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SISTEMA DE ENSINO DIREITO CIVIL Responsabilidade Civil – Parte IV Livro Eletrônico 2 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL Sumário Apresentação ................................................................................................................................... 3 Responsabilidade Civil – Parte IV ................................................................................................ 4 1. Classificação da Responsabilidade Civil ................................................................................ 4 1.1. Quanto à Origem ....................................................................................................................... 4 1.2. Responsabilidade pela Quebra da Confiança: uma Terceira Categoria? ...................... 6 1.3. Quanto à Culpa ......................................................................................................................... 7 1.4. Responsabilidade Objetiva .................................................................................................... 8 2. Pressupostos da Responsabilidade Civil ..............................................................................12 2.1. Conduta .....................................................................................................................................13 2.2. Culpa .........................................................................................................................................21 2.3. Nexo Causal ............................................................................................................................ 22 2.4. Dano .........................................................................................................................................24 2.5. Excludentes da Responsabilidade Civil ............................................................................ 36 Questões de Concurso .................................................................................................................43 Gabarito ........................................................................................................................................... 69 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 3 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL ApresentAção Amigo(a), você vai acertar tudo, tudo, tudo de Direito Civil na tua prova! Vamos continuar na nossa aula de Responsabilidade Civil. Resumo Aluno(a), quem tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para os exercícios. É fundamental você ver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu aprofundar o conte- údo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiaridade com as questões. De nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros se não tiver familiaridade com a bola. Seja como for, o ideal é você ler o restante da teoria, e não só o resumo, para, depois, ir às questões. O resumo desta aula é este: • Quanto à origem, a responsabilidade pode ser contratual (quando decorre da violação de um dever contratual) ou extracontratual (quando decorre da violação de um dever legal); • O STJ admite a responsabilidade pela quebra da confiança como uma terceira categoria diferente das duas espécies de responsabilidade acima (contratual e extracontratual); • Quanto à culpa, a responsabilidade pode ser subjetiva ou objetiva; • Responsabilidade objetiva é a que dispensa a prova de culpa. É exceção: depende de lei, pois excepciona a regra geral do caput do art. 927 do CC. O parágrafo único do art. 927 do CC admite a responsabilidade civil em dois casos: (1) quando for aplicável a teoria do risco e (2) quando houver lei específica; • Os pressupostos da responsabilidade são a conduta, a culpa, o nexo causal e o dano. Em regra, sem esses pressupostos, não há responsabilidade civil; • Levando em conta a conduta, a responsabilidade civil pode ser direta ou indireta; • A responsabilidade direta ou por ato próprio se dá quando o agente é responsabilizado por uma conduta que ele mesmo adotou. É a regra geral da responsabilidade civil e está prevista genericamente no art. 927, caput, do CC; • A responsabilidade indireta ocorre quando alguém responderá por um dano causado por conduta de um terceiro ou por uma coisa ou animal. É exceção e, por isso, depende de lei; • Os principais danos indenizáveis são os danos material, moral, estético e existencial, além da perda de uma chance e da perda do tempo útil; • As excludentes de ilicitude são excludentes de responsabilidade civil; • No caso da responsabilidade objetiva, apenas o fortuito externo é excludente, por se tratar de risco alheio à atividade; • Se a responsabilidade objetiva for fundada na teoria do risco integral, não há fortuito externo, pois todos os riscos são considerados inerentes à atividade e, por isso, nenhum fortuito será excludente. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 4 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL RESPONSABILIDADE CIVIL – PARTE IV 1. ClAssifiCAção dA responsAbilidAde Civil 1.1. QuAnto à origem Responsabilidade civil quanto à origem Contratual Extracontratual Violação de um contrato (ou melhor, de um negócio jurídico) Excepcionalmente violação de lei pode ensejar responsabilidade contratual Credor NÃO precisa provar culpa, apenas o INADIMPLEMENTO Juros de mora: data da interpelação judicial ou extrajudicial, salvo mora ex re Violação de obrigação legal Credor deve provar a CULPA, e não apenas o DANO Juros de mora: da data do dano Ex.: pensão alimentícia Dever de cuidado objetivo Regra pode ser flexibilizada: inversão do ônus da prova e responsabilidade objetiva Aluno(a), resolva a questão. 001. (CESPE/JUIZ/TRF-2ª/2009) Na responsabilidade contratual, a distinção entre culpa e dolo, para fins de indenização, será irrelevante conforme a natureza do contrato. Quando se trata de um negócio jurídico gratuito, a parte generosa só responde por dolo, nos termos do art. 392 do CC. Errado. Vamos tratar um pouco sobre responsabilidade contatual e extracontratual! Quanto à origem, a responsabilidade civil pode ser contratual ou extracontratual. Marcos Ehrardt Jr. (2012, pp. 333-334), com acerto, prefere designar essas duas espécies de responsa- bilidade como negocial e extranegocial, pois descumprimentos de negócios unilaterais (como a promessa de recompensa), que não são contratos, encaixam-se como responsabilidade civil negocial. Os termos contratual e extracontratual não exprimem todos os casos por eles abran- gidos. Manteremos, porém, a nomenclatura antiga pela sua consolidada tradição. É o que cai em concurso público. A responsabilidade extracontratual ou aquiliana decorre da violação direta de obrigação legal. Diz respeito a descumprimento de deveres gerais previstos em lei, como os oriundos do dever de cuidado objetivo (arts. 186 e 187, CC), dos direitos reais, dos direitos da personalidade O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br5 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL e dos direitos de autor. O dever de cuidado objetivo é aquele que exige que todos adotem con- dutas cautelosas para não causar danos a outrem (art. 186, CC) e não se portem com abuso de direito (art. 187, CC). O fundamento legal da responsabilidade extracontratual são especial- mente os arts. 186, 187, 402, 927 e 944 do CC. A responsabilidade contratual é a que decorre da violação de uma obrigação contratual, ou melhor, de uma obrigação de um negócio jurídico, inclusive os unilaterais, como a promessa de recompensa etc. Excepcionalmente, deve-se admitir como contratual a responsabilidade decorrente da violação de uma obrigação nascida de lei, quando esta for, por um negócio jurí- dico ou judicial, individualizada, como o dever de pagar alimentos. Essa intermediação humana por um negócio ou um ato judicial torna contratual a responsabilidade. É nesse sentido que se deve entender os doutrinadores que, como Carlos Roberto Gonçalves (2011, p. 45), defendem que, excepcionalmente, violação de lei pode ensejar responsabilidade contratual. O fundamen- to legal da responsabilidade contratual são especialmente os arts. 389, 402, 475 e 927 do CC. A título de exemplo, se um ônibus de transporte coletivo se envolve em um acidente, atropelan- do um transeunte e causando lesões nos passageiros, haverá responsabilidade civil contratual da empresa transportadora perante os passageiros por violação ao dever de proteção inerente ao contrato de transporte mantido com estes (cláusula de incolumidade tácita no contrato) e haverá responsabilidade extracontratual da empresa perante o transeunte por desrespeito ao dever legal de cuidado objetivo (art. 186, CC): não há contrato com transeunte. Aluno(a), diga-me: qual é a relevância prática em classificar a responsabilidade civil em contratual ou extracontratual? Há duas principais. Uma utilidade prática da classificação é a de que, na responsabilidade contratual, o credor não precisa provar culpa, mas basta provar o inadimplemento contratual. O inadimplemento, por si só, faz presumir a culpa, admitido, porém, que o devedor faça prova em contrário para afastar a culpa. Já na responsabilidade extracontratual, a vítima tem de provar a culpa do causador do dano. Não basta apenas provar o dano. Essa regra geral, todavia, pode ser flexibi- lizada por lei, pois há casos de inversão de ônus da prova por lei (como no art. 6º, VIII, do CDC e na teoria da distribuição dinâmica da prova prevista no art. 373, § 1º, do CPC) e há casos de responsabilidade objetiva, para qual é irrelevante a prova de culpa. Outra utilidade da classificação é o termo inicial dos juros de mora. Na responsabilidade extracontratual, é a data do dano. Na responsabilidade contratual, é a data da interpelação judicial (geralmente a citação) ou extrajudicial, salvo quando se tratar de mora ex re, em que o termo inicial será a data do advento do termo (STJ, REsp 1513262/SP, 3ª Turma, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 26/8/2015). Sobre o tema, reportamos ao que escrevemos nas aulas de Direito das Obrigações. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 6 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL 1.2. responsAbilidAde pelA QuebrA dA ConfiAnçA: umA terCeirA CAtegoriA? Responsabilidade civil pela quebra de confiança Não é contratual nem extracontratual Lesão causada por frustração à legitima expectativa Seria 3º categoria? Não, pois deriva do dever de boa-fé objetiva Aluno(a), vocês já ouviram falar em responsabilidade pela quebra da confiança? Isso seria uma terceira categoria de dano? O STJ analisou esse tema e, por isso, há chances de isso ser cobrado em concurso. Enquanto a responsabilidade contratual decorre da violação de uma prestação pactuada entre as partes e a responsabilidade extracontratual deriva do descumprimento de um dever genérico de abstenção, há corrente doutrinária a sustentar uma terceira categoria de respon- sabilidade: a responsabilidade pela quebra da confiança. Esta não seria contratual, porque não necessariamente se vincula a um contrato, nem seria extracontratual, pois não se relaciona a um dever genérico de abstenção (Rosenvald; Farias; Braga Netto; 2015, p. 72). A responsabilidade pela quebra da confiança consiste nos danos causados a uma vítima em razão da frustração de uma legítima expectativa criada pelo agente com sua conduta. Não se confundiria com a responsabilidade pré-contratual, porque esta tem, como foco, a ce- lebração futura de um contrato, meta essa inexistente na responsabilidade pela quebra da confiança. O STJ já admitiu essa responsabilidade pela quebra da confiança para condenar a IBM a indenizar uma empresa que, com base na expectativa criada pelo comportamento daquela (apresentação de projeto, visita de engenheiros, indicação das especificações técnicas do pro- duto e utilização de uma empresa intermediária), sofreu prejuízo ao verem rejeitadas as peças que fabricara para serem empregadas no produto projetado pela IBM. Nesse caso, embora o Ministro Relator tenha chegado a esse veredito entendendo que, embora inexistisse contrato entre as partes, seria devida a responsabilidade pela quebra de confiança, a Ministra Isabel Gallotti adotou o mesmo veredito com argumento diverso, afirmando haver um contrato in- formal entre as partes (STJ, REsp 1309972/SP, 4ª Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 08/06/2017). Ao nosso sentir, não é adequado considerar a responsabilidade pela quebra da confiança como uma terceira categoria. Temos que ela se enquadra tanto dentro da responsabilidade contratual como na extracontratual, pois deriva da violação da boa-fé, que é um dever a ser O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 7 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL observado em contratos (responsabilidade contratual) ou fora deles (responsabilidade extra- contratual). Se o comportamento de má-fé for adotado sem haver negócio entre as partes, há respon- sabilidade extracontratual, pois a boa-fé é um dever legal que foi descumprido. Não importa se as partes haveriam (fase da puntuação) de celebrar um contrato no futuro, pois aí se terá uma responsabilidade civil pré-contratual, que é uma modalidade de responsabilidade extracontra- tual pela falta de um negócio prévio entre as partes. Se, porém, houver um negócio, a violação à boa-fé é um descumprimento de um dever con- tratual, ainda que conexo, e, portanto, enseja responsabilidade contratual. 1.3. QuAnto à CulpA Responsabilidade civil quanto à culpa Subjetiva Objetiva É regra geral! Depende da prova de culpa do agente Culpa = em sentido amplo Negócios jurídicos gratuitos É exceção e depende de LEI Abrange o dolo e a culpa Só responde pelo DOLO ou CULPA GRAVE Dispensa a prova de CULPA Quanto à culpa, a responsabilidade pode ser subjetiva ou objetiva. Responsabilidade subjetiva é a que depende da prova de culpa do agente. É a regra geral: sem culpa, não há responsabilidade (art. 927, CC). Culpa é tomada em sentido amplo e abrange a culpa em sentido estrito (negligência, impru- dência e imperícia) e o dolo (intenção deliberada de causar o dano). Não importa o grau de culpa: mesmo no caso de culpa levíssima, já está presente a culpa necessária paraa responsabilidade civil subjetiva. Só se excepciona isso quando houver lei ou princípio. Em contratos gratuitos, culpa leve ou média não autoriza responsabilização do generoso; só dolo ou culpa grave permite essa responsabilização, conforme interpretação ex- tensiva do art. 392 do CC pelo STJ (inferência da Súmula n. 145/STJ). Responsabilidade objetiva é a que dispensa a prova de culpa. É exceção: depende de lei, pois excepciona a regra geral do caput do art. 927 do CC. O parágrafo único do art. 927 do CC admite a responsabilidade civil em dois casos: (1) quando for aplicável a teoria do risco e (2) quando houver lei específica. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 8 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL 1.4. responsAbilidAde objetivA 1.4.1. Breve Histórico Contexto da responsabilidade objetiva Até Idade Média Revolução industrial Idade Média Justificada pela VINGANÇA Havendo dano, a demonstração de culpa era prescindível Responsabilidade objetiva como regra Associação do pecado com a culpa Teoria do risco para quem desenvolve certas atividades Responsabilidade subjetiva passa a ser a regra Responsabilidade subjetiva como regra, admitindo-se a responsabilidade objetiva pela teoria do risco Aluno(a), vamos ver esta questão: 002. (CESPE/JUIZ/TJ-CE/2018) Pedro descobriu que seu nome havia sido inscrito em órgãos de restrição ao crédito por determinada instituição financeira em decorrência do inadimple- mento de contrato fraudado por terceiro. Nesse caso hipotético, a instituição financeira a) não responderá civilmente, uma vez que se trata de fato de terceiro, mas deverá proceder à retirada do registro negativo no nome de Pedro. b) não responderá civilmente, porque a fraude configura uma excludente de caso fortui- to externo. c) responderá civilmente na modalidade objetiva integral. d) responderá civilmente apenas se Pedro comprovar que sofreu prejuízos devido à inscrição de seu nome nos órgãos de restrição ao crédito. e) responderá civilmente na modalidade objetiva, com base no risco do empreendimento. Se trata de uma aplicação da teoria do risco a justificar a responsabilidade objetiva da institui- ção financeira. Fraude de terceiros integra o risco da atividade dos bancos: é fortuito interno e, portanto, não afasta a responsabilidade objetiva. Para entender melhor esse tema, temos de estudar alguns assuntos. Vamos lá!!! Letra e. É importante você ter noção rápida da história da responsabilidade objetiva. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 9 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL Até a Idade Média, a regra era a responsabilidade objetiva, que era justificada pela vingan- ça. Quem sofresse um dano reivindicava, como ato de vingança, indenização independente- mente de discussão de culpa. Com a Idade Média, por influência de ideais do cristianismo – que associa o pecado à culpa –, a responsabilidade subjetiva passou a ser a regra geral. Ninguém poderia ser respon- sabilizado por um dano causado sem culpa. Notadamente com a efervescência das cidades com a Revolução Industrial, muitas víti- mas das atividades perigosas das máquinas ficavam sem obter a indenização, pois não con- seguiam provar culpa dos industriais. Havia casos de proletários que, durante suas jornadas desumanas de trabalho, sofriam lesões corporais nas máquinas e eram demitidos por conta de sua incapacidade laboral. Esses proletários não tinham condições de comprovar a culpa do industrial, ainda mais levando-se em conta que o seu baixo grau de instrução e a sua pe- núria os tornavam vulneráveis para guardar e produzir provas (fotos, perícias etc.). A injustiça era notável. Foi nesse contexto que a doutrina desenvolveu a teoria do risco criado para justificar a res- ponsabilidade objetiva, de modo que os industriais, ao criarem riscos de danos aos indivíduos, passaram a responder objetivamente pelos danos causados em razão de suas atividades. A teoria do risco criado se especializou nas demais teorias do risco: a do risco profissional, do risco-proveito, risco administrativo e risco integral. Assim, a regra continuou sendo a responsabilidade subjetiva, mas passou-se a admitir ex- cepcionalmente a responsabilidade objetiva com base na teoria do risco. O fundamento da responsabilidade objetiva não era mais a vingança, e sim a teoria do risco. 