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DEPRESSÃO NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA INTRODUÇÃO/EPIDEMIOLOGIA • Estima-se que 1 a 2% das crianças e 5% dos adolescentes tenham depressão. O diagnóstico é feito só por volta dos 6 anos de idade. A depressão é um problema complexo e multifatorial. Está ligado ao relacionamento da família com a criança, eventos estressores na vida, como traumas, perdas, rejeição e negligência. • Os fatores genéticos e ambientais, segundo a constatação de que gêmeos idênticos não têm uma taxa de concordância de 100%, sugere a contribuição de fatores não genéticos. O traço bioquímico herdado pode estar presente em algumas crianças cujos pais sofrem de depressão; a serotonina e a noradrenalina são os neuro-hormônios mais envolvidos nesse processo. Metade de todas as condições de saúde mental começam na adolescência, mas a maioria dos casos não é detectada nem tratada. • É um desafio, pois os sintomas podem ser apenas a manifestação de uma adolescência normal e por isso aqueles que lidam com os jovens devem ter conhecimento e sensibilidade para diferenciar o patológico do fisiológico. • Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 60% dos adolescentes abordados em consulta médica relatam ter sentimentos de depressão sendo este um dos fatores de risco para suicídio. O suicídio é a terceira causa mais comum de morte entre adolescentes e jovens do sexo masculino e as tentativas de suicídio, principalmente entre as mulheres, correspondem à principal causa de procura de atendimento de urgência por adolescentes e jovens. FATORES DE RISCO • Histórico familiar de transtornos de humor (risco de 2 -4x se familiares de primeiro grau), abuso de substâncias como álcool e drogas pelos pais. • Problemas emocionais graves durante a gestação. Estresse tóxico na infância, incluindo agressões físicas, morais e verbais, excesso de cobrança, abuso sexual, falta de afeto e de presença qualitativa dos pais, exposição precoce ao trabalho infantil, perda recente da figura de referência (devido à morte ou separação). Cyberbullying. Exposição excessiva às telas, como tv, tablets e celulares, conteúdos inadequados ou violentos. Quadro de ansiedade excessiva. SINTOMAS • Isolamento, impulsividade, tristeza constante, dificuldade de relacionamento com pessoas da mesma idade, insegurança, queda no desempenho escolar, crises de raiva, baixa autoestima, atração por comportamentos de risco. • Autoimagem ruim: insatisfação com a própria aparência física, falta de segurança com relação a si próprio. • Alucinações são compatíveis com o humor depressivo: uma única voz, de conteúdo depreciativo, suicida, falando de fora da cabeça do indivíduo. Temas de culpa, doença física, morte, punição merecida, inadequação pessoal ou perseguição. TRISTEZA • Tristeza é um afeto humano que precisa ser vivido, respeitado e acolhido. Ela condiz com uma dor decorrente de perdas importantes. A importância e o significado de cada perda são dados de modo particular pela criança, ou seja, varia de pessoa para pessoa, o que é vivido como importante, muitas vezes aos olhos dos outros pode ser insignificante, no entanto, para quem o sofre, pode ter um profundo efeito, o qual não deve ser negligenciado. • As crianças podem reagir com tristeza a inúmeros eventos como a uma briga com os pais, à saudade de alguém querido. A tristeza tem normalmente um caminho a ser percorrido, tem início, meio e fim. É fundamental que a criança possa entrar em contato com uma ampla gama de sentimentos que incluem a tristeza, decepções e contrariedades para exercitarem a capacidade de lidar com sentimentos que não são tão prazerosos, mas que necessariamente também fazem parte da vida. Propiciar um lugar e condição para a expressão destes não é tarefa fácil, principalmente na atualidade, que permanentemente reitera o imperativo de felicidade e sucesso. DEPRESSÃO • Vivência na qual a existência perde a cor, o sabor e o sentido, e somos seres que permanentemente precisamos dar sentido à vida, precisamos processar as mais variadas experiências, principalmente as que tangem às separações