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Resumo, Civilizações Antigas

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A História Antiga compreende um vasto período da história da humanidade que se inicia com o aparecimento da escrita cuneiforme e vai até a tomada do Império Romano pelos bárbaros.
A historiografia tradicional costuma dividir o estudo da história em períodos. Esses períodos são baseados em grandes transformações das formas de vida do homem, seus relacionamentos e concepções de mundo. Sob esta perspectiva, a história da humanidade estaria dividida nas seguintes fases: Pré-História, História Antiga, História Medieval, História Moderna e História Contemporânea. O atentado terrorista ocorrido no dia 11 de setembro de 2001 ficou reconhecido como um evento que rompeu com a estabilidade existente no mundo, por isso há rumores entre os historiadores e cientistas sociais que a data inaugurou uma nova fase na história da humanidade, chamada inicialmente de História Pós-Contemporânea.
O modelo clássico de divisão da história da humanidade, todavia, passou a ser muito questionado. O modo como é apresentado faz parecer que o mundo todo se alterou a partir de datas específicas, o que, obviamente, não corresponde à realidade. Todos esses períodos são dinâmicos, características de cada fase aparecem em períodos anteriores ou posteriores, como fruto das variáveis relações humanas. Outro argumento que desqualifica o modo tradicional de como a História é dividida tem por base o fato de que todos os períodos são determinados em relação aos eventos oriundos das civilizações européias. Assim, os continentes americano, africano e a Oceania só aparecem na História a partir da Idade Moderna, como se não houvesse civilizações nesses ambientes antes da chegada dos europeus.
A História Antiga, por sua vez, possui um recorte temporal que se inicia em 4.000 a.C. e se estende até o ano 476. Essas balizas representam o surgimento da escrita cuneiforme e a invasão e tomada do Império Romano pelos bárbaros. Logicamente, esse vasto período da humanidade inclui muitas civilizações, não somente na Europa. É muito comum associar História Antiga com Egito, Mesopotâmia, Grécia e Roma. Mas devemos atentar para várias outras civilizações importantes para a história da humanidade. Essa visão tradicional faz parecer que cada um desses povos eram auto-suficientes e herméticos, enquanto, na verdade, influenciaram e também receberam influências fundamentais de outros povos.
É verdade, contudo, que é muito complicado estudar todos os povos da antiguidade. Identificá-los já é um trabalho árduo por si só. Além disso, a existência de fontes que permitam o trabalho dos historiadores é muito escassa. O trabalho com História Antiga necessita muito empenho, uma vez que muitas fontes se perderam no tempo e outras são redigidas em línguas as quais não foram ainda decifradas.
Entre as civilizações mais recorrentes e conhecidas da História Antiga estão: a civilização do Egito Antigo, a mesopotâmica, o povo Hebreu, os fenícios, os persas, os chineses, os hindus, os cretenses, os gregos, os macedônicos e os romanos.
A civilização do Egito Antigo se formou no vale do rio Nilo, no nordeste da África. Esse povo se organizou em torno de 3.200 a. C. como um império.
A Mesopotâmia, localizada na Ásia Menor, reuniu uma civilização entre os rios Tigre e Eufrates e tinha como povos mais importantes os sumérios e os babilônios.
O povo Hebreu representa um dos casos em que a origem ainda é desconhecida. Os hebraicos foram responsáveis pela história da Antiga Israel.
Os fenícios eram um povo de origem semita localizados na costa oriental do mar Mediterrâneo. Surgiram em torno do ano 3.000 a.C.
O Império Persa ocupou toda a Ásia Menor ao longo de dois séculos de existência. Sua grande civilização começou em 549 a.C. e terminou em 3330 a.C. quando foi dominada pelos macedônios.
Os chineses permaneceram isolados por muito tempo em decorrência de seu próprio isolamento geográfico. A civilização chinesa encontrava-se no extreme oriente, mas por si só foram responsáveis por grandes descobertas e invenções na história da humanidade. Sabe-se que em torno de 1.500 a.C. os chineses estavam bem organizados sob a forma de um reino. Sua civilização durou por muitos séculos.
A civilização hindu ocupou a Índia em torno de 2.000 a.C. e também ficou distanciada de outros povos por causa da posição geográfica. Da mesma forma que a China, muitas invenções importantes para a história da humanidade vieram dos hindus.
A civilização de Creta foi contemporânea ao Egito Antigo e estava localizada numa ilha do mar Mediterrâneo. Estava perto da Grécia e da Ásia Menor. Desenvolveram uma cultura muito rica desde o terceiro milênio a.C. e foram muito influentes para a cultura grega.
Os gregos, por sua vez, ocuparam uma península banhada pelo mar Jônico, o Egeu e o Mediterrâneo desde o século XX a.C. Muito influentes para a história da humanidade, suas principais cidades eram Atenas e Esparta.
O Império Macedônico foi organizado por Filipe II e conquistou um grande território sob o reinado de Alexandre, o Grande. A expansão do Império Macedônico, que começou no século IV a.C., causou a fusão de culturas, gerando acultura helenística.
Os romanos representaram uma enorme civilização desenvolvida a partir da península Itálica, na Europa. A fundação de Roma ainda é um mistério para os historiadores, mas o império que se formou influenciou a vida e a cultura na Europa, África e Ásia por séculos. Sua queda se deu em 476 a.C. e marcou o início de uma nova fase da história da humanidade.
Mesopotâmia
A arte da Mesopotâmia desenvolveu-se ao longo de muitos séculos, perpassando por diferentes civilizações, não sendo, portanto, muito coesa em suas manifestações. Os povos mesopotâmicos são as civilizações que se desenvolveram na área das terras férteis localizadas entre os rios Tigre e Eufrates. Entre eles estão os sumérios, os assírios e os babilônios.
Arquitetura
A arquitetura, a mais desenvolvida das artes, não era porém tão notável quanto a egípcia. Caracterizou-se pelo exibicionismo e pelo luxo. Construíram templos e palácios, que eram considerados cópias dos existentes nos céus, de tijolos, por ser escassa a pedra na região. O zigurate, torre de vários andares, foi a construção característica das cidades-estados sumérias. Nas construções, empregavam argila, ladrilhos e tijolos.
Escultura
Muitas obras de escultura mesopotâmica se perderam por terem sido executadas em argila. Estátuas de pedra ou outros materiais mais resistentes são raras, e representam sempre a realeza ou altos dignitários.
Pintura
Na pintura os artistas se utilizavam de cores claras e reproduziam caçadas, batalhas e cenas da vida dos reis e dos deuses.
Cerâmica e ourivesaria
A produção de objetos de cerâmica alcançou notável desenvolvimento entre os persas, que utilizavam também tijolos esmaltados. Além disso, na Mesopotâmia a ourivesaria era uma das atividades artísticas mais importantes. Estatuetas de cobre, colares e braceletes, assim como utensílios trabalhados em ouro e prata com incrustações de pedras eram muito comuns, e com estilos variados dada a diversidade de povos que ocuparam a região.
Egito
A arte egípcia refere-se à arte desenvolvida e aplicada pela civilização do antigo Egito localizada no vale do rio Nilo no Norte da África. Esta manifestação artística teve a sua supremacia na religião durante um longo período de tempo, estendendo-se aproximadamente pelos últimos 3000 anos antes de Cristo e demarcando diferentes épocas que auxiliam na clarificação das diferentes variedades estilísticas adoptadas: Período Arcaico, Império Antigo, Império Médio, Império Novo, Época Baixa,Período Ptolemaico e vários períodos intermédios, mais ou menos curtos, que separam as grandes épocas, e que se denotam pela turbulência e obscuridade, tanto social e política como artística. Mas embora sejam reais estes diferentes momentos da história, a verdade é que incutem somente pequenas nuances na manifestação artística que, de um modo geral, segue sempre uma vincada continuidade e homogeneidade.
O tempo e os acontecimentoshistóricos encarregaram-se de ir eliminando os vestígios desta arte ancestral, mas, mesmo assim, foi possível redescobrir algo do seu legado no século XIX, em que escavações sistemáticas trouxeram à luz obras capazes de fascinar investigadores, coleccionadores e mesmo o olhar amador. A partir do momento em que se decifram os hieróglifos na Pedra de Roseta é possível dar passos seguros a caminho da compreensão da cultura, história, mentalidade, modo de vida e naturalmente da motivação artística dos antigos egípcios.
A arte do antigo Egito serve políticos e religiosos. Para compreender a que nível se expressam estes objetivos é necessário ter em conta a figura do soberano absoluto, o faraó. Ele é dado como representante de Deus na Terra e é este seu aspecto divino que vai vincar profundamente a manifestação artística.
Deste modo a arte representa, exalta e homenageia constantemente o faraó e as diversas divindades da mitologia egípcia, sendo aplicada principalmente a peças ou espaços relacionados com o culto dos mortos, isto porque a transição da vida à morte é vista, antecipada e preparada como um momento de passagem da vida terrena à vida após a morte, à vida eterna e suprema.
O faraó é imortal e todos seus familiares e altos representantes da sociedade têm o privilégio de poder também ter acesso à outra vida. Os túmulos são, por isto, dos marcos mais representativos da arte egípcia, lá são depositados as múmias ouestátuas (corpo físico que acolhe posteriormente a alma, ka) e todos os bens físicos do cotidiano que lhe serão necessários à existência após a morte.
Estilo e normas
Pintura de oferendas na câmara tumular de Menna.
Pintura na câmara tumular de Nefertari, mulher de Ramsés II.
Todas as representações artísticas estão repletas de significados que ajudam a caracterizar figuras, a estabelecer níveis hierárquicos e a descrever situações. Do mesmo modo a "simbologia" serve à estruturação, à simplificação e clarificação da mensagem transmitida criando um forte sentido de ordem e racionalidade extremamente importantes.