1.4.2. Teorias do Risco Teorias do risco Fundamento no art. 927, CC Risco administrativo Risco integral Risco proveito Risco criado Risco profissional Responsabilidade do Estado por atos de seus agentes Risco criado pelo Poder Público de causar danos com a atividade administrativa Responde por TODOS os danos causados, sem admitir excludentes Dano ambiental Dano nuclear Ataque terrorista ou bélico Risco de quem tira proveito de uma atividade que pode causar dano Criar um risco de dano com a sua atividade Risco de quem exerce profissão/ atividade lucrativa que pode causar dano Responsabilidade civil do Estado ou obrigação de segurador? Aluno(a), veja esta questão: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 10 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL 003. (FAURGS/JUIZ/TJ-RS/2016/ADAPTADA) Sobre a reparação de danos, é correto afirmar que se adota, segundo entendimento majoritário, a teoria do risco integral como fundamento da imputação de responsabilidade, independente de culpa em razão de atividade de risco (ar- tigo 927, parágrafo único). A teoria do risco integral é excepcional entre as várias teorias do risco. Ela só se aplica para casos especiais. Errado. Vamos estudar esse tema. Todas as espécies de teorias do risco originaram-se da teoria do risco criado. As três pri- meiras teorias do risco (criado, profissional e proveito) encontram fundamento expresso no parágrafo único do art. 927 do CC, de modo que, em sendo elas verificadas em um caso con- creto, a responsabilidade será objetiva. Um mesmo caso pode ser justificado em cada uma dessas teorias. Por exemplo, a responsabilidade dos bancos por danos causados a clientes por estelionatários pode ser justificada na teoria do risco criado, na do risco profissional ou do risco proveito. Já a teoria do risco administrativo é voltada para a responsabilidade do Estado por ato dos seus agentes públicos, e o seu fundamento será nas normas de Direito Administrativo (como o art. 37, § 6º, CF). Por fim, a teoria do risco integral se aplicará a casos específicos em que o responsável terá de assumir todos os riscos de danos provocados por sua atividade e tem por fundamento normas específicas, que geralmente são interpretadas extensivamente. Vamos falar um pouco mais sobre essas teorias do risco. Pela teoria do risco criado, quem cria um risco de dano com sua atividade responde objeti- vamente pelo dano. Na teoria do risco criado, não se exige prova de lucro; basta uma atividade criadora de risco de dano. Não se trata de qualquer risco; é preciso que se trate de um risco além do usual, sob pena de banalizara responsabilidade objetiva para todos os casos do mun- do visto que qualquer atividade – até mesmo a de andar pela rua – cria um risco de dano a terceiros. O risco criado também é conhecido como “risco da atividade” ou “risco da atividade perigosa”. Pelo risco profissional, quem exerce profissão ou atividade com fins lucrativos assume os riscos dos danos. Trata-se de uma aplicação da regra do “ubi emolumentum ibi onus” (onde há lucro, há ônus). No risco profissional, a vítima sofre dano pela atividade profissional do res- ponsável. O risco profissional justifica responsabilidade por acidentes de trabalho e por outros O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 11 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL casos, como o da responsabilidade do empregador por atos do empregado (art. 932, III, CC). O STJ já invocou a teoria do risco profissional para responsabilizar objetivamente instituições financeiras perante clientes cujos nomes foram negativados por dívidas decorrentes de che- ques emitidos fraudulentamente por terceiros. A atividade profissional dos bancos, ao atrair a atenção dos bandidos, cria risco de os clientes serem atingidos por condutas desses crimino- sos (STJ, AgRg no AREsp 75.376/RJ, 4ª Turma, Rel. Min. Raul Araújo, DJe 01/07/2013; REsp 1093617/PE, 4ª Turma, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJe 23/03/2009). Segundo a teoria do risco proveito, quem tira proveito de uma atividade que cria risco de danos responde objetivamente. É também aplicação da regra do ubi emolumentum ibi onus. O proveito não precisa ser puramente econômico e abrange também casos de proveitos econômi- cos indiretos. É o que ocorre com os casos de estacionamentos gratuitos oferecidos por gran- des empresas: há proveito econômico indireto pelo fato de essa comodidade atrair clientes. No risco administrativo, o Poder Público cria risco de danos a terceiros com sua atividade administrativa e, por isso, responderá objetivamente. De fato, o exercício da atividade estatal, por envolver prerrogativas de poderes (poder de polícia, por exemplo), cria riscos além do usu- al. A aplicação da teoria do risco administrativo é restrita aos casos de responsabilidade civil do Estado. Por fim, vamos falar da teoria do risco integral. Pelo risco integral, quem exercer uma ativi- dade muito perigosa responde objetivamente por todos – sem exceção – os danos causados. Distingue-se das demais teorias do risco pelo fato de que estas admitem o fortuito externo como excludente de responsabilidade. Nos casos de teoria do risco integral, não há fortuito externo: todos os fortuitos são internos à atividade. A jurisprudência vem admitindo a aplicação da teoria do risco integral mesmo sem texto le- gal expresso, desde que seja identificada a altíssima periculosidade da atividade desenvolvida. Os três principais casos citados pela doutrina são os de responsabilidade ambiental, nuclear e por atos terroristas ou bélicos. Tratemos deles. Um dos casos de teoria do risco integral é a responsabilidade por dano ambiental por for- ça de interpretação extensiva do art. 14, § 1º, da Lei n. 6.938/81 (STJ, REsp 1114398/PR, 2ª Seção, Rel. Ministro Sidnei Beneti, DJe 16/02/2012). Essa interpretação extensiva decorre da elevada importância do meio ambiente, de sorte que quem ameaça o meio ambiente com sua atividade terá de responder objetivamente por qualquer dano causado: não há fortuito exter- no. Pessoalmente discordamos desse entendimento, pois entendemos que, embora de forma mais limitada, deve ser admitida a existência de fortuito externo, a exemplo de um dano am- biental decorre de um ataque bélico. Não nos parece razoável impor ao explorador de uma ati- vidade econômica na natureza um risco totalmente alheio à sua atividade, como uma guerra. Outro caso é a responsabilidade do operador por dano causado pela atividade de energia nuclear. O fundamento é uma interpretação extensiva do art. 21, XXIII, “c”, da CF, que, ao prever a responsabilidade por dano nuclear independentemente de culpa sem fazer qualquer ressal- va, teria recepcionado o art. 8º da Lei n. 6.453/77, que excluía a responsabilidade do operador O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 12 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL de energia nuclear se o dano tiver decorrido de guerras e fatos excepcionais da natureza. Essa é interpretação majoritária. Dela, porém, discordamos, pois não enxergamos incompatibilidade do referido art. 8º da Lei n. 6.453/77 com o referido dispositivo da CF, que, em momento algum, previu a teoria do risco integral nem atacou a opção legislativa de considerar a guerra e catás- trofes naturais como fortuitos externos. O art. 8º da Lei n. 6.453/77, portanto, estaria em vigor. Todavia, temos por conveniente que o Congresso Nacional revogue esse dispositivo e preveja expressamente a teoria do risco integral. Acrescemos, porém, que a limitação de indenização prevista no art. 9º da Lei n. 6.433/77 não foi recepcionada pela Constituição Federal, que ga- rante o direito à reparação integral. A doutrina cita ainda como caso de teoria do risco integral seria a responsabilidade do Es- tado por ataque terrorista, por atos de guerra ou por eventos correlatos ocorridos no território brasileiro. O fundamento são as Lei n. 10.309/2001 e 10.744/2003, que autoriza a União a, com limite de valor, assumir a responsabilidade civil perante terceiros vítimas de atentados ter- roristas ou de atos de guerra. Discordamos do enquadramento dessa hipótese como respon- sabilidade civil. Entendemos que essas leis instituem, na verdade, uma faculdade de a União se tornar uma espécie de segurador: ela está a assumir uma obrigação de segurador perante qualquer vítima, e não uma responsabilidade civil. A ideia é que quem estiver em território bra- sileiro estaria segurado por danos causados por terrorismo ou guerra. Obrigação é diferente de responsabilidade: esta decorre da violação de uma obrigação. No caso das referidas Leis, a União ficou autorizada a assumir uma obrigação de indenizar quem for vítima de ataque terro- rista ou bélico. Não se trata de responsabilidade civil, e sim de obrigação. 