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GESTÃO DE PRODUÇÃO E OPERAÇÕES AULA 5 Prof. Paulo Friesen CONVERSA INICIAL Vamos para o GEMBA? GEMBA é o termo utilizado para nos referirmos ao local onde as coisas realmente acontecem, ou seja, no nosso caso: o chão de fábrica. Nesta aula, nós vamos seguir como num passeio no chão de fábrica. Nessa integração, levaremos vocês aos corredores de uma linha de produção apontando onde é possível verificar a filosofia Lean sendo aplicada, quais os desafios vencidos, que tipo de solução é oferecida e qual o desperdício que está sendo eliminado. Vamos olhar para o processo de produção numa estrutura fabril “de corredor em corredor”, verificando os conceitos da filosofia Lean aplicados, disseminados e mais que isso, protegidos para uma sobrevivência das boas práticas de utilização das diferentes metodologias que. somadas, são capazes de resultar em uma manufatura enxuta de alta performance. CONTEXTUALIZANDO Você já entrou numa fábrica? Se você já teve a oportunidade de conhecer um ambiente fabril, nosso “passeio” será mais fácil, mas se você ainda não teve essa experiência, imagine por um momento um corredor cumprido, bem longo, de aproximadamente 200 metros de comprimento e uma largura de 3 metros. Esse corredor é demarcado por faixas amarelas, as quais definem por onde podemos transitar. Conforme vamos caminhando nesse corredor, você percebe que de cada lado existem setores que a partir de agora chamaremos de células. Essas células são compostas por máquinas e pessoas trabalhando nelas, e você percebe que dentro de cada célula demarcada, além das máquinas, é possível identificar bancadas com ferramentas, acessórios e comandos eletrônicos utilizados no processo de manufatura daquela área. Outra coisa legal é que, até o final desse corredor de 200 metros, existem pelo menos mais 5 células. Cada célula realiza um determinado tipo de trabalho, ou seja, diferentes processos de manufatura que juntos representam a fábrica toda em seu nicho de negócio e atuação. Esse exercício de imaginação não é sem razão, é preciso ter noção do ambiente que nasceu a filosofia Lean para então entender sua real operacionalidade e compreender que a filosofia é aplicável em qualquer outro tipo de setor que não o fabril. TEMA 1 – O JIT E A PRODUÇÃO ENXUTA Vamos aos princípios da filosofia Lean para ficar mais fácil entender como as falhas e desvios identificados em um processo de manufatura são “afunilados”, sem poder continuar causando ineficácia ao processo produtivo. Na prática, cada princípio da filosofia Lean exerce um papel fundamental em que a somatória de ambos colabora com a proposta de manufatura enxuta. Vamos olhar detalhadamente cada um deles: Valor: o princípio Valor consiste em identificar o valor do produto pela perspectiva do cliente, ou seja, o valor é criado sim no processo de manufatura realizado por quem produz, entretanto quem define o quanto o produto de fato vai valer no mercado é o cliente. Fluxo de Valor: o princípio Fluxo de Valor tem a ver com o fluxo de materiais e informações, é onde se registra e analisa cada processo necessário para a produção de determinado produto. Fluxo: não se engane, o princípio Fluxo não tem a ver com o anterior. Nesse caso, a ideia é analisar a possibilidade de fluidez em busca de processos ininterruptos, é onde são eliminadas todas as possíveis barreiras funcionais em busca de maior fluidez no processo. Produção Puxada: no princípio Produção Puxada, é determinado que nada é produzido sem uma demanda real, ou seja, o processo de manufatura só é iniciado se existir uma solicitação. Perfeição: o princípio Perfeição tem a ver com melhoria contínua, mas é possível que você já tenha visto por aí a seguinte ideia: “A perfeição não existe”. É verdade, tudo e todos estamos sujeitos a falhas e imperfeições, mas isso não significa que nós não possamos buscar melhorar continuadamente. Não dá para falar de Produção Enxuta sem pensar em Just in Time (JIT), assim como se alguém fala em Just