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Sistemas de Liberação Controlada de Fármacos Cinética e Mecanismos de Liberação Controlada de Fármacos (incluindo Sistemas Poliméricos) Profa Dra. Nereide Stela Santos-Magalhães Professor Titular Curso de Tecnologia Farmacêutica - UFPE. This publication is available free of charge. Sistemas de Liberação Controlada de Fármacos Cinética e Mecanismos de Liberação Controlada de Fármacos (incluindo Sistemas Poliméricos) Santos-Magalhães, N.S. LIKA- Laboratório de Imunopatologia Keiso Asami Grupo de Sistema de Liberação Controlada de Medicamentos This publication is available free of charge. Janeiro 2021 Departamento de Ciências Farmacêuticas Universidade Federal de Pernambuco Creative Commons CC BY-NC ©2021 Dados de Catalogação da Publicação Índices para catálogo sistemático: 1. Farmácia geral e profissional 615.1 2. Preparações farmacêuticas. 615.45 615.2 Medicamentos de acordo com a sua acção principal Projeto Gráfico: em andamento Revisão: o Autor Nereide Stela Santos Magalhães Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco Santos-Magalhães, Nereide Stela 1961- Cinética e Mecanismos de Liberação Controlada de Fármacos Nereide Stela Santos-Magalhães.— Recife: UFPE 2021. 117 p.,: il., fig., tab. Inclui Bibliografia, referências e ı́ndice ISBN: ainda não disponı́vel (broch.) 1. Farmácia geral e profissional. 2. Preparações farmacêuticas. 1. Tı́tulo. UFPE 615.2 CDU (1 ed.) BC2021XXXX Tı́tulos para indexação: Em inglês: controlled drug delivery systems, Em español: cinética y mecanismos de administración controlada de fármacos Certas entidades comerciais, fotografias, equipamentos ou materiais foram incluı́das neste documento visando descrever mais adequadamente procedimentos ou conceitos cientı́ficos. Essa identificação não implica no endosso pela UFPE, nem implica que tais materiais ou equipamentos sejam os melhores disponı́veis para esse fim. Todo o material é de uso exclusivo para fins didáticos e não comerciais. Prólogo As formas farmacêuticas de dosagem de liberação controlada permitem o controle da taxa e a duração da liberação de um fármaco. Elas aumentam a segurança, eficácia, confiabili- dade e conveniência da terapia medicamentosa. Este livreto tem com base as notas de aula do curso de Sistemas de liberação controlada de fármacos, ministrado na pós-graduação, mestrado e doutorado em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco, no perı́odo de 1990-2020. O curso completo também inclui e tem como principal foco os sistemas micro e nanoparticulados: microcápsulas, nanopartı́culas poliméricas, liposso- mas, micelas, nanoemulsões, nanocompósitos, liberação de fármacos gênicos (...), entre outros sistemas. Este conteúdo não foi incluı́do aqui. O material foi elaborado inspirado em duas obras valiosas: (i) Buri, P., Puisieux F., Doelker E. et Benoit J.-P. (Eds.,), Formes pharmaceutiques nouvelles, Lavoisier, Paris, 1985 e Martin’s physical pharmacy and phar- maceutical sciences, Lippincott Williams & Wilkins, 2006, desde os anos 90’. Trata-se de uma primeira edição não-revisada (desculpas por alguns créditos de imagens ainda não incorporados). Estas Lecture Notes, entretanto, aborda apenas a parte da cinética de sis- temas de liberação em preparações farmacêuticas não convencionais. A diagramação foi realizada usando o LATEX (programa de computador para composição gráfica, criado por Donald Knuth). Termos-chave. Sistema de liberação controlada de medicamentos, leis de Fick, cinética de liberação (1a ordem, ordem zero, variável), Sistemas poliméricos, liberação (prolongada / sustentada, de ordem zero, variável, bio-responsiva, auto-regulada), sistemas reservatório, matrici- ais/monolı́ticos, biodegradáveis, controlados por difusão, controlados por membrana, con- trolados quimicamente, controlados por solvente, reservatório com dupla camada, bombas osmóticas, implantes, transdérmicos, laminados, hı́bridos, inteligentes, furtivos. i Índice 1 Introdução 1 1.1 Sistemas Poliméricos - Sistemas de Liberação Controlada 3 2 Mecanismos de Liberação Controlada de Fármacos em Sistemas Poliméricos 6 2.1 Índice de Forma de Dosagem DI 7 3 Mecanismos de Controle da Liberação em Sistemas Poliméricos 8 3.1 Sistemas Controlados por Difusão 9 3.2 Sistemas Controlados Quimicamente 9 3.3 Sistemas Controlados por Solvente 9 3.4 Sistemas Controlados Magneticamente 10 4 Cinética e Mecanismos de Liberação Controlada de Fármacos 10 4.1 Coeficiente de Difusão (difusibilidade) 10 4.2 Solubilidade do Princı́pio Ativo no Polı́mero 12 4.3 Coeficiente de Partição 13 4.4 Permeabilidade 13 4.5 Difusão em Polı́meros Reticulados 14 4.6 Difusão em Polı́meros Semi-cristalinos 15 4.7 Difusão em Polı́meros Hidratados (reticulados ou não) 15 4.8 Domı́nios de Difusão de Solutos em Hidrogéis 16 5 Leis de Fick Regem Processos de Difusão 17 5.1 Entendendo a Lei de Fick 18 5.2 Difusão em Sistemas Reservatórios 19 5.3 Sistemas Reservatórios (membranas) 22 6 Sistema Reservatório com Atividade Constante 26 6.1 PILO®Sistema Reservatório 26 6.2 Dispositivo intraocular Vitrasert® 27 6.3 Reservatório Cilı́ndrico de Progesterona 28 6.4 Sistema Reservatório de Desogestrel-Estradiol 28 7 Sistema Reservatório com Atividade Variável 29 8 Geometrias Tı́picas dos Sistemas-Reservatório (atividade constante ou variável) 31 9 Influência do Armazenamento 32 10 Sistemas Matriciais 34 10.1 Sistemas Matriciais Homogêneos 36 10.2 Difusão em Sistemas Matriciais 36 10.3 Implantes contraceptivos de Levonorgestrel: Norplant® 37 10.4 Diferentes Geometrias dos Sistemas Monolı́ticos 38 11 Sistemas Transdérmicos 39 12 Sistemas Homogêneos com p.a. em Suspensão 42 ii 13 Sistemas Heterogêneos 43 13.1 Sistemas Heterogêneos com p.a. em Solução 43 13.2 Sistemas Heterogêneos com p.a. em Suspensão 44 14 Sistemas Hı́bridos para liberação de medicamentos 44 15 Sistemas Reservatório com Dupla Camada de Difusão 45 16 Sistemas Controlados Quimicamente 47 16.1 Sistemas Biodegradáveis 47 17 Sistemas Controlados por Solvente 51 17.1 Bombas de Pressão Osmótica 51 17.2 Bombas com Intumescimento do Polı́mero 63 18 Resumo sobre Cinéticas em Sistemas para Liberação Controlada de Fármacos 64 19 Absorção Nasal de Medicamentos 66 20 Implantes Comerciais de Liberação Controlada 67 20.1 Implantes Contraceptivos Biodegradáveis 70 20.2 Capronor® 71 20.3 Norplant® 72 20.4 Jadelle® 72 20.5 Implanon® 73 20.6 Gliadel® 73 20.7 Bioglass® 73 21 Implantes Comerciais com Bombas 74 21.1 Bombas Peristálticas 76 22 Sistemas Comerciais Transdérmicos 80 22.1 Sistemas transdérmicos reservatórios 82 22.2 Tipo Monolı́tico: Nitrodur® 83 22.3 Sistemas Transdérmicos Controlados por Membrana 83 22.4 Clonidina Transdérmica: Catapres TTS® 84 22.5 Estradiol Transdérmico: Estraderm®, Vivelle® e Climara® 85 22.6 Fentanila Transdérmico: Duragesic® 85 22.7 Nitroglicerina Transdérmica 85 22.8 Nicotina Transdérmica 86 22.9 Escopolamina transdérmica: Transderm-Scop® 87 22.10Testosterona Transdérmica® 87 22.11Adesivo de buprenorfina: BuTrans® 88 22.12Adesivo de Rotigotina: Neupro® 89 22.13Adesivo de cloridrato de metilfenidato: Daytrana® e Osmodex® 89 22.14Adesivo de diclofenaco: Flector® 89 23 Bombas Comerciais de Insulina 90 24 Biossensores Comerciais, e.g. Glucowatch 91 iii 25 Dispositivo Terapêutico Auto-regulável 93 Referências Bibliográficas 95 Apêndice B: Lista de Alguns Sistemas Comerciais Abordados (TM) 105 Lista de Figuras Fig. 1 Concentração plasmática (exemplo ilustrativo) de um fármaco, ilustrando as regiões em que não há efeito terapêutico e de toxicidade ao paciente (adap- tada de [35]). 1 Fig. 2 Diferentes rotas de administração de um fármaco (Fonte: o autor). 1 Fig. 3 Estrutura quı́mica de polı́meros sintéticos comumente usados nos sistemas de liberação controlada de fármacos(Fonte: o autor.) 5 Fig. 4 Estrutura quı́mica de produtos naturais comumente usados nos sistemas de liberação controlada de fármacos (Fonte: o autor). 6 Fig. 5 Índice de forma de dosagem (DI). (Fonte: o autor) 7 Fig. 6 Índice terapêutico (TI). Exemplos: morfina 70:1, cocaı́na 15:1, digoxina, 2:1. 8 Fig. 7 Uma breve sinopse dos principais tipos de sistemas de liberação controlada de fármacos (Fonte: o autor). 8 Fig. 8 Sistema controlado magneticamente: Hidrogéis de nanocompósitos magnéticos. Aprovado em 2006, o Opana ER®é usado para tratar pacientes com dor crônica (Fonte: [129]). 10 Fig. 9 Mecanismos de difusão de medicamentos (Fonte: [67]). 11 Fig. 10 Caráter hidrofı́lico ou hidrofóbico em termos do logP. 12 Fig. 11 Gráfico ilustrativo de como o logP pode afetar a biodisponibilidade oral de fármacos (Fonte: o autor). 13 Fig. 12 Difusão em polı́meros reticulados: soluto, pontos e malha. 14 Fig. 13 Difusão em polı́meros semi-cristalinos (Fonte: [12]). 15 Fig. 14 Experimento de difusão. Adaptado de [67]. 18 Fig. 15 Difusão unidirecional (Fonte: o autor). 18 Fig. 16 Lei de Fick de difusão unidirecional: caso 1 e caso 2 (Fonte: o autor). 21 Fig. 17 Difusão em sistemas reservatório: sistemas com membrana porosa (Fonte: [12]). 22 Fig. 18 Perfil ideal de liberação em um sistema reservatório com membrana porosa (Fonte: o autor). 24 Fig. 19 Vias de administração dos sistemas de liberação controlada (Fonte: [60]). 25 Fig. 20 Detalhes sobre o sistema de liberação controlada usando reservatório : (a) PILO, para administração ocular de pilocarpina. (b) colocação no olho do paciente. Adaptado de [67]. 26 Fig. 21 (a) Dimensões do dispositivo PILO®, para administração ocular de pilo- carpina e (b) perfil de liberação (constante em grande parte do tratamento). Para controle de Glaucoma (vide também [68], [97]). 