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INDICADORES DIDÁTICO-PEDAGÓGICOS PARA O ENSINO DA EDUCAÇÃO FÍSICA: Acordos e desacordos dos autores especialistas1 Por: Vanderson da Cunha Nascimento2 Helder Guerra de Resende3 O Contexto Desde o final dos anos 70 a educação física brasileira vem passando por uma revisão dos seus objetivos, fundamentos e meios de intervenção didático- pedagógicos, no sentido de forjar uma identidade conceitual que lhe confira autonomia e legitimidade no contexto da educação escolar (Resende, 1994; Bracht, 1997). Vale ressaltar que este processo de revisão foi desencadeado num momento de crise em que as instituições, independentemente da sua natureza (sociocultural, política ou econômica), passaram a questionar seus respectivos princípios, finalidades e modelos organizacionais, em alguma medida pressionadas por força das circunstâncias históricas. No campo educacional em especial, o acordo MEC-USAID serviu de alicerce para a política educacional dos governos militares, assim como seus pressupostos e princípios nortearam a definição de políticas educacionais e os modelos didático- pedagógicos no campo da intervenção do ensino-aprendizagem. Foram difundidos os fundamentos e os modelos de sistematização do ensino-aprendizagem pautados na Tecnologia Educacional, que se mostravam adequados e coerentes com os ideais de racionalização, de maximização e de eficácia produtiva (Kuenzer e Machado, 1986; Candau, 1988), trilogia esta orientadora do modelo de sociedade idealizado na época. Estes ideais foram proclamados para direcionar o denominado ‘milagre econômico brasileiro’, tendo como um de seus pilares uma política educacional comprometida com a formação técnico-profissionalizante, cuja base de intervenção didática privilegiava as dimensões das competências e das habilidades técnico-instrumentais. “No momento em que ‘o desenvolvimento econômico com segurança’ era o carro-chefe da ideologia do Estado Revolucionário, a baixa produtividade, expressa por baixos índices de satisfação da demanda escolar em relação ao total da população e pelos altos índices de evasão e de repetência, era apresentada como um dos entraves ao atingimento daquele objetivo. Isto porque o produto inadequado do sistema escolar era apontado como responsável, por um lado, pela baixa qualificação da mão-de-obra, e, portanto, pela desigualdade de distribuição de renda, e por outro, pelo despreparo das massas para o processo político” (Kuenzer; Machado, 1986:29). No final da década de setenta, e de forma mais intensa e sistematizada no decorrer da década de oitenta, a referida concepção de educação e o respectivo modelo de intervenção didático-pedagógico, entre outros aspectos, passaram a ser criticados por apresentarem orientações de planejamentos fechados, centrados numa perspectiva fundamentalmente técnico-instrumental, além de enfatizarem estratégias e técnicas de ensino respaldadas em modelos teóricos behavioristas. 1 Texto desenvolvido a partir de projeto de pesquisa com apoio técnico-financeiro do CNPq 2 Universidade do Estado do Pará 3 Universidade Gama Filho 2 A referida concepção - na ótica dos especialistas que se identificavam com posições críticas ao modelo de sociedade e de educação vigentes - além de não considerar o contexto existencial do aluno, não se colocava na perspectiva dos latentes ideais de renovação (matriz liberal) ou de transformação (matriz socialista) do modelo da sociedade brasileira, pautada numa perspectiva de cidadania emancipada, ou seja, na “competência humana de fazer-se sujeito, para fazer história própria e coletivamente organizada” (Demo, 1995:1). Nesta perspectiva, uma educação de qualidade, planejada e com oportunidade para todos, constitui-se numa das prioridades estratégicas por ser um dos componentes nucleares para a “construção da competência histórica em fazer a oportunidade de desenvolvimento ou o desenvolvimento como oportunidade; a qualidade educativa