodôntico. Nesta etapa iremos acessar o elemento dentário. Quando o paciente apresenta inflamação ou necrose pulpar, é preciso romper o teto para ter acesso ao espaço radicular e, consequentemente, realizar o tratamento endodôntico. Acesso Coronário ou Cirurgia de Acesso ou Abertura Coronária Conceitualmente, o acesso coronário pode ser definido como o preparo de uma cavidade que inclui a porção da coroa do dente removida para se ter acesso à cavidade pulpar, representada pela câmara pulpar e canal radicular. “Procedimento para expor a câmara pulpar e remover todo o seu teto”. Trepanação: ato ou efeito de perfurar utilizando um trépano (broca). Preparo Inicial do Dente Antes de realizar a abertura coronária, é necessário realizarmos alguns preparos iniciais no dente. Em casos de dentes restaurados, devemos remover a restauração por completo? Para responder esta pergunta, é importante analisar se há presença/ausência de infiltração na restauração, qual o material restaurador utilizado (resina ou amálgama) e se tem remanescente dental. Se a restauração é de resina, não estiver infiltrada, e o dente possuir pouco remanescente, mantém-se a restauração, pois - no futuro - ela facilitará/ajudará no isolamento. Se a restauração é de amálgama, preconiza-se a remoção total da mesma. Casos em que há pouco remanescente dental, tem-se uma grande dificuldade para realizar o isolamento absoluto. ATENÇÃO: após a abertura coronária, todo o restante do tratamento endodôntico SEMPRE deve ser feito com o uso de isolamento absoluto. Isolamento Absoluto A abertura coronária não deve ser feita com o isolamento absoluto, pois perde-se a localização/referência do dente na cavidade oral, aumentando o risco de perfuração do dente (principalmente em dentes girovertidos ou que possuem acentuada inclinação dentária). Assim, inicia-se a abertura coronária sem o isolamento. Após a chegada na câmara pulpar, isola-se a cavidade bucal. A radiografia abaixo mostra um 2º molar inferior com um alto grau de inclinação, após a exodontia do 1º molar. Se isolarmos o 2º molar para realizar a abertura coronária, a tendência é fazer a abertura no sentido da reta vermelha, perfurando-o o dente. Isso ocorre, uma vez que o isolamento impede a visualização de giroversões dentárias. Para acessarmos corretamente a câmara pulpar, é necessário realizar a abertura coronária no sentido da reta verde. Passo à Passo do Acesso Coronário As manobras descritas a seguir se relacionam entre si e são comuns a todos os dentes, independentemente do grupo a que pertençam. São elas: ● 1º: exposição da câmara pulpar ● 2º: remoção de todo o teto da câmara pulpar (que restou após a exposição da câmara pulpar) ● 3º: forma de contorno ● 4º: desgaste compensatório ● 5º: forma de conveniência OBS: a nomenclatura trepanação está entrando em desuso. OBS: é importante removermos todo o teto, pois embaixo do teto tem dentina contaminada (se o dente estiver necrosado), polpa inflamada, etc. OBS: a forma de contorno e de conveniência, feita através de desgastes compensatórios, tem como objetivo facilitar o tratamento endodôntico. 2 Ana Catarina Rios – Odontologia - UFAL Princípios Básicos Os princípios básicos para a realização da abertura coronária são: ● Remoção do teto ● Preservação do assoalho ● Facilitar o acesso ao canal radicular ● Conservar a estrutura dental ● Dar forma às paredes internas Em hipótese alguma a broca utilizada para a abertura coronária deve tocar o assoalho! A forma de contorno e a forma de conveniência facilitam o acesso e a visualização do canal radicular. Mas, não podemos remover excessivamente a estrutura dental. Ao dar a forma às paredes internas, estas devem ficar divergentes para facilitar a visualização dos canais radiculares. Acesso à Câmara Pulpar Ponto de Eleição: ● O acesso à câmara pulpar inicia-se após a definição do ponto de eleição. ● Esta etapa se inicia com o estabelecimento de uma área/ponto de eleição. ● A