26 iv Fig. 22 (a) Pilocarpina, (b) dispositivo PILO 20 [62]. 27 Fig. 23 Foto ilustrativa do dispositivo (reservatório) ocular Ocurset®Alza Corp., para administração de pilocarpina (Fonte: extraı́do de [40]). Veja também [18], [50]. 27 Fig. 24 Vitrasert®reservatório ocular para administração de Ganciclovir (anti-HIV) (adaptado de https://redehlert.cgsociety.org/se2h/vitrasert-device). 27 Fig. 25 Sistema reservatório cilı́ndrico de borracha contendo progesterona para reposição hormonal: fotografia da seção transversal. 28 Fig. 26 Minidisco: Sistema reservatório de borracha contendo desogestrel e estra- diol para reposição hormonal. (Fonte: [36]). 28 Fig. 27 Tempo de meia vida de sistema reservatório com atividade não constante: ilustração do perfil e valor (Fonte: o autor). 30 Fig. 28 Geometrias tı́picas de sistemas reservatório: (a) filme, (b) cilı́ndrica, (c) esférica. 31 Fig. 29 Tempo de latência em sistemas reservatório: a) sistema reservatório sem latência, b) sistema reservatório com latência. O valor de tL é mostrado no item b (Fonte: o autor). 32 Fig. 30 Tempo de rajada (burst time) em Sistemas reservatório: a) sistema reser- vatório sem rajada, b) sistema reservatório com rajada inicial. O valor de tB é mostrado no item b (Fonte: o autor) 33 Fig. 31 Liberação do fármaco em sistema matricial: (a) sistema matricial homogêneo, (b) sistema matricial heterogêneo. 34 Fig. 32 Perfil tı́pico da liberação em um sistema matricial de liberação de fármacos. 35 Fig. 33 Princı́pio ativo em solução: Perfil de concentração no interior da matriz com p.a. em solução em diferentes tempos. 36 Fig. 34 Geometria de sistemas matriciais: (a) Filme (sanduı́che), (b) Cilı́ndrica, (c) Esférica. 36 Fig. 35 Implantes contraceptivos de Levonorgestrel: Norplant®vide [82]. 37 Fig. 36 (a) Detalhes do implante anticoncepcional, (b) Dimensões de um implante anticoncepcional em sistema matricial: comparativo com um dedo indicador. 37 Fig. 37 Observando a posição da colocação do implante anticoncepcional no braço de uma paciente. https://br.pinterest.com/pin/432556739187113166/ 37 Fig. 38 Difusão em sistemas matriciais em função da geometria do sistema (Fonte: o autor). 38 Fig. 39 Equações de difusão em sistemas matriciais (D/l2 = D/r2 = 1). Válidas na faixa 0≤Mt/M∞ ≤ 0,6. 38 Fig. 40 Pele: stratum corneum, epiderme, vasculatura dérmica, ductos de glândulas écrinas [11]. 39 Fig. 41 Construção de adesivos do tipo (Fonte: patchs [103]). 40 Fig. 42 (a) Detalhes sobre a estrutura da pele (epiderme, derme e camada subcutânea). (b) rotas de administração: transdérmica, subcutânea e intramuscular (fonte: [118]). 40 v Fig. 43 Via transdérmica: Esquema de um sistema transdérmico para administração de fármacos. 41 Fig. 44 Sistemas transdérmicos comerciais. (a) Alza/Ciba-Geigy Transderm-Nitro (reservatório microporoso), (b) Searle Nitrodisc (sistema monolı́tico, (c) Key Nitro-dur (sistema monolı́tico), (d) Pharma-Schwarz Deponit (sistema misto monolı́tico-reservatório). 41 Fig. 45 Vias de permeação de fármacos na administração transdérmica: via intracelu- lar, via transapendágea, e via intercelular (adaptado de [72], [89] e [98]). 42 Fig. 46 Perfil de liberação do princı́pio ativo em suspensão em sistema monolı́tico homogêneo a diferentes tempos. 43 Fig. 47 Sistemas hı́bridos: sistemas laminados (Fonte: o autor). 44 Fig. 48 Esquema das duas camadas limitantes da difusão no sistema de reservatório dupla-camada. (Fonte: [67]). 46 Fig. 49 Erosão homogênea versus difusão: adaptado de [12]. 48 Fig. 50 Cinética de sistema de liberação biodegradável: Velocidade de difusão em sistemas biodegradáveis homogêneos (Fonte: o autor). 49 Fig. 51 Sistema biodegradável com erosão do polı́mero. 50 Fig. 52 Evolução de implante, ilustrando erosão do polı́mero. 50 Fig. 53 Bomba osmótica elementar OROS. 51 Fig. 54 Bomba osmótica ALZA. (a) detalhes da bomba osmótica, (b) movimento da parte móvel em presença de água, expulsando o princı́pio ativo. (Fonte: https://www.alzet.com). 52 Fig. 55 Cinética de liberação de Indometacina da bomba osmótica. 52 Fig. 56 Componentes de uma bomba osmótica com diafragma. (Fonte: o autor). 53 Fig. 57 Bomba osmótica push pull OROS (Fig.8 em [48]). 53 Fig. 58 Cinética in vitro de cloreto de potássio: 20 mg.h−1 53 Fig. 59 Bomba OROS (ALZA): Sistema de administração de medicamentos OROS (Oral Osmotic). Um núcleo de medicamento é cercado por uma mem- brana semipermeável que é perfurada a laser gerando um pequeno orifı́cio. (Fonte:[?]). 54 Fig. 60 Dimensões de bombas osmóticas comerciais: três versões de bomba ALZET® https://www.alzet.com/products/alzet pumps/specifications/ (Fonte: [126]). 55 Fig. 61 Taxas e duração de bombas ALZET®: três modelos, com duração de liberação estimada entre dois dias e três semanas. (Fonte: o autor). 55 Fig. 62 Kits de infusão ALZET para Cérebro (Fonte: [4]). 56 Fig. 63 Fotos de uma bomba OSMET®. (a) Seção mostrando membrana, (b) imersão em água após 8 h, (c) Orifı́cio feito com laser (d) vista do tablet após 24 h de imersão. (Fonte:[?]). 56 Fig. 64 Perfil de liberação de um sistema Oros®. Três trechos distintos no perfil (Fonte: o autor). 59 Fig. 65 Cinética de bomba osmótica com liberação constante a uma taxa de 23,5 mg/h durante praticamente todo o dia (17,8 h). 61 vi Fig. 66 Farmacocinética de bombas osmóticas: valores ótimos de solubilidade 20 a 40%. 62 Fig. 67 Mecanismos de transporte de solvente e cinética de liberação em polı́meros que sofrem intumescimento: adaptado de [12]. 64 Fig. 68 Resumo sobre cinéticas em sistemas poliméricos para liberação controlada de fármacos. 64 Fig. 69 Rotas de absorção nasal (Fonte: adaptado https://slideplayer.com/slide/691547/). CSF =lı́quido cefalorraquidiano [20]. 66 Fig. 70 (a) Accuspray da BD Medical–Pharmaceutical Systems é um spray nasal monodose ou bidose; (b) Naloxone intranasal. http://intranasal.net/opiateoverdose/ 67 Fig. 71 depósito Alzamer®(DAI –Disposable Auto Injector, vide https://www.youtube.com/watch?v=ZISbTH3GGq4). 68 Fig. 72 Implante LNG-PLA (Fonte: [23]). 69 Fig. 73 Cinética de liberação diária de LNG em Implante PLA:PEG4000 durante 100 dias de tratamento. (Fonte: [23]). 69 Fig. 74 % diária de liberação de LNG no implante: aderência linear extraordinária. 70 Fig. 75 Nı́veis sanguı́neos (ng/ml) proporcionados depósito/implante Alzamer (Fonte: [96]). 70 Fig. 76 Implante Naltrexone-PLA (Fonte: [23]). 71 Fig. 77 Implante Norplant com levonorgestrel (Fonte: Healthwise, incorporated). 72 Fig. 78 Jadelle: dois implantes cilı́ndricos flexı́veis (Fonte: [94]). 72 Fig. 79 Gliadel: Tratamento de Glioblastoma recorrente multiforme (Fonte: [32]). 73 Fig. 80 Comparação entre sistemas de liberação controlada. 74 Fig. 81 Tipos de bombas osmóticas para administração de medicamentos: (a) Rose- Nelson, (b) Higuchi-Leeper, (c) Higuchi-Theeuwes, (d) Theeuwes (Fonte: [92], [93], [115]). 74 Fig. 82 Seção transversal do dispositivo (bomba Medtronic Synchromed II) [87], (Fonte: https://www.mypainweb.org/intrathecal-pump/). 76 Fig. 83 Dispositivos para redução de câncer por radiação (Fonte: [31]). 76 Fig. 84 Representação esquemática de bomba osmótica (Fonte: Fig.4.2 em [87]). 77 Fig. 85 Bomba osmótica miniatura com moderador de fluxo (Fonte: Fig.4.3 em [87]). 77 Fig. 86 Bomba Lenus Pro®: Tratamento intravenoso de hipertensão arterial pul- monar pediátrica (PAH), usando Treprostinil https://commons.wikimedia. org/wiki/File:Lenus pro.png and [22]. 78 Fig. 87 Detalhes do implante duros®oferecido pela ALZA (Fonte: [54], [90]). 79 Fig. 88 Sistema de terapia contra dor crônica com bomba osmótica de titânio (base em tecnologia DUROS) para a liberação de sufentanil por 3 a 6 meses (Fonte: endo pharmaceuticals). 79 Fig. 89 Exemplo de liberação usando o dispositivo duros em ng/ml, uma ano de acompanhamento diário. (a) sistema osmótico Chronogesic®(Fonte: [15]), (b) cinética (Fonte: [125]). 80 Fig. 90 Tipos de sistemas transdérmicos (Fonte: [124]). 80 vii Fig. 91 Sistema transdérmico Macroflux®. Sequencia da aplicação do patch [9], [21], [57]. 81 Fig. 92 Detalhes do implante E-TRANS®(Fonte: [26]). 81 Fig. 93 Sistema de liberação microcor®[37] do tipo adesivo com microagulhas (Fonte: [70]). 82 Fig. 94 Dispositivo transdérmico monolı́tico Nitrodur. 1. Folha de cobertura 2. Fármaco 3. Liberação linear 4. Folha da placa de base 5. Fita microp- orosa 6. Almofada absorvente 7. sobreposição oclusiva. Fonte: Nadikatla Nadusha, Transdermal Drug Delivery Systems – PPT, http://course.sdu.edu.cn. 83 Fig. 95 Transderm-Nitro, Transderm-Scop (Fonte: https://www.rxlist.com/transderm- nitro-drug.htm#description). 83 Fig. 96 Sistema Transderm-Scop®, patch para administração controlada de escopo- lamina via adesivo circular com 2,5 cm2. (Michigan University: Meet Don Scavia –planet blue campus.) 87 Fig. 97 Adesivo de buprenorfina: BuTrans®. Aplicação [16] (Fonte: Science Photo Library). 88 Fig. 98 Bombas de Insulina (Fonte: VERLEIH VON BLUTZUCKERMESSGERÄTEN). 90 Fig. 99 A Importância do controle do suprimento controlado de insulina em pa- cientes diabéticos. 91 Fig. 100Biographer: para medição periódica de insulina (Fonte: [33]). 91 Fig. 101 Processo de medição da glicose em biossensor Biographer via iontoforese reversa [1]. 91 Fig. 102 Comparação de medidores de Glicose: (a) medidor padrão, (b) Biographer (Fonte: [1]). 92 Fig. 103 Via enzimática da conversão da glicose. 92 Fig. 104 Iontoforese: para administração ocular de medicamento. medgadget (Fonte:[69]) 93 Fig. 105 Fechadura eletrônica de orifı́cios de liberação do medicamento (Fonte: [108]). 