da população passa a figurar como condição primordial para a construção de um projeto moderno, próprio e mormente humanizado de desenvolvimento” (Demo, 1995:5). No campo específico da Didática, passou-se a questionar os princípios, os fundamentos e os modelos de ensino-aprendizagem identificados com a Tecnologia Educacional4, modelo este que pejorativamente denominou-se de tecnicismo. Parte dos especialistas da educação física, principalmente aqueles que vinham desenvolvendo seus programas de pós-graduação em educação ou áreas correlatas, passaram a interagir, a socializar com debates e a aderir a esse discurso autodefinido como crítico-superador (Resende, 1992; Daolio, 1998). No âmbito da educação física, principalmente no campo da educação formal, o modelo didático- pedagógico identificado com os pressupostos e princípios da Tecnologia Educacional mostrava-se, em tese, perfeitamente adequado e coerente com a perspectiva da educação física legitimada pelo Decreto no. 69.450/71 que elegia o esporte como conhecimento a ser pedagogicamente ensinado e desenvolvido a partir da 5a. série do 1o. grau. Conhecimentos clássicos como a ginástica, o jogo, entre outros, passaram a ser pedagogicamente tratados como meios necessários à aquisição e ao desenvolvimento das habilidades motoras específicas para a aprendizagem e a prática eficaz de modalidades esportivas. Muitos especialistas rotularam essa concepção de desportivização da educação física (Moro, 1990; Resende, 1992), ou educação física tecnicista (Oliveira, 1981), educação física competitivista (Ghiraldelli Jr., 1988), concepção técnico-esportiva (Kunz, 1997) etc. De comum, esta literatura denunciava os limites da compreensão e da intervenção profissional fundamentados: - na dimensão biológica do homem, objetivando a funcionalidade do desempenho motor e fisiológico; - no esporte institucionalizado, enquanto conhecimento/habilidade-fim a ser pedagogicamente trabalhado na escola; - numa concepção didática racionalista, em que tudo pode e deve ser previsível, organizado, ordenado, hierarquizado e observado, não se a devida atenção à diferença, ao acaso, ao imprevisto, ao conflito e à contradição. 4 A tecnologia educacional, segundo Kuenzer e Machado (1986:30), “representa a racionalização do sistema de ensino em todas as suas formas e níveis, tendo em vista sua eficiência, medida por critérios internos de economia de recursos escassos, e sua eficácia, medida pela adequação de seu produto às necessidades do modelo de desenvolvimento vigente. Ou seja, significa a absorção, pela educação, da ideologia do saber, do saber pensar e do saber fazer pautado nos modelos empresariais”. 3 Neste sentido, colocam-se os objetivos operacionalizados, que evidenciam a dimensão do rendimento numa perspectiva de desempenhos comportamentais, passíveis de serem necessariamente avaliados quantitativamente nos três domínios comportamentais (psicomotor, cognitivo e afetivo-social); colocam-se os métodos e metodologias de ensino que privilegiam a memorização do conhecimento, o condicionamento físico e a automatização de padrões motores, orientados, fundamentalmente, pela fisiologia do esforço, pelo treinamento esportivo e pela biomecânica, entre outros campos disciplinares que orientam o esporte na perspectiva do rendimento; a organização do ensino em progressões pedagógicas inspiradas numa concepção associacionista de aprendizagem; uma avaliação concebida processualmente, porém planejada em etapas com objetivos, funções e procedimentos próprios (diagnóstico, formativa e somativa). Considerando esse contexto, fruto do movimento de crítica renovadora da educação física, vários estudos e ensaios começaram a ser publicadosa partir do início dos anos oitenta, documentando as discussões e as reflexões que circulavam nas universidades, nos grupos de estudo, nos eventos acadêmicos, entre outros espaços. De acordo com Resende (1994, 1995), Muniz (1996) e Costa (1998), inicialmente o