e às perdas. A depressão poderá advir quando este processamento estiver dificultado ou impedido. • Possui maior incidência em adolescentes que vivem em ambientes frágeis, adolescentes com doenças crônicas, transtorno do espectro autista, incapacidade intelectual ou outra condição neurológica; pais adolescentes ou casamentos precoces, órfãos, adolescentes que fazem parte de minorias étnicas ou sexuais. SINTOMAS EM CRIANÇAS MENORES DE 12 ANOS • Queixas somáticas – dor abdominal, cefaleia, náuseas, dores em membros inferiores. • Choro fácil, agitação, irritabilidade e agressividade. • Comportamento de roer unhas ou morder lápis, mutismo seletivo abrupto, maneirismos e tiques. Distúrbios do sono, como insônia, medo de dormir sozinho, pesadelos frequentes, terror noturno, sonolência excessiva. Comportamento opositor. Enurese noturna. Recusa em ir à escola. Dificuldades escolares e queda do rendimento escolar. • Desaceleração motora, rosto pouco expressivo, inibição da motricidade. • Criança comportada demais, quase indiferente, submissa, que fica por muito tempo sentada quieta e podendo aparecer também momentos de muita agitação e irritabilidade. Mudança abrupta de comportamento apresentando choro e medos excessivos. Uma criança bastante tímida também merece ser observada além do desinteresse pelo brincar, por sair de casa e ir para a escola. MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DOS TRANSTORNOS MENTAIS – DSM-V • Critério A: 5 ou mais dos sintomas seguintes, presentes por pelos menos duas semanas e que representam mudanças no funcionamento prévio do indivíduo; pelo menos um dos sintomas é: o Humor deprimido na maioria dos dias, quase todos os dias; ou o Perda de interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (nota: não incluir sintoma nitidamente devido a outra condição clínica). o Perda ou ganho de peso acentuado sem estar em dieta (p.ex: alteração de mais de 5% do peso corporal em um mês). o Insônia ou hipersonia quase todos os dias. o Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias. o Fadiga e perda de energia quase todos os dias. o Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada. o Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se ou indecisão, quase todos os dias. o Pensamentos de morte recorrentes. • Critério B: os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. • Critério C: os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (p.ex: droga) ou outra condição médica. • Critério D: a ocorrência de episódio depressivo maior não é melhor explicada por transtorno esquizoafetivo, esquizofrenia, transtorno delirante ou outro transtorno especificado ou não do espectro esquizofrênico e outros transtornos psicóticos. • Critério E: não houve nenhum episódio de mania ou hipomania anterior. COMPULSÃO ALIMENTAR • Os episódios de compulsão são marcados por no mínimo três dos seguintes itens: o Comer mais rápido do que o normal. o Comer até sentir desconforto. o Comer grande quantidade de comida mesmo sem a sensação de fome. o Comer sozinho por constrangimento causado pela quantidade de comida ingerida. o Sentir-se culpado, deprimido ou com raiva de si mesmo após o excesso de comida. • Os pacientes tendem a ser obesos ou ter sobrepeso, pois não apresentam a compensação de expurgo que os bulímicos têm. Costumam ter personalidade rígida e perfeccionista, sempre na tentativa de estar no controle da situação, portanto sentem-se muito frustrados após o descontrole da compulsão. ANOREXIA NERVOSA • Restrição de ingesta calórica que leva ao baixo peso para o sexo e a idade (IMC menor que 18,5); medo intenso de ganhar peso ou ficar gordo, ou comportamento persistente para evitar o ganho de peso, apesar de já estar com baixopeso; percepção distorcida de autoimagem ou forma física e do peso corporal; e excessiva influência do peso e da forma física na autoestima ou negação da realidade do baixo peso. BULIMIA NERVOSA • Episódios recorrentes de compulsão alimentar periódica, comportamento de expurgo compensatório para evitar o ganho de peso, que acontece em média 1 vez por semana, durante no mínimo 3 meses consecutivos; e forte