A harmonia e o equilíbrio devem ser mantidos, qualquer perturbação neste sistema é, consequentemente, um distúrbio na vida após a morte. Para atingir este objetivo de harmonia são utilizadas linhas simples, formasestilizadas, níveis rectilíneos de estruturação de espaços, manchas de cores uniformes que transmitem limpidez e às quais se atribuem significados próprios.
A hierarquia social e religiosa traduz-se, na representação artística, na atribuição de diferentes tamanhos às diferentes personagens, consoante a sua importância. Como exemplo, o faraó será sempre a maior figura numa representação bidimensional e a que possui estátuas e espaços arquitectónicos monumentais. Reforça-se assim o sentido simbólico, em que não é a noção de perspectiva (dos diferentes níveis de profundidade física), mas o poder e a importância que determinam a dimensão.
As cores
A arte egípcia, à semelhança da arte grega, apreciava muito as cores. As estátuas, o interior dos templos e dos túmulos eram profusamente coloridos. Porém, a passagem do tempo fez com que se perdessem as cores originais que cobriam as superfícies dos objetos e das estruturas.
As cores não cumpriam apenas a sua função primária decorativa, mas encontravam-se carregadas de simbolismo, que se descreve de seguida:
Preto (kem): era obtido a partir do carvão de madeira ou de pirolusite (óxido de manganésio do deserto do Sinai). Estava associado à noite e à morte, mas também poderia representar a fertilidade e a regeneração. Este último aspecto encontra-se relacionado com as inundações anuais do Nilo, que trazia uma terra que fertilizava o solo (por esta razão, os Egípcios chamavam Khemet, "A Negra", à sua terra). Na arte o preto era utilizado nas sobrancelhas, perucas, olhos e bocas. O deusOsíris era muitas vezes representado com a pele negra, assim como a rainha deificada Amósis-Nefertari.
Branco (hedj): obtido a partir da cal ou do gesso, era a cor da pureza e da verdade. Como tal era utilizado artísticamente nas vestes dos sacerdotes e nos objetos rituais. As casas, as flores e os templos eram também pintados a branco.
Vermelho (decher): obtido a partir de ocres. O seu significado era ambivalente: por um lado representava a energia, o poder e a sexualidade, por outro lado estava associado ao maléfico deus Set, cujos olhos e cabelo eram pintados a vermelho, bem como ao deserto, local que os Egípcios evitavam. Era a vermelho que se pintava a pele dos homens.
Amarelo (ketj): para criarem o amarelo, os Egípcios recorriam ao óxido de ferro hidratado (limonite). Dado que o sol e o ouro eram amarelos, os Egípcios associaram esta cor à eternidade. As estátuas dos deuses eram feitas a ouro, assim como os objetos funerários do faraó, como as máscaras.
Verde (uadj): era produzido a partir da malaquite do Sinai. Simboliza a regeneração e a vida; a pele do deus Osíris poderia ser também pintada a verde.
Azul (khesebedj): obtido a partir da azurite (carbonato de cobre) ou recorrendo-se ao óxido de cobalto. Estava associado ao rio Nilo e ao céu. preto
Lei da Frontalidade
Embora seja uma arte estilizada é também uma arte de atenção ao pormenor, de detalhe realista, que tenta apresentar o aspecto mais revelador de determinada entidade, embora com restritos ângulos de visão. Para esta representação são só possíveis três pontos de vista pela parte do observador: de frente, de perfil e de cima, e que cunham o estilo de um forte componente de estática, de uma imobilidade solene.
O corpo humano, especialmente o de figuras importantes, é representado utilizando dois pontos de vista simultaneos, os que oferecem maior informação e favorecem a dignidade da personagem: os olhos, ombros e peito representam-se vistos de frente; a cabeça e as pernas representam-se vistos de lado.
O fato de, ao longo de tanto tempo, esta arte pouco ter variado e se terem verficado poucas inovações, deve-se aos rígidos cânones e normas a que os artistas deveriam obedecer e que, de certo modo, impunham barreiras ao espírito criativo individual.
A conjugação de todos estes elementos marca uma arte robusta, sólida, solene, criada para a eternidade.
O artista
Ilustração deImhotep, o primeiro arquitecto conhecido.
Os criadores do legado egípcio chegam aos nossos dias anônimos, sendo que só em poucos casos se conhece efectivamente o nome do artista. Tão pouco se sabe sobre o seu carácter social e pessoal, que se crê talvez nem ter existido tal conceito no grupo artístico de então. Por regra, o artista egípcio não tem um sentido de individualidade da sua obra, ele efectua um trabalho consoante uma encomenda e requisições específicas e raramente assina o trabalho final. Também as limitações de criatividade impostas pelas normas estéticas, e as exigências funcionais de determinado empreendimento, reduzem o seu campo de actuação individual e, juntamente com o facto de ser considerado um executor da vontade divina, fazem do artista um elemento de um grupo anónimo que leva a cabo algo que o transcende.
O trabalho é efectuado em oficinas, onde se reúnem os executores e os seus mestres nas diferentes tipologias artísticas, escultores, pintores, carpinteiros e mesmo embalsamadores. Nestes locais trabalha-se em série e os trabalhos saem em série.
No entanto é possível identificar diferenças entre distintas obras e estilos que reflectem traços individuais de determinados artistas, onde se observam, por exemplo, inovações a nível de composição decorativa. Do mesmo modo tanto é possível reconhecer artistas com talento, genialidade e perfeito conhecimento dos materiais em obras de grande qualidade, como artistas que se limitam a fazer cópias.
Mas o artista é também visto como um indivíduo com uma tarefa divina importante. Mesmo que se trate de um executor ele necessita de contacto com o mundo divino para poder receber a sua força criadora. Sem ele não seria possível tornar visível o conteúdoespiritual, o invisível. O próprio termo para designar este executor, s-ankh,significa o que dá vida.
Variantes temporais
A arte egípcia prima, de um modo geral, pela constante homogeneidade e expressa um mundo pictórico e formal únicos. Esta característica cunha a arte de tal modo, que a identificação de determinada obra como pertencente a este grande movimento estilístico não oferece dificuldade. Contudo existem algumas nuances no seu eixo estruturador que são, em grande parte, resultado da sucessão de acontecimentos históricos.
Período Arcaico ou Tinita
Durante o Período Arcaico, e após a descoberta da escrita, o Egipto está unido e o seu desenvolvimento acelera, estabelecendo-se e cristalizando-se já aqui os traços principais do que será a arte egípcia. Pouco sobreviveu desta época, mas alguns túmulos e o seu respectivo recheio possibilitam uma ideia da arte da época. Perde-se o primitivismo formal e são ainda presentes algumas influências da arte mesopotâmica, especialmente nas fachadas de templos, e domina ainda o uso do adobe cozido ao sol, substituído no final do período pela pedra.
Império Antigo
Pirâmides de Gizé
A III dinastia é remetida por alguns autores já para o início do Império Antigo. Com a transição para a pedra surge também a arquitectura monumental e a vincada noção egípcia de eternidade vinculada ao faraó. A mastaba assume-se como o túmulo para particulares por excelência, inicialmente em forma quadrangular ou de pirâmide truncada (mais tarde a pirâmide de degraus). As proporções do corpo humano tornam-se mais equilibradas e harmoniosas, cresce a atenção ao pormenor. É também desta altura Imhotep, o nome do primeiro construtor a ficar registrado, responsável pelo uso da pedra talhada e da sua aplicação, não só a uma função, como também a objetivos expressivos. A edificação assume um objetivo simbólico.
Com o Império Antigo estabelece-se a calma e a segurança, bases ao próspero e veloz desenvolvimento da sociedade onde se estabelecem hierarquias governamentais. Durante a IV dinastia edificam-se as monumentais pirâmides faraónicas deGizé (Quéfren, Quéops e Miquerinos) que fascinam pela sua impressionante construção. Talha-se a Esfinge perto da pirâmide de Quefren em dimensões monumentais, assumindo-se e homenageando-se o poder faraónico, embora na V dinastiase reduzam as dimensões monumentais para proporções mais humanas. É também nesta altura que se impulsiona o gosto pelas estátuas-retrato de grande robustez pelo seu volume cúbico e imobilidade. As figuras apresentam-se de pé (em que a perna esquerda avança ligeiramente à frente) ou sentadas (na V dinastia surge também a posição do escriva sentado de pernas cruzadas) e denota-se a diferente coloração da pele usada nas figuras masculinas (mais escura) e femininas (mais clara). Em termos de decoração tumular propagam-se as representações realistas do quotidiano.
Escultura
Uma tríade de Miquerinos
No que diz respeito à escultura podem ser estabelecidas diferenças de concepção entre a estatuária real e a estatuária de particulares. Na primeira verifica-se um desejo de imponência, enquanto que a segunda tende para um maior realismo, detectável em trabalhos como o grupo escultórico de Rahotep e Nofert (IV dinastia).
A estátua do rei Djoser colocada no serdab do seu complexo funerário em Sakara revela ainda ligações com a arte do período anterior, mas como o rei Khafré e a sua conhecida estátua em diorite na qual o deus-falcão Hórus protege com as suas asas, oriunda do seu templo funerário em Guiza, nota-se já uma evolução. Do rei Miquerinos chegaram até aos dias de hoje as chamadas díades e tríades. As primeiras consistem em estátuas do rei com a sua esposa, a rainha Khamerernebti II. Quanto às tríades, o rei surge representado com a deusa Hathor e uma personificação de um nomo.
Do tempo da V dinastia são escassas as estátuas de reis, mas em compensação abundam as estátuas de particulares. São desta época as várias estátuas de escribas que se encontram hoje em dia no Museu Egípcio do Cairo e no Museu do Louvre, que retratam estes funcionários na pose de pernas cruzadas, uma forma de representação que se manterá até à Época Greco-Romana.
