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O PSICÓLOGO E A ASSISTÊNCIA SOCIAL – DESAFIOS DO TRABALHO

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1 
 
O PSICÓLOGO E A ASSISTÊNCIA SOCIAL – DESAFIOS DO TRABALHO 
INTERDISCIPLINAR NA PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA 
 
A Assistência Social através de seus marcos legais fez uma convocação oficial à 
psicologia no trabalho de afirmação da construção do cidadão brasileiro como sujeito de 
direitos e de luta contra as desigualdades sociais que compõem o desenho de como está 
organizada a sociedade brasileira política-economicamente. Neste sentido, há um 
esforço nacional presente em cada município, respeitando a diretriz da descentralização, 
de implementação dos equipamentos previstos pelo Sistema Único da Assistência 
Social, divididos pelos seus níveis de complexidade. Sabe-se que a questão social é uma 
problemática complicada, que deve ser pensada sobre diversas perspectivas e campos de 
saber. Assim, as equipes de referência dos equipamentos do SUAS já tem previstas a 
interdisciplinaridade necessária para que o trabalho com as famílias e comunidades seja 
mais efetivo. O psicólogo aparece como ator fundamental nessa composição. É peça 
necessária e indispensável nessas equipes, isso porque os processos de exclusão social 
têm suas implicações subjetivas, tanto por suas causas como por suas conseqüências. 
Portanto, o maior desafio para a consolidação das equipes (e conseqüente da PNAS, 
pois o trabalho depende essencialmente dos recursos humanos) é a construção da 
interdisciplinaridade e a interlocução dos saberes do serviço social e da psicologia sem 
que percam suas especificidades. A implantação da Política Nacional de Assistência 
Social nos municípios, por se tratar de uma política pública preferencialmente estatal, 
encontra ainda, como desafio, a descontinuidade da gestão dos seus serviços, já que 
depende dos movimentos da política partidária nessas composições de gestão, o que 
atrapalha o seu processo de construção. A presente apresentação visa promover uma 
reflexão sobre esse cenário da inserção da psicologia na Assistência Social e das 
possibilidades e desafios do psicólogo na consolidação da Política Nacional de 
Assistência Social e da afirmação do cidadão brasileiro como sujeito de direitos. 
Palavras-chave: Psicologia, Assistência Social, multidisciplinaridade, política pública. 
 
Simone Piñeiro Bressan – Psicóloga formada pela UNESP Assis, especialista em 
Semiótica Psicanalítica – Clínica da Cultura pela PUC/SP, trabalha em equipe de 
referência de CRAS – Centro de Referência de Assistência Social – na Prefeitura 
Municipal de Guarulhos. E-mail: sicabressan@gmail.com. Endereço: Rua Emanuele 
Saporiti, 188 – Vila Maria Alta – São Paulo – SP – CEP 02129-070 
 
Eliana Carrelli – Psicóloga, formada pela Universidade de Guarulhos, especialista em 
Gestão Estratégica Pública pela Unicamp, psicóloga da Prefeitura Municipal de 
Guarulhos, atuando como Coordenadora de CRAS – Centro de Referência de 
Assistência Social. E-mail: elianacarrelli@yahoo.com.br. Endereço: R. Judith 
Zumkeller, 488 – Ap. 18 – Mandaqui – São Paulo – SP – CEP: 02422-020 
 
 
Introdução 
A Constituição de 1988 foi um marco para a Assistência Social no Brasil, que 
juntamente com a Saúde e a Previdência constituem-se no Sistema Brasileiro de 
Seguridade Nacional, buscando a afirmação dos direitos sociais. 
2 
 
                                                           
Em 1993 entra em vigência a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, em 
2004 é aprovada a Política Nacional de Assistência Social e em 2005 entra em vigor a 
Norma Operacional Básica da Assistência Social – NOB/SUAS. 
Essas diretrizes e normatizações foram passos importantes para a transformação 
da Assistência Social em uma política pública de garantia de direitos, procurando 
romper com um processo histórico que associava o trabalho na área da Assistência 
Social ao assistencialismo, ao clientelismo que reduziam seus beneficiários à condição 
de “necessitados”, estabelecendo com estes uma relação de dependência. 
Sabe-se que, historicamente, pouco mais de duas décadas não é tempo suficiente 
para que as mudanças sejam completamente efetivadas. 
É nesse cenário em que as transformações sociais estão em pleno processo que o 
presente trabalho pretende promover uma reflexão acerca da inserção da psicologia na 
Assistência Social e dos desafios e possibilidades do psicólogo na consolidação da 
Política Nacional de Assistência Social e da afirmação do cidadão enquanto sujeito de 
direitos. 
Neste relato, o olhar sobre o trabalho do psicólogo está focado na Proteção 
Social Básica e, mais especificamente nos Centros de Referência da Assistência Social 
– CRAS no município de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. 
 