2. pressupostos dA responsAbilidAde Civil Pressupostos da responsabilidade civil Conduta Culpa Nexo causal Dano Os pressupostos da responsabilidade são a conduta, a culpa, o nexo causal e o dano. Em regra, sem esses pressupostos, não há responsabilidade civil. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 13 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL 2.1. CondutA 2.1.1. Comissiva ou Omissiva Só é juridicamente relevante quando havia do dever jurídico de agir Ato praticado pelo agente 1) Decorrente da profissão 2) Quem assumiu a função de garante 3) Dever de socorrer quem está em situação de perigo criada pelo próprio agente Definido em LEI Conduta Omissiva Comissiva Para haver responsabilidade civil, é fundamental haver uma conduta do agente que tenha causado o dano. A conduta pode ser comissiva, quandohá um ato praticado pelo agente (ex.: xingar alguém, atropelar outrem etc.), ou omissivo. A conduta omissiva, todavia, só é juridicamente relevante quando havia dever jurídico de agir, em respeito ao princípio da legalidade (ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude de lei). O dever jurídico de agir ocorre quando houver lei, e os principais casos são estes: (1) dever jurídico decorrente da profissão, como no caso de médicos e bombeiros, que têm dever de socorrer quem esteja em situação de risco; (2) dever jurídico de quem as- sumiu a condição de garante, como um generoso que voluntariamente se obrigou a cuidar de uma criança enquanto os pais se deslocam a algum outro lugar; e (3) dever jurídico de socorrer alguém que está em uma situação de perigo criada pelo próprio agente, caso em que a omis- são pode configurar não apenas um ilícito civil, mas também o crime de omissão de socorro (art. 135, CP). Quanto a este último caso, se a situação de perigo não tiver sido criada pelo agente, não há dever jurídico de agir e, portanto, não poderá ser responsabilizado civilmente quem, vendo alguém em apuros, faz ouvidos moucos e segue seu rumo. Esse ato egoísta é criticável moral- mente, mas não pode ser considerado um ilícito por falta de obrigação legal. A lei não obriga ninguém a ser um bom samaritano. Temos, ademais, por indevido o uso abusivo de princípios jurídicos para criar obrigações que o texto legal não previu, de maneira que o princípio consti- tucional do solidarismo (art. 3º, I, CF) não poderia ser utilizada para responsabilizar civilmente esse egoísta. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 14 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL 2.1.2. Espécies de Responsabilidade quanto à Conduta Responsabilidade causada pela conduta de um 3º ou por uma coisa ou animal Responsabilidade por fato de 3º Responsabilidade pela guarda do animal Responsabilidade pelo fato da coisa Quando o agente é responsabilizado por sua própria conduta Proprietário ou detentor responde objetivamento pelos danos causados pelo animal Detentor responde solidariamente com o proprietário, assegurado direito de regresso contra o culpado O dano não é provocado diretamente pelo agente, mas por coisa que estava sob seu poder Teoria da guarda da coisa Coisas caídas Ruína de prédio: proprietário de prédio responde objetivamente pelos danos causados pela sua ruína Quem possui coisa perigosa responde pelo seu mau uso por outros É exceção. Depende de previsão em LEI Responsabilização por danos causados por uma 3º pessoa Espécies de responsabilidade quanto à conduta Responsabilidade direta Responsabilidade indireta Quanto à conduta, a responsabilidade civil pode ser classificada como direta ou indireta. 2.1.3. Responsabilidade Direta A responsabilidade direta ou por ato próprio se dá quando o agente é responsabilizado por uma conduta que ele mesmo adotou. É a regra geral da responsabilidade civil e está prevista genericamente no art. 927, caput, do CC. Assim, quem xinga ou atropela outrem tem de respon- der civilmente pelos danos que ele mesmo causou. 2.1.4. Responsabilidade Indireta A responsabilidade indireta ocorre quando alguém responderá por um dano causado por conduta de um terceiro ou por uma coisa ou animal. A responsabilidade pela guarda do animal é enquadrada como responsabilidade por fato da coisa por alguns doutrinadores, mas prefe- rimos segregar as hipóteses para fins didáticos. A responsabilidade indireta é exceção e, por- tanto, só é admitida quando houver lei expressa. Sem lei específica, não há responsabilidade indireta. Há, porém, casos de responsabilidade civil indireta extraídas com base em princípios jurídicos deduzidos do texto legal, como é o caso da responsabilidade por fato da coisa funda- da na teoria da guarda da coisa. Enfim, a responsabilidade indireta ocorre em dois casos: por fato de terceiro, pelo fato da coisa e pela guarda do animal. Vamos falar um pouco sobre isso. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 15 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL Responsabilidade por Fato de Terceiro A responsabilidade por fato de terceiro ocorre quando, por lei, alguém será responsabiliza- do pelos danos causados por uma terceira pessoa. É o que ocorre nos casos do art. 932 do CC, que, por exemplo, responsabiliza o empregador por ato do empregado. No regime do CC, essa responsabilidade é, em regra, objetiva, solidária e com direito de regresso nos termos dos arts. 928, 932, 933, 934 e 942, parágrafo único, do CC, mas há particularidades. Sobre o tema, reportamos o leitor ao que escrevemos sobre a responsabilidade do incapaz e sobre a respon- sabilidade solidária. Responsabilidade pela Guarda do Animal Quero começar com esta questão: 004. (FCC/ANALISTA/ALESE/2018) Thaísa é dona de cão feroz que atacou e feriu Thiago. Thaísa a) somente indenizará Thiago se este comprovar que Thaísa agiu com dolo, provocando o ata- que com manifesta intenção de causar lesão. b) somente indenizará Thiago se este comprovar que Thaísa agiu com negligência ou impru- dência na guarda do animal. c) será obrigada a indenizar Thiago ainda que se prove que tenha havido culpa exclusiva da vítima ou força maior. d) deverá ressarcir o dano causado pelo animal, a menos que prove culpa exclusiva de Thiago ou motivo de força maior. e) responderá subjetivamente pelo dano, não podendo alegar causa excludente do nexo de causalidade. Corresponde ao art. 936 do CC. Letra d. 005. (FAURGS/JUIZ/TJ-RS/2016) A responsabilidade pelo fato do animal é independente de culpa do seu dono ou detentor, não podendo ser afastada mesmo quando ausente o nexo de causalidade. O nexo causal é pressuposto da responsabilidade civil mesmo no caso de responsabilidade objetiva, como no caso de responsabilidade pelo fato do animal. O próprio art. 936 do CC afas- ta a responsabilidade por culpa exclusiva da vítima, pois aí se rompe o nexo causal. Errado. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 16 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL Vamos explicar. Pela responsabilidade por guarda do animal, o proprietário ou o detentor responde objeti- vamente pelos danos causados por um animal, como no caso de um cachorro agressivo que, desvencilhando-se da coleira, morde um transeunte na rua (art. 936, CC). Não importa se havia culpa do proprietário ou do detentor; a responsabilidade é objetiva1. Quem tem a propriedade ou o poder sobre um animal assume o risco pelos danos por este causado. Se o animal estava sob os cuidados de alguém, esse possuidor ou detentor responderá solidariamente com o proprietário pelos danos causados pelo animal, assegurado, porém, a quem pagar a dívida o direito de regresso contra o culpado. A solidariedade decorre da inter- pretação extensiva do art. 936 do CC e do parágrafo único do art. 942 do CC (ambos seriam coautores do dano, para esse efeito). As excludentes de responsabilidade são as mesmas quevigoram para os casos de res- ponsabilidade objetiva baseada na teoria do risco criado, como o fortuito externo e a culpa exclusiva da vítima. Responsabilidade pelo Fato da Coisa A responsabilidade indireta por fato da coisa ocorre quando o dano não é diretamente provocado por uma conduta do agente, e sim de forma indireta, por meio de alguma coisa que estava sob o controle ou sob o risco do agente. Os casos principais são os de ruína do prédio, o de coisas caídas e os assentados na teoria da guarda da coisa. Ruína do Prédio No caso de ruína do prédio, temos o seguinte. O proprietário do prédio responde objetiva- mente pelos danos causados pela sua ruína (art. 937, CC). Apesar de o art. 937 do CC mencio- nar a falta de reparos de necessidade manifesta, a doutrina majoritária entende que, se houve a ruína, é porque havia essa necessidade de reparos manifesto. As excludentes de responsa- bilidade são as mesmas que vigoram para os casos de responsabilidade objetiva baseada na teoria do risco criado, como o fortuito externo e a culpa exclusiva da vítima. Teoria da Guarda da Coisa Embora inexista um dispositivo legal com uma cláusula geral, admite-se a responsabilida- de pelo fato da coisa com base na teoria da guarda da coisa, desenvolvida no direito francês. Segundo essa teoria, quem detém o comando intelectual (guarda) e de direção sobre a coisa deve responder pelos danos causados pelo mau uso por outros. É que, em última análise, tal dano decorre da falta da necessária vigilância da coisa. 