área de eleição é o ponto escolhido para ser iniciado o desgaste do dente e, consequentemente, realizar a abertura coronária. ● Nos incisivos e caninos superiores, fica na face palatina, 2 a 3 mm abaixo do cíngulo; nos inferiores, na face lingual, 2 a 3 mm acima do cíngulo; nos pré-molares e molares, na face oclusal, junto à fossa central em ambos os arcos. Incisivos Caninos Pré-molares Molares 2 à 3 mm acima/ab aixo do cíngulo 2 à 3 mm acima/ab aixo do cíngulo Face oclusal, junto à fossa central Face oclusal, junto à fossa central Direção de Acesso: ● A broca deve ser direcionada de forma que a penetração seja feita na parte mais volumosa da câmara pulpar. ● A penetração inicial deve ser estendida para o interior do dente, em direção à câmara pulpar. ● Após a perfuração, o operador pode ter uma sensação de “queda no vazio”. ● Uma vez atingida a câmara pulpar, realiza-se o isolamento absoluto do campo operatório, com a colocação do grampo e lençol de borracha. ● A penetração em direção a câmara pulpar deve ser feita com pontas diamantadas (ex: 1011, 1012, 1013, 1012 HL, 1016 HL). ● Estas brocas esféricas diamantadas possuem: ponta ativa, poder de corte e haste curta ou longa. ● As brocas devem ser usadas em alta rotação e com refrigeração constante, a fim de diminuir a formação de calor prejudicial à polpa e ao ligamento periodontal. ● A broca deve ter tamanho compatível com a cavidade. ● Após a exposição da câmara pulpar, devemos trocar a broca, uma vez que não podemos tocar a ponta diamantada no assoalho. Ponta Diamantada 1011 Ponta Diamantada 1012 Ponta Diamantada 1013 Ponta Diamantada 1016 HL Remoção do Teto da Câmara Pulpar ● Para a remoção do teto da câmara pulpar, utiliza-se uma ponta inativa com poder de corte na lateral (podendo ser diamantadas ou multilâminas). ● Ponta inativa multilaminada = Endo Z ● Ponta inativa diamantada = 2082; 3082; 4084 ● As pontas inativas devem ser usadas em alta rotação e com refrigeração constante. ● O teto é removido a fim de enxergar e facilitar o acesso ao canal radicular. Endo Z 2082 3082 4084 Desgaste Compensatório 3 Ana Catarina Rios – Odontologia - UFAL ● Procedimento que remove projeções dentinárias que impedem a entrada do instrumento endodôntico (limas) no longo eixo do canal radicular. ● Ao fazermos o tratamento endodôntico, temos que ter uma visão privilegiada para facilitar o trabalho. ● Exemplos de projeções dentinárias que impedem a visualização do canal radicular: ombro palatino e convexidades das paredes da câmara pulpar. ● Para enxergarmos e termos acesso pleno ao canal radicular, é necessário que as paredes estejam divergentes para oclusal. ● Este procedimento (ex: eliminação do ombro palatino em dentes anteriores) é feito com pontas inativas diamantadas (2082; 3082; 4084) ou brocas carbides (Endo Z). ● Para conferirmos se houve a remoção completa do teto e das projeções dentinárias, podemos utilizar a sonda exploradora nº 5 e a sonda endodôntica. Incisivos ● A abertura coronária dos incisivos deve ser feita sempre pela face palatina, 2 a 3 mm abaixo do cíngulo. ● Para realizar a abertura coronária dos dentes anteriores, a broca deve penetrar a aproximadamente 45° em relação ao longoeixo do dente. ● Após atingir a câmara pulpar, posiciona-se a broca paralelamente ao longo eixo do dente para realizar a forma de contorno e de conveniência. ● Nos incisivos superiores, a forma de contorno é triangular, com a base voltada para a incisal. ● Nos incisivos inferiores, as características de acesso e as formas de contorno e conveniência são as mesmas. Caninos ● A abertura coronária dos caninos deve ser feita sempre pela face palatina, 2 a 3 mm abaixo do cíngulo. ● Para realizar a abertura coronária dos caninos, a broca deve penetrar a aproximadamente 45° em relação ao longo eixo do dente. ● Após atingir a câmara pulpar, posiciona-se a broca paralelamente ao longo eixo do dente para realizar a forma de contorno e de