influência do peso e forma física na autoavaliação do indivíduo. • O paciente portador de bulimia apresenta um aspecto irritadiço e deprimido, sempre insatisfeito com o próprio corpo. • Seu rosto costuma ser arredondado, por conta do aumento das parótidas e suas mãos apresentam calosidade típica, entre o segundo e terceiro dedos da mão dominante, decorrente do atrito dessa região com os dentes caninos ao provocar o vômito. AUTOLESÃO SEM INTENÇÃO SUICIDA • Estudo sobre autolesão com ou sem intenção suicida constatou relação de duas mulheres para cada homem, sendo que 35,6% do total sofria de transtorno depressivo. • As lesões mais comuns são as queimaduras com cigarros, feridas abertas no corpo com as próprias mãos (coçando, arranhando, arrancando cutículas) e os cortes realizados com objetos pontiagudos variados.~ CUTTING • Comum entre adolescentes do sexo feminino, tem como objetivo transformar a dor psíquica, difícil de entender e manejar, em dor física. A sensação de alívio da angústia é imediata, mas seguida de culpa. • As lesões costumam ser superficiais, em região de antebraços, coxas e abdome, porém deixam cicatrizes. Com o intuito de esconder as marcas, as jovens evitam expor o corpo, usando mangas longas no calor. • Apesar de não ter intenção suicida, a incidência de morte não intencional pelo uso de drogas e o suicídio entre aqueles que se automutilam é 9 vezes maior do que na população em geral e por isso deve ser valorizado. • A autolesão não pode ser vista como um artifício dos jovens para chamar a atenção e sim como um sintoma de uma doença que necessita de tratamento. DEPENDÊNCIA DE DROGAS • Uso em quantidades maiores ou por mais tempo que o planejado, desejo persistente ou incapacidade de controlar o desejo, gasto importante de tempo em atividades para obter a substância, fissura importante, deixar de desempenhar atividades sociais, ocupacionais ou familiares devido ao uso, continuar o uso apesar de apresentar problemas sociais ou interpessoais, restrição do repertório de vida em função do uso, manutenção do uso apesar de prejuízos físicos. • As drogas mais usadas na adolescência são o álcool, o tabaco, a maconha e o ecstasy. Segundo pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde, em 2015, 55,5% dos alunos do 9° ano das escolas brasileiras já tiveram contato com o álcool e 9% já provaram alguma droga ilícita. CAPSI • Cidade com 200 mil habitantes ou mais, servem para atender casos de maior gravidade e ordenar a demanda em Saúde Mental Infantil e Juvenil. • Equipe conta com psiquiatra, neurologista ou pediatra com formação em Saúde Mental Infantil, um enfermeiro, e outros profissionais de nível superior (entre: psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, pedagogo) e cinco profissionais de nível médio. ABORDAGEM • Para crianças com diagnóstico de depressão, a criança e a família devem ser encaminhadas para psicoterapia. O treinamento de pais e parentes para proporcionar um ambiente afetuoso, harmonioso, estimulante, com manejo comportamental equilibrado, brincadeiras e reforço positivo é fundamental para a recuperação clínica e prevenção de recidivas na infância. O tratamento com brincadeiras e atividades prazerosas torno o processo de cura mais rápido e efetivo. ORIENTAÇÕES • Organização da rotina de sono, com horário e tempo satisfatório por idade. • Tempo e conteúdo de tela, de acordo com as recomendações por idade. • Atividades físicas durante cerca de 60 minutos ao dia, atividade de lazer. • Técnicas de relaxamento. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO - PROVA • Usado na depressão moderada a grave. • Fluoxetina é o fármaco com melhor evidência de efetividade.* • Outros inibidores seletivos da recaptação de serotonina como sertralina e Escitalopram têm evidências menos robustas de efetividade. O Escitalopram está aprovado para uso na depressão na adolescência. • Fluoxetina pode ser utilizada a partir dos 8 anos de idade, com dose ajustada gradualmente conforme tolerância e resposta. • Sertralina pode ser utilizada a partir dos 6 anos de idade. • Escitalopram pode ser utilizado a partir dos 12 anos de idade.