93 Fig. 106 Etapas no processo de desenvolvimento de medicamentos nos EUA. 94 viii Lista de Acrônimos e Abreviaturas CME = Concentração Mı́nima Eficaz CMT = Concentração Mı́nima Tóxica CSF = lı́quido cefalorraquidiano DE50 = Dose efetiva DI = ı́ndice de forma de dosagem DL50 = dose letal mediana DNA = ácido desoxirribonucleico EVA ou E/VA = poli-etileno acetato de vinila ECA = Etil cianoacrilato FDA = Food and Drug Administration HEMA = hidroxietilmetacrilato LNG = progestogênio levonorgestrel MA = ácido metacrı́lico MMA = metil metilmetacrilato NVP = N-Vinilpirrolidona O/W = óleo/água p.a. = princı́pio ativo PAA = Poli (ácido acrı́lico) PAMAM = poli (amidoamina) PCL = Policaprolactona PDMS = polidimetilsiloxana PEG = polietileno glicol PGA = ácido poliglicólico PHA = Polihidroxialcanato PHEMA = polimetacrilato de hidroxietila PLA = ácido polilático PLGA = poli (ácido láctico-co-glicólico) PVA = álcool polivinı́lico TI = ı́ndice terapêutico VA = acetato de vinila. ix 1. Introdução A concentração plasmática de um fármaco (tipicamente, em mg/ml) pode determinar se o fármaco não apresenta efeito terapêutico, ou em casos excessivamente elevados, em toxi- cidade [86]. Isto é ilustrado na Fig. 1. A eficácia de medicamentos “convencionais” pode ser melhorada por sua administração a uma taxa controlada no organismo. Fig. 1. Concentração plasmática (exemplo ilustrativo) de um fármaco, ilustrando as regiões em que não há efeito terapêutico e de toxicidade ao paciente (adaptada de [35]). Na terapia medicamentosa convencional, o fármaco produz um nı́vel tecidual (geral- mente sanguı́neo) que não se mantêm dentro da faixa terapêutica, por um longo perı́odo. A liberação controlada permite a diminuição da frequência de administração do medica- mento, com redução nos efeitos colaterais ou toxicidade. Há diferentes opções para as rotas de administração de um fármaco, e a Fig. 2 ilustra as principais delas. Fig. 2. Diferentes rotas de administração de um fármaco (Fonte: o autor). 1 A Tabela 1 ilustra as formas farmacêuticas mais comuns na diversas rotas de administração [75] para a maioria dos medicamentos. Tabela 1. Formas farmacêuticas usuais nas diferentes rotas de administração de um fármaco (Fonte: o autor). Uma boa revisão (mesmo não atualizada) sobre a história e evolução dos sistemas de liberação controlada de medicamentos pode ser encontrada em [41]. Os sistemas podem ser referidos como sistema liberação controlada, sistemas de ordem zero, sistemas reser- vatório, sistema monolı́tico, sistema controlado por membrana, sistema inteligente, sistema furtivo etc. • Liberação prolongada / sustentada: o sistema de administração prolonga os nı́veis terapêuticos no sangue ou tecido do fármaco por um perı́odo prolongado de tempo. • Liberação de ordem zero: a liberação do medicamento não varia com o tempo; assim, o sistema de administração mantém um nı́vel de droga eficaz (relativamente) constante no organismo por perı́odos prolongados. • Liberação variável: o sistema de entrega fornece entrada de fármaco a uma taxa variável, para correspon- der, por exemplo ritmos circadianos endógenos ou imitar biorritmos naturais. • Liberação bio-responsiva: o sistema modula a liberação do medicamento em resposta a um estı́mulo biológico (por exemplo, nı́veis de glicose no sangue desencadeando a liberação de insulina de um dispositivo). 2 • Liberação modulada / auto-regulada: o sistema fornece a quantidade necessária de fármaco sob o controle do paciente. • Liberação com velocidade controlada: o sistema libera o fármaco a uma taxa predeterminada (velocidade controlada), sis- temicamente ou localmente. • Entrega direcionada de fármacos: o sistema proporciona a liberação do fármaco em sı́tios especı́ficos do organismo. • Entrega espacial de fármacos: a entrega de um fármaco a uma região especı́fica do organismo (engloba a rota e a distribuição do medicamento). 1.1 Sistemas Poliméricos - Sistemas de Liberação Controlada A seguir, comenta-se sobre as propriedades ideais de materiais para administração de fármacos. As propriedades de uma distribuição macromolecular ideal de fármaco são as seguintes ([74], [84]). • controle estrutural sobre o tamanho e a forma do princı́pioativo ou agente de im- agem; • funcionalidade biocompatı́vel, não tóxica e dependente do polı́mero; • propriedades precisas de contêiner em nanoescala [117], ([116] p.279) e/ou scaffolds com recursos de alta capacidade de fármaco ou contraste para imagens médicas; • estruturas bem definidas e/ou funcionalidade modificável de superfı́cie para frações de direcionamento especı́ficas de células [127], [122]; • não-imunogenicidade; • adesão celular apropriada, endocitose e tráfego intracelular para permitir a entrega terapêutica ou para obtenção de imagens no citoplasma ou núcleo das células; • bioeliminação ou biodegradação aceitável; • liberação controlada ou acionável de fármacos; • isolamento em nı́vel molecular e proteção do fármaco contra a inativação durante o trânsito para as células-alvo; • propriedades mı́nimas inespecı́ficas de inibição celular e de proteı́nas plasmáticas; • fácil, de sı́ntese consistente, reprodutı́vel e de qualidade clı́nica. 3 As formas farmacêuticas de dosagem de liberação controlada aumentam a eficácia e conveniência da terapia medicamentosa. Algumas das companhias farmacêuticas com sede nos Estados Unidos ou na Europa que produzem tais formas farmacêuticas são elencadas na Tabela 2. Um vislumbre da história da farmácia galênica pode ser encontrado em [8]. Livros valiosos sobre sistemas de liberação controlada de fármacos incluem [67], [123], [45] e [10]. A este respeito, vale acompanhar os artigos de revisão [63], [114], ou artigos como [88] e [19]. Para uma revisão de polı́meros frequentemente usados em sistemas de sistemas de liberação controlada de fármacos, pode ser consultada literatura como [55], [64], [81], [105], [128]. Já uma lista resumida dos principais polı́ımeros sintéticos usados nos sis- temas de liberação controlada de fármacos é apresentada nas Fig. 3 e 4. Tabela 2. Empresas farmacêuticas que fabricam e/ou comercializam produtos biofarmacêuticos aprovados para uso médico nos EUA [120]. 4 Fig. 3. Estrutura quı́mica de polı́meros sintéticos comumente usados nos sistemas de liberação controlada de fármacos (Fonte: o autor.) 5 Fig. 4. Estrutura quı́mica de produtos naturais comumente usados nos sistemas de liberação controlada de fármacos (Fonte: o autor). As fontes de energia para a entrega controlada de medicamentos são tipicamente pro- cessos como biodegradação, difusão (dos sistemas de matriz e membrana), elasticidade, eletricidade, osmose, sensibilidade ao pH e pressão de vapor. 2. Mecanismos de Liberação Controlada de Fármacos em Sistemas Poliméricos Inicialmente, a primeira abordagem destina-se aos sistemas poliméricos de dois tipos. 1. Sistemas Reservatórios 2. Sistemas Matriciais 6 2.1 Índice de Forma de Dosagem DI Uma figura de mérito relevante na aplicação de fármacos em doses repetidas (multidose) é o ı́ndice de forma de dosagem (vide Fig. 5). A ele também se relaciona o ı́ndice terapêutico (TI). Denotando por [p · a]̇ a concentração do fármaco, então definem-se, respectivamente, os ı́ndices DI e TI relativos a forma de dosagem (note que não é uma caracterı́stica intrı́nseca do fármaco, mas é uma função da forma farmacêutica em que o mesmo é administrado). DI := Max [p · a]̇ Min [p · a]̇ (1a) T I := Min tóxica [p · a]̇ Min efetiva[p · a]̇ = DL50 DE50 = CMT CME , (1b) em que CME é Concentração Mı́nima Eficaz e CMT é a Concentração Mı́nima Tóxica. Fig. 5. Índice de forma de dosagem (DI). (Fonte: o autor) O ı́ndice terapêutico é sempre superior à unidade, i.e., T I > 1, porém apresentando val- ores muito distintos, dependendo do fármaco (vide Fig. 6). Como exemplo, para a Trifenil- lamina o T I = 19.000, enquanto que para o Fenobarbital o T I =2,6. Note que se TI é muito elevado, o agente ativo é mais fácil de administrar sem problemas. Para valores muito pe- quenos de T I, há que se ter muito cuidado no projeto do sistema, pois poderá sair da faixa terapêutica (indo facilmente para a faixa sub-terapêutica ou para a faixa tóxica). O objetivo de um sistema de administração de fármacos é liberá-lo no organismo, em uma distribuição espacial e temporal apropriada, mantendo-o em nı́veis desejados. Os nı́veis plasmáticos do fármaco podem ser mantidos por um longo perı́odo de tempo, pela liberação progressiva e controlada do fármaco, proporcionando uma maior eficácia terapêutica e menor toxicidade. 7 Fig. 6. Índice terapêutico (TI). Exemplos: morfina 70:1, cocaı́na 15:1, digoxina, 2:1. Como uma breve sinopse dos sistemas de liberação controlada de medicamentos, compila- se na Fig. 7 os principais sistemas. Fig. 7. Uma breve sinopse dos principais tipos de sistemas de liberação controlada de fármacos (Fonte: o autor). Na seção seguinte, abordam-se os mecanismos de controle de liberação. 3. Mecanismos de Controle da Liberação em Sistemas Poliméricos Com relação aos sistemas poliméricos, quatro grandes grupos de mecanismos são investi- gados, a saber: 1. sistemas controlados por difusão; 2. sistemas controlados quimicamente; 3. sistemas controlados por solvente; 4. sistemas controlados magneticamente. 