conveniência. ● A forma de contorno dos caninos (superior e inferior) é ovalada. Na primeira imagem, podemos observar a presença de teto após a abertura coronária. Isto é, não se realizou a forma de contorno e conveniência. Ao inserir a sonda exploradora nº 5, está se prendeu no interior do canal. Além disso, ao inserir a lima no canal radicular, observa- se que esta sofre uma grande deformação. Em seguida, após a remoção do teto e a realização da forma de contorno e conveniência, a lima é facilmente inserida e de maneira retilínea. Pré-Molar Superior ● A abertura coronária do pré-molar superior deve ter seu ponto de eleição na fosseta central. ● Para iniciar a abertura, podemos traçar uma linha imaginária entre as cúspides vestibular e palatina. O ponto de encontro destas linhas imaginárias é o ponto de eleição. ● Para realizar a abertura coronária do pré- molar superior, a broca deve estar perpendicular à face oclusal do dente. ● Em seguida, movimenta-se (arrasta) a broca em sentido vestíbulo-palatino, pois o pré- molar superior possui uma raiz na palatina e outra na vestibular. ● Sua forma de contorno é ovalada. Pré-Molar Inferior ● Para iniciar a abertura, podemos traçar uma linha imaginária entre as cúspides vestibular e palatina. O ponto de encontro destas linhas imaginárias é o ponto de eleição. ● Para realizar a abertura coronária do pré- molar inferior, a broca deve estar paralela ao longo eixo do dente e perpendicular à face oclusal. Por isso, a abertura coronária é mais facilmente realizada nos pré-molares e molares (paralelo ao longo eixo de dente e perpendicular à face oclusal) do que nos incisivos e caninos (45°). 4 Ana Catarina Rios – Odontologia - UFAL Molares Superiores ● O ponto de eleição para a abertura coronária é a fosseta principal. ● Para realizar a abertura, a broca deve estar perpendicular à face oclusal e paralela ao longo eixo do dente. ● A raiz palatina é mais volumosa. Por isso, para atingir mais rapidamente a câmara pulpar, podemos iniciar a perfuração por essa região. ● Deve-se preservar a ponte de esmalte. Esta região não apresenta canal radicular. ● A forma de contorno é triangular, com base voltada para a vestibular. ● O desgaste compensatório é feito com uma ponta inativa e tem como objetivo eliminar projeções dentinárias e facilitar o acesso ao interior dos canais. ● Lembre-se: na raiz mesial, as chances de encontrar 2 canais são grandes. Este segundo canal está em uma linha imaginária entre o canal mésio-vestibular 1 e o canal palatino. Se não eliminarmos as projeções dentinárias, as limas entrarão de maneira cruzada. 1º Molar Inferior ● A broca deve ser inserida perpendicularmente à face oclusal e paralelamente ao longo eixo do dente. ● No 1º molar inferior, tem-se duas raízes na mesial e uma raiz na distal. ● Assim, a forma de contorno é triangular, com base voltada para mesial. ● Lembre-se: podemos encontrar 2 canais na raiz distal, mudando assim a sua forma de contorno. 2º Molar Inferior ● Mesmas características do 1º molar inferior. ● O ponto de eleição é a fosseta central. ● A broca deve ser inserida perpendicularmente à face oclusal e paralelamente ao longo eixo do dente. Erros mais comuns Inclinação da Broca: ● Falta de atenção ao longo eixo (inclinação vestíbulo-lingual dos molares inferiores). ● Abertura coronária com isolamento. ● Presença de dentes com giroversão. ● Busca pelo canal disto-vestibular do 2º molar superior, aumentando o risco de perfuração. Desgastes Excessivos: ● Falta de acesso à câmara pulpar. ● Falta de sondagem e atenção. Falta de Desgaste Compensatório: ● Paredes convergentes para a oclusal. ● Presença das convexidades dos canais mesiais. Resuminho: Incisivos Caninos Pré- molares Molares Inferiores Molares Superiores Triangular com base voltada para incisal Ovalada Ovalada Triangular com base voltada para mesial Triangular com base voltada para vestibular
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