referido discurso crítico no âmbito da educação física apoiou-se em alguns fundamentos teóricos de um humanismo existencialista. Entre os trabalhos de expressão da época, podemos destacar o livro de Vitor Marinho Oliveira (1985), Educação Física Humanista, que questionava, em alguma medida, a ênfase e os efeitos pedagógicos de intervenções formativas pautadas no modelo teórico comportamentalista no âmbito da educação física. Mais tarde, esta visão humanista passou a ser criticada por não levar em consideração que a construção existencial do homem era determinada pelo modo de produção caracterizador do contexto político, econômico e sociocultural em que se dá. Ou seja, não se colocava numa perspectiva crítico-superadora o modo de produção capitalista. Nessa perspectiva, ainda na década de 80, novos trabalhos começaram a ser publicados enfatizando as relações entre o modo dominante de produção econômica e as políticas e práticas no campo da educação em geral, e da educação física em particular. A ênfase voltou-se para as críticas ao contexto político-econômico e educacional, como meio necessário à transformação da sociedade brasileira. Considerando esta marca discursiva, podemos destacar, as publicações de Castellani Filho (1988), Ghiraldelli Jr. (1988), Soares et alii (1992), Oliveira (1994), entre outros. Esse grupo, ao pontuar suas argumentações ditas revolucionárias em referenciais marxistas, procurou criticar as demais compreensões e encaminhamentos pedagógicos de educação física por considerá-las ingênuas e/ou reducionistas, seja em função da dimensão biológico-funcional, seja em função da dimensão técnico-esportiva e seja em função da dimensão psicopedagógica (formativo-recreativa). Essas dimensões, segundo as críticas dos especialistas, não consideravam as implicações ideológicas subjacentes às políticas e às práticas da educação física legitimadoras das contradições geradas pelo sistema capitalista. No entanto, estes especialistas5 identificados com o Pensamento Pedagógico Renovador da Educação Física Brasileira (PPREF)6, também, passaram a sofrer 5 Estamos denominando de especialistas autores aqueles que reconhecidamente vêm participando da construção conceitual, enquanto veiculadores de propostas de intervenção identificadas com o Pensamento Pedagógico Renovador da Educação Física Brasileira. 4 críticas pela ausência de propostas consistentes e concretamente desenvolvidas no sentido de subsidiar a formação pedagógica e as intervenções didáticas de docentes atuantes no ensino da educação física. Assim sendo, passaram a ser colocadas questões do tipo: Que novas referências de intervenção didático-pedagógica deveriam ser aplicadas quando das tarefas cotidianas do professor de planejar, definir objetivos, selecionar, organizar e transmitir os conhecimentos, organizar e ministrar as atividades de ensino, avaliar e estabelecer as bases da relação com os alunos? Criticava-se o que vinha sendo feito sem, no entanto, apresentar orientações didático-pedagógicas alternativas para se ensinar a educação física, em coerência com as referidas propostas conceituais de pretensões crítico-superadoras. Objetivo e Caminhos Metodológicos Comungamos com o pressuposto de que, no campo da intervenção pedagógica, novas elaborações conceptuais pressupõem novas e correspondentes propostas de intervenção em função dos elementos constitutivos da didática (planejamentos, objetivos, conteúdos, metodologias, avaliação e relação professor- aluno). Sendo assim, desenvolvemos estudos analíticos (Resende, 1992, 1994, 1995; Muniz, 1996; Costa, 1998) da literatura identificada com o denominado Pensamento Pedagógico Renovador da Educação Física Brasileira, no sentido de identificar e cadastrar indicadores didático-pedagógicos revelados pelos autores especialistas. A partir deste trabalho inicial, desenvolvemos uma pesquisa do tipo validação de conteúdo, cujo objetivo foi verificar se existe acordo entre os especialistas