8 3.1 Sistemas Controlados por Difusão Nesta categoria, consideram-se os seguintes mecanismos: Sistemas Reservatórios (membranas) (a) Atividade constante (b) Atividade variável Sistemas Matriciais ou Monolı́ticos (a) Homogêneos p.a. em solução p.a. em dispersão (b) Heterogêneos p.a. em solução p.a. em dispersão Sistemas Hı́bridos (laminados, múltiplos) (a) Camadas de mesma natureza (b) Camadas de natureza diferente 3.2 Sistemas Controlados Quimicamente Sistemas Biodegradáveis (a) Erosão homogênea (b) Erosão heterogênea Sistemas com Cadeias Laterais (a) Reticulados (cross-linking) (b) Não reticulados 3.3 Sistemas Controlados por Solvente Pressão Osmótica (a) Bombas osmóticas sem diafragma (b) Bombas osmóticas com diafragma Intumescimento (a) Hidrogéis 9 3.4 Sistemas Controlados Magneticamente Fig. 8. Sistema controlado magneticamente: Hidrogéis de nanocompósitos magnéticos. Aprovado em 2006, o Opana ER®é usado para tratar pacientes com dor crônica (Fonte: [129]). Implantes (a) Controle por campo magnético externo 4. Cinética e Mecanismos de Liberação Controlada de Fármacos A velocidade de liberação do fármaco depende de alguns fatores-chave, incluindo: Coeficiente de difusão (Difusibilidade) Solubilidade do p.a. no polı́mero Coeficiente de partição Permeabilidade. 4.1 Coeficiente de Difusão (difusibilidade) Os conceitos básicos envolvem as relações conhecidas como LEIS DE FICK [27], [80], nas quais aparece o Coeficiente de Difusão D. Vale inicialmente fazer uma separação entre: Difusibilidade do soluto em água (Do) Difusibilidade do soluto em polı́meros (Dm) 10 Fig. 9. Mecanismos de difusão de medicamentos (Fonte: [67]). A 1ª Lei de Fick estabelece a seguinte relação: dMt S.dt =−D∂C ∂x . (2) O termo de proporcionalidade, o coeficiente de difusão, é um fator inerente do soluto à uma dada temperatura e um determinado meio de difusão. Ele depende de fatores topológicos da substância e do meio de difusão. Em particular: 1. Influência do peso molecular do soluto; 2. Mobilidade das cadeias poliméricas; 3. Natureza do polı́mero. A difusibilidade varia em função da natureza do polı́mero: amorfo, cristalino, semi- cristalino, vı́treo, etc. Ela é maior em polı́meros emborrachados e menor em vı́treos. Como exemplos de valores tı́picos: Elastômero de silicone (∼ D = 10−6cm2.s−1) Borracha natural (∼ D = 10−6cm2.s−1) Látex (Estado vı́treo) (∼ D = 10−12cm2.s−1). Para examinar a difusibilidade do soluto em polı́meros, é necessário examinar o mecan- ismo de difusão através de poros (diálise, onde se dá a transferência de moléculas no meio lı́quido banhante da malha polimérica. O fator mais importante usualmente é o Tamanho da partı́culado soluto. O mecanismo de difusão por solubilização (partição) depende da solubilização de moléculas do soluto no polı́mero, seguida de difusão através dos segmentos da malha polimérica. 11 Listam-se os três principais fatores no controle da difusão: (i) Estrutura morfológica do sistema (ii) Caracterı́sticas do polı́mero Densidade de reticulação Grau de ramificação Grau de cristalinidade. (iii) Natureza do fármaco incorporado. 4.2 Solubilidade do Princı́pio Ativo no Polı́mero Como conceito básico, define-se o Coeficiente de Partição óleo–água: K := Cóleo Cágua . (3) em que Cóleo= Concentração do p.a. no óleo e Cágua= Concentração do p.a. na água. Para a medição experimental é usual fixar a medição através do coeficiente: octanol- água: K := Coctanol Cágua . (4) Estes valores podem ser usados para expressar uma medida da lipofilia (Fig. 10). A medida mais usada é o logP, logaritmo do coeficiente de partição octanol-água. Ele pode ser determinado através da partição de um composto entre dois lı́quidos imiscı́veis, sendo uma fase orgânica (octanol) e uma fase aquosa (água) em um pH no qual as moléculas se encontrem na forma neutra. logPoct/wat := [ soluto]octanol/[soluto] nao-ionizado agua (5) Fig. 10. Caráter hidrofı́lico ou hidrofóbico em termos do logP. 12 Para alcançar uma melhor permeabilidade, deve-se ter um valor moderado para logP, tı́pico na faixa de valores entre 0 e 3, como ilustrado na Fig. 11. Nesta faixa, é provável que exista um bom balanço entre permeabilidade e solubilidade. Fig. 11. Gráfico ilustrativo de como o logP pode afetar a biodisponibilidade oral de fármacos (Fonte: o autor). 4.3 Coeficiente de Partição Diferentes Coeficientes de Partição de Fármacos em Polı́meros K = C1 C2 (6a) K = Cm Ca (6b) K = Csm Ca (6c) em que C1 é a concentração do p.a. no polı́mero e C2 é a concentração de p.a. no meio doador (K1 ou no meio receptor K2). Cm é a concentração do p.a. no polı́mero e Ca é concentração de p.a. no meio aquoso. Csm é a concentração de saturação do p.a. no polı́mero e Ca é a concentração de saturação do polı́mero em água. 4.4 Permeabilidade A definição de permeabilidade (em cm/s) é dada por P := DK l , (7) em que D é o coeficiente de difusão, K o coeficiente de partição e l a espessura da barreira. 13 Normalmente, as permeabilidades anotadas correspondem aos valores da chamada de “permeabilidade normalizada” (valores encontrado em Tabelas, na literatura). A Perme- abilidade depende do sistema soluto-membrana, da natureza dos solventes nos comparti- mentos doador (K1) e receptor (K2). Especificamente, há dependência de dois fatores: 1. Coeficiente de difusão 2. Coeficiente de partição 4.5 Difusão em Polı́meros Reticulados Fig. 12. Difusão em polı́meros reticulados: soluto, pontos e malha. Reduz a mobilidade de macromoléculas Reduz a dimensão da malha molecular (tamis) Pontos quı́micos intermoleculares⇒ apresentam um efeito “filtrante”. 14 4.6 Difusão em Polı́meros Semi-cristalinos Fig. 13. Difusão em polı́meros semi-cristalinos (Fonte: [12]). Os seguintes parâmetros são usados: Ψ relação de desvio devido a tortuosidade entre os cristalitos. B fator de bloqueio que leva em conta a junção fı́sica entre os cristalitos. Os Cristalitos provocam obstrução estérica à difusão. Na difusão semi-cristalina, a equação de controle é expressa por De = Ψ.Dam B , (8) em que De denota a difusibilidade efetiva, Dam denota a difusibilidade em polı́mero no estado amorfo, Ψ é o fator de contorno devido à tortuosidade do caminho entre cristalitos (N.B. 0≤Ψ≤ 1), B é o fator de bloqueio (N.B. B≥ 1), (junção fı́sica entre cristalitos). Ψ é proporcional à fração da molécula difusante e B depende da dimensão da molécula em difusão. Assim, pode ocorrer imobilização do soluto nos casos em que o tamanho da molécula for muito grande. 4.7 Difusão em Polı́meros Hidratados (reticulados ou não) A Presença de pontos conduz à teoria intermacromolecular do “volume livre” ⇒ efeito tamis. 15 A probabilidade das moléculas encontrarem espaço suficiente para se difundirem en- tre os segmentos de cadeias macromoleculares. Isto expressa a dificuldade de difusão de moléculas grandes, aqui grande significando com relação ao diâmetro médio dos poros. (a) Redistribuição do volume livre, (b) Difusão através de “poros flutuantes”, (c) A difusibilidade diminui exponencialmente com o inverso do grau de hidratação H do gel. Em polı́meros hidratados, a difusão apresenta uma relação linear entre a fração volumétrica (φ ) do solvente e volume livre do sistema total. logD = logD0− k ( 1 H −1 ) , (9) em que: D0 = coeficiente de difusão do soluto em água k= constante que depende do tamanho do soluto H= grau de hidratação do gel. A notar que se H = 1 (água, hidratação total), então tem-se a simplificação: logD = logD0, como esperado. 4.8 Domı́nios de Difusão de Solutos em Hidrogéis O processo de difusão que ocorre em hidrogéis resulta de um efeito conjunto entre dois domı́nios: Domı́nio A Constituı́do de segmentos do polı́mero circundados de água livre e intermediária (como nos polı́meros de natureza hidrófoba). Há essencialmente uma difusão por solubilização. Domı́nio B Composto unicamente de água livre e forma os “poros flutuantes”. Há essencialmente uma difusão através de poros. Distribuição e organização da água em Hidrogéis. A organização da água em hidrogéis pode ser considerada como subdividida em três tipos: • Água livre consistindo de moléculas de água com total liberdade. 16 • Água ligada consistindo de moléculas de água adsorvidas na superfı́cie da molécula do polı́mero com restrição a sofrer apenas rotação. • Água intermediária ou interfacial consistindo n atividade das moléculas de água situada entre aquelas livre e ligada. Reticulação A reticulação modifica de maneira significativa o grau de hidratação do gel. Ela modifica consideravelmente a distribuição da água no sistema. Considerando os efeitos sinérgicos dos dois mecanismos, a permeabilidade total será expressa por PT = K.DT = φA.PA +φB.PB, (10) em que φA e φB são as frações volumétricas em A e B, respectivamente, e PA e PB são as permeabilidades de A e B, respectivamente, e PA e PB são as permeabilidades de A e B, respectivamente. Por definição, o coeficiente de partição no domı́nio B é unitário, logo PT = K.DT = φA.KA.DA +φB.DB, (11) sendo KA o coeficiente de partição do p.a. entre a solução e o domı́nio A. 5. Leis de Fick Regem Processos de Difusão 1a Lei: Difusão em Regime Estacionário 2a Lei: Difusão em Regime não Estacionário (Regime transitório) A primeira lei de Fick [80] estabelece que J = dMt S.dt =−D∂C ∂x (12) sendo J o fluxo expresso em (M.L−2.T−1). Fluxo: é a velocidade de transferência de massa do soluto (dMtdt ) através de um plano de superfı́cie S. [dQdt = velocidade/unidade de superfı́cie]. Ilustrando o EXPERIMENTO DE DIFUSÃO (Fig. 14), considera-se a seguinte figura: 17 Fig. 14. Experimento de difusão. Adaptado de [67]. Na difusão unidirecional (c.f. Fig. 15), tem-se o seguinte esquema: Fig. 15. Difusão unidirecional (Fonte: o autor). No caso da primeira Lei de Fick há uma difusão em regime estacionário, e as seguintes hipóteses (sistema termodinamicamente ideal) são consideradas válidas: • Coeficiente de difusão independe da concentração. • Difusão unidirecional. 