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VHS - 2022 1 AULA 05 – INFECTO LEPTOSPIROSE É uma doença infecciosa causada por uma bactéria do gênero Leptospira, sendo classificada como zoonose (transmitida por roedores). Varia desde assintomática até quadros muito graves (não sabemos a prevalência) EPIDEMIOLOGIA É uma doença endêmica com surtos epidêmicos com notificação compulsória e tem ↑ mortalidade (10%). É mais comum em homens de 20-45 anos que moram na zona urbana e tiveram contato com água contaminada; esgoto ou ratos no domicílio/trabalho. Os surtos epidêmicos acontecem em períodos do ano mais quentes e com mais chuva – é uma doença que se espalha pela urina do rato, que na chuva (e inundação) é diluído e tem a bactéria disseminada de forma fácil. AGENTE ETIOLÓGICO Temos 14 espécies e 200 sorotipos, sendo a Leptospira Interrogans mais comum. É uma espiroqueta aeróbica que tem a gravidade definida pelo sorotipo. Essa quantidade se sorotipos permite que o paciente pegue leptospirose mais de uma vez e dificulta a eficaz de uma vacina Tem alto grau de variação antigênica e pode sobreviver no meio externo por até 180 dias. No Brasil, os casos graves são por L. Icterohaemorrhagie e L. Copenhageni. TRANSMISSÃO Os principais portadores são ratos domiciliares e ratos silvestres porque são os com melhor adaptação (urina muito concentrada = melhor disseminador). A transmissão ocorre através do contato direto ou indireto (inundações e alagamentos) com leptospiras eliminadas na urina. Tanto a pele integra quanto a lesada (mais contaminante) são portas de entrada (temos microlesões não visíveis também facilitam a entrada). Outra porta de entrada são as mucosas (quanto mais tempo imersa = maiores os riscos) INCUBAÇÃO.: de 1-30 dias, com média de 5-14 dias. É o período do contato com a água até início do sintomas PERÍODO DE TRANSMISSÃO.: os roedores podem ficar a vida toda infectados, eliminando a bactéria por anos. Depende do animal e da agressividade do sorotipo. SUSCETIBILIDADE.: é geral, ou seja, todos podem se infectar (e várias vezes, devido a vários sorotipos) PATOGENIA É bifásica, a primeira é a fase de bacteremia em que a doença pode chegar no sangue ou ao liquor e dura de 4-7 dias. A segunda é a fase imune que é a bactéria está na urina e é possível realizar o diagnóstico – através da presença de anticorpos ou de pesquisa direta. É possível coletar sangue contaminado na primeira fase, mas é difícil dela crescer em laboratório – precisa de meios específicos. Quando o laboratório não usa os meios corretos, o diagnostico é de meningite asséptica Por isso, o diagnóstico não é feito na primeira semana, só é dado quando a bactéria está na urina (e tecidos). Na fase imune, podemos ter alterações de endotélio; dano vascular; vasculite e hemorragia de órgãos mais acometidos, como rim e pulmão (mais vascularizados) Também podemos ter hematúria; pneumonia hemorrágica com hemoptise – pode matar É uma doença com grande invasão de TGU, sendo filtrada no rins eliminada na urina (humano não tem urina concentrada o suficiente para transmitir). Nos rins, ela gera efeito tóxico com isquemia; nefrite túbulo-intersticial que pode gerar insuficiência renal ou insuficiência com ↓ K+. Quando a infecção chega ao fígado, temos invasão de sinusoides e necrose hepatocelular que geram icterícia ou insuficiência hepática. Nos olhos gera uveíte e nos músculos gera miosite que desencadeia no sintoma comum que é dor muscular em MMII (panturrilha). A enzima muscular CPK está muito alta. Na fase da bacteremia pode ocorrer meningite linfocitária com liquor misto e mais linfócitos. SINTOMAS Os pacientes vão de assintomáticos até quadros graves com manifestação fulminante. Surgem de 2 formas.: Anicterícia.: é a maioria dos casos, são casos assintomáticos ou subclínicos. Ictérico.: ou hemorrágico é a mais grave Além dessas 2 formas de se apresentar, a doença apresenta duas fases, sendo uma a evolução da outra Fase Precoce.: inicia com febre alta e repentina com calafrios; cefaléia; náuseas; vômitos; mialgia intensa (panturrilha sensível ao toque); conjuntivite; diarréia; tosse seca; dor de garganta e erupção cutânea As vezes é diagnosticado como síndrome gripal ou virose (as vezes até dengue ou influenza) É autolimitada, de 3-7 dias de duração. Pode desaparecer e passar como outra doença Fase Tardia.: a minoria chega a essa fase que é a mais grave e com potencial letal. É o paciente que tem piora da febre e dos exames (surgimento de IgM). Em alguns casos é feito diagnóstico de meningite asséptica que dura de 1-3 semanas e pode causar vômitos; cefaléia intensa e tem LCR com pleocitose linfocítica (↑ leucócitos) com glicose normal (tem poucas bactérias) e leve ↑ proteína Pode aparecer uveíte e manifestações neurológicas como alteração do sensorial VHS - 2022 2 SÍNDROME DE WEIL É a evolução com sintomas mais intensos e de maior duração (e tem a maior letalidade). É caracterizada pela icterícia rubínica/alaranjada (icterícia + vasculite) e outras características sistêmicas graves, como.: FÍGADO.: Aumento de bilirrubina; TGO e TGP devido a invasão dos sinusoides hepáticos. RINS.: Insuficiência renal com oligúria e K+ normal; ↑ de ureia e creatinina; nefrite intersticial; edema; disfunção e necrose tubular multifocal K+ normal diferencia de outras doenças renais. Ocorre uma fase com polaciúria – não podemos dizer que é exclusivamente de oligúria VASCULAR.: temos vasculites que podem desencadear hemorragias – principalmente mucosa e pele. Ocorrem fenômenos de plaquetopenia já que temos lesão no endotélio e as plaquetas vão lá “arrumar”, diminuindo o número delas circulando no sangue. Com essa alteração das plaquetas, temos o surgimento de petéquias e equimoses. PULMÃO.: com a alteração das plaquetas, podemos ter hemorragias pulmonares, sendo que metade dos paciente com esse quadro vão a óbito TGI.: podemos ter hemorragia digestiva alta ou baixa com hematêmese; melena e enterorragias. CORAÇÃO.: temos comprometimento com miocardites com alargamento do complexo QRS e o músculo cardíaco comprometido (principalmente ventrículo) PERÍODO DE CONVALESCENÇA A recuperação da síndrome de Weil dura de 1-2 meses podendo apresentar febre, cefaleia, mialgia e mal- estar por alguns dias. A icterícia vai desaparecendo aos poucos e a eliminação completa da bactéria na urina dura até 1 semana após o fim dos sintomas. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Na doença na forma anictérica temos que eliminar influenza; dengue; sepse; febre tifóide; malária; pielonefrite e meningite. Atualmente pensar em COVID Num quadro da forma ictérica, o diagnóstico diferencial pode ser de sepse; febre amarela; hepatite viral; malária; colangite; colecistite e coledocolitíase EXAMES LABORATORIAIS Um dos maiores problemas é não ter algo específico para leptospirose, por isso pedimos primeiro os exames básicos (hemograma; perfil hepático e renal). No resultado, o paciente com a doença apresenta leucocitose com neutrofilia e desvio a esquerda. Ele também apresenta plaquetopenia e anemia; aumento de TGO; TGP; FA; GGT e elevação de bilirrubina direta que indica um dano canicular dos sinusoides. Temos uréia e creatinina elevadas com potássio normal, além de alterações de TAP e VHS/PCR elevados. A partir daqui, para complementar, pedimos enzimas musculares e ECG (alteração de QRS – mais larga) No resultado do parcial de urina temos leucocitúria e hematúria com cilindros granulares, indicando danos maiores que os de uma ITU ou de uma pielonefrite. A urina é rica em células, mas não da para ver a bactéria, ou seja, bacterioscopia negativa No exame do LCR temos aumento de linfócitos mononucleares e leve aumento de proteínas, mas a bacterioscopia é negativa. Obrigatório um RX detórax EXAMES ESPECÍFICOS Podemos pedir exames sorológicos (ELISA-IgM; macro e microglutinação) que dão valores de IgM e IgG – o IgM é essencial para diagnóstico de leptospirose. Caso não tenha IgM, o diagnóstico pode ser fechado com IgG negativo + sintomas e depois de 1 semana o IgG vem positivo. É possível pedir um PCR sérico, na urina ou no liquor. Também é possível pedir cultura por imuno-histoquímica ou por técnica do campo escuro. TRATAMENTO As leptospiras são sensíveis a penicilina, então o tratamento não é tão complicado. Na forma anictérica, usamos doxiciclina 100mg 12/12h Para crianças.: amoxicilina 50mg/kg/dia 6/6h ou azitromicina + claritromicina como 2ª opção Aqui é possível usar VO. Se a pessoa é alérgica a penicilina, podemos usar a doxiciclina Na forma grave, usa penicilina cristalina 50-100.000U kg/dia em 4-6 doses ou ampicilina 5-100mg/kg/dia em4 doses ou ceftriaxona 80-100mg/kg/dia em 1-2 doses ou Cefotaxima 50-100mg/kg/dia em 2-4 doses. O tratamento é com ATB IV por > 7 dias. TRATAMENTO DE SUPORTE.: só os ATB não são suficientes, precisamos de hidratação para repor volemia; reposição de potássio; controle da função renal, pulmonar e de sangramentos. PROFILAXIA e PREVENÇÃO A principal forma é através do controle de ratos (ou outros roedores) e educação da população para não entrar em alagamentos, lagos, pequenos rios e represas, além da lavagem e desinfecção de feridas. PROFILAXIA.: existe uma profilaxia pré e pós-exposição (curta exposição) com doxiciclina 200mg semanal A profilaxia é usada por equipes de resgate em áreas alagadas ou por profissionais que correm o risco de contaminação
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