in Time a primeira coisa que pensamos é justamente na filosofia Lean. Isso acontece exatamente porque ambos apresentam como princípios norteadores de suas ações a eliminação de desperdício e a viabilização de um processo enxuto. Em linhas gerais, o Just in Time é um sistema de administração de produção que trabalha de forma “justa”, como o próprio nome sugere, onde só se produz o que realmente é necessário, na quantidade, demanda e no momento exato. Para que toda essa exatidão seja possível, é impreterivelmente necessário que a produção seja puxada, ou seja, quando o cliente determina o que será produzido, diferentemente da produção empurrada, que produz em demasia e corre atrás de fazer vender aquilo que hora produziu sem parar para justamente “empurrar” para seus clientes. Outra particularidade que é necessário ressaltar acerca desse sistema de administração de produção é que, para que seja possível a sua implementação e operacionalização, é elementar que a alta gestão, ou seja, que o nível organizacional estratégico da empresa esteja envolvido para que essa mudança seja possível, afinal o JIT requer um alinhamento não apenas dos processos intralogisticos, ou seja, os processos internos, mas também o alinhamento de todo o Supply Chain Management, ou seja, o alinhamento de toda a cadeia de suprimento que a empresa esteja inserida, mas não sem razão. Quando trabalhamos no formato JIT, nós não só diminuímos os níveis de estoque dos produtos acabados, mas também diminuímos os estoques de insumos e matéria-prima. Nesse sentido, significa que se temos uma demanda considerável, os fornecedores deverão nos abastecer de acordo com a nossa capacidade produtiva, ou seja, se nós usarmos todo nosso “estoque” de insumos e até lá o fornecedor não nos abastecer, o processo produtivo para nossa linha de produção fica ociosa e temos um gigantesco desperdício, e mais que isso, prejuízo, uma vez que estamos remunerando os operadores de produção para ficarem parados, já que não teremos matéria-prima para continuar. Partindo do exemplo dado, fica evidente perceber outro fator predominante nesse formato de administração de produção: para que o JIT seja possível, nosso fornecedor também precisa trabalhar neste formato, ou pelo menos nos atender neste formato ainda que ele não o faça de forma generalizada na administração de sua própria produção. Já ouviu falar no termo Parque Industrial ou até mesmo Condomínio Industrial? Se trata de um local onde se encontram determinada cadeia de suprimentos, onde um acaba sendo cliente do outro, e muitas vezes um trabalha exatamente com o estoque do outro, e pelo fato de estarem próximos num mesmo município, bairro ou até num mesmo condomínio, o processo de distribuição e a cadeia seguem em perfeita harmonia produzindo a coisa certa, na quantidade certa, no momento certo e para o cliente correto. O JIT pode eventualmente ser aplicado em uma organização sem necessariamente utilizar a filosofia Lean, afinal de contas, olhando apenas para o sistema de administração de produção JIT, já é possível identificarmos inúmeros ganhos para uma organização que consiga aplicar o sistema em conjunto com seus fornecedores e clientes, contemplando em seu negócio diferentes formas de competitividade perante seus concorrentes. É necessário lembrarmos que o JIT não é algo que se aplica apenas numa linha de produção, pelo contrário, esse sistema afeta muitos outros processos logísticos que são muitos mais caracterizados como serviços do que propriamente produção. TEMA 2 – PRODUÇÃO PUXADA X PRODUÇÃO EMPURRADA No tema anterior, verificamos que o JIT (Just in Time) exige que se trabalhe no formado de produção puxada pelos diferentes motivos que o formato visa atender. Entretanto, não podemos esgotar o tema em se tratando da Gestão da Produção e Operações achando que é só a produção puxada que apresenta um bom nível de competitividade, isso porque existem sim casos nos quais o inversoé oportuno e a produção empurrada apresenta sua efetiva colaboração nos