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Faculdade Baiana de Direito e Gestão 1ª Avaliação de Introdução ao Estudo do Direito Privado II (2021.1) Docente: Thiago Borges Discente: Elisa Cotias Macêdo Turma: 3 A NOTA: 10 1ª Questão: A produção de efeitos jurídicos é um dos requisitos para que determinado fato do mundo da vida seja classificado como fato jurídico. A afirmativa colacionada acima é, eminentemente, falsa. A justificativa para tal entendimento encontra-se na equivocada relação de sujeição direta de existência entre o fato jurídico e a produção de efeitos jurídicos retratada na sentença acima. Assim, Marcos Bernardes de Mello leciona que a não produção de efeitos jurídicos não descaracteriza o fato jurídico. O mundo da vida é, essencialmente, regulado pelo mundo do Direito, sempre que seus eventos se provem relevantes no que tange a sistematização e imperatividade da matéria jurídica. Dessa forma, o nexo entre essas duas esferas é edificado por meio da incidência da norma atrelada ao suporte fático correspondente advindo do mundo da vida. Assim, como bem sistematiza o jurista Marcos Bernardes de Mello, é a incidência da norma no suporte fático, que representa fatos evidentemente relevantes e decorrentes do mundo da vida, que garante o vínculo entre o fato e o critério jurídico. Por conseguinte, o fato, que já passa a ser reconhecido como um fato jurídico, é introduzido ao plano da existência, sem a presença de efeitos que coadunem com o quesito existencial. Essa avaliação é feita por Pontes de Miranda quando ele afirma que “só de fatos jurídicos provém a eficácia jurídica”, ou seja, a produção de efeitos é subsequente à transformação do fato do mundo da vida em fato jurídico e não uma condição que perpetua essa transformação. Portanto, é possível a existência de um fato jurídico ineficaz, pois a produção de efeitos jurídicos não interfere na transformação do fato do mundo da vida em um fato do mundo do direito. Com fim de exemplificar tal análise, tem-se o testamento, que, mesmo existente e válido, pode ser caracterizado como ineficaz quando ainda não produziu seus efeitos devido à ausência do fator morte do testador, ou o testamento revogado, que deixa de existir sem nunca ter produzido efeitos. Questão 2: Se a vontade é manifestada no campo em que o sistema jurídico admite a autonomia da vontade, ela gerará negócio, mas os efeitos dependem da compatibilidade com as normas jurídicas aplicáveis ao caso. A assertiva supracitada é classificada como verdadeira e a seguir ter-se-á a devida justificativa. Durante a trajetória jurisdicional brasileira, verificou-se a necessidade de se dispor do poder imperioso do Estado frente às relações jurídicas e, portanto, conceder poderes de autonomia e amplitude para os particulares. Nesse contexto, os negócios jurídicos ocupam uma função imprescindível, pois garantem a tutela da manifestação de vontade, mesmo que parametrizada pela norma. Assim, os negócios jurídicos possuem mais liberdade e autonomia de vontade em seus procedimentos e autorregulação, como fica evidenciado na redação do Código Civil de 2002, no artigo 113, § 2º: “As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de preenchimento de lacunas e de integração dos negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei”. Entretanto, é incontestável o entendimento relativo à submissão dos efeitos dos negócios jurídicos à norma, à constitucionalidade e aos institutos axiológicos previstos no ordenamento jurídico brasileiro, o que demonstra consonância entre esses limites e a Teoria da Estrutura adotada no sistema jurídico brasileiro, na qual a manifestação da vontade, própria dos negócios, já encontra uma estrutura a ser seguida com base nos parâmetros estabelecidos. Portanto, prova-se, por exemplo, impossível que um negócio jurídico defina a restrição a de um Direito Fundamental individual como efeito de um contrato. Dessa maneira, pode-se afirmar que o negócio jurídico possui a garantia da autonomia de vontade, porém ratifica-se a necessidade do estabelecimento de normas, compatíveis com a situação instaurada por esse ato jurídico latu sensu lícito, que impeçam a total deliberação e discricionaridade no que tange os efeitos negociais. Questão 3: Serão juridicamente inexistentes quaisquer atos praticados pelo representante convencional que não estejam no âmbito dos poderes que lhe forem conferidos pelo representado. A afirmação transcrita acima é falsa, portanto, nas linhas subsequentes ter-se-á a devida explanação. A previsão de representação auxilia no prosseguimento do exercício de alguns atos da vida civil mesmo com a ausência do real titular do direito ou dever, que é o representado. O regime jurídico admite as representações legal e convencional, contudo, esta será o foco da presente interpretação. Na representação convencional, o representado correspondente possui maior liberdade de escolha do seu representante, que deve atuar em seu mandato conforme a procuração estabelecida e em consonância com os poderes compreendidos. Contudo, não é sempre que a situação supracitada ocorre de forma adequada e coerente, ou seja, podem existir determinados excessos por parte do representante e, nesse caso, o ato, fruto de poder excedente, não é caracterizado como inexistente conforme mencionado na assertiva, mas sim como ineficaz, como ratificado na redação do artigo 662 do CC/2002: “Os atos praticados por quem não tenha mandato, ou o tenha sem poderes suficientes, são ineficazes em relação àquele em cujo nome foram praticados, salvo se este os ratificar”. Assim, esse representante transformar-se-á em um gestor de negócios, como uma forma de proteção do interesse do representado. Esse entendimento está disposto no artigo 625 do Código Civil: “O mandatário que exceder os poderes do mandato, ou proceder contra eles, será considerado mero gestor de negócios, enquanto o mandante lhe não ratificar os atos.” Dessa forma, é possível depreender que o representante deve atuar conforme a procuração e somente mudar esse procedimento mediante uma nova procuração cedida pelo representado para que o ato praticado seja eficaz.
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