O município de Guarulhos 
Guarulhos é um dos 39 municípios que integra a Região Metropolitana de São 
Paulo, distante apenas 17 km da capital, cortado por importantes rodovias, tais como, 
Presidente Dutra, Fernão Dias e Airton Senna. Possui uma área de 341 km² e uma 
população de 1.351.790 habitantes1. 
É uma cidade também de muitas contradições. Enquanto é a 11ª maior cidade do 
país, atrás apenas de 10 capitais brasileiras, considerada o principal pólo industrial do 
setor químico-farmacêutico, o terceiro pólo têxtil e ocupa o 7º lugar na economia 
brasileira, em 2001 ocupava a 191ª posição no Estado de acordo com o ranking do 
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), elaborado pelo Instituto de 
Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) e pelo PNUD (Programa das Nações Unidas 
 
1 SEADE, estimativa populacional em 2010. 
3 
 
                                                           
para o Desenvolvimento), com um índice de 0,797. E é a quarta cidade em maior 
número de favelas, nas quais vivem 25% da população2. 
Segundo o IBGE, de acordo com o “Mapa da Pobreza e Desigualdade dos 
Municípios Brasileiros”, realizado em 2003, a incidência de pobreza de Guarulhos era 
de 43,21%, um percentual alto se comparado, por exemplo, à capital São Paulo, com um 
índice de 28,09%. 
E é a partir dessa realidade, constituída de intensas desigualdades sociais que a 
Secretaria de Assistência Social atua, buscando articular e integrar a rede de serviços 
socioassistenciais na garantia de direitos de seus cidadãos. 
Até 2009, contava com nove3 CRAS – Centro de Referência da Assistência 
Social, um Centro de Referência do Idoso, uma Casa da Juventude, um Albergue 
Municipal de Atendimento a População em Situação de Rua Adulta, três Casas Abrigo 
Municipais (para acolhimento institucional de crianças e adolescentes) e um CREAS – 
Centro de Referência Especializado de Assistência Social. 
 
Os Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) em Guarulhos 
De acordo com a Política Nacional da Assistência Social (PNAS), o Centro de 
Referência da Assistência Social (CRAS) é 
“uma unidade pública estatal de base territorial, localizado em áreas de 
vulnerabilidade social, que abrange um total de até 1.000 famílias/ano. 
Executa serviços de proteção social básica, organiza e coordena a rede de 
serviços socioassistenciais locais da política de assistência social.” (2004, p. 
35) 
Tem a responsabilidade de ofertar o Programa de Atenção Integral às Famílias 
(PAIF), deve informar, orientar e articular com a rede de proteção social local o que se 
refere aos direitos de cidadania, além de mapear e organizar a rede socioassistencial de 
proteção básica, promovendo a inserção das famílias nos serviços de assistência social 
local e o encaminhamento das mesmas às demais políticas públicas e sociais do 
município. 
Além do PAIF, são considerados serviços da Proteção Social Básica: projetos de 
inclusão produtiva e de Convivência e Fortalecimento de Vínculos. 
 
2 Dados obtidos através do Plano Municipal de Assistência Social, Guarulhos, 2009. 
3 Em 2010, dois novos CRAS estãoem fase de implantação: Nova Cidade e Centenário, na região de 
Pimentas. 
4 
 