1 Há corrente minoritária a sustentar que a responsabilidade é subjetiva com base na culpa presumida. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 17 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL Entendemos que o fundamento dessa responsabilidade é a teoria do risco sediada no pa- rágrafo único do art. 927 do CC, pois quem tem uma coisa potencialmente perigosa cria um risco de dano à sociedade e, por isso, deve responder objetivamente. Entendemos ainda que a teoria não pode ser aplicada para qualquer coisa, mas apenas para aquelas que, de acordo com o senso comum, sejam potencialmente perigosas. Com base nisso, o STJ entende que, ao emprestar o veículo, o proprietário assume a res- ponsabilidade pelos danos por ele culposamente causados, caso em que haverá responsabili- dade solidária entre o proprietário e o condutor. Temos ressalva pessoal contra esse entendi- mento no caso de empréstimo gratuito de veículo, pois não consideramos o veículo um bem potencialmente perigoso a ponto de atrair a teoria da guarda da coisa. Temos que, nesses casos, a responsabilidade do dono do carro deveria seguir a regra geral da responsabilidade subjetiva: se o dono emprestar o carro para alguém sem habilitação, poderia ser responsabili- zado solidariamente por sua negligência. Igualmente, o STJ assentou que o uso indevido de máquina retroescavadeira pelo caseiro, que transportava na “concha” pessoa que veio a falecer, impõe a responsabilização do proprie- tário do bem. É irrelevante que o caseiro não tivesse autorização e estivesse bêbado e fora do horário de trabalho, pois só o fortuito externo excluiria a responsabilidade pela guarda da coi- sa. De fato, “pela aplicação da teoria da guarda da coisa, a condição de guardião é imputada a quem tem o comando intelectual da coisa, não obstante não ostentar o comando material ou mesmo na hipótese de a coisa estar sob a detenção de outrem, como o que ocorre frequente- mente nas relações ente preposto e preponente” (STJ, REsp 1072577/PR, 4ª Turma, Rel. Minis- tro Luis Felipe Salomão, DJe 26/04/2012). Coisas Caídas Habitante do prédio responde objetivamente pelas coisas que dele caírem ou forem arremessadas Não se aplica quando o que cai é o prédio Prédio em condomínio edilício Prédio em condomínio edilício Queda de pessoa suicida Queda anônima Queda não anônima O condomínio responde pelos danos Somente as unidades de onde a coisa possa ter potencialmente caído? A responsabilidade é do habitante (que não necessariamente é proprietário) Não se aplica o art. 938, CC Será considerado fortuito e os danos serão cobrados do espólio Unidade autônoma de onde a queda procedeu é identificável O condômino dessa unidade responde objetivamente pelos danos Nesse caso, haverá responsabilidade civil por ruína Responsabilidade indireta Coisas caídas O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 18 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL Noções Gerais O habitante de um prédio ou de parte dele responde objetivamente pelos danos decorren- tes de coisas que caírem do prédio ou que forem arremessadas (art. 938, CC). É o caso, por exemplo, de alguém que foi atingido por uma panela que caiu do prédio; nesse caso, a vítima poderá pleitear indenização contra o dono do prédio. Trata-se do que, no Direito Romano, cha- mava-se de actio de effusis et dejectis (ação de coisas sólidas e líquidas). Esse dispositivo não deve ser aplicado para casos em que um pedaço do prédio se despren- de e cai em outrem. Temos que, nesse caso, o mais adequado é aplicar o art. 937 do CC, pois aí se trata de uma ruína parcial do prédio. Nesse caso, o proprietário da coisa é que responde objetivamente, e não o mero habitante, pois o dano aí decorre do risco de ruína do prédio. Portanto, o art. 938 do CC deve ser aplicado para casos de coisas arremessadas do prédio, a exemplo de uma queda, a partir de uma janela, de um celular ou de um vaso na cabeça de um pedestre. No caso do art. 938 do CC, há duas situações importantes: uma em que o prédio não está em condomínio edilício, outra em que está. Coisas Caídas de Prédio sem Condomínio Quando não se trata de condomínio edilício, deve-se entender que a responsabilidade é do habitante, que não necessariamente será o proprietário. Pode ser um locatário ou um como- datário. Quem responde é aquele que tinha a ocupação efetiva do bem. Assim, se um celular é arremessado de uma casa alugada na cabeça de um pedestre, o locatário dela responderá objetivamente pelo dano, e não o proprietário. Não importa se a coisa foi arremessada por um visitante que estava na casa do locatário: o locatário responderá objetivamente pelo dano (art. 938, CC), sem prejuízo de esse visitante responder solidariamente por ter sido o autor do ato danoso (art. 927, CC). É que o locatário é o “habitante” aí para todos os efeitos. Desconhecemos precedentes do STJ nesse caso. Coisas Caídas de Prédio em Condomínio Edilício Quando se tratar de condomínio edilício, é preciso identificar se se trata de queda anôni- ma2 ou não. De um lado, se puder ser identificada a unidade autônoma de onde procedeu a coisa, não há queda anônima. Nesse caso, o condômino dessa unidade responderá objetivamente pelos danos. Se a unidade autônoma estava na posse de um terceiro, como um inquilino, entende- mos que é esse inquilino que terá de arcar com a indenização, e não o mero condômino, porque o art. 938 do CC se refere ao “habitante” apenas. 2 Feliz expressão de Rosenvald, Farias e Braga Netto (2016, p. 592). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.brhttps://www.grancursosonline.com.br 19 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL De outro lado, se não puder ser identificada a unidade autônoma de onde caiu a coisa, tem-se uma queda anônima. Nesse caso, por força do art. 938 em conjunto com o parágrafo único do art. 927 do CC (teoria do risco), a responsabilidade será do condomínio, que poderá cobrar uma contribuição extraordinária dos condôminos para arcar com a indenização (STJ, REsp 64.682/RJ, 4ª Turma, Rel. Min. Bueno de Souza, DJ 29/03/1999). Se, posteriormente, for identificada a unidade de onde partiu a coisa, o condomínio poderá pleitear direito de regresso contra o habitante dessa unidade à época do dano para reembolsar-se do que houver pago de indenização, deduzido, obviamente, o que esse habitante já tiver desembolsado a título de contribuição extraordinária. No mesmo sentido, é o enunciado n. 557/JDC (“nos termos do art. 938 do CC, se a coisa cair ou for lançada de condomínio edilício, não sendo possível identificar qual unidade, responderá o condomínio, assegurado o direito de regresso”). Nesse caso, indaga-se: essa contribuição extraordinária pode ser cobrada do condômino mesmo se a sua unidade estiver em posse de terceiro (como um inquilino)? Entendemos que sim, assegurado direito de regresso contra esse terceiro (o habitante). É que, apesar de o art. 938 do CC se referir apenas ao habitante como responsável por coisas caídas, o fato de o condomínio ser o responsabilizado no caso de queda anônima implica que ele poderá cobrar a contribuição extraordinária com fundamento no art. 1.336, I, do CC. Essa contribuição tem na- tureza propter rem, decorre do regime jurídico dos condomínios edilícios e, portanto, vincula-se a cada unidade autônoma. Dessa maneira, se uma unidade estiver na posse de um terceiro que não o condômino, essa contribuição extraordinária poderá ser cobrada tanto do condômino quanto do inquilino, assegurado àquele direito de regresso contra este. Ainda nesse caso de queda anônima, se a coisa caída só puder ter procedido potencial- mente de determinadas unidades autônomas, há