Os materiais utilizados na escultura deste período foram diorite, granito, xisto, basalto, calcário e alabastro.
Primeiro Período Intermediário
Os tempos políticos conturbados reflectem-se também na arte tornando-a quase inexistente e com uma maior incidência nos textos literários, que expressam a revolução espiritual da época. Através das pilhagens de túmulos, a arte restrita dos faraós e figuras de maior importância passa para a mão do homem “mortal” que acredita ter o mesmo privilégio da vida eterna.
Império Médio
Após o período de decadência do poder central e de instabilidade política que foi o Primeiro Período Intermediário (e que se reflectiu na arte com o abandono dos cânones estabelecidos) inicia-se o Império Médio que corresponde à XI e XII dinastias.
Arquitetura
Na arquitetura adaptam-se os padrões estilísticos anteriores ao nível da construção, procurando-se retomar a construção de pirâmides. Contudo, estas pirâmides não atingem a grandeza das pirâmides do Império Antigo. Construídas com materiais de baixa qualidade e com técnicas deficientes, o que resta hoje destas construções é praticamente um monte de escombros. As mais altas pirâmides construídas nesta época foram a de Sesóstris III (78 metros) e a de Amenemés III (75 metros).
Mentuhotep, monarca que reunificou o Egipto após o Primeiro Período Intermediário, manda construir na região de Tebas Ocidental o seu complexo funerário, no qual se detectam elementos da arquitectura do Império Antigo, como um templo do vale que conduz através de um caminho processional ao templo funerário junto à rocha.
Pintura e estrutura
A principal característica da pintura e baixos-relevos egípcios é a representação de figuras humanas segundo a lei da frontalidade, ou seja, com a cabeça e os pés de perfil e o resto do corpo de frente. Da escultura egípcia destaca-se o contraste entre estátuas colossais, rígidas e sem expressão dos faraós e as estatuetas de particulares, tais como funcionários e escribas, as quais apresentavam expressividade e naturalismo de movimentos. A expressão humana na escultura vai ganhar uma nova dimensão e realismo nesta época, passando-se a representar nas estátuas reais o envelhecimento. Mesmo a representação bidimensional perde a sua dependência dos cânones adoptando uma maior naturalidade e mesmo noções de profundidade tridimensional. Nesta época criam-se esfinges reais nas quais o rosto do monarca surge emoldurado por uma juba, como é o caso de uma esfinge de Amenemés III. Os locais onde a Pintura do Antigo Egipto melhor se manifestou foram os túmulos dos governadores dos nomos, em cujas paredes se recriam cenas de caça, pesca, banquetes ou danças. Seguindo a tradição anterior, o dono do túmulo surge representado em tamanho superior às outras personagens. A pintura é realizada sobre estuque fresco ou sobre relevo.
Artes decorativas e outras artes
Hipopótamo em faiança
As artes decorativas do Império Médio conhecem uma das épocas mais importantes, sobretudo no que diz respeito aos trabalhos de joalharia. Os amuletos, os pentes, os espelhos, as caixas e as candeiais caracterizam-se pela sua beleza. São bastante conhecidos os pequenos hipopótamos em faiança decorados com motivos vegetais.
A literatura desenvolve o gosto pelo provérbio, o romance, a história, passa também a obedecer a outras funções como as de influenciar a política, homenagear faraós e mesmo descrever e caracterizar profissões. Mas também a cunhar este momento está a inquietude herdada do período anterior.
Segundo Período Intermediário
Este é mais um período escuro e de inseguridade do qual pouco se sabe e no qual se praticaram mais a matemática, a medicina e a cópia de papiros de épocas anteriores.
Império Novo
Arquitetura
Templo de Hatchepsut
No Império Novo dá-se de novo a unificação do Egipto e a arte volta ter mais uma das suas épocas de ouro, com um novo começo em que se vão reavivaras tradições do passado e em que as forças criadoras vão erguer vários edifícios de pedra de construção arrojada e que ainda hoje podem ser admirados.
Foi na capital do Império Novo, a cidade de Tebas, que se ergueram os grandes edifícios desta época. A divindade da cidade era Amon e seu principal centro de culto era o Templo de Karnak, ao qual praticamente todos os monarcas do Império Novo procuram acrescentar estruturas como pilones.
No Império Novo os reis abandonaram a tradição de serem sepultados em pirâmides, optando por mandar escavar os seus túmulos nos rochedos próximos, num local que é hoje designado como Vale dos Reis. Nesta atitude são seguidos pelos altos dignitários. A principal razão para esta mudança estaria relacionada com uma tentativa de evitar os saques. Porém, a intenção revelou-se um fracasso: dos túmulos desta era apenas chegaram intactos até à época contemporânea o de Tuntankhamon, o do casal Iuia e Tuia (genros do rei Amenófis III e pais da rainha Tié) e dos dignitários Sennedjem e Khai.
Num local conhecido como Deir el-Bahari encontra-se o templo funerário da rainha Hatchepsut, mandando construir pelo seu arquitecto Senemut. O templo enquadra-se perfeitamente na falésia de calcário em que se encontra, situando-se junto ao vizinho templo de Mentuhotep II, construído quinhentos anos antes.
A arte de Amarna
Mas ainda na XVIII dinastia dá-se, com Amenófis IV (que mudou o nome para Aquenáton), uma revolução religiosa, em que o faraó proclama um "monoteísmo" com o culto de uma só divindade, o disco solar Aton. Nesta altura propaga-se o chamado “Estilo Aquenáton” ou Estilo Amarniano (em função do nome moderno da cidade mandada construir por Aquenáton, Amarna), que se caracteriza por ser muito naturalista, em que se tenta quebrar com as regras anteriores da solidez e imobilidade. As obras deste período têm maior fluidez e flexibilidade. Principalmente na escultura assumem-se formas orgânicas e pouco geométricas, que atingem por vezes aspectos de caricatura. Os membros da família real são representados em cenas da vida familiar (aspecto completamente novo na arte egípcia) com crânios alongados, que não se sabe se seriam representações veristas da família (avançando alguns autores a hipótese de que a família real sofreria de síndrome de Marfan) ou apenas uma espécie de vanguarda artística. Apesar dos eventuais excessos, data deste período o famoso busto da esposa de Aquenáton, Nefertiti, descoberto em 1922 por uma equipa arqueológica alemã na casa do seu autor, o escultor Tutmés.
O gosto pela representação do mundo animal e vegetal está igualmente presente. Os sucessores de Aquenáton devolvem a arte aos padrões anteriores e com Tutancámon está-se já, de novo, no politeísmo.
 
Busto de Akhenaton Busto de Nefertiti
 
 
Duas filhas de Akhenaton Uma filha de Akhenaton, talvez Meketaton
Da XIX dinastia egípcia é de referir Ramsés II que impulsionou diversas construções. Neste momento dá-se o pico da pintura e do relevo e a literatura abandona o pessimismo voltando-se para o relato ligeiro de histórias mitológicas, fábulas, épicos de guerra e também para poesiaromântica. Até ao final deste período vão-se impor estilos variados não representativos, que retomam antigas tradições, especialmente a nível da escultura.
Terceiro Período Intermediário
Pendente em ouro deOsorkon II, que representa uma tríade de deuses composta por Osíris (ao centro), Hórus e Ísis
A época que se seguiu ao reinado de Ramsés III foi marcada pela progressiva desagregação do poder faraónico, sendo os últimos soberanos da XX dinastia meros reis fantoches. O Terceiro Período Intermediário, época que compreende cerca de trezentos e cinquenta anos e que corresponde à XXI até à XIV dinastias, vai continuar no essencial a arte desenvolvida no Império Novo.
Deste período destaca-se a perfeição alcançada no trabalho dos metais, que se detecta em trabalhos como as máscaras funerárias dos reis Psusennes I e Chechonk II, no pendente em ouro de Osorkon II e na estátua em bronze da adoradora divina de Amon Karomama. [1]
Época Baixa
A XXVI dinastia conseguiu reunificar o Egito, dando início à Época Baixa que se desenrola até à XXX dinastia, embora a presença de povos estrangeiros, como líbios, núbios e persas seja constante neste período.
Durante a Época Baixa, o centro do poder real vai localizar-se na região do Delta, onde se encontram as capitais das várias dinastias, como Sais, Mendes e Sebenitos. É nestas cidades que se ordenam os grandes trabalhos arquitectónicos.
Na escultura da Época Baixa verifica-se um arcaísmo, uma inspiração nos modelos da época do Império Antigo. Na XXVI dinastia nota-se igualmente o apuro na polidez da pedra, dando origem a trabalhos que alguns autores denominam como "arte lambida".
Egipto ptolemaico
Templo de Filas, em Assuão.
Em 343 a.C. o Egito assiste ao segundo período de dominação persa que termina em 332 a.C., quando Alexandre Magno conquistou o Egito. Após a sua morte será fundada no país das Duas Terras, por um dos seus generais, Ptolemeu I, uma dinastia que governará o país até à conquista romana de 30 a.C..
Apesar da sua origem macedónia, a dinastia ptolemaica adoptou as formas artísticas dos Egípcios. Os reis ptolemaicos foram representados nos templos como os antigos faraós. Das obras que ainda hoje se podem visitar no Egito permaneceram, em maior parte, as do período grego onde a arte adquire a forte influência da harmonia helenística. São desta época os conhecidos templos de Ísis em Filas, o templo de Hórus em Dendera e o templo de Edfu.
Mobiliário
O Estilo Egípcio
O Egito é considerado o berço das civilizações. Viviam para viver a eternidade. Acreditavam profundamente na imortalidade da alma. O Egito é uma espécie de oásis no centro de uma região desértica, tendo como sua alma o Rio Nilo, responsável pela fertilidade de suas terras graças às inundações periódicas.