autores em relação aos indicadores didático-pedagógicos identificados com os fundamentos conceituais do Pensamento Pedagógico Renovador da Educação Física Brasileira e do Pensamento Pedagógico Técnico-Esportivo. A intenção da pesquisa foi constatar se cada indicador didático-pedagógico é reconhecido pelos especialistas autores como característico de uma ou da outra matriz conceitual, a partir da produção desenvolvida e acumulada pelos referidos especialistas autores ao longo desses anos. Para a realização do estudo foi construída uma escala de opinião para que cada especialista autor pudesse relacionar cada indicador didático-pedagógico com a concepção de educação física correspondente (Técnico-esportiva ou Renovadora). Esses indicadores contemplaram todos os elementos estruturantes da didática (planejamento de ensino, objetivo de ensino, conteúdo de ensino, metodologia de ensino, avaliação do ensino-aprendizagem e relação professor-aluno). A escala de opinião foi submetida a um processo de validação desenvolvido por 4 (quatro) especialistas em Didática, todos com formação em nível de pós- graduação stricto-sensu (um mestre e três doutores). Foram validados 20 indicadores do Pensamento Pedagógico Renovador da Educação Física (17 deles com um índice de 100% de acordo e 3 indicadores com 75% de acordo - 1 indicador foi rejeitado). Em relação Pensamento Pedagógico Técnico-Esportivo também foram 6 Essa denominação vem sendo utilizada por Resende a partir da orientação da dissertação de Muniz (1996) para identificar esse movimento de críticas e de proposições desenvolvidas no sentido de superar os tradicionais pressupostos conceituais e didático-pedagógicos que vinham, hegemonicamente, norteando o ensino-aprendizagem da educação física na escola (fundamentalmente, o biológico- funcional e o técnico-esportivo). 5 validados 20 indicadores (16 com um índice de 100% de acordo, e 4 indicadores com 75% de acordo). Inicialmente, foram enviadas 39 escalas de opinião, das quais 26 foram respondidas e desenvolvidas. Portanto, o grupo amostral foi constituído por 67% de especialistas autores representativos da população. Apresentação dos Resultados Dos indicadores didático-pedagógicos identificados com o PPTE, o Quadro 1 relaciona aqueles que obtiveram um percentual de acordo igual ou superior a 75%, critério mínimo para considerar o indicador representativo do PPTE (Quadro 1). Quadro 1 Indicadores didático-pedagógicos do PPTE que obtiveram índice de acordo igual ou superior a 75% Elementos Didático Itens Indicadores % de Acordo Planejamento 34 O professor toma as decisões inerentes ao planejamento e aos planos de ensino, privilegiando apenas as propostas curriculares oficiais e os níveis de desenvolvimento dos alunos. 84,62 05 A decisão sobre os objetivos e as atividades da aula é prerrogativa exclusiva do professor, previamente enunciados, a partir do seu próprio juízo de valor. 92,31 14 As aulas são norteadas por objetivos de cada Domínio de aprendizagem (psicomotor, cognitivo e afetivo-social), evidenciando-se com precisão a ação observável dos alunos, a(s) condições de realização e, sempre que possível, o critério mínimo de desempenho. 76,92 Objetivo 15 As aulas são norteadaspor objetivos formulados em termos operacionais, nos três domínios comportamentais, que deverão ser objeto de avaliação ao final de cada aula. 76,92 09 A referência para a seleção dos objetivos e conteúdos de ensino são as atividades motoras e os conhecimentos que servem, direta ou indiretamente, ao ensino do esporte institucionalizado. 92,31 07 A mudança do tema e/ou do(s) objetivo(s) de uma determinada aula são definidos, fundamentalmente, a partir do que está previamente estipulado nos planos de ensino determinados pelo professor. 84,61 Conteúdo 36 Os conteúdos de ensino são selecionados e organizados de modo a oportunizar a vivência das qualidades físicas, das habilidades motoras e dos fundamentos técnicos das diferentes modalidades esportivas. 