Atualmente, em Guarulhos existem onze CRAS: Acácio, Centenário, Centro, 
Cumbica, Itapegica, Nova Cidade, Pimentas, Ponte Alta, Presidente Dutra, Santos 
Dumont e São João. 
Os CRAS em Guarulhos desenvolvem serviços de acolhimento, atendimento 
individual ou em grupo, visita domiciliar, orientação e encaminhamento dos atendidos e 
familiares à rede de serviços especializados, organização de prontuários dos usuários, 
elaboração de relatórios técnicos para encaminhamento e/ou acompanhamento dos 
usuários a outros órgãos da rede socioassistencial, inclusão de famílias em programas de 
transferência de renda e grupos socioeducativos para seus beneficiários, grupos de 
convivência e fortalecimento de vínculos, acesso à segunda via de certidões de 
nascimento e casamento, orientação e acesso ao BPC – Benefício de Prestação 
Continuada, através de Termo de Parceria com o INSS e emissão de carteira 
interestadual para idoso. 
Para a execução de todos esses serviços, divididos entre os nove CRAS em 
funcionamento, o município contava até final de 2009 com nove coordenadores, com 
formação em Serviço Social, Psicologia, Pedagogia e Psicopedagogia; nove chefias 
administrativas; vinte e três Assistentes Sociais; onze Psicólogos; quatorze Estagiários 
de Serviço Social ou Psicologia; dezesseis funcionários exercendo funções 
administrativas; treze Orientadores de Atividades, desenvolvendo ações de inclusão 
produtiva; quatro cozinheiras e oito auxiliares operacionais. 
 
A inserção do Psicólogo na Assistência Social 
A presença do psicólogo nos serviços de Assistência Social é anterior ao 
estabelecimento da Política Nacional de Assistência Social. No entanto, com a 
implantação da política, suas normas e diretrizes, o psicólogo aparece como integrante 
efetivo da equipe de referência dos Centros de Referência da Assistência Social – 
CRAS, enquanto um dos técnicos de nível superior. 
Na cidade de Guarulhos, considerada uma metrópole por seu número de 
habitantes, o psicólogo garante sua presença em todos os CRAS e atua, com os 
assistentes sociais, nos vários serviços socioassistenciais desenvolvidos nos 
equipamentos. 
Constatamos com este fato que a dimensão psíquica e subjetiva são legitimadas 
na análise e compreensão dos processos de exclusão social, na construção e manutenção 
5 
 
das desigualdades sociais e das situações de vulnerabilidades, riscos e violações dos 
direitos sociais de cidadania. 
A população usuária dos serviços e benefícios da assistência social ocupa uma 
posição de miséria social crônica, já que são famílias que freqüentam há décadas os 
equipamentos públicos de assistência social ou entidades, igrejas, instituições, ONGs, 
etc. 
O que se verifica é que os benefícios materiais ofertados nos CRAS não 
garantem a inclusão social das famílias, o acesso ao mercado de trabalho, muito menos 
o desenvolvimento da autonomia dos sujeitos. Pelo contrário, percebe-se a manutenção 
da necessidade de ajuda do Estado para a garantia do mínimo ao sustento das suas 
necessidades básicas. 
Nesse sentido, ganha amplitude o acompanhamento das famílias que recebem 
esses benefícios. As atividades, encontros e projetos que se desenvolvem junto com elas 
têm o objetivo de fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, o 
desenvolvimento da autonomia e o empoderamento com relação à luta pelos direitos 
individuais e sociais garantidos na constituição de 1988. 
Uma das estratégias mais utilizadas no município e previstas na Tipificação 
Nacional dos Serviços Socioassistenciais, é o grupo socioeducativo. Nele, o profissional 
pode levantar e promover a discussão de temas de relevância para a comunidade, 
construir projetos junto com os usuários, proporcionar atividades de convivência e de 
lazer, ou seja, é um modelo aberto, onde o profissional pode criar uma nova relação 
com a comunidade, construindo novos modos de atuar nela, novos agenciamentos para 
a afirmação dos direitos. 
Nessa perspectiva de trabalho de acompanhamento das famílias, visando uma 
nova relação deste usuário com a assistência, que inclua a sua independência desta 
política pública, a dimensão do desejo do sujeito, resgatada pelo trabalho do psicólogo, 
é um ponto de sustentação no compromisso dele com as atividades ofertadas e na 
investigação, identificação e intervenção de possibilidades de estratégias de inclusão 
social. A dimensão do desejo deve estar articulada com as ações planejadas e 
desenvolvidas pela equipe técnica. 
 Se sabemos que uma das faces da inclusão social é o sentimento de não-
pertença à sociedade, que em alguns casos chega à despersonalização, é pela via do 
desejo que será possível construir uma nova relação de confiança com a sociedade, para 
6 
 