A arte egípcia é uma arte toda voltada para o sentimento de morte e eternidade, dirigida para a religião, sendo simbólica, convencional, simétrica, equilibrada e geométrica. Tendo padrões super rigorosos que deveriam ser seguidos. Os artistas aprendiam bem cedo o estilo.
Eram características da arte egípcia: a lei do frontalidade, onde toda a figura humana é representada com o rosto de perfil, olho de frente, tronco de frente e braços e pés de perfil, com as mãos sempre sobre o joelho; os homens tinham que ser mais altos do que as mulheres e ter a pele representada com uma cor mais escura. Até 30 a.C. o Egito tem uma arte e civilização forte, sua arte estava tão ligada ao país que quando o país entra em período de declínio a arte sofre toda essa conseqüência. Sua arte permaneceu forte por 3.000 anos.
O símbolo egípcio mais conhecido é a “Pirâmide”, consideradas colossais e que até hoje causam controvérsias entre historiadores sobre como foram construídas. As pirâmides eram túmulos e foi uma construção que proliferou no Egito. Foram construídas com blocos sobrepostos sem nenhum elemento de ligação, para esses blocos ficarem perfeitamente encaixados tinham que ser polidos manualmente e os cálculos eram precisos.
 
 
Grécia
O Discóbolo de Míron, uma das mais conhecidas obras da arte grega
Por arte da Grécia Antiga compreende-se as manifestações das artes visuais, artes cênicas, literatura, música e arquitetura daquele país desde o início do período geométrico, quando, emergindo da Idade das Trevas, iniciou-se a formação de uma cultura original, até o fim do período helenístico, quando a tradição grega se dissemina por uma larga área entre a Europa, África e Ásia, abrangendo o intervalo de aproximadamente 900 até 146 a.C., data em que a Grécia caiu sob o domínio romano. Entretanto, esses limites cronológicos não são um consenso entre os historiadores.Os exemplos mais conhecidos da arte grega antiga, e os que mais profundamente influenciaram as gerações posteriores, tanto teórica como materialmente, pertencem ao período clássico, quando conheceram apreciável unidade ideológica emorfológica, encontrando os seus alicerces numa filosofia antropocêntrica de sentido racionalista que inspirou as características fundamentais deste estilo: por um lado a dimensão humana e o interesse pela representação naturalista do homem e, por outro, a tendência para o idealismo, traduzido na proposição de cânones ou regras fixas que definiam sistemas de proporções e de relações formais para as produções artísticas. A mesmo tempo, cristalizava-se o conceito depaideia, que vinha sendo elaborado desde os tempos arcaicos - um sistema de educação integral para a formação do cidadão perfeito - que previa uma função social e pedagógica para a arte, concebendo-a como uma atividade eminentemente utilitária e técnica e colocando-a na órbita dos ofícios mecânicos - de fato, somente no fim de seu ciclo a cultura grega passou a debater a ideia de que a arte poderia ter um escopo ampliado e popularizado, e ser praticada sem vínculo com a função social, e sim pelo puro prazer estético.
Porém, a arte da Grécia Antiga não se resume no período clássico, que abrange apenas pouco mais de cem anos de sua longa história, e teve manifestações de grande importância antes e depois dele, cujos conceitos e práticas eram bastante distintos. No helenismo, período que sucedeu o classicismo e representou a última floração cultural originalmente grega, embora colorindo-se de inúmeras outras influências externas, a arte passou definitivamente a se aproximar do público de um modo mais íntimo e pessoal, expressando todo o espectro da experiência humana, do cômico e do obsceno ao heroico e ao trágico, e do oficial e cívico ao prosaico e doméstico. As pesquisas mais recentes revelaram que mesmo durante o classicismo a aplicação prática dos padrões teorizados foi muito mais flexível do que se pensou durante muito tempo, abrindo espaço para variações e desvios da norma e a formação de várias escolas regionais diferenciadas.
A partir desta constatação, modernamente a arte da Grécia Antiga já não é vista como um bloco monolítico, mas sim como um corpo de expressões ricamente diversificadas, adaptáveis a contextos regionais, a influências externas e inúmeros outros determinantes. Em seu conjunto, por sua impressionante série de conquistas conceituais, formais, técnicas e funcionais, de grande consistência, forte base filosófica e ética e excitante novidade, e também pela alta sofisticação e qualidade técnica de seu produto, a arte da Grécia Antiga vem sendo, desde sua aparição, uma referência onipresente na cultura ocidental, repetidamente invocada pelos ocidentais como a mais sublime manifestação do engenho e da inspiração humana, mas sendo também, justamente por sua avassaladora influência, repetidas vezes contestada, combatida e mesmo ridicularizada, formando de qualquer maneira uma das referências mais centrais e permanentes da história da cultural ocidental. Hoje, com a grande penetração desta cultura em todo o mundo, a arte da Grécia Antiga se tornou conhecida e apreciada universalmente, recebendo imensa atenção dos estudiosos e do grande público.
O período aqui enfocado testemunhou uma série de modificações profundas na sociedade grega. Partindo de um conglomerado de tribos rurais independentes e frequentemente em guerra entre si, os genos, cujo único elo comum era a língua e a religião, e cuja cultura, dissolvida na Idade das Trevas, começava a ressurgir, os gregos encaminharam-se gradualmente para um modelo de vida urbano, constituindo-se as pólis, dominadas primeiro por uma aristocracia latifundiária, e depois por uma elite de políticos e comerciantes, dentro de uma moldura social mais ou menos democrática, na qual, porém, só tinham voz ativa os detentores do atributo da cidadania, permanecendo estrangeiros e escravos à margem dos processos decisivos, ainda que não dos produtivos e sociais. Esse modelo se difundiu, em sucessivas ondas de colonização, por toda orla do mar Mediterrâneo e trechos do mar Negro. Mais adiante, enfraquecida por guerras internas, a Grécia sofreu o domínio macedônio e posteriormente o romano, extinguindo-se como sociedade independente.1 Neste intervalo destacou-se entre eles o desejo, de índole racionalista, por um conhecimento mais completo do mundo e do homem. Em vista disso desenvolveram-se diversas ciências como a matemática, a biologia, a medicina, a geometria, a astronomia, a ciência política, a óptica, a geografia, a filosofia, a etnografia, a historiografia, e lançaram-se os fundamentos da psicologia e da psiquiatria. E para disseminar todo esse novo conhecimento, desenvolveu-se também um modelo educativo de largo escopo, conhecido como paideia, consolidado no período clássico, que objetivava em suma a educação integral do indivíduo para o perfeito domínio de si, para o exercício pleno da cidadania e para o desfrute de uma vida mais rica, saudável, harmoniosa e significativa.2 3
Naturalmente, a arte produzida nesse continuum de transformações refletiu-as de variadas maneiras, tanto em termos de estilo quanto de significado e função. Permaneceram mais ou menos constantes, porém, alguns traços comuns, regidos pelo conceito básico da kalokagathia, o qual associava a beleza com as virtudes morais, religiosas e cívicas. A arte não era vista como uma atividade meramente decorativa, mas engajava-se profundamente, como disse Andrew Stewart, na construção e transformação da sociedade e na consagração de ideologias específicas. Por isso, estava sujeita a uma série de convenções que impunham ao artista a criação de produtos socialmente significantes, capazes de, atendendo às formulações da kalokagathia, ao mesmo tempo adornar as cidades mas acima de tudo servir como modelos educativos. Sequer havia naquele tempo uma palavra para designar arte como hoje a entendemos - uma atividade livre de compromissos e nascida em grande medida da criatividade e da iniciativa individuais do artista -, mas falava-se em techné, um termo de difícil tradução que equivale aproximadamente a técnica, habilidade ou tecnologia, que tinha conotações práticas e que podia se aplicar a qualquer atividade. Assim, a arte grega era essencialmente uma criação urbana de características funcionais e de fundo moral, sagrado e/ou político, que elevou o homem a uma condição exaltada. Boa parte do que se criou então foi encomendado pelo Estado - era destinado ao culto, ou era concebido como monumento público, celebrando heróis, atletas e outras figuras por algum motivo notáveis e exemplares. Outras obras perenizavam episódios mitológicos e conquistas coletivas, como eventos históricos importantes ou os sucessos militares recentes, ou declaravam a superioridade cultural dos gregos sobre outros povos, segundo a sua própria visão. Isso, mais a concepção da arte como um instrumento pedagógico, fez com que muito da arte grega tivesse características idealistas em formas austeras, equilibradas e nobres, ao mesmo tempo em que mantinha uma correlação íntima com a realidade concreta na forma de um concomitante interesse pela representação naturalista, uma tendência visível em particular do período clássico em diante, o que criou uma síntese original e de duradoura influência sobre a posteridade do ocidente,4 já tendo antes, no período arcaico, sido um elemento formativo determinante na arte etrusca5 e na cultura das regiões colonizadas.6 No período helenístico, porém, verificou-se uma mudança de ênfase na paideia, passando a privilegiar os aspectos puramente culturais em detrimento dos morais. Também se modificaram as características e objetivos da arte, absorvendo influências de várias partes e tornando-se mais eclética, dramática, prosaica, sofisticada e historicista, passando sua função pública para um lugar secundário e emergindo os interesses individuais ao primeiro plano. Por outro lado, foi a fase em que a artegrega se internacionalizou através das expedições guerreiras de Alexandre Magno, chegando à Índia e ao Egito, e depois, sendo absorvida pela cultura romana, passou a constituir a base de toda a sua própria arte, exercendo grande impacto em uma vasta região da Europa, de onde foi transmitida para os séculos seguintes.7 8 9
Arquitetura
Partenon de Atenas.