76,92 28 O ensino dos conhecimentos/habilidades (a) inicia-se pela apresentação dos objetivos e padrões de desempenho; (b) pressupõe a explicação e/ou demonstração da forma de execução de cada atividade organizada em progressão pedagógica; e (c) viabiliza o julgamento e a proposição de feedback em função do desempenho dos alunos face aos padrões de execução e critérios de desempenho. 100 Metodologia 21 As metodologias e procedimentos de ensino favorecem, prioritariamente, o direcionamento das ações dos alunos à aquisição de padrões motores característicos do esporte institucionalizado. 96,15 6 Elementos Didático Itens Indicadores % de Acordo 20 As metodologias e procedimentos de ensino definidos pelo professor tendem a estimular, predominantemente, os processos mentais dos alunos na perspectiva da teoria behaviorista. 88,47 12 As atividades de ensino são predominantemente organizadas em forma de progressão pedagógica das mais simples para as mais complexas, do específico para o global e das partes para o todo. 80,77 03 A avaliação é fundamentada num modelo ideal de desempenho previamente fornecido por tabelas de pontuação e por critérios validados ou estabelecidos por iniciativa do professor. 100 Avaliação 37 Os desempenhos dos alunos geralmente são informados por meio de notas conferidas a partir da aplicação de instrumentos padronizados ou construídos pelo professor, com o propósito de verificar em que medida os objetivos de ensino foram dominados. 96,15 11 A relação professor-aluno é predominantemente conduzida pelo professor, que tende a assumir de forma estritamente acabada as decisões sobre o processo de ensino-aprendizagem. 92,31 31 O professor concentra as decisões sobre o processo ensino aprendizagem, considerando que os alunos, em geral, não possuem maturidade e experiências relevantes para contribuir com sugestões adequadas à dinâmica dos planejamentos e do desenvolvimento das aulas. 92,31 Relação Professor- Aluno 33 O professor tende a assumir um papel de controlador da disciplina e das atividades de ensino-aprendizagem, no sentido de evitar a ocorrência ou manutenção de Qualquer tipo de divergência que contrarie os objetivos previamente estabelecidos. 92,31 Dos indicadores didático-pedagógicos identificados com o PPTE, o Quadro 2 revela aqueles que obtiveram um percentual de acordo inferior a 75%, critério mínimo para considerar o indicador representativo do PPTE. Quadro 2 Indicadores didático-pedagógicos do PPTE que obtiveram índice de acordo inferior a 75% Elementos Didático Itens Indicadores % de Acordo Planejamento 40 Os planejamentos e os planos de ensino são previamente definidos, assim como possibilitam reformulações a partir de um processo sistematizado de avaliação realizada em determinados momentos julgados oportunos pelo professor 42,31 17 As aulas são planejadas e desenvolvidas de modo que no término de cada sessão os objetivos imediatos sejam atingidos e demonstrados pelos alunos. 69,23 Objetivo 25 Cada aula pressupõe um conjunto de objetivos operacionalizados e norteadores das atividades de ensino e da avaliação formativa a ser realizada durante e/ou no final da mesma. 65,38 Avaliação 06 A dinâmica da avaliação é planejada previamente em termos de propósitos e de momento de realização (diagnóstica, formativa e somativa), com ênfase na sua função somativa. 65,39 Dos indicadores didático-pedagógicos identificados com o PPREF listamos a 7 seguir aqueles que obtiveram um percentual de acordo igual ou superior a 75%, critério mínimo para considerar o indicador representativo do PPREF (Quadro 3). Quadro 3 Indicadores didático-pedagógicos do PPREF que obtiveram índice de acordo igual ou superior a 75% Elementos Didático Itens Indicadores % de Acordo 18 As decisões do professor para a definição dos planos de ensino são decorrentes das experiências e das expectativas reveladas pelos alunos, bem como das suas necessidades de aquisição sistematizada de conhecimentos/habilidades acerca da cultura do movimento humano. 