5.1 Entendendo a Lei de Fick Repetindo a equação que rege a primeira lei, tem-se J = dMt S.dt =−D∂C ∂x . (13) 18 Esta equação implica nas seguintes interpretações: (i) O Fluxo é diretamente proporcional ao gradiente de concentração. (ii) A constante de proporcionalidade, D, é o coeficiente de difusão. (iii) O sinal negativo indica que o sentido do fluxo J se exerce no sentido inverso ao do gradiente∆C. 5.2 Difusão em Sistemas Reservatórios No caso de sistemas reservatórios, há três etapas envolvidas, a saber. • Distribuição do p.a na membrana • Difusão na membrana • Liberação no meio externo. Consideram-se três tipos de sistemas, dependendo do material empregado. Sistemas macroporosos Sistemas microporosos Sistemas não porosos sistemas macroporosos Nos sistemas macroporosos, o diâmetro dos poros fica na faixa de 0,1 a 1,0 µm. De = Daε τ , (14) em que De= coeficiente de difusão efetivo e Da= difusibilidade em meio aquoso. Define-se usualmente o parâmetro chamado de fator de obstrução, dado pelo quociente entre fator de obstrucao = ε τ , (15) em que ε representa a porosidade e τ representa a tortuosidade. Os revestimentos mais clássicos são a etilcelulose, polimetacrilatos, etc. 19 sistemas microporosos Nos sistemas microporosos, o diâmetro dos poros fica na faixa de 50 a 500 Å. Agora o coeficiente de difusão efetivo é dado por De = DaεKr τ , (16) sendo Kr um coeficiente de restrição, Da o coeficiente de difusão em meio aquoso, ε e τ a porosidade e tortuosidade, como no caso anterior. λ := ds dp , (17) sendo ds o diâmetro do soluto e dp o diâmetro do poro. Membranas de celulose regenerada e géis. sistemas não porosos No caso de sistemas reservatório com material não poroso, consideram-se “poros flutu- antes” ou uma malha macromolecular (de dimensões tı́pica na faixa de 10 a 100 Å). • Hidrófobos • Hidratados os fatores mais importantes são as interações termodinâmicas soluto-polı́mero (coeficiente de partição) e a estrutura do polı́mero (reticulação, ramificação, cristalinidade, estado vı́treo ou emborrachado). Sistemas não porosos hidrófobos (reticulados ou não) O mecanismo de difusão se dá por solubilização. Ex: Polidimetilsiloxana (PDMS). Sistemas não porosos hidratados (hidrogéis reticulados) Neste caso o mecanismo de difusão em função da lipofilia do soluto: - no lı́quido intersticial (mecanismo poroso) - na malha polimérica (difusão por solubilização). Ex: Polimetacrilato de hidroxietila (PHEMA) Álcool polivinı́lico (PVA). 20 Fig. 16. Lei de Fick de difusão unidirecional: caso 1 e caso 2 (Fonte: o autor). Lei de Fick A seguinte análise pode ser feita: CASO 1 ∆C =C2−C1 < 0 (18) Se ∆C < 0⇒ J > 0 (19) CASO 2 ∆C =C2−C1 > 0 (20) Se ∆C > 0⇒ J < 0. (21) O sinal de J e ∆C são opostos! Aplicações da 1a Lei de Fick: Sistemas Reservatórios: Gradiente de concentração constante. Sistemas Matriciais: Gradiente de concentração variável em função do tempo. No segundo caso, a distância de difusão aumenta continuamente à medida que o soluto é liberado da forma farmacêutica. Aplicações da 2a Lei de Fick: Difusão em regime não estacionário (transitório) dC dt = D ∂ 2C ∂x2 . (22) 21 A velocidade de variação da concentração em função do tempo t, a uma distância x, é proporcional a velocidade de variação do gradiente de concentração no ponto em análise. 5.3 Sistemas Reservatórios (membranas) Dois tipos de sistemas reservatório com membrana (Fig. 17) são considerados: • Atividade constante • Atividade variável. Fig. 17. Difusão em sistemas reservatório: sistemas com membrana porosa (Fonte: [12]). A aplicação direta da 1a lei de Fick, resulta em: J = dMt Sdt = D [Cm(0)−Cm(l))] l = D∆Cm l , (23) em que ∆Cm é a diferença de [p.a] na membrana x(0) e x(l); l denota a espessura da membrana e D é o coeficiente de difusão do soluto na membrana. Valores de concentração membranar raramente são conhecidos, porém estão ligados via coeficiente de partição à concentração de camadas adjacentes: Cm(0) = K1C(0) em x = 0, 22 e Cm(l) = K2C(l) em x = l. Assim J = dMt Sdt = D [K1C(0)−K2C(l)] l . (24) Assume-se que K1 = K2 = K. Considerando então o mesmo coeficiente de partição K, segue-se: J = dMt Sdt = DK ∆C l . (25) ∆C é dessa feita a diferença (gradiente) de concentração entre as duas fases externas à membrana! Condições “sink” Se o meio é bastante diluı́do (15% do valor da solubilidade do p.a.), então se pode assumir que C(l)≈ 0, e logo J = dMt Sdt = DK C(0) l . (26) Duas conclusões podem ser estabelecidas a partir desta relação: (a) O fluxo é diretamente proporcional à difusibilidade do soluto na membrana, coefi- ciente de partição, concentração do p.a. no compartimento reservatório; (b) O fluxo é inversamente proporcional à espessura da membrana. Frequentemente se considera o fluxo normalizado (análise dimensional M.L−1.T−1), definido por Jl = DKC(0). (27) Considerando então a permeabilidade P = KD/l, tem-se J = dMt Sdt = P∆C. (28) Resolvendo a equação diferencial de variáveis separáveis (integrado a equação), chega-se finalmente a: Mt = SDK∆C l .t (29) Um perfil tı́pico de liberação em sistema reservatório regido pela Equação 29 é linear como ilustrado a seguir (Fig. 18). 23 Fig. 18. Perfil ideal de liberação em um sistema reservatório com membrana porosa (Fonte: o autor). Sistema reservatório com atividade constante: Condições de Saturação Excesso de p.a. ⇒ concentração constante no compartimento reservatório. água óleo pó seco O fluxo máximo (ou fluxo limite) pode ser encontrado via Jmax = DKCS l = .CS l = DCSm l , (30) em que CS é solubilidade do soluto no reservatório e CSm é a concentração de saturação na membrana. Tabela 3. Vias de administração dos sistemas de liberação de fármacos. Fonte: ([38], pag.70). 24 Fig. 19. Vias de administração dos sistemas de liberação controlada (Fonte: [60]). 25 6. Sistema Reservatório com Atividade Constante 6.1 PILO®Sistema Reservatório Fig. 20. Detalhes sobre o sistema de liberação controlada usando reservatório : (a) PILO, para administração ocular de pilocarpina. (b) colocação no olho do paciente. Adaptado de [67]. Fig. 21. (a) Dimensões do dispositivo PILO®, para administração ocular de pilocarpina e (b) perfil de liberação (constante em grande parte do tratamento). Para controle de Glaucoma (vide também [68], [97]). 26 Fig. 22. (a) Pilocarpina, (b) dispositivo PILO 20 [62]. Fig. 23. Foto ilustrativa do dispositivo (reservatório) ocular Ocurset®Alza Corp., para administração de pilocarpina (Fonte: extraı́do de [40]). Veja também [18], [50]. 6.2 Dispositivo intraocular Vitrasert® Fig. 24. Vitrasert®reservatório ocular para administração de Ganciclovir (anti-HIV) (adaptado de https://redehlert.cgsociety.org/se2h/vitrasert-device). 27 6.3 Reservatório Cilı́ndrico de Progesterona Fig. 25. Sistema reservatório cilı́ndrico de borracha contendo progesterona para reposição hormonal: fotografia da seção transversal. 6.4 Sistema Reservatório de Desogestrel-Estradiol Fig. 26. Minidisco: Sistema reservatório de borracha contendo desogestrel e estradiol para reposição hormonal. (Fonte: [36]). 28 7. Sistema Reservatório com Atividade Variável Concentração variável no compartimento reservatório (condição de não saturação no compartimento doador). Diminuição exponencial do ∆C em função do tempo de liberação. No caso de sistemas reservatório com atividade não constante, a velocidade de liberação é dada por dMt Sdt = M∞DK lV .exp ( −SDK lV t ) . (31) Velocidade de liberação do fármaco aumenta linearmente com a dose do medicamento no sistemas (C0). Agora é simples calcular a quantidade de fármaco liberada em um instante de tempo t: Mt = M∞ [ 1− exp ( SDK lV t )] , (32) em que M∞ é a quantidade total de fármaco incorporado ao sistema (passı́vel de liberação decorrido tempo infinito), C∞ = M∞/V é a concentração inicial no reservatório, Mt/M∞ é a fração liberada do fármaco no tempo t (%). Tipos de lı́quido para o reservatório Apresenta-se uma lista de lı́quidos frequentemente usados em sistemas reservatórios, no projeto de sistema de liberação com velocidade constante.• Emulsões do tipo O/W • Soluções micelares • Complexos solúveis • Complexos insolúveis • Água (para p.a. hidrófobos, ex. progesterona) • Soluções saturadas de β -ciclodextrina • Suspensões • Solução saturada do princı́pio ativo em água. 29 Solução micelar No caso de reservatório com atividade não-constante com solução micelar, a quantidade de fármaco liberada é expressa por Mt = M∞ [ 1− exp ( SPCSa lVCSs .t )] , (33) em que CSa é a solubilidade do p.a. em água e C S s é a solubilidade do p.a em solução do tensoativo. No caso de sistemas de atividade varável, pode ser bastante útil determinar o tempo de meia-vida do reservatório. Nele, deve ter havido a liberação de metade do fármaco disponı́vel inicialmente. Se t1/2 denota este tempo, então deve-se impor que Mt1/2 = M∞ [ 1− exp ( SDK lV t1/2 )] = M∞ 2 . (34) Isto resulta em uma meia vida expressa por (vide ilustração na Fig. 27): t1/2 = 0,693 lV SDK . (35) Fig. 27. Tempo de meia vida de sistema reservatório com atividade não constante: ilustração do perfil e valor (Fonte: o autor). 30 8. Geometrias Tı́picas dos Sistemas-Reservatório (atividade constante ou variável) Fig. 28. Geometrias tı́picas de sistemas reservatório: (a) filme, (b) cilı́ndrica, (c) esférica. No que se segue, deduz-se expressões para cada tipo de geometria (Fig. 28). Geometria Filme O resultado pode ser obtido desprezando o efeito das extremidades (finitas) e aplicando então o modelo unidirecional de fluxo (é uma simplificação grosseira, mas fornece bons resultados práticos). A velocidade de liberação vale: dMt Sdt = DK ∆C l . (36) A superfı́cie total S a ser considerada é dada pela soma das superfı́cies das duas faces do sanduı́che. Geometria Cilı́ndrica A velocidade de liberação é: dMt dt = 2πhKD∆C lnre/ri , (37) em que re denota o raio externo do cilindro, ri seu raio interno e h a altura do cilindro. Avaliando-se a quantidade total de fármaco liberada, encontra-se Mt = 2πhKD∆C lnre/ri .t. (38) 31 Geometria Esférica Calculando-se a velocidade de liberação, chega-se a: dMt dt = 4πKD∆C (re− ri)/re.ri , (39) em que re e ri denotam, respectivamente, o raio externo e raio interno da esfera. Alguma aproximações podem ser úteis. Quando re� ri (re/ri ≈ ∞), então vale a aproximação dMt dt = 4πKD∆C.ri. (40) Quando re/ri ≥ 4, o aumento de re praticamente não modifica a liberação. COROLÁRIO: A velocidade de liberação pode ser ajustada modificando-se o conteúdo ou forma do reservatório. 