controvérsia doutrinária e desconhecemos julgados do STJ sobre o assunto. De um lado, com nosso apoio, respeitados doutrinadores, como Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2020, p. 230), defendem que só os condôminos dessas unidades po- derão sofrer o encargo financeiro pela responsabilidade civil. Temos que, nesse caso, o condo- mínio continuará sendo responsabilizado, mas só cobrará contribuição extraordinária desses condôminos potencialmente vinculados ao dano. Assim, se, por exemplo, o prédio possui duas faces de unidades autônomas, somente os condôminos de uma face poderão ser obrigados a pagar a contribuição extraordinária ao condomínio pelos danos causados por uma pedra que caiu em um carro estacionado em frente dessa face. Os condôminos da outra face não terão esse dever, pois é impossível ter procedido de lá a coisa caída. Para concursos públicos, em provas objetivas, recomendamos seguir essa primeira corrente por ela haver precedentes de Tribunais locais nesse sentido, como dão conta Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2020, p. 230), embora entendamos que uma questão objetiva nesse ponto merece ser anulada diante da divergência doutrinária e da falta de julgado do STJ. De outro lado, juristas de escol, como Flávio Tartuce (2020, p. 629) e Sílvio de Salvo Venosa, defendem ser irrelevante a face do bloco de onde potencialmente tenha partido a coisa caída. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 20 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL Todos os condôminos devem suportar os ônus financeiros da condenação do condomínio, mesmo daqueles cujas unidades estejam no lado oposto àquele de onde procedeu a coisa caída. O fundamento dessa tese é a necessidade do que Venosa chama de pulverização dos danos na sociedade, de modo que todos os integrantes de um grupo devem responder pelos danos causados por um membro não identificado. Transcrevemos aqui as palavras do cérebre doutor pelas Arcadas Flávio Tartuce: Dúvidas surgem (...) quanto à responsabilização dos condôminos que que estão do lado oposto de onde caiu a coisa. Entendemos, com Sílvio de Salvo Venosa, que todo o condomínio deve ser responsabilizado, não interessando de onde exatamente caiu o objeto. Para justificar seu ensinamento, o doutrinador fala em pulverização dos danos na sociedade, ensinando que, “assim, quando o dano é praticado por um membro não identificado de um grupo, todos os seus integrantes devem ser chamados para a reparação” (Direito civil..., 2003, p. 119). Entendemos que é perfeitamente possível sustentar que o caso é de aplicação da tese da responsabilidade pressuposta, que busca, antes de qualquer discussão, reparar a vítima diante de uma exposição ao perigo ou ao risco. Em síntese, o condomínio deve reparar todos os pre- juízos suportados pela pessoa atingida pelo objeto. Após a vítima estar devidamente reparada, está assegurado o direito de regresso do condomínio contra o eventual culpado. Apesar do brilho dos juristas sectários dessa corrente, preferimos a outra por entendermos que a pulverização dos danos só deve ocorrer entre aqueles membros do grupo que potencial- mente tenham causado o dano, de modo que não poderíamos onerar os moradores de unida- des do lado oposto do bloco de onde procedeu a “coisa caída”. Para a vítima, não há prejuízo algum: ela poderá cobrar a indenização diretamente do condomínio. Para a comunidade con- dominial, é que o repasse desse valor desembolsado pelo condomínio só poderá recair sobre os habitantes da face do prédio de onde pode ter procedido a coisa. Por fim, nada impede que a vítima, no lugar de propor a ação contra o condomínio, endere- ce o seu pleito contra cada um dos condôminos das unidades de onde potencialmente pode ter procedido a coisa. Entendemos que não há solidariedade entre os condôminos, porque ela não se presume, mas decorre de lei ou da vontade (art. 265, CC). A vítima só poderá cobrar a quota de cada um. Todavia, a dificuldade processual será notável, razão por que é melhor co- brar do condomínio. Queda de Pessoa Suicida No caso de a queda ser de uma pessoa suicida que pulou de um prédio, e não de uma coisa, não se aplica o art. 938 do CC, pois este se aplica apenas para queda de coisas, e não de pessoas. Ainda que assim não fosse, o suicídio nessas hipóteses deve ser considerada um fortuito a excluir a responsabilidade objetiva do art. 938 do CC. Nesse caso, apenas o espólio do suicida responderá pelos danos causados a terceiros (Rosenvald, Farias e Braga Netto, 2016, p. 593). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 21 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL Pode, porém, haver alguma outra norma que responsabilize terceiros por esse episódio, como o próprio art. 12 do CDC, que responsabilizaria o shopping solidariamente pelo dano sofrido por um consumidor que venha a ser atingido por um suicida que de um andar alto in- terno do Shopping saltou no chão do térreo da parte interna do Shopping. Nesses casos, por se tratar de relação de consumo, dificilmente se poderá considerar uma hipótese de fortuito externo, pois nos parece ser risco interno à atividade de Shopping lidarcom essas espécies de potenciais suicidas que ameacem os consumidores. 2.2. CulpA Depende de previsão legal Culpa É pressuposto da responsabilidade civil e abrange o dolo e a culpa stricto sensu É dispensada na responsabilidade civil objetiva A culpa em sentido amplo é um pressuposto da responsabilidade civil e abrange o dolo (in- tenção deliberada) ou a culpa em sentido estrito (negligência, imprudência e imperícia). Se, to- davia, a responsabilidade for objetiva – o que exigirá lei específica ou a aplicação da teoria do risco (art. 927, parágrafo único, CC) –, a culpa será dispensada para a responsabilização civil. Vamos ver um caso concreto do STJ para ilustrar. Empresa de vigilância responde por danos causados à instituição financeira que a contra- tou apenas no caso de culpa. O contrato de prestação de serviço de vigilância constitui obri- gação de meio, e não de resultado, de modo que a empresa de segurança deve envidar todos os esforços possíveis para coibir assaltos às agências bancárias. Não se trata de obrigação de resultado, sob pena de desfigurar esse contrato de vigilância em um contrato de seguro. Na análise da culpa, é preciso considerar que a empresa de segurança tem de observar as restrições de armamento impostas pela legislação específica (Lei n. 7.102/1983), o que limite o seu poder de ação. Por isso, o STJ isentou de responsabilidade, por falta de culpa, a empresa Congelseg Vigilância Privada Ltda numa ação proposta pelo Banco do Brasil com o objetivo de obter, a título de indenização, valor superior a um milhão de reais em razão de assalto realiza- do em agência bancária por bandidos fortemente armados e disfarçados de funcionários de empresa de transporte de valores. O STJ entendeu que o fato de o segurança ter destravado espontaneamente a porta para os bandidos disfarçados não configura culpa, pois, se tivesse mantido as portas fechadas, é certo que os bandidos fortemente armados adentrariam a agên- cia ceifando a sua vida e dos clientes (STJ, REsp 1329831/MA, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 05/05/2015). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 22 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL 2.3. nexo CAusAl Teoria da equivalência das condições (conditio sine qua non) Teoria da causalidade adequada Teoria do dano direito e imediato TUDO que concorre para o dano é considerado CAUSA Não adotada pelo CC Deve haver entre a conduta e o dano uma relação de causa e efeito direta e imediata Dano remoto não será indenizado Há nexo causal em qualquer circunstância que seja apta para ocasionar o dano sob a ótica da experiência comum. Somente havendo previsão legalNexo causal Responsabilidade por conduta de 3º A conduta deve ter sido a causa do dano Teorias do nexo causal O nexo de causalidade consiste na necessidade de a conduta do agente ter sido a causa do dano. Não há responsabilidade civil se o dano tiver sido causado por outro fato não relaciona- do com a conduta do agente. Assim, ninguém pode ser condenado a indenizar dano causado exclusivamente por uma conduta de terceiro, salvo se houver lei (como nos casos de respon- sabilidade por ato de terceiro nas hipóteses do art. 932 do CC). Há ampla margem de subjetividade na definição do nexo causal em cada caso concreto, o que gera intenso debate na doutrina e na jurisprudência. Na doutrina, há várias teorias do nexo causal, conforme abordaremos a seguir. Os tribunais oscilam entre as teorias e, no STJ, há precedentes tanto a favor da teoria da causalidade quanto em prol da teoria do dano direto e imediato. Ao nosso sentir, preferimos a teoria do dano direto e imediato, pois, além de estar no art. 403 do CC, abrange elementos das demais teorias. 