92,31 Planejamento 29 O planejamento e os respectivos planos de ensino-aprendizagem são abertos e continuamente reelaborados em função da dinâmica de possibilidades, conflitos e dificuldades do ensino-aprendizagem e do convívio social que emergem no decorrer das aulas. 84,62 08 A organização das atividades da aula é processual, norteada por objetivos declarados e discutidos com os alunos, que poderão ser atingidos no final de uma ou de algumas sessões de ensino- aprendizagem. 88,46 Objetivo 16 As aulas são norteadas por objetivos que evidenciam a ação ou conjunto de ações esperadas dos alunos, em função da tematização da aula ou seqüência de aulas, desvinculando-os de preocupações como formulação em termos operacionais. 84,61 39 Os objetivos e os conteúdos de ensino são desenvolvidos de modo a possibilitar ao aluno a compreensão, numa perspectiva histórico-crítica, dos fundamentos específicos, dos sentidos e valores determinantes do seu desenvolvimento sociocultural. 96,15 Conteúdo 35 Os conhecimentos/habilidades a serem trabalhados na educação física escolar são os referentes à ginástica, ao jogo e brincadeira popular, ao esporte, à dança e à luta, sem que haja a contemplação de um(ns) em detrimento de outro(s) alunos. 84,61 22 As metodologias e procedimentos de ensino propiciam a participação ativa dos alunos no sentido da aquisição dos conhecimentos/habilidades e da reflexão sobre valores subjacentes à cultura do movimento humano. 100 23 As metodologias e procedimentos de ensino são abertas às experiências de aquisição e reflexão sobre os conhecimentos/habilidades, bem como às experiências que estimulem iniciativas criativas e construtivas acerca das manifestações da cultura do movimento humano. 96,15 Metodologia 24 As metodologias e os procedimentos de ensino são desenvolvidos, preferencialmente, na perspectiva da problematização dos conhecimentos/habilidades da cultura do movimento humano, de modo a estimular o desenvolvimento de capacidades como observação, análise, hipotetização, experimentação e avaliação. 92,31 8 Elementos Didático Itens Indicadores % de Acordo 27 O ensino dos conhecimentos/habilidades (a) inicia pela problematização, apresentação e justificativa dos objetivos a serem atingidos; (b) possibilita o levantamento (discussão e prática) das experiências, expectativas e dificuldades dos alunos; (c) assegura a transmissão sistematizada do conhecimento/habilidade, de modo a aumentar e/ou aprofundar o repertório de experiências e reflexões dos alunos sobre a temática em foco; (d) processa a avaliação participativa sobre o nível de aprendizagem, em função dos objetivosproclamados no sentido de nortear as decisões a serem tomadas. 88,46 04 A avaliação é participativa para que o professor, e os alunos compreendam e interpretem os acontecimentos do processo ensino-aprendizagem, visando a tomar a melhor decisão sobre o que deve ser feito em função dos resultados alcançados. 92,31 26 Na medida do possível, as aulas são encerradas com uma análise avaliativa do professor e dos alunos, no sentido de refletirem sobre as experiências vivenciadas, e levantarem indicações e propostas para as próximas sessões de ensino-aprendizagem. 92,31 02 A avaliação do ensino-aprendizagem pressupõe a participação dos alunos na definição dos objetos, dos procedimentos de medida e dos critérios de avaliação 84,62 Avaliação 01 A avaliação do ensino-aprendizagem assume a função de diagnóstico continuado, visando à identificação e à compreensão sobre o nível de aprendizagem, de modo a subsidiar as decisões do professor em conjunto com os alunos 80,77 10 A relação professor-aluno é dialógica, buscando-se o constante exercício da autonomia, da participação ativa e da capacidade de reflexão no sentido da superação de dificuldades na apreensão dos conhecimentos/habilidades e de condutas disciplinares julgadas inadequadas. 