9. Influência do Armazenamento Discute-se sobre mudanças no perfil de liberação devido ao armazenamento: Aqui cabe considerar • Tempo de latência (lag time) • Tempo de rajada (burst effect) Se o sistema apresenta um preparação recente, é possı́vel o surgimento de um tempo de latência tL. Este efeito pode ser melhor compreendido visualmente, por inspeção na Fig. 29. Já no caso de longo armazenamento, é possı́vel o surgimento de um tempo de “rajada” tB (Efeito inicial). A mesma observação visual é válida, porém sobre a Fig. 30. Fig. 29. Tempo de latência em sistemas reservatório: a) sistema reservatório sem latência, b) sistema reservatório com latência. O valor de tL é mostrado no item b (Fonte: o autor). 32 Tempo de latência (lag time) é ilustrado na Figura 29. Verifica-se um “atraso” no inı́cio da “liberação regular” (reservatório). O caso do surgimento de Rajada inicial (burst effect) é ilustrado na Fig. 30. Fig. 30. Tempo de rajada (burst time) em Sistemas reservatório: a) sistema reservatório sem rajada, b) sistema reservatório com rajada inicial. O valor de tB é mostrado no item b (Fonte: o autor) Verifica-se uma “Explosão” no inı́cio da “liberação” (reservatório), até atingir o regime permanente (estacionário). Como levar em conta nas equações a presença de uma Latência (Lag time)? J = dMt Sdt = P.∆C. (41) Modificando-se as condições iniciais na equação para levar em conta t−L, chega-se a: Mt = SDK.∆C l .(t− tL). (42) Claramente, em t = tL, ainda tem-se Mt = 0. A equação só é válida para t tal que Mt > 0 (liberação). O tempo de latência pode ser avaliado para as diferentes geometrias do reservatório. Nos casos de filme, cilindro e esfera, tem-se as seguintes relações. filme tL = l 2 6D , tB ≈−2tL =− l2 3D cilindro tL = r2i −r2e+(r2i +r2e ). ln(re/ri) 4. ln(re/ri) esfera tL = (re)−ri)2 6D . (43) 33 10. Sistemas Matriciais Os sistemas de liberação matriciais podem ser construı́dos usando uma matriz ho- mogênea ou heterogênea. Os seguintes cenários são possı́veis: • Homogêneos (a) princı́pio ativo em solução (b) princı́pio ativo em suspensão • Heterogêneos (a) princı́pio ativo em solução (b) princı́pio ativo em suspensão. Fig. 31. Liberação do fármaco em sistema matricial: (a) sistema matricial homogêneo, (b) sistema matricial heterogêneo. 34 Fig. 32. Perfil tı́pico da liberação em um sistema matricial de liberação de fármacos. Caracterı́sticas do sistema matricial (i) Distribuição uniforme do princı́pio ativo. Sistemas nos quais a substância medicamentosa está uniformemente distribuı́da na fase polimérica, seja em solução, seja em dispersão. (ii) Zona de eluição. Cria-se uma zona de eluição com espessura crescente. (iii) Distância constante. A distância de difusão não é constante em função do tempo. • Sistemas Homogêneos (p.a. em solução) Matriz hidrofóbica (PDMS) Matriz hidrogel (polı́mero + água). • Sistemas Homogêneos (granulares) Matriz formada por partı́culas de polı́mero, impermeável ao soluto, circundadas por uma rede de canalı́culas. Liberação do p.a. por dissolução direta no lı́quido banhante aos poros matriz obtida por compressão. 35 10.1 Sistemas Matriciais Homogêneos Princı́pio ativo em solução. Equações de difusão unidirecional em um meio semi-infinito. Zona de validade 0≤Mt/M∞ ≤ 0,6. Mt = 2SC∞ ( Dt π )1/2 (44) e dMt dt = SC∞ ( D πt )1/2 (45) em que C∞ é a concentração inicial do soluto. Fig. 33. Princı́pio ativo em solução: Perfil de concentração no interior da matriz com p.a. em solução em diferentes tempos. 10.2 Difusão em Sistemas Matriciais Geometria do sistema matricial (Fig. 34). Fig. 34. Geometria de sistemas matriciais: (a) Filme (sanduı́che), (b) Cilı́ndrica, (c) Esférica. 36 10.3 Implantes contraceptivos de Levonorgestrel: Norplant® Fig. 35. Implantes contraceptivos de Levonorgestrel: Norplant®vide [82]. Fig. 36. (a) Detalhes do implante anticoncepcional, (b) Dimensões de um implante anticoncepcional em sistema matricial: comparativo com um dedo indicador. Fig. 37. Observando a posição da colocação do implante anticoncepcional no braço de uma paciente. https://br.pinterest.com/pin/432556739187113166/ 37 10.4 Diferentes Geometrias dos Sistemas Monolı́ticos As velocidades de liberação de um fármaco dependem da geometria do sistema monolı́tico. Em particular, observa-se que Esfera > cilindro > filme Fig. 38. Difusão em sistemas matriciais em função da geometria do sistema (Fonte: o autor). Fig. 39. Equações de difusão em sistemas matriciais (D/l2 = D/r2 = 1). Válidas na faixa 0≤Mt/M∞ ≤ 0,6. 38 Na faixa 0,4≤Mt/M∞ ≤ 1, as seguintes equações devem ser consideradas: Para a velocidade de liberação dMt dt = 8DM∞ π2 .exp ( −π 2Dt l2 ) (46) e para a quantidade liberada, Mt = M∞. [ 1− 8 π2 .exp ( −π 2Dt l2 )] (47) 11. Sistemas Transdérmicos A pele separa a rede de circulação sanguı́nea subjacente do ambiente externo e serve como barreira contra ataques fı́sicos, quı́micos e microbiológicos. Sistemas transdérmicos de liberação de fármacos favorecem a passagem de p.a. através da pele e na circulação geral por seu efeito sistêmico [14], [29], [43], [56], [76], [78], [85], [109], [111], [130]. Fatores que afetam a absorção percutânea. 1. Concentração da droga. 2. Áreade aplicação. 3. Solubilidade em água e coeficiente de partição (preferência: forma não ionizada) 4. Princı́pio ativo com peso molecular entre 100 e 800. 5. Hidratação da pele favorece absorção. 6. Melhor aplicado a uma camada córnea fina. Fig. 40. Pele: stratum corneum, epiderme, vasculatura dérmica, ductos de glândulas écrinas [11]. 39 Fig. 41. Construção de adesivos do tipo (Fonte: patchs [103]). Fig. 42. (a) Detalhes sobre a estrutura da pele (epiderme, derme e camada subcutânea). (b) rotas de administração: transdérmica, subcutânea e intramuscular (fonte: [118]). 40 Fig. 43. Via transdérmica: Esquema de um sistema transdérmico para administração de fármacos. Fig. 44. Sistemas transdérmicos comerciais. (a) Alza/Ciba-Geigy Transderm-Nitro (reservatório microporoso), (b) Searle Nitrodisc (sistema monolı́tico, (c) Key Nitro-dur (sistema monolı́tico), (d) Pharma-Schwarz Deponit (sistema misto monolı́tico-reservatório). 41 Fig. 45. Vias de permeação de fármacos na administração transdérmica: via intracelular, via transapendágea, e via intercelular (adaptado de [72], [89] e [98]). 12. Sistemas Homogêneos com p.a. em Suspensão Modelo de Higuchi [6] (derivado da 1a lei de Fick-difusão) • Dissolução superficial da matriz • Zona de separação da substância em solução • Zona de equilı́brio de p.a. em solução e em suspensão Higuchi: Hipóteses (a) Gradiente de concentração constante entre a interface (situada a uma distância hm no tempo t) e a superfı́cie do sistema, (b) Condições pseudo-estacionárias, (c) Fluxo unidirecional. 42 Fig. 46. Perfil de liberação do princı́pio ativo em suspensão em sistema monolı́tico homogêneo a diferentes tempos. Equações de Higuchi [6] Modelos válidos para até 50% de liberação dMt dt = S 2 [ DCsm t (2C∞−Csm) ]1/2 , (48) e Mt = S [DCsm (2C∞−Csm) t] 1/2 . (49) Sob condições (tı́picas, usuais), C∞�Csm, de forma que as equações anteriores podem ser simplificadas (aproximadas) por dMt dt = S 2 [ 2DC∞Csm t ]1/2 , (50) e Mt = S [2DC∞Csmt] 1/2 . (51) 13. Sistemas Heterogêneos 13.1 Sistemas Heterogêneos com p.a. em Solução Difusão do soluto ocorre unicamente no meio aquoso presente na rede de canalı́culas situ- adas entre as partı́culas do polı́mero. 43 Difusibilidade considerando o coeficiente de difusão Da, a porosidade ε e a tortuosidade τ do sistema. As Equações de liberação são: dMt dt =C∞ ( Daε τπt )1/2 , (52) e Mt = 2C∞ ( Daεt πτ )1/2 . (53) Aplicação tı́pica: Liberação de substâncias muito hidrossolúveis incorporadas em pe- quenas quantidades em matriz inertes (plásticas ou lipı́dicas) [e.x. PVA]. 13.2 Sistemas Heterogêneos com p.a. em Suspensão As Equações de liberação são: dMt dt = S 2 ( Daε τt Csa(2C∞− εCsa) )1/2 , (54) e Mt = S ( Daε τ Csa(2C∞− εCsa) )1/2 t1/2 (55) usando ε := ε0 +C∞/ρ , sendo ε0 é a porosidade inicial e ρ é a densidade do soluto. 14. Sistemas Hı́bridos para liberação de medicamentos Sistemas laminados tem uma configuração como ilustrado na Fig. 47. Fig. 47. Sistemas hı́bridos: sistemas laminados (Fonte: o autor). As Vantagens dos sistemas laminados incluem: (a) Segurança (adequada) (b) Resistência mecânica alta (c) Cinética de ordem zero. 44 Nos sistemas laminados vale a relação h2M = 2DMlBKhM DB = 2DMCsM C∞ , (56) em que M denota a matriz-reservatório, B denota a camada polimérica que controla difusão, hM é a espessura da camada da matriz eluı́da num dado instante de tempo t, K :=CSM/C S B é o coeficiente de partição. Nos sistemas laminados, são considerados dois casos: Caso 1. DB� DM Caso 2. DB� DM. Os comportamentos das cinéticas são distintos.{ caso 1 Mt = 2SC∞ (Dt π )1/2 e dMtdt = SC∞ ( Dπt )1/2 caso 2 Mt = SDBCSMt K.lB = SDBCSB lB t e dMtdt = SDBCSB lB . (57) Constata-se que, no caso 2, é possı́vel obter uma cinética de ordem zero, i.e., liberação do medicamento com taxa constante. 