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Direito civil Continuação pagamentos... Credor, representante do credor, credor putativo, mandatário tácito, credor do credor. O pagamento, para ter eficácia, poderá ser feito: 1. Para o próprio credor; Credor: é o titular originário do crédito. Também são credores aqueles que sucederam o Credor na titularidade do Crédito. Regra geral: O credor será “accipiens” (art. 308, CC), pode ser o credor originário ou derivado (herdeiros, espólio, legatários, cessionários, etc.) Se houver credores solidários, o devedor poderá pagar a dívida para qualquer um dos credores, tendo em vista que na solidariedade cada credor pode receber o crédito sozinho (arts. 268 e 269, CC). Diferentemente será nas obrigações indivisíveis, pois quem recebeu precisa dar caução de ratificação dos demais. Isso porque, nas obrigações indivisíveis, o pagamento só será válido se feito a todos eles em conjunto ou, se feito a um só se tiver caução de ratificação. 2. Para um representante do credor; Há dois tipos de representação: a) Legal: pais, tutores, curadores; b) Judicial: inventariante, administrador judicial; Art. 308, CC – a quem se deve pagar? Accipiens c) Voluntária (convencional): mandatário com poderes para receber e dar quitação; o pagamento também poderá ser feito ao seu representante legal, que tem poderes para receber o pagamento, sob pena de só valer depois da ratificação, de confirmação pelo credor, ou havendo prova de reversão ao seu proveito (art. 308, CC). 3. Para um terceiro, desde que o credor ratifique o pagamento; ou quando o pagamento ao terceiro reverter em proveito do credor. Portanto, o pagamento feito a terceiro só terá eficácia se: a) Se o credor ratificar o pagamento, ou; b) Se ficar comprovado que o valor pago reverteu em proveito do credor. O pagamento repercute no plano de eficácia, e não no plano da validade como prevêem os arts. 308, 309 e 310 do CC. Credor Putativo (credor aparente): é a pessoa que aparentemente é considerado credor, mas na verdade não é. Existem dois requisitos para que o pagamento feito ao Credor Putativo seja eficaz: 1. Que o devedor, ao pagar a dívida para o Credor Putativo, esteja de boa-fé; 2. Que o Credor Putativo realmente pareça ser o verdadeiro credor. Ex: Pagamento feito a ex-mulher do credor, achando que ainda estavam juntos. Portanto, aplica-se a Teoria da aparência e da boa-fé objetiva pautada na seriedade e diligência do devedor. Se o devedor foi diligente e cuidadoso e pagou ao credor putativo, pagamento será válido. A doutrina majoritária entende que será boa-fé objetiva: Cristiano Chaves, Nelson Rosevald, Leoni Lopes de Oliveira. Enunciado 425 do CJF – V Jornada de Direito Civil Art. 309, CC – Credor Putativo Em sentido contrário: André Barros. STJ: REsp. 823.724/RJ – Considera-se eficaz o pagamento efetuado a aquele que se apresenta com aparência consistente de ser mandatário do credor se as circunstâncias do caso assim indicarem. Art. 876, CC: Aquele que recebeu o pagamento que não lhe era devido, fica obrigado a restituir (para evitar o enriquecimento sem causa). – subjetivamente indevido. O pagamento feito conscientemente ao credor incapaz não terá eficácia porque ele não tem capacidade para dar quitação em uma dívida. Sendo assim, não terá eficácia e terá de ser paga novamente. Art. 3º e 4º do CC. O pagamento feito ao incapaz, em regra, será nulo ou anulável. O caso do pagamento feito ao menor relativamente capaz não assistido, quando ele oculta maliciosamente sua idade ou propositalmente declara-se maior ao tempo adimplemento. Nesse caso deve ser aplicada a regra dos arts. 180 e 181 do CC, pois não pode o incapaz beneficiar-se da própria torpeza para receber o pagamento do credor de boa-fé. O pagamento somente terá eficácia se: 1. For feito a uma pessoa capaz; 2. For feito ao representante legal do absolutamente incapaz; ou, 3. For feito ao relativamente incapaz e seu representante legal confirmar o pagamento; ou se o relativamente incapaz confirmar o pagamento quando cessada a causa da incapacidade. Se o devedor provar que o pagamento feito ao incapaz reverteu em benefício do próprio Incapaz o pagamento terá eficácia, pois se não fosse assim o credor estaria enriquecendo indevidamente à custa do devedor. Concluindo: Regra geral: O pagamento cientemente feito para um credor Art. 310, CC – Pagamento feito ao Incapaz de quitar. incapaz de dar quitação não terá eficácia; Exceção: O pagamento feito para um credor incapaz de dar quitação terá eficácia se o devedor provar que o pagamento reverteu em proveito do credor incapaz. É aquele que porta a quitação (porta o título de crédito