As três ordens gregas (dórica, jônica e coríntia).
A arquitetura grega iniciou seu florescimento somente por volta da primeira Olimpíada, em 776 a.C. As habitações eram em geral muito simples e os principais representantes da arquitetura, nesta fase, são os templos em pedra, em especial o mármore. Eles derivam seu desenho de uma arquitetura micênica estruturada com madeira, o mégaron, uma construção retangular caracterizada por uma abertura, um alpendre de duas colunas, e uma lareira mais ou menos centralizada, coberta por um telhado de madeira em duas águas com traves aparentes, tinha as paredes de tijolo cozido ao sol recobertas com estuque e uma base de pedra. A porta era estruturada por duas traves laterais e um lintel, todos em madeira. Os gregos transportaram para a pedra uma réplica bastante aproximada desse modelo, tanto que a arquitetura grega já foi apelidada de "marcenaria em pedra". As primeiras colunas e lintéis dos templos gregos, na verdade, foram de madeira. Pouco depois a pedra começou a substituir todos os outros materiais salvo no telhado, que incorporou também telhas de cerâmica ou mármore. Os gregos concentraram as suas pesquisas estruturais basicamente num único sistema: o trílito, formado por dois pilares de apoio e por um elemento horizontal de fecho, o lintel. Não conheciam o arco nem seus derivados, a cúpula e a abóbada.10 11
O projeto era simples: uma construção de forma padronizada retangular sobre uma base de geralmente três degraus, com colunas no pórtico, na extremidade oposta ou em todos os seus lados, e o entablamento de remate. O núcleo do templo era uma zona fechada, formada por uma ou mais salas, onde eram colocadas a estátua do deus e as oferendas recebidas - o tesouro do templo. Este espaço interno era coberto por um telhado de duas águas, estruturado em madeira e rematado por dois frontões triangulares em pedra, no lado da entrada e na extremidade oposta do edifício. Sendo as cerimônias realizadas ao ar livre, os arquitetos gregos preocuparam-se mais com a sua imagem exterior do que com o espaço interior, reservado aos sacerdotes. As esculturas decorativas nos frisos e frontões, bem como as paredes dos templos, eram muitas vezes pintadas em vivas cores, mas praticamente nada dessa decoração chegou até nós.12 13
Este modelo repercutiu largamente em todo o território grego, assumindo porém muitas variações que dependiam de preferências locais ou do orçamento disponível. Na arquitetura grega foram desenvolvidos três estilos ou ordens: a ordemdórica, a jônica e a coríntia. A ordem dórica era a mais simples, sem ornamentos, dando à edificação um aspecto de grande solidez. A jônica, mais elegante, tinha um capitel decorado por duas volutas. A ordem coríntia, que surgiu somente na época clássica, era ainda mais esbelta e ornamentada, sendo famosa pelo seu alto capitel em forma de sino invertido, decorado com volutas e folhas de acanto. O Partenon e o Templo de Teseu são de estilo dórico. O Erectéion e oTemplo de Atena Nike, ambos erguidos em Atenas, são de estilo jônico.12 14
Outra das invenções importantes da arquitetura grega foi o anfiteatro, geralmente construído na encosta duma colina, aproveitando as características favoráveis do terreno para ajustar as bancadas semicirculares. No centro do teatro ficava aorquestra, e ao fundo o palco, decorado com um cenário arquitetônico fixo. Dos muitos teatros construídos pelos gregos destaca-se o famoso Teatro do Epidauro. Além do templo e do anfiteatro os gregos desenvolveram uma série de outras tipologias arquitetônicas para usos específicos. Podem ser citados como exemplo o templo de planta circular, designado por tholos; o prytaneion, semelhante ao templo mas sendo uma grande sala de banquetes e eventos oficiais, contando com uma lareira acesa perpetuamente em honra a Héstia; o bouleuterion ou sala do conselho, uma sala retangular para assembleias, com uma arquibancada em seu interior; o estádio e o hipódromo, para realização de jogos e corridas; oginásio ou palestra, para o treinamento dos atletas, e as capelas votivas ou tumulares, na forma de templos em miniatura. As residências em geral continuaram sendo modestas ao longo de toda a história da Grécia Antiga, sem qualquer traço decorativo pronunciado. Sua planta básica era aproximadamente quadrada, tendo como característica proeminente uma galeria no interior que atravessava a casa de uma parede a outra, e para onde se abriam os outros aposentos e um pátio rodeado de colunas. Casas de dois andares eram comuns.15
Durante muito tempo prevaleceu a ideia de que os gregos utilizavam um sistema de proporções uniforme e estrito para a construção, baseado na Seção Áurea, mas os estudiosos de hoje, segundo disse Ian Jenkins, na medição de inúmeros templos não encontraram evidências físicas suficientes para corroborar a ideia - ao contrário, encontraram uma enorme diversidade de sistemas ou mesmo às vezes nenhum sistema reconhecível. Os principais motivos para tal são a ausência naquele tempo de um sistema métrico padronizado para toda a Grécia, e a preferência pela construção de proporções cumulativamente a partir de uma medida inicial arbitrária. Com isso atualmente se concebe a arquitetura grega como dinâmica, dependente de inúmeras variáveis, ainda que tivesse linhas gerais comuns e que em pelo menos alguns templos tenha sido atestado um uso consistente de proporções definidas.16
Música
Cena de banquete ao som de música deaulos.
O que se sabe da música grega deriva principalmente de fontes literárias e da iconografia. Sobrevivem escassos e fragmentários exemplos de peças musicais anotadas, cujo deciframento ainda é objeto de disputas. Também chegaram aos nossos dias tratados técnicos, o seu sistema teórico de modos, alguns vestígios de instrumentos e algumas melodias foram transmitidas por escritores medievais. A música era onipresente na sociedade grega, decorava os festivais públicos, acompanhava os guerreiros nas batalhas e os pastores nas lides do campo, e entretinha as famílias no recesso do lar. Era além disso parte da educação regular de todo membro da elite. Muitas vezes estava associada à dança e ao teatro. Fazia parte de muitos de seus mitos e desde longa data se firmou uma ideia de que era um poder efetivo, capaz de alterar a disposição do ouvinte para o bem ou para o mal. Foram registradas histórias de uso deliberado da música para influenciar populações inteiras, como no caso do cantor Terpandro, convidado por Esparta para com seu canto apaziguar uma cidade agitada, e de Pitágoras, creditado como criador de uma terapia musical.17 18 19 Mais do que isso, o estudo da música entre os gregos não se resumia a uma fórmula para a produção de melodias, mas era uma descrição matemática e filosófica de como o universo era construído, com os astros vibrando em conjunto no que se chamou de "harmonia das esferas". A música humana deveria refletir a harmonia cósmica. Disso deriva a forte associação da música com a ética e a pedagogia.20 21
Um estilo de música com um perfil original e tipicamente grego já havia se estabilizado em suas formas e sistemas principais desde os tempos Homéricos, quando a récita de poesia acompanhada de um ou poucos instrumentos se tornou o gênero mais cultivado.22 23 O acompanhamento geralmente era feito com a lira, mais tarde com a kithara, e com instrumentos de sopro dos quais o mais comum era o aulos. Com o tempo desenvolveu-se um rico instrumental, que incluída diversos tipos de instrumentos de percussão, sopro e cordas, e criaram o antecessor do atual órgão num instrumento chamado hydraulis, movido a água.24 25
Praticamente toda a música grega era monódica e vocal,e dependia diretamente da prosódia poética para se estruturar e desenvolver. O sistema usado pelos gregos era modal, baseado numa célula de quatro notas chamada de tetracorde.23 26 A prática foi sistematizada em maior profundidade com o trabalho de Pitágoras, que desenvolveu pesquisas científicas em torno dos efeitos dos sons e de suas combinações, baseado em um sistema de proporções matemáticas, e fortaleceu as antigas e estritas associações de cada modo com determinado ethos.24 27 Segundo Platão as regras antigas em seu tempo começaram a sofrer uma dissolução, e os músicos passaram a explorar novidades rítmicas e melódicas sem as fortes associações transcendentes dos primeiros tempos,20 inovações defendidas por Aristóteles a partir de uma abordagem humanística e psicológica e não tanto religiosa e ética.21 Entre os principais legados da música da Grécia Antiga estão uma forte influência sobre a música da Roma Antiga, seu sistema de modos adaptado pelos músicos medievais, uma terminologia técnica ainda em uso atualmente, as noções de consonância e dissonância e um sistema de afinação que permaneceu em vigor até o século XV.20
Escultura
Estatueta de guerreiro do período geométrico
Kouros Anavyssos, c. 530 a.C., período arcaico.