                                                           
então restabelecer vínculos sociais, familiares e comunitários, que podem propiciar a 
saída da situação de vulnerabilidade social. 
Aqui, a singularidade do desejo de cada sujeito deve ser valorizada e trabalhada, 
em um CRAS flexível e aberto à diversidade das famílias que compõem o complicado 
cenário das comunidades em situação de vulnerabilidade social4, ofertando diversos 
espaços socioeducativos e de convivência, dentro e fora do equipamento, de modo que 
atinjam a complexidade de sua demanda. 
De forma complementar às diretrizes traçadas pela Política Nacional de 
Assistência Social e pela Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS – 
NOB/RH, a publicação “Orientações Técnicas: Centro de Referência de Assistência 
Social – CRAS”, do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS, 
lançada em 2009, preocupa-se em detalhar o perfil e as atribuições dos profissionais de 
nível técnico, sem diferenciá-los em relação à sua formação. 
Mais adiante aborda especificamente o que os profissionais de psicologia não 
devem adotar como prática no trabalho no CRAS: o atendimento psicoterapêutico, a 
“patologização” ou categorização dos usuários nos atendimentos. Continua a orientação 
elencando como utilizar seus recursos teóricos e técnicos, com o intuito de: 
“a) compreender os processos subjetivos que podem gerar ou contribuir 
para a incidência de vulnerabilidade e risco social de famílias e indivíduos; 
b) contribuir para a prevenção de situações que possam gerar a ruptura dos 
vínculos familiares e comunitários, e c) favorecer o desenvolvimento da 
autonomia dos usuários do CRAS” (Orientações Técnicas: Centro de 
Referência de Assistência Social – CRAS, 2009, p.65). 
 
É interessante pensarmos sobre os motivos que levaram o MDS a considerar 
necessário delimitar o que o psicólogo deve ou não realizar no CRAS, no entanto, a 
preocupação com a orientação não se estende aos profissionais do serviço social. Talvez 
esteja implícita a idéia de que o psicólogo não compreenda tão claramente quanto o 
assistente social o seu papel dentro da Proteção Social Básica. 
Historicamente a Psicologia como profissão foi regulamentada no início da 
década de 60, período da ditadura militar, em que não era possível colocar em pauta as 
 
4  Segundo  a  PNAS,  entende‐se  por  vulnerabilidade  social:  famílias  e  indivíduos  com  perda  ou  fragilidade  de  vínculos  de 
afetividade, pertencimento e  sociabilidade;  ciclos de vida;  identidades estigmatizadas em  termos étnico,  cultural e  sexual; 
desvantagem pessoal resultante de deficiências; exclusão pela pobreza e, ou, no acesso às demais políticas públicas; uso de 
substâncias psicoativas; diferentes formas de violência advinda do núcleo familiar, grupos e  indivíduos;  inserção precária ou 
não inserção no mercado de trabalho formale informal; estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem 
representar risco pessoal e social.  
7 
 
questões sociais. Consequentemente, a origem da profissão tornou-se bastante elitizada, 
reforçando a idéia de que o psicólogo tem sua prática mais voltada para o sofrimento 
psíquico dos indivíduos em detrimento de olhares mais ampliados acerca das questões 
sociais. Apenas na última década pôde-se observar um aumento gradativo na inserção 
dos psicólogos nas políticas públicas. 
Para contribuir com a discussão do papel do psicólogo enquanto técnico de 
referência do CRAS, inserido numa equipe interdisciplinar, alguns documentos vêm 
sendo publicados pelos conselhos que regulamentam as profissões de assistente social e 
psicólogo, demonstrando uma preocupação em oferecer parâmetros para a atuação dos 
mesmos na Assistência Social. Em 2007, conjuntamente, o Conselho Federal de 
Psicologia – CFP e Conselho Federal de Serviço Social – CFESS publicaram o 
documento Parâmetros para atuação de assistentes sociais e psicólogos (as) na 
Política de Assistência Social. No mesmo ano, o CFP publicou “Referência técnica 
para atuação do(a) psicólogo(a) no CRAS/SUAS”. 
Esses documentos se propõem a contribuir com a reflexão da dimensão ético-
política da Assistência Social e sobre a atuação do psicólogo no CRAS, no entanto não 
são suficientes para responder às várias questões que se colocam a partir da prática 
cotidiana de seu trabalho e da articulação dos saberes específicos numa atuação 
interdisciplinar. 
Como construir e manter aberto um canal de diálogo entre os técnicos de 
referência no sentido de articulação de seus saberes sem que percam suas 
especificidades? Como conciliar as diferentes demandas trazidas pelos diversos atores 
na dinâmica do trabalho do CRAS? Como fazer para que a psicologia seja realmente 
percebida como um saber necessário e complementar na busca da garantia de direitos 
dos usuários da Política Nacional de Assistência Social? 
 