negócios. A título de exemplo para facilitar nossa compressão, podemos citar as fábricas cervejeiras. Esse tipo de negócio tem por característica a manutenção de altos estoques para o atendimento de demandas que ainda serão prospectadas. Nesse momento, podemos nos perguntar sobre o risco de se produzir algo perecível sem a certeza de demanda. Aqui nós compreendemos um dos principais recursos utilizados nesse formato de produção, a estatística gerada a partir do histórico de vendas. A estatística toma por base os últimos meses ou até semestres para realizar uma “previsão”, isso não fica apenas no campo do consumo, mas sim na eficiência de conversão, em outras palavras, a eficiência de venda. Além dos números de consumo que são reais, as indústrias contam também com o poder de negociação de seus vendedores, em conjunto com campanhas de marketing e sua eficácia, isso é levado tão a sério que essa “crença” é tão forte que, baseado nisso, é produzido efetivamente um estoque que conta com a possível eficiência de conversão. Entre os benefícios que se tem ao trabalhar na produção empurrada, podemos citar: Disponibilidade de estoque: isso agiliza significativamente a entrega ao cliente final, exatamente por produzir sem o efetivo pedido do cliente, se tem disponível produtos em estoque. Previsibilidade de operação: com conhecimento do que se deseja produzir, é possível identificar com maior tranquilidade as necessidades de operações e processos. Poder de compra: pelo fato de sempre produzir em demasia, a organização que trabalha nesse formato geralmente realiza compras de grandes quantidades, o que a torna bem-vista pelos seus fornecedores e possibilita boas margens de desconto na compra. Atendimento da sazonalidade: geralmente com altos níveis de estoques à disposição, a sazonalidade do mercado deixa de ser um desafio. Já entre os desafios da produção empurrada, o que geralmente torna inviável a prática desse formato em várias indústrias e segmentos, podemos citar: Maior chance de desperdício: ainda que se produza produtos não perecíveis, o próprio mercado, com o tempo, torna os produtos obsoletos naturalmente por diferentes motivos. Alta dependência de estatística: produzir a partir de incertezas, além de causar um desconforto prolongado pela não confirmação do consumo, pode acabar em grandes prejuízos por previsões malsucedidas. Custo elevado com estoque: exatamente por manter altos níveis de estoques por sua característica principal, isso exige maiores custos com gestão, administração e manutenção de estoques. Alto investimento: por produzir em grandes quantidades, esse modelo pede grandes investimentos em infraestruturas (maiores armazéns) e maquinário, sem contar a necessidade maior de mão de obra para a operacionalização da produção. Falar sobre a produção empurrada citando suas vantagens e desvantagens é relevante para nossos estudos, exatamente porque, para todos os demais temas que tratamos e veremos em seguida, a produção puxada é considerada requisito para o perfeito funcionamento das técnicas e metodologias. Nesse sentido, acabamos vendo com maior frequência as características e curiosidades da produção puxada ao longo de nossos estudos acerca da Gestão da Produção e Operações. Então, como foi visto no tema anterior ao tratarmos do JIT, a produção puxada parte do princípio de produzir apenas a partir de uma demanda real, ou seja, só se produz aquilo que já foi vendido. Essa prática apresenta diferentes benefícios e é a mais utilizada, ou pelo menos a mais desejada, pela maioria das organizações que produzem algo em alguma medida, exatamente por apresentar benefícios como: Evita desperdícios: por trabalhar sob demanda, os desperdícios são minimizados uma vez que se produz exatamente o que foi demandado, não acumulando estoques e incorrendo em obsolescência. Reduz custos com estoques: exatamente por não trabalhar contando com altos níveis de estoques e primar pelo alinhamento com fornecedores, os custos com gestão, administração e manutenção de