15. Sistemas Reservatório com Dupla Camada de Difusão Sistemas Reservatório com dupla camada de difusão: há duas camadas limitantes da di- fusão, correspondendo a 1a CAMADA Referente ao solvente, confinada ao interior do reservatório. 2a CAMADA Camada aquosa situada no exterior do dispositivo. Este arranjo encontra-se ilustrado na Fig. 48, entre o meio doador e o meio receptor. 45 Fig. 48. Esquema das duas camadas limitantes da difusão no sistema de reservatório dupla-camada. (Fonte: [67]). No modelo reservatório com duas camadas limitantes da difusão a equação de liberação fica sob a forma dMt Sdt = DSDmDaKm/sKa/s hSDmDaKm/sKa/s + lDSDaKa/s +haDSDmKm/s CSS (58) Índices s⇒ solvente no reservatório m⇒ membrana polimérica a⇒ meio aquoso h⇒ espessura da camada Km/s⇒ coeficiente de partição membrana-solvente Ka/s⇒ coeficiente de partição aquoso-solvente. Ocorre uma simplificação quando a camada interna não é a camada limitante da difusão. Neste caso, dMt Sdt = DSDmDaKm/sKa/s lDSDaKa/s +haDSDmKm/s CSS (59) ou seja, dMt Sdt = DmDa lDa +haDmK CSS . (60) 46 Para uma camada muito fina ou K elevado, outra simplificação decorre, resultando em dMt Sdt = DaCSm haK . (61) 16. Sistemas Controlados Quimicamente Aqui se consideram dois tipos: os biodegradáveis e aqueles com cadeias laterais. Sinteti- zando, tem-se Sistemas Biodegradáveis Erosão homogênea, Erosão heterogênea. Sistemas com Cadeias Laterais Reticulados (cross-linking), Não reticulados. 16.1 Sistemas Biodegradáveis - Bioerosão - Reabsorção Vias tı́picas de administração: Oral, retal, vaginal, ocular etc. (todas as vias, particular- mente para via parenteral). Vantagens: O substrato é susceptı́vel a desaparecer no organismo e consegue-se elimi- nar o desconforto da retirada de implantes cirúrgicos no final do tratamento. Mecanismos de degradação de polı́meros Os principais tipos de mecanismo que provocam a degradação de polı́meros são listados a seguir. 1. TIPO I – Solubilização por ruptura de pontos intermediários. 2. TIPO II – Solubilização por hidrólise, ionização de grupamentos laterais. 3. TIPO III – Solubilização por ruptura de cadeias poliméricas em moléculas pequenas. 4. TIPO IV - Combinação de diferentes mecanismos. 47 Na Fig. 49 ilustra-se a erosão homogênea e a degradação por difusão nos sistemas biodegradáveis. Fig. 49. Erosão homogênea versus difusão: adaptado de [12]. Mecanismo: Combinação de erosão e difusão. Modelo de Heller A permeabilidade P do polı́mero aumenta consistentemente até um ponto crı́tico, no qual o controle exercido pela forma farmacêutica cessa. O aumento em P a partir de certo ponto resulta na cisão de cadeias macromoleculares. Hipótese: A permeabilidade é proporcional ao número de ligações, i.e. P P0 = numero inicial de ligacoes numero de ligacoes restantes = N N−Z , (62) em que P0 é a permeabilidade inicial (t = 0) e P é a permeabilidade após Z ligações romp- idas (t). Obtém-se uma cinética de primeira ordem dZdt = k (N−Z), em que k é a constante de velocidade de primeira ordem [k] = t−1. A solução da equação diferencial é ln ( N N−Z ) = kt (63) o que implica de imediato que há um crescimento exponencial da permeabilidade com a evolução do tempo: P = P0 exp(kt). (64) 48 Para o cálculo da velocidade de difusão em sistemas biodegradáveis com erosão ho- mogênea, considera-se um processo de difusão de soluto numa matriz na qual a permeabil- idade é uma variável, evoluindo temporalmente. Usando a fórmula já obtida, segue-se dMt dt = S 2 [ 2PC∞ t ]1/2 , (65) sendo que P é dado via Equação 64. Assim, no caso de difusão de soluto numa matriz na qual a permeabilidade é variável, chega-se à dMt dt = S 2 [ 2P0 exp(kt)C∞ t ]1/2 . (66) Em termos do perfil cinético, é válido ilustrar uma comparação entre um perfil tı́pico com liberação por difusão e o perfil de biodegradávelem sistema homogêneo, proposto no Modelo de Heller (Fig. 50). Fig. 50. Cinética de sistema de liberação biodegradável: Velocidade de difusão em sistemas biodegradáveis homogêneos (Fonte: o autor). No caso de sistema biodegradável com erosão (heterogêneo) do polı́mero, o mecanismo é diferente, e encontra-se ilustrado na Fig. 51. 49 Fig. 51. Sistema biodegradável com erosão do polı́mero. Exemplos de sistemas comerciais de liberação controlada são ilustrados na Fig. 52. Fig. 52. Evolução de implante, ilustrando erosão do polı́mero. Resta ainda os casos de sistemas biodegradáveis com erosão heterogênea. Aqui, a ve- locidade de difusão no sistema é caracterizada por: 50 - Erosão mantém-se confinada na superfı́cie. - Geometria do sistema é conservada (Hopfenberg’s model). Mt M∞ = 1− [ 1− k0t aC∞ ]n , (67) em que k0 é a constante de velocidade (erosão) de ordem pseudo-zero em unidades (ML−1T−1). O valor do ı́ndice n depende da geometria, sendo que tipicamente os valores inteiros mais usuais são: (n = 1 em filme, n = 2 cilı́ndrica, n = 3 esférica). O parâmetro a corresponde ao raio do cilindro ou esfera ou metade da espessura do filme. 17. Sistemas Controlados por Solvente Uma classificação geral inclui as chamadas bombas osmóticas e sistema via intumesci- mento. 1. Pressão Osmótica Bombas osmoticas { com diafragma sem diafragma 2. Intumescimento Hidrogéis. 17.1 Bombas de Pressão Osmótica alza-bomba osmótica e OROS®ilustrada nas Figuras 53 e 54. Vale a pena iniciar o estudo com [61] e [77]. Fig. 53. Bomba osmótica elementar OROS. 51 Fig. 54. Bomba osmótica ALZA. (a) detalhes da bomba osmótica, (b) movimento da parte móvel em presença de água, expulsando o princı́pio ativo. (Fonte: https://www.alzet.com). As bombas osmóticas proporcionam, sob projeto adequado, uma cinética de liberação de ordem zero, com velocidade controlada. Como exemplo, apresenta-se a cinética para uma bomba osmótica de liberação controlada de Indometacina. Constate-se a existência de duas regiões distintas: um trecho constante (ordem zero) seguido de um trecho parabólico. Fig. 55. Cinética de liberação de Indometacina da bomba osmótica. Os componentes de uma Bomba Osmótica são mostrados: agente osmótico, p.a., mem- brana e diafragma (Fig. 56 e 57). 52 Fig. 56. Componentes de uma bomba osmótica com diafragma. (Fonte: o autor). BOMBAS OROS® Fig. 57. Bomba osmótica push pull OROS (Fig.8 em [48]). Apresentam-se os resultados de uma cinética in vitro de cloreto de potássio em uma bomba osmótica, mais uma vez explicitando a região de cinética de ordem zero seguida do trecho parabólico final (referência Fig. 58). Fig. 58. Cinética in vitro de cloreto de potássio: 20 mg.h−1 53 Fig. 59. Bomba OROS (ALZA): Sistema de administração de medicamentos OROS (Oral Osmotic). Um núcleo de medicamento é cercado por uma membrana semipermeável que é perfurada a laser gerando um pequeno orifı́cio. (Fonte:[?]). A tı́tulo de ilustração das dimensões e formato de bombas osmóticas comerciais, con- sidere uma série de opções de Bombas Osmóticas ALZET®, disponı́veis em três tamanhos distintos. As medidas são apresentadas nas Figuras 60 e 61, bem como as respectivas taxas de liberação do fármaco em cada sistema. 54 Fig. 60. Dimensões de bombas osmóticas comerciais: três versões de bomba ALZET® https://www.alzet.com/products/alzet pumps/specifications/ (Fonte: [126]). Fig. 61. Taxas e duração de bombas ALZET®: três modelos, com duração de liberação estimada entre dois dias e três semanas. (Fonte: o autor). 55 Fig. 62. Kits de infusão ALZET para Cérebro (Fonte: [4]). Fotos do progresso e do estado de uma bomba oral osmótica (OSMET) ilustram a evolução de uma bomba sob uso (Fig. 63). Fig. 63. Fotos de uma bomba OSMET®. (a) Seção mostrando membrana, (b) imersão em água após 8 h, (c) Orifı́cio feito com laser (d) vista do tablet após 24 h de imersão. (Fonte:[?]). No que segue, apresenta-se uma lista parcial (ainda que algo desatualizada) de patentes envolvendo bombas osmóticas de uso oral para liberação de medicamentos. 56 Tabela 4. Patentes envolvendo bombas osmóticas (compilada pelo autor). bomba osmótica fármaco ano simples tri-hidrato de indometacina sódica 1981 simples sais cristalinos de dióxido de benzotiazina 1984 simples haloperidol 1986 simples maleato de clorfeniramina 1989 multicâmara osmótica cloridrato de diltiazem 1989 simples nicotina 1992 dupla câmara hidrato de procainamida HCl 1992 dupla câmara verapamil 1992 multicâmara osmótica tandospirona 1993 simples iloprost* com ação contra a malária cerebral 1995 multicâmara osmótica glipizida hipoglicêmica 1996 simples nistatina 1998 simples levodopa 1999 multicâmara osmótica captopril 2000 dupla câmara éter-sulfoalquı́lico ciclodextrina 2000 dupla câmara zafirlucaste 2001 multicâmara osmótica captopril 2001 multicâmara osmótica nifedipina 2002 simples paricalcitol 2006 pressão positiva Treprostinila para tratar lesões isquêmicas 2005 mini-bomba análogos da prostaciclina 2008 reservatório oxicodona (opioide) 2008 simples quinina 2008 simples tramadol e gabapentina 2009 tablet osmótico derivados de tiazolidinediona 2011 dupla câmara mononitrato de isossorbida 2011 dupla câmara biciclol [59] 2013 com promotores de liberação dietanolamina treprostinil (hipertensão pulmonar) 2014 *análogo estável da prostaciclina. Uma lista de alguns produtos comercias (®) contendo bomba osmótica para liberação controlada de medicamentos é apresentada na Tabela 5. 