A Equipe Interdisciplinar no CRAS. 
A publicação “Orientações Técnicas: Centro de Referência de Assistência Social 
– CRAS” enfatiza a importância do trabalho em equipe e interdisciplinar, 
compreendendo 
“que o principal objeto de ação da política de assistência social – as 
vulnerabilidades e riscos sociais – não são fatos homogêneos e simples, mas 
complexos e multifacetados, que exigem respostas diversificadas alcançadas 
por meio de ações contextualizadas e para as quais concorrem contribuições 
8 
 
construídas coletivamente e não apenas por intermédio do envolvimento 
individualizado de técnicos com diferentes formações” (2009, p.64). 
Prossegue dizendo que “o trabalho interdisciplinar exige que uma equipe 
multiprofissional supere a abordagem tecnicista, segundo a qual o trabalho 
de profissionais de diferentes áreas é enfocado como uma atribuição 
específica e independente” (p.65). 
Assim, tanto o psicólogo do CRAS, como o assistente social, são considerados 
técnicos de referência. Isso pressupõe um modo de organização de trabalho 
multidisciplinar, onde os profissionais estão presentes nas diversas atividades, sem 
perder suas especificidades. Visto que todas as etapas de trabalho são oportunidades de 
se lidar com os vínculos, a subjetividade implicada na objetividade da miséria, o desejo 
e a adesão dos usuários nas atividades oferecidas, assim, o psicólogo, na equipe de 
referência, atua em todos os serviços socioassistenciais. 
 Em nossa prática cotidiana verificamos que há uma disponibilidade por 
parte dos profissionais, tanto psicólogos quanto assistentes sociais, em buscar uma 
aproximação e integração de seus saberes, sendo pauta comum em encontros mensais 
organizados pela equipe técnica da Proteção Social Básica. No entanto, no dia-a-dia do 
trabalho, tendo que atender as demandas dos gestores e as demandas dos usuários, a 
divisão do trabalho passa a ser mais aritmética do que técnica. 
 Como define LEVY (2001), o termo demanda pode trazer três 
significados diferentes: a demanda econômica, a psicológica e a social. No primeiro 
sentido, vincula-se a um objeto, um bem ou a uma relação de troca, assemelhando-se à 
noção de oferta e de encomenda. Pressupõe uma ordem ou pedido por uma das partes e 
uma submissão daquele a quem esta se dirige. A demanda psicológica refere-se a um 
desejo, uma falta dirigida a alguém a quem se espera que vá supri-la, sendo, portanto 
mais difícil de formulá-la e de interpretá-la. E, finalmente as demandas sociais que são 
aquelas que emergem em situações coletivas, resultando em vivências compartilhadas e 
que podem produzir efeito nas situações que as originaram. 
A equipe interdisciplinar em seu trabalho no CRAS deve lidar com as demandas 
econômicas, vindas dos gestores (metas de atendimento, preenchimento de vagas nos 
programas de transferência de renda), bem como com as demandas psicológicas trazidas 
pelos sujeitos que atende, estando disposto a receber as demandas sociais com sua 
dimensão intersubjetiva, reconhecê-las como tal e levar os seus solicitantes a também 
reconhecê-las como questão. 
Estamos diante de uma equação que não que não se resolve em que temos que 
considerar as diversas demandas elencadas acima, além da demanda prática cotidiana da 
9 
 
equipe que implica em encontrar espaços para discutir, planejar e efetivar o trabalho 
conjunto. 
 