estoques são minimizados. Exige menos infraestrutura: uma das características históricas do modelo de produção puxado é exatamente possibilitar o funcionamento da produção com baixos investimentos em infraestruturas (armazéns menores), máquinas e mão de obra, uma vez que só se produz para o atendimento de demandas reais e consolidadas. Maior controle de qualidade: o controle de qualidade basicamente funciona por amostragem, isso porque é impossível realizar uma aferição técnica em 100% da produção no mundo real. Nesse sentido, quanto menor for a produção, maior a probabilidade de controle de qualidade. Dentro desse contexto, chegamos à conclusão de que, para a maioria das organizações que escolhem produzir seus produtos, a produção puxada parece ser a melhor alternativa; entretanto, basta olharmos para os benefícios da produção empurrada para compreender onde a produção puxada pode encontrar maiores dificuldades em sua operacionalidade. O fato é que a gestão da produção e operações deve avaliar cada caso e suas particularidades de mercado para definir o melhor formato e modelo de produção do negócio. TEMA 3 – GESTÃO POR MEIO DE KANBANS A gestão está diretamente relacionada à prática de planejamento, estratégia, organização, liderança e controle. Isso tudo aplicado na administração de algo, seja a administração de pessoas, materiais e/ou diferentes outros recursos que necessitem de gestão em alguma medida para um objetivo maior, que geralmente é atender aos interesses de uma organização, negócio no âmbito profissional como também anseios pessoais. Nesse contexto, a atividade de gerir propriamente dita já se mostra como tarefa complexa, uma vez que dentro de sua prática podem existir diferentes variáveis que vão colaborar ou dificultar a boa gestão. É nessa linha que surgem diferentes ferramentas e metodologias de gestão que têm por objetivo facilitar o controle, acompanhamento e desenvolvimento do que se deseja gerir. A palavra Kanban tem origem Japonesa, pode ser traduzida como “cartão” ou “sinalização” e representa um sistema que objetiva aumentar a eficiência da produção de uma empresa e é essencial nos dias de hoje, também muito disseminado para o aumento da produtividade e melhor utilização do tempo de profissionais que encontram dificuldade em se autogerir. Figura 1 – Kanban Créditos: Elnur/Shutterstock. Em linhas gerais, o Kanban é derivado do Toyotismo, nome dado à filosofia aplicada pela Toyota em sua prática produtiva ao longo da história. Desse modo, o sistema de controle Kanban permite a gestão do fluxo produtivo através do uso de cartões coloridos. Por essa característica predominante, também é conhecido por gestão visual, já as cores são utilizadas como sinalizadores para o perfeito funcionamento da produção e/ou operação. Sua funcionalidade é relativamente simples, onde os cartões e suas respectivas cores carregam um significado, seja um comando de ação, como por exemplo a solicitação de abastecimento ou expedição de algum produto, assim como uma quantidade específica. Essa metodologia, apesar de mundialmente conhecida pela utilização de cartões, não se resume nisso, pois o Kanban pode ser colocado em prática através da utilização de caixas. Por exemplo, imagine uma prateleira de almoxarifado em que determinado produto tem seu estoque armazenado em caixas enfileiradas; à medida que os produtos vão saindo, as caixas vão sendo movimentadas para a frente da prateleira. Se a caixa da vez for na cor vermelha, o almoxarife que realiza a separação e controle de estoque já sabe que é hora de solicitar um novo pedido de compra do determinado produto. Nesse pequeno exemplo, você percebe que a comunicação foi a caixa na cor vermelha, eis aqui um caso de controle via Kanban. Para complementar o exemplo, imagine que o almoxarife, ao ver a caixa vermelha, coloque um cartão amarelo naentrada do corredor onde este produto está armazenado. Esse cartão será num segundo momento visto por outro almoxarife, que entenderá a necessidade de abastecimento de