No primeiro período enfocado, chamado geométrico (c. 900-700 a.C.), a escultura se manifestava discretamente, através de estatuetas votivas de pequenas dimensões em bronze e barro, mostrando formas altamente estilizadas de pessoas e animais, evidenciando uma artesania de considerável habilidade. Não foram encontrados traços de estatuária de grande porte, mas é possível que tenha existido, realizada em materiais perecíveis como a madeira. Outros artefatos como armas, jóias, camafeus e vasos podiam trazer pequenos adornos de caráter escultórico. O propósito e significado dessa produção ainda são obscuros, dada a ausência de inscrições que os descrevam, mas seu achado primariamente em contextos fúnebres leva a crer que tinham funções religiosas.28
Em seguida, durante o período dedálico (c. 650-600 a.C.), também chamado orientalizante, a escultura recebe influência oriental e egípcia e aumenta suas dimensões, com um estilo caracterizado pela rígida frontalidade, o modelado achatado do corpo e o desenho simplificado da anatomia, que é antes uma abstração do que uma observação da natureza. O rosto é esquemático e triangular, as orelhas podiam ser omitidas e o cabelo cai em grossas madeixas. As pernas são usualmente longas e a cintura é alta e estreita. Nesta fase se inicia a consolidação de dois modelos formais de grande importância para o subsequente período arcaico: a figura masculina (kouros, kouroi no plural) e a feminina (kore, korai no plural). No caso das estátuas femininas elas aparecem com longas túnicas, mas nas masculinas a nudez é a regra. O kouros, com sua anatomia completamente exposta, assumiu uma importância superlativa para o desenvolvimento da escultura grega, já que aquela sociedade só viria a permitir a exposição do corpo feminino desnudo em torno do século IV a.C. Neste mesmo período há registro dos primeiros exemplos de escultura monumental associada à arquitetura, na forma de frisos e frontões em relevo.29 30
O período arcaico (c. 600-500 a.C.) assistiu à progressiva urbanização da Grécia, passando a cultura se concentrar nas cortes das novas cidades, as pólis, que iniciavam também a florescer com total autonomia - daí a formação de escolas artísticas regionais, tendo como principais centros Atenas, Esparta e Corinto. A decoração escultórica arquitetônica se tornou mais comum e apareceram diversos exemplos notavelmente experimentais, testando novas formas de composição em grupo e novas formas de narrativa visual. Entre os materiais, o mármore passou a ocupar um lugar privilegiado, mas a terracota continuou a ser bastante usada. Os kouroi e as korai continuaram sendo as tipologias estatuárias mais destacadas, adquirindo nesta época, em alguns casos, dimensões gigantescas, ainda que o tamanho natural fosse a praxe. Em relação à fase anterior o progresso na técnica do entalhe da pedra é evidente, bem como houve sensíveis avanços em direção a um maior naturalismo na descrição anatômica, sem que isso chegasse a quebrar as rígidas leis da frontalidade e da idealização abstratizante. Mas talvez mais importante tenha sido a formação, nas cortes aristocráticas, de um corpo de conceitos éticos, cívicos e pedagógicos que teriam influência marcante sobre a arte, englobados no sistema da paideia, que procurava formal o cidadão ideal, e no conceito de kalokagathia, que associava beleza com virtude e bondade. Os kouroinão eram produzidos meramente com fins estéticos, mas eram oferendas religiosas colocadas em santuários, marcavam a tumba de alguma personalidade ou eram monumentos públicos, e não representavam pessoas individualizadas, sendo antes a corporificação de um ideal de beleza, honra, virtude, piedade ou sacrifício. Os kouroi arcaicos, distinguindo-se da tradição dedálica, exibem um corpo vigoroso já com algum delineamento anatômico, um porte augusto e uma atitude de inabalável confiança e altivez, refletindo os valores da aristocracia. Às vezes podiam representar atletas vencedores dos Jogos, mas mesmo nesses casos não se pode dizer que eram verdadeiros retratos. As korai, por sua vez, adquirem uma feição bastante ornamental e dinâmica, mostradas em atitudes de dança ou oferenda, e sempre cobertas com ricas túnicas e complexos penteados. Com a fundação de diversas colônias gregas na Magna Grécia e nas áreas orientais doMediterrâneo, a escultura grega se disseminou por uma grande área.31 32
A fase seguinte, conhecida como período severo (c. 500-450 a.C.), se define por consistentes avanços na observação da natureza, refletida no rápido abandono da tipologia fixa e hierática do kouros e da kore, acompanhando o declínio da aristocracia e o surgimento de uma forte classe burguesa urbana. A arte adquiriu mais independência de funções religiosas e públicas, sendo praticada, como analisou Arnold Hauser, até certo ponto "pelo seu próprio valor e pela beleza que revela".33 Os detalhes decorativos foram minimizados, os traços anatômicos principais receberam a maior parte da atenção, e o interesse pela caracterização das emoções e pelo seu potencial narrativo conduziu a uma exploração de suas repercussões sobre a dinâmica corporal. Foi formulado um novo cânone de proporções, mais elegante, alongado e naturalista, se passou a tratar diferentemente deuses e homens, e apareceram representações mais verossímeis da velhice, embora as crianças ainda fossem adultos em miniatura e ainda existisse grande idealização em todas as formas.34 35 36
O Doríforo, de Policleto, período clássico
Depois da derrota dos persas em 479 a.C. Atenas passou a exercer uma inconteste hegemonia cultural sobre toda a Grécia e deu-se a passagem para o período clássico (c. 450-323 a.C.). Com Péricles iniciou-se um grande programa de obras públicas e reconstrução da Acrópole, cuja direção foi confiada a Fídias, talvez o mais celebrado dos escultores gregos. Ele, junto com Míron e Policleto, este ativo em Argos, foram os principais responsáveis pela formulação de um novo estilo de representação que unia de maneira admirável idealismo e naturalismo, transmitindo uma impressão de atemporalidade, equilíbrio, beleza e harmonia. Policleto é especialmente lembrado por ter elaborado um novo cânone de proporções de larga influência, exemplificado, acredita-se, na figura do Doríforo. O interesse pela representação anatômica fidedigna se tornou dominante, mas também neste período a natureza teve de conciliar-se com o idealismo nas formas e proporções, depurando do natural tudo o que fosse excessivamente idiossincrático e transitório, incluindo aqui a representação das emoções. Desenvolveu-se a técnica do bronze em cera perdida, que passou a ser o material de eleição para a estatuária independente, continuando o mármore a ser usado na escultura arquitetônica. A fase inicial do período clássico secaracterizou por formas majestosas, austeras e impassíveis; na segunda fase se verificou um abrandamento no cânone, aparecendo formas mais humanizadas, graciosas e expressivas, e desenvolvendo-se um interesse pela representação eficaz da estatuária em todos os seus ângulos, sepultando definitivamente os últimos resquícios da frontalidade. Na segunda fase pontificaram Praxíteles, Escopas e Lísipo. Praxíteles ganhou fama principalmente por ter sido o primeiro a representar em tamanho natural a mulher nua, na célebre Afrodite de Cnido.37 O sucesso da escultura clássica foi imediato e desencadeou um fértil debate teórico entre importantes pensadores da época, como Platão e Aristóteles, que inauguraram com isso um novo ramo filosófico, a Estética. Também foi o estilo que mais duradoura influência exerceu ao longo da história da escultura do ocidente, tornando-se quase um sinônimo para "escultura grega".38 Pouco da produção clássica original sobreviveu, sendo particularmente dramático o desaparecimento de quase todos os bronzes, e a maior parte do que hoje se conhece são cópias romanas.37
Laocoonte e seus filhos, período helenista.
O período helenístico inicia com a morte de Alexandre, o Grande, em 323 a.C., e se estende até a dominação romana em 146 a.C., mas alguns autores o prolongam até a conquista romana do Egito em 50 d.C., ou até 31 d.C., data da Batalha de Áccio, quando Augusto derrotou Marco Antônio e encerrou a dinastia ptolemaica egípcia.39 40 Foi um período de grande expansão para a arte grega, levada por Alexandre até a Ásia e norte da África, de onde recebeu várias influências. A escultura helenística é cosmopolita, muito mais variada do que a clássica, e em termos técnicos é mais refinada e virtuosística. Desenvolveu-se numa fase em que se deu grande valor à História, assimilando com isso elementos de estilos mais antigos em sínteses novas e ecléticas. Também foi marcante a secularização em todos os domínios da arte, surgiram colecionadores e foram abertas galerias públicas, e popularizou-se a representação da infância e de temas profanos e domésticos. Outros temas, como a morte, o sofrimento, o erotismo, o grotesco, a alegria despreocupada, a velhice, as deidades não-olímpicas, antes pouco explorados, apareceram com frequência, ao mesmo tempo em que apareceram as primeiras representações verossímeis de fisionomias individuais, os primeiros retratos verdadeiros. Entre suas contribuições originais à tradição grega de escultura estão o desenvolvimento de novas técnicas e o aperfeiçoamento da representação da anatomia e da expressão emocional, abandonando-se o genérico em favor do específico. Isso se traduziu no abandono do idealismo clássico de caráter ético e pedagógico, enfocando os aspectos humanos cotidianos e direcionando a produção para fins puramente estéticos e, ocasionalmente, propagandísticos. Seu estilo geral é, em suma, realista, tendendo a enfatizar o drama, o prosaico e o movimento. A escultura helenística foi a base da formação da escultura romana, com seus princípios essenciais permanecendo em vigor ainda por muitos séculos à frente.41 40 Também foi importante para a cristalização da iconografia de Buda, no oriente.42
Pintura
Da pintura grega antiga não resta hoje mais do que reduzidos vestígios, e dela pouco se sabe com segurança.43 44 Isso não significa que não houve produção, ou que tenha sido elementar, ao contrário, fontes literárias da época atestam extenso e refinado cultivo de pintura em várias técnicas desde o período arcaico,45 com o desenvolvimento de várias escolas distintas, e com artistas que foram celebrados por seus contemporâneos e cuja fama chegou aos nossos dias, como Polignoto, Zeuxis e Apeles.46 47 Mas devido à fragilidade dos materiais quase tudo se perdeu, exceto alguns notáveis murais em tumbas dos séculos IV e III a.C., especialmente em Vergina, na Macedônia.48 Sobrevive, por outro lado, expressiva produção de pintura aplicada à decoração de objetos utilitários, como os vasos.49
Placa de madeira pintada, encontrada em Corinto. século VI a.C.