2.3.1. Teorias do Nexo Causal Teoria da Equivalência das Condições ou da Conditio Sine Qua Non Aluno(a), resolva esta questão: 006. (CESPE/JUIZ/TRF-2ª/2009) O Código Civil adota a teoria da equivalência dos antece- dentes causais, para fins de indenização. Embora haja controvérsia acerca de qual teoria foi adotada, a doutrina é majoritaríssima no sentido de que a teoria da equivalência dos antecedentes causais não foi a adotada pelo CC. Errado. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 23 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL Vamos tratar mais do tema. Pela teoria da equivalência das condições, também batizada de teoria da conditio sine qua non ou de teoria da equivalência dos antecedentes causais, toda e qualquer circunstância é considerada causa, se tiver concorrido para o dano. Sem qualquer delas, o dano não ocorreria. Critica-se essa teoria por ela chancelar uma cadeia causal infinita. Em tese, o fabricante de uma arma teria vínculo causal com todos os assassinatos ocorridos no mundo com uso de suas armas, pois, sem a fabricação da arma, o crime não teria ocorrido, o que é um despropósito. Apesar da sua insuficiência, a teoria da equivalência das condições pode ser usada como uma triagem inicial do caso: se um caso concreto não passa por essa teoria, não poderá pas- sar pelas demais, que são mais rigorosas na caracterização do nexo causal. Teoria da Causalidade Adequada Pela teoria da causalidade adequada, há nexo causal em qualquer circunstância que, se- gundo a experiência comum3, seja apta para ocasionar o dano. Entende-se por “apta” aquela circunstância que seja necessária e determinante para o dano. Critica-se essa teoria por ela não contemplar determinadas situações, como, por exemplo, a de alguém que desferiu um “cascudo” na cabeça de uma pessoa que, sem ciência do agressor, possuía uma abertura na caixa craniana e que veio a falecer. Em princípio, a conduta “cascudo” não é apta, segundo a experiência comum, para causar o dano “morte”, de modo que, pela teoria da causalidade ade- quada, não haveria nexo causal, o que livraria o agressor de responder pelos danos causados pela morte. Nesse caso, ele poderia responder apenas por uma eventual lesão corporal, que seria o resultado que um “cascudo”, segundo a experiência comum, geraria. Seja como for, a teoria da causalidade adequada é útil e já foi utilizada pelo STJ. Por exem- plo, o STJ reconheceu que Park Shopping (um dos maiores Shoppings de Brasília/DF) responde por avarias causadas por assaltantes durante fuga policial em veículo de cliente do shopping. A conduta do Shopping em falhar no seu serviço de guarda e vigilância do veículo consumidor foi determinante para que os bandidos, durante fuga policial, atingissem o veículo do consumi- dor (STJ, EDcl no AgRg no AREsp 790.643/DF, 3ª Turma, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, DJe 01/07/2016). Igualmente, o STJ livrou empresa televisiva vinculada ao SBT de pagar indenização em um caso em que uma criança que, após ver um programa em que um mágico ateava fogo em si mesmo e não se queimava, combinou com o seu irmão – também criança – de imitar a mágica em casa e, com uso de álcool e fogo, ateou fogo nele. O STJ entendeu que, embora o programa tenha inspirado as crianças, ele não era causa adequada para causar o dano: a queimadura dos irmãos. Em princípio, o sinistro foi causado pela omissão dos pais em não se manterem perto dos filhos e pela conduta deles de deixar substâncias inflamáveis ao alcance da criança. Assim, com base na teoria da causalidade adequada, o STJ afastou a responsabilidadedo SBT (STJ, REsp 1067332/RJ, 4ª Turma, Rel. Ministro Marco Buzzi, DJe 05/05/2014). 3 Grosso modo, o bom senso. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 24 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL Teoria do Dano Direto e Imediato A teoria do dano direto e imediato representa um meio-termo das duas teorias anteriores (a da equivalência das condições e a da causalidade adequada). Essa teoria foi adotada expres- samente pelo NCC, conforme art. 403. Deve haver, entre a conduta e o dano, uma relação de causa e efeito direta e imediata. O dano é efeito direto e imediato de determinada causa. Por essa razão, não é indenizável o dano remoto, assim entendido o decorrente de consequência indireta da conduta, por ausência de nexo causal a luz da teoria dos danos diretos e imediatos. O STJ analisou o seguinte caso. Um adolescente havia fugido há oito dias do centro de internação no qual cumpria uma medida socioeducativa sob regime de semi-liberdade e, em tiroteio com um desafeto, atingiu mortalmente uma terceira pessoa por erro de mira. O STJ entendeu que o Estado não poderia ser responsabilizado civilmente por essa morte, pois a sua conduta omissiva (não ter evitado a fuga do adolescente) não foi a causa direta e imediata do dano (a morte). Se, porém, a morte de um terceiro tivesse ocorrido durante um tiroteio entre a polícia e o fugitivo durante a fuga, poder-se-ia falar em nexo causal. Todavia, na espécie, já ha- via vários dias da fuga (STJ, REsp 858.511/DF, 1º Turma, Rel. Ministro Luiz Fux, Rel. p/ Acórdão Ministro Teori Albino Zavascki, DJe 15/09/2008). 2.4. dAno Lei tem conceitos abertos Princípios criam novas modalidades de dano indenizável Dano moral Dano material Dano estético Dano existencial Perda de uma chance Perda do tempo útil Dano Nem todos são juridicamente indenizáveis Principais danos indenizáveis Nem todos os danos são juridicamente indenizáveis. Só o são aqueles que se enquadrarem naquelas espécies de danos indenizáveis admitidos na lei. A lei, todavia, tem categorias muito abertas (como o dano moral), além de a utilização de princípios jurídicos para criar novas espé- cies de danos indenizáveis (como o dano existencial) gerar um maior grau de subjetividade. O enquadramento dos danos como indenizáveis e não indenizáveis geram muitas controvérsias por conta dessa abertura dos tipos legais. Assim, por exemplo, o descumprimento de um contrato gera um aborrecimento no credor, mas esse aborrecimento não necessariamente caracterizará um dano indenizável. Em regra, trata-se de mero aborrecimento, que é um dano não indenizável. Excepcionalmente, porém, esse aborrecimento pode caracterizar um dano indenizável, na modalidade do dano moral. Aguardar na fila de um banco é um aborrecimento, que é um dano não indenizável, salvo se houver um tempo excessivo de espera. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 25 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL Há muitos danos na vida que não são indenizáveis. Os principais danos indenizáveis são os danos material, moral, estético e existencial, além da perda de uma chance e da perda do tempo útil. 2.4.1. Dano Material Dano Emergente e Lucros Cessantes Efetivo desfalque patrimonial Aquilo que a vítima razoavelmente deixou de lucrar Exige prova de que foram frustrados proveitos econômicos Dano material Dano emergente Lucro cessante O dano material corresponde a danos patrimoniais. Podem ser divididos em duas espé- cies: os danos emergentes e aos lucros cessantes (art. 402 do CC4). O dano emergente é o efetivo desfalque patrimonial, é o efetivo prejuízo, é a efetiva dimi- nuição patrimonial sofrida pela vítima, é o dano patrimonial que emerge do evento danoso. No caso, por exemplo, de uma batida de carro, o valor do conserto do carro e das despesas médi- co-hospitalares para o passageiro lesionado é um dano emergente. Lucro cessante, também chamado de dano negativo ou dano frustrado, corresponde àquilo que a vítima razoavelmente deixou de lucrar. É a frustração de um lucro razoável, ou seja, é a perda de um lucro esperado. Decorre da constatação de que, presumindo que os fatos se de- senrolariam no seu curso normal (tendo em conta os antecedentes), a vítima deixaria de lucrar aquilo que, à luz do bom senso, lucraria. Não se trata de dano meramente hipotético ou fantasioso. Os lucros cessantes precisam ser razoáveis, o que exige prova de que foram frustrados proveitos econômicos que, à luz do bom sendo, adviria naturalmente de uma atividade que foi interrompida pelo agente. A existên- cia de antecedentes causais reforça a razoabilidade, mas não é requisito essencial. A definição é aberta, o que gera controvérsias na jurisprudência em cada caso concreto. Vamos ver alguns casos concretos. 4 O art. 402 do CC vale-se da expressão “perdas e danos”, que nos parece atécnica pela sinonímia dos dois termos coorde- nados (Gonçalves, 2011, p. 356). Preferimos simplesmente utilizar o termo “dano”. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 26 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL Ganho que o aluno teria com a atividade profissional não pode ser pleiteado a título de lucro cessante Média de lucro percebido pode ser cobrada a título de lucro cessante Lucro que seria obtido com aumento da produção industrial NÃO caracteriza lucro cessante Aquilo que a vítima razoavelmente deixou de lucrar Exige prova de que foram frustrados proveitos econômicos Não é lucro cessante, mas mero dano hipotético Não se pode presumir que a empresa teria sucesso Produtos agropecuários que a empresa poderia transportar com o veículo Pode ser cobrada a título de lucro cessante Impossibilidade de exercer sua atividade até a cura É considerado lucro cessante Casos concretos de lucros cessantes Atraso na entrega de um imóvel Frustração do início de uma empresa Atraso no término de um curso Danos causados a profissionais autônomos Recusa da seguradora em reparar veículo segurado de empresa agropecuária Paralisação da atividade de posto de gasolina Falta de repasse de recursos para ampliação de parque industrial Atraso na Entrega de um Imóvel: Aluguéis e Rendas de uma Hipotética Ati- vidade O atraso na entrega de um imóvel pelo devedor, como no caso de um inquilino que tinha de restituir o bem ou no de um vendedor que tinha de entregar as chaves para o comprador, causa ao credor lucros cessantes correspondentes aos alugueis que seriam percebidos com a entrega do imóvel. É compatível com o bom senso que o credor, ao receber o imóvel, iria fruir dele pessoalmente, ainda que essa fruição consista em simplesmente deixar o imóvel fechado por fútil capricho. Essa fruição tem um valor econômico: o valor de aluguel. Todavia, não podem ser considerados, como lucros cessantes, a renda que o credor teria explorando economicamente o imóvel, abrindo, por exemplo, um comércio, pois aí se tem um dano meramente hipotético. Não é compatível com obom senso presumir que o credor haveria de conseguir abrir um comércio e, ainda por cima, obter lucro com isso (STJ, REsp 194.483/RN, 5ª Turma, Rel. Ministro Felix Fischer, DJ 12/04/1999). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 27 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL Frustração do Início de uma Empresa vs Lucros Cessantes A frustração do lucro que seria percebido com o início de uma atividade empresarial não é lucro cessante, e sim mero dano hipotético, pois não é razoável presumir que o sucesso de uma nova atividade empresarial, especialmente levando-se em conta que, no Brasil, é pequena a chance de sucesso das novas empresas (STJ, REsp 253.068/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Ari Par- gendler, DJe 04/08/2003). Atraso no Término de um Curso: Renda Hipotético em Atividade No caso de demora no término de um curso por culpa da instituição de ensino, não pode pleitear, a título de lucros cessantes, o ganho que o aluno teria com uma atividade profissional que seria exercida com base no curso. Trata-se aí de dano meramente hipotético, pois não é razoável presumir que a vítima, caso terminasse o curso no prazo inicialmente previsto, iria per- ceber lucros em uma atividade profissional baseada na titulação obtida (STJ, REsp 615.203/ MS, 4ª Turma, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, DJe 08/09/2009). Dano Causado A Profissionais Autônomos: Renda Perdida Durante O Perí- odo De Convalescença No caso de profissional autônomo que, por conta de uma dano físico, fica inabilitados a exercer sua atividade profissional até a sua cura, há lucros cessantes correspondentes à média da renda que, até a data do dano, o profissional percebia (STJ, REsp 971.721/RJ, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 22/03/2011). Recusa da Seguradora em Reparar Veículo Segurado de Empresa Agrope- cuária: Lucros Cessantes pela Indisponibilidade do Bem Empresa agropecuária que fica sem veículo essencial à sua atividade econômica por culpa da seguradora – que recusou indevidamente cobrir a reparação desse veículo – pode pleitear, a título de lucros cessantes, o valor correspondente aos produtos agropecuários que, com o veículo, a empresa poderia transportar para venda (STJ, REsp 1056295/RJ, 3ª Turma, Rel. Mi- nistra Nancy Andrighi, DJe 18/02/2009). O STJ já aceitou, em outro caso, esses lucros cessantes contra a seguradora por negativa indevida a cobertura de veículos importantes para a atividade normal do segurado (STJ, REsp 593.196/RS, 4ª Turma, Rel. Ministro Hélio Quaglia Barbosa, DJ 17/12/2007). Paralisação da Atividade de um Posto de Gasolina vs Lucros Cessantes Posto de gasolina cuja atividade é interrompida por incêndio sofre, como lucros cessan- tes, durante o período necessário para a reconstrução, a média dos lucros que ele percebia O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 28 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL antes do sinistro (STJ, REsp 1110417/MA, 4ª Turma, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, DJe 28/04/2011). Falta de Repasse de Recursos para Ampliação de Parque Industrial: Lucro que Seria Percebido No caso de indevida falta de repasse de recursos pelo banco financiador para empresa que promoveria a ampliação do parque industrial, o lucro que seria percebido com o aumento da produção industrial após essa obra não configura lucro cessante, mas caracteriza mero dano hipotético, que não é indenizável (STJ, REsp 846455/MS, 3ª Turma, Rel. Ministro Castro Filho, Rel. p/ Acórdão Ministro Sidnei Beneti, DJe 22/04/2009). 2.4.2. Dano Moral Direto Indireto Lesão causada diretamente ao direito de personalidade Lesão a um bem patrimonial que causa dano a um bem extrapatrimonial Dano moral Atraso na entrega de um imóvel Frustração do início de uma empresa Dano moral é uma lesão a um direito da personalidade. Não é a mera tristeza e angústia. Se alguém sofre angústia por ver uma criança ser atropelado, não necessariamente sofre dano moral, pois isso não implica direito da personalidade. Se, porém, nesse caso, a criança atro- pelada fosse filha do telespectador, haveria dano moral, pois a morte da criança implicou a violação de um direito da personalidade deste telespectador (o direito relacionado ao vincula familiar). Dano Moral Direto e Indireto O dano moral pode ser classificado como direto ou indireto. O dano moral direto é lesão causada diretamente ao direito da personalidade, como no caso de alguém xingar outrem. O dano moral indireto é uma lesão a um bem patrimonial, mas que causa um dano a um bem extrapatrimonial. Ex.: perda de um bem com valor afetivo. Nesse caso, é cabível indeni- zação pelo dano moral indireto (pelo valor afetivo da coisa). O art. 952, parágrafo único, do CC estabelece que o valor de afeição da coisa não pode exceder o preço ordinário da coisa, no caso de usurpação ou esbulho de coisa alheia. Sobre o tema, anota Rui Stoco (2011, p. 1.436): O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VIVIANE SUELEN DE OLIVEIRA - 08283064606, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 29 de 70www.grancursosonline.com.br Responsabilidade Civil – Parte IV Carlos Elias DIREITO CIVIL A previsão da lei de ‘preço de afeição’ é feita tendo em conta que alguns objetos pessoais em uso há longos anos já não têm valor material, senão e apenas afetivo. Nesta hipótese, estima-se o valor de modo mais ou menos aleatório, desde que não supere o valor que o bem alcançaria se tivesse que ser comprado. Arbitramento do Valor do Dano Moral 1º) Fixa valor básico baseado em precedentes 2º) Aumenta ou diminui o valor com base no caso concreto Dimensão do dano Culpabilidade do agente Culpa concorrente Condição econômica do ofensor Condições pessoais da vítima Insuscetível de reparação integral Leva em conta a função punitiva e preventiva da indenização por dano moral Leva em conta a função punitiva e preventiva da indenização por dano moral Arbitramento do valor do dano moral STJ - método bifásico Bem violado é imaterial Tendência de TARIFAMENTO do dano moral O valor da indenização por dano moral é mais ou menos aleatório, pois o bem violado é imaterial (direito da personalidade) e, portanto, insuscetível de uma reparação integral. O valor pecuniário da indenização apenas destina-se a atenuar a lesão extrapatrimonial. O arbitramen- to não pode ser tão alto a ponto de expor o causador do dano a um “inferno de severidade”5, nem tão baixo de tal modo a estimular reincidências. O STJ desenvolveu o método bifásico como critério para o arbitramento do valor do dano moral (STJ, REsp 959.780/ES, 3ª Turma, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 06/05/2011). Por esse método, a liquidação do dano moral ocorre em duas etapas. Em um primeiro momento, fixa-se um valor básico com base no estudo dos precedentes dos Tribunais em casos análogos. Atenta-se aí essencialmente para o bem jurídico lesado para fixar uma indenização básica. Em uma segunda etapa, aumenta-se ou diminuiu esse valor-base a partir da análise das particularidades do caso concreto, de modo a fixar o valor final da indenização. Por esse cri- tério bifásico, o valor da
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