material no corredor em questão, irá procurar a caixa vermelha e reabastecer o produto. Perceba que novamente a comunicação ocorreu pela utilização de cor. Nesse caso amarelo, posicionado a frente do corredor que necessita do abastecimento. Pode parecer relativamente simples o exemplo da utilização do sistema Kanban, mas o grande benefício da utilização desse sistema é que a comunicação, mesmo que assíncrona, tem o mesmo grau de eficácia se tivesse feito no ato da constatação da demanda em questão. Então o sistema Kanban propicia a gestão visual dos processos, permitindo uma comunicação assíncrona e eficiente, otimizando o tempo e disponibilidade de cada envolvido no processo e respeitando o tempo e processo de cada envolvido. TEMA 4 – FOCO NA MÃO DE OBRA (POKA-YOKE E JIDOCA) Aprendemos a andar aproximadamente ao completarmos o primeiro ano de vida. De lá para cá vamos firmando os passos, nos equilibrando com auxílio daqueles que nos criaram, até que, quando menos esperamos, já estávamos correndo mundo afora: verdadeiros Mestres na arte de andar capazes agora até de correr. Mas quando você menos espera, acaba tropeçando e alguns de nós até caindo, quem nunca? É justamente para essa falha inerente ao ser humano, mesmo naquilo que já faz e pratica há muito tempo, que surge o Poka-Yoke para resolver o problema e garantir assertividade em qualquer processo. Assim como falamos anteriormente sobre os 5 princípios da filosofia Lean, o quinto princípio é a perfeição. Nesse sentido, a filosofia Lean aplica a perfeição como princípio norteador, não sem razão, e mais que isso, não sem nos dar condições para buscar essa perfeição em meio aos nossos processos. É aqui que chegamos nos dispositivos Poka-Yoke, solucionadores daquilo que é inerente ao ser humano, a falha, o deslise, a distração, a falta de prática e/ou descuido. Reconhecendo que os processos, em grande medida, são operacionalizados por pessoas, os dispositivos Poka-Yoke são desenvolvidos a partir de uma falha identificada, que geralmente ocorre em processos que permitem que algo seja feito de mais de uma forma, permitindo então que ocorram os erros, seja pelo acaso ou pela falha humana. Nesse sentido, o dispositivo Poka-Yoke, também apelidado de dispositivo à prova de erros, é elaborado, pensado e construído num formato que permita apenas uma forma de se fazer o processo, a forma correta. Como por exemplo o plug USB, que só tem um jeito de ser conectado, o jeito certo. O Poka-Yoke ficou conhecido lá em 1920 por uma ideia do Sr. Toyoda, fundador da então mondadora de veículos Toyota. Nessa época, a Toyota era uma fábrica de tecidos com diversos teares, e o Sr. Toyoda “automatizou” um de seus teares. Lembre-se de que estamos em 1920, então automatizar naquela época era desenvolver um dispositivo mecânico que fosse capaz de realizar alguma tarefa de forma automática. Foi o que o Sr. Toyoda fez, ele aplicou um Poka-Yoke em um de seus teares. Com esse dispositivo, seu tear era capaz de identificar quando um fio se rompesse e parava “automaticamente”, evitando refugo de tecidos com falhas etc. Parece uma coisa simples, não é mesmo? Mas não foi, naquela época uma pessoa era capaz de cuidar e operar no máximo 2 teares, o que significava a necessidade de mão de obra. Imagine um galpão cheio de teares fabricando tecidos. Essa máquina do Sr. Toyoda permitiu a façanha de uma pessoa poder cuidar e operar, com folga, mais de 20 teares. Quer dizer, ele e sua invenção proporcionou um ganho de produtividade 10 vezes maior para sua fábrica de tecido. O feito foi tão significativo que anos depois esse mesmo tear foi vendido a um preço bem alto para um outro fabricante de tecidos, que lógico, pagou com gosto pela “tecnologia” que seria capaz de aumentar em 10 vezes a capacidade da sua fabricação. Foi a partir da venda desse tear “automatizado” com um Poka-Yoke que o Sr. Toyoda fundou a Toyota que conhecemos hoje como montadora de veículos. Isso tudo para lhe contar que foi junto com a invenção do Tear “automático” que