100 Relação Professor -Aluno 32 O professor é o responsável pela mediação dos conflitos que emergem da interação do aluno com o meio sociocultural da aula, provocando um ambiente de reflexão, trocas e decisões superadoras das situações-problema. 84,61 Dos indicadores didático-pedagógicos identificados com o PPREF listamos a seguir aqueles que obtiveram um percentual de acordo inferior a 75%, critério mínimo para considerar o indicador representativo do PPREF (Quadro 4). Quadro 4 Indicadores didático-pedagógicos do PPREF que obtiveram índice de acordo inferior a 75% Elementos Didático Itens Indicadores % de Acordo 19 As definições dos objetivos e das atividades de uma aula são norteadas por uma avaliação participativa dos resultados do ensino- aprendizagem ocorridos na(s) aula(s) anterior(es). 69,23 Objetivo 38 Os objetivos de uma aula ou conjunto de aulas são definidos em função das necessidades de aprendizagem dos alunos, não precisando contemplar, necessariamente, os três domínios comportamentais (motor, cognitivo e social-afetivo). 53,85 9 Elementos Didático Itens Indicadores % de Acordo Metodologia 13 As aulas devem começar, a título de referência, apresentando-se os objetivos a serem trabalhados e/ou fazendo uma retrospectiva dos aspectos centrais ocorridos na sessão anterior, de modo a orientar a continuidade da temática (conteúdo) em questão. 30,77 Avaliação 30 O principal critério para julgar a consecução dos objetivos de ensino tem como referência o nível de vivências/resultados julgados satisfatórios pelo professor em conjunto com os alunos. 65,38 Do total de quarenta indicadores formulados, oito não obtiveram índice de acordo significativo pelos especialistas autores, correspondendo a 20% do total. Destes oito, quatro estão relacionados ao PPREF e os outros quatro ao PPTE. Os resultados obtidos nos permitem fazer algumas inferências, a saber: • os indicadores considerados representativos, a partir do acordo revelado pela opinião dos especialistas autores, apontam a existência de uma matriz didático- pedagógica identificada com o PPREF que se distingue da matriz didático- pedagógica identificada com o PPTE, dando suporte a uma intervenção didática diferenciada. Os resultados obtidos respondem favoravelmente as nossas questões iniciais, ao sugerirem que os especialistas autores, em sua grande maioria, concordam que os indicadores propostos e que obtiveram o percentual mínimo de acordo igual ou superior a 75%, configuram a existência de matrizes didático-pedagógicas distintas e relacionadas às diferentes matrizes conceituais de educação e, no caso do presente estudo, da Educação Física (PPREF e PPTE). • os indicadores que não geraram índices de acordos, se por um lado não se constituem em marca característica do pensamento pedagógico para o qual foram originalmente associados, por outro as justificativas apresentadas pelos especialistas autores não desautorizam as respectivas identificações, pois a maior parte dos que discordaram da referida associação, consideraram os indicadores representativos para os marcos conceituais tanto do PPREF, quanto do PPTE; • alguns indicadores que não obtiveram o índice de acordo esperado, revelam a existência de um paradoxo entre o discurso da unidade/totalidade e a tese ontológica de que o ‘todo’ é decorrente de um trabalho associativo das partes que o compõem. Esta inferência apoia-se na opinião de que todas as aulas devem ser norteadas por, pelo menos, um objetivo de cada domínio comportamental, pressuposto este apresentado pela Tecnologia Educacional (item no. 38). As aulas são concebidas como unidades com relativa independência, em que cada uma das sessões deve pressupor uma terminalidade de consecução dos objetivos imediatos (itens nos. 17 e 25). O mesmo ocorre em relação à dinâmica da avaliação que, segundo os especialistas autores, deve ter suas etapas, objetivos parciais, funções e ocasiões demarcadas – diagnóstico, formativo e somativo (item no. 06). Considerações Finais Em primeiro lugar, é possível considerar como limitação do estudo o fato de se configurar como uma proposta classificatória do tipo ideal. Neste sentido, os indicadores tentam retratar um ideal de realidade identificado com os discursos e as proposições conceituais elaboradas pela comunidade acadêmica da educação física brasileira, harmonizada com o Pensamento Pedagógico Renovador. 