57 Tabela 5. Produtos comercializados de medicamentos envolvendo bomba osmótica oral (resumo de fontes diversas). marca comercial medicamento Acutrim® Fenilpropranolamina Alpress LP® Cloridrato de prazosina Calan SR® Verapamil Cardura XL® Mesilato de doxazocina Concenta® Metillfenidato Covera HS® Verapamil Ditrofano XL® Cloreto de oxibutinina DynaCirc CR® Isradipina Efidac 24® Pseudoefedrina Glucotrol XL® Glipizide Ivomec SR ® Ivermectina Minipress ® Cloridrato de prazosina Procardia XL® Nifedipina Remodulin® Treprostinilo sódico Teczem® Maleato de enalapril e Diltiazem Tiamate® Cloridrato de diltiazem Volmax ® Albuterol Viadur® Acetato de leuprolida Pressão Osmótica Bombas osmoticas Alzet® { com diafragma sem diafragma. Estudos farmacológicos e biofarmacêuticos (via oral, retal, vaginal e implantes) Bomba osmótica para via oral • Oros®(Oral Osmotic System) • GITS®(Gastro-intestinal Therapeutic System). Bomba osmótica bicompartimental • Oros push-pull® (p.a. fracamente solúveis). Perfil de liberação de um sistema Oros®: Etapas da liberação (i) Tempo de latência - Entrada de meio externo - Solubilização do princı́pio ativo. 58 (ii) Liberação com velocidade constante do princı́pio ativo. (iii) Velocidade decrescente de liberação do princı́pio ativo. (iv) Exaustão do sistema. Um perfil tı́pico de liberação apresenta as caracterı́sticas daquele apresentado na Fig. 64. Fig. 64. Perfil de liberação de um sistema Oros®. Três trechos distintos no perfil (Fonte: o autor). A velocidade de passagem do lı́quido, ou fluxo em uma cinética de liberação de sistema Oros®é dada por: dV dt = S l Lp (σ .∆π−∆P) , (68) em que ∆π e ∆P = diferença de pressão osmótica e hidrostática entre o interior e o exterior do reservatório, S= superfı́cie da membrana, l= espessura da membrana, Lp= permeabilidade mecânica da membrana, σ = coeficiente de reflexão (grau de permeabilidade seletiva da membrana). Cinética de Liberação de Sistema Oros® Se σ = 1 ⇒ passagem de água. Se σ < 1 ⇒ passagem do princı́pio ativo. A entrega do soluto através do orifı́cio é dada por: dMt dt = dV dt .C, (69) em que C é a concentração do p.a. no meio lı́quido expulso da bomba. 59 Combinando as Equações 68 e 69, chega-se a equação geral do dispositivo: dMt dt = S l Lp (σ .∆π−∆P) .C. (70) Considerando-seo tamanho do orifı́cio e a pressão, tem-se: 1. Quando do orifı́cio for muito grande: ∆P torna-se desprezı́vel com relação a ∆π (∆P� ∆π). 2. Se πi� πe (interior e exterior da bomba): ∆π pode ser substituı́do por π . Considerando k = Lpσ , então a Equação 70 torna-se: dMt dt = S l kπC. (71) Considerando o perı́odo de liberação constante (cinética de ordem zero),( dMt dt ) t∈z = S l kπsCSa . (72) em que z é o perı́odo de liberação constante do p.a. πs é a pressão osmótica provocada pela solução saturada CSa é a solubilidade do p.a. em água. A pressão osmótica em condições de saturação equivale a: πS = iRT CSa M , (73) em que i é o número de ı́ons presentes R é a constante dos gases perfeitos T é temperatura absoluta (Kelvin) M é a massa molecular do soluto. Então, ( dMt dt ) t∈z = S l k.iRT (CSa) 2 M . (74) 60 Para uma membrana de dimensões e caracterı́sticas de permeabilidade definidas, a ve- locidade de liberação é diretamente proporcional a solubilidade ao quadrado do soluto e inversamente proporcional ao peso molecular do soluto. Farmacocinética de Bombas Osmóticas - Fração da substância liberada segundo uma cinética de ordem zero Mz/M∞ Mz M∞ = 1−C S a ρ , (75) em que, M∞ é a dose do fármaco (de densidade ρ) incorporado no sistema com volume interno V (M∞ = ρV ). Avaliando o perı́odo da liberação com uma cinética de ordem zero: tz = Mz (dMt/dt)z . (76) Considerando o perı́odo da liberação com uma cinética de ordem não-zero( dMt dt ) t /∈z = FSCSa[ 1+ FSV .(t− tz) ]2 , (77) em que tz é perı́odo de liberação com ordem zero, FS é o fluxo volumétrico em condições de saturação (FS = Skπ/l). Fig. 65. Cinética de bomba osmótica com liberação constante a uma taxa de 23,5 mg/h durante praticamente todo o dia (17,8 h). 61 Para o cálculo do fluxo de ordem não-zero em termos da velocidade de liberação em regime constante, tem-se ( dMt dt ) t /∈z = ( dMt dt ) t∈z[ 1+ 1CSaV . ( dMt dt ) t∈z .(t− tz) ]2 (78) - Fração da substância liberada segundo uma cinética de ordem não-zero: MNZ M∞ = CSa ρ . (79) - Fração da substância liberada segundo uma cinética de ordem zero: MZ M∞ = 1−C S a ρ . (80) Parâmetros importantes do soluto que vão reger a liberação: Peso molecular (PM), Solubilidade do soluto (Ca), Densidade (ρ). Solubilidade do p.a. de 40%⇒ Liberação de 80% da dose inicial a uma velocidade fixa. Se ρ = 1,23 g.cm−3, atinge-se uma liberação de cerca de 60% (veja Fig. 66). Fig. 66. Farmacocinética de bombas osmóticas: valores ótimos de solubilidade 20 a 40%. É bastante útil listar as vantagens de bombas osmóticas. As variáveis que influenciam a liberação: 62 Solubilidade e peso molecular do p.a.; Meio externo (pH e condições hidrodinâmicas) não influenciam na velocidade de liberação; Taxas de liberação mais elevadas com relação aos sistemas regidos por difusão; Liberação de soluto de elevado peso molecular; Liberação pode tornar-se independente das propriedades do p.a. quando adicionado um agente osmótico em um segundo compartimento do sistema ou for misturado ao p.a. fracamente solúvel. 17.2 Bombas com Intumescimento do Polı́mero As caracterı́sticas do Sistema com base em intumescimento do polı́mero: - Hidratação lenta do polı́mero - Liberação regida pela difusibilidade do soluto na porção gelificada do sistema - Aumento do volume do sistema (filme ou disco) - Solubilização do sistema. Dois pontos a serem destacados incluem: (i) A presença de cristalitos impede a dissolução do domı́nio amorfo. (ii) Reticulação do polı́mero. Exemplos: PVA, PHEMA, HEMA/MMA, HEMA/NVP, VA/NVP, E/VA. Cinética de Sistemas que Sofrem Intumescimento Verifica-se frequentemente um transporte anômalo (ou não-Fickiano) do solvente. O polı́mero amorfo e vı́treo encontra-se em contato com solvente no qual é termodinamica- mente compatı́vel. Os tipos de transporte do solvente que ocorrem são: Tipos de transporte do solvente { Caso II , Super caso II. As cinéticas de sistemas que sofrem intumescimento são, nos dois casos, expressas por: dMt Sdt =C∞K, (81) e dMt Sdt = nC∞Ktn−1, n > 1. (82) O mecanismo geral em qualquer dos casos é descrito por Mt M∞ = Ktn, e dMt Sdt = nC∞Ktn−1. (83) 63 K e n são constantes próprias do sistema polı́mero-soluto-solvente, ajustadas aos dados experimentais: K é velocidade de liberação do soluto n é ordem da cinética de liberação (Se n = 1, a cinética é de ordem zero, demais casos, n > 1). A Fig. 67 a seguir compila todos os casos possı́veis. Fig. 67. Mecanismos de transporte de solvente e cinética de liberação em polı́meros que sofrem intumescimento: adaptado de [12]. Na prática, para ajustar empiricamente os dados ao mecanismo geral de liberação, os valores de K e n são obtidos por regressão linear, através do ajuste: log ( Mt M∞ ) = log(K)+n. log(t). (84) n é obtido da inclinação da reta no gráfico logarı́tmico. 18. Resumo sobre Cinéticas em Sistemas para Liberação Controlada de Fármacos Fig. 68. Resumo sobre cinéticas em sistemas poliméricos para liberação controlada de fármacos. 64 A seguir, opções disponı́veis comercialmente de sistemas de liberação controlada (Tab.6). Tabela 6. Sistemas comerciais de liberação controlada: lista não exaustiva. Produto Ano fármaco Terapêutica Ocurset® 1974 Pilocarpina glaucoma Progestasert® 1974 Progesterona contraceptivo Transderm scop® 1981 Escopolamina cólicas e espasmos Indocin® 1981 tri-hidrato de Indometacina sódica artrite, bursite e tendinite Acutina® 1983 Fenilpropanolamina moderador de apetite Deponit® 1982 Nitroglicerina insuficiência cardı́aca Catapres® 1985 Clonidina antihipertensivo Estraderm® 1986 Levonorgestrel anticoncepcional Eudragit® 1986 Haloperidol antipsicóticos Vivelle® 1986 Estradiol transdérmico prevenção osteosporose Minipress XL® 1989 Prazosina antihipertensivo Norplant® 1990 Levonorgestrel anticoncepcional Duragesic® 1991 Fentanil transdérmico analgésico opióide Nicoderm CQ® 1991 Nicotina antitabagismo Glucotrol XL® 1994 Glipizida antihiperglicemia Testorderm® 1994 Testosterona reposição hormonal Nitrodur® 1994 Nitroglicerina insuficiência cardı́aca Transderm Nitro® 1994 Nitroglicerina insuficiência cardı́aca Efidac 24® 1995 pseudoefedrina antialérgico Pseudo-efedrina® 1995 Cloridado de pseudoefedrina antialérgico Covera-HS® 1996 Cloridrato de verapamil Isquemia Miocárdica Climara® 1996 Estradiol prevenção osteoporose Habitrol® 1996 Nicotina antitabagismo Actisite® 1996 Cloreto de tetraciclina intrabolsa periodontal Gliadel Wafer® 1996 Carbustina anticâncer (Glioma) DepoCyl® 1996 Citarabina lipossômica anticâncer Depomorphine® 1996 Morfina analgésico DepoAmikacin ® 1996 Amicacina antibiótico Dynacirc CR® 1997 Clonidina angina pectoris Targus Lat ® 1998 Flurbiprofeno lombalgia, tendinite, bursite E-trans ® 2000 Fentanil analgésico Fematrix® 2001 Estradiol prevenção osteosporose Effexor ® 2007 Cloridrato de venlafaxina antidepressivo Adalat® 2012 Nifedipino Fenitoı́na antihipertensivo Cognex® 2014 Tacrina Alzheimer Neupro® 2014 Rotigotina transdérmica antiparkinsoniano 65 19. Absorção Nasal de Medicamentos Na administração intranasal de fármacos há diversos fatores que afetam a absorção nasal. 1. Peso Molecular: < 1000 Dalton 2. Lipofilia 3. Concentração da droga 4. Tamanho de partı́culas: 10-50 mı́crons adere melhor à mucosa nasal. Fig. 69. Rotas de absorção nasal (Fonte: adaptado https://slideplayer.com/slide/691547/). CSF =lı́quido cefalorraquidiano [20]. A lista de sistemas de liberação utilizados via nasal é apresentada. (a) spray nasal (b) Gotas nasais (c) Pulverizador de aerossol (d) Nebulizador com doseamento (e) Compressa de algodão saturado (f) Insufladores (g) Dispositivos de atomização na mucosa (h) Microesferas. 66 Os promotores de absorção são substâncias capazes de aumentar a
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