Acerca da pintura durante o período arcaico sabe-se muito pouco. São conhecidas algumas referências literárias a poucos pintores, como Cleantes, Ecfantos, Teléfanes, Eumaros e Cimon, mas sua produção perdeu-se completamente.50 Algumas evidências do período sobrevivem em Thermon e em algumas placas de madeira e cerâmica encontradas em Corinto,51 que traem a influência da arte egípcia e asiática, mantendo uma similitude com as técnicas de pintura em vasos, sendo em essência um desenho colorido. Outro exemplo importante por sua raridade, embora bastante elementar, são os murais da Tumba do Mergulhador em Paestum, de c. 480 a.C.52 Outros murais do período arcaico tardio são encontrados em tumbas na Ásia Menor. Também constituem boas evidências os murais etruscos, já que derivaram diretamente da influência grega.53
A partir do período clássico a pintura rapidamente adquiriu independência do estilo gráfico típico da cerâmica, passando para um tratamento de fato pictórico das superfícies, com emprego de uma variedade de efeitos visuais, incluindo pontilhismo, chiaroscuro, degradê, ilusionismo tridimensional, escorço e perspectiva, possivelmente por influência da cenografia teatral. Sua temática era basicamente a mitologia e a história, bem como a celebração da grandeza da cidade e de seus heróis e cidadãos exemplares. Destarte, a pintura encontrava utilidade geralmente na decoração de edifícios públicos e templos. Desde então a pintura se tornou ubíqua em toda a área de influência grega, tendo nesta fase Atenas como seu principal pólo irradiador.52 54 Entre os nomes célebres do período estão Agatarcos,55 Mícon e seu irmão Panaenus,56 Apolodoro57 e sobretudo Polignoto, o mais importante do período clássico, ativo em Atenas, que aparece na literatura como autor de várias cenas complexas e movimentadas, especialmente batalhas.58
 
Afresco O Rapto de Perséfone, na Pequena Tumba Real em Vergina Afresco na Tumba de Kalanzak
Pouco mais tarde Sicião começou a se tornar também um centro irradiador de influência, favorecendo o pathos antes do que o ethos e introduzindo novos temas, como cenas domésticas e festejos seculares, e técnicas, como a encáustica. Seu expoente foi Eupompo, seguido por Pânfilo, Melâncio e Páusias. Ao mesmo tempo a pintura conhecia uma grande popularização, multiplicando-se os painéis portáteis pintados sobre madeira para uso privado ou puramente decorativo, e de custo muito menor. Mas, sobretudo, enfatizou-se a busca de um ilusionismo ainda mais acentuado.59 60Outros centros apareceram na Jônia, em especial em Éfeso, formando uma escola distinta que primou pela sutileza do colorido e do sombreado. Os nomes mais célebres deste período foramZêuxis e Parrásio. O primeiro foi louvado pela delicadeza de seus retratos femininos, pela vivacidade de expressão de suas figuras e pela escolha de temas mitológicos raramente representados. Parrásio ganhou fama como introdutor de um cânone de proporções, como desenhista insuperável e como pintor de retratos cheios de graça e beleza sensual, dando grande atenção aos detalhes. Ao mesmo tempo, teria alcançado grande penetração psicológica no retrato de seus personagens, pintando temas de fúria, melancolia e loucura.61 62
Apeles, talvez o mais ilustre dos pintores da Grécia Antiga, foi um artista de transição entre o classicismo e o helenismo, introdutor de inovações técnicas, autor de um tratado sobre pintura infelizmente perdido, e pintor oficial de Alexandre, o Grande. Nada de sua produção chegou até nós, mas foi descrito como dominando e fundindo os estilos da Escola da Jônia e de Sicião, e autor de obras de beleza e graça insuperáveis, conseguidas pelo uso virtuosístico de um cromatismo sutil, um desenho requintado e nobres formas. Dos contemporâneos de Apeles devem ser citados Protógenes, Écion, Antifilo e Téon.63 Entre os exemplos concretos da transição do período clássicotardio para o helenismo estão os importantes e sofisticados afrescos das Tumbas Reais de Vergina, compostos por uma grande cena de caça ao leão e pelo Rapto de Perséfone, de grande maestria no desenho e liberdade nas pinceladas;64 o bem conhecido Sarcófago das Amazonas, achado em Tarquinia mas provavelmente produzido por um pintor da Magna Grécia,51 e afrescos da Grande Tumba de Lefkádia, que incluem surpreendentes métopes pintadas imitando ilusionisticamente as métopes em relevo do Partenon.65 66
Durante o helenismo a pintura grega se internacionalizou ainda mais, sendo levada por Alexandre até a Ásia e o norte da África, e desta fase os exemplos originais são um pouco mais numerosos, sendo especialmente importantes os da Tumba do Soldado em Alexandria,67 e variados fragmentos em tumbas, palácios e residências de Demétrias, Sídon, Atenas, Cnido, Pela, Delos e Pérgamo, entre outras cidades.51 Um grande exemplo mural está em uma tumba principesca da necrópole de Kalanzak, hoje um Patrimônio Mundial.68 No helenismo o ilusionismo tridimensional permaneceu como o principal interesse na pintura, mas os temas populares se tornaram largamente apreciados, entre eles a natureza-morta, a paisagem e as cenas domésticas, que se encontravam até em miniaturas. Ao mesmo tempo, os produtores de mosaicos começavam a imitar efeitos tipicamente pictóricos. Entre os pintores se destacou Peiraeicus, criador de obras mostrando interiores detalhados de barbearias, estábulos, lojas e outros estabelecimentos do povo, e entre os mais eruditos desta fase, mantendo viva uma tradição mais antiga em composições mitológicas e históricas, pode ser citadoTimômaco, cuja obra Ajax e Medeia foi adquirida por Júlio César pela fortuna de oitenta talentos.69 70
A pintura grega foi essencial para a formação do estilo da pintura da Roma Antiga, e o desenvolvimento de grandes novas capacidades para a representação figurativa e o impacto da produção da época entre seu público fez com que a pintura contribuísse, junto com a escultura, para o florescimento de um rico debate teórico a respeito da ética na arte, sobre os seus fundamentos científicos, suas capacidades pedagógicas e sua utilidade cívica, e sobre a natureza, o caráter e a função da mímese, um debate que ganhou entre seus contendores homens notáveis como Anaxágoras, Demócrito, Sócrates, Platão e Aristóteles.51 71
Pintura de vasos
Detalhe de ânfora monumental do período geométrico
Fundo de cálice em figura vermelha, com cena de Ajax e Cassandra, c. 440-430 a.C.
A produção de vasos decorados foi uma das poucas manifestações artísticas que não sofreram interrupção na Idade das Trevas grega, havendo pois uma tradição contínua que remonta a tempos imemoriais. Interessa-nos, porém, a produção a partir do período geométrico. Nesta fase a decoração é bastante elementar, resumida a linhas e padrões geométricos abstratos - de onde vem o nome do período - distinguindo-se da preferência por padrões derivados do círculo da fase anterior. Embora aparentemente simples, era uma arte sofisticada, obedecendo a uma série de convenções precisas, e alguns de seus exemplos se contam entre as melhores criações da arte grega de todos os tempos. Figuras começaram a aparecer em torno de 850 a.C., com faixas de animais e pessoas de perfil simplificado, acompanhando a diversificação dos padrões abstratos. Na fase final começaram a surgir cenas mitológicas.72
No período orientalizante houve grande intercâmbio cultural com a Ásia, recebendo dali influências que se traduziram na diversificação dos formatos dos vasos, tendo Corinto como o principal centro de produção. A decoração incluía motivos geométricos, florais e uma vasta população de animais fantásticos como esfinges, sereias e quimeras. Por outro lado, a presença de figuras humanas diminuiu. Em Corinto se formulou pela primeira vez um estilo decorativo de larga influência chamado de figura negra que, como o nome indica, trazia os desenhos em negro contra um fundo vermelho, com alguns detalhes em branco. Tendo iniciado essa tradição em Corinto, foi entretanto em Atenas que ela chegou a um alto grau de refinamento, no início do período arcaico. Vários pintores de figura negra se tornaram famosos, como Exéquias, Clítias, Ergotimos, Nearcos e o Pintor de Amásis. Também a Atenas se deve um outro desenvolvimento na técnica, que levou à formação do estilo em que as cores foram invertidas, chamado figura vermelha, tendo o negro como fundo. Essa novidade permitiu uma liberdade muito maior para o trabalho dos pintores, que passaram a se deter em detalhamentos anatômicos e cenários. O estilo figura vermelha gradualmente veio a suplantar o figura negra em torno de 500 a.C. Mestres famosos foram Douris, Brygos e Onésimo.72
No período clássico a produção de cerâmica decorada experimentou um declínio cuja causa ainda não é bem compreendida, mas aparentemente o meio de expressão já havia se esgotado como campo de experimentos e inovações. Uma exceção foi o aparecimento do estilo fundo branco, que possibilitou ampliar a paleta de cores usadas nas figuras, mas cujo efeito final é pouco expressivo. No período helenista o declínio continuou, mas é de citar o surgimento de vasos com novas formas imitando os vasos de bronze, decorados com relevos, e de um estilo chamado "encosta oeste", por ter sido descoberto em escavações na encosta oeste da Acrópole de Atenas. Estes vasos têm uma coloração mista de marrom, branco e negro, com detalhes em relevo, incisões e uma iconografia simplificada.72
Pintura de estatuária e arquitetura
Uma outra aplicação da pintura entre os gregos era na decoração da estatuária e da arquitetura. Até há pouco tempo não havia, por falta de conhecimentos, um consenso sobre a extensão desta prática, e este fato só recentemente vem recebendo maior divulgação entre o grande público. Entretanto, a partir de pesquisas recentes se sabe que a pintura de superfície na escultura e arquitetura era uma praxe disseminada, e um dado fundamental no estilo grego como um todo. Mestres escultores como Praxiteles deixaram registrado que só consideravam suas obras acabadas depois de recobertas com tinta, o que por certo lhes emprestava uma aparência muito diversa da que hoje mostram nos museus do mundo. Em 2003 a Gliptoteca de Munique organizou uma exposição itinerante, intitulada Bunte Götter (Os Deuses Coloridos), com réplicas de obras importantes decoradas segundo o que se descobriu sobre sua policromia, com resultados surpreendentes.73 74 75
Mosaico
Mosaico dos caçadores do veado, Pela,século IV a.C.