nasce também a metodologia Jidoka. O Sr. Toyoda trabalhou um bom tempo com seu tear automático e foi preciso desenvolver essa metodologia para isso. Esta consiste em 4 princípios que veremos por etapas: Detectar um problema: o dispositivo fazia isso sozinho, então quando o tear parava, o operador ia até o tear com problema para identificar o que ouve. Parar o processo: é onde a metodologia agrega valor ao tear automático; sim, o operador era convidado a verificar possíveis falhas no processo que o tear não verificava sozinho e, se identificadas, o operador poderia parar a produção para evitar má qualidade, desperdício etc. Corrigir a anormalidade o mais rápido possível: outra forma que agregou valor ao tear automático. Aqui, há muito da filosofia japonesa no que diz respeito à colaboração mútua, isso porque cada minuto parado era relevante, então se parou ou foi parado o processo de manufatura, isso era sinalizado como um pedido de socorro a quem pudesse colaborar com a correção de forma rápida. Investigar a causa raiz: o operador do tear deveria investigar a causa raiz do problema para evitar novas paradas. Essa prática hoje é conhecida como Eventos Kaizen ou 5 porquês. Aliás, vale pesquisar mais sobre os temas. Essa prática Jidoka é conhecida no Brasil por Autonomação; acredite, não está escrito errado, é “Autonomação” mesmo. Esse “Autono” vem de autonomia associada à automatização através de dispositivos como o Poka-yoke. Então além do operador de produção ter o dispositivo à prova de erros, Poka-Yoke, ele também tem a autonomia de observar o processo e parar a máquina sempre que julgar pertinente. Então agora você já sabe, Autonomação é o termo que representa a metodologia Jidoka, que nasce lá em 1920 com a “Automatização” do tear do Sr. Toyoda que aplicou um Poka-Yoke em seu tear, somado, é claro, à participação do “toque humano” que agrega através dos princípios, além de detectar um problema; parar o processo se julgar necessário; corrigir o problema o mais rápido possível através da colaboração mútua; e investigar a causa raiz. TEMA 5 – ARMAZENAGEM ENXUTA (LEAN WAREHOUSE) Em busca de “um lugar ao sol”, as organizações industriais e empresariais têm somado esforços para melhorar a otimização de seu desempenho produtivo. Com o nível de concorrência cada vez mais acirrado, as empresas desenvolvem alternativas que as mantenham no jogo, e é nesse sentido de se reinventarem que a filosofia Lean, que vimos nos temas anteriores, é implementada nos processos intralogísticos como transporte, movimentação, manuseio e armazenagem contempladas em setores como Inbound e Outbound nas diferentes funções como conferência, classificação, separação de pedidos, embalagens e demais operações inerentes a área interna de apoio logístico. Na mesma linha do JIT, que visa à diminuição ou até mesmo à eliminação de estoques, a armazenagem enxuta propõe apresentar um nível tão alto de assertividade na gestão do estoque que o nível poderá ser cada vez menor, diminuindo custos administrativos e de infraestruturas e apresentando mais confiabilidade num processo que possa agregar valor no produto ou serviço comercializado. Para compreendermos a Armazenagem Enxuta, basta incorporarmos os princípios do Lean que vimos no Tema 1 dessa aula. Veremos que a dinâmica é a mesma, mas agora aplicada aos processos intralogísticos de um armazém e/ou fábrica. Vamos olhar no detalhe cada um dos princípios Lean, mas agora sob a perspectiva de processos intralogísticos: Valor: apesar do transporte, armazenagem e distribuição bem executada na quantidade, momento, local e tipo de produto correto, o princípio Valor consiste em identificar o valor do produto pela perspectiva do cliente, ou seja, como a atuação logística está sendo vista e sentidapelo cliente. Fluxo de Valor: tem a ver com o fluxo de materiais e informações, onde se registra e analisa cada processo necessário para o transporte, armazenagem, manuseio e distribuição do produto final. Fluxo: pressupõe fluidez, ou seja, é onde se