representativo ou a quitação – recibo – dada pelo credor), nos termos do art. 311, CC. Se ele carrega consigo o título de crédito ou o recibo, presume-se que representa o credor. Exemplos de documentos de quitação: Recibo de pagamento; Nota promissória assinada pelo devedor; Declaração de quitação da dívida; Cheque que foi devolvido sem fundos; etc. Exemplos de Portador do documento de quitação: Funcionário de uma empresa que é portador de um recibo de pagamento; Pessoa que é portadora de nota promissória assinada pelo devedor; Pessoa que é portadora de declaração de quitação da dívida; Pessoa que é portadora de cheque sem fundos; etc. Podemos dizer que se uma pessoa tiver em suas mãos um documento de quitação, essa pessoa estará autorizada a receber o pagamento da dívida. Portanto, se o devedor fizer o pagamento para o portador do documento de quitação, o pagamento terá eficácia. Concluindo: Regra geral: O pagamento feito ao portador do documento de quitação terá eficácia. Exceção: O pagamento feito ao portador do documento de quitação não terá eficácia se as circunstâncias contrariarem a presunção de que o portador do título estava autorizado a receber o pagamento. Art. 311, CC – Pagamento feito ao portador da quitação/ mandatário tácito. Quando o crédito for penhorado e o devedor for devidamente intimado de que o débito este em juízo. Se ainda assim pagar o credor, poderá ser constrangido a pagar novamente ao credor do credor, pois quem paga mal paga duas vezes – poderá exercer o regresso contra o credor através da ação de repetição do indébito. Objeto; prova; lugar; tempo. O que se deve pagar? Sempre a prestação – pode ser de dar, fazer ou não fazer. Nemo aliud pro alio – art. 313, CC. Exceção: execução de dar quantia certa – art. 916, CPC. Pagamento em dinheiro (prestação de dar coisa certa) Princípio nominalismo (art. 315, CC) – Dívidas em dinheiro devem ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal. O princípio do nominalismo traz implícita a correção monetária. STJ – Resp. 1.240.963/RS – mesmo no silêncio das partes. Pagamento em moeda estrangeira ou ouro O sistema jurídico brasileiro proíbe o pagamento em moeda estrangeira e nem em ouro, sob pena de nulidade. É chamada de vedação de cláusula- ouro. (art. 318, CC). O próprio art. 318, CC prevê exceções: Há duas exceções previstas em lei; (decreto-lei 857/69); 1. Obrigação assumida no exterior; 2. Obrigação decorrente de importação. Obs.: pode ser cotado em ouro ou em moeda estrangeira, desde que conste o valor correspondente em Art. 312, CC – Pagamento feito ao credor do credor. Condições objetivas do pagamento Arts. 313 a 318, CC – Do objeto do pagamento reais, por conversão. STJ – Resp. 1323.219/RJA quitação é a prova do pagamento. Pode ser o próprio título ou recibo. Se ocorrer negativa da quitação pelo credor: Direito de retenção pelo credor (art. 319, CC) – a quitação é um direito do devedor que poderá exigi- la do credor, inclusive podendo reter o pagamento por conta disso. O credor será considerado em mora – autorizando a consignação em pagamento. Forma do pagamento A quitação poderá ser sempre por instrumento particular, mesmo se o negócio foi lavrado por escritura pública. Art. 320, CC. Essa regra consagra o princípio da liberdade das formas previsto no art. 107, CC. Enunciado 18 da I Jornada de Direito Civil – A "quitação regular" referida no art. 319 do novo Código Civil engloba a quitação dada por meios eletrônicos ou por quaisquer formas de "comunicação a distância", assim entendida aquela que permite ajustar negócios jurídicos e praticar atos jurídicos sem a presença corpórea simultânea das partes ou de seus representantes. Conteúdo da quitação A quitação deverá conter: O valor e a espécie da dívida quitada; O nome do devedor ou o nome de quem por ele pagou; A data em que o pagamento foi efetuado; O lugar em que o pagamento foi efetuado; A assinatura do credor ou do seu representante. Par. Único, art. 320, CC – Esses requisitos não são obrigatórios. O legislador privilegiou o princípio da liberdade das formas (art. 107, CC). Presunções do pagamento Arts. 319 a 326 – Da prova do pagamento Em determinadas situações, haverá a presunção que houve quitação: 1. No pagamento em quotas periódicas, o pagamento da última parcela estabelece uma presunção de quitação das anteriores – art. 322, CC. 2. Quitando o capital, presumem-se quitados os juros, eis que o juro é acessório do capital – princípio da gravitação jurídica – Art. 323, CC. 3. A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento. Art. 324, CC. Todas as regras acima geram presunção juris tantum. Na prática, ocorre a inversão do ônus da prova.