Considerações Finais 
Esse panorama traçado até aqui nós coloca diante de desafios bastante 
complexos, porém que precisam ser superados para que a Política Nacional de 
Assistência Social, em processo de consolidação, possa verdadeiramente garantir o 
acesso e manutenção dos direitos sociais. 
É necessário que o psicólogo, trabalhador de uma política pública, parte de uma 
equipe multidisciplinar, conquiste a confiança necessária de gestores e demais 
integrantes das equipes de referência dos CRAS. Que se sinta legitimado em sua 
atuação enquanto um profissional que articulado com o projeto elaborado por uma 
equipe integrada, possa provocar impactos na dimensão da subjetividade dos 
indivíduos, a partir de uma postura ético-política fortalecendo o processo de superação 
das situações de vulnerabilidade social favorecendo a conquista da autonomia dos 
usuários do sistema. 
Por outro lado, é fundamental que os gestores municipais, executores de uma 
política nacional, percebam a necessidade de investimentos na área de assistência social. 
Atualmente, ela ainda carrega os resquícios de uma época recente da história em que o 
Estado apenas se preocupava com a manutenção da necessidade de dependência do 
indivíduo em relação a ele. 
Nos municípios brasileiros é comum os baixíssimos orçamentos destinados à 
Assistência Social. No município de Guarulhos, a luta na câmera dos vereadores é de 
que o repasse chegue ao menos a 1 %. 
Como reflexo disso temos o número de equipamentos insuficientes e 
inadequados para o tipo de serviço realizado, falta de padronização e mínimo de 
qualidade estrutural, onde até mesmo os códigos de ética dos profissionais são 
colocados à prova: falta de salas que garantam a privacidade do usuário e o sigilo 
profissional, falta de local que assegure a confidencialidade dos prontuários, falta de 
investimento em sistemas de gestão de informação, equipes de referência incompletas. 
Apontamos ainda como necessidade para a consolidação da Política Nacional de 
Assistência Social nas esferas municipais, um investimento governamental no sentido 
de considerá-la de fato uma política de estado. 
10 
 
A Assistência Social demonstra ser muito frágil e, comumente é confundida com 
política de governo, com descontinuidade das ações no serviço público à partir de trocasfreqüentes de seus gestores. Muitas vezes é instrumentalizada como um grande vetor de 
votos, ao invés de ser afirmada como política de Estado e de direito social. 
Faz-se necessário alterar a visão de uma política primordialmente assistencialista 
tornando-a efetivamente libertadora, emancipatória, e garantidora da autonomia social e 
política do cidadão atendido pela Política Nacional, e que os gestores também 
transformem o seu olhar em relação à pobreza, investindo em sua superação e não em 
sua manutenção. 
 
Referências Bibliográficas 
 
BRASIL. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À 
FOME (MDS). CONSELHO NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (CNAS). 
Resolução nº 145 de 15 de outubro de 2004. Política Nacional de Assistência Social – 
PNAS. Brasília, 2004. 
BRASIL. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À 
FOME (MDS). Orientações Técnicas: Centro de Referência de Assistência Social – 
CRAS. 1. ed.. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2009. 
CENTRO DE REFERÊNCIA TÉCNICA EM PSICOLOGIA E POLÍTICAS 
PÚBLICAS (CREPOP). Referência técnica para atuação do(a) psicólogo(a) no 
CRAS/SUAS. Conselho Federal de Psicologia (CFP). Brasília: CFP, 2007. 
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (CFP). Direitos Sociais para construir 
cidadania. In: Revista Diálogos -Psicologia Ciência e Profissão. Ano 7, nº 7, 
Julho/2010. Conselho Federal de Psicologia (CFP). Brasília: CFP, 2010. 
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL (CFESS). Parâmetros para atuação 
de assistentes sociais e psicólogos(as) na Política de Assistência Social. Conselho 
Federal de Psicologia (CFP)/Conselho Federal de Serviço Social (CFESS). Brasília: 
CFP/CFESS, 2007. 
GUARULHOS. SECRETARIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E CIDADANIA (SASC). 
Plano Municipal de Assistência Social de Guarulhos 2009 – 2012. Prefeitura Municipal 
de Guarulhos/Kairós Desenvolvimento Social. Guarulhos, 2009. 
LEVY, A. A Psicossociologia: Crise ou Renovação?. In: MACHADO, M. M. N., 
CASTRO, E. M., ARAUJO, J. N. G., ROEDEL, S. (Orgs.) Psicossociologia – Análise 
social e intervenção. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. 
PORTAL DA PREFEITURA MUNICIPAL DE GUARULHOS. Disponível em 
www.guarulhos.sp.gov.br.

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