10 Portanto, as duas matrizes de indicadores didático-pedagógicos (PPTE e PPREF) propostas não retratam, necessariamente, a dinâmica da prática pedagógica nas aulas de educação física. Assim como é possível afirmar que nem o ideal técnico-pedagógico identificado com a Tecnologia Educacional e nem as propostas político-pedagógicas afinadas com o Movimento Crítico-renovador chegaram a concretizar satisfatoriamente seus postulados na prática educacional em geral, e na educação física brasileira, em particular. Mesmo assim, nosso propósito acadêmico é relevante e justificável. A construção da matriz didático-pedagógica do Pensamento Pedagógico Renovador da Educação Física Brasileira partiu de elementos concretos da nossa realidade educacional, presente nos discursos e nas práticas pedagógicas dos atores sociais. Como criticou um dos especialistas autores, se os indicadores didático- pedagógicos revelam uma postura maniqueísta, é porque os discursos dos especialistas renovadores revelaram-se polarizados em relação àqueles que entendiam que o ensino do esporte deveria ser a finalidade da educação física na escola. A década de 80, momento em que ganhou forma e espaço o discurso renovador, foi de polarização política e de matrizes pedagógicas (Ghiraldelli Jr., 1990; Daolio, 1998). Ambos os lados “conspiravam” contra o outro, ora desenhando o ‘inferno’, ora enaltecendo o ‘paraíso’ e vice-versa (termos utilizados pelo mencionado especialista autor que criticou a polarização dos indicadores didático- pedagógicos submetidos à validação). O mesmo ocorreu, no campo do debate e do embate acadêmico entre liberais e socialistas, entre direita e esquerda, entre positivistas e antipositivistas, entre católicos e protestantes, entre os conservadores e radicais da contracultura etc (Bobbio, 1995; Hobsbawm, 1995). Nossa posição, como pesquisadores, foi tentar responder se os indicadores didático-pedagógicos dispersos na literatura encontram reconhecimento da maioria representativados autores especialistas, no sentido de identificá-las com uma ou com outra matriz de pensamento pedagógico. Uma crítica procedente, assim como a própria crítica ao pensamento autodefinido de crítico, ganhará consistência quando tivermos demarcado com clareza seus respectivos elementos fundantes. Referências Bibliográficas Bobbio, N. (1995). Direita e esquerda: razões e significados de uma distinção política. São Paulo: UNESP. Bracht, V. (1997). Em torno da autonomia e da legitimidade da educação física. In: Educação física e aprendizagem social. Porto Alegre: Magister. 15-53. Candau, V. M. (1988). A revisão da didática. In: Candau, V.M. (Org.). Rumo a uma nova didática. Petrópolis: Vozes. p. 13-18. Castellani Filho, L. (1988). Educação física no Brasil - a história que não se conta. Campinas: Papirus. Costa, M. de M. (1998). As críticas formuladas pelos autores identificados com o pensamento pedagógico renovador da educação física brasileira. (Dissertação de Mestrado). Rio de Janeiro: PPGEF-UGF. Daolio, J. (1998). Educação física brasileira: autores e atores da década de 1980. Campinas: Papirus. 11 Demo, P. (1995). Cidadania tutelada e cidadania assistida. São Paulo: Autores Associados. Ghiraldelli Júnior, P. (1988). Educação física progressista: a pedagogia crítico social dos conteúdos e a educação física brasileira. São Paulo: Edições Loyola. ______ (1990). História da educação. São Paulo: Cortez. Hobsbawm, E. (1995). A era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Cia. Das Letras. Kuenzer, A. Z.; Machado, L. 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