deve buscar processos ininterruptos através de bons layouts, eliminando todas as possíveis barreiras funcionais em busca de maior fluidez no processo intralogístico. Produção Puxada: é onde a operação logística só atua perante uma demanda real de transporte, armazenagem, manuseio e/ou distribuição, eliminando movimentos desnecessários e importunos no tocante à redução de custos operacionais. Perfeição: o princípio Perfeição tem a ver com melhoria contínua, com a prática de ações como “Eventos Kaizen” e a prática dos “5 porquês” dentro dos setores e processos intralogísticos em busca do melhoramento e boa performance operacional. TROCANDO IDEIAS Falar sobre Just in Time, produção puxada e Lean Warehouse (Armazenagem Enxuta) nos remete automaticamente à agilidade, redução, maximização de lucros e tantos outros benefícios que se possa ter com a implantação de tais metodologias e suas respectivas ferramentas de gestão. Mas na prática, isso tudo geralmente exige altos investimentos em tecnologias de ponta, assim como a participação ativa do nível organizacional estratégico da organização. A título de exemplo, podemos citar o empresário Luciano Hang, proprietário da rede de lojas Havan. O empresário vincula com orgulho um de seus últimos investimentos no centro de distribuição de sua rede. A rede cresce em ritmo acelerado, e para manter o ritmo, Hang investe constantemente em tecnologia e inovação de seus processos. Apesar de a rede Havan não ser manufatureira, mas sim uma revenda de produtor distintos, vale a pena contemplar a implantação do novo Sistema de Armazenamento Automatizado Autoportante, da SSI SCHAEFER, no Centro de Distribuição, em Barra Velha (SC). Afinal de contas, é o único deste modelo montado no mundo, sob o investimento de aproximadamente R$100 milhões. A rede de lojas Havan informa que com o novo sistema é possível separar aproximadamente 3 mil caixas de produtos por hora, sendo que a tecnologia aumenta significativamente a produtividade do Centro de Distribuição, diminui as possibilidades de erros e traz agilidade para as entregas. O sistema também é o único no mundo onde o colaborador trabalha dentro do equipamento. “A tecnologia sempre fez parte do DNA da Havan e cada vez mais está presente em nosso dia a dia. É uma importante aliada para que sigamos revolucionando o varejo brasileiro. A nossa logística está sempre um passo à frente de tudo o que fazemos, para que possamos seguir investindo em nosso país, atendendo com qualidade e agilidade cada um dos nossos clientes”, afirma o dono da Havan, Luciano Hang. Saiba mais Assista ao vídeo no qual é apresentado o CD e suas particularidades que o coloca na lista dos centros de distribuição mais tecnológicos do mundo e compartilhe no fórum da nossa disciplina qual a relação desse CD da rede de lojas Havan com o que vimos sobre Lean Warehouse: <https://www.youtube.com/wat ch?v=u8b6ki3sw6U&t=6s>. Acesso em: 9 mar. 2022. NA PRÁTICA A filosofia Lean, desenvolvida e conhecida por ser de origem japonesa, mais propriamente de autoria da montadora de veículos Toyota, influencia e desperta o interesse de empresas e organizações de todos os tipos, áreas e tamanhos pelo mundo inteiro. Exatamente por todos os benefícios e práticas que pudemos contemplar ao longo de nossos estudos sobre o tema. Nesse sentido, vamos exercitar os princípios da filosofia Lean sob a perspectiva do gestor (a), considerando os ganhos que se tem na gestão de pessoas e processos a partir dos seguintes princípios: Valor; Fluxo de Valor; Fluxo; Produção Puxada; e Perfeição. Quais são os possíveis benefícios? Valor: a importância de trabalhar a interpretação do feedback do cliente permite que a gestão tenha um olhar mais assertivo nas ações que podem melhorar o processo e agregar valor de forma mais eficaz a partir desse retorno do consumidor final. Fluxo de Valor: conhecer e mapear os processos que geram valor de forma direta e decisiva no produto ou serviço é de fundamental importância para a gestão. Isso permite um acompanhamento