Não se sabe de onde os gregos derivaram sua técnica de mosaico. Supõe-se que suas origens remontem a práticas da Suméria e Assíria, mas é certo que desde o Neolítico o mosaico se fez presente na Grécia. Nesses tempos primitivos o mosaico desenhava padrões abstratos simples e era realizado com seixos rolados de tamanhos irregulares.76 Os primeiros exemplos de mosaico decorado com figuras datam do período clássico, havendo relíquias em vários locais, impossibilitando a identificação de um centro irradiador. A técnica nesta altura havia evoluído sensivelmente, com o uso de peças menores, capazes de fornecer maior detalhamento, e empregando cores mais variadas, iniciando-se mesmo a exploração de efeitos de sombreado, como se pode constatar nos mosaicos de Pela.77 Em vários casos são visíveis símbolos como a suástica, o machado duplo, letras avulsas, círculos e rodas que possivelmente representam a roda da fortuna, sugerindo que esse tipo de desenhos podia ter funções mágicas de atrair a boa sorte e repelir más influências. Sua estrutura geralmente mostra uma moldura larga emoldurando uma composição figurativa central, no esquema do círculo inscrito no quadrado. Ocasionalmente nos cantos se colocavam composições secundárias. Um dos mais finos exemplos do classicismo está na Casa dos Mosaicos em Erétria, com uma série de painéis em várias formas e esquemas compositivos, e em Sicião se encontra um pavimento inteiramente decorado com o motivo da onda entrelaçadaem torno de uma rosácea central, de grande efeito plástico.78
Durante o helenismo a técnica se sofisticou ainda mais, explorando-se a criação de texturas diferenciadas na mesma composição e empregando-se peças ainda menores, de formato regular, que possibilitou um maior controle no desenho e um fino detalhamento. Um desenvolvimento ulterior deu origem ao chamado opus vermiculatum, onde as peças são tão pequenas que mal se distinguem como entidades separadas, chegando a apenas 4 mm², o estágio de mais alto refinamento e complexidade do mosaico, possibilitando a obtenção de efeitos que se aproximam da pintura.79 Neste mesmo período a técnica grega se expandiu por uma larga região, chegando até ao Afeganistão, e passou a incorporar outros materiais além da pedra, como o vidro e a madrepérola, criando efeitos de grande riqueza plástica. Os romanos foram grandes apreciadores dos mosaicos gregos, imitando-os em seus palácios e edifícios públicos e levando a técnica para toda a área de influência do Império.80 81
Literatura e teatro
Busto de Homero
Segundo Tim Whitmarsh, na Grécia Antiga não havia o hábito da leitura como hoje em dia, em que ele se caracteriza primariamente como uma atividade individual exercitada em horários de ócio. Antes, era uma atividade engajada e ideologicamente orientada, fazendo parte integral da vida da pólis e desejando excitar debate e reflexão socialmente significativos. O povo se reunia nos festivais e cerimônias públicas para ouvir a récita dos poetas ou dos espetáculos teatrais, cujos textos eram escritos também em versos e cujo conteúdo tinha raízes tradicionais e trazia a todos uma mensagem coletiva. Muitas vezes tais récitas eram acompanhadas de música e dança, um traço que permaneceu constante ao longo da história grega. A circulação privada de livros, descontando-se a produção específica dos filósofos e cientistas, sem caráter artístico e restrita ao seu círculo de estudantes, e que não será abordada aqui, só começou em torno do século IV a.C., e nesse tempo adquiriu um caráter elitista, pois livros eram manuscritos raros e caros.82
A tradição literária grega iniciou com Homero, uma figura cuja historicidade é motivo de conjetura mas que é considerado muitas vezes o pai da literatura ocidental. Em seus dois grandes poemas épicos, a Ilíada e a Odisseia, lançou as bases dos desenvolvimentos futuros. Eles coletam tradições antigas respectivamente sobre a Guerra de Troia e a viagem de Odisseu de volta para casa, e embora se apresentem como poemas históricos, grande parte da sua atenção é devotada à descrição das intervenções dos deuses na vida humana. Por outro lado, traçam um vasto panorama da sociedade grega do período anterior, especialmente retratando a classe aristocrata, com seus costumes, suas crenças, suas motivações, seu perfil psicológico, suas relações com os estrangeiros e sua organização social. Da mesma época são alguns hinos também atribuídos a Homero, sem qualquer certeza, embora exibam um estilo similar.83 84
No período arcaico surgiu uma literatura poética mais diversificada, mais afeita à realidade cotidiana, descrevendo as lutas de classes, penetrando em temáticas filosóficas, humanísticas e científicas, e tendo a experiência individual do poeta um papel mais importante na sua definição ideológica e estética. Nesta fase destaca-se Hesíodo que, ao contrário de Homero, abordou uma temática mais popular. Entre várias criações atribuídas ao poeta, sobrevivem duas obras importantes: Os Trabalhos e os Dias, uma narrativa que mescla História e os afazeres da vida no campo dentro de uma moldura ética, e uma cosmogonia mitológica, intitulada Teogonia.85 86 Também merece nota a emergência no período arcaico de uma poesia mística derivada principalmente do Orfismo, apresentando um modelo de vida ideal de grande pureza e enorme apelo popular, prometendo uma recompensa pós-morte aos virtuosos, que possivelmente refletia compensatoriamente o estado de desordem cívica e as incertezas e agruras da vida real. Outras correntes cultivaram os gêneros lírico e elegíaco com grande originalidade e sensibilidade, baseados em tradições populares mas de veia individualista, e também de grande circulação entre o povo. Ativos nessas linhas foram Anacreonte, Mimnermo, Tyrtaios, Teógnis e a poetisa Safo, de grande fama, entre muitos outros. Nos gêneros da poesia filosófica e crítica, podem ser citados Xenófanes e Epimênides.87 Ainda neste período iniciou o desenvolvimento da poesia dramática, que acabou dando origem à tragédia e à comédia. Ambas nasceram de uma forma de hino coral, o ditirambo, cantado em honra de Dionísio, tendo um líder, o corifeu, a dividir versos com um coro. Diz a tradição que o primeiro a fixar a forma do ditirambo foi Árion. Téspis, figura de transição, introduziu a figura do hypocrites (aquele que responde, um interlocutor), criando os primeiros diálogos dramáticos e sendo por isso considerado o pioneiro da tragédia. A comédia, por sua vez, surgiu como um entretenimento intercalado nas tragédias, tendo como seu iniciador Choerilus.88
Um teatro grego típico com a designação de suas várias partes.
Fragmento de papiro com o poema Aetia, de Calímaco
Porém, foi no período clássico que a poesia dramática chegou à sua fase dourada, quando sua apresentação passou a se dar em grandes anfiteatros, estruturas concebidas especificamente para este fim. O principal centro de interesse temático da tragédia grega clássica, na apreciação de Ian Johnston, foi o conflito entre o homem e as inelutáveis forças do destino, buscando entender os desígnios dos deuses, conhecer até onde vai o livre-arbítrio e discernir qual a mais adequada resposta humana aos desafios apresentados. No pensamento grego até mesmo os deuses eram sujeitos ao destino, mas na tragédia o herói se destaca como aquele que dá o melhor de si, mesmo à custa de sua própria vida, para enfrentar um contexto desfavorável dentro do âmbito da justiça, com isso provando sua excelência pessoal e tornando-se um modelo para sua comunidade.89
Ésquilo, o primeiro grande tragediógrafo, chamou um segundo interlocutor, tornando o desenvolvimento dramático mais dinâmico, a ponto de o diálogo entre os protagonistas suplantar em importância as intervenções do coro, que até então levava a cabo a maior parte da narrativa. O coro, a partir de então, passou a comentar a ação principal, incentivando ou censurando os protagonistas e estabelecendo atmosferas sugestivas, que emolduravam ou coloriam o diálogo. Sobrevivem sete das dezenas de tragédias de Ésquilo, ainda hoje integrando o repertório teatral, entre elas Sete contra Tebas e a tetralogia da Oresteia. Sófocles foi outro grande nome no gênero, autor de diversas obras-primas de profunda penetração psicológica e elevada espiritualidade, destacando-se Édipo Rei, Electra e Antígona, dentre as mais de cem a ele creditadas, quase todas perdidas. O terceiro tragediógrafo a ser lembrado é Eurípides, influenciado pelos sofistas e original por explorar temas até então pouco trabalhados no ambiente dramático, como a filosofia, o romantismo e a sensibilidade feminina, além de lançar críticas à religião e ser conhecido como o mais trágico dos trágicos. Das muitas peças que escreveu chegaram a nós dezessete, entre elas Medeia, As Troianas, Ifigênia em Áulis e As Bacantes. Todos eles também foram autores de comédias, embora este gênero tenha demorado mais a amadurecer. Seu mais notável representante foi Aristófanes, cujas peças são ácidas e vivazes críticas da vida social, política, intelectual e moral ateniense. São conhecidas onze de suas comédias, podendo ser citadas Lisístrata, As nuvens e As rãs.90
A literatura em prosa também teve um florescimento relativamente tardio, já que a poesia supria a necessidade de informação narrativa, e só veio a evidenciar maturidade no período clássico, depois de ensaios anteriores de escritores comoFerécides, Anaxágoras e Hecateu, com um trabalho principalmente na forma de epigramas ou trechos breves de conteúdo mitológico, filosófico,

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