e desenvolvimento de mão de obra especializada para esses processos que, ao longo do fluxo, colaboram mais na valoração do produto. Fluxo: a eliminação de ociosidade parece ser uma excelente forma de benefício ao buscar processos ininterruptos, assim como permite a otimização de processos na busca dessa fluidez prolongada. Produção Puxada: ainda que a produção puxada não seja a única forma de se trabalhar com produção de bens e serviços, o fato de obter minimização de custos com mão de obra, infraestrutura e maquinários passa a ser fator decisivo na busca de competitividade organizacional. Perfeição: o princípio Perfeição parece ser o melhor dos princípios, o qual provoca a busca pela melhoria contínua, com a prática de ações que sempre serão benéficas a qualquer negócio no sentido de sempre avançar em direção ao melhoramento organizacional. FINALIZANDO Começamos conhecendo os princípios da filosofia Lean, momento em que tivemos a oportunidade de contemplar cada um no detalhe e verificar o papel de cada um na somatória de ações que buscam fazer mais https://www.youtube.com/watch?v=u8b6ki3sw6U&t=6s com menos. Compreendemos a relação do modelo de produção puxada com o Just in Time (JIT) e como um depende diretamente do outro para os objetivos Lean aplicados à produção, assim como aos processos intralogísticos. Problematizamos a diferença entre os modelos de produção puxada e empurrada, compreendendo que existe espaço e oportunidade para ambos os modelos, pois dependendo do tipo de negócio, característica do perfil do consumidor e nicho de mercado, o modelo de produção pode variar entre puxado ou empurrado, respeitando essas características individuais de cada negócio. Falamos a respeito de ferramentas que colaboram e facilitam a gestão de pessoas, processos e até mesmo atividades particulares no âmbito pessoal, como por exemplo a utilização do Kanban, que através de uma comunicação visual permite a agilidade na troca de informações e comandos de forma assíncrona, permitindo maior flexibilidade e dinamismo numa operação de produção e ou processos intralogísticos. Conhecemos algumas características históricas advindas da cultura japonesa como o Poka-Yoke e a metodologia Jidoka, onde ambas trabalham de forma integrada e independente no sentido de proporcionar maior assertividade numa linha de produção que, além de barrar possíveis erros (Poka-Yoke), propõe a busca pela solução de problemas inerentes à operação (Jidoka) no sentido do quinto princípio da filosofia Lean, a perfeição. E terminamos falando sobre a filosofia Lean aplicada aos processos intralogísticos, da mesma forma que se aplica à produção, salvo suas características distintas. A ideia é buscar cada vez mais a minimização de custos e gasto de energia e esforços com um resultado igual ou até superior ao alcançado com as antigas metodologias. Dessa forma, o Lean Warehouse vem no sentido de tornar para vez mais enxuto os recursos necessários nos processos intralogísticos, assim como, a maior agilidade e assertividade nas ações desses processos. REFERÊNCIAS CD Havan investe R$100 milhões em sistema exclusivo de logística. HAVAN, 4 jun. 2021. Disponível em: <https://ri.havan.com.br/noticia/cd-havan-investe-r100-milhoes-em-sistema-exclusivo-de-logistica/>. Acesso em: 8 fev. 2022. IMAI, M. Kaizen: A Estratégia para o Sucesso Competitivo. São Paulo: IMAM, 1992. _____. Gemba Kaizen: Uma Abordagem de Bom Senso à Estratégia de Melhoria Contínua. Porto Alegre: Bookman, 2014. MONDEN, Y. Sistema Toyota de Produção: Uma Abordagem Integrada ao Just-in-Time. Porto Alegre: Bookman, 2014. OHNO, T. O Sistema Toyota de Produção: Além da Produção em Larga Escala. PortoAlegre: Bookman, 1997. SHIMBUN, N. K. Poka-Yoke: Improving Product Quality by Preventing Defects. New York - EUA: Productivity Press, 1989. WOMACK, J. T; JONES, D. T. A mentalidade enxuta nas empresas: elimine o desperdício e crie riqueza. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
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